TÓPICOS DE RESOLUÇÃO DO EXAME Exercício I a) Afirmação verdadeira. A poluição traduz-se numa externalidade negativa que, normalmente, resulta numa perda de bem-estar social caso o seu custo não seja tido em conta nas decisões dos agentes económicos. Uma das formas de resolver esta falha de mercado é, por exemplo, criar impostos de Pigou que levem os agentes económicos a internalizar nos seus custos privados um imposto equivalente ao custo da poluição e, consequentemente, a reduzir as atividades que geram poluição (neste caso, o transporte associado ao comércio internacional). No gráfico seguinte, o agente económico decidiria por um nível de comércio que resulta da intercessão entre o Benefício Marginal e o Custo Marginal Privado, o que gera uma perda de excedente (na medida em que se produz para além do óptimo social, numa zona do gráfico em que o Benefício Marginal já não compensa o Custo Marginal Social, isto é, a soma entre o Custo Marginal Privado e o custo resultante da externalidade). Óptimo Social P CmgSocial CmgPrivado Ganho de excedente resultante da diminuição do comércio Óptimo Privado Bmg Q1 b) Q2 Q Afirmação falsa. As políticas públicas devem procurar maximizar o bem-estar social, o que implica que se produza apenas enquanto o preço de reserva do consumidor for superior ao preço de reserva do produtor. Aumentar em demasiado as quantidades produzidas em resultado, por exemplo, de um subsídio à produção, leva a produzir unidades do bem para as quais o preço de reserva do consumidor é inferior ao preço de reserva do produtor e, consequentemente, resulta numa destruição de valor económico ou perda de bem-estar social (conforme resulta do gráfico seguinte, para o caso do subsídio à produção). P (subsídio à produção) S1 S2 PP=P2+S Carga Excedente P1 Pc=P2 D 1 Q1 Q2 Q c) Afirmação falsa. Quer os impostos quer os subsídios geram efeitos distorcivos nos mercados, que se traduzem em perda de bem-estar social (isto é, em carga excedente). No caso dos impostos, porque há uma distorção/diminuição das quantidades transacionadas e, no caso dos subsídios, porque há uma distorção/aumento das quantidades transacionadas. Assim, não é possível compensar a perda de bem-estar associada aos efeitos distorcivos de um imposto num mercado, com o lançamento de um subsídio noutro mercado, o qual também gera carga excedente. P (imposto sobre o consumidor) P (subsídio à produção) S1 S c P =P2+T Carga Excedente P1 Carga Excedente P1 S2 PP=P2+S Pc=P2 Pp=P2 D D1 D2 Q2 Q1 Q1 Q Q2 Q Exercício II a) O aumento dos impostos indiretos sobre determinado bem traduz-se na contração da curva de procura (se o imposto incidir legalmente sobre o consumidor) ou na contração da curva de oferta (se o importo incidir legalmente sobre o produtor), resultando numa distorção/redução nas quantidades transacionadas e diminuição de bem-estar social (traduzido no aparecimento de uma carga excedente), conforme demonstrado nos gráficos seguintes: P S P1 P2 D1 D2 Q2 Q1 Q 2 b) O aumento dos impostos sobre o rendimento e redução das prestações sociais transferidas para as famílias traduz-se numa diminuição do rendimento disponível das famílias e, consequentemente, numa contração da curva de procura e alteração do equilíbrio conforme resulta do gráfico seguinte (há também uma diminuição do excedente total): P S P1 P2 D1 D2 Q2 c) Q1 Q O aumento do número de horas de trabalho semanal, sem que haja um ajustamento nos salários, traduz-se numa diminuição dos custos salariais por hora trabalhada suportados pelas empresas e, consequentemente, numa expansão da curva de oferta (em resultado da diminuição dos custos de produção): P S1 S2 P1 P2 D Q1 d) Q2 Q Os medicamentos genéricos são um produto substituto dos medicamentos de marca, pelo que uma diminuição do preço dos primeiros traduz-se numa contração da procura dos segundos: 3 P S P1 P2 D1 D2 Q2 e) Q1 Q A agilização dos processos de despejo traduz-se numa expansão da oferta de casas para arrendar (o senhorio terá custos menores com eventuais processos de despejo, o que se traduz