Aos Leitores Razões em Jogo é um livro que apresenta uma abordagem de todos os pontos programáticos da disciplina «Introdução à Filosofia» do 10.º ano. Na sua elaboração, os autores defrontaram-se com alguns problemas prévios cuja resolução se reflecte nas opções de fundo com que estruturaram a obra e engendraram o seu discurso. Importará por isso, nesta breve apresentação, enumerar alguns desses problemas e explicitar as opções assumidas. Primeiro problema: de enquadramento temporal. Não se renegando a riqueza de um património e de uma tradição filosófica de que somos herdeiros, mas sabendo que a contemporaneidade é marcada por uma postura crítica relativamente a essa mesma tradição, a dificuldade que se colocou aos autores foi a de articular o discurso da tradição e os discursos da contemporaneidade. Para o fazer, seguiram uma estratégia de diferenciação, caracterizando os pressupostos do primeiro e apresentando, na sua vertente crítica, as propostas dos segundos. Deste modo procuraram introduzir o elemento reflexivo e crítico que conduziu ao questionar do modo tradicional de conceber a filosofia e, simultaneamente, mostrar como o pensamento filosófico, na contemporaneidade, colhe os frutos inovadores desse criticismo. Segundo problema: de enquadramento filosófico. É sempre a partir de uma determinada maneira de encarar a filosofia que se escrevem obras filosóficas ou sobre filosofia. No presente caso, insiste-se na ideia de que a tematização de problemas origina uma pluralidade de filosofias e de discursos cuja fundamentação, mesmo quando se pretende radical e última, não pode deixar de ser estabelecida por via argumentativa. Esta é a ideia que mais fecundamente nos pareceu possibilitar a ligação da filosofia àquilo de que tantas vezes é acusada de andar divorciada: da prática, do agir, das questões concretas perante as quais há que deliberar e decidir o mais razoavelmente possível. Terceiro problema: de gestão do programa. Tentámos ser coerentes no modo de abordar um programa cuja unidade é deveras problemática. Dirigimos o nosso esforço no sentido de articular os diferentes temas abordados e, sobretudo, procurámos manter uma mesma linha de leitura na abordagem transversal das unidades programáticas. Sem pretender conciliar o inconciliável, mas procurando também um fio condutor que permitisse uma apropriação significativa dos conteúdos, tentámos contornar os obstáculos que se nos defrontaram por via filosófica, isto é, assumindo, por um lado, o pluralismo e a conflitualidade filosófica, e evidenciando, por outro, os pressupostos que enquadram as diversas perspectivas em confronto. Quarto problema: de enquadramento pedagógico. Pareceu-nos fundamental estabelecer uma distinção clara entre o texto dos autores e os textos de apoio e desta forma escapar à produção de um emaranhado textual de feição sincrética e de coerência duvidosa. Encarámos a articulação entre o texto por nós escrito e os textos subsidiários como uma relação de explicitação, aprofundamento e crítica, não negligenciando a relevância que numa introdução à filosofia desempenha o trabalho de hermenêutica textual nem a importância de proporcionar, pela multiplicidade e variedade de textos seleccionados, a possibilidade de se fazerem percursos de análise diferenciados. Procurámos ainda ser filosoficamente «pedagógicos» quer na apresentação sistemática dos «Tópicos a reter e a saber explicitar», quer ainda nas perguntas sobre os textos: nestes dois pontos, foi sempre nossa a preocupação de, a par de promover a assimilação de conteúdos e de linguagens, levar o aluno a reflectir e a pensar. Por sua vez, nas «Propostas de Actividades» — que tentámos acompanhar com vários suportes e recursos como filmes, discos, textos, etc. — procurámos criar alternativas à habitual exposição didáctica. Assim, sugerem-se situações que deverão permitir a mobilização da criatividade, da iniciativa e do espírito crítico dos intervenientes. Quinto problema: do lado prático do contexto escolar. De um lado o aluno — representante orgulhoso da irredutível tribo dos jovens; do outro o professor — fiel depositário de um Saber e de uma Missão incumbida pela sociedade que lhe reconheceu a mestria. Entre os dois, tantas vezes, um mal-entendido. O problema é que a escola e em particular as disciplinas que tantas vezes são julgadas inúteis — as letras, para que servem afinal? — exigem capacidades que a sociedade de consumo se habituou a considerar estranhas. Quisemos que os problemas da filosofia não chegassem ao leitor em versão «menores de dezoito anos». Tratou-se de não fazer batota e de prestar justiça ao leitor quando decidimos não o tratar nem como um consumidor de garatujas filosóficas mais ou menos inocentes e inúteis, nem como um leigo que, de repente se vê confrontado com os mistérios de uma ciência oculta; preferimos antes considerá-lo como um concidadão da mesma «aldeia global», que se depara com os mesmos problemas e angústias que nós. Sócrates, lá no fundo, há-de querer dizer alguma coisa a um jovem nascido em Portugal no século XX. Professor e aluno frente a frente com Sócrates, pode não ser uma imagem mirabolante. Se quisermos, se o tentarmos, sem cedermos às caricaturas, talvez ainda seja possível. E um dia, inesperadamente, encontramo-nos na filosofia. Os Autores «O sacerdote ascético mostrou-se sob a forma mais repugnante e tenebrosa, sob a forma da lagarta e, nesta forma, teve de começar o filósofo... Verificou-se já a metamorfose? Saíu já a borboleta de mil cores e veio ao mundo banhar-se de sol?» Nietzsche, A Genealogia da Moral, Guimarães Editores, Lisboa, 1976, p. 113. . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . ....... Índice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .... A INTENÇÃO FILOSÓFICA E A DIVERSIDADE DOS SABERES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . I. DO VIVIDO AO PENSADO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1. O homem e o mundo: os saberes decorrentes da experiência . . . . . 1.1. Sobre o conceito de experiência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2. A diversidade dos saberes decorrentes da nossa experiência do mundo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3. A relação do homem com os saberes: da atitude natural à atitude reflexiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3.1. Viver, ter ideias, pensar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3.2. O caminho para a reflexão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3.3. Reflexão e actividade filosófica: a fecundidade filosófica da dúvida e da crítica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2. A linguagem e o discurso enquanto instrumentos lógicos do pensamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.1. Racionalidade, lógica e lógicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2. Lógica formal e lógica informal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3. Lógica, linguagem e discurso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3.1. A teoria clássica da linguagem como instrumento. . . . . . . . . . . . . 2.3.2. Linguagem, língua e fala: noções básicas da linguística. Funções da linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3.3. Lógica e linguagem em Aristóteles . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3.3.1. O conceito e o termo. Extensão e compreensão . . . . . . . . 2.3.3.2. O juízo e a proposição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3.3.3. O raciocínio. Inferências imediatas e mediatas . . . . . . . . . 2.4. Aspectos da linguagem na perspectiva da filosofia contemporânea. . . . . 3. A construção configuradora da experiência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1. Não há experiência pura. Toda a experiência é construção. . . . . . . . . . . 3.1.1. O contributo da psicologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2. A experiência estética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2.1. A experiência estética em sentido lato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2.1.1. Abordagem etimológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2.1.2. A relação entre aísthesis e nous . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2.2. A experiência estética em sentido restrito . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3. A experiência científica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3.1. Abordagem etimológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3.2. A não-espontaneidade da ciência: o conhecimento científico como processo de apreensão e racionalização do real . . . . . . . . . . 3.4. O direito e a política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4.1. A sociedade como elemento de possibilidade da vida humana . . . 10 12 14 16 17 27 27 30 35 44 46 48 51 53 54 58 58 59 59 61 66 67 69 72 72 72 72 73 76 76 78 81 81 II. O LUGAR DA FILOSOFIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1. A definição da Filosofia como problema filosófico . . . . . . . . . . . . . . . 1.1. Filosofia, cultura e dinâmica civilizacional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2. Filosofia, filosofias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2.1. A ausência de uma unidade definicional da filosofia enquanto saber. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2.2. A ausência de procedimentos metódicos específicos, protocolarmente estabelecidos e consensualmente aceites . . . . . . 1.3. A tensão problemática e o dinamismo filosófico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.4. Experiências conducentes ao filosofar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.5. Campos da reflexão filosófica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2. A especificidade da filosofia: autonomia, radicalidade, historicidade e universalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.1. Um campo atravessado por uma problematicidade intrínseca. . . . . . . . . 2.2. Tradição filosófica e filosofia hoje . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2.1. Autonomia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2.2. Radicalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2.3. Historicidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2.4. Universalidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3. Os horizontes da filosofia e a busca de fundamentos . . . . . . . . . . . . . 3.1. O que significa «fundamentar»?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2. O valor dos fundamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3. Os horizontes da filosofia: racionalidade, razoabilidade ou alargamento do pensável.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 90 92 94 96 100 102 105 109 110 111 114 117 118 121 123 127 128 129 133 A DINÂMICA DO SER HUMANO: A ACÇÃO E A QUESTÃO DOS VALORES . . . . . . . . . . . . . . . 134 I. A ACÇÃO HUMANA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1. Análise e compreensão do fenómeno do agir . . . . . . . . . . . . . . 1.1. Os planos do acontecer, do fazer e do agir . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2. Intenções, motivos e causas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3. O conceito de agente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.4. Agente e intenção: o problema da responsabilidade . . . . . . . . . . . . . . . 2. As condicionantes e os limites da acção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.1. Será o homem absolutamente livre? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2. As limitações do agir humano: os planos natural e histórico. . . . . . . . . . 2.2.1. As limitações naturais: físicas, biológicas e psicológicas . . . . . . . 2.2.2. Os limites histórico-culturais: a finitude . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3. O agente criador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136 138 139 142 147 149 152 152 157 157 162 167 II. OS VALORES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1. Facto e valor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.1. A distinção tradicional entre juízos de facto, juízos de valor e seu questionamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2. A articulação entre factualização e valoração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 172 174 174 177 1.3. O estatuto dos factos e das verdades: o critério do auditório. . . . . . . . . . 1.4. A polaridade axiológica: valores e acção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.4.1. Valores concretos e valores abstractos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2. Historicidade e perenidade dos valores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.1. Essencialismo ou relativismo? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2. Genealogia e crise dos valores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3. Os valores no mundo contemporâneo: as novas polarizações . . . . . 3.1. Super-industrialização/inquietação ecológica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1.1. As novas ameaças do fim do milénio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1.2. A ciência moderna e o advento da super-industrialização. . . . . . . 3.1.3. Os reflexos globais da super-industrialização: países do norte e países do sul . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1.4. As últimas fronteiras: a colonização do espaço . . . . . . . . . . . . . . . 3.2. Uniformização cultural/direito à diferença . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2.1. Massificação/individualidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2.2. Direito à informação/direito à privacidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2.3. As ameaças aos grupos mais desprotegidos . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3. Progresso científico/nostalgia mítica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 180 181 183 191 195 197 203 203 203 205 III. MULTIPLICIDADE DOS CAMPOS DE VALORES . . . . . . . . . . . . . . . 1. A dimensão ética do agir . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.1. Moral e ética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2. Liberdade, decisão, responsabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3. A razão no seu uso prático: a razoabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.4. Nós e os outros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.5. Não faças aos outros…. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.6. Ética e política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.6.1. Haverá uma comunidade política eticamente desejável? . . . . . . . 1.6.2. Direitos humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.6.3. Organizações de solidariedade internacional . . . . . . . . . . . . . . . . 1.7. Problemas de ética aplicada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2. A atitude estética e a expressão artística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.1. Aísthesis, ars (téchne) e poiesis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2. A especificidade da atitude estética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3. O advento das teorias estéticas e a «morte da arte» . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4. A intemporalidade das manifestações estéticas (universalidade dos valores estéticos) e a sua relação com os contextos socioculturais (relativismo das formas de arte) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.5. O problema do Belo: estéticas metafísicas e relativistas. «Os gostos não se discutem»? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.6. A arte como conquista e expressão da criatividade pessoal . . . . . . . . . . 2.6.1. A arte como auto-expressão do artista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.6.2. A arte como transmissão do artista para o público . . . . . . . . . . . . 2.7. A arte como concretização emocional e símbolo da «verdade do ente». . 3. A experiência religiosa e o mundo dos valores . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1. O lugar de abertura à experiência religiosa: a relação com o transcendente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 232 234 235 239 247 252 256 261 262 264 267 268 270 270 274 277 205 208 210 213 219 219 222 279 286 290 290 293 294 298 298 3.2. O sagrado e o profano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3. Posições sobre a existência de Deus. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4. A secularização e a dessacralização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4.1. A importância da revolução científica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4.2. O Iluminismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4.3. O cientismo positivista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4.4. O papel dos «mestres da suspeita»: Freud, Marx e Nietzsche . . . . 3.4.5. A cultura científica e tecnológica das actuais sociedades de consumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.5. O sagrado no mundo contemporâneo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 305 309 313 313 315 317 319 IV. SITUAÇÕES/PROBLEMA DO MUNDO CONTEMPORÂNEO . . . . . . 1. Os direitos humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.1. A protecção da vida e o problema da pena capital . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2. Paz, desenvolvimento e meio ambiente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3. Liberdade de pensamento, de consciência, de religião, de opinião e de expressão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.4. Liberdade de associação e direito de participar na condução da administração pública. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.5. Desenvolvimento, bem-estar económico, social e cultural . . . . . . . . . . . 1.6. Discriminação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.6.1. Discriminação baseada na cor ou na raça. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.6.2. Discriminação baseada no sexo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.6.3. Discriminação relativamente aos deficientes . . . . . . . . . . . . . . . . 1.6.4. Discriminação por se pertencer a um grupo minoritário . . . . . . . . 330 332 332 338 326 328 338 339 339 341 341 342 342 343 A FILOSOFIA NO TEMPO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 344 I. O PROBLEMA DA FILOSOFIA E DA SUA HISTÓRIA. . . . . . . . . . . . . 1. Filosofia e história da filosofia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.1. As matrizes do pensamento ocidental: a filosofia clássica e o legado judaico-cristão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.1.1. A origem histórica da filosofia: alguns elementos para a sua contextualização . . . . . . . . . . . . . . . 1.1.2. A herança da filosofia clássica: suas problemáticas, suas formas de as tematizar e sua articulação com os contextos sociopolítico-culturais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.1.3. O legado judaico-cristão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2. A filosofia como reflexo, crítica e interpelação do seu tempo . . . . . . . . . 346 348 357 375 378 II. Tradição e inovação em filosofia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1. A razão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.1. A razão é a coisa mais abundante do mundo… . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2. Acepções do termo razão: a razão como faculdade e como fundamento. . 1.3. Desconfiança e crise da razão. Razão constituída e constituinte. . . . . . . 380 382 382 384 391 354 354 Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 397 . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ................ ............. 