1 introdução/revisão bibliográfica

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS
AVALIAÇÃO DA PROPRIEDADE ANTIINFLAMATÓRIA DE FLORES DE
Calendula officinalis L. (ASTERACEAE) VISITADAS E NÃO VISITADAS POR
INSETOS
ELDER TSCHOSECK BORBA
CRICIÚMA, FEVEREIRO, 2009.
ELDER TSCHOSECK BORBA
AVALIAÇÃO DA PROPRIEDADE ANTIINFLAMATÓRIA DE FLORES DE
Calendula officinalis L. (ASTERACEAE) VISITADAS E NÃO VISITADAS POR
INSETOS
Projeto de pesquisa apresentado ao Programa de
Pós-Graduação em Ciências Ambientais da
Universidade do Extremo Sul Catarinense para o
Exame de Qualificação.
Área de Concentração:
Ecologia e Gestão de Ambientes Alterados
Orientadora:
Profª. Drª. Luciane Costa Campos
CRICIÚMA, FEVEREIRO, 2009.
3
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO/REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................... 4
2
RELEVÂNCIA/JUSTIVICATIVA................................................................................. 7
3
OBJETIVOS ..................................................................................................................... 9
3.1
Objetivo geral ............................................................................................................. 9
3.2
Objetivos específicos .................................................................................................. 9
4
METODOLOGIA........................................................................................................... 10
4.1
Local do estudo ......................................................................................................... 10
4.2
Obtenção das amostras ............................................................................................. 10
4.3
Preparação do extrato metanólico de C. officinalis .................................................. 11
4.4
Animais utilizados .................................................................................................... 11
4.5
Teste de formalina .................................................................................................... 11
4.6
Edema de pata induzido por carragenina .................................................................. 12
4.7
Análise cromatográfica ............................................................................................. 12
4.8
Levantamento etnobiológico .................................................................................... 13
5
CRONOGRAMA ............................................................................................................ 14
6
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 15
7
RESULTADOS PRELIMINARES ............................................................................... 18
7.1
Levantamento etnobiológico .................................................................................... 18
7.2
Resultados e discussão preliminares ........................................................................ 19
8
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 23
4
1
INTRODUÇÃO/REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A Calendula officinalis L. pertence à família da Asteraceae, e, apesar de ser
originária da Europa, foi bem aclimatada no Brasil (BERTONI, 2006). É uma planta de
pequeno porte, classificada como herbácea (RODRIGUES, 2003), muito conhecida
popularmente como “malmequer” ou “maravilha dos jardins”. Suas florescências possuem
cores bem heterogênia, podendo variar do amarelo ao laranja; possui grande interesse
comercial, sendo utilizado na indústria cosmética e alimentícia, sendo ainda utilizado no
paisagismo, possuindo um ciclo anual (MARTINS et al, 1994; BRUNETON, 1995 apud
LEITE, 2005).
Conforme Simões et al (1999), as plantas são de grande importância para a
economia do país, sendo elas a matéria-prima com princípios ativos para maior parte de
fármacos produzidos. Nos países da Europa e Ásia, a C. officinalis possui grande importância
na área da saúde, por influenciar no tratamento de algumas doenças internas como
inflamações, úlceras, dismenorréia, diurético entre outras (YOSHIKAWA M., et al 2001),
podendo ainda, conforme o mesmo autor, ser utilizada na parte externa do corpo, no
tratamento de inflamações na boca e mucosa faríngea, feridas e queimaduras.
Com a vasta vantagem de ser uma planta com efeitos antiinflamatórios, no Brasil
é muito utilizada como medicamento, fazendo-se uso no tratamento de determinadas doenças,
sendo que o chá das flores, quando ingerido, apresenta ação antiplasmódica, expectorante,
anti-abortiva e anemias nervosas; externamente é utilizado para combater inflamações das
víceras, feridas, chagas cancerosas, dor de garganta e icterícia, geralmente utiliza-se as pétalas
maceradas em compressas de alcoolato para feridas abertas (KÖRBES, 1995; MICHALAK,
1997).
A flor é a parte mais utilizada, portanto a mais estudada, conforme Isaac (1992) e
Hänsel et al (1992 apud HAMBURGERA et al., 2003); elas possuem substâncias ativas como
triterpenos, saponinas, ésteres, flavonóides, óleos essenciais, hidrocarbonetos entre outros.
