“Perfil do atendimento dos pacientes com traumatismo cranioencefálico nos hospitais de urgência e emergência sob a gestão da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro” por Ana Valéria de Souza Moll Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre Modalidade Profissional em Saúde Pública. Orientador: Prof.ª Dr.ª Luciana Dias de Lima Rio de Janeiro, junho de 2015. Esta dissertação, intitulada “Perfil do atendimento dos pacientes com traumatismo cranioencefálico nos hospitais de urgência e emergência sob a gestão da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro” apresentada por Ana Valéria de Souza Moll foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros: Prof. Dr. Flavio Monteiro de Souza Prof.ª Dr.ª Gisele O'Dwyer de Oliveira Prof.ª Dr.ª Luciana Dias de Lima – Orientadora Dissertação defendida e aprovada em 29 de junho de 2015. Agradecimentos Primeiramente à minha família. Porto seguro para onde quer que eu vá. Meu marido pela dedicação e minha filha por ao mesmo tempo ser meu tesouro e minha bússola. Ao meu pai e a minha mãe (In memorian) pelo exemplo. Sem eles com certeza eu não chegaria aonde cheguei. Ao meu irmão Alexandre que nunca deixou de me incentivar. À minha orientadora, Prof. Dra. Luciana Lima pela paciência e pela doce rispidez na hora certa. Aos Profs. Drs. Gisele O’Dwyer e Flavio Monteiro, pelo trabalho de revisão e sugestões durante a qualificação, o que me permitiu refletir e aperfeiçoar esta dissertação. Ao amigo Coronel Sylvio pelo incentivo para que eu realizasse a prova do mestrado. À enfermeira Patrícia Santanna que tantas vezes assumiu a liderança do posto o qual ocupei para que eu pudesse assistir às aulas e seguir em frente. Acima de tudo A AMIGA! À Dra. Olivia Machado pela ajuda no levantamento dos dados e pelo seu exemplo de profissionalismo. Ao Dr. Jorge Calás e a enfermeira Silvana Valéria, exemplos de dedicação, ao serem fiéis escudeiros durante a minha ausência na Secretaria Estadual de Saúde. RESUMO O traumatismo cranioencefálico constitui um dos grandes problemas de saúde pública, principalmente na população adulta jovem. Pode levar a morte ou a sequelas neurológicas irreversíveis acarretando sérios problemas de reintegração à sociedade. O objetivo deste estudo é analisar o perfil do atendimento prestado aos pacientes, vitimas de traumatismo cranioencefálico nos sete hospitais de Urgência e Emergência não referenciadas sob a gestão da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro no período de 2012 a 2014. Para tanto foi realizada uma pesquisa exploratória, com abordagem quantitativa e qualitativa dos atendimentos relacionados ao traumatismo cranioencefálico nos referidos hospitais realizando um levantamento bibliográfico e a coleta de dados no sistema informatizado utilizado pela SES RJ , sistema Klinikos® e no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde – DATASUS. Foram coletadas informações relacionadas ao número de atendimentos, prevalência das lesões causadas pelo traumatismo cranioencefálico de acordo com o Código Internacional das Doenças – CID 10, prevalência de acordo com o sexo, faixa etária e letalidade do traumatismo cranioencefálico entre outros. Foram analisados 23.234 atendimentos relacionados ao traumatismo cranioencefálico em hospitais com e sem serviço de neurocirurgia. A incidência foi maior no sexo masculino e apesar de terem sido feitas remoções destes pacientes para unidades com serviço de neurocirurgia, a taxa de óbito relacionada ao TCE nas unidades sem serviço de neurocirurgia foi 2,9 vezes maior do que nos serviços com neurocirurgia. A partir dos resultados recomenda-se a implementação de melhorias relacionadas à alimentação das informações nos sistemas utilizados, a revisão de protocolos relacionados ao traumatismo cranioencefálico desde a admissão até a alta e que todas as emergências de porta aberta possuam serviços de neurocirurgia de plantão. Palavras Chaves: traumatismo de cabeça, trauma, traumatismo intracraniano, lesão cerebral, traumatismo cranioencefálico, emergência, urgência,trauma e superlotação. ABSTRACT Traumatic brain injury is one of the biggest concerns in public health, especially in young adult population. It can lead to death or irreversible neurological sequel causing serious problems of social reintegration. The main purpose of this study is to analyze the treatment provided to head trauma victims in seven Emergency hospitals managed by Rio de Janeiro State Health Department from 2012 to 2014. An exploratory research analyzed traumatic brain injury treatment, in both quantitative and qualitative approaches, based on a literature review and data collection on database systems used by the State Health Department - Klinikos® system and DATASUS. The collected data referred to number of treatments, prevalence of injuries caused by traumatic brain injury according to the International Classification of Diseases, prevalence according to gender, age and lethality, among others. The analysis consisted of 23,234 treatments related to traumatic brain injury in hospitals with and without neurosurgery service. The incidence was higher in males, and although the patients were transferred to units with neurosurgery service, the death rate related to brain injury in the units without neurosurgery service was 2.9 times higher than in those with it. According to the results, it was recommended to implement improvements to the data entry systems used, to review brain trauma protocols from admission to discharge, and to include neurosurgery on all emergency hospitals. Key words: head trauma, trauma, intracranial trauma, brain injury, traumatic brain injury, emergency, urgency, trauma and overcrowding. Lista de Siglas APS- Atenção Primária à Saúde BAM- Boletim de Atendimento Médico CAPES- Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CBEMERJ- Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro CFM- Conselho Federal de Medicina CID- Código Internacional de Doenças DATASUS- Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde ECG- Escala de Coma de Glasgow ESF- Estratégia de Saúde da Família GM- Gabinete do Ministro GSE- Grupamento de Socorro de Emergência HEAL- Hospital Estadual Azevedo Lima HEAPN- Hospital Estadual Adão Pereira Nunes HEAS- Hospital Estadual Albert Scwhaitzer HEAT- Hospital Estadual Alberto Torres HECC- Hospital Estadual Carlos Chagas HEGV- Hospital Estadual Getúlio Vargas HERF- Hospital Estadual Rocha Faria LILACS- Literatura Latino Americana e do Caribe da Saúde MS- Ministério da Saúde OPAS- Organização Pan Americana de Saúde OSS- Organização Social de Saúde PNAU- Política Nacional de Atenção às Urgências PNH- Política Nacional de Humanização RAS- Rede de Atenção às Urgências SAMU- Serviço de Assistência Móvel de Urgência SciELO- Scientific Eletronic Library Online SES-RJ- Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro SUS- Sistema Único de Saúde TCE- Traumatismo cranioencefálico UPA-24H- Unidade de Pronto Atendimento 24 Horas UTI- Unidade de Terapia Intensiva WHO- World Health Organization LISTA DE TABELAS Tabela 1: Escala de coma de Glasgow. Tabela 2: CID 10 relacionado ao TCE nas unidades hospitalares sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. 2014. Tabela 3: Distribuição de leitos nos hospitais de urgência e emergência sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. 2014 Tabela 4: Leitos extras no setor de emergência dos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. 2012 a 2014. Tabela 5: Hospitais com serviço de neurocirurgia no setor de emergência dos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil.2012-2014. Tabela 6: Atendimento no de setor emergência dos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil.2012-2014. Tabela 7: Atendimento do TCE no setor de emergência dos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil.2012-2014. Tabela 8: Atendimentos relacionados ao TCE no setor de emergência dos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil.2012-2014. Tabela 9: Atendimento total e atendimentos relacionados ao TCE no setor de emergência por hospital sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil.20122014. Tabela 10: Atendimentos específicos de TCE o setor de emergência com e sem serviço de neurocirurgia nos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil.2012-2014. Tabela 11: Remoções inter-hospitalares nos hospitais sem serviço de neurocirurgia sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil.2014. Tabela 12: Retorno dos pacientes à unidade de origem após avaliação pela neurocirurgia nos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. 2014. Tabela 13: Incidência do TCE relacionado ao sexo nos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. 2014 Tabela 14: Atendimentos de TCE segundo a faixa etária no serviço de emergência nos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil.20122014. Tabela 15: Tempo médio de internação do TCE e tempo médio de internação hospitalar nos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil.20122014. Tabela 16: Taxa de letalidade nas primeiras 24 horas relacionada ao TCE segundo o CID10 nos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil.2012-2014. Tabela 17: Taxa de letalidade relacionada ao TCE segundo o CID 10 nos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil.2012-2014. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Mapa do Estado do Rio de Janeiro com a localização dos hospitais do respectivo estudo sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil Figura 2: Atendimentos relacionados ao TCE, remoções realizadas e solicitações não realizadas para transferência inter-hospitalar, nos hospitais sem serviço de neurocirurgia sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. Figura 3: Incidência de TCE de acordo com a faixa etária, nos hospitais sem serviço de neurocirurgia sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil Figura 4: Taxa de letalidade relacionada ao TCE segundo o CID 10 nos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. SUMÁRIO 1) Introdução 1 2) O atendimento de urgência e emergência: Visão Geral 6 3) O Traumatismo Cranioencefálico 15 3.1 Classificação do Trauma Cranioencefálico 19 3.2 Traumatismo Cranioencefálico e suas Sequelas 20 4) Metodologia 22 5) Resultados e Discussão 26 5.1 Caracterização geral dos hospitais envolvidos 26 5.2 Perfil de morbimortalidade relacionado ao atendimento 32 do traumatismo cranioencefálico 6) Conclusões e Recomendações 50 7) Referências Bibliográficas 55 1 1) INTRODUÇÃO O traumatismo cranioencefálico (TCE) é problema de saúde pública de grande magnitude e tem provocado fortes impactos na morbimortalidade da população. Os acidentes e a crescente violência urbana são fatores explicativos importantes na ocorrência do problema (Brasil, 2001). O impacto do traumatismo cranioencefálico na sociedade é preocupante, pois cerca de 70% dos indivíduos acometidos pelo agravo são jovens. O TCE é uma das principais causas de morte em adultos com menos de 35 anos, com o pico de incidência numa faixa produtiva do ser humano, no intervalo entre os 15- 24 anos (Bennet & Raymond, 2008). O traumatismo cranioencefálico, no Brasil, causa em média 100.000 mortes por ano. Com a rapidez do atendimento do trauma no local assim como sua remoção para as grandes emergências, o desenvolvimento da medicina intensiva e da neurocirurgia, houve uma diminuição da morbimortalidade das vítimas (Belda et al.,2004). As sequelas advindas pelo TCE podem interferir na capacidade do indivíduo em desempenhar suas funções na sociedade onde vive (Barbosa et al; 2010), impedindo o ingresso ou reingresso na vida social e no trabalho por conta das consequências adquiridas pela lesão cerebral que se instalou. Neste aspecto podemos considerar um grave problema para a saúde pública, pois envolve a estruturação e estabilidade da própria vida, no que diz respeito à independência do indivíduo (Santos, De Sousa & Castro-Caldas, 2010). Todo paciente com traumatismo cranioencefálico deve ser encaminhado a uma unidade com serviço de emergência onde exista parque tecnológico e profissionais qualificados para que ao final do exame físico e avaliação neurológica, o profissional de saúde, principalmente o médico, possa ter informações e conhecimentos que permitam estratificar o risco de morte e da possibilidade do desenvolvimento de lesões neurológicas leves médias ou graves (Helmy, Vizcaychipi & Gupta; 2007). No setor de emergência dos hospitais, não raro a superlotação prepondera. A espera por atendimento pode agravar a situação dos pacientes que realmente necessitam de atendimento imediato. Os pacientes que correm risco de morte ou os que apresentam alguma lesão com potencial de 2 agravamento podem passar horas aguardando por atendimento médico (Bittencourt, 2009). Os serviços de urgência e emergência hospitalares são