EDUCAR PARA A SUSTENTABILIDADE: ALFABETIZAÇÃO ECOLÓGICA HAIDUKE, Ivonete1 - IEPPEP/SEED-PR Grupo de Trabalho - Educação e Meio Ambiente Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O presente artigo tem como tema a Sustentabilidade com ênfase na Formação Docente. Sabese que a Sustentabilidade é a garantia de sobrevivência de todos os seres viventes do planeta Terra e, para que se tenha um ambiente mais justo e igualitário, para todos, é fundamental que se construa uma sociedade mais sustentável. O referido tema aponta os benefícios das práticas sustentáveis para a formação de uma sociedade democrática, pacífica e harmoniosa nas relações entre homem-natureza e homem-homem. Portanto, nessa perspectiva, pensa-se em como formar professores, tanto para a Educação Infantil como para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental, a fim de que estes fomentem as premissas para a formação de sociedades sustentáveis a partir da escola. O trabalho emergiu do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), envolvendo 4 acadêmicos do Curso de Pedagogia2 dessa instituição de ensino superior, e o orientador local, professor na instituição de ensino da rede estadual em que esses acadêmicos desenvolvem o programa. Teve o objetivo de apresentar o tema Sustentabilidade aos educandos, no Curso de Formação de Docentes e, para esse fim, o grupo do programa PIBID realizou práticas docentes. O artigo teve como bases teóricas: Capra (2006), Freire (1987, 1996), Gadotti (2005), Pimenta e Gonçalves (1990), Razzoto (2009) e Romanowski (2007). Pôde-se, até o momento, compreender a importância do referido tema na formação docente, pois a escola tem uma importante função social que é elucidar os sujeitos de como se constitui a vida humana e como ela pode ser melhor. Palavras-chave: Sustentabilidade. Sociedade. Formação de Docentes. Introdução O presente artigo tem por objetivo apresentar análises concretas de experiências docentes no curso de Ensino Normal Médio, na formação do professor e, principalmente, 1 Mestre em Tecnologias Assistivas pela PUCPR, pedagoga, psicopedagoga, especialista em Educação Especial e professora da rede pública do Estado do Paraná, orientadora do PIBID no IEPPEP. 2 Acadêmicos do PIBID, PUCPR, que participaram e contribuíram para a realização da pesquisa: Aline De Freitas Melo, Antonio Fernando de Araújo dos Santos , Fabiele Alessa Kobai e Josiane Ferraz . 30116 encontrar, no referido curso, um olhar sobre a sustentabilidade, partindo do pressuposto que uma sociedade sustentável “faz uso da água, do solo, do ar e da vida vegetal e animal de forma que estes jamais se esgotarão, utilizam os mesmos ao mesmo tempo em que criam ações que visam preservá-los para o uso no futuro” (RAZZOTO, 2009, p. 18). Os alunos pesquisadores que compõem o grupo também fazem parte do Curso de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Para contribuir com futuras discussões sobre como acontece a Formação do Professor no ensino Médio Modalidade Normal, os alunos pesquisadores envolveram-se em práticas docentes, pesquisas e observações com o propósito de “elevar a qualidade das ações acadêmicas voltadas à formação inicial de professores” (IBGE, 2012). São destacados, neste artigo, relatos dos envolvidos e suas considerações em relação à experiência na Formação de Professores. O eixo central do projeto é o comprometimento social, educacional, formação continuada e, principalmente, uma prática pedagógica coerente e eficaz no processo ensino-aprendizagem. Por meio das pesquisas e estudos realizados buscou-se compreender um pouco mais sobre o tema Sustentabilidade e, também, levar os conhecimentos assimilados até a sala de aula, para os alunos que serão futuros professores. Pôde-se perceber que “Sustentabilidade é a capacidade de se automanter. Assim, uma atividade pode ser considerada sustentável quando é capaz de manter-se por um tempo indeterminado sem nunca se esgotar”, conforme Phillippi (apud RAZZOTO, 2009, p. 18). Os dados apresentados são resultantes das experiências de cada aluno pesquisador do PIBID, em diferentes Disciplinas Metodológicas que compõem o quadro curricular da modalidade Normal Médio, refletindo seus questionamentos e reflexões diante desta prática. O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) é uma iniciativa do Ministério da Educação do Brasil (MEC), em parceria com o Centro de Aperfeiçoamento Ensino Superior (CAPES). Foi criado com a finalidade de incentivar a formação de professores para atuarem na educação básica, visando à elevação da qualidade da escola pública brasileira e à valorização do magistério, no sentido de estimular futuros licenciados a optarem pela carreira docente de forma consciente (BRASIL, 2010). 