IV Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2014 A HORTA MEDICINAL COMO ARTEFATO PEDAGÓGICO PARA A ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA NA PERSPECTIVA CTSA THE MEDICINAL GARDEN ARTIFACT AS TEACHING FOR SCIENCE LITERACY IN PERSPECTIVE CTSA Sabrine Lino Pinto1, Antonio Donizetti Sgarbi2, Daniela Coutinho D`Ávila de Almeida3, Maria das Graças Lobino4 1 Instituto Federal do Espírito Santo/Mestrado EDUCIMAT, [email protected] 2 Instituto Federal do Espírito Santo/Mestrado EDUCIMAT, e-mail 3 EMEF Tancredo de Almeida Neves, [email protected] 4 Instituto Federal do Espírito Santo/Mestrado EDUCIMAT, [email protected] RESUMO Trata-se de um estudo de caso que tem como objetivo relatar e fazer uma breve análise de uma práxis educacional que visa a alfabetização científica na perspectiva do Movimento CTSA, utilizando-se de uma Hora Medicinal como artefato pedagógico. Buscou-se respostas ao problema de se conhecer quais os avanços propiciados pelo Projeto de PICjr. “Horta medicinal como instrumento do estudo de ciências na EMEF Tancredo de Almeida Neves”, em termos de alfabetização científica na perspectiva do Movimento Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA) com alunos do segundo ciclo do ensino fundamental. Concluiu-se que o Projeto apresenta indícios de avanços em termos de Alfabetização Científica na perspectiva CTSA com os referidos alunos. Palavras-chave: Alfabetização científica. Horta Medicinal. Abordagem CTSA. ABSTRACT This is a case study that aims to report and make a brief analysis of an educational praxis aimed at scientific literacy from the perspective of the CTSA Movement, using a Medicinal time as a pedagogical device. We sought answers to the problem of knowing which advances propitiated by Project PICjr. "Medicinal Horta as a tool in the study of science at EMEF Tancredo de Almeida Neves" in terms of scientific literacy from the perspective of Movement Science, Technology, Society and Environment (CTSA) to students in the second cycle of basic education. It is concluded that the Project presents evidence of advances in Scientific Literacy CTSA perspective with the related students. Key words: Scientific literacy. Medicinal garden. CTSA approach. INTRODUÇÃO A alfabetização científica tem sido discutida nas disciplinas de ciências com o intuito de formar nos alunos uma consciência crítica da ciência e da tecnologia na sociedade e no ambiente. Em conformidade com isso, fez-se um estudo do desenvolvimento de um Projeto de Iniciação Científica Junior (PICJr.) intitulado “Horta medicinal como instrumento do estudo de ciências na EMEF Tancredo de Almeida Campus da Praia Vermelha/UFF 1 IV Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2014 Neves (TAN)”, o qual foi aprovado e financiado pelo Fundo de Amparo à Ciência e Tecnologia (FACITEC) da Prefeitura Municipal de Vitória. A proposta desse projeto foi auxiliar os alunos a compreenderem, a partir da horta medicinal, os conceitos científicos acerca das plantas medicinais, numa abordagem inter(trans) disciplinar. Esse projeto foi realizado mediante uma práxis pedagógica realizada por uma comunidade escolar que abraçou um projeto mais amplo denominado: “Alfabetização Científica na perspectiva Sócio Ambiental”. A referida escola, enfrentando todos os desafios impostos por uma realidade cheia de contradições, foi vista como um espaço de democratização, no qual há uma conexão entre comunidade e escola e vice-versa. Considerou-se que a mesma reunia as condições necessárias para servir como laboratório de uma pesquisa-ação em torno de dois temas interdependentes: Alfabetização Científica e Educação Ambiental. O projeto de PICjr. aqui analisado estava inserido nesse amplo projeto. OBJETIVOS, JUSTIFICATIVA E REFERENCIAL DA PESQUISA O objetivo deste estudo é relatar e analisar uma práxis educacional que visava à alfabetização científica na perspectiva do Movimento CTSA, utilizando-se de uma Hora Medicinal como artefato pedagógico. Como parte de um Projeto mais amplo, como foi dito, o projeto de PICJr. buscava diversificar o estudo das Ciências na escola, usando-se a Horta Medicinal como