considerados como uma das áreas mais críticas, de maior complexidade de assistência e com maior atividade de profissionais de várias especialidades além do grande afluxo de usuários. Somado a essas características, os serviços de emergência contam com uma especificidade que os distingue de quaisquer outros serviços de saúde: trata-se de uma assistência que deve ser realizada de forma imediata, eficaz e integrada. A finalidade de uma unidade com serviço de emergência é avaliar o paciente, diagnosticar e iniciar o tratamento adequado o mais breve possível. Exige amplo conhecimento técnico, habilidade profissional além do emprego de recursos tecnológicos específicos para um bom atendimento (Deslandes, 2002). Para que isto ocorra deve haver uma coordenação das políticas assistenciais que permitam uma organização da demanda que chega à porta dos hospitais com emergência aberta, aprimorando a distribuição deste fluxo, coordenando o processo da hierarquização do atendimento entre outros serviços que atendam a demanda espontânea de menor complexidade. Melhorar a rede de serviços ofertados é a saída para evitar o caos da superlotação nas grandes emergências, porém a fragilidade das políticas públicas, a baixa qualidade dos serviços prestados, as questões socioculturais da população, a oferta de serviços, as variáveis sociodemográficas ligadas à idade, sexo e hábitos da população além da crescente violência urbana são fatores que contribuem para a continuidade da procura pelo setor de emergência hospitalar e sua consequente sobrecarga. (O’Dwyer, Oliveira & Seta, 2009). Os fatores acima citados, aliados a insuficiente estruturação da rede de saúde, têm transformado as unidades de emergência em um dos locais mais problemáticos do SUS (Brasil, 2006). Focando no atendimento ao paciente grave nas emergências dos hospitais, como é o caso das vítimas de TCE, o setor público necessita ficar sempre atento em criar novos processos que permitam abordagens mais eficientes. Os avanços da tecnologia e o aumento da demanda pela emergência hospitalar ampliam a necessidade de mais serviços com melhor 3 redimensionamento dos recursos para responder satisfatoriamente aos desafios imputados por esta nova ordem dos acontecimentos. Uma nova abordagem para incorporar algumas ferramentas modernas da gestão estratégica se faz necessária para que o setor público consiga um melhor desempenho e qualidade nos serviços prestados (Kernaghan; Siegel,1999). Na área relacionada aos processos de saúde, houve como resposta a configuração de uma rede regionalizada, hierarquizada e integrada pressupondo a distribuição espacial dos equipamentos e serviços de saúde em função das condições epidemiológicas de cada localidade, ampliando a distribuição de serviços simples e concentrando aqueles de maior complexidade. Esta foi a estratégia para melhorar a oferta e a qualidade dos serviços assistenciais visando a organização da demanda que procura a assistência médica (Rouquaryol, 1999). Caracterizando o atendimento no setor de emergência das unidades hospitalares, este deveria ser um setor de passagem, ou seja, local onde o paciente permaneceria por um curto período de tempo. Em consequência da superlotação e a falta de leitos disponíveis para atender a demanda, passou a funcionar como uma unidade de internação (Garlet et al 2011). Os profissionais atendem as situações de extrema gravidade com risco de morte, como é o caso do trauma cranioencefálico, e atendem também situações que extrapolam a capacidade resolutiva dos serviços de emergência como é o caso dos pacientes crônicos. Com a dificuldade de referenciar os pacientes para unidades com outro perfil que não de urgência e emergência, as salas de observação que se destinam à permanência temporária dos pacientes, transformam-se em áreas de internação sem, no entanto, possuírem as devidas condições de infraestrutura e de pessoal para cuidados contínuos, expondo, com frequência, os pacientes à riscos e a equipe a uma sobrecarga de stress e trabalho. A ausência de condições ou condições precárias de assistência para o atendimento das vítimas com TCE, foco deste trabalho, maximiza a dimensão do problema. A qualidade da atenção prestada impacta diretamente na morbimortalidade destes casos (Giglio-Jacquemot; 2005). Embora o evento traumático no TCE aconteça rapidamente, suas consequências atingem proporções epidêmicas, justificando uma atenção especial a este tema. É um problema de saúde pública com impacto financeiro 4 duplamente presente. Por um lado, pelo custo hospitalar, não só da internação do período agudo, mas também aquele que seria o seguimento do tratamento pela necessidade de suporte do sistema de saúde para reabilitação. Por outro lado, compondo este impacto estão as semanas e anos de perda de produtividade individual. Por isto há necessidade de uma atenção rápida e eficiente a estes casos. Muitas vezes, na unidade hospitalar, isto ocorre não somente pela superlotação da emergência, mas também pela falta de especialistas para uma avaliação correta, incluindo-se aqui o neurocirurgião, onde no TCE é fundamental para realizar procedimentos que podem salvar vidas e impedir sequelas graves irreversíveis (Souza, Koizumi; 1996). Diante do descrito foi despertado nesta autora, por ter sido superintendente de Unidades Próprias da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ), no período de 2012 a 2014, um questionamento sobre a assistência aos pacientes vítimas de TCE nos hospitais sob a gestão da SES-RJ que possuem emergência não referenciada avaliando a presença ou ausência de condições favoráveis à assistência a este tipo de vítima. Sob a ótica da necessidade de um atendimento efetivo para a vítima que sofre um traumatismo cranioencefálico, foram feitos questionamentos que nortearam o estudo. As questões foram: Qual o perfil organizacional do setor de emergência dos hospitais sob a gestão da SES-RJ com emergência não referenciada? Qual o tempo de permanência e a taxa de mortalidade dos pacientes vítimas de TCE nestas unidades? Qual o perfil de morbimortalidade relacionado ao trauma cranioencefálico nestas unidades? Sendo o aspecto assistencial relacionado à abordagem inicial dos pacientes com TCE, este estudo tem como objetivo principal analisar o perfil do atendimento prestado aos pacientes vitima de traumatismo cranioencefálico nos hospitais de urgência e emergência não referenciadas sob a gestão da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) no período de 2012 a 2014. 5 Especificamente para uma melhor análise e posterior discussão será caracterizado o perfil de cada unidade, identificando o número de atendimentos de TCE, o tempo de permanência dos pacientes vítimas de traumatismo cranioencefálico e o número de óbitos consequente ao TCE que ocorreram com menos de 24 horas. Estas informações serão comparadas com aquelas decorrentes dos atendimentos totais feito pela unidade. Este trabalho será segmentado em capítulos iniciando pela abordagem do atendimento sobre as urgências e emergências no país sob a ótica de vários autores além das principais políticas adotadas para este assunto. Em seguida haverá uma contextualição sobre o traumatismo cranioencefálico abordando sua ocorrência, lesão, atendimento e as sequelas que podem advir do evento. A metodologia será explanada para que em seguida, de posse dos dados colhidos de acordo com o propósito deste trabalho sejam apresentados e discutidos os resultados obtidos. Finalizando com as conclusões e recomendações e as referencias bibliográficas. 6 2) O atendimento de urgência e emergência no país: Visão geral O Sistema Único de Saúde (SUS) foi instituído com a publicação da Constituição Federal de 1988, baseada na premissa de que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado, sendo posteriormente regulamentado pela Lei 8080 /90. A gestão do sistema passou a ser norteada por princípios da universalização, da equidade e da integralidade com descentralização, regionalização e hierarquização das ações e serviços, participação ativa da sociedade na formulação e implantação das políticas de saúde. Desde então, o SUS vem buscando maneiras para organizar e hierarquizar os níveis de atenção à saúde entendendo que esta seria a forma de equacionar os diferentes níveis de complexidade dos agravos à saúde (Brasil, 1988). Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde, crises na saúde por conta de novos cenários como o aumento da violência na sociedade urbana, das doenças crônicas e suas agudizações entre outros, trazem para o SUS um grande desafio: organizar o sistema de saúde de forma realmente integrada para atender a complexidade das necessidades de saúde da população devendo haver uma rede coordenada e integrada entre todos os níveis de atenção à saúde (OPAS-2010). Na visão de Conill e Fausto (2007), há uma segmentação e fragmentação dos sistemas de saúde. Estes pontos passam a ser tratados e estudados como causas importantes para compreensão do acesso aos aparelhos de saúde, principalmente nos setores de emergência hospitalar. Há importantes lacunas na assistência e a falta de garantia na continuidade do cuidado é um ponto de grande fragilidade no sistema. O acesso da população aos serviços de saúde específicos para cada caso ainda é falho. Falta ainda a hierarquização dos serviços de atenção primária, secundária e terciária de forma interligada pelos fluxos de referência e contra referência. A atenção básica surgiu como ação prioritária para as redes relacionando sua capacidade em constituir-se como o lugar onde os problemas de saúde são apresentados, diagnosticados e tratados, sejam eles casos agudos de baixa complexidade ou casos crônicos. Nesse sentido, entende-se que o atendimento às pequenas urgências é uma ação importante para que 7 atenção básica desempenhe de modo adequado suas funções evitando a procura das emergências de maneira desnecessária (Boerma, e Dubois; 2010). Várias iniciativas evidenciam a magnitude da atenção primária à saúde (APS), onde se destaca o papel da Estratégia de Saúde da Família (ESF) na melhoria do acesso e da qualidade à atenção primária. A atenção básica através da Estratégia de Saúde da Família visa diminuir a demanda de casos ambulatoriais no setor de emergência dos grandes hospitais (Santos et al.;2003). No entanto, apesar de todos os esforços e das diversas políticas públicas instituídas, os serviços direcionados para a atenção básica apresentaram dificuldades em atender a demanda que lhes competiam e a consequência foi a contínua procura pelos serviços de atendimento num nível de maior complexidade, como é o caso do setor de emergência dos grandes hospitais. A reduzida oferta de serviços eficientes para resolver os problemas simples da população continuou levando os pacientes a procurarem os hospitais que possuíam atendimento de emergência, na certeza de que iriam encontrar um médico e consequentemente o atendimento (Toscano, 2001). Soares, Lima & Castro (2014), admitem como hipótese que a atual reorganização da atenção básica por meio da Estratégia de Saúde da Família não resultou em mais facilidade na definição das responsabilidades deste nível de atenção, principalmente no que tange à especificidade da atenção às urgências. Carret et al. (2009) revisaram os estudos sobre utilização inadequada de serviços de emergência. Esses autores reforçam que os serviços de emergência só devem ser utilizados em circunstâncias específicas e que a utilização do termo “porta de entrada” se torna inadequada. Este fato é altamente prejudicial para os pacientes considerados graves assim como para os considerados não graves. O setor de emergência dos hospitais passa a ser percebido como uma porta de acesso rápido, mas sem a percepção do usuário que é uma “porta” completamente irregular e inespecífica para determinados tipos de atendimentos. Pacientes que poderiam ser atendidos na atenção primária não têm garantido, no hospital de emergência, o vínculo para acompanhamento e prosseguimento do tratamento. 