A Artigo Original Combinação diagnóstica: o diferencial clínico na avaliação do estado nutricional de pacientes críticos na UTI Combinação diagnóstica: o diferencial clínico na avaliação do estado nutricional de pacientes críticos na unidade de terapia intensiva Diagnostic combination: clinical differential in the evaluation of the nutritional status of critically ill patients in the intensive care unit Helen Maria Silva César de Carvalho1 Maria Conceição de Oliveira2 Unitermos: Unidades de Terapia Intensiva. Infecção. Prognóstico. Estado nutricional. Keywords: Intensive Care Units. Infection. Prognosis. Nutritional status. Endereço para correspondência: Maria Conceição de Oliveira Rua Afonso Pena, 1053 – Praça 14 – Departamento de Saúde Coletiva, Faculdade de Medicina, Departamento de Saúde Coletiva – DSC, Universidade Federal do Amazonas – Manaus, AM, Brasil – CEP: 69025-050 E-mail: [email protected] Submissão: 26 de novembro de 2012 Aceito para publicação: 11 de fevereiro de 2013 1. 2. RESUMO Introdução: A desnutrição em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) constitui fator que aumenta a gravidade da doença de base. O objetivo deste estudo é analisar a combinação diagnóstica na avaliação nutricional de pacientes graves. Método: Foi realizado estudo transversal, testando indicadores objetivos e subjetivos na avaliação nutricional de pacientes em UTI de um Hospital de Manaus-AM. Os indivíduos foram avaliados por apalpação e observação (“fácies”: músculo parietal bilateral-MPB, gastrocnêmicoMG e interósseos-MID); aferições antropométricas; bioquímicas e índice de prognóstico nutricional (ANI). Resultados: Foram avaliados 20 pacientes, 60% homens e 40% mulheres, com idade mediana de 44,5 anos e 45,5 anos, respectivamente. A estatura média era de 180,95 ± 14,8 cm e 178,77 ± 9,14 cm; e a mediana de linfócitos, 1494,53 mm³ e 1150,23 mm³, respectivamente, nos homens e nas mulheres. Sete indivíduos apresentaram albuminemia. A incidência de sepse foi de 25% entre os homens e as mulheres, e de pneumonia, 42% entre os homens e 12,5% entre as mulheres. A apalpação do MPB demonstrou desnutrição leve em 50% dos homens e 37,5% das mulheres; desnutrição moderada em 16,7% dos homens; e eutrofia em 33,3% dos homens e 62,5% das mulheres. O MG evidenciou desnutrição leve em 50% dos homens e 37,5% das mulheres; desnutrição moderada somente em 25% dos homens; e eutrofia em 25% dos homens e 62,5% das mulheres. O MID diagnosticou desnutrição leve em 50% dos homens, e todas as mulheres foram consideradas normais. O IMC classificou 8,3% dos homens com desnutrição leve e 16,7% com pré-obesidade e 38% mulheres com desnutrição leve e 25% com pré-obesidade. Conclusão: A combinação diagnóstica confirmou o diferencial clínico do estado nutricional na UTI. O IMC subestimou a desnutrição em homens e superestimou nas mulheres, incluindo pré-obesidade em ambos. A bioquímica confirmou o mau prognóstico usando a ANI. ABSTRACT Introduction: Malnutrition in the Intensive Care Unit (ICU) is a factor that increases the severity of the underlying disease. The aim of this study is to analyze the diagnostic combination for nutritional assessment in critically ill patients. Methods: Transversal study was performed, testing objective and subjective indicators in the nutritional assessment of patients in the ICU of a hospital in Manaus-AM. The subjects were evaluated by palpation and observation (“facies”: bilateral parietal muscle – BPM, gastrocnemius – GM, and interosseous IDM), anthropometric, and biochemical