ferramenta pedagógica, numa abordagem multidisciplinar. Na EMEF “Tancredo de Almeida Neves”, localizada no Bairro São Pedro III, na Cidade de Vitória/ES, já existe um trabalho de Horta Educativa que vem sendo executado, com sucesso, no contexto da Matemática, o qual motivou à elaboração deste projeto de Horta Medicinal como instrumento do estudo de Ciências nesta EMEF. O Projeto de PICjr. consistiu em pesquisar na comunidade o uso de plantas medicinais, numa espécie de “volta às raízes” (LOBINO, 2004), o que levou a selecionar as mais utilizadas e, a partir destas, descobrir seus princípios ativos e suas utilizações comprovadas cientificamente. Trabalha-se neste estudo com dois conceitos básicos: Alfabetização Científica e perspectiva do Movimento Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA). O conceito de alfabetização científica utilizado nesta análise vem de Chassot (2011, p. 62) que a entende “como o conjunto de conhecimentos que facilitariam aos homens e mulheres fazer uma leitura do mundo onde vivem”, sendo aplicada não no sentido de que a Ciência deva ser ensinada apenas para se formar cientistas, mas para que os alunos e alunas se transformem em homens e mulheres mais Campus da Praia Vermelha/UFF 2 IV Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2014 críticos e se tornem agentes de transformação do mundo e que o transformem para melhor. Nesta mesma linha serve-se também dos estudos de Krasilchik e Marandino (2007, p.19), quando afirmam que uma das principais funções do ensino de ciências é a “formação do cidadão científico alfabetizado, capaz de não só identificar o vocabulário da ciência, mas também de compreender conceitos e utilizá-los para enfrentar desafios e refletir sobre seu cotidiano”. Quando se destaca a alfabetização científica na perspectiva CTSA tem-se em mente o pensamento de Santos (2007, p. 482) quando afirma que Uma proposta curricular de CTS pode ser vista como uma integração entre educação científica, tecnológica e social, em que conteúdos científicos e tecnológicos são estudados juntamente com a discussão de seus aspectos históricos, éticos, políticos e socioeconômicos . Entende-se ainda que o papel do movimento CTS é colaborar para que a educação científica se consolide no propósito de formação para a cidadania na busca de uma sociedade justa e igualitária e no desenvolvimento da capacidade de tomada de decisões na sociedade e no desenvolvimento de valores (SANTOS; AULER, 2011). MÉTODO Trata-se de uma pesquisa descritiva, de cunho qualitativo, desenvolvida na modalidade de um Estudo de Caso. Seu objeto de estudo foi o Projeto de PICjr. “Horta Medicinal como instrumento do estudo de ciências na EMEF Tancredo de Almeida Neves (TAN)”, um projeto de Iniciação Científica desenvolvido com alunos do segundo ciclo do ensino fundamental na forma de uma pesquisa-ação. Os dados foram organizados a partir da observação participante conforme o entendimento de Cruz Neto (MINAYO et al, 1994), e da proposta de Relatório de Estudo de Caso apresentada por Tripp (2005). As Observações ocorreram no segundo semestre do ano de 2013, período em que se desenvolveu o Projeto de PICjr. Os sujeitos da pesquisa foram os dez alunos bolsistas, a proponente e coordenadora do projeto, três alunas do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) que auxiliaram a professora proponente: uma mestranda em Educação em Ciências e Matemática e duas do Curso de Licenciatura em Química. Para a análise dos dados usou-se o método hermenêutico dialético, uma proposta de interpretação qualitativa de dados conforme os estudos de Gomes citando Minayo et al (1994). Em termos operacionais foram percorridos os seguintes passos: a) ordenação dos dados colhidos pela observação participante e pelo relatório da pesquisa-ação; b) Campus da Praia Vermelha/UFF 3 IV Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2014 classificação dos dados a partir dos princípios da Alfabetização Científica na perspectiva CTSA c) análise final: “articulação entre os dados e os referenciais teóricos da pesquisa respondendo à questão da pesquisa com base em seus objetivos” (MINAYO et al, 