8 Apesar de todo esse entendimento, a área de urgência e emergência foi uma das últimas a ser regulamentadas por portarias instituindo e determinando o seu funcionamento (Scarazatti, 2005). Em meados da década de 1990 foi publicada a Resolução 1451/95 do Conselho Federal de Medicina (CFM, 1995), determinando as normas mínimas para composição e funcionamento de serviços de pronto-socorro públicos e privados do país que define: ‘URGÊNCIA, ocorrência imprevista de agravo à saúde com ou sem risco potencial de vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata’, e EMERGÊNCIA, como ‘a constatação médica de condições de agravo à saúde que impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo, portanto, o tratamento médico imediato’ (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 1995). Mas esta resolução por si só não resolveria o problema. Havia a necessidade de estruturação da rede com serviços regionalizados e hierarquizados relacionados aos cuidados integrais às urgências. Garantir a adequada referência do atendimento, a partir de um processo regulatório, conforme o grau de complexidade do agravo, assegurando o acesso dos usuários às redes de atenção à saúde e permitindo assim uma real estruturação e priorização dos atendimentos na tentativa de evitar sobrecarga e superlotação nos serviços de urgência e emergência (Araújo, 2012). A finalidade do setor de urgência e emergência é acolher e diagnosticar o agravo de modo mais precoce possível a fim de iniciar o tratamento adequado com a celeridade que cada caso requer. Sendo assim, o Ministério da Saúde vem buscando alternativas para organizar o atendimento de modo que cada nível do serviço de saúde seja responsável pela execução das atividades de sua competência (Brasil, 2002). Magnago (2002) enfatizou a necessidade de reorganizar a rede de urgência e emergência com recursos tecnológicos e profissionais capacitados e especializados. Destacou que o ambiente de urgência e emergência deve ser considerado um ambiente em que os profissionais estão sujeitos a uma maior 9 carga de tensão e sofrimento psíquico, devido a própria dinâmica do serviço. Esta dinâmica envolve o funcionamento nas 24 horas do dia, a convivência no atendimento imediato e atenção voltada para diagnósticos precisos e atuação inter e multidisciplinar. Além disso, o profissional se depara com um cenário em que ocorre superlotação com pacientes internados em macas, improvisação de leitos de unidades de terapia intensiva (UTI) destinados ao tratamento de pacientes em estado crítico, falta de especialistas relacionados a áreas específicas e livre acesso de usuários, familiares e outros atores pertencentes à equipe de saúde (Almeida; Pires, 2007). Estes aspectos levantados merecem atenção durante o processo de organização do trabalho nos serviços de urgência e emergência, principalmente quando existe superlotação provocada por usuários que não demandam tratamento de urgência, mas que necessitam de internação e que ficam convivendo num mesmo ambiente porque falta infraestrutura para interná-los nas enfermarias ou transferi-los para outras unidades com perfil específico para o caso (Mendes, 2012). Ainda segundo Mendes (2012) as condições crônicas não são mais vistas da forma tradicional como doenças não transmissíveis, consideradas de forma isolada ou como se não guardassem nenhuma relação entre si. Até 2020, as condições crônicas, incluindo as lesões como as causadas por acidentes de trânsito que resultam em invalidez e os distúrbios mentais, serão responsáveis por 78% da carga global de doenças nos países em desenvolvimento. Incluem-se nestes casos as sequelas provocadas pelo TCE. Em resumo, o setor de emergência dos hospitais, de forma equivocada, constitui-se local de aglutinação de pacientes acometidos por diferentes problemas de saúde, sendo assistidos por diversos profissionais envolvidos por situações de altas demandas emocionais em que a dor e a morte são frequentes (Barboza; Soller, 2003). Deslandes (2002) afirma ser inegável a tensão e a insatisfação demonstradas pelos profissionais que atuam no setor de urgência e emergência durante sua atividade. O sentimento de impotência e a desmotivação por enfrentarem duras jornadas de trabalho tendo que atender a um número de pacientes maior que a capacidade física e estrutural da unidade provoca um descontentamento que culmina com desentendimentos entre as 10 equipes, absenteísmos e demissões piorando ainda mais o cenário dentro de um setor que literalmente salva vidas. No entanto, o trabalho assistencial não pode ser reduzido a um processo alienante, no qual o profissional se limita a cumprir horário, realizar prescrições ou outros tipos de cuidados conforme sua profissão. O trabalho deve ser humanizado compreendendo a subjetividade de cada sujeito, podendo ser fonte de prazer para uns e fonte de sofrimento e fadiga para outros (Almeida; Pires, 2007). Ao se entender a importância dos níveis hierárquicos de atenção à saúde para evitar o caos no setor de urgência e emergência e dar o tratamento efetivo aos pacientes que se incluem nestas especificações moldados pelo Conselho Federal de Medicina, se torna evidente a necessidade de uma concretização nas políticas para urgência e emergência. Os casos que demandam atendimento rápido e emergencial não podem competir com atendimentos de baixa e média complexidade que necessitam de internação e que acabam superlotando as emergências por falta de leitos ou por falta da integração entre os equipamentos de saúde perdendo a vocação distinta do papel das redes de atenção à saúde. O atendimento ao TCE deve ser realizado de forma emergencial o que muitas vezes pode ser a diferença entre salvar uma vida ou evitar sequelas permanentes. A questão é como lidar com este fato quando o somatório de tudo descrito acima ainda prevalece levando a sobrecarga da demanda e do trabalho no setor em questão. (Feitosa et al;2011) Buscando alternativas diante do cenário caótico, o Governo implementou várias normas sendo uma delas a criação de uma Rede de Urgência e Emergência, que contivessem aspectos relacionados à atenção básica e a identificação dos conteúdos relacionados ao atendimento das urgências nesse nível de atenção (Granja et al,2013). A Política Nacional de Atenção as Urgências (PNAU), estabelecida pela Portaria 1863/2003 (MS, 2003) voltada para a urgência e emergência, teve por iniciativa o fato principal da crescente demanda nas portas hospitalares provocando uma sobrecarga de atendimentos. Nesta demanda incluía-se a insuficiência apresentada pela rede básica, as doenças crônicas que 11 agudizavam e o aumento de acidentes e da violência urbana (Granja et al,2013). Ao ser instituída, a PNAU descreve a atenção básica como o nível de atenção primária e assimila à política o atendimento pré-hospitalar móvel, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - SAMU 192 (MS, 2003). O SAMU é um serviço de atendimento médico brasileiro, utilizado em casos de emergência. Foi idealizado na França, em 1986 como Service d'Aide Médicale d'Urgence que faz uso da mesma sigla "SAMU”. O SAMU surge com o intuito de estruturar e organizar a rede de urgência e emergência no país ficando num nível intermediário de atenção. É um serviço administrado pelas prefeituras por meio da Secretaria Municipal de Saúde, exceto no município do Rio de Janeiro onde é administrado pelo Corpo de Bombeiros, e tem parceria com o Ministério da Saúde. O SAMU atende a três objetivos: atendimento para casos clínicos, a regulação do sistema de vagas de urgência e emergência em hospitais secundários e terciários por uma central 24h e educação em urgência e emergência (Machado, Salvador & O’Dwyer; 2011). Em seguida apareceu um novo incremento da expansão da rede de urgência e emergência, também inserida como nível intermediário de atenção, que foi a proposta da criação de Unidades de Pronto Atendimento 24 Horas – UPA – 24H (MS, 2009). A UPA foi a proposta de um novo espaço de atenção à saúde, com um aspecto de regionalização, qualificação e da interiorização facilitando e ampliando o acesso aos serviço de saúde para o usuário (Brasil, 2011). Rocha (2005) referiu-se a UPA como um serviço que se tornou uma válvula de escape no atendimento à população. Onde mais uma vez um equipamento foi reconhecido como uma “porta de acesso” imediato para o cidadão que necessita de atendimento médico. Neste contexto a UPA vem atendendo uma demanda cada vez maior de pessoas à procura de atendimento de todo tipo. Assim, apesar do fluxo hierarquizado proposto na estruturação do modelo de atenção e, talvez, não muito clara para os usuários, essas unidades vêm atuando como importante porta para um atendimento imediato do sistema de saúde pública ao darem acesso aos pacientes que lá chegam por demanda espontânea e que, em sua maioria, procuram atendimentos de consultas simples, cuidados básicos e confundem com um 12 sistema que pode substituir o atendimento ambulatorial com prosseguimento especifico para cada caso. Por não ser este o perfil da UPA e haver uma compreensão equivocada por parte da população este fato acaba sobrecarregando o atendimentos nestas unidades. Em 2011, o Ministério da Saúde estabelece para o SUS a hierarquização dos serviços por meio do modelo das Redes de Atenção à Saúde (RAS) (Brasil, 2010). Segundo a portaria GM/MS 4279/2010, que fundamentou e normatizou essa estratégia, as redes de atenção à saúde são arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas que integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado (Brasil, 2010). Segundo O’Dwyer (2010), esta portaria propõe a ampliação das atribuições do SUS no atendimento das urgências, com responsabilização dos diversos profissionais e dos diferentes serviços permitindo um diagnóstico das dificuldades da rede e possibilitando correções. Na implementação da rede de atenção as urgências, podem ser identificadas três fases: a primeira, em que predomina a proposta de implantação de sistemas estaduais de referência hospitalar para o atendimento de Urgências e Emergências, onde surge a proposta do SAMU como serviço de atendimento pré-hospitalar; a segunda, centrada na implantação das Unidades de Pronto Atendimento - UPA 24H; e a terceira, onde se discutem as urgências inseridas numa rede de atenção sintonizadas na política geral de conformação de redes (Granja et al, 2013). Os documentos que compõem a PNAU possuem uma lógica entre si além do sequenciamento das propostas. Todos partem de uma consistente contextualização da atuação na área, destacando a baixa cobertura populacional e a insuficiente oferta de serviços de atendimento pré-hospitalar e a grande extensão territorial do país, com eventuais grandes distâncias para a rede hospitalar especializada e de alta complexidade, necessitando de serviços de complexidade intermediária (O’Dwyer,2010). Para Lima e Rivera (2010) embora a coordenação da PNAU possa se dar através de uma variedade de mecanismos, como programação de tarefas, padronização e estabelecimento de rotinas, estes não são suficientes em organizações onde prevalecem atividades que são reciprocamente 13 interdependentes, onde há elevado grau de incerteza e o tempo é escasso, como é o caso o caso da atenção às urgências. Mesmo com toda a regulamentação proposta e acatada, os serviços abertos 24 horas permaneceram sobrecarregados em suas funções, mantendo filas em sua porta apesar do investimento em ampliações físicas e em recursos humanos. A demanda é caracterizada por um crescimento contínuo de consultas médicas simples com pacientes que, na grande maioria, procuram ou são levados a esses serviços na tentativa de solucionar o problema na perspectiva individual do agravo (Rocha, 2005). Segundo O’Dwyer e Mattos, há consenso (presente inclusive na PNAU) sobre a legitimidade da atenção básica como responsável pelo paciente e que existe uma carência estrutural relacionado à rede de atenção às urgências (O’Dwyer e Mattos, 2012). Granja et al (2013) em seu trabalho sobre a análise da Política Nacional de Atenção as Urgência no SUS, versa sobre os serviços básicos. Estes ainda não foram organizados para fazer o primeiro acolhimento e a classificação de risco nas situações de demanda espontânea. Em geral, o atendimento nas unidades de saúde se dá apenas por meio de consultas agendadas e, na maioria das vezes, as instalações físicas são inadequadas e sem estrutura para observação de casos que necessitem de uma maior atenção; além disso, funciona apenas em horário regular, mantendo suas portas fechadas nos períodos noturnos e nos finais de semana, o que faz com que população demande as unidades de pronto atendimento e hospitais com urgência e emergência para ações de atenção que seriam passíveis de solução no serviço local. Refletem sobre o incentivo do Ministério da Saúde, em conjunto com as instâncias estaduais e municipais para organizar os serviços de atenção às urgências de forma integrada e o pioneirismo dessa área na estruturação das Redes de Atenção à Saúde, dado a sua complexidade. A fragmentação do sistema com mecanismos de regulação e monitoramento ainda insuficientes, a baixa resolutividade da atenção básica, o que dificulta e efetivação do seu papel como ordenadora da rede, e a dificuldade de organizar uma governança regional a partir de necessidades do território e da decisão conjunta e cooperativa entre os três entes federativos são os desafios encontrados à luz do modelo de atenção vigente e ao processo de Governança no SUS. 14 A elevada procura nos serviços de emergência causa sobrecarga neste setor. A limitação do espaço físico com a falta de leitos nas enfermarias e nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) não é incomum e acaba contribuindo mais ainda para a superlotação na emergência. Estudos comprovam que a superlotação no setor emergência de um hospital é constante e apontam como causas a baixa resolutividade da atenção básica e a precariedade da rede hospitalar. Além disso, as dificuldades de relacionamento, interno e externo, demonstram um isolamento da emergência em relação à rede e ao próprio hospital. Estes aspectos identificados pioram o cenário da superlotação e desestímulo das equipes que ali trabalham (O´Dwyer, Matos, 2010). Finalizando e considerando que este trabalho foi realizado baseado nos hospitais que estão sob a gestão da Secretaria Estadual de Saúde do Estado do Rio de Janeiro e que na sua maioria se localizam no município do Rio de Janeiro, vale citar O’Dwyer em artigo escrito em 2013 onde demonstra uma especificidade importante no município do Rio de Janeiro : a complexa rede hospitalar pública que se encontra dividida entre a gestão do Município, Estado, União, além de entidades filantrópicas e universidades, o que dificulta a integração da rede. No Brasil, o tema das redes de atenção à saúde é recente e não há experiências em escala, nem avaliações robustas (Granja et al, 2013). Estudos demonstram que, à semelhança do que ocorre em países desenvolvidos, esta ação pode ter impacto significativo nos níveis de saúde com custos suportáveis pelo SUS além de trazer importantes subsídios para a organização da gestão e do cuidado melhorando a eficiência e a efetividade ao atender os princípios constitucionais: universalidade, integralidade e equidade (Mendes, 1999). 