measurements and nutritional prognostic index (ANI). Results: Twenty patients were evaluated, 60% men and 40% women, with a median age of 44.5 years and 45.5 years, respectively. The average height was 180.95 ± 14.8 cm and 178.77 ± 9.14 cm, and the median lymphocyte 1494.53 mm³ and 1150.23 mm³, respectively, in men and women. Seven subjects had albuminemia. The incidence of sepsis was 25% among men and women, and pneumonia, 42% among men and 12.5% among women. The palpation of the BPM showed mild malnutrition in 50% of men and 37.5% women; moderate malnutrition in 16.7% of men, and eutrophy in 33.3% of men and 62.5% women. GM showed mild malnutrition in 50% of men and 37.5% women; moderate malnutrition in only 25% of men, and eutrophy in 25% of men and 62.5% women. The IDM diagnosed mild malnutrition in 50% of men, and all women were considered normal. BMI classified 8.3% men with mild malnutrition and 16.7% overweight and 38% women with mild malnutrition and 25% were pre-obese. Conclusion: Diagnostic combination confirmed the clinical differential of nutritional status in ICU. BMI underestimated malnutrition in men and overestimated in women, including pre-obesity in both. The biochemistry confirmed the poor prognosis using ANI. Nutricionista, Especialista do Curso de Residência Multiprofissional em Saúde – Concentração Intensivismo, Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Manaus, AM, Brasil. Doutora e Mestre, Professora Associada II de Epidemiologia do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da UFAM, Manaus, AM, Brasil. Rev Bras Nutr Clin 2013; 28 (2): 118-23 119 Carvalho HMSC & Oliveira MC INTRODUÇÃO A avaliação do estado nutricional é uma prática que deve ser seguida a partir da admissão do paciente em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), como parte do cuidado integral ao paciente. Porém, não há um consenso ou um gold standard para sua utilização, e a pouca valorização pela equipe responsável por sua execução deve ser questionada, interferindo na terapia nutricional1,2. Subvalorizar os métodos de avaliação nutricional pode contribuir para morbimortalidade, enquanto sua correta aplicação possibilita identificar e individualizar causas e consequências, com indicação rápida de intervenção3,4. Diferentes parâmetros de avaliação do estado nutricional podem ser utilizados, contudo, a aplicação no doente crítico sofre algumas alterações relacionadas à doença de base que afetam sua interpretação5 e depende do método, evitando agravos nutricionais, consequente complicações e desfechos desfavoráveis6. Os métodos subjetivos consistem na avaliação física do paciente, porém devem ser combinados com os métodos objetivos, representados por antropometria, testes bioquímicos e imunológicos, e os métodos não-convencionais, como diagnóstico clínico diferencial da desnutrição7. É imprescindível selecionar os indicadores que possam estimar, com margem de erro aceitável, as alterações corporais, os reacionais (imunológicos) linfócito B e T8, assim como as modificações clínicas (fácies) e bioquímicas. Essa avaliação deve ser complementada pelos parâmetros antropométricos, que, na impossibilidade de aferição corporal, são obtidos a partir equações de predição segundo o sexo, combinando medidas corporais9,10. A combinação diagnóstica, utilizando a albumina e a contagem total de linfócitos periféricos, inferiores aos valores mínimos aceitáveis11, tem sido utilizada como parâmetro nutricional, associada a complicações de desfechos clínicos em pacientes críticos12. Essas