Exercı́cios desafiadores de Dinâmica da Partı́cula Stevinus setembro 2009 2 Dinâmica da Partı́cula 2.1 Sejam Espertos ! Como tratar de um problema de dinâmica de um número finito de partı́culas ? • Separar as partı́culas diferentes do sistema em estudo e enumerar todas as forças que agem sobre cada uma. • Escrever as leis de Newton para cada partı́cula em um sistema de referência inercial : X ~ sobreA MA ~aA = F • Há um certo número de componentes do sistema que serão idealizados. 1. Uma corda inextensı́vel que só vai transmitir a tensão (força) nela aplicada. 2. Uma polia sem inércia que só muda a direção da força. 3. Um dinamômetro sem massa que mede a tensão na corda com a qual ele está amarrada. • A descrição das forças agindo sobre as partı́culas do sistema. 1. Forças fundamentais como a atração gravitacional, seja perto da terra, F = mg, ou como força central entre planetas F = G M M 0 /(R2 ). Outra é a força electroestática entre partı́culas carregadas electricamente. 2. Forças fenomenolôgicas descrevendo o movimento pequeno em torno de um ponto de equilı́brio : F = −k (X − Xeq ) 3. A força de contato que A exerce sobre B através de um plano tangente com normal ~ at;A/B , ~ nA/B orientada de A para B pode decompor-se em uma componente tangencial F ~ A/B = NA/B ~nA/B . O contato é mantido se a força de atrito, e uma reação normal N NA/B > 0. Teremos atrito estático, i.e. sem movimento na direção da força de atrito ~ at;A/B | da força de atrito obedece à condição : |F ~ at;A/B | ≤ µes NA/B , se o mó dulo |F onde µes é o coeficiente de atrito estático. Se esa desigualdade não for satisfeito, o atrito ~ at;A/B | = µcin NA/B , onde µcin é o é cinético e o valor do módulo é determinado por |F coeficiente de atrito cinético. • Finalmente temos que escrever quais são os vı́nculos entre as diferentes partes do sistema. 1 2.2 Tudo Liso Um bloco pequeno B, de massa mB , é colocado em cima de um bloco triangular A, de massa mA, que faz ofı́cio de plano inclinado e que por sua vez está em cima de uma mesa M horizontal fixa. O ângulo do plano inclinado com M é θ e os contatos tanto entre B e A, quanto entre A e M, são lisos. Primeira pergunta : O bloco B é solto do repouso em cima do plano A. Determine a aceleração de cada bloco. ————————————————————————————————————– Solução : Olhando o desenho abaixo (Imagine !) : O bloco em cima do plano inclinado : notaremos o vetor unitário normal ao plano inclinado ~ u = î sin θ + ĵ cos θ , onde tomamos o vetor unitário î na direção da ponto do bloco e ĵ no sentido para cima da direção vertical. Vemos que as únicas forças agindo sobre B são 1) o peso mB g e 2) a reação normal NB do plano A sobre ele. temos (é só olhar o desenho !) : NB = ~ u N ; mB g = − ĵ mB g Sobre o bloco A temos o peso mA g, a reação normal de B sobre ele que é − NB e, finalmente, a reação da mesa NA . − NB = − ~u N ; mA g = − ĵ mA g ; NA = ĵ N 0 As equações de Newton, em componentes, são : mB aB,X = N sin θ (2.2.1) mB aB,Y mA aA,X mA aA,Y = N cos θ − mB g = − N sin θ = − N cos θ − mA g + N 0 (2.2.2) (2.2.3) (2.2.4) Além das equações de Newton da dinâmica, é preciso explicitar os vı́nculos do sistema : bloco B plano inclinado A - mesa M. Considerando o laboratório como um referencial inercial, a mesa está em repouso nele e só contribue com a sua reação normal NA . O vı́nculo entre o plano A e a mesa M é que o deslocamento relativo deles é sempre horizontal e a mesa fica em repouso. Tomando derivadas em relação ao tempo temos que a aceleração de A deve ser perpendicular à vertical : 0 = ~aA · ĵ ≡ aA,Y (2.2.5) O contato entre o bloco B e A é de mesmo formalizado pelaexigência que odeslocamento relativo deve ser perpendicular à normal ao plano inclinado : ~ u = î sin θ + ĵ cos θ e de mesmo para as acelerações : 0 = (~aB − ~aA ) · î sin θ + ĵ cos θ ≡ (aB,X − aA,X ) sin θ + (aB,Y − aA,Y ) cos θ (2.2.6) 2 As 6 equações {(2.2.1),(2.2.2),(2.2.3),(2.2.4),(2.2.5), (2.2.6)} determinam as 6 incognitas {aB,X , aB,Y , aA,X , aA,Y , N, N 0 }. Obtemos de (2.2.4) e (2.2.5) N 0 = N cos θ + mA g (2.2.7) Substitumos {aB,X , aB,Y , aA,X , aA,Y } das 4 primeiras equações em (2.2.6), o que permite determinar a reação entre o bloco e o plano inclinado :N . N = mA mB g cos θ mA + mB sin2 θ (2.2.8) As acelerações são : aB,X = aB,Y = aA,X = aA<Y = mA mA + mB sin2 θ mA mA + mB g cos2 θ −g = − g sin2 θ mA + mB sin2 θ mA + mB sin2 θ mB − g cos θ sin θ mA + mB sin2 θ 0 g cos θ sin θ (2.2.9) (2.2.10) (2.2.11) (2.2.12) Segunda pergunta : Qual deve ser a força horizontal aplicada ao plano inclinado A para que o bloco B não se move em relação a este plano? As equações de Newton, em componentes, são : mB aB,X mB aB,Y mA aA,X mA aA,Y = = = = N sin θ N cos θ − mB g − N sin θ + Fext − N cos θ − mA g + N 0 (2.2.13) (2.2.14) (2.2.15) (2.2.16) Mas os vı́nculos agora são 3 em lugar de 2 ! A aceleração vertical do plano, de novo, é nula, como é teambém a aceleração relativa de B e A. aB,X − aA,X aB,Y − aA,Y aA,Y = = = 0 0 0 (2.2.17) (2.2.18) (2.2.19) Temos agora 7 equações {(2.2.13),...,(2.2.19)} e 7 incognitas : {aB,X , aB,Y , aA,X , aA,Y , N, N 0 , Fext }. A solução é dada por : aB,Y = aA,Y = 0 aB,X = aA,X = g tan θ mB N= g cos θ N 0 = (mA + mB ) g Fext = (mA + mB ) g tan θ 3 2.3 Uma curva em Monza Consideremos um automóvel movendo-se com velocidade escalar constante v em uma curva circular de raio R. O leito da esstrada é inclinado lateralmente nas curvas com uma surelevação externa. Numa corte transversal o leito faz um ângulo θ com o plano horizontal. A força de contato entre o carro e a estrada tem uma componente tangencial devido ao atrito, que supomos estático, sobre os pneus do automóvel. Seja µ o coeficiente de atrito estático, determine qual é a faixa de velocidade que o carro pode ter para continuar na curva com raio R. ————————————————————————————————————– Solução : Olhando o desenho abaixo (Imagine !) : O carro na curva inclinada : Numa posição instantânea do carro, seja î o vetor unitário horizontal apontando para o centro da curva e ĵ o vetor unitário vertical para cima. O vetor unitário transversal à curva, apontando para cima da estrada é ~t = − î cos θ + ĵ sin θ e a normal ao leito da estrada é ~ n = + î sin θ + ĵ cos θ. Podemos inverter essas relações e obtemos : î = − cos θ ~t + sin θ ~ n ĵ = + sin θ ~t + cos θ ~ n (2.3.1) Para continuar no movimento circular, a aceleração tem que ser centripeta : ~a = de Newton para o carro é : ~ +F ~ at m ~a = m ~g + N v2 R î. A equação (2.3.2) ~ = N ~n e F ~ at = Fat ~t, escrevemos essa equação vectorial em componentes nos eixos {~ Com N n, ~t} : m v2 cos θ R m v2 + sin θ R − = − m g sin θ + Fat = − m g cos θ + N Obtemos : Fat m v2 v2 = − cos θ + m g sin θ = m g − cos θ + sin θ R gR (2.3.3) 2 N = + 2 mv v sin θ + m g cos θ = m g + sin θ + cos θ R gR Nota-se que N é sempre positivo de modo que o contato é mantido. A condição de atrito estático (transversal !) é que − µ N ≤ Fat ≤ +µ N 4 (2.3.4) Notaremos θe o ângulo entre 0 e π/2 tal que tan θe = µ e K = v2 /(g R). Substituindo (2.3.3) em (2.3.4), obtemos : K (cos θ − tan θe sin θ) ≤ sin θ + tan θe cos θ K (cos θ + tan θe sin θ) ≥ sin θ − tan θe cos θ Como cos θe > 0, temos K cos (θ + θe ) K cos (θ − θe ) ≤ ≥ sin (θ + θe ) sin (θ − θe ) (2.3.5) (2.3.6) Caso cos (θ − θe ) > 0, teremos tan (θ − θe ) ≤ v2 ≤ tan (θ + θe ) gR (2.3.7) Nota-se que Fat é positiva, i.e. dirigida para cima, se v2 /(g R) ≤ tan θ : Em baixa velocidade a força de atrito não deixa o carro sair da curva por dentro. Se v2 /(g R) ≥ tan θ, ela é dirigida para cima e não deixa o carro sair da curva para fora. Exercı́cio : Discute os casos 1) de um contato liso e 2) θ = 0. 5