30117 As atividades desse programa são desenvolvidas em escolas públicas e envolvem coordenadores (professores de Instituições de Ensino Superior), supervisores (profissionais da educação básica da área de atuação do projeto) e acadêmicos (graduandos de cursos de licenciatura). A integração entre universidade e escola oportuniza aos universitários das licenciaturas a participação em experiências e práticas pedagógicas, tendo a oportunidade de atuarem efetivamente junto aos educandos, desta forma incentivando as escolas da rede pública de educação básica a se tornarem protagonistas nos processos formativos dos estudantes das licenciaturas que nelas atuam, mobilizando os professores como co-formadores dos futuros profissionais da educação. De acordo com Zeichner e Noffke (2001), o conceito de prática como produção de conhecimento é essencial, pois promove o desenvolvimento individual e vai para além dos contextos privado e local, contribuindo para uma melhoria educacional e social. A experiência proporciona aos futuros professores uma efetiva reflexão sobre a prática docente, percebendo a necessidade de articular os eixos teoria/prática com a realidade contextual. Freire (1987) instiga a refletir sobre a ética na prática educativa, bem como o aprender a aprender, uma vez quando estamos ensinando, há uma reciprocidade ensinarmos e sermos ensinados. É o aprender fazendo, é o refletir na práxis. O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) contribui para que a formação inicial não seja reducionista, mas para que ofereça e desperte em cada um, alunos participantes do programa, professores, supervisores e coordenadores a necessidade de envolver-se constantemente em atividades de que possibilitem a formação continuada. De acordo com Freire (1996, p. 33), “como professor devo saber que sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino”. Nem todos os profissionais que têm, ou que receberam o conhecimento na universidade, conseguem transmiti-lo eficazmente. É necessário suporte e preparo didático para transformar esses futuros docentes em verdadeiros mediadores do conhecimento. [...] a prática pode ser vista como um processo de aprendizagem por meio do qual os professores retraduzem sua formação e a adaptam à profissão, eliminando o que lhes parece inutilmente abstrato ou sem relação com a realidade vivida e conservando o que pode servir-lhes [...]. (TARDIF, 2002, p. 53). Portanto, o programa PIBID tem importância para enriquecer o currículo e proporcionar experiências para um futuro professor. Na inter-relação da teoria e prática o 30118 aluno pode utilizar seus conhecimentos adquiridos na faculdade dentro da instituição onde desenvolve as atividades do programa PIBID, também tem a oportunidade de conhecer a realidade da escola e contribuir para a aprendizagem dos alunos da instituição. Além disso, o programa aponta para um novo modelo de formação docente inicial acompanhada de inserção profissional, ou seja, uma residência educacional. Caracterização do Curso de Formação de Docentes O Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental foi implantado com essa nomenclatura em algumas escolas estaduais no ano de 2004, pois anteriormente à sua cessação, em 1999, era conhecido como magistério, e a atuação dos profissionais se restringia às séries iniciais do Ensino Fundamental. Atualmente, o Curso de Formação de Docentes, na modalidade Normal, período matutino (objeto de pesquisa) possui quarenta e um professores especializados na área da educação que atuam nas quatorze turmas existentes (cinco de primeiras séries, três de segundas séries, três de terceiras séries e três de quartas séries). A relação de gênero se estabelece do seguinte modo: 412 alunas e 10 alunos. É composto por adolescentes na faixa etária de quatorze a dezessete anos, salvo quatro professorandas com