Terpenóides são óleos voláteis que constituem uma grande variedade de
substâncias biossintéticas que provém do isopropeno, sendo que os monoterpenos são mais
comuns (cerca de 90% dos óleos voláteis); os sesquiterpenos também são bem freqüentes
(SIMÕES, 1999).
Em um de seus experimentos, Chandran; Kuttan (2008) comprovaram a ação
antioxidante da C. officinalis e a perioxidação lipídica no fígado de ratos, após passarem por
5
sessões de lesão térmica, os autores ainda descrevem que os radicais livres gerados durante as
lesões foram varridos pelo aumento da glutationa, substância esta que age no sistema de
defesa antioxidante.
Em outro estudo, Rodrigues (2004) verificou a influência de diferentes sistemas
de solventes no processo de extração de substâncias da Calêndula officinalis L. (Asteraceae),
e nele demonstrou a grande incidência de flavonóides na caracterização de suas soluções.
Os flavonóides podem ser encontrados em diferentes estruturas carbônicas, sendo
que a grande maioria é constituída por 15 (quinze) carbonos em seu núcleo fundamental
(SIMÕES et. al, 1999). O mesmo autor ainda descreve algumas das diversas funções dos
flavonóides nas plantas, como proteção contra insetos e fungos indesejáveis entre outras , no
entanto também possuem princípios ativos antioxidantes, agindo como antiinflamatório além
de atrair animais com a finalidade de promover a polinização.
Sendo os flavonóides, compostos naturais com diversas aplicabilidades e
distribuição no reino vegetal (SIMÕES et al, 1998), do extrato metanólico da Santiona
insularis foi retirado um derivado flavónico (luteolina) que isolado resultou em uma
substância com ação antiinflamatória em experimentos com ratos, em suas orelhas foram
induzidos dermatites através de azeite de cróton, no qual houve reação tópica
positiva.(GABOR et al., 1986; LEWIS et al., 1989 apud CECHINEL FILHO; YUNES; 2007,
p. 201).
Possuindo volatilidade e consideráveis odores, os óleos essenciais, também
conhecidos como “essências”, podem ser observados no interior de células ou no interior de
glândulas altamente especializadas, constituídas de uma série de substâncias compostas e
complexas, dependendo de suas funções orgânicas (SIMÕES et al, 1998).
Terpenos são óleos essenciais formados por uma diversificada família, no qual
esta variedade se deve ao número de átomos de carbono em sua cadeia, os monoterpenos e
sesquiterpenos são os óleos voláteis mais comuns, apresentam respectivamente 10(dez) e 15
(quinze) carbonos em sua cadeia, diterpenos, triterpenos, e poliprenos apresentam 20 (vinte),
30 (trinta), 40 (quarenta) e n átomos de carbono (SIMÕES et al, 1998).
A presença do aroma produzido pelos óleos voláteis pode estar envolvida na
atração de polinizadores, sendo que dentre os insetos, as abelhas e borboletas são
frequentemente atraídos por aromas de diversas flores.
Também encontram-se evidências de que algumas plantas produzem óleos
voláteis tóxicos como proteção contra predadores e infestantes (KESLEY et al., 1984 apud
SIMÕES; SPITZER, 2001). No entanto, Leite et.al (2006) descreve que a eficiência das
6
plantas em relação a insetos e a produção dos óleos essenciais está intimamente ligada ao
meio ambiente, apontando os níveis de adubação, rotação de cultivo e o policultivo,
alternativas eficazes para a redução da população de pragas em adubação orgânica na
produção de C. officinalis.
Conforme Sartori, (2003), em seus estudos com ratos, demonstrou a presença de
um grupo de triterpenos em extrato bruto hidroalcoólico de C. officinalis, através do edema na
pata induzido por carragenina, produzindo grande eficácia na resposta antiinflamatória.
Muitos autores demonstram em seus experimentos científicos, a vasta variedade e
funções dos óleos voláteis, inclusive a sua produção conforme o meio, especialmente quando
se trata de plantas relacionadas com insetos herbívoros. Mithöfer (2005) induziu a produção
de óleos voláteis em Feijão lima (Phaseolus lunatus L.), produzindo ferimentos em diferentes
indivíduos da mesma espécie; alguns ferimentos foram produzidos mecanicamente, outros
foram produzidos através do contato com Cepaea hortensis (caracol) e larvas de Spodoptera
littoralis (mariposa). Como resposta obteve compostos orgânicos voláteis em diferentes
concentrações; entre os óleos essenciais foram encontrados, principalmente, mono e
sesquiterpeno.
