Disciplina de Parasitologia Curso de Medicina 2016 Aula 05/05/16: Esquistossomose mansônica e Fasciolose Profa. Dra. Juliana Quero Reimão Esquistossomose • Generalidades • Esquistossomíae, esquistossome ou bilharziose • Theodor Bilharz (1852); Pirajá da Silva (1908) • Múmias egípcias (1.250 a.C.) • Doença crônica causada por platelmintos parasitas do gênero Schistosoma • É a mais grave forma de parasitose por organismo multicelular • Agentes etiológicos • Seis espécies: • • • • • • Schistosoma mansoni – América do Sul, Caribe e África, Oriente Médio Schistosoma haematobium – África e Oriente médio Schistosoma intercalatum – África Central e Ocidental (focalmente) Schistosoma japonicum – Indonésia, Índia e Filipinas Schistosoma meckongi – Sudeste asiático (focalmente) Schistosoma malayensis – Malásia Distribuição mundial • Esquistossomose mansônica: ~80 milhões de casos • África (vários países), América do Sul (Brasil, Suriname e Venezuela), Caribe e Oriente Médio 54 países OMS, 2012 Esquistossomose no Brasil Esquistossomose no Brasil • 6 milhões de casos • 12 Estados • Ceará • Piauí • Maranhão • Pará • Goiás • Espírito Santo • São Paulo • Rio de Janeiro, • Paraná • Santa Catarina • Rio Grande do Sul Número de casos Esquistossomose no Estado de SP Ano Schistosoma mansoni • Características • Pertencem ao Filo Platyhelminthes • Simetria bilateral • Corpo achatado dorsoventralmente • Dimorfismo sexual • Ciclo heteroxênico • Hospedeiro definitivo: homem • Hospedeiro intermediário: caramujos do gênero Biomphalaria • Formas de vida • • • • • • Vermes adultos macho e fêmea Ovo Miracídio Esporocisto Cercária Esquistossômulo Classificação • Filo Platyhelminthes • Subclasse Trematoda endoparasitas obrigatórios • Classe Digenea ~6 mil espécies parasitas • Schistosoma mansoni* • • • • • Schistosoma haematobium Schistosoma intercalatum Schistosoma japonicum Schistosoma meckongi Schistosoma malayensis • Fasciola hepatica* • • • • • • • Fasciola gigantica Fasciolopsis buski Paragonimus westermani Clonorchis sinensis Opisthorchis viverrini Metagonimus yokogawai Heterophyes heterophyes *espécies presentes no Brasil Ciclo de vida Hospedeiro vertebrado migração para o sistema porta-hepático esquistossômulo vermes adultos esporocisto cercária Biomphalaria sp. penetração ovo fezes miracídio Hospedeiro invertebrado Hospedeiros intermediários • Características • Molusco pulmonado • Concha espiral plana • Vive em água doce • Família Planorbidae • Gênero Biomphalaria Biomphalaria glabrata Biomphalaria tenagophila • Espécies mais importantes • Biomphalaria glabrata • Biomphalaria tenagophila • Biomphalaria straminea Biomphalaria straminea Distribuição espacial da Biomphalaria sp. no Brasil Biomphalaria glabrata Biomphalaria straminea Biomphalaria tenagophila Coleções hídricas • Criadouros • Valas alagadas ou represamentos (lagoas de coceira) Os vermes adultos • Características • 2 ventosas (oral e ventral) • Estrutura de fixação • Macho • • • • • 1 cm Extremidade anterior cilíndrica Espinhos Corpo enrola-se ventralmente Canal ginecóforo • Fêmea • • • • 1,6 cm Delgada e cilíndrica Tegumento liso Se aloja no canal ginecóforo Os vermes adultos macho macho e fêmea acasalados fêmea canal ginecóforo Os vermes adultos • Tegumento • Revestido por dupla membrana • Renova-se continuamente • Incorporam proteínas do hospedeiro • Glicocálix • Camuflagem – sistema imune Ventosa oral Primeiro segmento intestinal Ventosa ventral • Tubo digestivo • Inicia-se com a boca (ventosa oral) • Curto segmento que se bifurca • Une-se para formar o ceco Intestino • Nutrição • Sangue • Pinocitose (tegumento) Início do ceco Os vermes adultos • Sistema reprodutor Ducto das glândulas vitelinas Glândulas vitelinas Oviduto Ovário Masculino Feminino Vesícula seminal Testículo Lóbulo testicular Ovo em formação no oótipo Oótipo Útero Poro genital O ovo • Características • Oval • Espícula lateral • Casca rígida e porosa • Entrada de nutrientes • Liberação de substâncias • Responsável pela resposta inflamatória • Liberação nas fezes • Viáveis por 2 a 5 dias • Não suportam dessecação • Eclosão • Contato com a água doce • Liberação do miracídio 100 a 180 µm 160 µm x 60 µm O miracídio • Características • Epitélio ciliado • Nadam à procura do hospedeiro intermediário glândulas de penetração • Glândulas de penetração • Solenócitos • Células excretoras • Papilas sensoriais cílios • Esboço de sistema nervoso • Nadam próximo à superfície (fototropismo) • Nadam em círculos cada vez menores • Vida curta • Devem penetrar no