MINISTÉRIO DA SAÚDE FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ INSTITUTO OSWALDO CRUZ Mestrado em Biologia Celular e Molecular DIVERSIDADE GENOTÍPICA DE Trypanosoma cruzi EM PACIENTES ACOMETIDOS COM A DOENÇA DE CHAGAS CRÔNICA EM UMA COORTE DO BRASIL ÍCARO RODRIGUES DOS SANTOS Rio de Janeiro Julho de 2015 INSTITUTO OSWALDO CRUZ Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular ÍCARO RODRIGUES DOS SANTOS Estudo da diversidade genotípica de Trypanosoma cruzi em pacientes acometidos com a doença de Chagas crônica em uma coorte do Brasil Dissertação apresentada ao Instituto Oswaldo Cruz como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências Orientador: Dr. Otacilio da Cruz Moreira RIO DE JANEIRO 2015 ii INSTITUTO OSWALDO CRUZ Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular AUTOR: ÍCARO RODRIGUES DOS SANTOS ESTUDO DA DIVERSIDADE GENOTÍPICA DE Trypanosoma cruzi EM PACIENTES ACOMETIDOS COM A DOENÇA DE CHAGAS CRÔNICA EM UMA COORTE DO BRASIL ORIENTADOR: Dr. OTACILIO DA CRUZ MOREIRA Aprovada em: _____/_____/_____ EXAMINADORES: Profa. Dra. Joseli Lannes-Vieira - Presidente Profa. Dra. Mariana Caldas Waghabi Prof. Dr. Roberto Magalhães Saraiva Profa. Dra. Suzete Araujo Silveira Gomes (Suplente) Profa. Dra. Ana Carolina Ramos Guimarães (Suplente) Prof. Dr. André Luiz Rodrigues Roque (Revisor) Rio de Janeiro, 01 de julho de 2015 iii “Aut viam inveniam aut faciam” Ou encontro o caminho ou eu mesmo o abrirei. Aníbal iv AGRADECIMENTOS À Joana D’arc Madeira, minha mãe, por tudo. Sei dos sacrifícios que fez para que eu chegasse até aqui. Não mediu esforços e sempre me incentivou. Obrigado também por ser orgulhar de mim. À Marcela Madeira, minha irmã, por ter pedido um irmão. Se não fosse por isso, talvez eu nem estivesse aqui. Apesar de nossas diferenças sempre quis o melhor para mim. À minha tia, Helenira Madeira, por cortar as minhas primeiras unhas e guardá-las no dicionário. Sempre disse que minha inteligência veio desse ato. Não sabemos se é verdade, mas o que importa é a intenção. Acreditou e torceu por mim toda a minha vida. Aos meus primos, Fagner Vinícius, Caroline Cristine, Igor e Mikael, por me permitirem acompanhar o crescimento de vocês, fazendo com que eu desenvolvesse responsabilidade enquanto passávamos bons momentos juntos. Espero que eu tenha ensinado algo que cada um de vocês possa levar para a vida. Ao Ramiro Balzana, meu tio de coração, por ficar feliz só de beber uma cerveja comigo. À Monique Guimarães por ser a melhor cunhada que alguém poderia ter. À Cordolina Madeira, minha avó, apesar de não estar mais entre nós, sua presença se faz constante. Seu legado vive em cada um de seus descendentes. Além disso, juro que aprendi a fazer os seus biscoitos de polvilho e passarei a receita adiante para os seus bisnetos. À Kelly Menezes por todos esses anos como minha melhor amiga, parceira, confidente, conselheira e comadre. Obrigado por fazer parte da minha vida e por ser a extensão da minha família. É a minha torcida organizada e, se fosse um time de futebol, jogaria em todas as posições por mim. v Ao Luan Figueiredo, meu melhor amigo, por me amar quando eu menos mereci. Além de fazer de mim uma pessoa melhor em cada momento. “A nós. Não há ninguém como nós.” Ao Erick Braga por ser um dos meus melhores amigos há tanto tempo que já faz parte da família e por se inspirar em mim. Sabe que te levarei para sempre comigo e farei o possível para sempre responder às suas expectativas. À Mayra Veríssimo, minha comadre, por todos os momentos divertidos e histórias que compartilhamos além de ter trazido o meu afilhado ao mundo. Ao Gustavo Veríssimo, meu afilhado querido, por me escolher como seu padrinho e por olhar o mundo com esses olhos que se maravilham com tudo. Aos Josinaldo e Cristiane Oliveira por toda a sua amizade e gentileza. Sem falar de prepararem o meu lanche favorito sempre caprichado. Aos Luis, Lúcia e Pedro Gastoldi por me considerarem parte da família e por todo o carinho que têm por mim. Ao Gabriel Barssi, meu amigo mais do que querido, por conseguir me fazer sorrir e ter crises de risos como ninguém jamais conseguirá. Obrigado por tornar os dias melhores. Não bastasse tudo isso, minha defesa ainda foi marcada no dia do seu aniversário. Ao Alexandre Carvalho, meu tão estimado amigo, por ser a epítome do que gosto no mundo, por me presentear com o seu sorriso constante e por sorrir com a alma. Além do mais, por se preocupar e torcer mais por mim do que eu mesmo. À Thamires Benício e à Perla Pereira, minhas amigas desde o tempo da faculdade, por me apoiarem sempre e torcerem por mim como eu torço por vocês. À Aline Caseca, minha primeira orientadora, por me apresentar à ciência e enxergar o potencial em mim que eu nunca tinha visto. Minha primeira base científica. vi À Mariângela Ziccardi por ter o maior coração do mundo e pelo bom humor infindável. Minha segunda base científica. Ao meu orientador, Otacilio Moreira, por sempre estar presente, me fornecendo toda a base para trabalhar, discutindo meticulosamente cada resultado encontrado, sugerindo uma solução plausível para cada dificuldade, me fazendo compreender cada passo de todo esse processo. Além de me orientar não só para ser um aluno melhor, mas também uma pessoa melhor. Minha terceira e última base científica. Obrigado por realmente me orientar. À Constança Britto, chefe do nosso laboratório, por me receber tão bem e vibrar com os nossos resultados. À Tatiana Araújo por acreditar em mim até de olhos fechados e por me ajudar quando precisei. Sem a sua amizade, eu talvez nem tivesse passado pela entrevista do processo seletivo. À Myllena Melo, minha segunda autora favorita e amiga, mesmo quando estiver do outro lado do mundo vai estar sempre comigo. Obrigado por tudo e mais um pouco. Aos meus amigos do laboratório. Paula Finamore, por ter nascido Paula e ter feito cada dia mais alegre, mesmo os mais tristes. Hanna Condelo, por cada conversa, seja durante um café ou nas nossas idas para casa, onde construímos uma amizade quase tão doce quanto o seu chocotone. Maria Carolina Peçanha, por ter deixado eu te abraçar todos os dias mesmo com todas as suas ameaças. Ronald Martins, por todas as vezes que tentou dominar o mundo comigo. Leticia Souza, por adoçar os meus dias com seu carinho por mim e cada chocolate. Natália Lins, por cada chute que me impulsionou para frente. Ao Bernardo Pereira por cada diálogo, desde assuntos gerais até minhas dúvidas científicas ao longo do processo, sempre bem disposto e gentil. À Marianne Rocha por ser a minha parceira em tudo nesses dois anos, me ofereceu a sua amizade e até a sua família. Não tenho como agradecer por isso. vii Aos Geovane Lopes e André Borges pelo carinho, amizade e boas conversas. À Carla Pereira, minha acessora favorita, pelo carinho e presença sempre constantes. À Fernanda Vasconcelos por ser a melhor secretária do mundo! Sempre com um sorriso no rosto e disposta a ajudar. Impossível não te levar para as nossas vidas. Ao revisor, André Roque, pelo cuidado e atenção com o meu trabalho além das ótimas sugestões. À banca, Joseli Lannes-Vieira, Mariana Waghabi e Roberto Saraiva, por suas excelentes sugestões e correções além de todo o cuidado ao ler o meu trabalho. Aos pacientes por se voluntariarem ao estudo. Sem eles nada disso seria possível. Aos colaboradores do INI por fornecerem as amostras e auxiliarem na análise dos dados. À PGBCM, englobando todos os funcionários, pela qualidade do ensino e suporte que me foi dado. À FIOCRUZ, em especial ao IOC, por me permitir fazer parte de tudo isso. Por fim, gostaria de agradecer aos que não foram citados, mas que de alguma forma estiveram presentes e ajudaram durante o processo. viii “Somente sonhos são as asas do coração Que ninguém poderá roubar.” Hiroaki Matsuzawa e Nobuo Yamada ix INSTITUTO OSWALDO CRUZ ESTUDO DA DIVERSIDADE GENOTÍPICA DE Trypanosoma cruzi EM PACIENTES ACOMETIDOS COM A DOENÇA DE CHAGAS CRÔNICA EM UMA COORTE DO BRASIL RESUMO DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Ícaro Rodrigues dos Santos A doença de Chagas constitui um grande problema de saúde pública em diversos países da América Latina. Atualmente, estima-se que 6 a 7 milhões de pessoas estejam infectadas e 75 a 90 milhões estejam expostas à doença. O Trypanosoma cruzi, seu agente etiológico, é representado por um conjunto de populações que circulam em hospedeiros mamíferos e insetos vetores, apresentando grande heterogeneidade de comportamento biológico e variações na sensibilidade a drogas e prognóstico da doença. Assim, um grande desafio vem sendo identificar marcadores genéticos dos isolados capazes de reuni-los em grupos discretos, visando sua caracterização do ponto de vista epidemiológico e de patogenia. Neste trabalho, utilizamos metodologias baseadas em PCR convencional e PCR em Tempo Real (qPCR) para realizar a quantificação da carga parasitária e tipagem molecular do parasito diretamente de amostras sanguíneas de pacientes portadores da doença de Chagas crônica. Para isso, foram selecionados 65 pacientes com sorologia positiva para T. cruzi, apresentando ou não a forma cardíaca da doença, e 92 indivíduos com sorologia negativa, todos atendidos no ambulatório do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, provenientes de diferentes regiões do Brasil. As amostras foram coletadas antes de qualquer tratamento e codificadas, para a realização de um estudo simples cego. A extração de DNA foi realizada a partir das amostras de sangue preservadas em Guanidina-EDTA, seguida da quantificação da carga parasitária por qPCR, em uma reação em multiplex, com um alvo para o DNA nuclear satélite de T. cruzi e um alvo para o gene da RNAse P humana, como um controle interno. Dos 157 indivíduos, 64 se mostraram positivos por qPCR. A mediana da carga parasitária de todos os pacientes positivos foi de 2,293 Eq. par./mL, com a carga variando entre 0,06 e 153,7 Eq. par./mL. Em paralelo, realizamos a genotipagem do parasito a partir das amostras de sangue, baseado em uma metodologia desenvolvida a partir de dois algoritmos préexistentes. Nossos resultados reforçam o conhecimento epidemiológico das DTUs de T. cruzi no Brasil, ao encontrar pacientes infectados por TcII e TcVI, indicando, ainda, que a área de transmissão de TcIII e TcV pode estar sendo subestimada. Além disso, foi observada uma associação entre TcV e TcVI com a manifestação cardíaca da doença. Em conjunto, nossos dados apontam a avaliação da carga parasitária e identificação do supbtipo do parasito como potenciais biomarcadores para a progressão da doença de Chagas. x INSTITUTO OSWALDO CRUZ STUDY OF GENOTYPIC DIVERSITY OF Trypanosoma cruzi IN PATIENTS WITH CHRONIC CHAGAS DISEASE IN A COHORT FROM BRAZIL ABSTRACT Ícaro Rodrigues dos Santos Chagas disease is a major public health problem in many Latin American countries. Currently, an estimated 6 to 7 million people are infected and 75 million to 90 million are exposed to the disease. Trypanosoma cruzi, the etiological agent is represented by a set of populations which circulate in mammalian hosts and insect vectors, presenting highly heterogeneous biological behavior as well as changes in drug sensitivity and prognosis of the disease. Thus, a major challenge is to identify genetic markers of isolates able to bring them into discrete groups, for their characterization from an epidemiological point of view and pathogenesis. In this study, we used conventional PCR based methodologies and Real-Time PCR (qPCR) to perform the quantification of parasite load and molecular typing of the parasite directly from blood samples of patients with chronic Chagas disease. Therefore, we selected 65 patients with positive serology for T. cruzi, with cardiac symptons or not, and 92 with negative serology, all of them were patients from National Institute of Infectology Evandro Chagas (INI), from different regions of Brazil. The samples were collected prior to any treatment and codified for realization of a single-blind study. DNA extraction was taken from blood samples preserved in Guanidine-EDTA, followed by quantification of the parasite load by qPCR, in a multiplex reaction, with a target for nuclear satellite DNA of T. cruzi and a target for human RNAse P gene, as an internal control. From the 157 patients, 64 proved positive by qPCR. The parasite load median from all positive patients was 2.293 Par. Eq./mL, with the load ranging between 0.06 and 153.7 Par. Eq./mL. In parallel, we conducted the parasite genotyping from the blood samples, based on a methodology developed from two pre-existing algorithms. Our results reinforce the epidemiological knowledge of T. cruzi DTUs in Brazil, from the observation of several infected patients with TcII and TcVI, also indicating that TcIII and TcV transmission area may be underestimated. Moreover, an association between TcV and TcVI with cardiac symptons was observed. Taken together, our data point to the evaluation of the parasitic load and the identification of parasite genotype as potential biomarkers for the progression of Chagas disease. xi ÍNDICE RESUMO ABSTRACT 1. INTRODUÇÃO 1.1. Epidemiologia da doença de Chagas 1.2. O Trypanosoma cruzi 1.2.1. Ciclo biológico 1.2.2. Genoma 1.2.3. Diversidade genética 1.3. As Unidades de Tipagem Discretas (DTUs) de T. cruzi 1.3.1. Evolução das DTUs 1.3.2. Epidemiologia e patologia das DTUs 1.4. Aspectos clínicos da doença de Chagas 1.4.1 Fase aguda 1.4.2. Fase crônica 1.4.3. Forma cardíaca 1.4.4. Forma digestiva 1.4.5. Forma cardiodigestiva 1 5 5 8 10 14 14 17 21 21 22 22 23 24 1.5. Diagnóstico 1.5.1. Diagnóstico molecular 24 27 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo geral 2.2. Objetivos específicos 30 30 30 3. METODOLOGIA 31 3.1. Casuísticas e recrutamento dos pacientes portadores de doença de Chagas 31 3.2. Aspectos éticos 31 3.3. Cultivo de células 31 3.4. Coleta e preparo das amostras de sangue 32 3.5. Extração de DNA 32 3.6. Tipagem molecular de T. cruzi de amostras de sangue 33 3.7. Eletroforese em gel de agarose 34 3.8. Sequenciamento dos produtos 35 3.9. Reação em cadeia da polimerase em tempo real (qPCR) 35 3.10. Análise estatística 38 4. RESULTADOS 4.1. Descrição da população de estudo 4.2. Avaliação da carga parasitária 4.3. Tipagem molecular 4.3.1. Genotipagem em amostras de cultura de T. cruzi 4.3.2. Sequenciamento dos produtos 4.3.3. Limite de detecção xii 39 39 41 46 46 48 49 4.3.4. Tipagem molecular de amostras de pacientes 4.3.5. Distribuição geográfica das DTUs 4.3.6. Comparação entre forma clínica e DTUs de T. cruzi 4.3.7. Comparação entre genótipo de T. cruzi e a carga parasitária 53 57 58 59 5. DISCUSSÃO 60 6. CONCLUSÕES 68 7. PERSPECTIVAS 69 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 70 8. ANEXO 8.1. Termo de consentimento 8.2. Parecer comitê de ética 88 89 xiii ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1.1: Número estimado de imigrantes em países não endêmicos 3 Figura 1.2: Ciclo biológico do T. cruzi 7 Figura 1.3: Representação esquemática do lócus do Spliced Leader de T. cruzi 12 Figura 1.4: Organização esquemática do cístron de rDNA de T. cruzi 13 Figura 1.5. Esquema da evolução de T. cruzi – Modelo “Duas Hibridizações” 16 Figura 1.6: Diagrama representando o modelo “Três Ancestrais” proposto para as cepas de T. cruzi 17 Figura 1.7: Distribuição geográfica aproximada das DTUs de T. cruzi nos ciclos de transmissão doméstico e silvestre, e manifestações clínicas 20 Figura 1.8. Evolução sorológica e parasitológica durante a infecção aguda e crônica da doença de Chagas. 