numa diminuição dos respectivos preços de reserva e, consequentemente, na expansão da curva de oferta): P S1 S2 P1 P2 D Q1 f) Q2 Q A liberalização do acesso de cidadãos europeus não nacionais ao exercício de determinadas atividades profissionais em Portugal traduz-se na expansão da oferta de profissionais dessas atividades: P S1 S2 P1 P2 D Q1 Q2 Q 4 Exercício III a) O cabaz óptimo corresponde a um cabaz sobre a restrição orçamental, no ponto de tangência desta com uma curva de indiferença, conforme resulta do gráfico seguinte: YY Cabaz Óptimo 50 100 b) X Neste caso, o consumidor passa a ter de respeitar duas restrições em simultâneo, a restrição orçamental e a restrição senhas. O cabaz óptimo de consumo poderá ou não alterar-se, dependendo se as senhas atribuídas ao consumidor são ou não suficientes para garantir os mesmos níveis de consumo que foram determinados na alínea anterior. Assim, se o cabaz óptimo inicial envolver um elevado nível de consumo de bem X e um reduzido nível de consumo de bem Y, conforme se verifica no primeiro dos gráficos seguintes, então a imposição da restrição adicional obrigará o consumidor a alterar o seu cabaz óptimo. Já se o cabaz óptimo inicial envolver um reduzido nível de consumo de bem X e um elevado nível de consumo de bem Y, conforme se verifica no segundo dos gráficos seguintes, então a imposição da restrição adicional não terá qualquer efeito sobre o cabaz óptimo de consumo, uma vez que este cabaz está abaixo da restrição senhas. YY YY 100 Novo Cabaz Óptimo 100 Cabaz Óptimo Cabaz Óptimo inicial 50 50 5 50 100 X 50 100 X c) Se o cabaz óptimo envolver um elevado nível de consumo de bem X e um reduzido nível de consumo de bem Y, então o consumidor esgota totalmente a sua dotação de senhas mas não o seu rendimento (conforme se verifica no primeiro gráfico representado na alínea anterior). Pelo que, neste caso, apenas poderá aumentar os seus níveis de consumo se receber mais senhas. Ou seja, neste caso, o consumidor prefere receber mais senhas, o que lhe permite aumentar os níveis de consumo e de bem-estar. Já se o cabaz óptimo envolver um elevado nível de consumo de bem Y e um reduzido nível de consumo de bem X, então o consumidor esgota totalmente o seu rendimento mas não as senhas (conforme se verifica no segundo gráfico representado na alínea anterior). Pelo que, neste caso, apenas poderá aumentar os seus níveis de consumo se receber mais rendimento. Ou seja, neste caso, o consumidor prefere receber mais rendimento, o que lhe permite aumentar os níveis de consumo e de bem-estar. Exercício IV a) Solução de Monopólio A quantidade de monopólio resulta de: Rmg = Cmg ↔ 160 – 8Q = 20 + 2Q ↔ 160 – 20 = 2Q + 8Q ↔ 140 = 10Q↔ Q* = 14 O preço de monopólio é determinado pela substituição da quantidade na função procura: P = 160 – 4Q ↔ P* = 160 – 4x14 ↔ P* = 104 Solução de Concorrência Perfeita Em equilíbrio de longo prazo, em concorrência perfeita, a quantidade produzida individualmente por cada empresa corresponde à quantidade que minimiza os seus Custos Totais Médios (ou seja, ao ponto de intersecção entre os Custos Totais Médios e os Custos Marginais): Cmg = CTM ↔ 20 + 2q = 20 + q + 100/q ↔ 20 – 20 + 2q – q = 100/q ↔ q = 100/q ↔ q* = 10 Por substituição da quantidade produzida pela empresa, na curva de Cmg ou CTM, resulta o preço de equilíbrio de longo prazo: P* = Cmg(q*) ↔ P* = 20 + 2x10 ↔ P* = 40 6 Por substituição do preço na curva de procura, determina-se a quantidade total de mercado: P = 160 – 4Q ↔ 40 = 160 – 4Q* ↔ 4Q* = 160 – 40 ↔ 4Q* = 120 ↔ Q* = 30 Dividindo a quantidade total de mercado pela quantidade produzida individualmente por uma empresa, resulta o número de empresas que sobreviverão no equilíbrio de longo prazo: n* = Q*/q* = 30/10 = 3 Análise Gráfica Em termos gráficos, comparam-se as duas soluções e identifica-se o triangulo correspondente à perda de excedente que resulta do Monopólio (face à situação de concorrência perfeita): CTM Cmg Solução de Monopólio Perda de Bem-Estar Social do Monopólio Solução de Concorrência Perfeita 