mais de vinte anos de idade. A pesquisa dá ênfase à formação de docentes da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, na forma integrada, em nível médio. O curso integra tanto disciplinas da base nacional comum, tais como Língua Portuguesa, Matemática, Biologia, História entre outras, bem como as que são específicas do curso (fundamentos, metodologias e prática de formação) descritas a seguir. No primeiro ano do curso as disciplinas contempladas são: Fundamentos Históricos da Educação, Fundamentos Psicológicos da Educação e Organização do trabalho Pedagógico. No segundo ano, as disciplinas específicas aumentam, sendo elas: Fundamentos Históricos e Políticos da Educação Infantil, Fundamentos Sociológicos da Educação, Concepções Norteadoras da Educação Especial, Trabalho Pedagógico na Educação Infantil e Organização do Trabalho Pedagógico. Já no terceiro ano são elas: Fundamentos Filosóficos da Educação, Trabalho Pedagógico na Educação Infantil, Literatura Infantil, Metodologia do Ensino de Português/Alfabetização e Metodologia do Ensino de Matemática. E no quarto ano: Metodologia do Ensino de Português/Alfabetização, Metodologia do Ensino da História, 30119 Metodologia do Ensino de Geografia, Metodologia do Ensino de Ciências, Metodologia do Ensino de Artes e Metodologia do Ensino de Educação Física sempre com duas aulas por semana de cada disciplina segundo as Diretrizes Curriculares para o Curso de Formação de Docentes, nível médio, não esquecendo a prática de formação, denominada Estágio Supervisionado, sendo que os alunos vão até as escolas para iniciar observações e práticas, como futuros professores. A forma integrada tem a duração de quatro anos, somando um total de 4000 horas de curso. A Formação Docente é um tema abrangente e complexo, pois abarca questões como profissionalização, identidade e autonomia. Portanto, é nessa etapa que se pretende formar o futuro profissional capaz de exercer o magistério e, sobretudo, formar o sujeito responsável por socializar, junto aos educandos, os conhecimentos historicamente construídos. Conforme Pimenta e Gonçalves (1990) a etapa de formação docente tem por finalidade constituir o futuro professor, mediante a sólida fundamentação teórica e técnica. Porém, frente às mazelas educacionais, conclui-se que o processo de formação de futuros professores necessita de políticas públicas que discutam e operacionalizem ações efetivas para que se tenha uma educação menos segregadora e mais universalizante. Pensar numa educação democrática e justa requer se pensar numa escola que dê condição aos sujeitos ao “exercício de sua cidadania no processo de transformação da sociedade. A educação escolar tem, pois, uma finalidade sociopolítica” (PIMENTA; GONÇALVES, 1990, p. 92). Para Nóvoa (apud ROMANOWSKI, 2007, p. 9) “não há ensino de qualidade, nem reforma educativa, nem inovação pedagógica sem uma adequada formação de professores”. Portanto, a formação docente é fator de grande importância no processo de democratização de uma nação. Educar para a sustentabilidade O tema sustentabilidade está cada vez mais presente na sociedade, uma vez que a necessidade de construir um futuro sustentável faz-se urgente. Não se pode pensar numa comunidade sustentável sem falar na educação, portanto, orientar o ensino em direção ao desenvolvimento sustentável requer um novo modo de pensar. O conceito de sustentabilidade foi introduzido no início da década de 1980, por Lester Brown, fundador do Wordwatch Institute da ONU, que contribuiu para se compreender que a comunidade sustentável é aquela capaz de satisfazer às próprias necessidades sem reduzir as 30120 oportunidades das gerações futuras. Segundo Silva (apud RAZZOTO, 2009, p. 17) a sustentabilidade é: [...] o processo político, participativo que integra a sustentabilidade econômica, ambiental, espacial, social e cultural, sejam elas coletivas ou individuais, tendo em vista o alcance e a manutenção da qualidade de vida, seja nos momentos de disponibilização de recursos, seja nos períodos de escassez, tendo como perspectivas a cooperação e a solidariedade entre os povos e as gerações. Dessa forma, entende-se a sustentabilidade como a garantia da sobrevivência da espécie humana. A sustentabilidade abarca quatro dimensões que são: a ambiental, a