duas medidas são empregadas no teste de Avaliação Nutricional Instantânea (ANI) como índice de mau prognóstico1,14. Nesse contexto, este estudo objetivou avaliar a combinação diagnóstica para avaliar o estado nutricional de pacientes críticos em UTI por meio de variáveis subjetivas da “fácies”, dos membros superiores e inferiores, além de métodos objetivos. pacientes que se recusaram a assinar o termo de consentimento livre e esclarecido foram excluídos do estudo. Delineamento do Estudo Constou de um estudo transversal utilizando-se variáveis objetivas e subjetivas aferidas no leito e análise dos prontuários dos internos. a) Medidas objetivas: a.1 – Variáveis antropométricas – foi aferida a circunferência da panturrilha, circunferência do braço e prega cutânea subescapular para estimativa do peso corporal de ambos os sexos9, conforme equação 1 e 2: EQUAÇÃO 1 = Peso corporal (mulheres) kg = (1,27 x CP) + (0,87 x AJ) + (0,98 x CB) + (0,4 x PCSE) - 62,35 EQUAÇÃO 2 = Peso corporal (homens) kg = (0,98 x CP) + (1,16 x AJ) + (1,73 x CB) + (0,37 x PCSE) - 81,69 A estatura corporal foi estimada em homens e mulheres, utilizando-se a medida do comprimento da perna10, conforme equação 3 e 4: EQUAÇÃO 3 = Estatura [mulher (cm)] = (0,24 x idade) - (1,83 x comp. da perna) + 84,88 EQUAÇÃO 4 = Estatura [mulher (cm)] = (0,24 x idade) - (1,83 x comp. da perna) + 84,88 As medidas de peso e estatura foram utilizadas para cálculo do índice de massa corporal - IMC (kg/m 2) e classificados conforme WHO15, incluindo três classes de desnutrição. a.2 – Variáveis bioquímicas: Os dados bioquímicos foram obtidos nas atividades de rotina hospitalar para a albumina sérica e contagem total de linfócitos, utilizando a equação de predição da equação 5: EQUAÇÃO 5 = CTLP = Percentual de linfócitos totais periféricos x leucócitos totais : 100 MÉTODO Casuística Foram avaliados pacientes críticos da UTI do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), no período de dezembro de 2011 a março 2012, incluindo-se todos pacientes adultos de ambos os sexos e idade igual ou superior a 18 anos. Os Os testes bioquímicos e imunológicos foram empregados na avaliação nutricional instantânea que utiliza os pontos de corte: linfócitos totais periféricos (<1500 mm3) e albumina sérica (< 3,5 g/dL%)11,14. Rev Bras Nutr Clin 2013; 28 (2): 118-23 120 Combinação diagnóstica: o diferencial clínico na avaliação do estado nutricional de pacientes críticos na UTI Medidas subjetivas: b.1 – Para avaliação física, utilizou-se palpação e observação da “fácies”, verificando-se alterações no músculo parietal bilateral (MPB). b.2 – Nos membros superiores, observou-se a musculatura dos interósseos dorsais (MID), direito e esquerdo, avaliados por observação e palpação. b.3 – O mesmo procedimento foi realizado nos membros inferiores, no músculo gastrocnêmio (MG) ou panturrilha16. Atribuíram-se os seguintes valores para MPB, MID e MG, a fim de proceder à classificação diagnóstica do estado nutricional do paciente crítico: (0) normal; (1) atrofia leve; (2) atrofia moderada e (3) atrofia grave17. Análise Estatística Utilizou-se uma amostra por conveniência de indivíduos internados na UTI durante o período do estudo. Foram feitas análises exploratórias descritivas de variáveis demográficas, como gênero, idade, diagnóstico clínico e intercorrências ou complicações advindas da doença de base e medidas de frequência para as variáveis categóricas. Utilizou-se a análise univariada para as medidas de tendência central e, de dispersão, para medidas com alta