104 40 Rmg(Q) 14 P(Q) 30 b) Estamos perante a integração vertical de dois monopólios. O gráfico seguinte apresenta as soluções de monopólio nos cenários com e sem integração vertical da EDP com a REN. A integração vertical das empresas traduz-se na diminuição dos custos marginais da EDP (deixa de pagar a margem que, no cenário sem integração vertical, teria que pagar à 7 REN), resultando na diminuição do preço e aumento da quantidade transaccionada e, consequentemente, o processo de integração vertical será benéfica para o consumidor. Sem integração vertical de dois monopólios Com integração vertical de dois monopólios p1 p2 Cmg=c+m Cmg=c Rmg(Q) q1 P(Q) q2 Mas, por outro lado, a EDP poderia passar a dificultar o acesso dos seus concorrentes à utilização da rede eléctrica controlada pela REN (por exemplo, aumentando-lhes o preço de utilização da rede eléctrica), reduzindo a capacidade destes operadores concorrerem efectivamente com a EDP. Consequentemente, aumentaria o poder de mercado da EDP, o que seria susceptível de resultar em maiores preços para os consumidores. REN Aumentar Custos dos Concorrentes? Eficiências? EDP Concorrentes da EDP Menor Pressão Competitiva? Impacto global sobre o Consumidor? 8 O efeito final sobre os preços seria incerto, dependendo de qual dos efeitos anteriores é mais forte: o efeito de eliminação da dupla margem identificado no primeiro parágrafo desta alínea, ou o efeito identificado no parágrafo anterior. c) As referidas campanhas reduzem a substituibilidade das importações face ao leite nacional, o que se traduz numa expansão da procura de leite dirigida à Lactogal e, ao mesmo tempo, no aumento da inclinação da procura (isto é, os consumidores de leite nacional passam a ser menos sensíveis ao preço do leite nacional, o que se reflecte num aumento do poder de mercado da Lactogal). Em termos gráficos, facilmente se conclui que esta expansão da curva de procura/aumento da inclinação da curva de procura dirigida à Lactogal se traduz num aumento de preços que reflecte um maior poder de mercado da empresa (conforme resulta da comparação dos dois gráficos seguintes): p p Cmg=c Rmg(q) Cmg=c P(q) Rmg(q) q P(q) q d) O gráfico seguinte identifica a solução de monopsónio (isto é, a empresa tem poder de mercado na compra da matéria prima), em que a empresa é price-taker no mercado da venda do leite processado. O Monopsónio resulta numa distorção/diminuição nas quantidades adquiridas da matéria-prima – a empresa reduz as quantidades adquiridas de matéria-prima como forma de fazer diminuir os preços de aquisição da mesma – e, consequentemente, gera uma perda de bem-estar social (identificado pelo triangulo identificado por “Ineficiência na afectação de recursos”). 9 Solução de Monopsónio Cmg(Q) P(Q) P2 Ineficiência na afectação de recursos P1 Preço de aquisição da matéria-prima Q2 Q0 O gráfico seguinte identifica a solução no caso em que a empresa tem poder de mercado na aquisição da matéria-prima (isto é, situação de monopsónio) e na venda do leite processado (isto é, situação de monopólio). A diminuição nas quantidades transaccionadas traduz-se, por um lado, na diminuição dos preços de aquisição de matéria-prima e, por outro lado, no aumento do preço de venda do leite processado. Na situação anterior, a empresa apenas beneficiava de uma diminuição do preço de aquisição da matéria-prima, enquanto que agora beneficia do aumento do preço do leite processado e da diminuição do preço da matéria-prima. Assim, é provável que a empresa tenha um maior interesse em reduzir as quantidades transaccionadas no cenário de monopsónio / monopólio, uma vez que beneficia mais duma diminuição da quantidade nesse cenário do que no cenário de monopsónio. A distorção / diminuição das quantidades transaccionadas gera uma perda de bem-estar social (identificado pelo triangulo identificado por “Ineficiência na afectação de recursos”). Preço de venda do leite processado Cmg(Q) P(Q) P2 Ineficiência na afectação de recursos Preço de aquisição da matéria-prima P1 Rmg(Q) Q0 Q2 10