social, a econômica e a política. Na dimensão ambiental: compreende a atmosfera; terra; a água doce; os oceanos mares e áreas costeiras; a biodiversidade; o saneamento entre outros. Na social: compreende a população; o trabalho e rendimento; a saúde; a educação; a habitação; a segurança entre outros. Na econômica: compreende a taxa de investimento; a balança comercial; o grau de endividamento; padrões de produção e consumo (consumo de energia, a intensidade energética, a participação de fontes renováveis, o consumo mineral, a vida útil das reservas de petróleo e gás natural, a reciclagem, os rejeitos radioativos: geração e armazenamento). Na política: compreende o quadro institucional- ratificação de acordos globais, existência de conselhos municipais de meio ambiente, capacidade institucionalgastos com pesquisas e desenvolvimento, acesso ao serviço de telefonia, acesso à internet entre outros (BRASIL, 2010). Quanto ao educar para a sustentabilidade, tem sido proposto o que se chama de ecopedagogia. Segundo Razzoto (2009, p. 100) “o conceito de Ecopedagogia está relacionado com a sustentabilidade para além da economia e da ecologia”. A ecopedagogia inclui abordagens da planetaridade, educação para o futuro, cidadania planetária, virtualidade e a Pedagogia da Terra. Segundo Gadotti (2005, p. 21): [...] a ecopedagogia só tem sentido como projeto alternativo global onde a preocupação não está apenas na preservação da natureza (Ecologia Natural) ou no impacto das sociedades humanas sobre os ambientes naturais (Ecologia Social), mas num novo modelo de civilização sustentável do ponto de vista ecológico (Ecologia Integral) que implica uma mudança nas estruturas econômicas, sociais e culturais. Ela está ligada, portanto, a um projeto utópico: mudar as relações humanas, sociais e ambientais que temos hoje [...]. Nessa perspectiva, a instituição escolar possui um importante papel que é formar o cidadão crítico e participativo. Então, é fundamental conduzir ações instrucionais que visem à 30121 mudança conceitual dos alunos e até mesmo de profissionais da educação. Percebe-se que pequenas atitudes fazem a diferença e que cada um precisa fazer a sua parte em prol de um bem estar social, levando em consideração que todas as atitudes, positivas ou negativas, trarão impactos sociais e ambientais a todos. Práticas de regências O grupo foi formado por graduandos de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, a partir do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência. O motivo que levou a realizar essa pesquisa é o de verificar como acontece a formação de professores, quais os saberes utilizados para a prática docente na formação de professor, quais os fatores determinantes para a formação de um professor em excelência, compreender a que se refere a alfabetização ecológica e, principalmente, encontrar na sala de aula um olhar sobre a sustentabilidade. A educação Ecológica, que servirá de fio condutor do Programa de Sustentabilidade ora apresentado, se baseia na visão de Capra (1982), que comenta, de forma assustadora, que o planeta Terra está à beira do abismo e expõe a necessidade de que sejam tomadas medidas urgentes em todas as frentes possíveis para evitar o caos ecológico. A saúde dos seres humanos está ameaçada por vários fatores, tais como poluição ambiental, poluição da água e dos alimentos conforme Capra (1982, p. 21), que enfatiza: [...] o envenenamento químico passa a fazer parte, cada vez mais, de nossa vida. Além disso, as ameaças à nossa saúde através da poluição do ar, da água, e dos alimentos constituem meros efeitos diretos e óbvios da tecnologia humana sobre o meio ambiente natural. Efeitos menos óbvios, mas, possivelmente muitíssimo mais perigosos, só recentemente foram reconhecidos e ainda não foram compreendidos [...]