dispersão, utilizou-se alternativamente, a mediana. Os dados foram tabulados pelo programa Epi-Info versão 6.018 e exportado para o programa Statistical Analysis System – SAS®19. O estudo foi submetido e aprovado pelo Centro de Tratamento Intensivo; Setor de Pesquisa do HUGV e Comitê Local da Universidade Federal do Amazonas. RESULTADOS Foram analisados 20 pacientes, sendo 12 (60%) homens e 8 (40%) mulheres, com idade mediana de 44,5 anos e 45,5 anos, respectivamente. A altura estimada foi homogênea entre homens e mulheres, sendo 180,95 ±14,8 cm e 178,77 ± 9,14 cm, respectivamente. As medidas de prega cutânea do tríceps e subescapular demonstraram-se heterogêneas, com variação muito alta (>30%) para as mulheres (PCT, 14,67 ± 6,26; CV%=42,71; PCSE, 18,71 ± 7,15; CV%=38,23). Nos homens, a variação alta foi observada para a medida de prega cutânea tricipital (PCT, 12,40 ± 4,8732; CV%= 32,29%). A albumina sérica dos participantes apresentaram baixas médias nos homens (3,24 ± 0,19 g/dL) e mulheres (2,79 ± 0,60 g/dL). Os linfócitos totais periféricos tiveram variação muito alta, com mediana de 1.494,53 mm³ e 1.150,23 mm³, respectivamente, nos homens e nas mulheres (Tabela 1). Linfopenia (<1500 mm3) foi identificada em 50% dos homens e 75% das mulheres. A albuminemia também foi registrada, com valores médios de 3,24 ± 0,19, nos homens, e 2,79 ± 0,60, nas mulheres. A prevalência de albuminemia observada foi de 28,57%, nos homens, e 71,42%, nas mulheres. A evolução clínica utilizando ANI foi de mau prognóstico com mortalidade no sexo feminino (62,50%) e nos homens (50%). A sobrevida observada na UTI foi de 50% entre os homens e 37,50% entre as mulheres. A doença de base variou entre os participantes, mas dentre as intercorrências prevaleceu a pneumonia, presente em 42% dos homens e 12,5% das mulheres. A incidência de sepse foi de 25% entre os homens e as mulheres (Figura 1). Hemorragia, choque hipovolêmico, insuficiência respiratória, insuficiência renal, hemorragia subaracnóidea e úlcera por pressão foram classificados como outras intercorrências. O IMC mostrou 8,3% de desnutrição leve, somente nos homens. A desnutrição moderada prevaleceu nas mulheres, com 37,55%. Enquanto, 16,7% dos homens e 25% das mulheres apresentaram pré-obesidade e 75% dos homens e 37,5% das mulheres apresentavam eutrofia (Tabela 2). Tabela 1 – Características demográficas e antropométricas de homens e mulheres internados em UTI no HUGV, Manaus, AM, Brasil, 2012. Variáveis Idade (anos) Altura (cm) Peso estimado Altura do joelho CP CB PCT PCSE Albumina (mg/dL) Linfócitos totais (mm³) n 12 12 12 12 12 12 12 12 2 12 Homens Mediana 44,5 — — — — — 11,16 — 1494,53 (X ± DP) — 180,95 ± 14,8 75,15 ± 11,08 58,75 ± 7,21 33,33 ± 2,92 28,48 ± 2,58 12,40 ± 4,87 18,56 ± 4,31 3,24 ± 0,19 — n 8 8 8 8 8 8 8 8 5 8 Mulheres Mediana 45,5 — — — — — 13,33 15,50 — 1150,23 (X ± DP) — 178,77 ± 9,14 64,48 ± 10,14 57,44 ± 3,65 32,25 ± 3,92 29,00 ± 4,03 14,67 ± 6,26 18,71 ± 7,15 2,79 ± 0,60 — CP = circunferência da panturrilha; CB = circunferência do braço; PCT = prega cutânea do tríceps; PCSE = prega cutânea subescapular. Mediana para coeficiente de variação > 30%; Média e desvio padrão para variação <30%; procedimento de análise Univariada, medidas de tendência central e de dispersão. Programa Statistical Analysis System, versão 8.6, SAS® Cary, NC 2001. Rev Bras Nutr Clin 2013; 28 (2): 118-23 121 Carvalho HMSC & Oliveira MC antropométricos, em contraste com o IMC, que subestimou a desnutrição e superestimou o excesso de peso. Tabela 2 – Características