26 Figura 3.1. Algoritmo para caracterização molecular das DTUs de T. cruzi baseada em três marcadores 32 Figura 3.2. Diluição da curva padrão 37 Figura 4.1. Relação entre faixa etária e sorologia para T. cruzi da população estudada 40 Figura 4.2: Curva padrão com 6 pontos da diluição de DNA de T. cruzi 41 Figura 4.3: Curvas de amplificação do ensaio de qPCR – sistema TaqMan para o alvo DNA satélite de T. cruzi 41 Figura 4.4. Comparação da reprodutibilidade da quantificação da carga parasitária por qPCR de amostras distintas do mesmo paciente 40 Figura 4.5. Carga parasitária do total de pacientes com sorologia positiva anti-T. cruzi 43 Figura 4.6. Correlação entre carga parasitária de pacientes soropositivos com diferentes formas clínicas 44 Figura 4.7. Comparação entre carga parasitária e gênero dos pacientes 45 Figura 4.8:Tipagem molecular de Trypanosoma cruzi em amostras de cultivo 47 Figura 4.9. Limite de detecção da tipagem molecular para a região intergênica I e II do Spliced Leader, em sangue artificialmente contaminado com T. cruzi 50 Figura 4.10. Limite de detecção da tipagem molecular para o gene da xiv subunidade ribossomal 24S-α α, em sangue artificialmente contaminado com T. cruzi 51 Figura 4.11. Limite de detecção da tipagem molecular para o alvo no fragmento nuclear A10, em sangue artificialmente contaminado com T. cruzi 52 Figura 4.12. Gel representativo da tipagem molecular de Trypanosoma cruzi em amostras de pacientes portadores da doença de Chagas 52 Figura 4.13. Distribuição geográfica das DTUs 57 Figura 4.14: Comparação entre manifestação da doença e o genótipo de T. cruzi 58 Figura 4.15. Relação entre carga parasitária e DTU xv 59 LISTA DE TABELAS Tabela 3.1. Condições de PCR para a tipagem molecular 34 Tabela 4.1. Resultados eletrocardiográficos dos pacientes 39 Tabela 4.2. Naturalidade dos indivíduos com sorologia positiva para T. cruzi 40 Tabela 4.3. Sensibilidade e especificidade clínicas da PCR em tempo real 45 Tabela 4.4. Alinhamento BLASTn (banco de dados NCBI) das sequências de DNA dos produtos de PCR, para cada alvo de genotipagem 48 Tabela 4.5. Comparação entre a tipagem molecular de T. cruzi nas duas amostras de sangue dos pacientes com sorologia positiva 55 xvi Lista de siglas e abreviaturas µL: microlitro BHI: brain heart infusion CCC: cardiomiopatia chagásica crônica Ct: ciclo threshold DNA: ácido desoxirribonucléico DTU: Unidade Discreta de Tipagem (Discret Typing Unit) ECG: eletrocardiograma EDTA: ácido etilenodietildinitritotetracético ELISA: Ensaio imunoadsorvente ligado à enzima (enzyme-linked immunosorbent assay) Eq. Par./mL: Equivalentes de parasito por mililitro Fiocruz: Fundação Oswaldo Cruz g/L: grama por litro GEB: Guanidine EDTA blood, sangue lisado em guanidina-EDTA Guanidina-HCL: cloridrato de guanidina h: hora IFI: imunofluorescência indireta Ig: imunoglobulina INI: Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas IOC: Instituto Oswaldo Cruz ITS: espaçadores transcritos internos kDNA: DNA do cinetoplasto LOD: Limite de Detecção LQ: Limite de Quantificação M: molar Mb: megabase xvii mL: mililitro MLEE: eletroforese enzimática multilocus (multilocus enzyme electroforesis) mM: milimolar mRNA: ácido ribonucléico mensageiro NA: alterações cardíacas não avaliadas NaCl: cloreto de sódio NTC: Negative template control, controle negativo ºC: graus celsius pb: pares de bases PBS: tampão fosfato salino (phosphate buffer saline) PCR: reação em cadeia da polimerase (polymerase chain reaction) PCR-LSSP: Low stringency single specific primer PFGE: eletroforese de campo pulsátil (pulse field gel electrophoresis) pH: potencial hidrogeniônico p= probabilidade de significância qPCR: reação em cadeia da polimerase quantitativa ou em tempo real RAPD: Análises de DNA Polimórfico Amplificado Aleatoriamente RNA: ácido ribonucléico RPM: rotação por minuto rRNA: ácido ribonucléico ribossômico SL: Spliced Leader SSR-PCR: PCR de primer ancorado em Sequência Simples Repetida T. cruzi: Trypanosoma cruzi TBE: tampão feito com base trizma, ácido bórico e EDTA TcI-VI: Trypanosoma cruzi I-VI, seis grupos do parasito, DTUs TDR-WHO: Special Programme for Research and Training in Tropical Diseases TNF: Fator de necrose tumoral xviii WHO: World Health Organization xix 1. INTRODUÇÃO A infecção humana tripanossomíase americana é denominada doença de Chagas em reconhecimento a Carlos Ribeiro Justiniano Chagas quem a descobriu em 1909 (Chagas, 1909), e apresenta uma ampla área endêmica que se estende do sul dos Estados Unidos até a patagônia argentina, encontrada principalmente nas Américas Central e do Sul, afetando primariamente populações rurais pobres. Além disso, é considerada a mais importante infecção parasitária na América Latina com sérias consequências para saúde pública e economias nacionais (Coura, 2005). 1.1. Epidemiologia da doença de Chagas A doença de Chagas é uma zoonose complexa causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, transmitido principalmente através das fezes contaminadas de insetos triatomíneos durante o repasto sanguíneo. Outras formas de transmissão do parasito incluem transfusão de sangue, congênita (ocorrendo em até 10% das mulheres grávidas infectadas) e oral – através da ingestão de alimentos e bebidas contaminados com formas tripomastigotas de T. cruzi. Além das formas citadas anteriormente, mesmo ocorrendo em menor freqüência, podem ser citados o transplante de órgãos e os acidentes laboratoriais (Prata, 2001; WHO 2015). A transfusão de sangue e o transplante de órgãos são as vias primárias de infecção em países onde não ocorre transmissão vetorial (Schmunis, 2007). Os vetores, principalmente os insetos hematófagos, pertencentes ao filo Arthropoda, subfilo Hexapoda, ordem Hemiptera, família Reduviidae e subfamília Triatominae, que engloba os gêneros Triatoma, Panstrongylus e Rhodnius, além de outros 12 gêneros, têm transmitido a infecção entre animais por quase 10 milhões de anos. Mais de 150 espécies de triatomíneos e mais de 100 espécies de mamíferos, majoritariamente espécies silvestres, mantém a infecção de T. cruzi na natureza (Coura & Viñas, 2010). No Brasil, 52 espécies de triatomíneos foram descritos, mas poucas têm importância epidemiológica particular, enquanto as outras espécies são silvestres e mantém o ciclo natural apenas com animais silvestres (Coura & Dias, 2009). Há mais de 100 espécies que servem de reservatório de T. cruzi e foram descritas entre marsupiais, morcegos, carnívoros, roedores e primatas não-humanos. Entre os reservatórios domésticos, é importante 1 ressaltar o potencial de cachorros, gatos, ratos domésticos, camundongos e porquinhos-da-índia, em países onde eles são criados em casa. Outros animais, como suínos e caprinos, também foram encontrados infectados. Pássaros, répteis e peixes não se tornam infectados por terem “lisinas” que destroem T. cruzi (Coura & Dias, 2009). A doença de Chagas, que era inicialmente uma enzootia silvestre, foi transformada em uma zoonose quando o homem invadiu o ecótopo selvagem e ocupou o espaço físico, podendo ter alcançado o ápice através de sua ação predatória de desmatar para agricultura, criação de gado, a abertura de rotas para transporte (ferrovias e rodovias), deslocando os animais silvestres e construindo casas. Deste modo, os triatomíneos, principalmente Triatoma infestans, se adaptaram às áreas ao redor e dentro de domicílios humanos, se alimentando do sangue de animais domésticos e de humanos, na América do Sul. Assim, três ciclos intercomunicantes se estabeleceram: silvestre, peridoméstico e doméstico. Na natureza, T. cruzi mantém seus três ciclos. O ciclo doméstico é mantido por meio de triatomíneos que costumam habitar áreas domiciliares, que transmitem a infecção de animais domésticos para humanos e entre humanos também. Seu ciclo silvestre é enzoótico e mantido por triatomíneos e animais silvestres, enquanto o ciclo peridoméstico é originado do ciclo silvestre e mantém a infecção entre animais domésticos em áreas ao redor de moradias humanas através de triatomíneos peridomésticos e, ocasionalmente, através de trocas com o ciclo silvestre (Coura, 2007; Coura & Dias, 2009). Estima-se que cerca de 6 a 7 milhões de pessoas estejam infectadas em todo o mundo e 75 a 90 milhões estejam expostas à infecção pelo parasito (WHO, 2015; Coura & Dias, 2009), mais comumente na América Latina, onde a doença de Chagas é endêmica. A doença é principalmente encontrada em áreas endêmicas de 21 países da América Latina (Argentina, Belize, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Guiana, Guiana Francesa, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Suriname, Venezuela e Uruguai). Atualmente, as maiores prevalências de doença de Chagas foram reportadas na Bolívia (6,8 %), Argentina (4,1 %), El Salvador (3,4 %), Honduras (3,1 %) e Paraguai (2,5 %). De qualquer modo, dois países remanescentes com prevalência de quase 1% (Brasil e México), juntos com a Argentina, são o lar de quase 60% de todas as pessoas infectadas com T. cruzi na América Latina (Rassi Jr e cols., 2010). 2 A doença de Chagas autóctone transmitida pelo vetor nos EUA é rara, presumivelmente devido às melhores condições de moradia e aos vetores menos eficientes, apesar de que muitas infecções provavelmente não são detectadas. Os dois principais vetores nos Estados Unidos (Triatoma sanguisuga e Triatoma gerstaeckeri) mostram diferentes hábitos alimentares e freqüentemente defecam 30 minutos ou mais depois do repasto, tornando-os de certa forma ineficientes em transmissão através das fezes contaminadas para hospedeiros (Kribs-Zaleta, 2010). De qualquer modo, o grande fluxo de imigrantes provenientes de países endêmicos indica que a doença de Chagas está se tornando um problema de saúde importante nos EUA, Canadá e em muitas partes da Europa e do Pacífico oriental, onde um aumento no número de indivíduos infectados foi identificado (Schmunis, 2007; Guerri-Guttenberg e cols., 2008; Bern & Montgomery, 2009; Gascon e cols., 2009). Assim, a prevalência de infecção crônica por T. cruzi nos EUA têm aumentado substancialmente nos últimos 20 anos, devido ao grande número de imigrantes de países endêmicos (Kirchhoff & Rassi Jr, 2011). Estima-se que vivem nos EUA mais de 300 mil indivíduos (principalmente, oriundos do México) infectados com T. cruzi (Bern & Montgomery, 2009). A Espanha tem o segundo maior número de imigrantes infectados, estimado entre 47 e 67 mil, com a maior parte originada do Equador, Argentina, Bolívia e Peru (Gascon e cols., 2009). Figura 1.1. Número estimado de imigrantes em países não endêmicos. Adaptado de Rassi Jr, 2010 3 Desde 1990, programas de controle de vetores na América Latina (como a Iniciativa para Controle/Eliminação da Doença de Chagas do Cone Sul, Iniciativa para Controle/Eliminação da Doença de Chagas do Pacto Andino e Iniciativa para Controle/Eliminação da Doença de Chagas da América Central) levaram a reduções substanciais na transmissão por vetores domésticos. Além disso, a triagem compulsória dos bancos de sangue tem reduzido substancialmente novos casos de infecção e diminuído a ocorrência da doença de Chagas na América Latina (Moncayo, 2003; WHO, 2015). A transmissão de T. cruzi pelo principal vetor domiciliar, T. infestans, foi dada como interrompida no Uruguai em 1997, Chile em 1999, Brasil em 2006 e alguns países da América Central, El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua (2009-2010), (WHO, 2012). Dentre as recomendações de prevenção e controle da doença de Chagas, se encontram: uso de inseticidas em residências e em áreas ao redor, melhorias das moradias para prevenir a infestação de vetores, medidas de prevenção pessoais como telas em volta das camas, boas práticas de higiene na preparação de alimento, transporte, armazenamento e consumo, triagem de bancos de sangue, teste de doadores e recebedores de órgãos, tecidos ou células, e triagem de recém nascidos e outros filhos de mães infectadas para providenciar diagnóstico e tratamento precoce (WHO, 2015). De acordo com a legislação federal, vários países endêmicos estão atualmente executando a triagem para T. cruzi em doações de sangue com cobertura de quase 100% na maioria dos países endêmicos (Rassi jr e cols., 2012; Moncayo, 2003), e o número de amostras de sangue infectadas diminuiu substancialmente em todos os países da América Latina (Schmunis, 1991; WHO, 2002). Apenas na Colômbia, o custo anual de cuidados médicos para todos os pacientes com a doença foi estimado ser de quase US$ 267 milhões. De acordo com a OMS, a pulverização de inseticidas para o controle de vetores custaria por volta de US$ 5 milhões anualmente (WHO, 2013). Estas medidas têm contribuído para a redução da incidência de novos casos (700 mil por ano em 1990 contra 41200 por ano em 2006) e o número de mortes por doença de Chagas (cerca de 50 mil por ano contra 12 500 por ano (Moncayo & Silveira, 2009). Países não-endêmicos com amplas populações de imigrantes começaram a estabelecer intervenções para prevenir infecção de T. cruzi associada à transfusão. A triagem de sangue para doação nos EUA começou em 2007, e atualmente cobre a maior parte do suprimento de sangue. Cerca de 1 em 28 000 doadores 4 apresentavam infecção por T. cruzi. Com isso, mais de 1400 doadores infectados foram identificados e proibidos permanentemente de doar (Kirchhoff & Rassi Jr, 2011). A legislação européia também impede que pessoas com um histórico de doença de Chagas doem sangue. O risco de transmissão vetorial ainda existe, devido ao fato do protozoário circular entre outras espécies de triatomíneos, considerados vetores secundários, e diversos mamíferos, em vários ambientes silvestres onde há atividade humana (Oliveira Filho, 1999). Além disso, vários surtos de infecção por via oral, geralmente relacionados à presença de vetores e reservatórios infectados pelo parasito nas proximidades, têm sido registrados (Valente, 2005; Steindel e cols., 2007; Nobrega e cols., 2009). Atualmente, a via oral pode ser considerada a principal via de transmissão em novos casos de doença de Chagas no Brasil. 1.2. O Trypanosoma cruzi T. cruzi é um protozoário do filo Sarcomastigophora, subfilo Mastigophora, classe Zoomastigophora, ordem Kinetoplastida, família Trypanosomatidae. Nesta família encontramos flagelados com 1 flagelo que se origina de uma invaginação, conhecida como bolsa flagelar e normalmente contém uma estrutura paraflagelar, além de uma estrutura proeminente, conhecida como cinetoplasto, que corresponde a uma condensação de DNA localizado no interior dessa mitocôndria única e ramificada por todo o corpo do protozoário (Rey, 2008). Em seu ciclo de vida, o T. cruzi possui três formas evolutivas diferenciadas morfologicamente pela posição e emergência do flagelo (Brener, 1997). 1.2.1. Ciclo biológico O ciclo de vida do T. cruzi é complexo, apresentando variações morfológicas e funcionais durante seu desenvolvimento em insetos vetores e hospedeiros mamíferos, com alternância entre estágios que sofrem divisão binária e formas não replicativas e infectantes (Brener, 1971; 1973). O inseto triatomíneo se torna infectado no ato do repasto sanguíneo, através da ingestão de sangue de animais ou humanos que tenham parasitos circulantes (forma tripomastigota sanguínea – forma alongada com o cinetoplasto localizado na região distal em relação ao longo 5 flagelo, além da presença de uma membrana ondulante). Uma vez ingeridos, muitos dos tripomastigotas são lisados no estômago do inseto (Castro e cols., 2007). No trato digestivo dos triatomíneos, os tripomastigotas sobreviventes se diferenciam em epimastigotas (forma multiplicativa – forma alongada com o cinetoplasto localizado entre o núcleo e o flagelo – forma mais comum a ser cultivada em laboratório), estes migram para o intestino onde eles se dividem intensamente e aderem às membranas perimicrovilares que são secretadas pelas células intestinais do intestino posterior (Alves e cols., 2007; Nogueira e cols., 2007). O processo de adesão de epimastigotas às membranas perimicrovilares envolve a participação de glicoconjugados expostos na superfície (Alves e cols., 2007). Este passo de adesão parece ser importante para engatilhar o processo de diferenciação dos epimastigostas não infectivos em tripomastigotas altamente infectivos (conhecidos como tripomastigotas metacíclicos) na porção final do intestino do hospedeiro invertebrado, em um processo conhecido como metaciclogênese (Contreras e cols., 1993, De Souza e cols., 2010). Nas regiões mais posteriores do intestino e do reto, muitos epimastigotas destacados da superfície intestinal e diferenciados em forma tripomastigota metacíclica, são liberados juntos com fezes e urina (Garcia e cols., 2007) após o repasto sanguíneo. A infecção nos mamíferos tem início quando estes entram em contato com as fezes e urina contaminadas de triatomíneos. Esse contato ocorre através da mucosa ou injúria tecidual, que pode ser pré-existente ou resultante da picada do inseto. O parasito não penetra a pele intacta, somente infectando o hospedeiro via mucosa ou ferimentos na pele (Contreras e cols., 1993, De Souza e cols., 2010), além de poder ser adquirido por via oral. Uma vez no hospedeiro vertebrado, os tripomastigotas metacíclicos invadem as células na local do inóculo (podendo invadir diferentes tipos celulares incluindo macrófagos, fibroblastos ou células epiteliais, entre outras) através do reconhecimento entre o parasito e as células do hospedeiro em um processo que envolve uma grande variedade de moléculas presentes em ambas as células, iniciando o ciclo de vida intracelular do T. cruzi. As formas metacíclicas, ao penetrarem nas células do hospedeiro, irão induzir a formação de um vacúolo endocítico denominado como vacúolo parasitóforo, residindo no interior desse. Esse vacúolo é um produto não só da entrada do parasito na célula, mas também da fusão de lisossomos recrutados pela célula hospedeira. Estas fusões são importantes para tornar o pH do vacúolo acidificado, o que será importante para a 6 diferenciação de formas longas e finas em arredondadas com flagelo curto, característica das formas amastigotas, e produção de enzimas pelo parasito que levarão à lise da membrana do vacúolo parasitóforo (Carvalho & De Souza, 1989). Assim, estas formas amastigotas entram em contato direto com as organelas da célula hospedeira (De Souza e cols., 2010). Os amastigotas se proliferam intracelularmente por fissão binária até a célula ficar repleta dessas formas. Depois, esses amastigotas se diferenciam em tripomastigotas, que são as principais formas liberadas no tecido ou na corrente sanguínea após a ruptura da célula. Os tripomastigotas sanguíneos podem então invadir novas células localizadas no sítio de infecção ou podem atingir a via linfática e sanguínea, e potencialmente atingir diferentes tecidos do hospedeiro, invadindo os mais diversos tipos celulares, em especial células musculares (cardíaca, lisa e esquelética) e ganglionares, ou serem ingeridas por insetos triatomíneos durante o repasto sanguíneo, fechando o ciclo (De Souza e cols., 2010). Figura 1.2. Ciclo biológico do T. cruzi. 