. Capra (1982) ainda afirma que há necessidade de mudar a forma como se enxerga o mundo e diz que é necessário que aconteça uma profunda alteração nas relações sociais e forma de organização social, e que estas mudanças vão além das medidas sociais que hoje se percebem, tais como reajustamento econômico e político, que ele qualifica como “superficiais”. Como elemento principal de mudança, Capra (2006) sugere a alfabetização ecológica, que, segundo Layrargues (2003), é uma estratégia pedagógica que procura o aprendizado por meio do contato com a natureza. O autor afirma que o propósito dessa Alfabetização Ecológica é desenvolver a capacidade das pessoas de perceberem as diferentes 30122 conexões que fazem parte da “teia da vida” e que se manifestam de forma didática nas “relações ecológicas”. David Orr (apud LAYRARGUES, 2003, p. 2) declara que: [...] uma pessoa ecologicamente alfabetizada seria aquela que possui o senso estético de encantamento com o mundo natural e com a teia da vida. Seria aquele indivíduo portador do sentimento da biofilia, descrito por Wilson (1984), como sendo a ligação que os seres humanos subconscientemente buscam para se integrar com o restante da vida, em busca de uma maior intimidade com o mundo natural. A finalidade da Alfabetização Ecológica se baseia então na possibilidade de nutrir esse sentimento de afinidade para com o mundo natural, ou seja, despertar a biofilia nos educandos. Os encontros do PIBID eram de dois dias semanais, um para observar um professor e outro para a reunião de planejamento, sempre pela manhã. Os pesquisadores foram divididos por Disciplinas que contemplam o quadro Curricular na formação do Magistério Normal Médio, para assim desenvolverem ações docentes com diferentes conteúdos e coletarem informação nas diferentes áreas do conhecimento da formação do professor mas, principalmente, vislumbrar a prática de alunos e professores sob o eixo da sustentabilidade. A Conferência Eco-92, que aconteceu no Rio de Janeiro, veio ressaltar a atenção das pessoas para a problemática da educação de modo a demonstrar aspectos voltados para a sustentabilidade e de relacionar o bem-estar econômico com as tradições culturais e o respeito pela Terra e seus recursos. Segundo Razzoto (2009) é necessário que a escola esteja voltada para uma re-educação ambiental e social, sendo ela também uma mudança cultural e uma revolução comportamental. Partindo disso, acredita-se que a escola é o lugar primordial para a formação de novas culturas, bem como ela pode ser capaz de efetivar uma mudança cultural que esteja voltada para uma sociedade mais sustentável. Nesse processo de pesquisa aconteceram encontros em que os participantes, pesquisadores PIBID, professores e coordenadores pedagógicos da Instituição construíam seus conhecimentos coletivamente, pois as trocas de experiências amparavam os pesquisadores universitários, e as ideias inovadoras atuais dos pesquisadores aprimoravam os saberes dos docentes que já estavam desenvolvendo suas ações. Conforme os encontros avançavam e as discussões e reflexões aconteciam, sobre: Como os alunos adolescentes que estavam se formando professores das séries iniciais aprendem? Como ensinar a Ensinar? Como sensibilizar os alunos sobre a sua importância na formação de pessoas, e principalmente, como conscientizar os alunos sobre o educar para a sustentabilidade? 30123 Percebeu-se o amadurecimento de todos, produzindo um avanço significativo para desenvolver uma prática de profissionais cada vez mais conscientes acerca desse tema. Partindo desse pressuposto, segundo a Organização das Nações Unidas (UNESCO, 2008), a Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS) assume um caráter permanente com vistas à aquisição de valores, conhecimentos e competências que ajudem as crianças, os jovens e os adultos a encontrarem soluções inéditas aos problemas sociais, econômicos e ambientais que afetam suas condições de vida. Essa caracterização permite uma conexão direta com o artigo 14 da Carta da Terra: integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável. Tendo em vista que o PIBID promove um vínculo entre a teoria estudada na universidade e a prática que deve ser realizada nas escolas onde estão inseridos, dois dos cinco acadêmicos apresentam a seguir as suas práticas. Prática 1 Foram três turmas observadas: os terceiros anos (A, B e C) do Curso de Formação de Docentes Integrado. As observações foram iniciadas na disciplina de Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Alfabetização, às quartas-feiras, sendo que a professora estava trabalhando sobre a função da escrita na sociedade atual. A professora convidou-me para, na semana seguinte, observar a disciplina de Literatura Infantil, pois as alunas fariam uma apresentação dos