1994, p. 77). Desta forma, além do objetivo já exposto, a pesquisa buscou responder a seguinte questão: Quais os avanços propiciados pelo Projeto de PICjr. “Horta medicinal como instrumento do estudo de ciências na EMEF Tancredo de Almeida Neves (TAN)”, em termos de alfabetização científica na perspectiva CTSA com alunos do segundo ciclo do ensino fundamental? Num terceiro momento desenvolveu-se a análise dos dados colhidos à luz do conceito de alfabetização científica na perspectiva do Movimento CTSA, buscando assim alcançar o objetivo principal do trabalho. BREVE RELATÓRIO DA PESQUISA-AÇÃO A EMEF TAN possui vários projetos que foram previstos e propostos em seu PPP, entre eles, a Horta Medicinal. A partir da mesma foi elaborado o projeto de PICJr que trabalhou com a produção, cultivo, manipulação e uso de mudas de plantas medicinais de espécies conhecidas e utilizadas pela comunidade, agregando-se as indicações resultantes das pesquisas científicas e possibilitando trabalhar os conceitos científicos acerca do assunto. As plantas podem curar, como nossos antepassados já diziam, porém, por um tempo, esse conhecimento ficou perdido no passado, mas hoje, felizmente, percebe-se um resgate a essa sabedoria popular, proporcionando uma “volta às raízes” e fortalecendo o conhecimento de que o ser humano faz parte do meio natural também. Todavia, nem tudo que é natural não faz mal. Embora pesquisas comprovarem a eficácia de algumas plantas no tratamento de algumas doenças, pesquisadores analisaram também “outras que não tinham efeito e algumas que podiam provocar sérios danos à saúde” (PINTO, 2013, p. 19). Esse projeto foi realizado por uma práxis pedagógica realizada por uma comunidade que abraçou um projeto enfrentando todos os desafios impostos por uma realidade cheia de contradições, situando-se a escola, nesse contexto, como esse espaço de democratização, no qual há uma conexão entre comunidade e escola e vice-versa, já que considerávamos que a mesma reunia as condições necessárias para servir como laboratório de uma pesquisa-ação em torno de dois temas interdependentes: Alfabetização Científica e Movimento CTSA. A pesquisa ação foi o método para se desenvolver o projeto que seguiu os Campus da Praia Vermelha/UFF 4 IV Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2014 seguintes passos: pesquisa de campo com o objetivo de se fazer um levantamento das plantas medicinais mais utilizadas pelos familiares dos 10 (dez) alunos bolsistas, cuja etapa foi chamada de “volta às raízes”, na qual buscou-se saber se eles faziam uso de plantas medicinais e quais eram as mais usadas. A pesquisa continha os seguintes questionamentos: Usam plantas medicinais? Quais? E Para quê? O questionário foi realizado com as 10 (dez) famílias. A pesquisa realizada pelos bolsistas pode ainda ser classificada como pesquisa documental de um caráter exploratório, a qual foi feita a partir do estudo teóricocientífico acerca do tema da horta medicinal como eixo integrador do processo de educação científica visando à cidadania socioambiental, contemplando também um estudo científico e comprovado das plantas mais utilizadas segundo a pesquisa e orientações, por meio de mini-oficinas, de cultivo e manutenção da horta medicinal e sobre fitoterapia. Com respeito à pesquisa com os familiares acerca do uso das plantas medicinais, os resultados indicaram que a maioria das famílias fazia uso de plantas medicinais e as mais usadas eram o boldo, o capim cidreira, a erva-cidreira e a arnica. A utilização dessas plantas foram as seguintes: 1)Boldo: muito usado para problemas de estômago e ressacas; 2) Capim cidreira: usado como calmante; 3) Erva-cidreira: também usada como calmante e cólicas intestinais e 4) Arnica: para banhos em machucados e dores musculares. Na pesquisa também foi citado o uso do boldo do Chile, porém, por existir uma certa dificuldade na identificação dessa planta devido a uma confusão resultante no uso do nome popular, não houve segurança em incluí-la na pesquisa. Outra planta também citada foi o Gengibre, porém, por não existir na horta do TAN, também não foi destacada. O gráfico a seguir, elaborado