demográficas e antropométricas de homens e mulheres internados em UTI no HUGV, Manaus, AM, Brasil, 2012. Variáveis Homens Mulheres n % n % Desnutrição moderada — — 3 37,5 (16,0 – 16,9) Desnutrição leve (17,0 – 18,4) 1 8,3 — — Eutrofia (18,5 – 24,9) 9 75,0 3 37,5 Sobrepeso (25,0 – 29,9) 2 16,7 2 25,0 Total 12 100,0 8 100,0 A população analisada apresentou estatura alta. A avaliação do peso e estatura estimados apresentou baixa variação. A prega cutânea do tríceps e subescapular, nas mulheres, apresentou grande variação. Nos homens, a variação observada foi para a medida de prega cutânea do tríceps. Estudos em UTI demonstraram ganho de peso corporal estimado de +10,14%, em seis dias de internação, decorrentes de alterações hídricas corporais. A circunferência da panturrilha revelou alterações apenas de 1% dos indivíduos estudados. As pregas cutâneas do tríceps e subescapular apresentaram variação muito alta em ambos os sexos (CV%=38,4%; CV%= 46,31%, respectivamente)20, confirmando nossos achados. Procedimento Formato (Proc Format) para avaliação percentual entre as classes de IMC. Programa Statistical Analysis System, versão 8.6, SAS® Cary, NC 2001. O IMC subestimou a desnutrição leve nos homens. Nas mulheres, o IMC não detectou desnutrição leve, porém observou-se alto percentual de desnutrição moderada. O IMC incluiu a classe pré-obesidade em ambos os sexos, indo de encontro aos achados com os métodos subjetivos e bioquímicos na presente análise, subestimando a desnutrição e superestimando o excesso de peso mascarado pelo edema corporal. Figura 1 – Intercorrências das doenças de base e desfecho clínico de homens e mulheres, em tratamento na UTI, HUGV, Manaus, AM, Brasil, 2012. Procedimento análise de frequência (Proc Freq) para avaliação percentual das doenças de base, intercorrências e desfecho clínico. Programa Statistical Analysis System, versão 8.6, SAS® Cary, NC 2001. A desnutrição leve e moderada foi diagnosticada pela combinação diagnóstica dos três testes de avaliação subjetiva (“fácies”, MPB, MID e MG). A avaliação física da “fácies” revelou desnutrição leve em 50% dos homens e 37,5% das mulheres; a desnutrição moderada foi observada em 16,7% dos homens. Apresentavam eutrofia 33,3% dos homens e 62,5% das mulheres. O MG evidenciou desnutrição leve em 50% dos homens e 37,5% das mulheres. A desnutrição moderada foi observada em 25% dos homens, entretanto nenhuma mulher foi diagnosticada por palpação da panturrilha. Enquanto 25% dos homens e 62,5 das mulheres apresentavam eutrofia. A avaliação dos MID diagnosticou desnutrição leve em 50% dos homens e 50% tinham eutrofia; 100% das mulheres foram diagnosticadas com eutrofia (Tabela 3). DISCUSSÃO O estudo demonstrou consistência entre os percentuais encontrados utilizando parâmetros físicos, bioquímicos e O índice de prognóstico usando o ANI demonstrou alto percentual de desfechos de mortalidade no sexo feminino (62,50%) e no sexo masculino (50%), coincidindo com os baixos valores de albumina e contagem total de linfócitos periféricos, sendo, portanto, um bom parâmetro de rotina em UTI. Achados similares em adultos e idosos avaliados em UTI confirmaram a presente pesquisa, associando o índice de mau prognóstico (hipoalbuminemia e linfocitopenia) ao número de óbitos (38%)2,22. Pacientes internados em UTI 6 vezes mais redução dos níveis de albumina e 2 vezes mais redução da contagem de linfócitos, com aumento nas taxas de complicações e de Tabela 3 – Características demográficas e antropométricas de homens e mulheres internados em