Wei (2007) revelou a produção de monoterpenos e sesquiterpenos em oito
famílias de vegetais sem serem danificadas por insetos ou mecanicamente, entre elas estão:
Fabaceae, Solanaceae (espécie Capsicum annuum), Cucurbitaceae, Apiaceae, Rosaceae, e
Vitaceae, Asteraceae e Solanaceae; no entanto, as famílias Asteraceae e Solanaceae
liberaram maior quantidade de monoterpenos e sesquiterpenos.
7
2
RELEVÂNCIA/JUSTIVICATIVA
Popularmente conhecida por “malmequer” ou “maravilha dos jardins”, a C.
officinalis possui sua florescência anual, geralmente com início no final da primavera até o
final do verão; sua estatura é pequena, podendo variar de 03 (três) a 09 (nove) centímetros
(BERTONI, 2006), sendo classificada como herbácea; suas flores podem ser de coloração
bem diversificada, “variando do amarelo ao alaranjado” (MARTINS et al., 1994;
BRUNETON, 1995 apud LEITE, 2005).
A Calêndula officinalis L. pertence à família Asteraceae, sua origem é incerta,
sendo que seu surgimento é divergente entre os estudiosos. Conforme Corrêa et al (1984) ela
originou-se do Egito e importada para a Europa no século XII e depois para as Américas
(CORREA et al., 1984). É comum a produção de pomadas e compressas com as flores e
folhas utilizadas em ferimentos externos; para uso interno é recomendado o chá das flores
para combater artritismo, doenças nervosas entre outras (FRANCO, 2005), o mesmo autor
afirma a rápida ação contra infecções generalizadas.
Em geral, as plantas possuem épocas do ano no qual concentram maior
quantidade de princípios ativos a serem explorados; o íntegro conhecimento do momento
correto a se fazer a colheita é de grande importância para que o material possua a maior
quantidade de substâncias fitoquímicas desejáveis possível (SIMÕES, 1999).
O mesmo autor ainda descreve que geralmente as possíveis variações do produto
final estão associadas ao momento de plena floração ou a fase que a antecede. Referente à
colheita, os horários dos dias também influenciam na concentração de seus princípios ativos;
se as substâncias a serem extraídas forem óleos essenciais ou alcalóides, o recomendado é
fazer a coleta pela manhã; no entanto, se o objetivo é extrair glicosídeos, é recomendado fazer
a colheita no período da tarde (MARTINS, 1995 apud SIMÕES et al, 1999).
Segundo Valladares et al (2002), as plantas podem ser induzidas a produzir menos
substâncias, ou ainda, gerar outras se sofrerem ataques de insetos fitófagos ou até mesmo
alterar seus princípios ativos referente às visitas de polinizadores, os compostos específicos no
qual a exploração comercial é fundamentada poderá vir a ser comprometido devido tais
mudanças.
Na Argentina, foram feitos experimentos com um tipo de planta nativa da família
Lamiaceae utilizadas pela população da região com usos medicinais e aromáticas e duas
espécies de insetos herbívoros (minadores e gralhadores). Ao analisar os extratos feitos da
8
planta infestada e não infestada pelos insetos, verificou-se que houve modificações nas
quantidades dos principais monoterpenos, o ataque dos dois tipos insetos juntos fez diminuir a
concentração de um tipo de óleo essencial, logo, as plantas que sofreram o ataque apenas dos
insetos mineradores houve um aumento significativo de outro monoterpeno. Alterações em
plantas aromáticas induzidas por fatores ambientais poderão ter implicações econômicas e
merecem maiores estudos (VALLADARES et al, 2002).
Diversos trabalhos apontam a grande importância das Asteraceae no ecossistema,
por serem altamente visitadas por insetos; esta característica pode estar diretamente
relacionada ao fato das flores ficarem abertas, portanto expostas por um longo período de
tempo, proporcionando assim abrigo e alimento (PROCTOR et al., 1996).
Estudos realizados nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina mostraram
a forte relação entre as Asteraceae e abelhas melíferas, apontando a grande afinidade entre
eles por quantidade de abelhas por capítulos florais (ALVES-DOS-SANTOS, 1999; FEJA,
2003; HARTER, 1999; KRUG, 2006; MOUGA, 2005; SCHLINDWEIN, 1995).
Apesar da C. officinalis ser de origem Européia, ela foi disseminada no mundo e
bem aclimatada no Brasil (BERTONI, 2005). A utilização desta planta é ampla e intensa: a
maneira de manipulação pode ser das mais diversas, podendo ser utilizada no paisagismo, nas
indústrias cosméticas e alimentícias; esta vasta opção de mercado que a C. officinalis oferece
se torna um atrativo para pequenos produtores rurais baseado na agricultura familiar (LEITE,
2005).