15 3 ) Traumatismo Cranioencefálico O trauma é a principal causa de morte em pessoas entre adultos jovens. O TCE é o principal determinante de morbidade, incapacidade e mortalidade dentro deste grupo. O TCE grave está associado a uma taxa de mortalidade de 30% a 70%, e a recuperação dos sobreviventes é marcada por sequelas neurológicas de diversos níveis de gravidade e por uma qualidade de vida comprometida (Gaudencio, Leão; 2013). Entende-se por TCE qualquer lesão na cabeça decorrente de um trauma externo. A Brain Injury Association – define traumatismo cranioencefálico (TCE) como uma lesão na cabeça que reflita no cérebro provocado por uma força física externa (Projeto Diretrizes; 2013). Tal lesão pode produzir um estado normal inicialmente, alterado ou diminuído de consciência, causando deficiências dos desempenhos cognitivo, comportamental, emocional e físico. É normalmente provocado por uma carga dinâmica de impacto importante, fruto de uma agressão local ou proveniente de movimentos repentinos produzidos em outras regiões do corpo. Essa carga pode resultar em qualquer combinação de compressão, expansão, aceleração, desaceleração e rotação do cérebro dentro do crânio (Radomski; 2008). Pode ter como consequências, alterações anatômicas do crânio desde laceração do couro cabeludo, fraturas ósseas e comprometimento funcional das estruturas intracranianas como meninges, encéfalo ou vasos sanguíneos importantes, que podem resultar em morte ou alterações cerebrais momentâneas ou permanentes, de natureza cognitiva e/ou funcional (Menon et al., 2010). Faul et al.,em 2010, afirmaram que nos Estados Unidos estimava-se ocorrência anual de 1,7 milhão de casos de TCE, dos quais 52 mil resultariam em mortes, 275 mil em hospitalizações e 1.365.000 receberiam atendimento hospitalar de urgência e emergência, com posterior liberação. A incerteza que existe sobre o prognóstico do paciente após o traumatismo crânio-encefálico (TCE),paindapé Penvolto pelop aforismo hipocrático: "Nenhum ferimento na cabeça é tão grave que deva ser desanimador, nem tão trivial que possa ser ignorado”. Hoje, as estimativas do prognóstico médico são ainda muitas vezes indevidamente otimistas, 16 desnecessariamente pessimistas, ou inadequadamente ambígua (Hatashita et al.;1993). Os acidentes de veículos são as causas mais comuns de TCE especialmente em adolescentes e adultos jovens. As quedas são as responsáveis pelo segundo maior grupo de lesões e são mais comuns nas faixas pediátricas e geriátricas. Em alguns locais, as lesões por arma de fogo são responsáveis por mais traumatismos cranioencefálico do que os acidentes de automóveis (Oliveira, Ikuta;2008). Nas últimas décadas, a população que sobrevive ao TCE vem aumentando pela rapidez da assistência pós-trauma. No atendimento em vias publicas pelo SAMU, que incorporou o modelo francês permitindo o início precoce da terapêutica tem sido criticado na atenção ao trauma pelo retardo no transporte para o local definitivo de atendimento (Machado, Salvador & O’dwyer; 2011). A grande preocupação no atendimento ao TCE é justamente tentar minimizar as sequelas que o paciente poderá apresentar tanto pelos custos financeiros, sociais e emocionais causados por este evento traumático. Classificar a gravidade das sequelas que poderão se instalar é complicado até mesmo nas lesões cranianas consideradas relativamente pequenas (Niemeier et al.;2011). A faixa etária predominante das vítimas aumenta as perdas pessoais e sociais relacionadas à lesão craniana permanente (Ghajar, 2000). Não é possível dizer com certeza qual é o futuro relacionado às sequelas num paciente vítima de TCE. Existem pesquisas realizadas que apresentaram resultados mais otimistas sobre o prognóstico do paciente em termos de probabilidades baseadas em evidências clínicas com avanços na predição do prognóstico refletindo nos métodos usados para categorizar a severidade da lesão o mais precocemente possível (Kotwica, Bzerzinski, 1993). Os métodos utilizados nas pesquisas tornaram-se amplamente aceitos (Howard,1989) levando a estudos (Janjoom,1992) que procuraram identificar e agrupar as características do paciente, da lesão e do curso clínico como um norteador para o prognóstico final (Gennarelli et al.;1982). Na prática, ainda existem poucos recursos indicativos para prestar conta sobre informações precisas a respeito do prognóstico de cada paciente. Idade, índices clínicos que indicam a gravidade da lesão cerebral, resultados de 17 investigação proveniente dos exames de imagem modernos revelam que a natureza da lesão cerebral pode não ser igual para os casos semelhante e seus efeitos os mais diversos (Kobayashi, Nakazawa & Otsuka,1983). Os traumatismos cranioencefálicos penetrantes apresentam pior prognóstico do que aqueles sem lesão penetrante. Pacientes com lesão penetrante são mais propensos a apresentar maior gravidade pelo grau de impacto provocado ao atingir o cérebro. Na maioria das vezes indica um pior prognóstico e morte precoce. Pedestres, ciclistas e pessoas no interior de veículos são vítimas de lesões graves quando ejetados à distância com maior risco de lesão intracraniana (Colli et al.;1997). Por conta do mecanismo do TCE, a consequência pode ser lesões graves que necessitam de intervenção imediata a fim de evitar sequelas maiores. Lesões que provocam sangramento ou “inchaço cerebral” são aquelas onde a interferência imediata de um especialista pode ser o diferencial entre a vida e a morte ou sequelas menos graves (Guha, 2004). O processo patológico é iniciado no momento do trauma, mas as manifestações clínicas nem sempre são imediatas e podem ocorrer tardiamente. Por isso é necessário um grau de observação e monitorização diferenciado neste tipo de vítima (Helmy, Vizcaychipi & Gupta, 2007). Na literatura mundial o indicador clínico mais utilizado para se quantificar a gravidade do TCE é a Escala de Coma de Glasgow (ECG). Atualmente é o critério fundamental para uma avaliação inicial tanto em ambiente préhospitalar quanto hospitalar (Senkowiski, Mackenney, 1999). Desenvolvida por Teasdale e Jennett em 1974, na Universidade de Glasgow, foi criada para padronizar as observações clínicas de adultos com TCE em estado grave, com alterações da consciência. A escala tinha o objetivo de minimizar a variação entre observadores, permitindo estudos comparativos sobre diferentes condutas e estipular um guia para estimar o prognóstico do TCE. Em 1976, a escala foi revisada com a adição de um sexto valor na resposta motora (Kornbluth, Brezezzinski; 2011). A ECG proporciona uma abordagem padronizada e aceita universalmete para monitorar e avaliar os achados da avaliação neurológica. A aplicação da ECG é aparentemente simples e deve ser feita com base no exame do paciente sem uso de qualquer 18 medicamento prévio para sedação ou alívio da dor para não mascarar o resultado (Lima, Korkes & Freitas, 2011). A escala de coma de Glasgow varia de 3 a 15 pontos conforme demonstrado na tabela 1. Tabela1: Escala de Coma de Glagow Parâmetros Escore Melhor Resposta Verbal Nenhuma 1 Sons Incompreensíveis 2 Palavras Inadequadas 3 Confusa 4 Orientada 5 Abertura Ocular Nenhuma 1 Resposta à dor 2 Resposta à fala 3 Espontânea 4 Melhor Resposta Motora Nenhuma 1 Descerebração 2 Decorticação 3 Retirada 4 Localiza o estímulo doloroso 5 Obedece ao comando verbal 6 TOTAL Fonte: Teasdale, Jennet;1974 15 19 3.1) Classificação do Trauma Craniencefálico Segundo o Guidelines for the Management of Severe Traumatic Brain Injury, 2007, o TCE é classificado como leve de baixo risco, leve de médio risco, leve de alto risco, moderado e grave. O TCE classificado como leve de baixo risco é decorrente de mecanismos de trauma leves, e na avaliação da escala de coma de Glasgow tem pontuação entre 14 e 15 pontos. Podem ser totalmente assintomáticos com o exame físico normal e sem alterações neurológicas significativas. No trauma cranioencefálico leve e de médio risco os pacientes que, principalmente, apresentam equimoses orbito palpebral, lesão de couro cabeludo, intoxicação por álcool ou abuso de drogas, cefaléia progressiva, vômitos e náuseas, perda momentânea da consciência ou desorientação temporo-espacial são aqueles que apresentam riscos de desenvolver lesão cerebral mais grave. No trauma cranioencefálico leve de alto risco incluem-se principalmente as crianças vítimas de violência, as gestantes e os pacientes com distúrbios da coagulação. Pacientes estes que apresentam alto risco de lesão neurológica grave apesar de algumas vezes se apresentarem bem. O trauma cranioencefálico moderado representa cerca de 10% dos traumas cranianos atendidos nos serviços de emergência. O TCE moderado é definido como uma ECG entre 9 e 13. Ao exame estes pacientes frequentemente se apresentam confusos ou sonolentos, com nível de consciência rebaixado, podendo já apresentar déficits neurológicos focais. No trauma crânio encefálico grave se enquadram aqueles que apresentam maior risco de mortalidade e de morbidade após o evento traumático. O TCE grave é aquele em que os pacientes apresentam ECG entre 3 e 8. Nesses, a abordagem terapêutica deve ser imediata dando ênfase aos cuidados hemodinâmicos e suporte ventilatório adequados. Ainda segundo o Guidelines for the Management of Severe Traumatic Brain Injury (2007) pacientes com ECG de 3 são considerados pacientes em morte encefálica sendo potentes doadores de órgãos enquanto há sinais vitais e estabilidade hemodinâmica presentes. A lesão após o TCE tem comportamento dinâmico e suas consequências fisiológicas podem não ocorrer instantaneamente após o 20 trauma e sim muitas horas depois. Além disso, os pacientes vítimas de TCE podem apresentar sequelas graves fazendo com que se tornem pacientes sequelados crônicos, necessitando de cuidados prolongados e aumentando o custo para o Estado de uma maneira geral (Chesnut et al.;1993). 3.2) O traumatismo cranioencefálico e suas sequelas A determinação do prognóstico é dificultada em razão das características do processo de recuperação individual somada a variáveis que de forma isolada ou associada ocorrem durante atendimento do TCE (Céspedes et al.; 2001). Há alguns anos, estudiosos vem analisando os desfechos ligados ao paciente vítima do TCE grave. Incluem-se nesses estudos o tempo médio de permanência hospitalar, a reintegração social, o retorno ao trabalho e a qualidade de vida pós – trauma relacionado à lesão ocorrida no cérebro (Sluis, Eisma, Groothoff, 1999). As lesões ocasionadas pelo TCE podem levar a deficit físicos, como plegia, envolvendo todos os membros, alteração do tônus, ataxia, distúrbios sensoriais e controle postural deficiente. Também causam distúrbios da fala, deficit cognitivos que levam a alterações de atenção e concentração, dificuldades de aprendizagem e de reconhecimento de objetos, além de desordem na relação espacial. Essas lesões causam, também, deficit de comportamento, como labilidade emocional, agressividade, impulsividade, desorientação, agitação, irritabilidade, baixo limiar de frustração e desinibição sexual (Faria; 2007). Pacientes em estado vegetativos não são incomuns após o TCE. Esta lesão compromete a vida do paciente e pode acarretar sérios problemas sócios econômicos aos familiares envolvidos no seu cuidado. Além disto, pode levar a morte precoce por complicações clínicas comuns nestes casos (Huebner,2010). Em razão da sequela ou do processo de recuperação do TCE, a família da vítima pode sofrer mudanças sociais e ocupacionais radicais. Há necessidade de um acompanhamento do paciente por profissionais especializados que também tenham um olhar para o cuidador proporcionando-o um aprendizado em lidar com o paciente sequelado (Cespedes, 2001). 