Brasil perde fatia da riqueza mundial - Instituto de Economia

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Brasil perde fatia da riqueza mundial
06/05/2014
ROSANA HESSEL
Levantamento feito com base em dados do FMI mostra que a participação do país
na produção e na renda globais está diminuindo, enquanto a de outras nações
avança. Para economistas, o motivo são os erros da política econômica da atual
gestão
A realidade não confirma o discurso da equipe econômica e da presidente Dilma
Rousseff de que são externas, e não internas, as razões do baixo crescimento do
Brasil. O fraco ritmo de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos anos
e o desempenho modesto previsto daqui para frente pelo Fundo Monetário
Internacional (FMI) vão condenar o país a ficar entre os latino-americanos que
mais perdem participação na soma de riquezas gerada em todo o planeta.
Enquanto isso, boa parte das nações vizinhas vem conquistando uma fatia cada
vez maior do bolo mundial, revela levantamento feito pelo economista e consultor
Roberto Luis Troster para o Correio.
Conforme os dados apurados pelo ex-economista-chefe da Federação Brasileira
de Bancos (Febraban) nos registros do FMI, na América Latina, o Brasil terá a
terceira maior redução da fatia que detém do PIB global, entre 2013 e 2019,
passando de 2,78% para 2,65%. Em termos percentuais, a queda será de 4,7% no
período, ficando atrás apenas da Argentina e da Venezuela, que atravessam
crises graves e devem recuar 12,3% e 17,9%, respectivamente. Equador e
Uruguai completam a lista dos cinco países da região que perderão espaço,
segundo o estudo de Troster. Os demais avançam. "Em valor, no entanto, o Brasil
será a economia que sofrerá a maior perda: 0,133 ponto percentual do PIB
global", destacou o economista.
No entanto, a perda de participação do Brasil no PIB global poderá ser ainda
maior. O FMI prevê expansão de 1,8% na economia brasileira este ano, metade
da velocidade de avanço do resto do mundo: 3,6%. As projeções do mercado, no
entanto, são mais pessimistas. As estimativas coletadas pelo Relatório Focus, do
Banco Central, apontam para 1,63%.
Um levantamento feito pelo economista-chefe da Austin Ratings, Alex Agostini,
indica que o Brasil deverá perder a 7ª posição do ranking das 10 maiores
economias globais em 2018, dando lugar à Índia, que atualmente se encontra no
10º lugar. "A Índia é o país que mais deverá subir posições na lista até 2019,
superando Brasil, Itália e Rússia. Entre os desenvolvidos, a única mudança deverá
ocorrer com o Reino Unido que vai superar a França em 2016 para ocupar o 5º
posto", afirmou. Ele destaca que as 10 maiores economias do planeta
representam 65% do PIB mundial, estimado em US$ 76,8 trilhões neste ano,
podendo chegar a US$ 100,8 trilhões em 2019.
Falhas internas
De acordo com o levantamento de Troster, o Peru registrará o maior avanço em
termos percentuais, dando salto de 12%, passando de 0,396% para 0,444% do
PIB global. O Paraguai terá a fatia ampliada em 5,6%, e o Chile, em 2,8%. "Isso
mostra que as políticas brasileiras não são tão boas como as dos países que
estão crescendo mais. Elas são menos eficientes. Não adianta culpar o resto do
mundo pelo fraco desempenho porque o problema é interno", destacou Troster. A
opinião é compartilhada pelo economista Clodoir Vieira, consultor da Compliance
Comunicação. "Apesar da expansão do PIB nos anos anteriores ao governo
Dilma, o Brasil vem há tempos figurando a rabeira do crescimento global. Isso é
resultado da falta de uma política de longo prazo nas gestões petistas", criticou.
Na avaliação de Vieira, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do qual
Dilma é considerada "mãe", virou uma peça de ficção porque a maioria das obras
não saiu do papel. Com isso, a taxa de investimento em relação ao PIB caiu de
20,3%, em 2010, para os atuais 18%, e dificilmente avançará, devido às elevadas
taxas de juros. No início do mandato, a presidente prometia 25%.
"O investidor precisa de garantias de que o governo não vai intervir nos mercados
para que ele possa aplicar no país, mas está sem perspectiva porque não existe
uma política de longo prazo. O PAC e o programa de concessão em infraestrutura
são medidas pontuais. O empresário que pretende investir no setor elétrico, por
exemplo, fica com medo quando vê que uma medida provisória pode mudar toda a
rentabilidade planejada", explicou ele. "Os juros altos inibem os projetos de
concessão em infraestrutura porque hoje, o rendimento de uma aplicação
financeira é maior do que a taxa de retorno dos projetos", emendou.
"O país só voltará a crescer se houver aumento do investimento. Por isso, é
preciso controlar a inflação para que os juros caiam, e as taxas de retorno dos
projetos voltem a ser competitivas. Na atual conjuntura, isso é impossível",
explicou Ernesto Lozardo, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). Pelas
contas do economista, os investimentos do setor privado já programados e os
previstos na área de infraestrutura e logística ajudariam o PIB do país a crescer
acima de 3,5% ao ano até 2020. "Com isso, a taxa de investimento aumentaria
para 20,5% e chegaria em 25% em 2024", disse.
O fraco desempenho do PIB brasileiro é resultado de um diagnóstico errado
da equipe econômica, reforça o economista José Luis Oreiro, professor da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e seguidor do pensamento
keynesiano que norteia a concepção de economia de Dilma. "O país cresce
pouco porque esse é o potencial atual da economia brasileira. Para acelerar
a expansão do PIB, é preciso melhorar a competitividade da indústria,",
explicou. "O potencial de expansão da economia está em apenas 2%, e a
tendência é de que caia ainda mais em 2015", disse ele, lembrando que,
quando assumiu o governo, a chefe doExecutivo herdou um potencial de 3%
a 3,5%.
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