pelos bolsistas juntamente com a Professora de Matemática, mostra quais foram as plantas medicinais mais utilizadas na pesquisa com os familiares: Figura 1: Gráfico obtido através da pesquisa dos alunos, sobre quais plantas são mais utilizadas pela comunidade Campus da Praia Vermelha/UFF 5 IV Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2014 Com base nesses resultados, comparou-se a existência dessas plantas na horta da escola e ficou definido que se trabalhasse somente com estas durante todo o projeto, ou seja, com o boldo, com o capim cidreira, com a erva-cidreira e com a arnica, limitando-se, assim, o universo da pesquisa. E os alunos ajudaram na confecção de quatro marcadores de páginas de livros que foram distribuídos na Semana de Ciência e Tecnologia, cada um de uma das quatro plantas mais utilizadas, conforme a pesquisa, ou seja, boldo, erva-cidreira, capim cidreira e arnica. Nesses marcadores havia na frente a foto/gravura da planta e no verso, informações sobre o nome científico, indicações, modo de preparo e contra-indicações E, por último, foram realizadas, durante a execução do projeto, duas minioficinas, conforme descritas a seguir: Oficina 1 - Como Cultivar?: Nessa oficina, os alunos receberam orientações do engenheiro agrônomo da Prefeitura Municipal de Vitória sobre o cultivo e manejo das plantas medicinais, podendo-se citar: a) Adubos: devem ser orgânicos (esterco de boi ou matéria orgânica de compostagem), de antecedência confiável e conhecida; b) Mudas: é preciso sempre conhecer a procedência das mudas, para que estas não tragam doenças, nem resíduos de produtos químicos vindos dos agrotóxicos; c) Pragas: quando se comprova a presença de pragas nas plantas, devem-se retirar as mudas, plantas e folhas doentes e identificar as folhas e os insetos que estão causando as doenças, podendo-se utilizar somente produtos caseiros para acabar com pragas, como, banho de fumo. É proibido o uso de agrotóxicos químicos, pois, causam muito mal para a saúde, visto que se depositam nas folhas das plantas que serão utilizadas para os chás; d) Plantio: existem espécies que são plantadas por sementes, outras por mudas com raízes, outras com folhas, etc. e e) Características físicas: pode-se conhecer as espécies de uma planta por meio de suas características. Por exemplo, o caule, responsável pela sustentação, pode se apresentar acima do solo (aéreo) ou escondido no solo (subterrâneo). No caso das árvores, há as que apresentam o “caule do tipo tronco, que cresce acima do solo e se ramifica no alto, originando os galhos” e há as que possuem o caule cilíndrico, do tipo estipe, ou seja, que não apresentam galhos. “As folhas crescem apenas no topo, a partir do estipe”. Há também as plantas pequenas, que pertencem ao grupo das gramíneas que, apesar de aparentarem ser frágeis, são na verdade, bem fortes e podem ter o caule aéreo, “que só aparece quando a planta está em flor” ou o caule subterrâneo, conhecido como rizoma. No caso das plantas com caules subterrâneos, elas podem se diferenciar no sentido de que alguns caules apresentam gemas (ou olhos, no popular) ou bulbos. “Os Campus da Praia Vermelha/UFF 6 IV Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2014 caules subterrâneos tem mesmo a função de fornecer alimento para as plantas quando suas folhas não conseguirem fazer a fotossíntese” (JOFFILY, 2013, p. 13-15). Essa oficina esclareceu informações sobre a identificação das diferenças existentes entre o capim-citronela e o capim cidreira, pois, por possuírem características muito semelhantes de gramíneas, acabam causando confusão. As principais diferenças notadas pelos alunos foram que as folhas da citronela, quando crescidas, dobram-se; já as folhas do capim-cidreira, quando crescem, não se dobram. Também é possível perceber a distinção no perfume que elas liberam: a citronela em odor de eucalipto e a cidreira tem cheiro de limão. Oficina 2 – Conhecendo a Fitoterapia: ao uso de plantas na saúde como alternativa terapêutica se dá o nome de fitoterapia. Para esclarecer algumas dúvidas e falar sobre o assunto, esteve presente na escola, uma médica fitoterapeuta, que