21 Considerando-se a alta morbidade física e suas consequências sociais devastadoras, o TCE é hoje um problema crítico enfrentado pelos sistemas de saúde e essa condição apresenta enorme impacto socioeconômico para sociedade (Taub et al.; 2007). Uma revisão baseada no Serviço de Reabilitação Neurológica Especializada no Reino Unido, no ano de 2005, analisou estudos randomizados controlados com modelos diferentes de reabilitação. Serviços especializados e de internação hospitalares especializados comprovaram que a reabilitação pode reduzir as necessidades de cuidados continuados no paciente crônico, com potencial economia de custos, que compensaria o investimento inicial na reabilitação. Este investimento inclui a reinternação desses pacientes por complicação clínica consequente da própria sequela (High et al, 2006). Muitos termos têm sido usados para classificar os diferentes estados de consciência após o evento do TCE (Lombardi et al.;2002). Atualmente são considerados quatro: • Coma – Não despertável e sem resposta neurocomportamental • Estado Vegetativo – Despertável e sem resposta neurocomportamental •Estado de Consciência Mínimo – Evidência de alteração severa da consciência, mas com demonstração de um estado de alerta mínimo para com o próprio ou o meio que o rodeia. • Consciente – Interação funcional e comunicacional consistente e reprodutível com sequelas que podem ser motoras leves ou graves. Indiretamente, o sistema tende a excluir esta população quando não leva em consideração suas necessidades, excluindo-a elo estigma e a discriminação. As atitudes e os comportamentos negativos geram consequências que só pioram o quadro de acordo com a sequela levando a baixa autoestima e menor participação social (WHO, 2011). 22 4) METODOLODIA Trata-se de uma pesquisa exploratória com abordagem quantitativa e qualitativa dos atendimentos relacionados ao traumatismo cranioencefálico nos hospitais com emergência não referenciada que pertencem à gestão da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro a fim de explicitar e entender melhor a questão do atendimento inicial a este tipo de trauma. A pesquisa exploratória, em geral, “provoca o esclarecimento de uma situação para a tomada de consciência” (Chizotti, 1994). Nesse sentido, foi realizada, pesquisa bibliográfica, de um estudo sistematizado desenvolvido com base em artigos científicos, dissertações e textos que tratam das Políticas para Urgência e Emergência, a fim de se conhecer mais sobre o TCE e obter embasamento teórico sobre o tema. A pesquisa foi realizada por meio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) nas bases LILACS (Literatura LatinoAmericana), do SciELO (Scientific Eletronic Library Online), PUBMED, do portal da CAPES, do Google Acadêmico, dentre outros. Também foram consultados e utilizados dados do DATASUS pesquisando diagnósticos do CID 10 relacionados por trauma de cabeça. Pesquisou-se informações relacionadas a morbidade e mortalidade nos hospitais de emergência da SES/RJ utilizando-se a Base de Dados do Sistema informatizado Klinikos®. A coleta dos dados ocorreu no período de janeiro de 2012 a dezembro de 2014. Os critérios de inclusão dos artigos selecionados para a presente pesquisa foram: 1-Artigos que retratavam o assunto em questão; 2- Artigos publicados em revistas indexadas na base de dados LILACS; 3-Artigos que abordaram palavras-chave:traumatismo de cabeça traumatismo cranioencefálico, traumatismo intracraniano, lesão cerebral, emergência,urgência, trauma e superlotação; 4- Artigos publicados no idioma português, espanhol e inglês. Os hospitais incluídos neste estudo foram: Hospital Estadual Rocha Faria (HERF) localizado no município do Rio de Janeiro, no bairro de Campo Grande; Hospital Estadual Albert Schweitzer (HEAS) localizado no município do Rio de Janeiro, no bairro de Realengo; 23 Hospital Estadual Carlos Chagas (HECC) localizado no município do Rio de Janeiro, no bairro de Marechal Hermes; Hospital Estadual Getúlio Vargas (HEGV) localizado no município do Rio de Janeiro, no bairro da Penha; Hospital Estadual Adão Pereira Nunes (HEAPN) localizado no município de Duque de Caxias, no bairro de Saracuruna; Hospital Estadual Azevedo Lima (HEAL) localizado no município de Niterói, no bairro Fonseca; Hospital Estadual Aberto Torres (HEAT) localizado no município de São Gonçalo, no bairro Colubandê. A figura 1 mostra o mapa com a distribuição dos hospitais. Das sete unidades quatro estão localizadas no município do Rio de Janeiro, no eixo da Avenida Brasil, principal via rodoviária do município do Rio de Janeiro. H.E. Adão Pereira Nunes Saracuruna H.E. Alberto Torres Coubandê H.E. Albert Schwaitzer Realendo H.E. Rocha Faria Campo Grande H.E. Getúlio Vargas Penha H.E. Carlos Chagas H.E. Azevedo Lima Marechal Hermes Fonseca Figura 1. Mapa do Estado do Rio de Janeiro com a localização dos hospitais do respectivo estudo sob a gestão da SES. 24 Os dados obtidos neste estudo foram totalizados e processados em gráficos e tabelas para permitir melhor análise interpretativa. O levantamento pertinente ao número de internações relacionado ao Código Internacional de Doenças- CID 10 dos pacientes diagnosticados com TCE foi pesquisado através da base de dados do sistema informatizado Klinikos® implantado nas Unidades envolvidas. Foram identificados dois grupos relacionados ao TCE: S06 - traumatismo intracraniano e S07 esmagamento de cabeça. O código S07 está diretamente relacionado ao óbito no momento da entrada do paciente ou já admitido como cadáver, excluído assim da pesquisa. A população estudada foi definida considerando os seguintes parâmetros: 1. Pacientes atendidos nos Hospitais relacionados acima 2. Faixa etária 3. Qualquer diagnóstico relacionado à traumatismo intracraniano identificado pelo CID 10 quando da admissão hospitalar. Na tabela 2 é apresentada a relação do CID 10 e seus respectivos diagnósticos relacionados ao traumatismo intracraniano encontrados nas unidades estudadas. Tabela 2. CID 10 relacionado ao TCE nos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. 2012 a 2014. CID-10 Diagnóstico S06.1 S06.2 Concussão cerebral Edema cerebral traumático Trauma cerebral difuso S06.3 S06.4 Trauma cerebral focal Hemorragia epidural S06.5 Hemorragia subdural devido ao trauma S06.6 Hemorragia subaracnoide devido ao trauma S06.7 Traumatismo intracraniano c/coma prolongado S06.8 Outros traumatismos intracranianos S06.9 Traumatismo intracraniano não especificado S06.0 Fonte: CID 10 25 Além estas informações, as análises empreendidas partiram da experiência da própria autora como gestora no cargo de superintendente de unidades próprias da SES-RJ1. 1 O cargo de superintendente de Unidades Próprias exigia visitas frequentes as unidades citadas neste trabalho assim como todas aquelas sob a gerencia desta superintendência, totalizando 30 Unidades de Pronto Atendimento,10 hospitais e 3 institutos especializados. 26 5) RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1) Caracterização Geral dos Hospitais Envolvidos As Unidades relacionadas no estudo foram informadas no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde - CNES, como Hospital Geral ou seja Hospital de referência para, no mínimo, uma região de saúde conforme Plano Diretor Regional (PDR), com cobertura populacional de até 200 mil habitantes e realizar ações de média complexidade. Porém os hospitais Getúlio Vargas, Adão Pereira Nunes, Azevedo Lima e Alberto Torres teriam condições de se habilitarem como hospitais especializados do Tipo II2 pois atendem uma população adstrita maior que 500.000 habitantes (Censo IBGE, 2010) e são referência para neurocirurgia e ortopedia necessitando serem habilitados nestas especialidades. Do mesmo modo, o hospital Rocha Faria e o Albert Schweitzer poderiam estar cadastrados como hospitais especializados tipo I3 uma vez que estão inseridos em áreas com mais de 200.000 habitantes (Censo IBGE, 2010) ao se habilitarem para alta complexidade em traumato-ortopedia. O principal impacto deste fato é o menor repasse financeiro pelo Ministério da Saúde segundo a Portaria 2395 de 11/10/2011 (Brasil, 2011). Com exceção do Hospital Estadual Rocha Faria e Carlos Chagas, todos se encontram sob a gestão integral de Organizações Sociais de Saúde – OSS. Apesar do termo gestão total, todas as OSS seguem as diretrizes definidas pela SES conforme os editais de seleção publicizado na página da Secretaria de Estado de Saúde para cada unidade (www.saude.rj.gov.br). O hospital Alberto Torres foi o primeiro a ser gerido integralmente por uma OSS a partir de dezembro de 2012. 2 Hospitais especializados do tipo II são hospitais de referencia que atende no mínimo a uma macrorregião e ser referencia para uma cobertura populacional a partir de 501 mil habitantes.Deve possuir no mínimo dois serviços de referencia habilitado em alta complexidade para desempenhar seu papel com neurocirurgia, traumato-ortopedia, cardiologia /cardiovascular e/ou como referência para pediatria. 3 Hospitais especializados do tipo I são hospitais de referencia para uma ou mais regiões de saúde com uma cobertura populacional de 200 a 500 mil habitantes.Deve possuir no mínimo um serviço de referencia habilitado em alta complexidade para desempenhar seu papel com neurocirurgia, traumatoortopedia, cardiologia /cardiovascular e/ou como referência para pediatria. 27 Dos sete hospitais mencionados, quatro estão localizados no município do Rio de Janeiro. Apenas um destes quatro, o hospital Getúlio Vargas, possui serviço de neurocirurgia. As outras unidades que se localizam fora município do Rio de Janeiro, Adão Pereira Nunes, Azevedo Lima e Alberto Torres, todos possuem serviço de neurocirurgia. Cabe ressaltar que mesmo não possuindo a especialidade, os hospitais Rocha Faria, Albert Schweitzer e Carlos Chagas também recebem pacientes vítimas de TCE trazidas por ambulâncias ou outros meios de transporte. Todas as unidades, com certo grau de variabilidade, são hospitais que possuem uma arquitetura hospitalar antiga. Existem unidades onde há impedimento estrutural relacionado à área física que permita a ampliação seja para aumentar o número de leitos ou para otimizar os fluxos de chegada dos pacientes na emergência. O mais emblemático com este tipo de problema é o hospital Rocha Faria por ser um prédio tombado pelo patrimônio da cidade. Os hospitais Alberto Torres e Adão Pereira Nunes contam em sua estrutura com um Centro de Trauma que tem por função priorizar os atendimentos relacionados ao trauma estando inseridos no contexto da Rede de Atenção as Urgências e Emergências com uma portaria específica que estabeleceu a organização do Centro de Trauma (Brasil, 2013). Ambos os hospitais se localizam fora do município do Rio de Janeiro e possuem heliponto facilitando a chegada de pacientes graves de qualquer ponto do Estado quando necessário. O Centro de Trauma no hospital Alberto Torres foi inaugurado em junho de 2013 tendo sido o primeiro Centro de Trauma do Estado do Rio de Janeiro. Conta com uma estrutura à parte e independente do hospital. Possui sala de estabilização com cinco leitos, centro de imagem com um tomógrafo exclusivo, salas de cirurgia e leitos para recuperação pós-anestésica. É uma unidade referenciada para o atendimento ao trauma com protocolos predefinidos para a entrada do paciente por esta porta. Pacientes da demanda espontânea não possuem acesso diretamente ao centro de trauma e sim ao setor de emergência do hospital. Algumas especialidades médicas como cirurgia geral, ortopedia e anestesiologia ficam dedicadas ao centro de trauma, outras não. O centro de trauma do hospital Adão Pereira Nunes diferentemente do HE Alberto Torres está inserido no setor de emergência da Unidade e foi 28 iniciado em dezembro de 2014. Qualquer paciente vítima de trauma entra por esta porta de entrada para ser atendido pela equipe. O centro de imagem e centro cirúrgico são comuns a todo hospital. Não há equipe médica exclusiva para o centro de trauma. Os profissionais são acionados quando há necessidade. Entendendo que o TCE é um tipo de trauma e segundo a Portaria Nº 1.365 /2013 que aprova e institui a linha de cuidado ao trauma às urgência e emergências fica bem claro que o cuidado não se finaliza com a alta hospitalar pois muitas vezes é necessário um acompanhamento prolongado relacionado a reabilitação cuja vocação não é o hospital de urgência e emergência. O paciente vítima de TCE é atendido no setor emergência e na maioria das vezes necessita de uma vigilância contínua preferencialmente em leitos de terapia intensiva,para então ser transferido para um leito de enfermaria. Na tabela 3 foram relacionadas as unidades com o número de leitos existentes por setor contabilizados de acordo com o número de postos de serviço correspondendo às saídas de oxigênio que suprem cada leito. 