Devido a grande importância dada do seu cultivo no Brasil e sua rápida difusão
nas diversas áreas comerciais, torna-se relevante seu estudo associado aos artrópodes, pois
poucas são as informações que apresentam e tratam da relação entre a C. officinalis e insetos
(DENT, 1995 apud LEITE, 2005). Ainda ressalta-se influência desta interação na atividade
farmacológica da espécie e a importância do estudo etnobiológico.
9
3
OBJETIVOS
3.1
Objetivo geral
Avaliar a interferência da visitação de insetos sobre a atividade farmacológica e
fitoquímica da C. officinalis e realizar um estudo etnobiológico com um produtor de ervas
medicinais do município de Grão Pará – SC, Brasil.
3.2
Objetivos específicos
- Avaliar comparativamente a propriedade antiinflamatória do extrato metanólico
de flores de C. officinalis protegidas e visitadas por insetos polinizadores e fitófagos através
do modelo de edema de pata induzido por carragenina em camundongos;
- Investigar comparativamente a atividade analgésica do extrato metanólico de
flores C. officinalis protegidas e visitadas por insetos polinizadores e fitófagos através do
modelo de inflamação induzida por solução formalina 2,5%;
- Caracterizar a composição fitoquímica dos extratos de C. officinalis através de
análise cromatográfica;
- Realizar uma investigação etnobiológica com o produtor rural de ervas
medicinais de Grão Pará para resgatar seu conhecimento e percepção sobre biodiversidade e a
relação inseto/planta.
10
4
METODOLOGIA
4.1
Local do estudo
A pesquisa será realizada na propriedade do Sr. Antônio Alberton, localizada na
zona rural do município de Grão-Pará, tendo em vista que a atividade desenvolvida pelo
mesmo diz respeito à pesquisa que será desenvolvida, já que sua propriedade é voltada para a
produção de plantas medicinais no sistema orgânico, sendo esta a principal fonte de renda da
família.
Muito embora a propriedade esteja inserida numa região produtora de fumo,
ocorrem na região remanescentes de Floresta Ombrófila Densa, haja vista que o município de
Grão-Pará se localiza a 93 (noventa e três) metros acima do nível do mar na região sul do
Estado de Santa Catarina.
Situada na microrregião de Tubarão, a referida localidade possui uma área
territorial de 329 km² (trezentos e vinte e nove quilômetros quadrados) e 6 (seis) mil
habitantes, localizada a 192 km (cento e noventa e dois quilômetros) da capital do Estado,
Florianópolis, e 259 km (duzentos e cinqüenta e nove quilômetros) do porto de Itajaí.
O clima do município classifica-se como mesotérmico úmido, Cfa segundo a
classificação climática de Köeppen. Apresenta uma temperatura média anual de 19,2ºC, e o
índice pluviométrico médio variam de 1.300mm a 1.500mm/ano. As geadas são constantes no
inverno, com verões quentes e a cobertura vegetal original era de Floresta Ombrófila Densa,
próximo ao limite sul da Mata Atlântica.
A economia básica do Município está firmada principalmente na suinocultura e na
agricultura, tendo como cultura básica o fumo, seguida pelo milho e feijão. Destaca-se,
também, pela fruticultura, piscicultura, apicultura, na pecuária com a criação de bovinos e
produção de leite, além da avicultura com a criação de aves para o abate (PREFEITURA
MUNICIPAL DE GRÃO-PARÁ, 2007).
4.2
Obtenção das amostras
O material botânico recolhido para a realização do experimento terá origem da
cidade de Grão-Pará (S.C). Seus capítulos florais serão coletados durante toda sua
florescência até o mês de novembro, que corresponde a época de maior quantidade de flores
por indivíduos.
11
Serão coletados 03 Kg (três quilogramas) de capítulos florais expostos ao contato
de insetos e 03 Kg (três quilogramas) de capítulos florais protegidos do contato de insetos,
para que esta proteção seja confeccionada, será utilizada uma cobertura de sombrite, com a
intenção de deixar o interior da cobertura as condições climáticas iguais a do seu exterior. As
plantas de dentro da cobertura serão inspecionadas diariamente pelo proprietário da área para
evitar entrada de eventuais invasores.
