A APRENDIZAGEM DO ALUNO SURDO ORALIZADO E O NÃO ORALIZADO: IMPLICAÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA AUTONOMIA Ana Rosa de Aguiar (Iniciação Científica-UNICENTRO), Carla Luciane Blum Vestena (Orientadora), e-mail: [email protected] Universidade Estadual do Centro-Oeste/Departamento de Pedagogia/Guarapuava, PR. Educação, Psicologia da Educação Palavras-chave: Aprendizagem; surdez; autonomia Resumo A presente pesquisa teve por objetivo investigar de que maneira os alunos surdos oralizados e não oralizados desenvolvem aprendizagem da linguagem oral e escrita. Realizou-se observações das aulas e um entrevista junto a acadêmicos surdos oralizados e não oralizados. Inferiu-se que a prática pedagógica usada na sala de aula restringe-se a explanação oral. O uso de Libras é realizado pelos profissionais da área. O desenvolvimento cognitivo não é levado em consideração, ou seja, não é preocupação primordial por parte dos oralistas e também dos gestualistas. Introdução A aprendizagem de alunos com deficiência tem gerado muitas pesquisas e discussões multidisciplinares no que abrange o campo da Educação Especial, dentre elas a surdez, porém com enfoque ao aluno que usa a Língua Brasileira de Sinais - a Libras, como forma de comunicação, em detrimento aos que são oralizados. A pessoa com deficiência auditiva apresenta uma perda na percepção dos sons e como tal precisam de estímulos que desafiem seus próprios limites e pensamentos. Dando-lhes oportunidade de autoconhecimento, a fim de explorar suas capacidades cognitivas. E estudos apontam que a solução para as dificuldades de aprendizagem dos conhecimentos linguísticos do surdo seria a oralização, entretanto Skliar (1997) discorda afirmando que o oralismo iria reforçar o desenvolvimento de duas identidades nas comunidades surdas, o oralizando não ouvinte e o surdo. Silva et. al. (2008) destaca que a identidade do surdo deve ser preservada, por isso a Libras é a solução dos problemas de aprendizagem do surdo. Diante do processo de inclusão do surdo no ensino regular, seja “oralizado” ou “não oralizado”, percebemos a necessidade de investigar esta temática. Supomos que as dificuldades de aprendizagem apresentada por cada tipo Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. de identidade surda sejam específicas, que o surdo oralizado tenha maior desenvolvimento da autonomia do que o não oralizado. Lançamos assim a seguinte questão problema: como se dá aprendizagem do aluno surdo oralizado e do aluno surdo não oralizado? O desenvolvimento da autonomia do surdo interfere no processo aprendizagem? Almejou-se investigar de que maneira os alunos surdos oralizados e não oralizados desenvolvem aprendizagem da linguagem oral e escrita. Sendo assim verificaram-se as dificuldades de aprendizagem apresentadas na aquisição da linguagem oral e escrita pelos surdos oralizados e os não oralizados e como eles resolvem situações de conflitos do dia-a-dia. Materiais e métodos A pesquisa envolveu dois acadêmicos, (um surdo oralizado do 3º ano de Administração (A1) e o outro não oralizado do 2º ano de Pedagogia (A2), da Universidade Estadual do Centro Oeste - UNICENTRO/PR. Realizaram-se observações nas salas de aula dos sujeitos e uma entrevista por meio de um roteiro semi-estruturado. Analisaram-se os dados conforme o referencial de Piaget (1979; 1970). Resultados e Discussão Inicialmente descobriu-se que (A1) aprendeu se comunicar fazendo Fonoaudiologia, ele desenvolveu a leitura labial (oralidade), desde os dois anos e meio de idade fazia tarefas da fono em casa, com a ajuda da mãe. Para ele a Libras é difícil, considerando que todos são ouvintes e não são todos que sabem Libras. Enquanto que, “o oralizado embora tenha mais contato e interação com os ouvintes também tenho enfrentado dificuldades, pois não são todos que conseguem se comunicar comigo nem eu com eles.” Em 1750, deu-se início a Filosofia educacional oralista, esta rejeita a língua de sinais, Heinick defende que a língua oral é o melhor mecanismo para integrar o surdo a sociedade. Já (A2), aprendeu Libras na Escola S.J., aonde começou como instrutor. Para ele, “a Libras é importante, por permitir mais contato do surdo a comunidade surda, e oralismo não é importante, porque é difícil perceber a comunidade é confusão oral.” Concordando com Piaget (1968/1997), no surdo-mudo, a linguagem articulada só se adquire muito depois da imitação diferida, do jogo simbólico e da imagem mental, o que parece indicar-lhe o caráter genético derivado visto que sua transmissão social ou educativa supõe sem dúvida, a constituição prévia dessas formas individuais de simbioses; essa constituição independe da linguagem. Conforme Goldfeld (1997), a partir do século XVI, que alguns educadores iniciaram um trabalho junto aos surdos com a finalidade de instruí-los e ensiná-los, inicialmente baseando-se