29 Tabela 3: Distribuição de leitos nos hospitais de urgência e emergência sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. 2014 Albert Schweitzer Adão Pereira Nunes Rocha Faria Getúlio Vargas Alberto Torres Azevedo Lima Carlos Chagas Sala verde Masculina 14 13 14 16 12 10 11 Sala verde Feminina 13 13 14 16 12 10 9 Sala Amarela 0 2 10 0 7 10 14 Sala vermelha 9 4 3 0 8 5 5 Emergência Pediátrica 8 12 9 13 3 5 5 Centro de Trauma 0 8 0 0 5 0 0 Total 44 52 50 45 47 40 44 Adulto 68 17 16 37 64 30 10 Unidade Intermediária Adulto 9 0 0 0 0 0 0 Unidade Pós Operatório 0 8 0 10 0 5 6 CTI Pediátrico 9 11 0 0 11 0 8 Total 86 36 16 47 75 35 24 319 Clínicas e Cirúrgicas 272 238 254 220 93 144 113 1334 Total de leitos 402 326 320 312 247 219 181 2007 Total Setor de Emergência 322 Unidade de Terapia Intensiva Enfermarias Fonte: Sistema Klinikos®. Ao analisar a tabela acima convém esclarecer que, segundo a cartilha do Programa Nacional de Humanização (PNH), os leitos das salas verdes pertencem a uma área destinada a pacientes não críticos em observação ou aqueles internados aguardando vaga nas enfermarias ou remoção para outras unidades. Leitos da sala amarela se destinam à assistência de pacientes 30 críticos e semicríticos já com terapêutica de estabilização. Os leitos da sala vermelha são destinadas ao recebimento, avaliação e estabilização das urgências e emergências clínicas e traumáticas. O hospital Albert Schweitzer é o que possui o maior número de leitos, inclusive de terapia intensiva adulto e o hospital Carlos Chagas a menor unidade em termos de quantidade de leitos. O hospital Alberto Torres vem em segundo lugar em relação ao número de leitos de tratamento intensivo. O hospital Rocha Faria, Getúlio Vargas e Azevedo Lima, apesar de possuírem emergência pediátrica não possuem UTI pediátrica. As crianças graves são reguladas e transferidas. Na prática diária, as salas se encontram superlotadas com pacientes de todo o tipo de gravidade. A sala do eixo amarelo se tornou uma área improvisada semelhante a uma UTI porem sem a qualidade organizacional e a normatização imposta para aquele setor. Comprovando a superlotação, a tabela 4 mostra a média mensal de leitos extras no período de 2012 a 2014 no setor emergência de cada unidade. Tabela 4: Leitos extras no setor de emergência dos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. 2012 a 2014. Capacidade instalada Média mensal de pacientes Média mensal de leitos extras % Mensal de leitos extras Getúlio Vargas 45 92 47 104,4 Carlos Chagas 44 81 37 84,1 Adão Pereira Nunes 52 88 36 69,2 Rocha Faria 50 82 32 64,0 Azevedo Lima 40 61 21 52,5 Albert Schweitzer 44 66 22 50,0 Alberto Torres 47 60 10 27,6 Unidade Fonte: Serviço de Internação e Alta Hospitalar – SIAH 31 O hospital Getúlio Vargas foi o que apresentou a maior taxa de superlotação. Foi o único a apresentar taxa superior a 100%. Vale ressaltar que o problema da escassez de recursos humanos seja médico ou de enfermagem impacta na assistência aumentando o tempo de permanência além do índice de giro do leito. Todas as unidades, sem exceção, sofreram este problema no período estudado. O hospital Alberto Torres mostra a menor taxa relacionada a superlotação da emergência. Com exceção dos hospitais Rocha Faria e Carlos Chagas, os demais tiveram inicio de gestão total por OSS a partir do segundo semestre de 2014. O principal motivo da dificuldade de contratação durante a administração direta era o problema relacionado aos vínculos precários e o baixo valor salarial. As OSS possuem maior flexibilidade para propor salários de mercado tanto por vínculo CLT quanto por contratação de pessoa jurídica. O paciente vítima de TCE, atualmente, é levado para o hospital mais próximo. Apesar do conceito de tempo ótimo para transporte da vítima de TCE, denominado como golden hour ser utilizado para ensino e suportado por alguns estudos, o seu significado no prognóstico do doente, é incerto. A principal ação assistencial é dar a vítima o suporte básico ou avançado de vida de acordo com a gravidade do caso. No hospital, a avaliação mais minuciosa do paciente e os exames complementares de imagem indicarão se a atuação do neurocirurgião deve ser necessária imediatamente ou não. Contudo, a existência deste profissional para uma avaliação precoce da vítima permite afirmar que há um melhor prognóstico do caso quando comparada com a admissão do traumatismo cranioencefálico em unidades onde não há este especialista para dar o devido suporte (Oliveira et al.;2012). Quando não há neurocirurgião o paciente deve ser transferido o mais rápido possível para uma unidade que possua este profissional de plantão principalmente quando diagnosticado uma lesão intracraniana. O objetivo é minimizar os possíveis danos neurológicos, sequelas irreversíveis e o risco de morte que aumenta linearmente com a demora do procedimento cirúrgico quando necessário (Mushkudian, 2009). Nem todos os hospitais possuem serviço de neurocirurgia apesar de receber estas vítimas como visualizado na tabela 5. 32 Tabela 5: Hospitais com serviço de neurocirurgia nas emergências hospitalares sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil.2012-2014. Unidade Hospitalar Serviço de Neurocirurgia H.E. Rocha Faria Não H.E. Albert Schwaiter Não H.E. Carlos Chagas Não H.E. Getúlio Vargas Sim H.E. Azevedo Lima H.E. Alberto Torres Sim H.E. Adão Pereira Nunes Sim Sim Fonte: http://cnes.datasus.gov.br Mesmo após a entrada das OSS a dificuldade de contratação de alguns especialistas se manteve. O neurocirurgião e o anestesiologista foram exemplos clássicos no momento da migração da gestão. Numa mesma unidade havia plantões com e outros sem os especialistas. 5.2) Perfil de Morbimortalidade traumatismo cranioencefálico relacionado ao atendimento do O traumatismo cranioencefálico (TCE), de uma forma geral, tem grande impacto na saúde da população em geral, representando aproximadamente 15% a 20% das mortes em pessoas com idade entre 5 e 35 anos e sendo responsável por 1% de todas as mortes em adultos (Gentile et al. 2010). As lesões provocadas pelo TCE ocorrem em aproximadamente 200 por 100.000 pessoas por ano nos Estados Unidos. Calcula-se em 6,2 milhões de europeus com pelo menos uma sequela decorrente do TCE sendo a taxa de letalidade, descrita na literatura no ambito mundial, em torno de 35% (Truelle et al., 2010). . A tabela 6 mostra o número de atendimentos de urgência e emergência realizados nas unidades deste estudo, excluindo o atendimento pediátrico e obstétrico. 33 Tabela 6: Atendimento no setor de emergência dos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil.2012-2014. Unidade N % Hospital Estadual Rocha Faria 537.253 25,8 Hospital Estadual Getúlio Vargas 479.479 23,0 Hospital Estadual Alberto Torres 257.468 12,4 Hospital Estadual Adão Pereira Nunes 249.458 12,0 Hospital Estadual Albert Schweitzer 248.533 11,9 Hospital Estadual Azevedo Lima 176.135 8,5 Hospital Estadual Carlos Chagas 133.355 6,4 2.081.681 100,0 TOTAL Fonte: Sistema Klinikos® O hospital Rocha Faria aparece com o maior número de atendimentos. Vale ressaltar que em outubro de 2010 o hospital Pedro II, localizado no bairro de Santa Cruz no município do Rio de Janeiro, pertencente, à época, a SESRJ, sofreu um incêndio em suas dependências obrigando seu fechamento. Em seguida foi repassada para a gestão municipal sendo reinaugurado em junho de 2012. Neste ínterim o hospital Rocha Faria foi o único hospital existente na região para receber a demanda proveniente dos bairros de Santa Cruz e Campo Grande. O hospital Getúlio Vargas, segundo lugar no número de atendimentos, se localiza numa área de fácil acesso no bairro da Penha. A Avenida Brasil facilita a chegada dos moradores da baixada fluminense a esta unidade. O hospital Alberto Torres atende a uma área onde é referência para o trauma dos municípios da região metropolitana II. Por possuir heliporto facilita a chegada dos pacientes graves provenientes da baixada litorânea, o que faz com que ele também seja referencia desta área para o trauma. O hospital Adão Pereira Nunes responde pelo atendimento da Baixada Fluminense e dos municípios adjacentes à região serrana. Também possui heliporto. O hospital Albert Schweitzer é o que se localiza mais próximo a Avenida Brasil além de 34 estar bem próximo às comunidades violentas não pacificadas. Apesar dos hospitais Azevedo Lima e Carlos Chagas se localizarem próximos às comunidades violentas, ambos responderam por um número menor de atendimentos. O hospital Carlos Chagas oferece em sua emergência apenas o serviço e clínica médica e cirurgia geral. Não há ortopedia nem neurocirurgia. Este fato pode ser um dos fatores que justificam um menor número de atendimentos. Em relação ao hospital Azevedo Lima houve, no ano de 2013, uma redução importante no quantitativo de recursos humanos. Foi a unidade que mais apresentou dificuldades diante do problema de contratação de profissionais pela administração direta que contava com vínculos precários como cooperativa e salários abaixo do mercado. Equipes desfalcadas por médicos e enfermagem eram um cenário cotidiano naquele ano. Isto inviabilizava o funcionamento pleno do hospital não sendo raro o desvio de ambulâncias do SAMU e do GSE para o hospital Alberto Torres além da própria população procurar outro local para atendimento.Isto gerou, naquele ano, várias matérias negativas nas mídias atuais. Para o levantamento do número de atendimentos específicos ligados ao TCE, foi realizada uma pesquisa através do sistema Klinikos® buscando os códigos relacionados ao trauma intracraniano (CID10), especificados anteriormente na metodologia. Do número total de atendimentos foi filtrado o número total de atendimentos de traumatismo cranioencefálico de acordo com o CID 10, que ocorreram no período de 2012 a 2014 e seu percentual. A tabela 7 demonstra estes valores. 35 Tabela 7: Atendimentos de TCE no setor de emergência dos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. 2012-2014 Diagnóstico N % Traumatismo intracraniano não especificado 3.981 17,1 Outros traumatismos intracranianos 3.194 13,7 Edema cerebral traumático 2.835 12,2 Trauma cerebral difuso 2.676 11,5 Concussão cerebral 2.386 10,3 Hemorragia epidural 2.056 8,8 Trauma cerebral focal 1.904 8,2 Hemorragia subaracnoide devido ao trauma 1.611 6,9 Traumatismo intracraniano c/coma prolongado 1.341 5,8 23.234 100 TOTAL Fonte: Sistema Klinikos® Os traumatismos não especificados e outros traumatismos lideram a listagem com o maior número de atendimentos. Sob o ponto de vista epidemiológico são diagnósticos inespecíficos que impedem a interpretação da magnitude e gravidade do caso. Apurar o número total de TCE é muito difícil por causa do subdiagnóstico (Oliveira et al;2012). As vítimas chegam ao setor emergência com lesões mais aparentes e por isto diagnosticadas pelo CID da lesão mais evidente. Muitas vítimas de TCE chegam lúcidas e com outros agravos mais evidentes. No boletim de atendimento médico (BAM) é computado o CID da lesão que é mais evidente e aparenta ter a maior gravidade. Apesar chegar lúcido ao setor de emergência, o paciente pode evoluir com alterações secundárias decorrentes do TCE e ter uma evolução desfavorável pela deterioração do quadro neurológico passando este despercebido num cenário caótico corroborado na discussão anterior sobre superlotação nas emergências feita por O’Dwyer (2009) e Bittencourt (2009). A partir do levantamento do número total de atendimentos relacionados ao traumatismo cranioencefálico, identificou-se o número de atendimentos relacionados ao TCE em cada unidade estudada. 36 Tabela 8: Atendimentos relacionados ao TCE no setor emergência dos hospitais sob gestão da SES . Rio de Janeiro. Brasil. 2012-2014 Unidade Hospitalar N % Hospital Estadual Alberto Torres 4489 19,3 Hospital Estadual Adão Pereira Nunes 4295 18,5 Hospital Estadual Getúlio Vargas 3879 16,7 Hospital Estadual Rocha Faria 3800 16,4 Hospital Estadual Albert Schweitzer 3290 14,2 Hospital Estadual Azevedo Lima 2065 8,9 Hospital Estadual Carlos Chagas 1416 6,1 23.234 100 TOTAL Fonte: Sistema Klinikos®. A tabela anterior mostra que o hospital Alberto Torres foi o que mais atendeu casos relacionados ao TCE. Comparativamente hospitais sem serviço de neurocirurgia também atenderam um número importante de casos, principalmente os hospitais Rocha Faria e Albert Schweitzer. A tabela 9 relaciona o total de atendimentos realizados no setor de emergência com o número de atendimentos relacionados ao TCE em cada uma das sete Unidades analisadas. 