1. Inseto triatomíneo faz o repasto sanguíneo (passando os tripomastigotas metacíclicos nas fezes, tripomastigotas entram na ferida da picada ou membranas da mucosa, como a conjuntiva. 2. 7 Tripomastigotas penetram várias células no local da picada. No interior das células, se diferenciam em amastigotas. 3. Amastigostas se multiplicam por fissão binária nas células dos tecidos infectados. 4. Amastigotas intracelulares se diferenciam em tripomastigotas, então irrompem da célula e entram na corrente sanguínea. 5. Podem infectar outras células e se diferenciar em amastigostas intracelulares em novos locais de infecção. Manifestações clínicas podem resultar deste ciclo infectivo. 6. Inseto triatomíneo realiza o repasto sanguíneo (tripomastigotas ingeridos). 7. Epimastigotas no intestino. 8. Multiplicação no intestino. 9. Tripomastigotas metacíclicos no reto. (Adaptado de http://www.cdc.gov/parasites/chagas/biology.html) 1.2.2. Genoma O T. cruzi possui dois genomas distintos, situados em dois compartimentos celulares bem definidos: o núcleo e a mitocôndria, da mesma forma que ocorre em outros eucariotos (Klingbeil & Shapiro, 2009). Em tripanossomatídeos, existe uma única e grande mitocôndria que contém uma região especializada, denominada de cinetoplasto, onde se encontra o DNA mitocondrial, também chamado de DNA do cinetoplasto ou kDNA. No T. cruzi, o DNA mitocondrial compreende cerca de 20 a 25% do DNA total da célula e está organizado em uma rede complexa de moléculas circulares concatenadas, compostas por 10 a 20 mil cópias de minicírculos (de 1.400 pares de base, cada), que codificam para RNAs pequenos (RNAs guia). Estes participam do processo de edição dos transcritos pelo maxicírculo, e entre 20 e 50 cópias de maxicírculos (com tamanho aproximado de 40.000 pares de bases), codificam para proteínas da cadeia de transporte de elétrons e RNA ribossômico mitocondrial (Verlag & Verlag, 2001). O minicírculo contém quatro regiões de sequência conservada intercaladas por quatro regiões de sequência variável. Estas últimas apresentam alta taxa de mutação, que confere grande diversidade entre os minicírculos dos isolados de T. cruzi (Degrave e cols., 1988). Nas regiões de sequência conservada, observa-se a ocorrência de blocos de sequências conservadas ou mini repeats, utilizadas como molde para o desenho de oligos iniciadores em processos moleculares de detecção e tipagem de T. cruzi, estudos laboratoriais, diagnósticos, clínicos e epidemiológicos (Sturm e cols., 1989). Em 2005, a sequência completa do genoma do clone CL Brener de T. cruzi foi obtida por um consórcio internacional, juntamente com os dados do genoma de dois 8 outros tripanossomatídeos causadores de importantes doenças tropicais, o Trypanosoma brucei e a Leishmania major (El-Sayed e cols., 2005). Naquela oportunidade, foram identificados pares de alelos para metade dos genes de CL Brener. A anotação da seqüência completa do genoma, que possui entre 106,4 e 110,7 Mb e apresenta um conteúdo de G+C de 51%, indicou a existência de 22.570 genes codificando proteínas, sendo que destes, 12.570 representam pares de alelos. Deste total (cerca de 12.000 genes), foi possível determinar a função de 50.8% com base na literatura e em resultados de similaridade com proteínas já caracterizadas ou na presença de domínios funcionais característicos (El-Sayed e cols., 2005). O genoma nuclear de T. cruzi é formado por sequências repetitivas tais como retrotransposons, repetições subteloméricas e genes das famílias de moléculas de superfície. Estes genes incluem os que codificam trans-sialidases, mucinas, proteínas associadas à mucinas (MASP) e a glicoproteína de superfície gp63. As moléculas de superfície compreendem a maior parte das famílias gênicas codantes, representando 18% do total dos genes que codificam proteínas no genoma do parasito (El-Sayed e cols., 2005). Muitas dessas sequências estão organizadas em tandem. Esses agrupamentos podem estar distribuídos em diferentes cromossomos, e o número de cópias de repetição pode variar de um agrupamento para outro. No genoma do T. cruzi, estão arranjados em tandem os micro e minissatélites, os genes do rRNAs, os genes da sequência líder (spliced-leader) e dos mRNAs de tubulina, amastina, calmodulina, entre outros (Beckman & Weber, 1992, Ajioka & Swindle, 1993; Teixeira e cols., 1994). Devido a essa grande variedade de sequências repetidas, este genoma demonstra ser de grande plasticidade (Clayton, 2002). Apesar do número exato de cromossomos na espécie não ter sido ainda definido, uma vez que esses não se condensam durante a divisão celular (De Souza, 2002), a forma de se estipular o número e tamanho dos cromossomos é através de análises de eletroforese de campo pulsátil (pulse field gel electrophoresis - PFGE). Utilizando essa técnica em vários isolados, seguida de hibridação com seqüências teloméricas e sondas de genes conservados, chegou-se à conclusão de que se trata de um genoma diplóide com um número estimado entre 20 e 40 cromossomos homólogos que apresentam tamanhos muito diferentes, variando entre 0,45 Mb e 3,5 Mb (Cano e cols, 1995; Porcile e cols., 2003; Brance e cols., 2006; Teixeira e cols., 2006). 9 Genes de protozoários cinetoplastídeos são essencialmente livres de íntrons, os quais foram identificados em apenas quatro genes. São predominantemente arranjados em unidades longas policistrônicas, transcritas constitutivamente, que incluem vários genes organizados em tandem os quais, em geral, não são funcionalmente relacionados (Tschudi & Ullu 1988; Kramer, 2012) e não apresentam o mesmo padrão de regulação (Tschudi & Ullu, 1988; Clayton, 2002). As unidades policistrônicas são subsequentemente processadas e produzem mRNAs monocistrônicos maduros, sendo acoplados nas reações de trans-splicing a uma pequena sequência de spliced-leader de 39 nucleotídeos à extremidade 5’, e poliadenilação na extremidade 3’. A forma incomum de organização do genoma pode ter evoluído para permitir ao parasito ter um genoma muito denso (em relação aos genes) e reduzir o tempo de ciclo celular, representando uma vantagem para o organismo (Kramer, 2012). 1.2.3. Diversidade genética O T. cruzi é representado por um conjunto de populações, denominados isolados ou cepas, que circulam em hospedeiros mamíferos e insetos vetores, apresentando grande heterogeneidade de comportamento biológico como, por exemplo, diferentes níveis de patogenicidade para animais experimentais e humanos, além de variações na sensibilidade a drogas e prognóstico da doença (Macedo & Pena, 1998; Campbell e cols., 2004), assim como sua complexidade ecoepidemiológica (Miles e cols., 2009). A doença também apresenta diversidade em sua apresentação clínica, que vai desde a forma indeterminada até cardíaca e/ou digestiva (WHO, 2015, Rassi e cols., 2010). Assim, um grande desafio para a comunidade científica vem sendo identificar marcadores genéticos dos isolados capazes de reuni-los em grupos discretos, visando sua caracterização do ponto de vista epidemiológico e de patogenia. O primeiro método experimental que demonstrou a extensão da diversidade genética de T. cruzi foi a análise de variantes eletroforéticas de enzimas celulares (isoenzimas). Baseando-se na variabilidade de seis loci (Miles e cols.1978, Miles, 1980) foi proposta a existência de 3 grupos isoenzimáticos (zimodemas 1, 2 e 3, representados Z1, Z2 e Z3, respectivamente) de T. cruzi. Estudos epidemiológicos demonstraram que Z1 e Z3 eram associados com o ciclo silvestre e 2 com o ciclo de transmissão doméstica (Miles e cols., 1978; Miles, 1980, Barret e cols., 1980). 10 O primeiro estudo do polimorfismo de DNA em T. cruzi foi publicado em 1980 por Morel e cols., que descrevia a tipagem dos minicírculos de kDNA através dos polimorfismos de comprimento de fragmentos de restrição (RFLP). Populações de parasitos mostrando padrões de restrição de kDNA idênticos ou muito similares foram chamados de esquizodemas. Combinados com experimentos de clonagem, analises de restrição de kDNA demonstraram pela primeira vez que isolados de T. cruzi poderiam conter dois ou mais clones distintos (Morel e cols., 1980). Uma forma alternativa e sensível para estudar o porlimorfismo do kDNA é o método de PCR-LSSP (Low Stringency Single Specific Primer) (Vago e cols., 1996a). Nesta técnica, um DNA previamente purificado é submetido à PCR utilizando um único primer específico sob condições de estringência muito baixas. O primer hibridiza especificamente à sua região complementar e também à múltiplos sítios não específicos dentro do fragmento, em uma forma dependente da sequência. Desta forma, é produzido um conjunto altamente complexo de produtos de reação que podem ser resolvidos por eletroforese, para gerar ‘assinaturas gênicas’ (Pena e cols. 1994, Pena & Simpson, 1996). A PCR-LSSP foi aplicada de forma bem sucedida ao fragmento de DNA variável de ~330 pb dos minicírculos do kDNA de T. cruzi para produzir as ‘assinaturas gênicas’, permitindo, pela primeira vez, apresentar o perfil de parasitos nos tecidos de pacientes cronicamente infectados (Vago e cols.1996b). A técnica RAPD (Análises de DNA Polimórfico Amplificado Aleatoriamente) baseada em PCR é a menos usada, mas intimamente relacionada à PCR de primer ancorado em Sequência Simples Repetida (SSR-PCR), que providenciou uma busca sensível por perfil de T. cruzi e ferramentas úteis para estabelecer um relacionamento genético entre os isolados (Dias Neto e cols. 1993, Steindel e cols. 1993, Tibayrenc e cols. 1993, Oliveira e cols. 1997, Brisse e cols. 2000a). Padrões de bandas específicos para cepas e complexos foram evidenciados para diferentes populações de T. cruzi, apesar de nenhuma relação com aspectos clínicos ter sido encontrada (Oliveira, 1997). Em outro estudo, foi definido um marcador molecular, desenvolvendo primers alvejando a sequência do fragmento A10-e isolado por RAPD a partir do clone CL Brener (Brisse e cols., 2000b). O spliced leader (figura 1.3) é codificado em blocos de unidades repetidas em tandem, os genes do mini exon (ME). Alinhamento comparativo de diferentes cepas de T. cruzi mostrou a presença de regiões de sequências altamente conservadas de 39 pb (os éxons), regiões similares de 73 pb com mais de 98% de identidade 11 (correspondendo aos íntrons) e regiões intergênicas divergentes (menos de 59% de similaridade), (Murthy e cols. 1992, Souto e cols. 1996). Pelo uso de PCR multilocus foi possível agrupar as cepas de T. cruzi em dois grupos de acordo com os produtos amplificados. Cepas que apresentavam produtos de 300 pb eram designados como pertencentes ao grupo 1 (T. cruzi II) e aqueles que apresentavam produtos com 350 pb eram designados como pertencentes ao grupo 2 (T. cruzi I), (Souto e cols. 1996). Figura 1.3. Representação esquemática do lócus do Spliced Leader (SL) de T. cruzi. O SL é organizado em unidades repetidas em tandem no qual a região do éxon PE é conservada em todos os cinetoplastídeos (caixas pretas). Regiões de íntrons são indicadas pelas caixas cinza e o espaçador não transcrito é representado pela conexão em linha preta. A tipagem por SL é baseada em PCR usando iniciadores para sítios específicos na região do espaçador (Extraído de Macedo e cols., 2004). Em tripanossomas, o cístron ribossomal exibe uma organização singular, representado na figura 1.4. Ambas as subunidade maior (24S) e subunidade menor (18S) são consideravelmente maiores do que o rRNA das espécies eucariotas típicas. Particularmente interessante é a 24S, que contém 2 componentes RNAs com alto peso molecular (24Sα/24Sβ) e seis componentes RNAs com baixo peso molecular (S1-S6) (Leon e cols., 1978; Hernandez e cols., 1990; Arruda e cols., 1990). O cístron de rDNA é constituído de sequências repetidas, nas quais as regiões codificantes das 18S e 24S são separadas por dois espaçadores internos transcritos (ITS). O ITS1 separa a região codificante da subunidade 18S do rDNA 5.8S, e o ITS2 separa a sequência de rDNA 5.8S do rDNA 24S. Comparações entre o gene rRNA 24sα de T. cruzi e de outros tripanossomatídeos mostrou alta homologia, exceto por regiões discretas. O domínio mais divergente (D7) é um segmento de cerca de 100 pb localizado na extremidade 3’ do gene de T. cruzi 12 (Arruda e cols. 1990, Souto & Zingales 1993). Inicialmente, a amplificação por PCR da sequência do domínio D7 revelou um dimorfismo quando o DNA de diferentes isolados de T. cruzi foi usado (Souto & Zingales, 1993). Três diferentes grupos ou linhagens de isolados de T. cruzi poderiam ser detectados. Isolados da linhagem 1 apresentavam produtos de 125 pb e outro grupo (linhagem 2) apresentavem um produto de 110 pb. Um terceiro grupo apresentando ambos os produtos de PCR e denotando grupo ½ (Souto e cols. 1996). Figura 1.4. Organização esquemática do cístron de rDNA de T. cruzi. A subunidade pequena (18S) está indicada pela caixa cinza e a subunidade grande (24S) por caixas negras. O cístron do rDNA é constituído de sequências repetidas, onde as regiões codificantes do 24S e 18S são separadas por dois espaçadores transcritos internos (ITS). O ITS 1 separa a região codificante da subunidade 18S e a sequência do rDNA 5.8S, e o ITS 2 separa rDNA 5.8S do rDNA 24S. A tipagem do rDNA é realizada utilizando iniciadores que amplificam uma região dimórfica na extremidade 3’ do gene do rDNA 24Sα (Extraído de Macedo e cols., 2004). A descoberta dos microssatélites (repetições polimórficas em tandem de motivos simples de 2-6 bases de comprimento) em T. cruzi providenciou uma nova ferramenta para a análise da estrutura populacional do parasito (Oliveira e cols. 1998). Estes marcadores de DNA são extremamente polimórficos e estão dispersos através de genoma nuclear do parasito. As análises de microssatélite de diferentes cepas e clones de T. cruzi constituíram um teste simples de triagem para estimar se uma cepa de T. cruzi é uma população monoclonal ou policlonal (Oliveira e cols. 1998; Macedo e cols. 2001). Em 1999, a comunidade científica, em consenso, reuniu os isolados de T. cruzi em dois grupos principais com características epidemiológicas particulares e 13 estes passaram a ser denominados grupos T. cruzi I e T. cruzi II, depois de sua caracterização utilizando eletroforese enzimática multilocus (multilocus enzyme electroforesis – MLEE) e DNA polimórfico de amplificação aleatória (RAPD) ou loci genético como genes mini éxon e rDNA 24Sα (Anonymous, 1999). Após 10 anos do primeiro consenso, a nomenclatura sub-específica de T. cruzi foi revisada. Esta nova revisão inclui seis Unidades de Tipagem Discretas (DTUs) – T. cruzi I a VI – baseadas em diferentes marcadores moleculares e características biológicas do parasito (Zingales e cols., 2009; Zingales e cols., 2012). Os conceitos de DTUs e evolução clonal foram estabelecidos no contexto da pesquisa relacionada à modelo de evolução em T. cruzi (Tibayrenc e cols., 1986). Foi definido por Tibayrenc, em 1998, que DTU seria um conjunto de unidades populacionais que são geneticamente mais relacionadas entre si do que para qualquer outra unidade, e que são identificáveis por marcadores moleculares ou imunológicos comuns, constituindo unidades confiáveis para análise de epidemiologia molecular e estudos experimentais de evolução. Apesar da descoberta de diversos marcadores moleculares com o passar dos anos, não é possível utilizar apenas um deles para a resolução completa das DTUs. Com isso, a tipagem molecular multilocus se apresenta como a forma mais segura e confiável até o presente momento (Zingales e cols., 2012). 1.3 As Unidades de Tipagem Discretas (DTUs) de T. cruzi 1.3.1. Evolução das DTUs As cepas de T. cruzi formam um complexo de populações multiclonais que diferem em suas características genéticas (Andrade e Magalhães, 1997). Como mencionado anteriormente, o T. cruzi é predominantemente diplóide (El-Sayed e cols., 2005) e o seu método de replicação celular se dá através de fissão binária. Sob o modelo clonal, novas DTUs surgem do acúmulo de mutações discretas não afetadas por eventos raros de trocas genéticas (Zingales e cols., 2012). Análises de diversos marcadores moleculares demonstraram que as populações do parasito poderiam ser agrupadas em grupos distintos, alguns permitiam a divisão em até quatro grupos, mas sempre houve a necessidade de usar mais de um marcador para uma melhor distinção. Principalmente devido às similaridades entre grupos híbridos (TcV e TcVI), que se encontravam dentro de 14 mais de um grupo ao usar certos marcadores, reforçando, assim, sua heterozigosidade (Chapman e cols., 1984; Souto e cols., 1996; Barnabé e cols., 2000; Machado e Ayala, 2001; Diosque, 2003; Sturm e cols., 2003; Rozas e cols., 2008; Lewis e cols., 2011; Yeo e cols., 2011). A atual estrutura da população de T. cruzi revela o fato de que dois distintos eventos de hibridização separados por períodos de evolução clonal ocorreram. Possivelmente, ocorreu o inicio da evolução clonal de duas linhagens (DTUs ancestrais I e II) a partir de um ancestral comum (DTU universal). O primeiro evento de hibridização teria sido uma fusão entre as DTUs ancestrais, resultando em uma “progênie híbrida” na qual poderiam ser formados alelos em mosaico (ancestral comum de III e IV). A eventual perda de heterozigosidade desta progênie teria sido seguida por uma evolução clonal independente para formar as DTUs III e IV, se apoiando no fato de que estas duas DTUs compartilham muitos SNPs, esse evento teria ocorrido quase que simultaneamente. Um segundo evento de hibridização entre DTU II e III teria gerado as DTUs V e VI (Figura 1.5). Neste evento, foi mantida a heterozigosidade das duas DTUs, talvez para servir como uma vantagem adaptativa, bem como ao aumentar o espectro de hospedeiros ou aprimorar a invasão celular, particularmente em genes envolvidos na interação parasito-hospedeiro. A fusão das DTUs gera a oportunidade para a formação de um “alelo aperfeiçoado”, por exemplo, em genes que codificam proteínas de expressão constitutiva (housekeepings) que são requisitadas em aspectos gerais do metabolismo celular: as DTUs de T. cruzi sofrem uma fusão genética resultando na criação de uma DTU heterozigota com um genoma aneuplóide ou poliplóide, como aconteceu com as DTUs V e VI; a recombinação ocorre entre alelos de heterozigotos, resultando em sequências mosaicas; conversão de genes homogeniza loci; perda de cromossomo restaura diploidia resultando em organismo diploide homozigoto, como as DTUs II e IV. A ordem destes eventos não está fixa e poderia variar para diferentes loci (Westenberger e cols., 2005). 