O funcionalismo norte-americano não é lem rado pela formalização

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LINGUÍSTICA: FUNCIONALISMO
AULA 05: FUNCIONALISMO NORTE-AMERICANO
TÓPICO 01: OS PRINCÍPIOS DE ICONICIDADE E MARCAÇÃO
O funcionalismo norte-americano não é lembrado pela formalização de
um modelo teórico das línguas naturais. Ao contrário, ele se caracteriza pela
realização de vários estudos que se constituíram marcos de orientação
funcionalista.
Talmy Givón é um dos nomes mais importantes do funcionalismo norteamericano. Esse linguista desenvolveu análises de vários fenômenos que
representaram verdadeiros manifestos contra as abordagens formalistas,
pela consideração de condicionamentos discursivos que comprovaram a
motivação funcional das estruturas gramaticais.
VERSÃO TEXTUAL
Uma abordagem tipológico-funcional da gramática caracteriza a
significativa produção de Givón. Para Givón, há uma estreita
associação entre os aspectos funcionais, tipológicos e diacrônicos da
gramática. Givón defende que a tipologia gramatical seja o estudo da
diversidade de estruturas que podem desempenhar o mesmo tipo de
função. Nesse sentido, em uma tipologia gramatical, enumeram-se as
principais estruturas por meio das quais línguas diferentes codificam o
mesmo domínio funcional.
As línguas podem apresentar diferenças consideráveis na maneira pela
qual organizam ou modelam os domínios funcionais codificados pela
gramática. No entanto, Givón lembra que a gramática não é apenas um
mecanismo de codificação superficial dos diferentes domínios funcionais
universais organizados com o propósito da comunicação.
Criticando tanto a visão de Chomsky de gramática como um algoritmo,
quanto a de Paul Hopper, de gramática emergente, totalmente flexível,
sempre negociada e completamente dependente do contexto comunicativo,
Givón (2001) defende uma posição intermediária, ao reconhecer que a
gramática é um instrumento categorizador por excelência (e, como código, é
mais abstrato do que o que codifica), mas raramente tem 100% de
dominância em uma regra. A flexibilidade residual, a gradualidade e a
variabilidade da gramática são motivadas de maneira adaptativa. Em outras
palavras, Givón defende que as línguas apresentam, ao mesmo tempo,
estabilidade e flexibilidade, já que essas duas características são necessárias,
respectivamente, para o processamento rápido da linguagem e para a
adaptação da língua aos diferentes propósitos comunicativos.
Como argumento para a natureza adaptativa das línguas naturais, Givón
postulou princípios da organização gramatical icônica ou Princípios de
iconicidade. Uma síntese desses princípios é dada a seguir.
Ênfase previsibilidade:
Trechos de informação menos previsível são enfatizados.
Melodia e relevância:
Blocos de informação que pertencem ao mesmo domínio conceitual
são empacotados sob um contorno melódico único.
Pausa e ritmo:
O tempo de pausa entre blocos de informação corresponde à
distância temática ou cognitiva que existe entre eles.
Proximidade e relevância:
Blocos de informação que pertencem ao mesmo domínio conceitual
são mantidos em proximidade espaço-temporal.
Proximidade e escopo:
Operadores funcionais são mantidos mais perto do que tomam por
escopo.
Ordem e importância:
Um bloco de informação mais importante é colocado no início.
Ordem de ocorrência e ordem reportada:
A ordem temporal na qual os acontecimentos ocorreram é espelhada
no relato linguístico desses acontecimentos.
Expressão zero e previsibilidade:
Informação previsível – ou já ativada – não será expressa.
Expressão zero e relevância:
Informação irrelevante ou sem importância não será expressa.
Observem que, ao enunciar relações de motivação entre forma e função,
DE ICONICIDADE se opõem ao princípio da
do signo linguístico. Portanto, o funcionalista busca, nos
condicionamentos cognitivos e discursivos que caracterizam cada momento
da interação, as explicações que justifiquem a forma da expressão linguística
os
PRINCÍPIOS
ARBITRARIEDADE
utilizada.
Notem que os princípios de iconicidade não são universais absolutos,
regras categóricas do funcionamento linguístico. Eles representam uma
preferência ou tendência no uso de uma língua natural. Percebam, ainda,
que esses princípios competem na determinação da expressão linguística.
EXEMPLO
Por exemplo, mesmo que o professor saiba que os alunos já sabem
que precisam participar de chats e fóruns (essa é uma informação dada,
previsível), eles insistem nos chamados à participação, porque é uma
informação muito relevante para o sucesso na disciplina.
Givón desenvolveu, também, a noção de Marcação associada aos
critérios de complexidade e frequência. Segundo o PRINCÍPIO DA
MARCAÇÃO, a categoria marcada é menos frequente no texto, enquanto a
não-marcada é a mais frequente. Mas a associação entre a complexidade
estrutural e a frequência de uso de categorias gramaticais, por si só, também
exige mais explicações, que demandam fundamentos mais consistentes,
sejam eles cognitivos, comunicacionais, socioculturais, neurobiológicos ou
evolutivos.
Observemos as frases a seguir:
I. Os alunos saíram.
II. Os aluno saiu.
A frase I apresenta, em todos os constituintes da construção, as marcas
de plural. Nessa frase, a recorrência da marca de plural constitui fator de
maior complexidade cognitiva e estrutural, não só pela quantidade de
material linguístico, mas pela indicação, por meio da concordância, das
relações de dependência entre os elementos frasais. Em contextos de fala
informal, por pessoas com baixa escolaridade, essa construção é menos
frequente do que a da frase II, em que só se marca o plural no determinante
(artigo) do sintagma sujeito.
OBSERVAÇÃO
Observamos, então, que a frase I pode ser analisada como a forma
marcada (mais complexa, menos frequente), e a frase II, como forma nãomarcada (menos complexa, mais frequente). Vale lembrar, todavia, que,
para Givón, uma estrutura pode ser marcada em um contexto e não ser
marcada em outro.
FONTES DAS IMAGENS
1. http://www.adobe.com/go/getflashplayer
Responsável: Profª. Márcia Teixeira Nogueira
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual
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