clássicos da Literatura. No dia das apresentações (terça-feira, 03/04) as alunas utilizaram materiais diversos tais como álbum seriado, álbum sanfonado, cartazes e as histórias - escolhidas pelas alunas foram diversas tais como: Chapeuzinho Vermelho, Pinóquio, O Patinho Feio, Cachinhos Dourados, Alice no País das Maravilhas, Chapeuzinho Amarelo, entre outras. Os alunos foram muito bem no trabalho, pôde-se observar a utilização de recursos muito bem preparados e alunas muito bem “ensaiadas” e, a partir dos recursos apresentados, pôde-se constatar que existia a ausência de um olhar sobre a sustentabilidade, e mais do que isso, percebeu-se que a maioria dos livros infantis não trabalha com a questão da sustentabilidade, do meio ambiente, dos recursos naturais etc. Então surge o questionamento: como falar sobre sustentabilidade para as crianças tão pequenas, da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental. A partir disso, combinou-se com a professora o acompanhamento da 30124 disciplina de Literatura Infantil, que foi aceito sem nenhum problema. A mudança se deu devido à análise, juntamente com a professora, quando observou-se que, nesta disciplina, pode ser realizado um trabalho mais amplo no que diz respeito à sustentabilidade. No dia 10/04 os alunos continuaram com a apresentação das histórias, desta vez utilizando fantoches, flanelógrafo e cineminha, e continuaram com um excelente desempenho, tanto na apresentação quanto na confecção dos recursos utilizados. Sendo assim, a partir das observações realizadas sugeriu a professora que se trouxesse uma história infantil a ser contada aos alunos acerca do tema sustentabilidade, que elas pudessem utilizar tanto na EI, quanto no EF. Houve muita dificuldade em encontrar a mesma. Então partiu-se da leitura do livro “Os rios morrem de sede”, do autor Wander Pirolli, que faz parte da literatura infanto-juvenil, por isso foram feitas algumas adaptações. No dia em que foi feita a contação da história, falou-se inicialmente acerca do tema sustentabilidade, com base nas ideias de Razotto (2009). Em seguida, foi realizada a atividade utilizando-se o Flanelógrafo. Os alunos não conheciam o enredo da história, então apresentei algumas informações sobre o autor e um resumo da obra original. Neste dia também foi proposto que cada sala elaborasse coletivamente uma história sobre este tema, que ainda é tão pouco contemplado nas histórias infantis. Esse vai ser um trabalho um pouco mais complexo, então acredita-se que as alunas só irão finalizar o trabalho no final deste semestre. A prática de docência foi muito importante, pois possibilitou aos alunos do curso uma apropriação sobre o tema sustentabilidade, e mais do que isso, permitiu que eles, enquanto futuros professores, refletissem sobre como trabalhar sobre o eixo da sustentabilidade em sala de aula. E, para o acadêmico, de extrema importância porque possibilitou a vivência enquanto professora em formação e foi muito válido, porque além de possibilitar várias experiências ainda permitiu refletir sobre a prática. Prática 2 Para o ano de 2012, foi estabelecido o tema Sustentabilidade como eixo norteador das ações docentes do Programa Incentivo a Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID- CAPES). O tema vem ao encontro do trabalho pedagógico já desenvolvido por uma professora da área da Biologia do Curso de Formação de Docentes, em nível médio. Portanto, a coordenadora institucional do PIBID incumbiu os pibidianos (acadêmico-participantes do programa) a acompanharem as turmas nas disciplinas de Oficinas de Estágio Supervisionado. 30125 É nessa disciplina que se fomenta um projeto chamado “Educadores Verdes”. O projeto visa à formação e conscientização dos futuros professores referentes ao tema Formação Docente e Meio Ambiente. Segundo Teixeira (2007) existe falta de preparo dos professores para tratarem, em sala de aula, de conteúdos articulados à compreensão do meio ambiente e à questão ambiental. O autor complementa afirmando que, no caso dos professores da educação básica, formados em curso de magistério, cursos de pedagogia ou similares, o despreparo é acentuado pelo fato de não terem uma formação parcial e específica, vinculada a uma disciplina própria, que possa abarcar a temática ambiental ou, ao menos, o meio ambiente. Observa-se, dessa forma, que é comum, no âmbito escolar, o tema Meio Ambiente ser reduzido à superficialidade ou ao “preservacionismo”. Ainda para Teixeira (2007, p. 92), se propõe uma “formação moral [como se] pudesse resolver problemas ambientais e estruturar uma ética universal [...]”