teceu algumas observações sobre o cuidado que se deve ter quanto ao uso das plantas medicinais, visto que muitas delas são conhecidas por seu nome popular, o qual varia muito, sendo conhecida em algumas regiões do país com um nome e, em outras, por outro nome. Muitas vezes, inclusive, usa-se um nome de uma espécie em uma planta que nem sequer pertence à mesma família. A médica também disse que muitas plantas estão sendo estudadas e, por isso, não há ainda comprovação dos benefícios e dos riscos de seu uso no organismo. Outras ponderações importantes foram quanto ao uso em excesso, podendo ser prejudicial, à auto-medicação e à prescrição, visto que sempre é um médico que deve prescrever o uso de medicamentos e o mesmo se dá com as plantas medicinais. Por isso, apesar de já ter sido comprovado cientificamente que algumas plantas podem curar doenças, elas devem ser administradas com cautela, pois possuem muitos princípios ativos que atuam em várias áreas do nosso corpo, causando efeitos colaterais. “Portanto, antes de recorrer a um remédio natural, é preciso ter certeza da planta de que ele é feito, da parte dessa planta que foi usada para prepará-lo, da forma de preparo e, finalmente, de como tomar” (PINTO, 2013, p.19). Portanto, é fundamental que se faça a identificação correta de uma espécie, sendo aconselhável que haja a presença de flores e/ ou frutos, “pois a ausência dessas partes pode induzir ao erro, confundir e dificultar o trabalho do profissional” (SACRAMENTO, 2011, p. 21). Todas as plantas são identificadas por seu nome popular, que variam de região em região, porém, tal uso pode gerar confusão, acarretando em uso indevido, o que justifica, dessa forma, o uso do nome científico. podendo gerar confusão, e por seu científico, que é confiável. O nome científico de uma Campus da Praia Vermelha/UFF 7 IV Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2014 planta indica a sua espécie e é formado por um binômio escrito em latim: a primeira palavra corresponde ao gênero e se inicia com letra maiúscula e a segunda palavra corresponde à espécie e se inicia com letra minúscula (SACRAMENTO, 2011, p. 21). Há variadas maneiras de uso/prescrição das plantas medicinais que variam conforme as suas características. Algumas podem ser ingeridas, por meio das técnicas de fervura e de infusão (a água é fervida e as folhas são colocadas ali, tampando-se a panela), outras apenas são banhadas ou usadas como pomadas, banhos ou compressas. Hoje, o SUS disponibiliza, no site do Ministério da Saúde, uma lista de plantas medicinais que tem seu uso comprovado cientificamente e que podem ser usadas, bem como dá as indicações de uso e dosagem. No fim de sua visita, a médica presenteou a escola com o livro de sua autoria “Plantas que dão vida: benefícios das ervas medicinais para a saúde”, o qual contribuiu e contribuirá em muito com as pesquisas acerca do tema Como finalização dos trabalhos do projeto, foi realizada com os alunos uma atividade que envolvia uma experiência com o uso das plantas medicinais. Essa atividade foi bem dinâmica, pois contou com a participação de todos e foi realizada em etapas baseadas numa espécie de guia. Foi usada uma receita caseira, de indicação confiável, com plantas exóticas que não estavam disponíveis na horta da escola e a arnica, que existe na horta. Os alunos “botaram a mão na massa”, por assim dizer, colhendo a arnica na horta, lavando as folhas, picando e triturando os outros ingredientes e, por fim, misturando tudo e colocando no álcool. Depois que a mistura ficou reservada durante um período de 10 dias, cada aluno recebeu em recipientes individuais a sua parte e fizeram uso externo em casa para picadas de insetos, hematomas, dores nos músculos, etc. Por fim, depois de alguns dias, cada um relatou a experiência que teve com o uso da emulsão, a qual se tornou uma atividade prática com o uso das plantas medicinais. ALGUNS RESULTADOS DO PROJETO O pensador Edgar Morin fala em um dos seus textos de uma “ecologia da ação”. Diz ainda que, “a partir do momento em que lançamos uma ação no mundo, essa vai deixar de obedecer às nossas intenções, vai