15 Figura 1.5. Esquema da evolução dos grupos de T. cruzi – Modelo “Duas Hibridizações”. Caixas representam os grupos existentes e seus progenitores ancestrais. As linhas conectando as caixas representam períodos de reprodução clonal. Flechas representam contribuições de várias DTUs para formar novas populações híbridas. De um genótipo ancestral universal comum, dois genótipos diferentes comuns surgiram que são representadas atualmente como as DTUs I e II. Populações destas DTUs subsequentemente hibridizaram para produzir as DTUs III e IV. Uma segunda hibridização entre as populações das DTUs II e III resultaram nas populações das DTUs V e VI (Adaptado de Westenberger e cols., 2005). Em outro modelo, “Três Ancestrais” (Freitas, 2006), é proposto o seguinte cenário para a evolução das populações de T. cruzi: em um passado distante existiam no mínimo 3 clados ancestrais determinados como T. cruzi I, II e III, associando, também, com os resultados encontrados nos estudos de isoenzimas desenvolvido por Miles e colaboradores (1978). Provavelmente, T. cruzi II e III tiveram seus nichos ecológicos sobrepostos, definindo assim as condições necessárias para uma hibridização pudesse ocorrer. No mínimo, dois eventos de hibridização distintos teriam produzido progênies viáveis. Em ambos os eventos, o doador citoplasmático para o resultado identificado por análises mitocondriais, seria T. cruzi III, derivando híbridos heterozigotos divididos em dois grupos diferentes, DTUs V e VI, demonstrando esse parentesco das cepas híbridas através das reconstituições de haplótipo (figura 1.6). 16 Figura 1.6. Diagrama representando o modelo “Três Ancestrais” proposto para as cepas de T. cruzi. Retângulos indicam as DTUs diferentes. Fusão de duas células e troca genética é indicada pelas formas ovais com contribuição parental indicada pelas flechas vermelhas (Retirado de Zingales, 2012, adaptado de Freitas 2006). 1.3.2. Epidemiologia e patologia das DTUs Desde a descoberta da doença em 1909, a heterogeneidade das cepas do parasito tem sido considerada como um fator importante em diferentes apresentações clínicas da doença. Em 1971, Zigman Brener publicou um trabalho ressaltando apresentando a influência diferenças de cepas diferentes morfológicas, potencial em infecção experimental, de infecção das células hospedeiras, sensibilidade aos mecanismos efetores do sistema imune, bem como os níveis, ascendência, declínio e picos de parasitemia encontrados, observando esses padrões por cinco anos de estudo e incentivando uma gama de trabalhos nesta área. Estudos de comportamento biológico e relação parasito-hospedeiro têm ajudado a compreender a importância de diferentes subtipos do parasito na 17 determinação das manifestações clínico-patológicas da doença de Chagas. As cepas de T. cruzi representam subespécies baseadas em características intrínsecas como a composição antigênica (Andrade e cols., 1981), morfologia (Brener, 1965), susceptibilidade à quimioterapia (Brener e cols., 1976; Andrade e cols., 1985), padrões de isoenzimas (Miles e cols., 1978; Miles, 1980) e perfis genômicos de kDNA (Morel e cols., 1980), Para a identificação dos isolados, também foram considerados a relação parasito-hospedeiro, onde alguns estudos extensivos de características biológicas de isolados e perfil histopatológico em animais experimentais trouxeram a oportunidade de agrupá-las (Andrade, 1974, Andrade e Magalhães, 1997), discriminando alguns fenótipos comportamentais e morfobiológicos de T. cruzi em modelos murinos, utilizando critérios como virulência (capacidade de multiplicação no hospedeiro) e patogenicidade (habilidade de produzir lesões teciduais e respostas imunológicas). Nestes estudos, foram relacionados os 3 fenótipos encontrados, denominados biodemas, com alguns grupos de T. cruzi definidos por marcadores moleculares, como zimodemas I, II e III. A distribuição das DTUs em diferentes áreas endêmicas é importante para demonstrar sua influência nas manifestações locais da doença de Chagas. Deste modo, diversos trabalhos se dedicam a realizar comparações epidemiológicas com a patologia apresentada pelos indivíduos infectados (Figura 1.7). TcI é a mais abundante e amplamente dispersa entre todas as DTUs nas Américas. Sua distribuição geográfica corresponde à dispersão dos triatomíneos pelo continente americano e pode estar associada com os ciclos silvestre e doméstico. A infecção humana com TcI está concentrada no norte da América do Sul e na América Central e está associada com cardiomiopatia chagásica. Há apenas alguns casos discrepantes de infecção e doença no sul da bacia amazônica (Coura, 2007; Zingales e cols, 2012;). Em infecções experimentais em camundongos, os isolados compreendidos neste grupo se mostraram como isolados de baixa multiplicação com picos de parasitemia altos e tardios, de cerca de 20 a 30 dias após a infecção, e mortalidade tardia, geralmente a partir de 30 dias depois da infecção; predominância de formas largas e miotropismo, com envolvimento nos músculo esquelético e miocárdio (Andrade, 1974, Monteiro e cols., 2013; Pereira e cols., 2014), incluindo sinais de cardiomiopatia moderada em camundongos C57B/6 (Pereira e cols., 2014). TcII é encontrada predominantemente nas regiões central e sul da América do Sul – no Brasil é encontrada nas regiões sul, sudeste, centro-oeste e nordeste – mas 18 sua verdadeira extensão ainda não está clara. Dentro de sua principal distribuição geográfica, TcII está associada com manifestações cardíacas, e concomitantes megaesôfago e megacólon podem estar presentes. Essa DTU tem sido isolada principalmente dos ciclos de transmissão doméstica (Miles e cols., 1981; Fernandes e cols., 1999; Zingales e cols., 1999; Lisboa e cols., 2007). As cepas correspondentes à DTU II em infecção experimental em modelo murino se apresentaram com baixa multiplicação e picos irregulares de parasitemia, cerca de 12 a 20 dias depois da infecção, quando a mortalidade alcança o máximo; predominância de formas largas, miotropismo, com envolvimento predominantemente cardíaco (Brener, 1971; Andrade, 1974; Franco e cols, 2003; Rodrigues e cols., 2013; Sales-Campos e cols., 2014). TcIII é frequentemente associada com o ciclo silvestre no Brasil e em países adjacentes. Infecções humanas documentadas são raras. TcIII silvestre é associada com o nicho terrestre e com Dasypus novemcinctus, sobre um vasto alcance do oeste da Venezuela ate o Chaco argentino (Llewellyn e cols., 2009; Marcili e cols., 2009). Tc III também é isolada ocasionalmente de cães domésticos (Chapman e cols., 1984; Cardinal e cols., 2008). Em 2007, Coura reportou alguns casos de infecção aguda causados por TcIII na região amazônica. TcIV está associada com o ciclo silvestre no norte da América do Sul e na região amazônica, ocorrendo com certa frequência em humanos, é a causa secundária de doença de Chagas na Venezuela (Miles e cols., 1981; Coura, 2007; Zingales e cols., 2012). Recentemente, Meza e cols. (2014) demonstraram o potencial de uma cepa pertencente ao grupo TcIV em camundongos, onde foi visto um nível baixo de parasitemia, além de baixa mortalidade, enquanto Monteiro e colaboradores (2013) apresentaram resultados diametralmente opostos, demonstrando que os resultados em infecção experimental devem ser avaliados cautelosamente, principalmente devido à heterogeneidade dentro de cada DTU. Tc V e VI são duas DTUs híbridas similares, associadas com doença de Chagas nas regiões central e sul da América do Sul. Isolados de ciclo silvestre são virtualmente desconhecidos (Zingales e cols., 2012). Quando a patogenia da DTU V é analisada através de infecção experimental em camundongos, as cepas se apresentam com rápida multiplicação, parasitemia máxima e mortalidade de 7 a 11 dias depois da infecção; predominância de formas mais delgadas e tropismo por macrófagos durante a fase inicial da infecção. Alterações neurais são mais 19 frequentes e intensas nas infecções deste tipo (Brener, 1971; Andrade, 1974; Franco e cols, 2003; Rodrigues e cols., 2013; Sales-Campos e cols., 2014). Embora haja uma tendência em apontar barreiras para a distribuição dos genótipos de T. cruzi, este processo deve ser analisado de forma dinâmica, uma vez que as características dos ciclos doméstico e silvestre do parasito estão cada vez mais próximas. Com isso, existe a possibilidade da epidemiologia das DTUs estar sendo subestimada na área endêmica da doença de Chagas. DTU Manifestação TcI Cardiomiopatia clínica TcII TcIII TcIV TcV TcVI Cardiomiopatia Casos agudos, Dados clínicos Cardiomiopatia Cardiomiopatia Megassíndrome dados clínicos desconhecidos Megassíndorme Megassíndrome desconhecidos Figura 1.7. Distribuição geográfica aproximada das DTUs de T. cruzi nos ciclos de transmissão doméstico e silvestre, e manifestações clínicas (Modificado de zingales, 2012) 20 1.4. Aspectos Clínicos da doença de Chagas Doença de Chagas ocorre em duas fases: aguda e crônica. A fase inicial da infecção ou fase aguda pode durar de 4 a 8 semanas, quando gradativamente se instala a fase crônica, que persiste por toda a vida do portador (Laranja e cols., 1956; WHO, 2002). 1.4.1. Fase aguda Na maioria dos indivíduos, independente do mecanismo de transmissão, a doença de Chagas aguda é assintomática, provavelmente devido à carga parasitária razoavelmente pequena (Rassi Jr e cols., 2010, Kirchhoff & Rassi Jr., 2011). Os sintomas se desenvolvem por volta de 8 a 10 dias depois da invasão pelos parasitos, ou entre 20 e 40 dias depois da transfusão de sangue infectado com T. cruzi, incluindo febre prolongada, alargamento desconfortável do fígado, baço e linfonodos, e edema subcutâneo (localizado ou generalizado). No caso da transmissão vetorial clássica, pode haver sinais da porta de entrada do T. cruzi, reconhecida pelo chagoma desenvolvido na pele, que seria uma área endurecida eritematosa e inchada, enquanto a entrada por meio das membranas da mucosa ocular produz o sinal de Romaña, o clássico achado na doença de Chagas aguda, que consiste de um edema indolor unilateral da pálpebra e tecidos perioculares. A infecção inicial no local de entrada do parasito é caracterizada pela presença de tripomastigotas infectivos em leucócitos e células dos tecidos subcutâneos, e pelo desenvolvimento de edema intersticial, infiltração linfocitária, e hiperplasia reativa de linfonodos adjacentes. Depois da disseminação através do sistema linfático e da corrente sanguínea, parasitos se concentram principalmente nos músculos (incluindo o miocárdio) e células ganglionares. Nessa fase, o indivíduo pode apresentar manifestações sistêmicas, tais como: edema localizado ou generalizado, aumento de linfonodos, alterações exantemáticas, esplenomegalia, hepatomegalia, comprometimento cardíaco e manifestações nervosas (Prata, 2001; Rassi Jr e cols., 2012) A ocorrência de mortes em pacientes na fase aguda é baixa (< 5 - 10% dos casos sintomáticos) sendo resultante além da miocardite grave, a meningoencefalite grave (apesar de ser rara), ou ambas. Apesar de ser rara, a insuficiência cardíaca é 21 a principal causa das mortes na fase aguda da doença (Prata, 2001; WHO, 2002; Rassi Jr e cols., 2010; Kirchhoff & Rassi Jr., 2011;;,). 1.4.2. Fase crônica A fase crônica começa de 2 a 3 meses depois da infecção inicial, quando as manifestações clínicas da fase aguda (se presentes) serão resolvidas em virtualmente todos os indivíduos infectados, mesmo se a infecção não tiver sido tratada com drogas tripanossomicidas (Rassi Jr e cols., 2010). A maior parte dos indivíduos (60 - 70% da população infectada) desenvolverá a forma indeterminada da doença de Chagas crônica caracterizada pela presença de sorologia específica e ausência de manifestações clínicas, isto é, sem anormalidades eletrocardiográficas e/ou radiológicas no coração, esôfago ou cólon. Essa fase pode persistir por alguns meses até uma vida inteira (WHO, 2002). 1.4.3. Forma cardíaca Os pacientes remanescentes (30 a 40%) irão desenvolver uma forma clínica aparente – cardíaca (20 a 30%), digestiva (10 a 15%, principalmente megaesôfago e megacólon) ou cardiodigestiva – geralmente 10 a 30 anos depois da infecção inicial (Prata, 2001; Marin-Neto e cols., 1999; 2010; Rassi e cols., 2000, 2010). A cardiopatia chagásica crônica é caracterizada, do ponto de vista anatomopatológico, por áreas de infecçao que acarretam em fibrose que substituem o tecido muscular cardíaco, gerando a destruição das fibras do coração, do sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático e pela presença de um exsudato inflamatório ativo e progressivo. Além disso, observa-se cardiomegalia e alteração do tecido muscular cardíaco. Aneurisma apical do ventrículo esquerdo é frequente e, em certos casos, pode ocorrer tromboembolia e sinais de congestão passiva (Rassi Jr e cols., 2012). Somente eletrocardiograma (ECG) pode mostrar bradicardia sinusal, bloqueio atrioventricular de primeiro grau (distúrbio de condução elétrica através do nó atrioventricular), QRS de baixa voltagem (picos baixos, associado à fibrose) ou mudanças primárias de ondas T. Uma radiografia do tórax pode mostrar graus variáveis de cardiomegalia e QT prolongado é indicador de prognóstico. A repetição 22 do ECG e radiografia do tórax é crucial para a detecção destas anormalidades (Rassi e cols., 2000). A disfunção ventricular é destacada como o principal marcador prognóstico. De acordo com a I Diretriz latino-americana para o diagnóstico e tratamento da cardiopatia chagásica, a Sociedade Brasileira de Cardiologia recomenda a realização do ecocardiograma, dada a sua ampla disponibilidade nos dias atuais, como parte da avaliação inicial de pacientes com sorologia positiva, e sempre que houver mudanças no quadro clínico ou eletrocardiográfico. Esta avaliação auxilia a classificar os pacientes crônicos entre as seguintes categorias, de acordo com a gravidade das manifestações: forma indeterminada (tipo A) - Pacientes sob risco de desenvolver insuficiência cardíaca congestiva (ICC). Possuem sorologia positiva, não têm cardiopatia estrutural ou sintomas de ICC. Também não têm alterações digestivas. Forma cardíaca sem disfunção ventricular (B1) - Pacientes com cardiopatia estrutural, Evidenciada por alterações eletrocardiográficas ou ecocardiográficas, mas com função ventricular global normal e sem sinais e sintomas atuais ou prévios de ICC. Forma cardíaca com disfunção ventricular: (B2)Pacientes com cardiopatia estrutural, caracterizada por disfunção ventricular global, mas sem sinais e sintomas prévios ou atuais de ICC, (C) - Pacientes com disfunção ventricular e com sintomas prévios ou atuais de ICC. (New York Heart Association I, II, III ou IV) e (D) - Pacientes com sintomas refratários de ICC em repouso, apesar de tratamento clínico otimizado, necessitando intervenções especializadas (SBC, 2011). A morte cardíaca súbita associada à doença arrítmicaé responsável por quase dois terços de todas as mortes em doença de Chagas cardíaca, seguida por insuficiência cardíaca refratária (25-30%) e tromboembolismo (10-15%) (Rassi Jr e cols., 2010). 1.4.4. Forma digestiva A forma digestiva da doença de Chagas é caracterizada por alterações nas funções motoras, secretoras e de absorção do esôfago e trato gastrintestinal (Rassi Jr. e cols., 2010). Lesões do sistema nervoso entérico são cruciais na patogênese das megassíndromes digestivas de Chagas. A estrutura mais frequentemente afetada é o plexo mioentérico, que é localizado entre as camadas musculares cardíaca e longitudinal do trato digestivo. Denervação ocorre em graus variáveis, 23 irregular e não continua, e provavelmente depende dos fatores do hospedeiro e do parasito. O esôfago e o cólon distal, devido a sua fisiologia, são os segmentos frequentemente mais comprometidos. A denervação leva à perda de coordenação motora e acalasia dos esfíncteres, dificultando estes segmentos de se esvaziar de materiais semissólidos, assim causando dilatação; este é o mecanismo fisiopatológico desenvolvido no megaesôfago e megacólon chagásicos. O exame radiológico é essencial para confirmar o diagnóstico e estágio da doença a partir das características morfofuncionais do esôfago, diferenciando em quatro grupos, sendo decisivo para a seleção da terapia adequada (Rassi Jr. e cols., 2010). Segundo Dias (2000), um dos fatores que constitui a gênese das diferenças regionais na prevalência da forma digestiva da doença de Chagas, está provavelmente relacionado às diferenças nas cepas/DTUs do parasito. Esta apresentação clínica predomina no Brasil central e Chile e ainda não foi identificada na Venezuela e América Central (Miles e cols., 2009; Zingales e cols., 2012). 