37 Tabela 9: Atendimento total e o atendimento relacionado ao TCE no setor emergência por hospital sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil.2012-2014 Atendimentos Totais Atendimentos de TCE % de atendimentos de TCE Hospital Estadual Alberto Torres 257.468 4489 1,7 Hospital Estadual Adão Pereira Nunes 249.458 4295 1,7 Hospital Estadual Albert Schweitzer 248.533 3290 1,3 Hospital Estadual Azevedo Lima 176.135 2065 1,2 Hospital Estadual Carlos Chagas 133.355 1416 1,1 Hospital Estadual Getúlio Vargas 479.479 3879 0,8 Hospital Estadual Rocha Faria 537.253 3800 0,7 2.081.681 23.234 1,12 Unidade Hospitalar Total Fonte: Sistema Klinikos® Como análise do resultado temos que 1,12% do total dos atendimentos de 2012 a 2014 nas sete Unidades estudadas tiveram seus diagnósticos relacionados ao TCE. Os hospitais Alberto Torres e Adão Pereira Nunes apresentaram a maior proporção de atendimentos relacionados ao TCE. Nestes dados estatísticos, não foi computada a remoção de um paciente de um hospital para outro, apenas a demanda espontânea, ambulâncias ou viaturas policiais. De posse dos dados da tabela 9, configurou-se na tabela 10, uma análise dos atendimentos específicos de TCE por hospitais que possuem ou não serviço de neurocirurgia. Foi computada apenas a chegada dos pacientes pela demanda espontânea, ambulâncias ou viaturas policiais. Não foi computada a transferência inter-hospitalar de um paciente com TCE de um hospital sem neurocirurgião para um hospital com neurocirurgião. 38 Tabela 10: Atendimentos de TCE no setor emergência com e sem serviço de neurocirurgia nos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. 2012-2014 Atendimentos de TCE N % Hospital Com Serviço de Neurocirurgia Hospital Estadual Alberto Torres 4489 19,3 Hospital Estadual Adão Pereira Nunes 4295 18,5 Hospital Estadual Azevedo Lima 2065 8,9 Hospital Estadual Getúlio Vargas 3879 16,7 Hospital Estadual Rocha Faria 3800 16,4 Hospital Estadual Albert Schweitzer 3590 14,2 Hospital Estadual Carlos Chagas 1416 6,0 TOTAL DE ATENDIMENTOS 23234 100 Hospital Sem Serviço de Neurocirurgia Fonte: Sistema Klinikos®. Pelos dados obtidos, a interpretação é que houve direcionamento maior dos casos de TCE para unidades com serviço de neurocirurgia. Comparando os hospitais que ficam no município do Rio de Janeiro e sendo o hospital Getúlio Vargas o único que possui serviço de neurocirurgia fica nítido que no município do Rio de janeiro não há uma tendência em levar o paciente vítima de TCE diretamente para a unidade com neurocirurgia.Este fato pode ser justificado pela questão das ambulâncias do Corpo de Bombeiros serem tripuladas por técnicos de enfermagem e enfermeiros os quais não possuem autonomia para se dirigirem a um hospital mais distante porém com neurocirurgia. Em relação aos outros hospitais não há como comparar, pois são hospitais com localização em municípios distintos. O hospital Azevedo Lima como dito anteriormente, durante o período analisado, foi o que mais sofreu com a falta de recursos humanos e muitas vezes esta autora, então superintendente de Unidades Próprias, solicitava a pedido da direção o desvio 39 de ambulâncias para outra unidade, geralmente o Alberto Torres. Vale aqui ressaltar que a falta de determinadas especialidades, como por exemplo, a anestesiologia, comprometia severamente o cenário quando havia indicação de tratamento cirúrgico do paciente com TCE. Ao entrar numa unidade hospitalar, o paciente vítima de TCE, mesmo sem lesão intracraniana diagnosticada com o auxílio da tomografia computadorizada, deve permanecer no hospital em observação para acompanhamento da evolução do caso. Quando há necessidade de avaliação neurocirúrgica e não há o especialista de plantão, a transferência para uma unidade com serviço de neurocirurgia deve ser realizada o mais rápido possível. A solicitação era feita ao CBMERJ sendo que a mesma viatura responsável pelo atendimento em via pública e pelo atendimento domiciliar (SAMU) era a que também fazia esse tipo de transporte . Cabe ressaltar que o Rio de Janeiro é o único município que, até o presente momento, tem incorporado o SAMU a um órgão do Estado. Esta autora, pertencente ao quadro de oficiais médicos do CBMERJ, do Grupo de Socorro e Emergência (GSE), vivenciou inúmeras vezes este tipo de problema além da sobrecarga de trabalho durante o plantão. Pela alta demanda, as remoções demoravam acontecer. A partir do dia 1º de outubro de 2013, foi instituído pela SES - RJ o serviço de transporte inter- hospitalar - Central de TIH, proporcionando maior agilidade não só na transferência dos pacientes vítimas de TCE mas de qualquer paciente que necessitasse de transferência de uma unidade para outra. Por esta razão foi feito o levantamento dos casos de TCE transferidos dos hospitais estudados que não possuíam serviço de neurocirurgia para os que o possuíam no ano de 2014. Todas as solicitações reguladas eram realizadas. Priorizavam-se os quadros mais graves para ordenar as remoções. Após a estabilização clínica do paciente, a solicitação para avaliação do paciente era feita através dos núcleos de regulação interna dos hospitais ou por contato interpessoal, não havendo um fluxo formal relacionado a transferência do TCE. As unidades acionadas não eram apenas unidades pertencentes a SES mas também do município (Hospital Municipal Pedro II, Hospital Municipal Salgado Filho, Hospital Municipal Miguel Couto e Hospital Municipal Souza Aguiar) e federais (Hospital Geral de Bonsucesso e Hospital 40 do Andaraí). Após a autorização da avaliação pela unidade de destino, o serviço de TIH era acionado e o evento regulado. As ambulâncias utilizadas para este tipo de remoção eram consideradas avançadas por ser sua tripulação composta, além do motorista, um médico e um enfermeiro. A tabela 11 mostra que 91,6% dos traumatismos cranioencefálicos atendidos em unidades sem serviço de neurocirurgia foram removidos. Não removidos foram 8,4 % dos atendimentos. Como no ano de 2014 todas as solicitações eram realizadas supõe-se que os pacientes que não foram removidos tiveram como hipótese alta ou óbito. Tabela 11: Remoções inter-hospitalares nos hospitais sem serviço de neurocirurgia sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. 2014. Atendimentos Remoções realizadas Hospital Estadual Rocha Faria 1950 1830 Hospital Estadual Albert Schweitzer 1945 1750 Hospital Estadual Carlos Chagas 326 289 TOTAL 4221 3869 % 100 91,6 Unidade Fonte: Central de TIH.SES-RJ 41 A fig. 2 permite uma melhor visualização dos dados obtidos na tabela Nº de atendimentos acima. Sem remoção Sem remoção Unidades Hospitalares Figura 2. Atendimentos relacionados ao TCE, remoções realizadas e solicitações não realizadas à Central de TIH nos hospitais sem serviço de neurocirurgia sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil Fonte: Central TIH. SES-RJ. 2015 Como já eram observado na prática clínica, muitos pacientes após a avaliação neurocirúrgica retornavam às unidades de origem. Alguns de alta médica pela neurocirurgia e outros apesar de apresentarem algum tipo de lesão intracraniana, a mesma não possuía indicação cirúrgica naquele momento o que não excluía a necessidade do acompanhamento neurocirúrgico. O questionamento era por que este paciente não permaneceu no hospital com neurocirurgião já que ele necessitaria de um novo parecer e acompanhamento ? A superlotação do setor emergência e a falta de vagas em unidade de terapia intensiva era uma das justificativas mais comuns para o retorno do paciente. Os dados relacionados ao retorno do paciente à unidade de origem estão computados na tabela 12. 42 Tabela 12: Retorno dos pacientes à unidade de origem após avaliação pela neurocirurgia nos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. 2014 Hospital sem Neurocirurgia Remoções Retorno a unidade realizadas de origem % Hospital Estadual Rocha Faria 1830 198 10,8 Hospital Estadual Albert Schweitzer 1750 259 14,8 Hospital Estadual Carlos Chagas 890 65 7,3 4470 522 11,68 TOTAL Fonte: Central de TIH. SES-RJ Ao analisar a incidência de TCE relacionado ao sexo, observa-se de acordo com a tabela 13 que a incidência do traumatismo cranioencefálico foi maior em pacientes do sexo masculino, com 16.500 acometidos (71%), do que em pacientes do sexo feminino, com 6.734 casos (29%). O sexo masculino apresenta uma frequência duas a três vezes maior que o sexo feminino. Tabela 13: Incidência do TCE relacionado ao sexo nos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. 2014 N % Masculino 16.500 71 Feminino 6.734 29 Total 23.234 100 Fonte: Sistema Klinikos®. 43 Conforme demonstrado na tabela 14, a faixa de idade mais prevalente foi entre 20 aos 49 anos, equivalendo um percentual de 49,9% com um segundo pico acima dos 60 anos corroborando com a literatura mundial conforme descrito anteriormente. A taxa de mortalidade relacionada ao TCE é responsável por 75% a 95% das mortes decorrente de trauma em crianças (Oliveira, Ikuta; 2008). Tabela 14: Atendimentos de TCE segundo a faixa etária no setor de emergência dos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. 2012-2014 Tabela 13: Atendimentos Faixa de TCE segundo a faixa etária no setor de emergência dos hospitais Etária N % <1 a 9 976 4,2 10 a 19 2678 11,5 20 a 39 8102 34,9 40 a 49 3485 15,0 50 a 59 2085 9,0 60a 69 2948 12,7 70 a 79 1713 7,4 Acima de 80 746 3,2 Não informado 501 2,2 Total 23.234 100,0 sob a gestão da SES. Rio(anos) de Janeiro. Brasil. 2012-2014 Fonte:Sistema klinikos®. 44 O histograma abaixo, figura 3, permite uma melhor visualização quanto a incidência de TCE segundo a faixa etária Figura 3. Incidência do TCE segundo a faixa etária nos hospitais de sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil Fonte: Sistema Klinikos® Outra variável estudada foi o tempo médio de permanência hospitalar do paciente vítima de TCE comparado ao tempo médio de permanência hospitalar geral. O paciente com TCE apresentou um tempo médio de permanência mais alto que o tempo médio de permanência hospitalar geral. A tabela 15 mostra o tempo médio de permanência dos pacientes com TCE nas Unidades com neuro e sem neurocirurgia com o tempo médio de permanência hospitalar. 45 Tabela 15: Tempo médio de internação do TCE e tempo médio de internação hospitalar, em dias, nas unidades sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. 2012-2014 Tabela 14: Tempo médio de internação do TCE e tempo médio de internação hospitalar, em Hospitalares Pacientes com TCE Total Geral dias, Unidades nas unidades sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. 2012-2014 Sem Serviço de Neurocirurgia 19,5 8,1 19 7,8 H.E. Albert Schweiter 18,3 9,1 Média 18,9 8,3 H.E. Carlos Chagas H.E. Rocha Faria Com Serviço de Neurocirurgia 25,9 13,9 16 8,7 H.E. Getúlio Vargas 16,4 9,5 H.E. Alberto Torres 11 8,2 17,3 10,7 H.E. Azevedo Lima H.E. Adão Pereira Nunes Média Fonte: Sistema klinikos® O tempo médio de permanência do paciente com TCE não diferiu muito entre as Unidades com ou sem serviço de neurocirurgia, à exceção do hospital Azevedo Lima. Antes da entrada da OSS nesta unidade a crise gerada pela carência e dificuldade de contratação de recursos humanos foi bastante expressiva. Havia déficit de várias classes profissionais incluindo médicos de diversas especialidades e enfermagem como um todo. O cuidado integral ao paciente ficou prejudicado influenciando nos indicadores hospitalares como o tempo de permanência. Em nenhum hospital estudado existe uma equipe multidisciplinar que tenha atuação dedicada para este tipo de paciente nas enfermarias. O hospital Alberto Torres foi o que mais se estruturou para o atendimento deste paciente após a alta da UTI.Houve contratação de equipes multidisciplinares envolvendo fisioterapeutas especializados na parte motora e respiratória e terapeutas ocupacionais voltados não especificamente para este grupo, mas com um olhar especial para ele. Além disto, o hospital Alberto Torres conta com leitos de retaguarda no hospital Prefeito João Batista Caffaro em Itaboraí, onde existem 46 95 leitos para a transferência de pacientes de longa permanência. O tempo médio de permanência do paciente vítima de TCE nesta unidade foi o que apresentou menor número de dias. A literatura registra tempos de permanência altos, em torno de 100 dias por conta da reabilitação necessária ao paciente sequelado (Bem Filho, 2007). A reabilitação precoce com a atuação de uma equipe multidisciplinar é fundamental para a recuperação do paciente. Conforme descrito no Projeto Diretrizes (Associação Médica Brasileira, 2012), um programa de reabilitação iniciado entre as duas primeiras semanas, conforme a estabilidade clinica do paciente, é mais eficaz na recuperação motora e cognitiva, podendo não só melhorar o prognóstico das sequelas quanto diminuir o tempo de internação hospitalar. O tempo de permanência elevado do TCE quando comparado ao tempo de permanência hospitalar pode ter uma, entre várias justificativas, a falta de equipes dedicadas para acompanhar estes pacientes nas enfermarias. Segundo Chesnut et al (1999), o processo de reabilitação de pessoas que sofreram um TCE se divide em fases distintas iniciando na fase aguda que é o primeiro atendimento da equipe de resgate; a fase intensiva correspondendo a entrada na UTI até a alta desta Unidade (diagnóstico/tratamento);a fase de recuperação na enfermaria com avaliação do caso e estruturação de um programa de reabilitação e por fim a alta hospitalar porém com a preocupação da continuidade com o acompanhamento ambulatorial. Quanto aos óbitos, foi realizado um levantamento dos traumatismos cranioencefálico que ocorreram em menos de 24 horas. O edema cerebral traumático apareceu com a maior taxa de mortalidade (31%) seguida pelo trauma cerebral difuso com 17%. Apesar do traumatismo intracraniano não especificado aparecer com 32,5% ele é uma descrição inespecífica do ponto de vista epidemiológico O mesmo se aplica ao diagnóstico “outros traumatismos intracranianos”. A tabela 16 demonstra esses números. 