UTI no HUGV, Manaus, AM, Brasil, 2012. AVF Pacientes Homens Mulheres Eutrofia DL DM Eutrofia DL (%) DM (%) (%) (%) MPB* 33,3 (4) 50,0 (6) 16,7 62,5 (5) 37,5 (3) — (2) MG** 25,0 (3) 50,0 (6) 25,0 62,5 (5) 37,5 (3) — (3) MID*** 50,0 (6) 50,0 (6) — 100 (8) — — * MPB = músculo parietal bilateral; **MG = músculo gastrocnêmico. ***MID = músculo interósseos dorsais da mão esquerda e direita; DL = desnutrição leve; DM = desnutrição moderada. Procedimento de Frequência (Proc Freq). Programa Statistical Analysis System, versão 8.6, SAS® Cary, NC 2001. Rev Bras Nutr Clin 2013; 28 (2): 118-23 122 Combinação diagnóstica: o diferencial clínico na avaliação do estado nutricional de pacientes críticos na UTI REFERÊNCIAS óbito, quando comparados a pacientes de outras unidades hospitalares23. Houve alto índice de pneumonia nos homens, com percentuais menores para as mulheres. A incidência de sepse foi alta em ambos os sexos. 1.Ravasco P, Camilo ME, Gouveia-Oliveira A, Adam S, Brum G. A critical approach to nutritional assessment in critically ill patients. Clin Nutr. 2002;21(1):73-7. Estudos prévios confirmam nossos achados, indicando sepse, doença respiratória e doença renal como doenças mais recorrentes nessa população23. 2.Cahill NE, Dhaliwal R, Day AG, Jiang X, Heyland DK. Nutrition therapy in the critical care setting: what is “best achievable” practice? An international multicenter observational study. Crit Care Med. 2010;38(2):395-401. A avaliação subjetiva do músculo parietal bilateral (MPB) e panturrilha (MG) mostrou ser bom parâmetro nutricional. Valores importantes observados de desnutrição leve, em ambos os sexos, confirmaram os achados do MPB e MG. A avaliação dos músculos interósseos palmares do dorso das mãos (MID) detectou desnutrição leve, com alta prevalência (50%) entre os homens. O edema de mãos em alguns participantes pode ter contribuído, dificultando a avaliação diagnóstica16. Os achados antropométricos, índice de prognóstico e subjetivos indicam a importância da combinação diagnóstica. Novas pesquisas são necessárias, principalmente pela baixa rotatividade de pacientes na UTI do hospital onde foi realizado o estudo. Somando-se à característica amostral, um delineamento com tempo maior de duração poderia contemplar maior número de participantes. CONCLUSÃO A combinação diagnóstica utilizando métodos subjetivos e objetivos confirmou o estado nutricional de pacientes críticos em UTI. Em contraste, o IMC, considerado um método objetivo, subestimou a desnutrição nos homens e superestimou nas mulheres, incluindo a classe excesso de peso em ambos os sexos. O emprego da ANI classificou os desfechos clínicos como mau prognóstico em ambos os sexos, confirmado pelo alto percentual de óbitos nos homens e nas mulheres. Portanto, os achados sugerem que a combinação diagnóstica é o diferencial clínico na avaliação do estado nutricional de pacientes críticos em UTI. AGRADECIMENTOS Agradecemos à contribuição do Ministério da Educação, pela bolsa de estudo como incentivo para as atividades científicas desenvolvidas no Curso de Residência Multiprofissional em Saúde (RMPS). Agradecemos, também, ao Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Universitário Getúlio Vargas e aos colegas residentes da Universidade Federal do Amazonas. 3.Montejo Gonzáles JC, Culebras-Fernández JM, García de Lorenzo y Mateos A. Recommendations for the nutritional assessment of critically ill patients. Rev Med Chil. 2006;134(8):1049-56. 4.Gomes de Lima KV, Maio R. Nutritional status, systemic inflammation and prognosis of patients with gastrointestinal cancer. Nutr Hosp. 2012;27(3):707-14. 