1. O homem e o mundo: os saberes decorrentes da experiência Sumário O homem, o mundo e os saberes. O conceito de experiência. Saberes passíveis de serem partilhados e transmitidos e saberes que provêm de uma experiência pessoal e intransmissível. «Saber sem mais», «saber que», «saber de» e «saber em que se acha que». Atitude natural e reflexão. Caminhos que conduzem ao filosofar e os elementos caracterizadores da actividade filosófica. Problematização, questionamento e crítica. O nascimento do pensamento racional ou a emergência do discurso como nova forma de relação entre os homens e fundamento da organização humana. A relação do homem com o mundo é complexa e multifacetada. Se, por um lado, somos sempre produto da nossa inserção e adaptação a um mundo que já aí estava antes de nós, por outro, e à medida que a nossa individualidade e autonomia se vão estruturando, vamo-nos tornando seres cada vez mais activos, com capacidade de intervir, de participar, de produzir e de criar, convertendo-nos em agentes de transformação do mundo. O tecido simbólico, cultural e social, em que nos temos de inserir está cheio de diversidade, de códigos, de tradições, de símbolos, de enigmas, de saberes. Para acedermos à sua compreensão e para nele nos conseguirmos movimentar e orientar necessitamos de longos e infinitos processos de aprendizagem. Mas, perguntar-se-á, quem nos ensina e o que é que aprendemos? Como e onde aprendemos? E com que tipo de saberes lidamos? Podemos, a este respeito, começar por considerar dois tipos de saber: os que, à partida, são passíveis de serem partilhados e, por isso, de nos serem transmitidos, seja espontânea ou metodicamente, e aqueles que provêm de uma experiência que é pessoal e intransmissível, isto é, que se produzem sempre como uma conquista pessoal, que implicam esforço e que resultam de uma actividade livre, responsável e reflexiva. texto 1 14 O jogo da vida conta é ganhar dinheiro e nada mais, enquanto outros defendem que o dinheiro sem saúde, tempo livre, afecto sincero ou serenidade de espírito de nada vale. (...) O único ponto sobre o qual, à primeira vista, estamos todos de acordo é que nem todos estamos de acordo. Mas lembra-te de que as opiniões diferentes coincidem também num outro ponto: a saber, que aquilo que vai ser a nossa vida é, pelo menos em parte, resultado do que quiser cada um de nós. Se a nossa vida fosse algo completamente determinado e fatal, irremediável, todas estas questões careceriam do mínimo sentido (...). E aqui convém introduzir dois esclarecimentos a propósito da liberdade: Primeiro: não somos livres de escolher o que nos acontece (ter nascido certo dia, de certos pais, em tal país, sofrer de um cancro ou ser atropelados por um carro, ser bonitos ou feios, ..., etc.), mas somos livres de responder desta maneira ou daquela ao que nos acontece (obedecer ou revoltar-nos, ser prudentes ou temerários, vingativos ou resignados, vestirnos de acordo com a moda ou disfarçar-nos de urso das cavernas, ..., etc.). Segundo: sermos livres de tentar alguma coisa nada tem a ver com a sua obtenção indefectível. A liberdade (que consiste em escolher dentro do possível) não é a mesma coisa que a omnipotência (que seria alguém conseguir sempre aquilo que quer, ainda que tal pareça impossível).» Maria Xosé Fernández, Labirinto «Há ciências que se estudam pelo simples interesse de saber coisas novas; outras, para se adquirir uma capacidade que permita fazer ou utilizar alguma coisa; a maioria, para se conseguir um lugar de trabalho e com ele ganhar a vida. Se não sentirmos curiosidade nem necessidade de realizar esses estudos, poderemos prescindir deles tranquilamente. (...) O que quero dizer com isto é que há certas coisas que podemos, conforme nos dê jeito, aprender ou não. Como ninguém é capaz de saber tudo, não temos outro remédio senão escolher e aceitar com humildade o muito que ignoramos. Pode-se viver sem saber astrofísica, marcenaria, futebol e até mesmo sem se saber ler nem escrever: vive-se pior, se quiseres, mas vive-se. Ora bem, há outras coisas que temos que saber, porque nelas, como costuma dizer-se, está em jogo a nossa vida. (...) Numa palavra, entre todos os saberes possíveis existe pelo menos um que é imprescindível: o de que certas coisas nos convêm e outras não. (...) Saber viver não é lá muito fácil porque existem diversos critérios opostos em relação ao que devemos fazer. Em matemáticas ou geografia há sábios e ignorantes, mas os sábios estão quase sempre de acordo quanto ao fundamental. Quando se trata de viver, em contrapartida, as opiniões estão muito longe de serem unânimes. (...) Alguns afirmam que viver para os outros é o que há de mais nobre e outros dizem que o mais útil é fazer com que os outros vivam para nós. Segundo certas opiniões o que texto 1 1. Caracteriza o saber em que, como diz o autor, «está em jogo a nossa vida». 2. Comenta a frase: «há certas coisas que se podem, conforme nos dê jeito, aprender ou não». 3. Relaciona a afirmação «saber viver não é lá muito fácil» com os dois esclarecimentos que o autor apresenta sobre a liberdade. • A inserção do homem no tecido cultural implica processos de formação e aprendizagens constantes; Tópicos • há saberes adquiridos e saberes conquistados: os primeiros são passíveis de serem transmitidos, os segundos resultam de experiências pessoais e estão ligados à unicidade de cada existência humana. a reter e a saber explicitar 15