UMA VIDA ATAREFADA Por vezes, no meu quarto, quando estou a estudar, oiço os ruídos que vêm da rua . Atraída por esses sons, espreito pela janela e reparo nas crianças de várias idades, a brincar; umas em cima de skates, a descer pela rampa , outras, a saltar à corda e outras simplesmente sentadas no muro a conversar. Os meus avós deixavam os meus pais brincar na rua. Eles contam-me que se divertiam imenso a jogar a vários jogos, tais como “polícias e ladrões”, “ elástico”, “cabra cega”, jogavam ao pião, corriam à volta dos quarteirões e, por vezes, faziam umas malandrices, tais como tocar à campainha dos vizinhos e fugir. Como eu gostaria de ter vivido esses momentos na minha infância, mas os meus pais explicam que os tempos eram outros, e que os perigos eram muito menores. Eu também brinquei na rua , mas sempre com os meus pais por perto. Há três anos que frequento a Escola de Dança do Conservatório Nacional de Lisboa, o que me “obriga” a ter de ser uma aluna extremamente disciplinada, para que todos os meus objetivos sejam concretizados. Eu não sou muito competitiva, talvez porque julgue que, ao sobressair, alguém possa ficar triste. Reconheço que a falta de competitividade possa prejudicar o meu sucesso, e, por isso, é muito importante, para mim, ter o apoio dos amigos. Gostava de ter mais tempo livre para fazer outras coisas, mas também não censuro ninguém, sou eu quem quer estar nesta escola. Para além de algum cansaço, a dança compensa todo o esforço! É maravilhoso quando se pisa o palco, fico simplesmente feliz… com todas aquelas pessoas à espera de um espetáculo fabuloso, temos uma grande responsabilidade. Um erro que seja pode estragar o espetáculo, e, por isso, fico um pouco nervosa. Sinto-me muito orgulhosa de já ter tido a oportunidade de interpretar várias personagens, inclusive de vestir um “Tutu”.Todo este trabalho exige muito esforço físico e psicológico. Diariamente, a mãe leva-me à escola de carro. No final do dia, sempre que saio mais cedo, vou ter com ela, de metro. Assim, ganho um pouco mais de tempo livre; eu costumo ir com alguns colegas…chamo a esta caminhada uma pequena terapia, pois, de certa forma, aproveitamos para conversar e descontrair. Quando passo pela rua, vou atenta ao que me rodeia e estou sempre a recordar os conselhos que me dão. No metro, reparo na quantidade de pessoas com a cara sem expressão, a olhar de cabeça baixa para o nada. Penso de imediato que a vida lhes possa correr mal, mas, ao mesmo tempo, olho para elas e gostaria de lhes dizer que se devem agarrar às coisas boas que a vida lhes dá, e que só têm de ficar gratas e contentes por viverem, existirem e terem a capacidade (se assim se pode chamar) de sentir o entusiasmo, o nervosismo, o medo, até mesmo a tristeza, a solidão e as partes menos boas da vida… infeliz será aquela pessoa que já não pode sentir e ver todas essas coisas. O sentimento triste dá-lhes cabo da emoção e, muitas delas, esquecem-se das coisas boas que, por vezes, até são mais e melhores do que as más. Quando o ser Humano sente a tristeza, não a larga durante imenso tempo, enquanto que a alegria pode escapar depressa. A nossa sociedade não está preparada para viver com as diferenças de cada um, e, por vezes, inconscientemente, magoam-se. Seria muito mais simpático e construtivo se, numa fila de trânsito, os condutores ajudassem o pobre motorista do carro da frente a descarregar a sua mercadoria, em vez de buzinarem… seria muito mais simpático se todos pudéssemos dar boleia às pessoas que se encontram ao frio nas paragens dos autocarros, do que, simplesmente, seguirmos no nosso caminho… mas isto seria o meu mundo imaginário. Pois é, claro, um dia, se eu quebrar todas estas atitudes, provavelmente serei considerada maluquinha… e é por pensarmos assim que o mundo bom será sempre imaginário. De regresso a casa, deparamo-nos com filas de trânsito. Aproveito estes momentos para conversar com a minha mãe, ouvir música e, muitas das vezes, também canto. O stress diminui, e, aos poucos, dou por mim com os braços no ar e a cabeça a abanar. Em casa, no final do dia, a falta de tempo leva-nos a uma rotina diária. Desde tomar banho, preparar a mochila para o dia seguinte, fazer os trabalhos da escola, jantar e dormir, pois o dia seguinte inicia-se muito cedinho. Uma das partes do dia de que mais gosto é mesmo o jantar. Os meus pais quebraram uma regra: uma vez que tenho muito pouco tempo livre e passo quase todos os fins de semana a estudar, deixam-me ver televisão à hora do jantar. Então, estamos os três a jantar na sala e aproveitamos para ver o mesmo programa de televisão. Agradam-me esses momentos, porque estou a fazer várias coisas de que gosto ao mesmo tempo. Posso conviver com os meus pais e ver o nosso programa favorito. Daqui a uns anos, depois de tirar o curso de bailarina (que espero conseguir), imaginome numa companhia de dança. Mas começo já a ponderar tudo: se não conseguir acabar o curso de bailarina, gostaria de seguir a área de psicologia social, acho que devia ter jeito, visto compreender as atitudes das pessoas, ou algo que envolvesse trabalhos manuais, como artesanato, … Para mim, um dia perfeito, seria constituído por volta de 48 horas. Arranjaria uma casa e comida para pessoas necessitadas, daria um espetáculo perfeito com o papel principal, depois iria ao cinema com as melhores amigas, íamos às compras e, por fim, teríamos ainda direito a uma festa de pijama, cheia de jogos e coisas divertidas para fazer, tais como jogar à verdade ou consequência, ao monopólio, conversar e ir ao facebook, … ah, mas as refeições principais teriam de ser lasanha e bacalhau com natas (nós adoramos) e, no meio deste dia todo tão ocupado, disponibilizava tempo para ir ver os meus avós passear com os meus pais, os meus padrinhos e as minhas primas. Renata Machado 8º B