5.Acosta Escribano J, Gómez-Tello V, Ruiz Santana S. Valoración del estado nutricional en el paciente grave. Nutr Hosp. 2005;20(Suppl 2):5-8. 6.Lucas MCS, Fayh APT. Estado nutricional, hiperglicemia, nutrição precoce e mortalidade de pacientes internados em uma unidade de terapia intensiva. Rev Bras Ter Intensiva. 2012;24(2):157-61. 7.Kaysen GA. Malnutrition and the acute-phase reaction in dialysis patients: how to measure and how to distinguish. Nephrol Dial Transplant. 2000;15(10):1521-4. 8.Yousef AA, Suliman GA, Mabrouk MM. The value of correlation of serum 20S proteasome concentration and percentage of lymphocytic apoptosis in critically ill patients: a prospective observational study. Crit Care. 2010;14(6):R215. 9.Chumlea WC, Guo S, Roche AF, Steinbaugh ML. Prediction of body weight for the nonambulatory elderly from anthropometry. J Am Diet Assoc. 1988;88(5):564-8. 1 0.Chumlea WC, Roche AF, Steinbaugh ML. Estimating stature from knee height for persons 60 to 90 years of age. J Am Geriatr Soc. 1985;33(2):116-20. 11.Blackburn GL & Harvey KB. Nutritional assessment as a routine in clinical medicine. Postgrad Med. 1982;71(5):46-63. 1 2.Prins MA. Nutritional assessment of the critically ill patient. S Afr J Clin Nutr. 2010;23(1):11-8. 1 3.Maicá AO, Schweigert ID. Avaliação nutricional em pacientes graves. Rev Bras Ter Intensiva. 2008;20(3):286-95. 1 4.Seltzer MH, Fletcher HS, Slocum BA, Engler PE. Instant nutritional assessment in the intensive care unit. JPEN J Parenter Enteral Nutr. 1981;5(1):70-2. 1 5.World Health Organization. Physical status: the use and interpretation of anthropometry. WHO Technical Report Series nº854. Geneve: WHO; 1995. 1 6.Rezende IFB, Araújo AS, Santos MF, Sampaio LR, Mazza RPJ. Avaliação muscular subjetiva como parâmetro complementar de diagnóstico nutricional em pacientes no préoperatório. Rev Nutr. 2007;20(6):603-13. 1 7.Raguso CA, Dupertuis YM, Pichard C. The role of visceral proteins in the nutritional assessment of intensive care unit patients. Curr Opin Clin Nutr Metabol Care. 2003;6(2):211-6. Rev Bras Nutr Clin 2013; 28 (2): 118-23 123 Carvalho HMSC & Oliveira MC atendidos em unidade de terapia intensiva pública da Amazônia (Rio Branco, Acre). Rev Bras Ter Intensiva. 2007;19(3):304-9. 1 8.Dean AG. Epi Info [Software program]. Version 6.0: a word processing, database, and statistics program for epidemiology on micro-computers. Atlanta: Centers of Disease Control and Prevention; 1994. 2 2.Jardim MN, Costa HM, Kopel L, Lage SG. Avaliação nutricional do cardiopata crítico em terapia de substituição renal: dificuldade diagnóstica. Rev Bras Ter Intensiva. 2009;21(2):124-8. 1 9.SAS Institute, Inc. Version 8.6 [Software program]. Cary; 2001. 2 0.Miranda SBN, Oliveira MRM. Suporte nutricional precoce: avaliação de pacientes críticos internados em UTI. Saúde em Revista. 2005;7(16):37-47. 2 1.Acuña K, Costa E, Grover A, Camelo A, Santos Jr R. Características clínico-epidemiológicas de adultos e idosos 2 3.Batista CC, Gattass CA, Calheiros TP, Moura RB. Avaliação prognóstica individual na UTI: é possível diferenciar insistência terapêutica de obstinação terapêutica? Rev Bras Ter Intensiva. 2009;21(3):247-54. Local de realização do trabalho: Hospital Universitário Getúlio Vargas, Faculdade de Medicina, Departamento de Saúde Coletiva, Universidade Federal do Amazonas, Manaus, AM, Brasil. Fonte financiadora do projeto: Ministério da Educação MEC. Rev Bras Nutr Clin 2013; 28 (2): 118-23 124