entrar num jogo de ações e interações do meio social no qual acontece e seguir direções muitas vezes contrárias daquela que era nossa intenção” (MORIN, 1997). E foi exatamente isso que foi experimentado durante o desenvolvimento desta ação proposta, caracterizada pela inovação, que vai muito além Campus da Praia Vermelha/UFF 8 IV Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2014 da horta pela horta. Inicialmente perguntava-se: quais os avanços propiciados pelo Projeto de PICjr. “Horta medicinal como instrumento do estudo de ciências na EMEF Tancredo de Almeida Neves” em termos de alfabetização científica na perspectiva CTSA com alunos do segundo ciclo do ensino fundamental. Em resposta a esta questão tem-se várias considerações. Inicialmente, observase que o referido projeto acerca do ensino com o uso de hortas educativas se apresenta como um artefato pedagógico com potencial para promover a interdisciplinaridade do conhecimento e da formação cidadã, focalizando o ensino da matemática e de ciências, tendo como tema transversal a Educação Ambiental, questões caras à Alfabetização Científica na perspectiva CTSA. Observou-se ainda o desenvolvimento de alguns conhecimentos científicos evidenciando indícios de Alfabetização Científica. Eis alguns exemplos: os alunos puderam compreender que a fotossíntese é um processo natural realizado por todas as plantas, que liberam oxigênio para todos os seres vivos inclusive para nós, bem como, produção de alimento para planta e para todos os outros seres vivos. Segundo Lobino (2004, p. 66), a fotossíntese É natureza pura. A planta verde absorve o gás carbônico do ar; a água e os sais minerais que estão no solo são aquecidos pelo Sol. Dentro da planta ocorre uma série de reações químicas, que vão resultar no oxigênio, nos alimentos orgânicos e princípios ativos, se a planta for medicinal. Cada espécie pode conter vários princípios ativos, por isso, temos que ter cuidado no uso das plantas, pois elas são remédios da natureza. Por isso, os bolsistas concluíram que a fotossíntese é essencial para a manutenção da vida e, para que ocorra, é necessária a presença de energia que vem da luz, tendo como principal fonte, o Sol. Outro conhecimento científico que foi trabalhado com os alunos foi acerca dos princípios ativos e puderam comprovar que as plantas medicinais são um laboratório químico natural, produzindo constituintes químicos, denominados princípios ativos, que vão atuar e combater doenças e manter nosso corpo em equilíbrio. Os princípios ativos são produzidos por meio da fotossíntese, porém, as plantas medicinais podem produzir vários deles, que podem atuar de muitas formas em nosso organismo. “A planta é um laboratório químico natural. Além das substâncias alimentares, as células produzem outras - os princípios ativos – que agem sobre diversos órgãos do nosso organismo estimulando e equilibrando nosso estado geral” (SACRAMENTO, 2011, p. 15). Os princípios ativos se concentram em várias partes do vegetal, principalmente nas flores, Campus da Praia Vermelha/UFF 9 IV Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2014 nas folhas e nas raízes e, mas também podem se concentrar nas sementes, nos frutos e nas cascas, dependendo da planta. Existem vários tipos de princípios ativos, entre eles: os alcalóides, os flavonóides e os terpenóides, entre outros, que podem agir no nosso organismo como analgésicos, calmantes, antioxidantes, tranquilizantes, anti- inflamatórios, etc. A pesquisa científica também proporcionou aos alunos que entendessem que o corpo humano não é dividido, que ele não tem partes. Pelo contrário, sempre foi ensinado nos conteúdos escolares que o corpo humano tem divisões, no que se diz respeito aos órgãos, ao seu funcionamento e sua importância. O que se buscou nesse projeto foi a necessidade de fazer os alunos repensarem esse conceito, pois o corpo humano não é fragmentado, ele é um todo, sem divisões, sem órgãos mais importantes que os outros, pois todos desempenham suas funções que são essenciais para a vida. Tal entendimento é importante, visto que passam a depreender um conhecimento completo de si mesmos como