molusco em 1 dia • Após a penetração, perdem o epitélio • Se transformam em esporocisto solenócitos Esporocisto primário Os esporocistos • Características • Estrutura sacular alongada • Contém numerosas células germinativas • Miracídio Esporocisto I • Esporocisto II cercárias • Esporocisto III cercárias • Esporocisto IV cercárias Células germinativas Esporocisto secundário • Darão origem a milhares de cercárias, durante toda a vida do molusco Cercárias As cercárias • Características • Corpo • 2 ventosas • Glândulas de penetração e solenócitos corpo • Cauda bifurcada • Movimento helicoidaldal • Nadam em direção à luz • Penetração na pele • A cauda é deixada para trás • Seu corpo transforma-se em esquistossômulo cauda bifurcada As cercárias • Características • Eliminadas nas horas mais iluminadas • Vida curta (1-2 dias) • Atraídas por ácidos graxos e peptídeos liberados pela pele humana % total de cercárias 25 20 15 10 5 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 Horário Os esquistossômulos • Após a penetração do corpo da cercária na pele • Tornam-se alongadas (esquistossômulos) • Mudanças no tegumento (resistência) • Penetração nos vasos sanguíneos • Levados pela corrente circulatória • Coração e pulmões • Sistema porta hepático • Vermes adultos • Acasalamento • Oviposição após 35 dias Os esquistossômulos esquistossômulo epiderme membrana basal derme vaso sanguíneo 5 min após penetração 10 min após penetração 20 min após penetração A infecção: Fase aguda Sinais e sintomas • Dermatite cercariana • Penetração das cercárias • Manifestações alérgicas locais • Pulmões e fígado • Migração dos esquistossômulos • Muitos parasitas morrem • Inflamação, necrose e cicatrização A infecção: Fase aguda • Sinais e sintomas (cont.) • Dependem do nº de parasitos e da sensibilidade do hospedeiro • 3 a 4 semanas após a contaminação • Linfadenopatia, mal-estar, febre, hiporexia, tosse seca, sudorese, dores musculares, dor na região do fígado ou do intestino, diarreia, cefaleia e prostração, entre outros Forma toxêmica ou febre de Katayama • Eosinofilia elevada • Remissão espontânea dos sintomas • Pode ser assintomática A infecção: Fase aguda Esquistossômulo na epiderme (minutos após a infecção) Esquistossômulo no pulmão (5 dias após a infecção) • Em torno dos parasitos acumulam-se polimorfonucleares e depois linfócitos e macrófagos. A infecção: Fase aguda • Macho e fêmea • Chegam ao sistema porta-hepático • A fêmea se instala no canal ginecóforo • Ambos migram contra a corrente sanguínea • Musculatura e espinhos Veia porta • Localização preferencial • Vênulas terminais do plexo mesentérico Veias mesentéricas A infecção: Fase aguda Vermes adultos nas veias mesentéricas A infecção: Fase aguda • Ocorre o acasalamento • Os ovos são liberados nos capilares • ~300 ovos/dia • Causam obstrução dos capilares • Ficam livres no tecido conjuntivo • Expulsos para a luz intestinal • Liberados com as fezes • Ou são arrastados pela corrente sanguínea • Espaço porta-hepático • Pulmões • Outros locais Capilares obstruídos por ovos A infecção: Fase crônica • Caso os ovos permaneçam retidos na mucosa • Estimulação antigênica crônica atração de eosinófilos reação de hipersensibilidade granuloma Granuloma formado em torno dos ovos fígado parede intestinal A infecção: Fase crônica Fibrose, interrupção do fluxo sanguíneo venoso no fígado, hipertensão porta e cirrose Vermes adultos vivem no sistema porta hepático Os ovos liberados pela fêmea são levados pelo sangue e ficam retidos no fígado Reação aos antígenos liberados pelo ovo Formação do granuloma TCD4+ ativam os macrófagos reação de hipersensibilidade tardia A infecção: Fase crônica • Ovos são arrastados para o espaço porta hepático • Acúmulo de granulomas = fibrose periportal A infecção: Fase crônica • O quadro clínico evolui lentamente • Redução do fluxo sanguíneo no fígado • Hipertensão da veia porta • Ascite • Distensão e aumento de permeabilidade dos vasos • Extravasamento de líquidos na cavidade abdominal • “Barriga d’água” A infecção: Fase crônica Varizes esofágicas • Consequência das lesões hepáticas: • Hipoproteinemia, anemia, leucopenia, plaquetopenia e deficiência da coagulação. Circulação colateral Complicações da esquistossomose • Ovos/vermes levados para os pulmões • Causam fibrose pulmonar • Leva ao aumento da resistência ao fluxo de sangue • Aumento de tamanho e pressão sanguínea • Insuficiência cardíaca (corpulmonale) Nódulo pulmonar Tomografia computadorizada de tórax Complicações da esquistossomose • Ovos/vermes