4.3
Preparação do extrato metanólico de C. officinalis
O material seco em estufa a 40°C (quarenta graus Celsius) será moído e colocado
em suspensão com solvente metanol PA, sendo colocada a quantidade suficiente para cobrir o
material, deixado em repouso por 07 (sete) dias em local seco e protegido da luz. O solvente
será reposto caso haja necessidade durante esse período. Após este período, com auxílio de
funil e gaze, o extrato fluido será filtrado e concentrado em Rota-vapor (Fisaton 802D), numa
temperatura de 40ºC (quarenta graus Celsius) e 117 RPMs (cento e dezessete rotações por
minuto). Os extratos metanólicos (plantas protegidas e plantas visitadas) serão armazenados
em frascos hermeticamente fechados, num local fresco e ao abrigo da luz.
4.4
Animais utilizados
Serão utilizados camundongos machos da linhagem CF1, adquiridos do FEPPS
(Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde – RS), com idade entre 2 a 3 meses e
com massa corporal entre 35-40 gramas. Os animais serão mantidos a uma temperatura
controlada (20 +/- 3ºC), com água e comida “ad libitum”. As soluções serão administradas
nos animais numa concentração de 0,01mL/g de peso corporal.
4.5
Teste de formalina
Grupos de animais (n = 10) receberão os tratamentos, os extratos metanólicos de
C. officinalis 50, 100, 200 e 400,00 mg/kg (v.o.), controle solução salina 0,9% (v.o.) ou
diclofenaco sódico 50,0 mg/kg (i.p.) e trinta min após será administrada na superfície ventral
da pata traseira direita 25L de solução formalina 2,5%.
Imediatamente após a injeção os animais serão colocados individualmente em
caixas de observação. A medida de dor será quantificada pelo número de lambidas na pata
12
tratada nos intervalos de 0-5 min e 15-30 min após a injeção de formalina. O primeiro período
de observação é considerado fase de resposta neurogênica e o segundo período considerado
como fase de resposta à dor inflamatória (DUBUISSON; DENNIS, 1977).
4.6
Edema de pata induzido por carragenina
Para indução do edema será injetado na pata dos animais a dose de 2mg de
carrageninia em volume constante de 50 µL, no coxim plantar da pata direita e a pata
contralateral, controle receberá o mesmo volume de solução salina estéril (ZHANG et al.,
2007).
Todos os grupos (n=10) receberão os tratamentos com os extratos metanólicos de
C. officinalis nas doses de 50, 100, 200 e 400,0 mg/kg (v.o.), controle solução salina 0,9%
(v.o.) ou diclofenaco sódico (50,0 mg/kg, (i.p.). O edema de pata será avaliado antes e em 1,
2, 3 e 4 horas após a administração da carragenina através da diferença entre o tamanho da
pata inoculada e a pata contra-lateral utilizando-se um paquímetro digital.
A análise estatística dos resultados dos testes de formalina será feita através do
teste de variância ANOVA e do edema de pata através do teste General Linear Models para
medidas repetidas. Ambos serão seguidos de post hoc Student-Newman-Keuls para
comparação entre os grupos. A correlação entre a ocorrência e abundância de insetos e os
resultados dos testes farmacológicos será testada por meio do cálculo de correlação de
Pearson e da análise de regressão (P < 0,05).
4.7
Análise cromatográfica
A análise será conduzida utilizando o sistema de HPLC (Waters) equipado com
uma bomba de 600-F, 717plus automático, seguido de uma linha desgaseificador (AF) e
equipado com um detector UV-Vis (PDA 2996). Uma coluna C18 (25 cm, 4,6 mm i.d.; filme
de 0,5 m de espessura e 100A) será empregada (Luna, Phenomenex) a uma temperatura de
25ºC. O sistema de gradiente utilizado constará de um solvente A (água/metanol/ácido
fórmico, 79,7/20/0.3) e B(metanol/ ácido fórmico, 99.7/0.3) misto, começando com 0% B,
aumentando de forma linear para 25% B em 20 min, 50% de B em 15 min, 70% de B em 15
min, 80% em 10 min, e 0% para 10 minutos, com vazão de 0,9 mL/min. A detecção por
espectro de varredura será realizada a onda de 200 a 400 nm. Os solventes utilizados terão
elevado grau de pureza e serão filtrados (0,2m, Schleicher& Schuell) e desgaseificados por
13
sonificação antes de usar. Amostra consistirá de aproximadamente 1,2 mg/mL de extrato
utilizando um solvente A, sendo filtrada em filtro de membrana 0,45m (Millex, Millipore).