47 Tabela 16: Taxa de letalidade nas primeiras 24 horas relacionada ao TCE segundo o CID 10 nas unidades hospitalares de emergência sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. 20122014. Taxa de Letalidade nas Primeiras 24 horas Tabela 15: Taxa de letalidade nas primeiras 24 horas relacionada ao TCE segundo o CID 10 CID 10 % nas unidades hospitalares de emergência sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. 20122014.Outros traumatismos intracranianos 32,5 Edema cerebral traumático 31 Trauma cerebral difuso 17 Traumatismo intracraniano não especificado 16,3 Concussão cerebral 14,4 Hemorragia subdural devido ao trauma 10,4 Hemorragia subaracnoide devido ao trauma 9,5 Trauma cerebral focal 8,3 Hemorragia epidural 7,5 Média 16,4 Fonte: Sistema Klinikos® Fonte: Sistema Klinikos® 48 Figura 4. Taxa de letalidade relacionada ao TCE nos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. Fonte: Sistema Klinikos®. 2015 De posse desses dados identificamos o número de casos que deu entrada em cada unidade estudada. Ficou evidente que a taxa de óbito nos hospitais onde não há neurocirurgião de plantão foi maior do que naqueles que tinham o especialista de plantão , como mostra a tabela 17. 49 Tabela 17: Taxa de letalidade relacionada ao TCE segundo o CID 10 nos hospitais sob a gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. 2012-2014 Taxa de letalidade nas primeiras Tabela 16: Taxa de letalidade relacionada ao TCE segundo o CID 24h 10 nos hospitais sob a Unidades Hospitalares gestão da SES. Rio de Janeiro. Brasil. 2012-2014 Sem Serviço de Neurocirurgia H.E. Carlos Chagas 49 H.E. Rocha Faria 38 H.E. Albert Schwaitzer 29,7 Média 38,9 Com Serviço de Neurocirurgia H.E. Azevedo Lima 12,5 H.E. Adão Pereira Nunes 8,9 H.E. Getúlio Vargas 18,5 H.E. Alberto Torres 13 Média Fonte: Sistema Klinikos® 13,2 50 6) CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES O presente estudo teve como principais resultados: Os sete hospitais incluídos neste estudo ainda são cadastrados no CNES como hospitais gerais quando poderiam estar cadastrados como Hospitais especializados tipo I e II. Isto acarreta prejuízo financeiro no momento do repasse de verbas provenientes do Ministério da Saúde, ou seja, produzem mas não conseguem faturar sobre a real produção. Os hospitais estudados são considerados de porta aberta, ou seja, não são referenciados. Isto significa dizer que todos os pacientes que ali chegam são atendidos. No período estudado foram realizados 2.081.681 atendimentos de emergência sendo 23.234 atendimentos (1,12%) relacionados ao TCE. Estatisticamente é um percentual pequeno, porém estamos tratando de atendimento médico imediato em seres humanos. Deve haver um olhar atento a este dado, pois o índice de morbimortalidade desses pacientes é alto. O subdiagnóstico foi um problema relacionado às informações epidemiológicas sobre o TCE. Lesões mais aparentes são computadas como o CID principal. Isto não permite um computo fidedigno dos dados. Além disto, os diagnósticos de maior prevalência obtidos nas unidades através da pesquisa foram inespecíficos do ponto de vista epidemiológico. Os dois códigos mais prevalentes se referem ao CID S06.8 que corresponde a Outros Traumatismos e S06.9 Traumatismo Intracraniano Não Especifico. A qualidade da informação nos sistemas informatizados das unidades também foi ruim.Não há, infelizmente, na cultura médica a preocupação no preenchimento correto dos dados, principalmente o Código Internacional de Doenças- CID 10. Foram realizados 63,4 % atendimentos de TCE nos hospitais com serviço de neurocirurgia e 30,6% foram atendidos nas outras três unidades que não possuem serviço de neurocirurgia. Foram inaugurados nestes três anos estudados dois Centros de Trauma objetivando a criação de uma porta exclusiva para o trauma. Cada um dos centros adotam políticas diferentes. No hospital Alberto Torres enquanto o Centro de Trauma é uma estrutura independente e com protocolos rígidos de 51 admissão, o Centro de Trauma hospital Adão Pereira Nunes tem sua estrutura acoplada a Unidade e recebe todos os pacientes vítimas de trauma por essa porta de entrada. Por serem equipamentos recentes não se pode afirmar que os atendimentos de TCE foram maiores nestes hospitais por causa do Centro de Trauma. Em 2014, 91,6% dos 4.221 pacientes atendidos com TCE nas unidades sem serviço de neurocirurgia foram estabilizados e removidos para unidades com serviço de neurocirurgia. Os contatos eram realizados de maneira formal e informal com unidades estaduais, municipais e federais. Destes, 522 pacientes, ou seja, 11,68% dos casos retornaram a unidade de origem. Não houve como fazer o levantamento se os pacientes retornaram por alta do especialista ou porque a lesão naquele momento não possuía indicação cirúrgica. A prevalência do TCE em relação ao sexo foi maior no gênero masculino. Foram 16.500 pacientes do sexo masculino (71%) e 6.732 pacientes do sexo feminino (29%). Em relação a idade, a faixa etária com o maior percentual de ocorrência foi entre 20 a 49 anos. Ambos achados corroboram com a literatura mundial. O tempo médio de permanência dos pacientes com TCE nas unidades foi maior do que o tempo médio de permanência hospitalar geral, entretanto não houve impacto relacionado ao fato da unidade possuir ou não serviço de neurocirurgia. Chamou atenção o Hospital Azevedo Lima que apresentou um elevado tempo de permanência hospitalar e dos pacientes com TCE. Uma das explicações, não somente para o hospital Azevedo Lima mas também ampliando para os outros, foi o déficit de recursos humanos, tanto médico como enfermagem, que a unidade enfrentou enquanto estava sob a administração direta. A falta de recursos humanos causa uma piora nos indicadores assistenciais, pois a demanda continua com acesso livre à emergência e não há profissionais em número suficiente para um cuidado de forma integral. O hospital Azevedo Lima foi a unidade que apresentou maior déficit de recursos humanos nesse período. No Alberto Torres aconteceu o inverso. Além do problema dos recursos humanos sempre ter sido menor do que em qualquer outra unidade, foi o primeiro hospital a passar para gestão total por OSS em dezembro de 2012. A OSS assumiu o Alberto Torres junto com o Centro de Trauma e Hospital Estadual Prefeito João Batista Caffaro em 52 Itaboraí formando o Complexo Hospitalar conforme edital publicizado pela SES-RJ no site www.saude.rj.gov.br .O hospital Prefeito João Batista Caffaro possui 95 leitos que são utilizados exclusivamente pelo hospital Alberto Torres como leitos de retaguarda. Com a exclusividade destes, leitos o tempo médio de permanência no hospital Albert Torres se tornou o menor da rede. Neste trabalho foi demonstrado que a taxa de letalidade do TCE nas primeiras 24 horas foi quase quatro vezes mais elevada nos hospitais sem serviço de neurocirurgia. Este fato permite questionar a importância deste especialista no atendimento ao TCE, principalmente quando ocorre uma lesão intracraniana com necessidade de abordagem neurocirúrgica. O retardo do ato cirúrgico nas lesões cerebrais pode agravar as sequelas neurológicas ou levar a morte. A recuperação do paciente com TCE, mesmo com toda a eficiência no atendimento tem o prognóstico reservado, mas baseado na literatura descrita no estudo, quanto mais precocemente se inicia um programa de reabilitação específica voltada para o paciente com sequelas neurológicas maior chance de uma recuperação significativa. A família não deve ser colocada à parte do tratamento, principalmente durante a reabilitação. Ela deve ser acompanhada e não vista apenas como aqueles que virão buscar o paciente no dia da alta. O cenário é novo e catastrófico para alguns. Pessoas que eram independentes retornam para casa acamados, em cadeiras de rodas necessitando de ajuda para realizar suas necessidades básicas. A família precisa de um suporte para poder encarar a nova realidade e aprender a lidar com as necessidades do paciente. Uma equipe multiprofissional deve atuar já na internação e trazer a família para junto deste tratamento. A reabilitação não é um caminho curto porém não é vocação de um hospital de emergência aberta com este setor superlotado manter pacientes crônicos internados nas enfermarias. Os resultados acima nos leva a recomendar que sejam implementadas melhorias nas informações relacionadas ao paciente com TCE. A concomitância de outras lesões traumáticas, mormente nos pacientes politraumatizados, faz com que o TCE seja subdiagnosticado e consequentemente não se consegue estabelecer uma linha exploratória 53 concisa com a falta da informação. Estimular a informação correta por intermédio do CID possibilitará a melhoria contínua nas informações. Recomendamos a revisão dos protocolos desde o atendimento préhospitalar aos de admissão e acompanhamento nas unidades hospitalares para que sejam alinhados ao sistema de internação e alta. Enfatizar o quanto é importante o trabalho de uma equipe multidisciplinar formada por fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, assistentes sociais entre outros para um melhor prognóstico do paciente. Diante dos resultados encontrados entendemos ser de extrema importância para redução da mortalidade dos pacientes com TCE, que todas as emergências de porta aberta possuam serviços de neurocirurgia no seu quadro de plantão. Um grande desafio nos hospitais estudados é justamente o tempo de permanência hospitalar desses pacientes que requerem reabilitação específica. Os estudos apontam que o início precoce de um programa efetivo de reabilitação melhora o prognóstico destes pacientes. A questão da reabilitação passa por uma matriz de responsabilidades ampliada que permite a atuação de equipes multidisciplinares integradas objetivando a reintegração do paciente à sociedade. A família é parte fundamental deste contexto. A reabilitação deve ser iniciada o mais precocemente possível. Focar na criação de unidades especializadas com equipes multidisciplinares para receber esses pacientes antes da alta hospitalar propriamente dita. Estas unidades objetivariam proporcionar uma reabilitação intensiva para melhorar a qualidade de vida do paciente e da sua família. Com isto os leitos dos hospitais de emergência poderiam ter um giro maior relacionados ao paciente com TCE. O paciente se beneficiaria com esta transferência pois sairia de um local onde não há vocação para internação de longa permanência de pacientes crônicos. Um hospital de urgência e emergência não possuem em seu escopo um serviço de reabilitação dedicado e intensivo para o paciente sequelado neurologicamente. Após a alta, os pacientes devem ser encaminhados à atenção básica para acompanhamento médico ambulatorial. Além disto deveriam ser acompanhados também por outros profissionais como assistentes sociais, enfermeiros e fisioterapeutas entre outros. Isto pode ser construído junto à rede 54 de atenção básica de cada município. Estas medidas poderão impactar diretamente nos cuidados que o paciente recebe em casa evitando que ele retorne as emergências hospitalares por problemas evitáveis quando diagnosticados em tempo. Por fim recomendamos que estes estudos sejam aprofundados para propiciar a melhoria na análise e gravidade da patologia, aprimoramento nos protocolos de diagnóstico, atendimento e informação, que poderão impactar positivamente na morbimortalidade do paciente com TCE e que poderão ser expandidos para todos os casos de sequelas com lesão neurológica. 55 7) REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Almeida, PJS , Pires, DEP. O trabalho em emergência: entre o prazer e o sofrimento. Rev. Eletr. Enf. [Internet], v. 9, n. 3, p. 617629, 2007. 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