1.4.5. Forma cardiodigestiva A forma cardiodigestiva é uma combinação de doença cardíaca com megaesôfago ou megacólon, ou ambos. Na maior parte dos países, o desenvolvimento de megaesôfago geralmente precede o acometimento do coração e doença do cólon, mas a prevalência exata da forma de cardiodigestiva não é conhecida (Rassi Jr e cols., 2012). 1.5. Diagnóstico O diagnóstico da infecção aguda é baseado na detecção direta do parasito. O exame microscópico do sangue não coagulado fresco ou a camada leucocitária é a maneira mais simples de ver tripomastigotas móveis. Parasitos também podem ser vistos em esfregaços corados com Giemsa ou por gota espessa (Rassi Jr e cols., 2010; Kirchhoff & Rassi Jr., 2011). Microhematócrito pode ser utilizado para o mesmo propósito, e é o método de escolha para a identificação da infecção congênita, devido à sua sensibilidade e à pequena quantidade de sangue necessária. O exame microscópico do sangue do cordão umbilical ou sangue 24 periférico do recém-nascido por esta técnica é fortemente recomendado durante o primeiro mês de vida. O teste sorológico não é útil no diagnóstico de doença de Chagas aguda. Embora a detecção de anticorpos anti-T. cruzi imunoglobulina M (IgM) poderia ser utilizada (ver Fig. 1.8A), ensaios sorológicos IgM são pouco específicos (Rassi Jr e cols., 2010; Kirchhoff & Rassi Jr., 2011). Na fase crônica, devido à baixa e, provavelmente, intermitente parasitemia, o diagnóstico baseia-se na detecção sorológica de anticorpos imunoglobulina G específica (IgG) que se ligam ao T. cruzi (ver Fig. 1.8A). Ensaio imunoadsorvente ligado à enzima (ELISA), imunofluorescência indireta (IFI) e hemaglutinação indireta são os métodos mais comuns utilizados. Dois resultados positivos a partir de qualquer um dessas três técnicas convencionais são recomendados para um diagnóstico final (Ministério da Saúde, 2005). A Figura 1.8 mostra o perfil da evolução sorológica e parasitológica durante as fases aguda e crônica da doença de Chagas, em função da administração ou ausência de quimioterapia específica antiT. cruzi (extraído de Rassi Jr e cols., 2012). 25 Figura 1.8. Evolução sorológica e parasitológica durante a infecção aguda e crônica da doença de Chagas. (A) Pacientes não-tratados. Uma a duas semanas após a infecção com T. cruzi, indivíduos apresentam a fase aguda com duração aproximada de até 2 meses. Essa fase da doença é caracterizada por intensa parasitemia, altos níveis de imunoglobulinas IgM anti- T. cruzi e aumento dos níveis de imunoglobulinas G (IgG). Com o término da infecção aguda, a parasitemia reduz significativamente em função do aumento de imunoglobulinas IgG, as quais atingem um nível elevado que pode persistir por toda a fase crônica da infecção. (B) Pacientes tratados e curados. A cura na fase aguda é acompanhada por negativação da parasitemia, observada imediatamente após o tratamento etiológico. A negativação da sorologia pós-tratamento ocorre após cerca de 1 ano para doença 26 de Chagas congênita, e após 3 a 5 anos nos casos de transmissão vetorial. Pacientes tratados e não curados apresentam uma resposta similar àquela dos pacientes não tratados. Fonte: Adaptado de Rassi Jr e cols., 2012. A baixa parasitemia durante a fase crônica resulta em que hemocultura e xenodiagnóstico apresentem baixa sensibilidade para a detecção do parasito. No entanto, estes métodos podem ser utilizados para confirmar o diagnóstico em casos de resultados duvidosos para identificar falhas no tratamento em centros especializados quando PCR não está disponível (Rassi Jr e cols., 2010; Kirchhoff & Rassi Jr., 2011). A avaliação inicial de um paciente recém-diagnosticado com infecção crônica por T. cruzi inclui um histórico médico completo e exame físico, e um ECG em repouso (Rassi Jr e cols., 2010). Pacientes assintomáticos com ECG normal têm um prognóstico favorável e devem ser acompanhados anualmente ou semestralmente. Pacientes com alterações eletrocardiográficas compatíveis com cardiomiopatia chagásica devem ser submetidos a uma avaliação cardiológica de rotina, incluindo um monitoramento Holter ambulatorial de 24 horas (juntamente com um teste de exercício sempre que possível) para detectar arritmias e avaliar a capacidade funcional, radiografia de tórax e ecocardiograma bidimensional para avaliar a função ventricular, e outros testes cardiológicos como indicados. Os resultados desses testes devem ser usados para estratificar pacientes individuais por risco e implementar terapia apropriada (Rassi Jr e cols., 2006, 2007, 2009). A ingestão de bário e enema são indicados para pacientes com sintomas da forma digestiva. 1.5.1. Diagnóstico molecular Apesar de seu pouco uso no diagnóstico de rotina, a PCR tem maior sensibilidade do que os outros métodos parasitológicos e, portanto, poderia ser útil para confirmar o diagnóstico em casos de sorologia inconclusiva e como método auxiliar para monitorar o tratamento. PCR pode identificar a falha do tratamento pela detecção positiva de DNA de T. cruzi, mas não o sucesso do tratamento, porque os resultados negativos de PCR, mesmo repetidas, não indicam necessariamente a cura parasitológica. Na melhor das hipóteses, estes resultados indicam a ausência de DNA do parasito no momento do teste (Rassi Jr e cols., 2010; Kirchhoff & Rassi Jr., 2011). 27 Recentemente, pesquisadores reconheceram a necessidade de padronizar e validar ensaios baseados em PCR para o diagnóstico e gerenciamento entre laboratórios e países (Schijman e cols., 2011). A PCR quantitativa (qPCR) faz o monitoramento em tempo real da reação, ou seja, conforme a amplificação está ocorrendo, ocorre uma emissão de fluorescência das que é medida a cada ciclo da reação, onde a intensidade da mesma atua como um indicador da quantidade de amplicons (produtos de PCR) produzida. A implementação de ensaios de PCR quantitativa para determinar a carga parasitária e acompanhar a evolução pós-tratamento poderia ser particularmente útil como um indicador da resposta terapêutica durante o quadro prolongado da doença de Chagas (Vallejo and Reyes, 2005; Marin-Neto e cols., 2009). Métodos de PCR em tempo real mostraram bons resultados para quantificação acurada da carga de T. cruzi em amostras de sangue periférico de pacientes infectados (Piron e cols., 2007; Duffy e cols., 2009; Moreira e cols., 2013). De modo geral, o verdadeiro potencial de PCR em tempo real foi reconhecida em situações pelas quais técnicas baseadas em PCR foram propostas, como em infecção congênitas (Schijman e cols., 2003; Burgos e cols., 2007), monitoramento da parasitemia acompanhando o tratamento etiológico (Russomando e cols, 1998; Britto e cols., 2001; revisado por Britto, 2009), detecção precoce de relapsos após o transplante do coração (Burgos e cols., 2010; Maldonado e cols., 2004) e outras circunstâncias imunossupressoras (Burgos e cols., 2005, 2008; de Freitas e cols., 2011). Atualmente, esforços têm sido feitos para padronizar qPCR para a quantificação de T. cruzi em amostras sanguíneas. Seguindo as recomendações do workshop internacional promovido pela PAHO/WHO em 2011, Duffy e cols. (2013) reportaram a performance analítica de qPCR multiplex para a quantificação de DNA satélite de T. cruzi em amostras de sangue. Eles observaram uma extensão dinâmica (linearidade) de 1 a 105 Eq. Par./mL para um isolado de TcI (Silvio X10) e 0,17 a 105 Eq. Par./mL para um isolado de TcVI (CL Brener). Em adição, para o isolado CL Brener, foi observado um Limite de Detecção (LOD) e Limite de Quantificação (LQ) de 0,6979 e 1,531 Eq. Par./mL, respectivamente, em reações utilizando DNA obtido de amostras de sangue não-fervido. O estudo da patogênese da Doença de Chagas ainda possui muitas lacunas. As características intrínsecas às diferentes subpopulações de T. cruzi, ou o 28 somatório delas, parecem interferir na patogênese da Doença de Chagas. A utilização de metodologias que possibilitam medir a carga parasitária e genotipar os subtipos de T. cruzi em amostras sanguíneas de indivíduos infectados permitiria descrever com maior precisão o estado clínico desses indivíduos, além de ser de grande utilidade na avaliação de prognóstico. Assim, neste estudo, utilizamos PCR em Tempo Real, empregando a tecnologia TaqMan em um sistema multiplex com alvo na sequência satélite do DNA nuclear de T. cruzi e como controle interno o gene da enzima RNAse P humana, no esforço de realizar a quantificação da carga parasitária, além de um sistema de genotipagem multilocus intra-específica de T. cruzi recomendado por um consenso internacional (Zingales e cols., 2009), para contribuir com uma acurada caracterização molecular de isolados, possibilitando a identificação de genótipos diretamente de amostras sanguíneas de pacientes crônicos buscando identificar correlações entre DTUs infectivas, carga parasitária e apresentação clínica da doença de Chagas. 29 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo Geral do Trabalho Avaliar a carga parasitária e genotipagem de T. cruzi como biomarcadores da doença de Chagas, a partir de sangue periférico de pacientes portadores da doença de Chagas Crônica, procurando estudar uma possível correlação entre as subpopulações do parasito, a parasitemia e o prognóstico da doença. 2.2. Objetivos Específicos • Realizar o diagnóstico molecular e avaliar a carga parasitária em amostras de sangue periférico dos pacientes portadores da doença de Chagas crônica, por PCR em tempo real; • Padronizar a tipagem molecular de T. cruzi por PCR multilocus, a partir de amostras de cultura, amostras reconstituídas e de sangue de pacientes crônicos, de acordo com o recomendado pelo consenso para a genotipagem de T. cruzi; • Genotipar o T. cruzi diretamente a partir do DNA extraído das amostras de sangue dos pacientes positivos pela PCR em Tempo Real; • Correlacionar os dados obtidos nos itens acima com idade, sexo, sintomatologia e área endêmica de origem, visando observar a possível relação entre carga parasitária e DTU na Doença de Chagas. 30 3. METODOLOGIA 3.1. Causística e recrutamento dos pacientes portadores de doença de Chagas Os pacientes atendidos no ambulatório do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI) foram recrutados, assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (anexo 8.1) anterior à coleta das amostras de sangue. Todas as amostras foram coletadas antes de qualquer tratamento. As amostras foram submetidas a dois exames sorológicos, imunofluorescência indireta (IFI) e ELISA (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay), antes de seu encaminhamento para o Laboratório de Biologia Molecular e Doenças Endêmicas – IOC-FIOCRUZ. O estudo foi simples cego, onde os pesquisadores não tiveram acesso aos dados ou critérios de seleção dos pacientes, incluindo resultados sorológicos ou de ECG, até o término dos experimentos de diagnóstico molecular. Ao final do estudo, foi revelado que 65 indivíduos possuíam sorologia positiva para T. cruzi, e 92 eram soronegativos. Do total de 157 indivíduos, 71 apresentavam alguma alteração eletrocardiográfica. 3.2. Aspectos éticos: As amostras de sangue de pacientes que foram utilizadas são referentes ao Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Fundação Oswaldo Cruz (CEP IPEC 007/2007) (anexo 8.2). 3.3. Cultivo de células: Formas epimastigotas de Trypanosoma cruzi obtidas da Coleção de Protozoários do IOC (ColProt), pertencentes a subpopulações classificadas entre as DTUs I a VI, como as cepas Dm28c (TcI), Y (TcII), INPA 3663 (TcIII), INPA 4167 (TcIV), e CL (TcVI) foram mantidas em cultura axênica em meio BHI (“Brain Heart Infusion”) a 28°C. O clone Bug2149 (TcV) foi gentilmente cedido pela Prof. Dra. Bianca Zingales. As passagens foram realizadas no 7° dia de crescimento (1,0 mL de células + 1,0 mL de soro fetal bovino + 400 µL de Hemina (0,004 g/mL) + 7,6 mL de BHI), recolhidas por centrifugação (3000 xg por 10'), lavadas em PBS (Tampão fosfato salino: NaCl 8,5 g/L, Na2HPO4.2H2O 1,55 g/L, NaH2PO4.H2O 0,23 g/L, pH 7,2), ressuspensas em 500 µL de PBS e contadas em Câmara de Neubauer. 31 3.4. Coleta e preparo das amostras de sangue Os voluntários participantes desse estudo consentiram em doar 10 mL de sangue venoso, que foi coletado em tubo Vacuntainer (BD) contendo apenas EDTA e adicionado imediatamente ao mesmo volume (1:1) de solução de lise contendo cloridrato de guanidina 6M (Guanidina-HCl) e ácido etilenodietildinitritotetracético (EDTA) 0,2M/pH=8,0 (Avila e cols., 1991). O lisado de sangue foi dividido em dois tubos identificados com diferentes códigos. As amostras foram armazenadas a 4ºC até o encaminhamento ao Laboratório de Biologia Molecular e Doenças Endêmicas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) para a realização da metodologia molecular de detecção e tipagem do parasito. As amostras foram fervidas em banho-maria a 100°C durante 15 minutos, como padronizado por Britto e cols. (1993) e mantidas em temperatura ambiente. Após 24 h, as amostras foram submetidas à extração de DNA ou estocadas a 4°C até o momento da extração. 3.5. Extração de DNA O DNA foi extraído de 300 µL de lisado de sangue previamente preparado, como citado anteriormente. A purificação do DNA total foi realizada em colunas de sílica, utilizando o Kit “QiAamp DNA Mini Kit” (QIAGEN), seguindo o protocolo do fabricante, com as modificações descritas a seguir. Foram pipetados 30 µL de proteinase K no fundo de um microtubo de 1,5 mL, acrescentados 300 µL de amostra (sangue previamente preparado, como citado anteriormente ou obtida da cultura de células) e 200 µL de Tampão de lise AL, homogeneizando por 15 segundos manualmente. Em seguida, incubados à 56ºC por 10 minutos. Após esse tempo, foram adicionados 200 µL de etanol (96-100%) à amostra e, novamente, homogeneizados manualmente, por 15 segundos. O conteúdo foi aplicado cuidadosamente na coluna do kit e centrifugado a 6000 ×g (8000 RPMs) por 1 minuto, seguido do descarte o tubo coletor contendo o filtrado. Um novo tubo coletor de 2 mL foi acoplado à coluna e adicionados 500 µL de tampão de lavagem AW1 e centrifugado a 6000 ×g (8000 RPMs) por 1 minuto. Acoplados à outro tubo coletor de 2 mL, descartando o tubo coletor contendo o filtrado, foram adicionados 500 µL de tampão de lavagem AW2 e centrifugados a 32 20000 ×g (14000 RPMs) por 3 minutos. Em seguida, descartando o tubo coletor contendo o filtrado, a coluna foi acoplada a um microtubo eppendorf de 1,5 mL e centrifugada a 20000 ×g (14000 RPMs) por 3 minutos, para eliminar qualquer possível resíduo de tampão AW2. Para eluir o DNA, a coluna foi acoplada a um microtubo eppendorf de 1,5 mL e foram adicionados 100 µL de tampão de eluição AE, incubados à temperatura ambiente (15-25 ºC) por 10 minutos e centrifugados a 6000 ×g (8000 RPMs) por 1 minuto. O DNA obtido foi estocado à -20°C até ser utilizado. 3.6. Tipagem molecular do T. cruzi em DNA extraído de amostras de sangue A caracterização molecular do T. cruzi em DTUs foi realizada seguindo metodologias descritas em Burgos e col. (2007) e Ramirez e col. (2010), baseadas em reações de PCR convencional multilocus (tabela 3.1). A identificação subsequente dos genótipos se baseia no conjunto dos perfis dos produtos de PCR apresentados para cada alvo, utilizando os seguintes marcadores moleculares (como ilustrado na figura 3.1.): A região intergênica do gene do Spliced Leader utilizando os iniciadores TCC, TC1 e TC2 (descrito por Souto e cols., 1996, adaptado por Marcet e cols., 2006) diferenciando Tc I (350 pb), Tc II, V e VI (300 pb) e Tc III e IV (não são amplificados). O domínio variável D7 do gene da subunidade 24Sα do RNA ribossomal, utilizando os iniciadores D75, D76 e D71 em semi-nested PCR, para distinguir Tc II e VI (140 pb), Tc III (125 pb), Tc IV (140/145 pb) e Tc V (125 ou 125+140 pb) (Brisse e cols., 2000a). A região do fragmento nuclear A10 utilizando, em semi-nested, os iniciadores Pr1, P6 e Pr3 (Brisse e cols., 2000b) para diferenciar Tc II (690/580 pb) e Tc VI (630/525 pb). As reações de amplificação foram preparadas em um volume total de 25 µL. Esta reação consistiu de 12,5 µL de GoTaq® Green Master Mix (GoTaq® DNA polimerase, tampão pH 8,5, dATp 400 µM, dGTP 400 µM, dCTP 400 µM, dTTP 400 µM e MgCl2 3 mM), 1,25 µL de cada primer (solução estoque: 25 µM para o alvo SL-IR, 10 µM para os demais alvos), 5 µL de H2O e 5 µL de DNA. . 