serem humanos com “identidade complexa” e ao mesmo tempo, “comum a todos os outros humanos”, valorizando-se ainda mais, podendo assim estar mais aptos a “se prevenir de certos males” ou de “se auto-ajudar em um processo de cura de doenças” (LOBINO, 2004, p. 68-69). Um último conceito trabalhado e apreendido pelos alunos foi acerca do termo sustentabilidade, o qual refere-se a ”um conjunto de práticas que garantem uma vida confortável no planeta, sem prejudicar as próximas gerações, danificar o meio ambiente ou interferir na qualidade de vida das pessoas” (FERREIRA, 2013, p. 4). O propósito de se utilizar a horta medicinal como artefato pedagógico era incutir nos alunos a importância da educação ambiental em suas vidas e na sociedade, como eixo integrador de uma cidadania sustentável. Assim, o termo sustentabilidade se fez presente durante todo o projeto, possibilitando aos alunos o entendimento de que é preciso agir sempre pensando no coletivo e que a participação da comunidade é imprescindível na conquista de melhores condições de vida, sociais, educacionais, ambientais e econômicas. Como já mostrado anteriormente, a fotossíntese é um processo fundamental para a manutenção de vida no planeta e na sua sustentabilidade. Visto que as plantas para se desenvolverem precisem de gás carbônico (CO2), quanto mais cuidados receberem e se manterem preservadas, melhor é para o ser humano e para o planeta. Quando se trabalha isso com os alunos, mais sustentáveis, conscientes e cidadãos se tornam, e a horta medicinal figurou nesse processo como mola-mestra, proporcionando Campus da Praia Vermelha/UFF 10 IV Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2014 um contato direto com a prática baseada em atitudes sócio-ambientais, fortalecendo o vínculo com a natureza e com a vida. CONSIDERAÇÕES FINAIS O projeto apresentado foi executado por um período de seis meses, com encontros semanais. Nesse período houve na escola a etapa de seleção de trabalhos da Conferência Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente e, embora o projeto não estivesse concorrendo, os alunos bolsistas aproveitaram a oportunidade e participaram voluntariamente para apresentar para a comunidade o projeto. Também puderam participar no Innova World, que ocorreu durante a 10ª. Semana Estadual de Ciência e Tecnologia entre os dias 21 e 27 de outubro de 2013. Alguns desses encontros foram usados para preparem os alunos para a apresentação aos visitantes e também para a organização e montagem dos stands nesses eventos. Diante do exposto, concluiu-se que a realização do projeto foi uma oportunidade única de se trabalhar os conteúdos científicos de maneira multidisciplinar e de possibilitar aos alunos a iniciação científica, envolvendo-os no processo de contextualização, investigação e pesquisa, no qual apreenderam a importância de se tornarem cidadãos críticos e multiplicadores sócio-ambientais. O projeto “Horta medicinal como instrumento do estudo de ciências na EMEF TAN” contribuiu significativamente para a iniciação cientifica já no Ensino Fundamental, fomentando, assim, processos de formação científica na base da escolaridade. Lembrando que para, além disso, o referido subprojeto contribuiu para a qualificação horizontal das relações saberes/fazeres envolvendo educadores formais das instituições de Ensino e Pesquisa, incluindo os futuros professores de Ciências da Natureza na Educação Básica e, sobretudo, os educadores não Formais, aqui representados pelos pais do Conselho Municipal de Educação, da Federação dos Movimentos Populares/FAMOPES, conforme indica a Política Nacional Estadual de Educação Ambiental. Desta forma conclui-se que todas estas considerações demonstram os avanços obtidos com o Projeto de PICjr. “Horta Medicinal como instrumento do estudo de ciências na EMEF Tancredo de Almeida Neves” em termos de alfabetização científica na perspectiva CTSA com alunos do segundo ciclo do ensino fundamental. Campus da Praia Vermelha/UFF 11 IV Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2014 REFERÊNCIAS AULER, D. 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Campus da Praia Vermelha/UFF 12