levados à medula espinhal • Processos inflamatórios e fibróticos • Mielorradiculopatia esquistossomótica, • Paralisia Diagnóstico • Suspeita • Contato prévio com área endêmica • Métodos diretos • • • • • Exame parasitológico de fezes (busca de ovos) Eclosão de miracídios Biópsia (retal ou hepática ou de outros sítios) Métodos sorológicos (ELISA) Molecular (PCR de amostra fecal) • Diagnóstico por imagem • • • • • Ultrassonografia de abdômen (casos de fibrose hepática) Radiografia de tórax (casos de hipertensão pulmonar) Endoscopia (casos de varizes esofágicas) Ressonância magnética (casos de mielopatia) Eco-doppler-cardiografia (casos de hipertensão pulmonar) Tratamento • Praziquantel • Atualmente e o único medicamento utilizado • Menor custo • 60 mg/kg (dose única) por via oral • Índice de cura: >70% • Efeitos adversos leves e transitórios • Oxaminiquine • Não disponível no mercado nacional • 15 mg/kg (dose única) por via oral • Efeitos colaterais • Sonolência, tontura e convulsões • Controle de cura • 4 meses após o tratamento • 3 exames de fezes ou biópsia retal negativos Prevenção e controle • Controle do caramujo • Tratamento dos criadouros com substâncias moluscicidas • Tratamento dos casos humanos • Em massa (tratamento de toda a área endêmica) • Dirigida (apenas indivíduos diagnosticados) • Saneamento • Construção de latrinas • Fontes de abastecimento de água • Tratamento do esgoto • Educação em saúde Crianças com cartilhas sobre esquistossomose Fasciola hepatica e fasciolose Fasciolose • Características • Agente etiológico: Fasciola hepatica • Pertencem ao Filo Platyhelminthes • Simetria bilateral • Corpo achatado dorsoventralmente • Hermafroditas • Ciclo heteroxênico • Hospedeiro definitivo: Carneiros, bovinos, veados, coelhos e outros herbívoros • Ocasionalmente o homem • Hospedeiro intermediário: caramujos do gênero Lymnaea Fasciolose • Distribuição mundial • 2 a 17 milhões de casos • • • • • Sul da Europa Norte da África Cuba Irã Alguns países da América do Sul • Bolívia, Brasil, Peru, Chile, Argentina, Uruguai, Colômbia e Venezuela • Brasil • Menos de 100 casos humanos foram relatados • Em bovinos: prevalência de 70% (região sul) Prevalência em bovinos (%) Ciclo de vida Ingestão Adultos vivem no trato biliar Hospedeiros definitivos Ovos (fezes) metacercárias encistamento miracício cercárias Lymnaea sp. rédias esporocisto Hospedeiro intermediário • 20 espécie do gênero Lymnaea • Principais no Brasil: • Lymnaea columella • Lymnaea viatrix • Concha em espiral Lymnaea sp. Vermes adultos • • • • Ventosa oral Aspecto foliáceo Ventosa ventral 20 a 30 mm Ventosas oral e ventral Vive na vesícula e canais biliares dos vertebrados Vermes adultos Sistema digestório Órgãos Órgãos reprodutores reprodutores masculinos femininos Hermafroditas Ovos • Eliminados nas vias biliares • Caem no lúmen intestinal • Eliminados nas fezes • Água doce • Miracídio eclode através do opérculo 140 µm x 80 µm Opérculo Miracídios • Nadam em busca dos hospedeiros intermediários • Penetram a cavidade pulmonar do caramujo • Se transformam em esporocisto, rédias e cercárias Cercárias • As rédias dão origem a inúmeras cercárias • Extremidade caudal não bifurcada • Encistam-se em folhas aquáticas • Metacercárias • Agrião: principal fonte de infecção Rédia cercárias Cercária Metacercária Aspectos clínicos • Quando presente nos dutos biliares • Lesão da mucosa biliar • Inflamação dos dutos biliares Fasciola hepatica no fígado • Quando presente no fígado • Migração • • • • Hepatite traumática Hemorragia Fibrose “baratinha do fígado” • Maioria é assintomática • Casos sintomáticos • Hepatomegalia dolorosa, febre, fenômenos alérgicos ou asma Aspectos clínicos Ultrassonografia dos canais biliares J Clin Imaging Sci 2012, 2:2 Diagnóstico • Pesquisa de ovos nas fezes Tratamento • Nitazoxanida • 500 mg a cada 12 horas por 7 dias, via oral • Metronidazol • 250 mg a cada 8 horas por 3 semanas, via oral • Triclabendazol • 10 mg/kg em dose única, via oral • Não disponível no Brasil Prevenção e controle • Controle das populações de Lymnaea sp • Moluscicidas • Drenagem de pastagens alagadas • Controle biológico • Criação do molusco Solicitoides sp (predador) • Não usar adubo animal • Tratamento do gado • Tratamento e filtração da água de consumo • Educação em saúde • Consumo de agrião Prevenção e controle • Plantação de agrião • Áreas alagadas • Presença do molusco • Gado, cabras ou ovelhas Medidas profiláticas: • Impedir o acesso dos animais • Evitar o consumo de agrião cultivado em áreas alagadas