33 Tabela 3.1. Condições de PCR para a tipagem molecular. Alvo Iniciadore s Sequência Concentração SL-IR I e II 24Sa-rDNA Primeira rodada Segunda rodada Fragmento A10 Primeira rodada Segunda rodada TCC TC2 TC1 CCCCCCTCCCAGGCCACACTG CCTGCAGGCACACGTGTGTG TCCGCCACCTCCTTCGGGCC 2 µM 2 µM 2 µM D76 D75 GGTTCTCTGTTGCCCCTTTT GCAGATCTTGGTTGGCGTAG 0,5 µM 0,5 µM D76 D71 GGTTCTCTGTTGCCCCTTTT AAGGTGCGTCGACAGTGTGG 0,5 µM 0,5 µM Pr1 P6 CCGCTAAGCAGTTCTGTCCATA GTGATCGCAGGAAACGTGA 0,5 µM 0,5 µM Pr1 Pr3 CCGCTAAGCAGTTCTGTCCATA CGTGGCATGGGGTAATAAAGCA 0,5 µM 0,5 µM Termociclagem D 94°C/1’ 94°C/30’’ 94°C/1’ 94°C/1’ 94°C/1’ 94°C/1’ 94°C/1’ 94°C/1’ A 67°C/1’ 65°C/1’ 63°C/1’ 61°C/1’ 60°C/1’ 57°C/1’ 55°C/1’ 58°C/1’ E 72°C/1’ 72°C/1’ 72°C/1’ 72°C/1’ 72°C/1’ 72°C/1’ 72°C/1’ 72°C/1’ C 5 5 5 30 5 5 5 35 94°C/1’ 94°C/1’ 94°C/1’ 94°C/1’ 60°C/1’ 57°C/1’ 55°C/1’ 58°C/1’ 72°C/1’ 72°C/1’ 72°C/1’ 72°C/1’ 5 5 5 35 D: desnaturação, A: anelamento, E: extensão, C: ciclos. Figura 3.1. Algoritmo para caracterização molecular das DTUs de T. cruzi baseada em três marcadores. 3.7. Eletroforese em gel de agarose Os ensaios de eletroforese foram realizados em cuba horizontal, empregando géis de agarose a 2,5% (Agarose [Sigma]+ LM SIEVE Agarose [BioAmerica]), proporção 1:1), preparados em TBE 1X [0,089 M Trizma base; 0,088 M Ácido Bórico; 0,0027 M EDTA, pH=8]. Alíquotas de 25 ou 30 µL dos produtos da PCR foram aplicadas no gel. A eletroforese foi conduzida por 2,5 horas a 80 V. O peso molecular dos produtos de PCR foi determinado em comparação aos marcadores de 34 peso molecular de 50 bp ou 100 pb (DNA Ladder- Invitrogen Life Technologies®) incluído nos géis. Os produtos de PCR foram visualizados sob luz ultravioleta, após coloração dos géis com corante Nancy-520® (Sigma Life Science) [5 µg/mL]. Todos os géis foram analisados e as imagens registradas através de um sistema fotográfico de documentação em gel - UVP Bioimaging Systems (Upland, CA, USA). 3.8. Sequenciamento dos produtos Para a confirmação da genotipagem, alguns produtos de PCR obtidos foram purificados utilizando o kit GenElute™ PCR Clean-Up (Sigma-Aldrich), seguindo o protocolo do fabricante. Os DNAs foram então sequenciados em um sequenciador de DNA automatizado Applied Biosystems ABI Prism 3730, na Plataforma de Sequenciamento de DNA (PDTIS-Fiocruz), utilizando o kit ABI PRISM BigDye® Terminator 146 v3.1 Cycle Sequencing Ready Reaction (Perkin-Elmer Applied 147 Biosystems Division), seguindo as instruções do fabricante e utilizando 3,2 pmol dos oligonucleotídeos utilizados nas reações de PCR e 6,5 µL de produto. As sequências de nucleotídeos obtidas foram alinhadas com as sequências dos respectivos genes de referência utilizando o software MEGA 4.0 (Clustal W). 3.9. Reação em cadeia da polimerase quantitativa em tempo real (qPCR ) A parasitemia dos pacientes foi quantificada através de ensaios de PCR em Tempo Real multiplex, baseado na tecnologia TaqMan (Applied Biosystems) que padronizamos no Laboratório de Biologia Molecular e Doenças Endêmicas do IOC/FIOCRUZ (Moreira e cols., 2013). Para a quantificação da carga parasitária de T. cruzi presente nos lisados de sangue (Guanidine EDTA Blood - GEB), foram realizados ensaios de PCR em tempo real com um alvo direcionado para o DNA nuclear satélite de T. cruzi e um alvo para o gene da RNAse P humana, como um controle interno da reação. Para tal, foram selecionados os iniciadores e sonda para as sequências repetidas do DNA nuclear satélite de T. cruzi: Cruzi 1 (5’- AST CGG CTG ATC GTT TTC GA- 3´) e Cruzi 2 (5´- AAT TCC TCC AAG CAG CGG ATA- 3´), que amplificam um fragmento de 166 pares de base, e a sonda TaqMan Cruzi 3 (5’FAM CAC ACA CTG GAC ACC AA-3’MGB), conforme descrito por Piron e cols. (2007). Para o alvo RNAse P, foi utilizado o kit TaqMan Human RNase P detection 35 reagent (Life Technologies). Para permitir a realização do ensaio em multiplex, a sonda TaqMan para RNase P foi marcada com o repórter 5’-VIC e o quencher 3’TAMRA. As concentrações finais dos reagentes foram: 1 X TaqMan Universal Master Mix (Life Technologies); 0,5X reagente de detecção da RNase P; 300 nM dos iniciadores Cruzi 1 e Cruzi 2; 100 nM sonda TaqMan (Cruzi 3), 2 µL de DNA, em um volume final de 20 µL de reação. As amostras foram amplificadas em termociclador ABI Prism 7500 Fast (Life Technologies, Foster City, CA), nas seguintes condições de ciclagem térmica: um passo de 2 minutos a 50°C, seguido de uma etapa de 10 minutos a 95°C e 40 ciclos de amplificação (15 segundos a 95°C e 1 minuto a 58°C). Foram realizados ensaios de quantificação absoluta, onde em cada placa de PCR em tempo real foi inserida uma curva padrão de DNA extraído de lisado de sangue humano (comprovadamente livre de infecção por T. cruzi) em guanidinaEDTA (GEB), contaminado artificialmente com epimastigotas de T. cruzi, cepa CL Brener. Para tal, alíquotas de 300 µL de GEB foram contaminadas artificialmente com 105 epimastigotas de T. cruzi/mL, seguido da extração de DNA, conforme o protocolo descrito no item 3.5. A curva padrão foi construída a partir de diluições seriadas do DNA obtido acima, com fator 1:10 e 1:2, atingindo concentrações que variaram de 104 a 0,5 equivalentes de parasito/mL. Como diluente, foi utilizado um pool de DNA humano, extraído de 8 alíquotas de 300 µL de GEB não contaminado, seguindo a mesma metodologia. DNA do GEB contaminado com T. cruzi foi diluído em série em um pool do DNA do GEB não contaminado (10 µL DNA de GEB contaminado + 90 µL DNA de GEB não contaminado, exceto pelo último ponto da curva, de 0,5 equivalentes a parasita/mL: 50 µL DNA de GEB contaminado (100 equivalentes de parasito/mL) + 50 µL GEB não contaminado), para obter as seguintes concentrações: 104, 103, 102, 101, 100, 0,5 parasitos/mL (figura 3.2). Cada diluição foi correspondente a um ponto que compôs a curva padrão para quantificação absoluta da parasitemia dos pacientes deste estudo. A curva padrão foi incluída em todos os ensaios quantitativos, em duplicatas para cada ponto da curva. 36 Figura 3.2. Diluição da curva padrão. Todas as amostras foram quantificadas em duplicatas e todas as placas de ensaios de qPCR contiveram controles positivos (DNA extraído de GEB contendo 0,5 parasito/µL), e controles negativos (NTC: Negative Template control - 5 µL água ultrapura, e Controle negativo para T. cruzi: 5 µL DNA extraído a partir de 200 µL de lisado de sangue de indivíduo comprovadamente não infectado). Para a análise dos resultados, as amostras foram consideradas válidas quando o controle interno (gene humano da RNase P) foi amplificado com um valor de Ct (Threshold cycle) estatisticamente semelhante aos Cts obtidos para todas as demais amostras extraídas em paralelo. As amostras com valores de Ct para a RNAse P que foram diferentes dos demais (outliers) foram descartadas e reextraídas. Foi considerada positiva qualquer amostra cujas respectivas curvas de amplificação para o alvo T. cruzi, em duplicata, tenham ultrapassado o threshold (definido em 0,02). Além disso, as amostras na mesma placa de PCR foram consideradas apenas se os controles negativos (NTC) da reação de PCR e de extração de DNA apresentassem resultado de fato negativo. Nos casos em que controle negativo apresentou um resultado positivo, todo o experimento foi repetido. 37 3.10 Análises estatísticas: Os experimentos foram feitos em duplicatas. Os dados foram expressados com medianas aritiméticas. Teste-T ou teste Mann-Whitney foram usados para avaliar a significância das diferenças observadas, de acordo com a análise prévia de normalidade dos dados. Um valor p menor que 0,05 foi considerado estatisticamente significante. Todas as análises foram executadas com GraphPad Prism 5 (GraphPad Software, Inc.) 38 4. RESULTADOS 4.1. Descrição da população de estudo A população estudada foi constituída por 157 indivíduos recrutados no serviço do ambulatório do INI. Destes, 92 apresentaram sorologia negativa para T. cruzi e 65 com sorologia positiva. Dentre os 36 indivíduos soropositivos que foram submetidos ao exame ECG, 72,2% apresentaram a forma cardíaca da doença, enquanto 29 pacientes não foram avaliados. No grupo dos pacientes soronegativos, 51,1 % apresentavam alterações cardíacas, e quatro não foram avaliados (Tabela 4.1). Tabela 4.1. Resultados eletrocardiográficos dos pacientes. Através das análises feitas por eletrocardiograma, os pacientes foram divididos em dois grupos, com forma cardíaca e sem forma cardíaca. Sorologia Alteração cardíaca Sem alteração cardíaca Total Positiva Negativa n (%) n (%) 45 (51,1) 26 (72,2) 43 (48,9) 10 (27,8) 88 36 Através dos dados obtidos dos pacientes, realizamos uma análise segmentar da origem, faixa etária e gênero dos indivíduos. Desta forma, dentre os pacientes soropositivos, não houve grande diferença entre os gêneros, sendo 31 indivíduos do gênero feminino e 30 pertencentes ao masculino, tendo 4 com gênero não informado. Através da estratificação da faixa etária, identificamos que a maior parte dos indivíduos se encontra na faixa entre 40 e 69 anos (79,4%), sendo 34,9 % acima dos 60 anos (figura 4.1). 39 Figura 4.1. Relação entre faixa etária e sorologia para T. cruzi da população estudada. Gráfico demonstrando a variação da faixa etária apresentada pelos pacientes deste estudo, indicando uma ocorrência maior entre 40 e 69 anos. Em relação à naturalidade dos pacientes, a maioria é advinda da região nordeste do Brasil, principalmente Bahia (23,1%) e Ceará (18,5%), uma parcela da região sudeste (MG e RJ) e alguns da região centro-oeste e sul (Tabela 4.2). Neste estudo, não houve a participação de nenhum paciente da região norte do Brasil. É importante ressaltar, ainda, que a maior parte dos participantes mora ou morou em área rural. Tabela 4.2. Naturalidade dos indivíduos com sorologia positiva para T. cruzi. Estado BA CE MG AL PB PE RJ NA GO RN RS SE Números de soropositivos 15 12 10 6 6 4 4 4 1 1 1 1 40 % 23,1 18,5 15,4 9,2 9,2 6,2 6,2 6,2 1,5 1,5 1,5 1,5 4.2. Avaliação da carga parasitária A figura 4.2 demonstra um exemplo de curva padrão construída a partir de DNA extraído de lisado de sangue humano em guanidina-EDTA (GEB), contaminado artificialmente com epimastigotas de T. cruzi, da cepa CL Brener e diluído em DNA humano. Cada quadrado vermelho representando um ponto da curva padrão. Na figura 4.3 estão representadas curvas de amplificação (amplification plot) geradas pelo equipamento ABI Prism 7500 durante os ensaios de quantificação. Eq. Par./mL Figura 4.2: Curva padrão com 6 pontos da diluição de DNA de T. cruzi (CL Brener) em sangue contendo guanidina-EDTA para a verificação do desempenho de amplificação pelo sistema TaqMan, através da avaliação dos parâmetros da curva padrão: Eficiência 104,5% e R2:=0,99. Ciclo Figura 4.3: Curvas de amplificação do ensaio de qPCR – sistema TaqMan para o alvo DNA satélite de T. cruzi. Eixo X: número de ciclos; Eixo Y: fluorescência normalizada e descontada da linha de base (∆Rn). A linha horizontal no gráfico (em vermelho) corresponde ao Threshold, estipulado arbitrariamente em 0,02 em todos os ensaios. 41 Todas as amostras de pacientes coletadas foram avaliadas quantitativamente para o diagnóstico molecular e a estimativa da carga parasitária. Ainda, as amostras foram validadas pelo uso do controle interno, o gene humano da RNase P, utilizado em multiplex no sistema TaqMan de qPCR. Dos 157 pacientes, 64 se mostraram positivos por qPCR, sendo 35 entre os que apresentaram sorologia positiva, duas amostras de cada paciente tiveram suas cargas parasitárias avaliadas e comparadas, apresentando valores aproximados (figura 4.4). A mediana da carga parasitária de todos os pacientes com sorologia positiva foi de 3,12 Eq. par./mL, apresentando um intervalo interquartil de 1,55 a 14,86, com a carga variando entre 0,0,23 e 153,7 Eq. par./mL, onde a maioria dos pacientes apresentou uma carga abaixo de 10 eq. par./mL (figura 4.5). A comparação da parasitemia entre os pacientes com ou sem manifestação cardíaca, não apresentou diferença estatisticamente significativa (P < 0.0884), mas apresentou diferenças entre as medianas demonstradas, onde uma mediana de 2,46 (1,49-8,87) para pacientes cardíacos e 14,86 (2,53-19,38) para pacientes sem forma cardíaca aparente, bem como uma mediana de 4,038 para pacientes que não tiveram manifestações clínicas avaliadas (figura 4.6). As análises das cargas parasitárias das amostras soronegativas, mas que possuíram resultado da PCR em Tempo Real positivo, indicaram uma mediana de 0,94 Eq. Par/mL, com a carga variando entre 0,06 e 13,52 Eq. Par./mL. Pacientes com alterações cardíacas apresentaram uma mediana de 1,10 Eq. Par/mL de suas cargas parasitárias, enquanto aqueles sem alterações aparentes no coração tiveram um valor de 0,76 Eq. Par./mL em sua mediana e, apenas um paciente soronegativo não foi examinado por ECG, apresentando uma carga de 13,52 Eq. Par./mL. 42 Figura 4.4. Comparação da reprodutibilidade da quantificação da carga parasitária por qPCR de amostras distintas do mesmo paciente. As amostras foram divididas em duas durante a coleta, extraídas e quantificadas separadamente por qPCR com alvos para DNA satélite de T. cruzi e RNase P como controle interno. O gráfico representa a comparação entre suas quantificações apresentando uma boa reprodutibilidade da técnica. A linha horizontal pontilhada apresenta o limite de quantificação da técnica. Figura 4.5. Carga parasitária do total dos pacientes com sorologia positiva anti-T. cruzi. A carga parasitária dos pacientes foi quantificada por PCR em tempo real e os valores apresentados representam a media das duas amostras sanguíneas 43 obtidas para cada paciente. A linha horizontal representa a mediana dos valores de carga parasitária. A linha horizontal pontilhada apresenta o limite de quantificação da técnica. Figura 4.6. Correlação entre carga parasitária de pacientes soropositivos com diferentes formas clínicas. A carga parasitária dos pacientes foi quantificada por PCR em tempo real e os valores apresentados representam a media das duas amostras sanguíneas obtidas para cada paciente. A linha horizontal representa a mediana dos valores de carga parasitária dentro de cada grupo. NA: alterações cardíacas não avaliadas. A linha horizontal pontilhada apresenta o limite de quantificação da técnica. Ao buscar relação entre a carga parasitária e o sexo do paciente, a distribuição da carga entre os gêneros foi estatisticamente semelhante (P=0,4589). Entretanto, foi possível observar uma mediana de 4,758 eq. par./mL (1,391-15,10) para o sexo feminino e 2,558 eq. par./mL (1,576-7,685) para indivíduos infectados do sexo masculino (figura 4.7). O gênero de três pacientes não foi informado. 44 Figura 4.7. Comparação entre carga parasitária e gênero dos pacientes. A partir dos dados obtidos na quantificação da carga parasitária, foi feita a comparação entre as cargas apresentadas com o gênero dos pacientes. A linha horizontal representa a mediana dos valores. A linha horizontal pontilhada apresenta o limite de quantificação da técnica. Para comparar a sensibilidade e especificidade clínicas para o diagnóstico molecular por PCR em tempo real a partir de amostras de sangue, a sorologia foi considerada como padrão ouro (tabela 4.3). A positividade da qPCR apresentou 58,8 % de sensibilidade e 60,9 % de especificidade. Tabela 4.3. Sensibilidade e especificidade clínicas da PCR em tempo real Sorologia+ Sorologian % n % qPCR+ 40 58,8 36 39,1 qPCR28 41,2 56 60,9 Total 68 92 45 4.3. Tipagem molecular 4.3.1. Genotipagem em amostras de cultura de T. cruzi A tipagem molecular foi realizada utilizando um algoritmo de marcadores moleculares criado a partir da combinação de dois algoritmos já publicados (Burgos e cols., 2010; Ramirez e cols., 2010). Para padronizar este algoritmo, inicialmente realizamos a genotipagem em epimastigotas obtidos de cultura axênica, utilizando cepas/clones de referência. Os marcadores moleculares foram avaliados nos seguintes isolados: Dm28c (DTU I), Y (DTU II), 3663 (DTU III), 4167 (DTU IV), Bug2149 (DTU V) e CL (DTU VI). Estas foram distinguidas através da análise do perfil dos fragmentos obtidos e visualizados em gel de agarose (figura 4.8). Para a região intergênica do Spliced Leader (SL-IR I e II) foi possível distinguir a DTU I, que apresentou uma banda de 350 pb, e as DTUs II, V e VI, que apresentaram uma banda de 300 pb, enquanto a cepa 4167 (DTU IV) não apresentou amplificação. Utilizando uma PCR semi-nested para a subunidade ribossomal 24S-α, foi possível distinguir DTU V, que apresentou uma banda de 125 pb, de DTU II e VI, que apresentaram banda em torno de 140 pb, além disso, a DTU III apresentou um perfil de 125 pb, mas pode ser diferenciada analisando-a em conjunto com o primeiro marcador molecular. Para discriminar a DTU II (580 pb) da VI (525 pb) foi utilizada uma PCR semi-nested para a região A10. Em todas as PCRs, não foram observadas bandas equivalentes aos tamanhos esperados, para amostras de sangue não infectado (controles negativos). 46 Figura 4.8: Tipagem molecular de Trypanosoma cruzi em amostras de cultivo. A. Região intergênica I e II do Spliced Leader (SL-IR-I e II), M: marcado de peso molecular de 50 pb. Amostras: 1: contole negativo; 2: T. cruzi Dm28c; 3: T. cruzi Y; 4: T. cruzi 4167; 5: branco. B. Gene da subunidade ribossomal 24S-α, M: marcado de peso molecular de 50 pb. Amostras: 1: Branco; 2: controle negativo; 3: T. cruzi Y; 4: T. cruzi 3663; 5: Bug2149; 6: T. cruzi CL. C. Fragmento nuclear A10. M: marcador molecular de 100 pb, 1: Branco, 2: T. cruzi Y, 3: T. cruzi CL, 4: controle negativo. 