. A questão ambiental, quando tratada de forma comprometida e intencional, tem como premissa a interdisciplinaridade, isto é, alarga-se para dimensões outras, como políticas, sociais e econômicas. Durante o processo do projeto “Educadores Verdes”, realizam-se pesquisas bibliográficas, passeios em parques, entrega de folders nas ruas, apresentação de trabalhos manuais como esculturas e demais objetos feitos com material reciclável e mostra de dramatizações. O trabalho abarca todas as séries do Curso de Formação de Docentes, sendo proposta para cada turma a produção de um trabalho científico. O trabalho dos alunos pesquisadores consiste em compreender a dinâmica do projeto “Educadores Verdes” e, sobretudo, auxiliar os professorandos na construção dos projetos de pesquisa. Particularmente, foi acompanhada uma turma de Formação de Docentes. Essa turma tem aulas regulares no turno da noite e sua disciplina, Oficina de Estágio Supervisionado, ocorre nos sábados pela manhã. Ficou acordada a divisão da turma em grupo A e B, de doze alunos, sendo um sábado cada grupo. Observou-se que os alunos desenvolveram projetos sobre como aperfeiçoar a coleta seletiva dos produtos consumidos em suas casas, como economizar as contas de energia elétrica e água, como reciclar materiais como caixas de leite, papelão entre outros. Vale ressaltar que um trabalho, em especial, chamou a atenção: foi de uma aluna que propôs um projeto sobre a reutilização do óleo da cozinha, produzindo assim sabão em barra. Durante as orientações, percebeu-se que a turma desconhecia o termo Sustentabilidade, mas já apresentava ideias de atitudes sustentáveis. Portanto, no dia 04 de 30126 maio, conforme combinado com a professora regente, foi apresentada uma aula sobre Sustentabilidade. Nesse dia, a turma estava completa, tanto o grupo A quanto o grupo B estavam presentes. Acredita-se ter sido um momento importante para a turma e para o acadêmico, como futuro docente, pois o tema Sustentabilidade também não parecia muito claro, anteriormente. Foi necessário que o acadêmico se informar e compreendesse o conceito para, assim, instrumentalizar os alunos e os parceiros do PIBID. Conforme Teixeira (2007, p. 100) “o professor ‘bem preparado’, [...] é um professor instrumentalizado para as exigências colocadas no exercício de sua profissão [...]”. Assim, o trabalho docente requer o estudo e a dedicação do professor, pois ensinar é dividir o que se sabe. Conclui-se que a Sustentabilidade é a garantia da sobrevivência da espécie humana. Para se “sustentar” a humanidade necessita ter a consciência do consumo consciente, da preservação dos recursos naturais do planeta e estabelecer uma relação mais harmoniosa com os demais. Ser sustentável é se ver incluso numa teia de relações chamada vida. Considerações finais A formação docente para a sustentabilidade vem ao encontro da necessidade de se pensar numa educação que efetive o processo educacional brasileiro. Ainda se têm, no cenário nacional, mazelas como a evasão e a repetência escolar que contribuem para a formação das desigualdades sociais. A sociedade mais justa e democrática, que é o ideário social, torna-se distante devido à falta de uma consciência sustentável. A Sustentabilidade é uma filosofia que propõe, ao ser humano, a vida em harmonia com o planeta Terra e isso abarca questões tanto ambientais, quanto sociais, políticas e econômicas. Ser sustentável é saber gerir os recursos naturais de modo a preservá-los e garanti-los às futuras gerações. Vale ressaltar que, nessa conjuntura, as relações entre os humanos necessitam ser baseadas na tolerância e no respeito ao próximo. Portanto, acredita-se que educar futuros docentes para a sustentabilidade é uma iniciativa para o fomento às práticas e atitudes sustentáveis da população, uma vez que se tem a escola como o espaço de socialização e construção de sujeitos autônomos e construtores de história. 30127 REFERÊNCIAS BRASIL. 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