na linguagem oral, língua materna dos seus países, outros defenderam a língua de sinais, para facilitar Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. a comunicação entre surdo e educador, elaborou-se códigos visuais, não sendo considerada uma língua, mas um suporte. Dentre as dificuldades apresentadas na aquisição da linguagem oral e escrita, pelos surdos oralizados e os não oralizados, constatou-se que ambos possuem dificuldades em ler/interpretar e elaborar conceitos: “sim muita, meu vocabulário ainda é restrito [...] já superei alguns obstáculos, mas ainda tenho dificuldades para compreender alguns conceitos.” (A1) “É difícil muitas vezes não consigo contextualizar os textos e falta conhecimento de vocabulário [...] é difícil entender os conceitos, demora um tempo Mario para compreende.” (A2) Em relação a como o surdo aprende (A1) declarou que: “Aprende muito pela observação, gestos, expressão facial e fica atento a tudo”, enquanto que para o outro acadêmico: “O surdo aprende utilizando a Libras, é mais visual do que o ouvinte e preciso de estratégicas de ensino específicas, que são diferentes.” (A2) Para que fosse significativa a aprendizagem do surdo, o acadêmico oralizado afirmou que: “deveria haver uma mudança na lei.” (A1) Para o acadêmico não oralizado os professores deveriam mudar o método de ensino: “Os professores precisam pensar em estratégias de ensino que sejam boas para os surdos. Muito material visual e entender como o surdo aprende. É importante conhecer a Língua de Sinais.” (A2) Em consonância com Piaget (1968/1997), os surdos-mudos chegam à sua maneira coletiva própria, a elaboração de uma de uma linguagem por gestos, interessantíssima, pois é ao mesmo tempo social e procedente dos significantes de caráter imitativo, que intervêm de forma individual. Quando inquiridos sobre a metodologia dos professores, afirmaram que: “Eles conversam normalmente, nem todos falam devagar como eu preciso, então eu é que procuro ajuda com colegas.” (A1) Verificou-se em uma das observações de aula, que (A1) tirava dúvidas com os colegas e individualmente com o professor. A aula era expositiva, os demais colegas da turma também tinham dúvidas. O aluno surdo fez os exercícios junto com o colega. O outro acadêmico também se referiu as aulas expositivas: “Os professores utilizam muito a explanação e pouquíssimo o material visual, as aulas na maioria são para ouvintes.” (A2) Na observação da aula constatouse que, (A2) precisou da interpretação e ajuda dos colegas, porem compreende melhor quando a interprete contextualiza com exemplos do cotidiano, mesmo assim, há palavras e conceitos que não entende, necessitando de um sinônimo. A aula observada é expositiva depois foi feito um trabalho em grupo. Realizou o trabalho em grupo sempre com ajuda dos colegas e da interprete. A comunicação do surdo oralizado e do não oralizado se difere: “Só tenho contato mais com ouvintes, não consigo me comunicar com não ouvintes por falta de conhecer Libras.” (A1) “Maior contato é com surdos, são os com quem mais me relaciono socialmente, também os interpretes que são ouvintes. Relaciono-me menos com os ouvintes de forma mais ativa, meus melhores amigos são surdos.” (A2) Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Conclusões Todos os métodos de ensino, em suas diferentes concepções oralistas, gestuais e bilinguismo, estão voltados para o desenvolvimento do pensamento e a linguagem, nesse processo a linguagem tem papel essencial, sendo ela um elemento determinante para o surdo desenvolver seu raciocínio. A prática pedagógica usada na execução desse método então intimamente ligadas a profissionais da área. Em geral o desenvolvimento cognitivo não é levado em consideração, ou seja, não é preocupação primordial por parte dos oralistas e também dos gestualistas, considerando que o sujeito se apresenta ao mundo por meio da linguagem desenvolvida com a finalidade de estabelecer comunicação entre o mundo surdo e o mundo dos ouvintes. Agradecimentos Aos acadêmicos que participaram da pesquisa e gentilmente contribuíram para o avanço dos estudos na área inclusiva. Referências GOLDFELD, M. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva sócio-interacionista. São Paulo: Plexus, 1997. PIAGET, J.; INHELDER, B. A Psicologia da criança. São Paulo: Difel, 1968. PIAGET, J. O raciocínio da criança. Rio de Janeiro: Record, 1967. PIAGET, J. A equilibração das estruturas cognitivas:problema central do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. SACKS, Oliver. Vendo vozes: uma viagem ao mundo do surdo. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. SILVA, I.R.; KAUCHAKJE, S.; GESUELI, Z.M. Cidadania, surdez e linguagem. Rio de Janeiro: Plexus, 2008. SKLIAR, C. A surdez um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação. 1997. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.