47 4.3.2. Sequenciamento dos produtos Foi feito o seqüenciamento de DNA do produto amplificado dos alvos supracitados, para a comprovação de especificidade das bandas observadas nas PCRs. Todas as sequências foram submetidas ao BLASTn e confirmadas com cobertura e identidade próximas de 100%, bem como um E-value abaixo de 5 em todas (tabela 4.4). Tabela.4.4. Alinhamento BLASTn (banco de dados NCBI) das sequências de DNA dos produtos de PCR, para cada alvo de genotipagem Cepas DTU N° acesso no NCBI Descrição Query cover Identidade E value Região intergênica I e II do Spliced Leader (SL-IR-I e II) Dm28c I EF626693.1 Y II U57984.1 Sequência TransSplicedLeaderMini-exon de Trypanosoma cruzi, região repetida Gene SplicedLeader de Trypanosoma cruzi cepa CL, sequência repetida 100% 100% 4e-13 100% 95% 1e100 97% 95% 3e-54 98% 93% 4e-85 100% 96% 1e-91 100% 88% 1e-21 100% 99% 3e-26 100% 99% 1e-38 Gene da subunidade ribossomal 24S-α α Gene RNA ribossômico 24S Alpha de Trypanosoma cruzi, sequência parcial Gene RNA ribossômico 24S Alpha de Trypanosoma cruzi, sequência parcial Y II GQ303145.1 3663 III GQ303145.1 Bug2149 V GQ303145.1 CL VI GQ303145.1 Gene RNA ribossômico 24S Alpha de Trypanosoma cruzi, sequência parcial Fragmento A10e de Trypanosoma cruzi cepa CL Brener Trypanosoma cruzi 24S alpha ribosomal RNA gene, partialsequence Fragmento nuclear A10 Y II AJ133198.1 CL VI EF394303.1 Trypanosoma cruzi isolate PAH265 RAPD marker A10 fragment 48 4.3.3. Limite de detecção da tipagem molecular Para avaliar a sensibilidade da técnica e, assim, sua posterior aplicabilidade ao genotipar T. cruzi de amostras de sangue de pacientes crônicos, foi feita a tipagem molecular em sangue humano artificialmente contaminado com T. cruzi, utilizando seis cepas/clones (Dm28c, Y, 3663, 4167, Bug2149 e CL) em concentrações de 104 até 0,5 eq. par./mL. O clone Dm28c apresentou o perfil de 350 pb para o marcador molecular utilizando o Spliced Leader, o que é esperado para as cepas pertencentes ao TcI. Enquanto, a cepa Y com um perfil de 300 pb, correspondente ao perfil encontrado nas cepas do grupo TcII. Quando avaliadas para a região 24Sα do RNA ribossomal, as cepas correspondentes à TcII, TcIV e TcVI (Y, 4167 e CL, respectivamente) apresentaram uma banda de 140 pb. Nesse mesmo experimento, foi observado o perfil de 125 pb apresentado pelas exemplares de TcIII (3663) e TcV (Bug2149). O resultado apresentado para o fragmento nuclear A10 possibilitou diferenciar TcII de TcVI, com 580 pb e 525 pb, respectivamente. Através da análise dos produtos obtidos nas reações descritas acima, foi visto que as diferentes amostras, quando analisadas por todos os marcadores, apresentaram um perfil global diferente. Sendo possível identificá-las e diferenciá-las como DTUs, além de apresentar uma alta sensibilidade, principalmente os dois primeiros marcadores, os quais todas as cepas apresentaram perfil de banda mesmo em amostras com 0,5 eq. par./mL, apesar de que o marcador para o fragmento A10 amplificou bandas com perfis distintos nas concentrações de 1 e 0,5 eq. par./mL (figuras 4.9, 4.10 e 4.11). 49 Figura 4.9. Limite de detecção da tipagem molecular para a região intergênica I e II do Spliced Leader, em sangue artificialmente contaminado com T. cruzi.Cada curva representa uma cepa/clone de T. cruzi contendo de 104 a 0,5 equivalentes de parasito/mL. Poços 1-6: Dm28c, 7-12: Y, M: marcador molecular de 100 pb. 50 M 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 Tc II Tc III Tc IV 140 pb 125 pb M 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 Tc V Tc VI 140 pb 125 pb Figura 4.10. Limite de detecção da tipagem molecular para o gene da subunidade ribossomal 24S-α α, em sangue artificialmente contaminado com T. cruzi. Cada curva representa uma cepa/clone de T. cruzi contendo de 104 a 0,5 equivalentes de parasito/mL. Poços 1-6: Y, 7-12: 3663, 13-18: 4167, 19-24: Bug2149, 25-30: Cl , 31: Branco. 51 M 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Tc VI Tc II 580 pb 530 pb Figura 4.11. Limite de detecção da tipagem molecular para o alvo no fragmento nuclear A10, em sangue artificialmente contaminado com T. cruzi. Cada curva representa uma cepa de T. cruzi contendo de 104 a 0,5 equivalentes de parasito/mL. Poços 1-6: Y, 7-13: CL, 13: Branco, M: marcador molecular de 100 pb. 52 4.3.4. Tipagem molecular de T. cruzi em amostras de pacientes portadores da doença de Chagas Todas as amostras com resultado positivo em qPCR foram submetidas à tipagem molecular, utilizando os marcadores do algoritmo apresentado. Para o primeiro alvo, região intergênica I e II do Spliced Leader, todas as amostras positivas foram testadas, e as que apresentaram um perfil de banda de 300 pb foram consideradas TcII/V/VI, as que não amplificaram poderiam ser TcIII ou IV. Nenhuma amostra amplificou com uma banda de 350 pb, o que indicaria Tc I (figura 4.12). Ao utilizar o segundo marcador, região da subunidade ribossomal 24Sa, pudemos distinguir TcII e VI (140 pb) de TcIII (125 pb) e TcV (125 pb). Para algumas amostras, não foi possível observar nenhuma amplificação para este alvo. Porém, como elas haviam amplificado com uma banda de 300 pb para o alvo SL-IR I e II, foram denominadas como Tc II/V/VI. O marcador do fragmento nuclear A10 foi utilizado para diferenciar TcII de TcVI, apresentando bandas de 580 pb e 525 pb, respectivamente. Mais uma vez, amostras que amplificaram para os dois marcadores anteriores com perfil de DTU II ou VI, mas não para o fragmento A 10, foram denominadas como Tc II/VI. Figura 4.12. Gel representativo da tipagem molecular de Trypanosoma cruzi em amostras de pacientes portadores da doença de Chagas. A. Região intergênica do Spliced Leader (SL-IR I e II). M, marcador de peso molecular 50 pb, 1-18: Amostras de pacientes, 2: 357, 3: 374, 4: 375, 5: 377, 6: 391, 7: 393, 8: 394, 9: 412, 10: 420, 11: 421, 12: 425, 13: 451, 14: 453, 15: 483, 16: 488, 17: 500, 18: 353, 19: 53 branco; 19: controle Tc I, 20: controle Tc II. B. Região do gene da subunidade 24Sα. M: marcador molecular de 100 pb, 1: Branco, 2-20: Amostras de pacientes; 2: 35, 3: 41, 4: 44, 5: 59, 6: 70, 7: 78, 8: 91, 9: 105, 10: 111, 11: 116, 12: 125, 13: 147, 14: 219, 15: 224, 16: 235, 17: 277, 18: 377, 19: 391, 20: 393, 21: controle Tc II, 22: controle Tc III. C. Região correspondente ao Fragmento nuclear A 10. M: marcador molecular de 100 pb, 1-19: Amostras de pacientes; 1: 495, 2: 103, 3: 482, 4: 18, 5: 212, 6: 318, 7: 219, 8: 423, 9: 248, 10: 494, 11: 134, 12: 239, 13: 49, 14: 330, 15: 47, 16: 480, 17: 17, 18: 444, 19: 412, 20: Branco, 21: controle Tc II; 22: controle Tc VI, M: Padrão de 100 pb. As duas amostras de cada paciente foram avaliadas por tipagem molecular e somente chegamos a uma conclusão após a análise de ambos os resultados (tabela 4.5). Dos 64 pacientes genotipados, apenas 4 apresentaram algum resultado discrepante. Porém, em alguns casos, só foi possível realizar a genotipagem em uma das duas amostras. Quanto às DTUs encontradas, a mais abundante foi TcVI (37,5%), além da ocorrência de TcV (10,9%), TcII (9,3%) e, pela primeira vez descrita em um paciente crônico, TcIII (1,6%). Interessantemente, encontramos algumas coinfecções, sendo oito casos de TcII+VI (12,5%), além de um caso de TcIII+V (1,6%) e um último caso de TcV+VI (1,6%). Entretanto, em alguns casos, não conseguimos distinguir totalmente qual DTU estava presente (23,4%). Os genótipos encontrados entre os pacientes soropositivos foram TcII (3 pacientes), TcV (2 pacientes), TcVI (10 pacientes), TcII+VI (4 pacientes), TcIII+VI (1 paciente), TcII/VI (3 pacientes) e TcII/V/VI (1 paciente). Enquanto que entre as amostras dos pacientes soronegativos identificamos os seguintes genótipos de T. cruzi: TcIII (1 paciente), TcV (5 pacientes), TcVI (9 pacientes), TcII+VI (2 pacientes), TcV+VI (1 paciente), TcII/VI+V (1 paciente) e TcII/V/VI (4 pacientes). 54 Tabela 4.5. Comparação entre a tipagem molecular de T. cruzi nas duas amostras de sangue dos pacientes com sorologia positiva. Paciente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 27 Amostras 259 26 482 18 495 103 83 34 375 489 463 334 212 318 480 444 219 423 107 197 134 353 17 342 200 307 431 286 202 238 388 484 150 498 320 485 434 245 452 50 54 284 374 104 78 105 261 110 243 415 302 228 II X X X X X X III V VI II/VI II/V/VI Resultado II II II X II X X II II X X X X X X X II/VI II/VI X X II+VI X X X II+VI II+VI X X X X X II+VI II+VI X X III+VI X V X X V X X X X X X X X VI VI VI VI X X 55 II/V/VI II/VI X X X X II/V/VI II/VI X X II/V/VI VI Paciente 28 29 30 31 32 33 34 35 Amostras 450 476 377 411 91 171 126 325 391 198 483 442 116 361 231 258 II III V VI II/VI VI X X X X X X 56 Resultado VI X X X II/V/VI VI VI VI VI VI VI 4.3.5. Distribuição geográfica das DTUs Sendo as duas mais encontradas nos pacientes, as DTUs II e VI foram as mais dispersas em relação à naturalidade dos pacientes, estando presentes em seis e sete estados, respectivamente (figura 4.13). Interessantemente, dois casos de TcV foram identificados na Bahia. Além disso, alguns pacientes apresentaram infecção mista, aqueles advindos de quatro estados (AL, CE, PB e RJ), TcII+VI e, outros dois apresentaram TcIII+VI e TcV+VI (BA e RJ, respectivamente). Figura 4.13. Distribuição geográfica das DTUs de T. cruzi. Correlacionando a naturalidade dos pacientes com o resultado da tipagem molecular, foi possível traçar um mapa de distribuição. O número de pacientes que foi apresentado por cada DTU está indicado dentro dos heptágonos. 57 4.3.6. Comparação entre forma clínica e DTUs de T. cruzi. Devido à diversidade da apresentação clínica avaliada entre os pacientes crônicos (com ou sem manifestação cardíaca aparente), buscamos comparar as DTUs encontradas circulante no sangue periférico do paciente à manifestação da doença. Embora o número de pacientes seja pequeno, entre os dados obtidos foi possível identificar, entre as amostras de pacientes com sorologia positiva, a prevalência da forma cardíaca nas DTUs V, onde 2 pacientes apresentavam alteração cardíaca, e VI, com 8 pacientes com a forma cardíaca e 2 sem forma cardíaca aparente, enquanto o contrário foi visto nos infectados por TcII, 1 e 2 pacientes, forma cardíaca aparente e não parente, respectivamente (figura 4.14). Além disso, aqueles coinfectados com TcII e TcVI apresentaram o mesmo número entre forma cardíaca e indeterminada, 2 pacientes em cada grupo. Pacientes com sorologia negativa apresentaram resultados similares, onde aqueles identificados com TcV, 3 possuiam alguma alteração cardíaca e 2 não. O mesmo foi visto para TcVI, pois 7 desses pacientes apresentavam alteração eletrocardiográfica em seus corações e 2 não. Enquanto foi visto o mesmo número de pacientes com ou sem alteração para àqueles infectados por TcII+VI (1 para cada). Três pacientes infectados com TcIII, TcV+VI e TcII/VI+V, respectivamente, não apresentavam qualquer alteração cardíaca aparente e, entre os infectados por TcII/V/VI, dois apresentavam alterações e dois não. Figura 4.14: Comparação entre manifestação da doença e o genótipo de T. cruzi entre os pacientes soropositivos 58 4.3.7. Comparação entre o genótipo de T. cruzi e a carga parasitária. Com o objetivo de verificar se existe uma relação entre o isolado de T. cruzi e a carga parasitária nos pacientes crônicos, foi feita uma comparação entre as cargas parasitárias e as DTUs do parasito. A figura 4.15 mostra o resultado obtido, observando que o os pacientes infectados por TcII apresentaram cargas parasitárias mais altas, seja em uma infecção simples ou mista, que foram significativamente distintas dos pacientes infectados com TcV ou TcVI. Não obstante, os pacientes que apresentaram infecção por TcVI tiveram as cargas mais diversas, incluindo a carga mais elevada encontrada nesse estudo e uma mediana apresentando um valor intermediário. Interessante ressaltar que os pacientes com infecções mistas pelas TcII+VI apresentaram uma mediana com valor intermediário entre TcII e TcVI, separadamente. Quando comparamos a carga parasitária com manifestação cardíaca para cada genótipo, os indivíduos infectados com TcVI que apresentavam alterações cardíacas possuiam uma carga parasitária bastante variável, enquanto que aqueles com TcV possuiam uma carga parasitária menor, em relação às outras DTUs. Interessante ressaltar que uma proporção menor de indivíduos com forma cardíaca, em relação aos sem alteração, foi vista quando em coinfecção por TcII e TcVI. Nenhuma comparação entre suas cargas apresentou diferença significativa. Figura 4.15. Relação entre carga parasitária e DTU. Símbolos em preto: pacientes sem manifestações cardíacas. Símbolos em vermelho: pacientes com manifestações cardíacas. Símbolos brancos: pacientes não avaliados por ECG, 59 5. DISCUSSÃO Em virtude das pobres perspectivas de tratamento e ausência de intervenção imune contra a infecção aprovada para uso humano, a Doença de Chagas representa, ainda hoje, um sério problema na saúde pública em várias regiões das Américas e Europa. Nesse sentido, a busca de métodos acurados para o diagnóstico molecular, quantificação da carga parasitária e tipagem molecular do parasito ainda se mostra um grande desafio. É bastante provável que a diversidade genética do T. cruzi deva interferir na patogênese da Doença de Chagas. Porém, até o presente momento, poucas comparações foram realizadas para suportar esta premissa. Neste estudo, buscamos utilizar um sistema de genotipagem multilocus intra-específica de T. cruzi recomendado por um consenso internacional (Zingales e cols., 2009), para contribuir com uma acurada caracterização molecular de isolados, possibilitando a identificação de genótipos diretamente de amostras sanguíneas de pacientes crônicos. A genotipagem de populações de T. cruzi oriundas de pacientes pode fornecer informações relevantes acerca da correlação entre os principais subgrupos de T. cruzi e aspectos clínicos da infecção. Com isso, estaremos fornecendo novas informações para um maior entendimento da complexidade e dinâmica da diversidade do parasito na história natural da doença de Chagas humana. Alterações eletrocardiográficas em indivíduos com sorologia positiva para a doença de Chagas precedem ao aparecimento de outros sintomas, como anormalidades ao exame físico e ao estudo radiológico do tórax (Marques e cols., 2006). Devido à fácil execução e ao baixo custo, o ECG é o exame mais difundido e executado na prática clínica, além de ser um método não invasivo, reprodutível e de grande acurácia para o diagnóstico (Rassi Jr e cols, 2012). Os pacientes deste estudo, que fazem parte da coorte atendida no ambulatório do Instituto Nacional de Infectologia da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, foram submetidos ao exame ECG, onde mais de 70% apresentaram a forma cardíaca da doença. Em relação à naturalidade dos pacientes, a maioria é advinda da região nordeste do Brasil, uma parcela da região sudeste e alguns da região centro-oeste e sul, como mostrado na tabela 4.2. Importante ressaltar, ainda, que a maior parte mora ou morou em região rural. Conforme mostrado por Zingales e cols. (2012), os 60 estados de origem da maior parte da população de estudo estão dentro da área de ciclo de transmissão doméstica vetorial para, pelo menos, duas DTUs, embora acredita-se que possa existir um quadro epidemiológico subestimado, devido à falta de tipagem molecular do parasito em pacientes infectados. Recentemente, foi publicada uma revisão sobre a prevalência da doença de Chagas no Brasil, baseada em estudos publicados de 1980 até 2012 (Martins-Melo e cols., 2014) incluindo alguns dos estados apontados nesse estudo (como CE, BA, PE, PA, MG e GO), o que corrobora com o nosso estudo. Além disso, nossos dados ampliam essa visão, apresentando casos de infecção por T. cruzi nos estados de AL e RJ. Apesar do controle da transmissão através do principal vetor, uma considerável prevalência da doença de Chagas ainda é observada em algumas áreas no Brasil, com declínio nas últimas décadas. Estudos baseados na sistemática da população em níveis regionais e nacional são necessários para prover estimativas acuradas, identificar áreas de alto ricos e para planejar e acessar medidas de controle sistemáticas no Brasil (Martins-Melo e cols., 2014). Ao comparar o número dos indivíduos infectados de cada gênero, não observamos diferença, onde 34 dos pacientes soropositivos eram do sexo feminino e 32 do sexo masculino. Deste modo, nossos dados corroboram com o que foi apresentado por Costa-Junior e Maia (2009), que mostrou que homens e mulheres apresentam probabilidades semelhantes para desenvolver doenças. Quando buscamos comparar as idades no grupo de pacientes com sorologia positiva para T. cruzi, identificamos que a maior parte dos indivíduos se encontra na faixa entre 40 e 69 anos, sendo um terço destes acima dos 60 anos. Isto foi similar ao encontrado por outros autores em que a faixa etária foi em torno de 46,9 +/- 10,1 anos (Gomes e cols., 2000; Costa e cols., 2009). Com isso, podemos deduzir que menos casos novos estão ocorrendo e que a população infectada está envelhecendo, assim como apontado por Martins-Melo e cols. (2014), o que é reflexo do controle vetorial aplicado com sucesso desde 2006 no Brasil (WHO, 2012). Porém, não foi possível identificar alguma relação entre a idade