Volume injetado será de 20 L e saída de 280nm (HECK; MEJIA, 2007).
A avaliação fitoquímica dos extratos será realizada no laboratório NIQ-FAR da
Univali, coordenado pelo Prof. Dr. Valdir Cechinel Filho e orientada por ele.
4.8
Levantamento etnobiológico
Os dados serão coletados e analisados por meio de questionário semi-estruturado
aplicado para o proprietário da área rural e produtor de plantas medicinais, Sr. Antônio
Alberton. Sua produção possui certificado de origem e manejo orgânico e tem como principal
destino, o comercio e estabelecimentos de produtos naturais e laboratório de fototerápicos.
Para o maior esclarecimento e confiabilidade do trabalho a ser realizado, o
participante irá preencher um termo de consentimento onde estará descrito de forma simples e
clara o objetivo da entrevista a ser realizada. Neste questionário serão abordados assuntos
referente a C. officinalis, tais como: a técnica utilizada em seu plantio, cuidado e coleta; sua
relação entre insetos e outros animais; compreensão da percepção sobre a biodiversidade da
localidade; utilização da planta com finalidades fototerápicas pela família; sua freqüência de
uso e quais foram as formas que obteve conhecimento sobre o uso medicinal da planta. O
entrevistado terá no ato da entrevista o tempo livre para expressar abertamente seu
entendimento sobre o tema específico da pesquisa.
5
CRONOGRAMA
Atividade
2008
mar
Revisão
Bibliográfica
Preparação de
canteiros
Investigação
etnobiológica
Coleta
inflorescências
Preparação
extratos
Teste formalina
Edema de pata
Análise
resultados
Elaboração da
dissertação
Defesa da
dissertação
abr
M
mai
A
jun
M
jul
J
ago
J
set
2009
A
out
S
nov
O
dez
N
jan
D
fev
J
mar
F
abr
M
mai
A
jun
M
jul
J
ago
J
set
A
out
S
nov
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dez
N
D
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6
REFERÊNCIAS
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18
7
RESULTADOS PRELIMINARES
7.1
Levantamento etnobiológico
Primeiramente, antes de abordar o levantamento etnobiológico, imprescindível se
faz tecer algumas considerações a respeito da etnobiologia.
A etnobiologia é um campo relativamente novo da ciência, que ainda está
construindo seu método e sua teoria a respeito da maneira como os povos classificam os seres
vivos, seu ambiente físico e cultural. Pressupõe-se que cada povo possua um sistema único de
perceber e organizar coisas, eventos e comportamentos (DIEGUES; ARRUDA, 2001).
A criação de uma “etnociência da conservação” foi influenciada nas décadas de
1970 e 1980 com o nascimento e expansão de vários movimentos socioambientais
preocupados com a conservação e a melhoria das condições de vida da população rural. O
aparecimento e o fortalecimento do movimento dos povos indígenas, dos seringueiros e dos
quilombolas com propostas concretas de áreas protegidas, como as reservas extrativistas, foi
no Brasil o momento chave do aparecimento dessa nova ciência (DIEGUES; ARRUDA,
2001).
Segundo autores, a etnobiologia é o estudo da visão, compreensão e interação das
populações sobre a natureza. De acordo com Posey (1987) etnobiologia é o estudo dos
conhecimentos e conceitos cognitivos desenvolvidos pelas populações a respeito da biologia,
ditas como verdade durante a história. É o estudo da adaptação do homem em determinados
ambientes seguindo um sistema de crenças.
A preocupação com a biodiversidade aparece Estratégia mundial para a
conservação, da União Internacional para a Conservação da Natureza-UICN (1984). A
proteção da diversidade biológica se completa com a manutenção da diversidade genética,
necessária tanto para assegurar o fornecimento de alimentos, de fibras e certas drogas quanto
para o progresso científico e industrial. E ainda, para impedir que a perda das espécies cause
danos ao funcionamento eficaz dos processos biológicos (UICN, 1984).
Alguns autores acreditam que culturas e saberes tradicionais podem contribuir
para a manutenção da biodiversidade dos ecossistemas. Em numerosas situações, na verdade,
esses saberes são o resultado de uma co-evolução entre as sociedades e seus ambientes
naturais, o que permitiu um equilíbrio entre ambos. Um aspecto relevante relacionado às
culturas tradicionais é a existência de sistemas de manejo dos recursos naturais, marcado pelo
respeito aos ciclos da natureza e pela sua exploração, observando-se a capacidade de
19
recuperação das espécies de animais e plantas utilizadas. Esse sistema não visa somente à
exploração econômica dos recursos naturais, mas revela a existência de um conjunto
complexo de conhecimentos adquiridos pela tradição herdada dos mais velhos (DIEGUES,
2000).