e o sexo com o fato do indivíduo estar infectado por T. cruzi, o que também foi encontrado nos dados de Melo e cols. (2009), apontando que outros fatores possam ser mais influentes em relação à doença de Chagas. Este trabalho corresponde a um estudo simples cego, realizado com pacientes portadores de doença de Chagas crônica que não receberam o tratamento etiológico, e apresentavam ou não manifestações cardíacas aparentes. De cada 61 paciente, foi retirada uma alíquota de 10 mL de sangue venoso, que foi dividida em duas partes idênticas, para a realização dos ensaios moleculares em duplicata e comparação dos resultados. Com o DNA obtido das amostras de sangue dos pacientes, foram realizados ensaios para a quantificação da carga parasitária e genotipagem do parasito. Inicialmente, observamos que as cargas parasitárias variaram de 0,06 e 153,7 Eq. par./mL, com mediana de 3,01 Eq. par./mL para os soropositivos e 0,94 q. par./mL para os soropositovos, sendo que a maioria dos pacientes apresentou uma carga abaixo de 10 eq. par./mL (figura 4.4 e 4.5). Isto está de acordo com dados existentes na literatura (Moreira e cols., 2013), que mostram a baixa carga parasitária de pacientes do Brasil. De maneira geral, as cargas estimadas para o par de amostras de sangue correspondente ao mesmo paciente foram concordantes (p=0.5798), indicando umaboa precisão desta técnica (figura 4.4). Mesmo assim, algumas amostras apresentaram uma variação entre as quantificações da primeira e segunda alíquota. Tendo em vista que o sangue coletado foi dividido em duas alíquotas logo após a coleta, e considerando a elevada viscosidade deste tecido, é possível que a carga parasitária não tenha sido dividida homogeneamente entre as duas alíquotas, o que justificaria tais discrepâncias. Em nosso estudo, obtivemos uma sensibilidade de 58,8% e uma especificidade de 60,9%, para o diagnóstico molecular realizado pela PCR em Tempo Real, quando comparado aos testes sorológicos. Utilizando os mesmos oligonucleotídeos utilizados em nosso estudo (cruzi1/cruzi2 e a sonda TaqMan cruzi3), Duffy e cols. (2009) reportaram valores de sensibilidade entre 60,3 e 100% para a detecção de T. cruzi em amostras de sangue de pacientes advindos de diferentes áreas geográficas (Venezuela, Cochabamba e regiões norte e sul da Argentina), infectados por vias de transmissão diferentes (infecção oral, doença de Chagas crônica e recém-nascidos de mães com doença de Chagas crônica), e apresentando diferentes medianas da carga parasitária (2,75-691,8 eq. par/mL). Em outro estudo, Fitzwater e cols., (2008) obtiveram 60,1%, 46,5% e 40% de sensibilidade para diagnóstico molecular a partir de amostras de coágulo, capa de leucócitos e sangue total, respectivamente, em ensaios de PCR convencional utilizando os primers 121/122. Isto sugere que vários fatores possam influenciar a sensibilidade da PCR, como o alvo molecular, as metodologias para extrair o DNA e até mesmo o genótipo do parasito. 62 Para aumentar a sensibilidade da PCR, é recomendado que se coletem maiores volumes de sangue e/ou mais de uma amostra, para aumentar a probabilidade da detecção de, pelo menos, um parasito (Castro e cols., 2002; Duffy e cols., 2009; Juqueira e cols., 1996). No nosso estudo, foi feita uma coleta em um único momento, que foi dividida em dois tubos, em um volume equivalente à metade do que é sugerido na maioria dos estudos. Isto pode ter contribuído para a reduzida sensibilidade encontrada. Além disso, deve-se levar em consideração o número baixo e intermitente de parasitos circulantes durante a fase crônica, levando a momentos não favoráveis de coleta de sangue. Alguns pesquisadores sugerem que a área endêmica onde o paciente vive interfere no diagnóstico molecular, devido a diferenças de cepas de T. cruzi presentes na região, que podem influenciar na quantidade de parasitos circulantes na hora da coleta de sangue (Basquiera e cols., 2003; Junqueira e cols., 1996; Miyamoto e cols., 2006). Contudo, os resultados de sorologia negativa e PCR em Tempo Real positiva encontrados neste estudo também sugerem a necessidade de uma reavaliação dos testes sorológicos realizados anteriormente. Ao analisar as cargas parasitárias de acordo com a presença ou ausência de manifestação cardíaca da doença (figura 4.6), observamos diferenças estatísticas, além disso, a mediana dos pacientes sem forma cardíaca aparente tenha sido cerca de seis vezes mais elevada do que aquela apresentada pelos pacientes com forma cardíaca. Diferentes do que foiencontrado por Melo e cols. (2015), onde apesar da mediana das cargas serem levemente diferentes, não apresentavam diferenças estatísticas. O envolvimento cardíaco na doença de Chagas é um dos principais mecanismos responsáveis pela elevada morbidade e mortalidade. Ainda, a carga parasitária é sugerida como um dos fatores influente para a progressão do quadro clínico da doença (Nóbrega e cols., 2014; Rassi Jr e cols., 2012). Nossos resultados sutilmente apontaram para uma possível relação inversamente proporcional entre carga parasitária e progressão clínica (figura 4.6), mas acreditamos que para uma avaliação mais acurada, seria preciso uma coorte com um número maior de indivíduos. Entretanto, é possível, ainda, que outros fatores não analisados nesse estudo possam ter algum envolvimento neste resultado. Um dos fatores poderia ser o tropismo tecidual do parasito. Para os pacientes com manifestação cardíaca, poderia estar ocorrendo um acúmulo do parasito no coração, acarretando em uma diminuição da carga parasitária no sangue periférico. 63 Ao buscar relação entre a carga parasitária e o sexo do paciente, nao identificamos qualquer diferença significativa. Estudos experimentais indicam diferenças na suscetibilidade entre machos e fêmeas, onde os camundongos machos são mais suscetíveis à evolução dos sinais para cardiomiopatia grave, enquanto fêmeas tendem a apresentar sinais de cardiomiopatia moderada, apesar de que em outros estudos isso não é visto (Hauschhuka, 1947; Araújo-Jorge e cols., 1992). Por ter um número aproximado entre os indivíduos com forma cardíaca aparente ou não em ambos os sexos, talvez não tenha sido possível correlacionar a suscetibilidade à manifestação cardíaca. Deste modo, decidimos comparar as cargas parasitárias entre os sexos dos pacientes, onde identificamos uma mediana ligeiramente superior nos pacientes do sexo masculino, entre os pacientes soronegativos, enquanto o oposto foi visto entre os soropositivos. A tipagem molecular foi realizada utilizando um algoritmo de marcadores moleculares desenvolvidos a partir da combinação de dois algoritmos já publicados (Burgos e cols., 2010; Ramirez e cols., 2010). A caracterização molecular deste estudo foi feita a partir de DNA extraído diretamente das amostras de sangue dos pacientes, para evitar uma possível seleção de cepas durante o isolamento do parasito, o que poderia, por exemplo, mascarar infecções mistas dos pacientes. Como mostrado por Moreira e cols. (2013), a carga parasitária dos pacientes com cardiomiopatia chagásica crônica do Brasil, foi cerca de 20 vezes menor quando comparada com pacientes nas mesmas condições da Argentina e Colômbia. Sugerindo a necessidade de um protocolo otimizado para a tipagem molecular a partir de amostras de sangue com carga parasitária muito baixa, uma vez que os protocolos mais utilizados na atualidade foram desenvolvidos e aplicados em outros países da América Latina, incluindo os dois países supracitados. Assim, avaliamos inicialmente a tipagem molecular para parasitos de cultura (Figura 4.8), e investigamos o limite de detecção para cada alvo, a partir de amostras de sangue humano artificialmente contaminado com T. cruzi (figuras 4.9, 4.10 e 4.11), utilizando cepas de referência para cada DTU. Observamos que foi possível detectar a banda de tamanho esperado para a maioria das amostras, mesmo na concentração de 0,5 Eq. Par/mL, valor que representa uma carga parasitária condizente com as encontradas em pacientes crônicos brasileiros e com o limite de detecção da qPCR. Contudo, para o alvo no fragmento nuclear A10, que diferencia entre TcII e Tc VI, houve uma maior dificuldade em observar amplificação da banda esperada, para todas as concentrações testadas. Mesmo assim, em conjunto, este 64 algoritmo apresentou-se apto a ser aplicado para a tipagem molecular de T. cruzi a partir de amostras de sangue periférico dos pacientes crônicos. Dos 65 pacientes analisados, foi possível chegar a algum resultado de genotipagem em todos. Além disso, foi possível obter a identificação precisa da DTU presente nas amostras de sangue de 76,6% dos pacientes. Para concluir a tipagem molecular, as duas amostras foram analisadas individualmente para cada paciente. As DTUs mais encontradas foram TcVI, TcV e TcII (com ocorrência de 37,5%, 10,9% e 9,3%, respectivamente – dados relativos à tabela 4.5). A alta prevalência de TcII e TcVI está de acordo com a literatura, que aponta a distribuição de Tc II no ciclo doméstico, do nordeste ao sul do Brasil, e de TcVI em toda a região sudeste e sul, incluindo a região centro-oeste (Zingales e cols. 2012), o mapa da figura 4.13 demonstra a distribuição geográfica das DTUs encontradas neste estudo. Foi possível identificar casos de infecção mista entre a população de estudo, apresentando 12,5% para coinfecção com as DTUs II e VI. Esses casos possivelmente ocorreram devido à interseção das áreas epidemiológicas destas duas DTUs, ou à subestimação desta distribuição. Outra observação importante foi a presença de TcIII em um paciente soronegativo do estado da Paraíba e uma coinfecção de TcIII-VI em um paciente soropositivo do estado da Bahia, sendo essa uma DTU predominantemente encontrada no ciclo silvestre de transmissão. Até o presente momento, não existiam dados sobre a infecção crônica causada por TcIII, apenas a identificação de infecção aguda havia sido relatada (Coura, 2007). Interessante ressaltar que casos de infecção humana por TcV em pacientes do Brasil não haviam sido apontados até o presente momento. Mas, em nosso estudo, encontramos sete pacientes que tinham infecção com a DTU V de T. cruzi (2 soropositivos e 5 soronegativos), além de dois casos de infecção mista envolvendo este subtipo do parasito em pacientes soronegativos. Esse resultado indica que a área de transmissão doméstica de TcV pode ser mais ampla do que é conhecido, ressaltando a importância desta que é a principal DTU correlacionada à infecção por T. cruzi no Chaco Argentino e Bolívia (Monje-Rumi e cols., 2015). Mais uma vez, nossos dados mostram uma possível subestimação da distribuição geográfica dos genótipos de T. cruzi nas áreas endêmicas. A identificação de diversos pacientes com coinfecção por duas DTUs diferentes ressalta a importância da tipagem molecular diretamente do sangue, quando comparado com metodologias clássicas de isolamento do parasito, como 65 também foi apontado em outros estudos (Monje-Rumi e cols., 2015; Bosseno e cols., 2000). Entretanto, em alguns casos, não conseguimos distinguir totalmente qual DTU estava presente (23,4%). Mesmo assim, este foi um resultado ligeiramente mais sensível do que o publicado por Cura e cols. (2012) que não conseguiram genotipar 27% das amostras de sangue de pacientes de várias regiões da Argentina. Essa falta de amplificação ocorreu provavelmente devido à carga parasitária abaixo do limite de detecção dos procedimentos utilizados. Ao buscar na literatura, todas as DTUs são encontradas em humanos e quatro delas são associadas à cardiomiopatia, enquanto as TcIII e TcIV continuam com dados clínicos desconhecidos (revisado pro Zingales e cols., 2012). Devido à possibilidade de presença ou ausência de manifestação clínica aparente entre os pacientes crônicos, buscamos correlacionar a ocorrência da forma cardíaca ao genótipo do parasito. Para as DTUs V e VI, foi possível identificar um número maior de pacientes soropositivos com a forma cardíaca (2 e 8 pacientes, respectivamente) do que sem alteração cardíaca aparente, nenhum e 2 pacientes, respectivamente. Ainda, para a DTU II, o contrário foi observado (1 e 2 pacientes para as respectivas manifestações aparentes ou não). Contudo, vale ressaltar que foi observado um número igual de pacientes entre os grupos com manifestação cardíaca aparente ou não, coinfectados com TcII e TcVI, sendo 2 pacientes em cada. O mesmo perfil foi visto nos pacientes com sorologia negativa. Análises da correlação entre carga parasitária e as diferentes DTUs em modelos de infecção experimental para doença de Chagas demonstraram que cepas pertencentes à DTU VI tinham uma alta parasitemia e alto índice de mortalidade, enquanto cepas de TcII apresentavam mortalidade e parasitemia moderadas (Brener, 1971; Andrade, 1974; Franco e cols, 2003; Rodrigues e cols., 2013; SalesCampos e cols., 2014). Outros estudos avaliaram os efeitos da coinfecção por DTUs diferentes na sobrevivência e parasitemia de camundongos, onde a carga parasitária era moderada em infecções mistas quando comparada com infecções simples das mesmas cepas (Rodrigues e cols., 2013; Sales-Campos e cols., 2014). Deste modo, buscamos correlacionar as cargas encontradas com os resultados da tipagem molecular, onde pacientes com a DTU II de T. cruzi apresentaram a maior mediana de carga parasitária do estudo, quando comparada às demais DTUs (Figura 4.15), ao contrário do observado com animais de experimentação. Não obstante, pacientes que foram identificados coinfectados por TcII e VI, apresentaram uma mediana intermediária entre os valores encontrados entre as infecções para os distintos 66 subtipos, de acordo com o observado experimentalmente por Rodrigues e cols. (2013). Uma das possíveis explicações seria que a ativação do sistema imune para dois exemplares de grupos diferentes do mesmo parasito possa acarretar em uma reação cruzada, favorecendo um crescimento moderado de ambos. Um dos fatores constitutivos do sistema imune com participação dúbia é o TNF (Fator de Necrose Tumoral), que desenvolve um papel no controle de crescimento do parasito em inflamação aguda, mas que pode ser mediador direto da patogênese do dano do tecido cardíaco (Rodrigues e cols., 2013; Kroll-Palhares e cols., 2008), além de ser detectável em pacientes com CCC (D’Avila Reis e cols, 1993). Em conclusão, nossos experimentos reforçam o conhecimento epidemiológico das DTUs de T. cruzi no Brasil ao encontrar diversos pacientes infectados por TcII e TcVI, indicando, ainda, que a área de transmissão de TcV pode estar sendo subestimada. Não obstante, identificamos os primeiros casos de infecção crônica por TcIII, em dois pacientes da região Nordeste, um no estado da Paraíba e um na Bahia (em infecção mista TcIII + TcVI). Além do mais, foi mostrada uma associação maior entre TcV e TcVI com manifestação cardíaca do que entre as outras DTUs, enquanto uma carga mediana mais elevada foi mais associada ao indivíduos infectados por TcII. Levando isso em consideração, a inclusão de novos pacientes deverá ser feita para que se possa concluir com maior segurança o papel da carga parasitária e das DTUs do parasito como biomarcadores para o prognóstico da doença de Chagas. 67 6. CONCLUSÕES • A idade e o gênero dos pacientes não influenciaram na carga parasitária e/ou na manifestação clínica da doença de Chagas; • Foi possível padronizar um algoritmo de genotipagem para pacientes crônicos brasileiros, apresentando um limite de detecção de 0,5 Eq. Par/mL para tipagem de todas as DTUs; • Os genótipos TcII e TcVI foram os encontrados com maior frequência no grupo de pacientes avaliados. Além disso, foram identificados dois casos de pacientes infectados com TcV e um caso de infecção crônica por TcIII; • Diversos estados brasileiros apresentaram infecção em pacientes com mais de um tipo de DTU, seja em infecções simples ou mistas; • Observamos uma maior ocorrência da manifestação cardíaca em pacientes infectados com TcV e TcVI, e um relação inversa naqueles infectados por TcII; • A carga parasitária encontrada demonstrou que pode haver uma relação com o subtipo do parasito, uma vez que os infectados por TcII apresentaram uma mediana acima dos infectados com outras DTUs. 68 7. PERSPECTIVAS • Aumentar a coorte de pacientes estudados para uma avaliação mais acurada das diferenças encontradas; • Inclusão de pacientes com manifestações clínicas digestivas da doença de Chagas, para um estudo mais completo, investigando a correlação com a carga parasitária e as DTUs encontradas; • Realizar uma avaliação clínica mais completa dos pacientes pertencentes a este estudo, visando agrupá-los de acordo com os níveis de gravidade das manifestações cardíacas, seguindo os critérios recomendados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. 69 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Ajioka J, Swindle J. The calmodulin-ubiquitin associated genes of Trypanosoma cruzi: their identification and transcription. Mol Biochem Parasitol. 57(1):127-36, 1993. Alves CR, Albuquerque-Cunha JM, Mello CB et al., “Trypanosoma cruzi: attachment to perimicrovillar membrane glycoproteins of Rhodnius prolixus,” Experimental Parasitology, vol. 116, no. 1, pp. 44–52, 2007. 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Termo de consentimento 88 89 8.2 Parecer comitê de ética 90 91 92