Dessa forma, estudo etnobiológicos são importantes para esclarecimento da
relação entre o homem e a natureza, tendo como objetivo maior resgatar o conhecimento e
práticas de uso sustentável dos recursos naturais pelas populações locais.
Para o levantamento etnobiológico realizado no presente estudo, a fonte de dados
utilizada foi o conjunto de informações obtidas através de um questionário semi-estruturado,
aplicado ao Sr. Antônio Alberton. A aplicação do questionário foi feita após preenchimento
do termo de consentimento pelo participante, onde constatou o objetivo da pesquisa. Foram
feitos questionamentos sobre a espécie C. officinalis (calêndula) com questões como: a
técnica utilizada em seu plantio, cuidado e coleta; sua relação entre insetos e outros animais;
compreensão da percepção sobre a biodiversidade da localidade; utilização da planta com
finalidades fototerápicas pela família; sua freqüência de uso e quais foram as formas que
obteve conhecimento sobre o uso medicinal da planta se é utilizada pela família, para quais
finalidades é utilizada, a freqüência de uso, onde obteve as informações sobre o uso medicinal
da planta.
As entrevistas realizadas referentes ao estudo etnobiológicos foram feitas nos dias
23/08/2008 e 15/10/2008, em visita à propriedade do Sr. Antônio Alberton.
7.2
Resultados e discussão preliminares
A família Alberton reside na cidade de Grão-Pará desde 1987. O tamanho total da
propriedade é de aproximadamente 22,4 hectares, mas apenas 3.000m2 são destinados para o
plantio de ervas medicinais; no restante de sua extensão continua plantando milho, feijão e
fumo, em menor quantidade. A princípio a família fazia o cultivo de fumo, assim como os
produtores vizinhos a suas terras o fazem até hoje. A idéia da plantação de ervas medicinais se
deu apenas em 1995, quando foi constatado que todos os integrantes da família estavam
desenvolvendo problemas de saúde relacionados a esse tipo de cultivo. Isso ocorreu
principalmente pela utilização de agrotóxicos em grande quantidade, como requer o cultivo de
fumo.
O Brasil está entre os maiores produtores de tabaco do mundo, contribuindo com
8% da produção mundial total. A região sul do país concentra a maior produção, sendo o
20
estado do Rio Grande do Sul responsável por 51,7% do total produzido no Brasil e Santa
Catarina por 34% em 2002 (DESER, 2003). Durante todo o período de cultivo do fumo são
utilizadas diversas substâncias agrotóxicas como herbicidas, inseticidas, fungicidas e outras,
sendo empregadas em torno de 16 diferentes tipos de aplicação de pesticidas durante três
meses antes da transferência da semente para o campo. Existe uma série de relatos sobre
agravos e mesmo mortes relacionadas a envenenamento por pesticidas, uma vez que essas
substâncias acarretam alta toxicidade ao produtor (CARVALHO, 2006).
O Sr. Alberton relatou que o cultivo orgânico de ervas medicinais exige dedicação
e empenho, uma vez que o agricultor deve estar sempre atento a todos os acontecimentos em
sua lavoura. Em algumas situações, conforme explicou as ervas cultivadas não se adaptam
bem ao tipo de solo e em outras situações as mesmas podem apresentar um desenvolvimento
considerável. Esse fenômeno pode ocorrer pela associação com outras espécies de plantas, o
que pode conferir maior ou menor vulnerabilidade às pragas.
A agricultura orgânica tem-se destacado como uma das alternativas de renda para
os pequenos agricultores, devido à crescente demanda mundial por alimentos mais saudáveis.
Por sua vez, a menor dependência de insumos externos está associada à menor área cultivada
pelos pequenos agricultores e também à maior facilidade de manejo dos sistemas produtivos
com recursos da própria propriedade (fertilizantes orgânicos, produtos naturais para controle
fitossanitário, controle biológico natural, tração animal, combustíveis não-fósseis, etc.)
(CAMPANHOLA; VALARINI, 2001).
O Sr. Alberton possui certificação de produção orgânica nas suas terras. A
certificação de produtos orgânicos visa conquistar maior credibilidade dos consumidores e
conferir maior transparência às práticas e aos princípios utilizados na produção orgânica. A
certificação é outorgada por diferentes instituições no país, as quais possuem normas
específicas para a concessão do seu selo de garantia. A certificação do produtor orgânico é um
pré-requisito para o acesso ao crédito. Desde 1999, o Banco do Brasil instituiu um plano de
financiamento para a agricultura orgânica, valendo-se para isso de recursos do Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf – e do Programa de Geração de
Emprego e Renda – Proger (SAMINÊZ, 2000).
A calêndula em especial tem sido pouco utilizada pela família, sendo empregada
quando da ocorrência de ferimento exposto, como relata o Sr. Alberton, devido às suas
propriedades “curativas e cicatrizantes”, auxiliando na prevenção de infecções. As
inflorescências são maceradas e aplicadas no local do ferimento na forma de emplasto.
21
Esse relato do produtor confirma a utilização popular da C. officinalis que,
segundo alguns autores, têm sido atribuídos popularmente as propriedades colerética,
antiinflamatória, analgésica, antitumoral, bactericida, diurética, cicatrizante, sedativa e
imunomoduladora (FRANCO, 1996; BROWN; DATTNER, 1998; RAMOS et al., 1998).
Estudos científicos relatam a propriedade antiinflamatória dessa espécie corroborando com a
indicação popular (CORDOVA et al, 2002; HEROLD et al., 2003; UKIYA et al., 2006).
Segundo o Sr. Alberton “as plantas são ótimas para fazer o replantio natural”,
uma vez que durante a estação de florescência (época de comercialização das flores) faz-se
colheita todos os dias, e as flores não colhidas caem no solo com suas sementes, dando
seqüência ao ciclo reprodutivo natural. Isso faz com que na próxima estação exista uma maior
quantidade de indivíduos desta espécie, o que leva a crer que o ambiente apresentado é
propício para este tipo de vegetal, não exigindo um plantio em canteiros organizados,
desenvolvendo-se em ambiente favorável a cada espécie.
Com relação à existência de pragas na lavoura, o agricultor considera que se o
ambiente for equilibrado “a biodiversidade dá conta de tudo”, ou seja, “quando” e “se
aparecem”, sejam elas microscópicas ou não, as mesmas se apresentam em quantidades tão
insignificantes que não influenciam de forma negativa no plantio. Ele considera que a
extinção das espécies se dá naturalmente em razão da existência dos predadores naturais.
Segundo Campanhola e Valarini (2001) a produção orgânica traz diversas
vantagens. Com a diversificação produtiva e a aplicação dos princípios agroecológicos, que
incluem a manutenção da quantidade e qualidade nutricionais adequadas nas plantas e
animais, a ação dos inimigos naturais de pragas e fitopatógenos e o uso do manejo integrado,
é possível produzir sem o uso de agrotóxicos. Por sua vez, a eliminação de seu uso contribui
para a redução dos custos de produção e dos desequilíbrios biológicos causados nos
agroecossistemas.
Em relação à calêndula, o Sr. Alberton destacou que quando plantada em presença
da camomila, por exemplo, as plantas adoecem menos em virtude de não ter a formação de
fungos. A camomila estaria por sua vez funcionando como um fungicida natural. A relação
entre estas duas espécies ajuda no desenvolvimento da planta e uma formação floral melhor
da calêndula, tendo como conseqüência um ganho no seu valor comercial.
Alguns trabalhos revelam que a adoção de programas de incentivo ao cultivo de
plantas medicinais é uma alternativa de diversificação de produção e de renda complementar
nas pequenas propriedades rurais (MAZZA et al., 1998, PEREIRA FILHO, 2001).
Lourenzani et al (2003) relatam que o mercado de medicamentos fitoterápicos e,
22
conseqüentemente, de plantas medicinais é crescente e promissor. A demanda existe e tende a
crescer cada vez mais, com o aumento das pesquisas e do interesse de laboratórios
farmacêuticos. Entretanto, revalorização mundial do uso de plantas medicinais traz como
conseqüência uma grande pressão ecológica exercida sobre alguns desses recursos naturais
nos últimos anos (MONTANARI JUNIOR, 2002).
O valor econômico dessas plantas pode por em perigo a sobrevivência de muitas
espécies medicinais nativas, devido ao seu comércio ser, na maioria dos casos, resultado do
extrativismo predatório. Neste sentido, o cultivo com fins comerciais apresenta-se como
alternativa para minimizar as ações extrativistas predatórias além de propiciar uma alternativa
de geração de emprego e renda.
23
8
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