Síndrome de Burnout no contexto hospitalar: compreensão de

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ISSN: 1981-8963
DOI: 10.5205/reuol.3073-24791-1-LE.0702201330
Batista JBV, Batista PSS, Barros EO et al.
Síndrome de Burnout: compreensão de profissionais…
ARTIGO ORIGINAL
SÍNDROME DE BURNOUT: COMPREENSÃO DE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM
QUE ATUAM NO CONTEXTO HOSPITALAR
BURNOUT SYNDROME: UNDERSTANDING OF NURSING PROFESSIONALS WHO WORK IN THE
HOSPITAL CONTEXT
SÍNDROME DE BURNOUT: COMPRENSIÓN DE PROFESIONALES DE ENFERMERÍA QUE ACTÚAN EN EL
CONTEXTO HOSPITALARIO
Jaqueline Brito Vidal Batista1, Patrícia Serpa de Souza Batista2, Eveline Oliveira Barros3, Fábia Souza Rocha
Lopes4, Glauciele Barbosa Pereira Medeiros5, Jocerlânia Maria Dias Morais6
RESUMO
Objetivo: investigar a compreensão de profissionais de enfermagem sobre a Síndrome de Burnout. Método:
trata-se de estudo exploratório, constituído por 12 profissionais de enfermagem que atuam no contexto
hospitalar. Os dados foram coletados no mês de setembro de 2012, por meio de formulários, após aprovação
do Comitê de Ética em Pesquisa (Protocolo nº 84.022) e analisados qualitativamente, mediante a técnica de
análise de conteúdo. Resultados: da análise do material empírico, emergiram três categorias temáticas:
“Síndrome caracterizada pelo esgotamento físico e psicológico, em decorrência do estresse laboral”;
“Síndrome que acarreta sinais e sintomas físicos e psicológicos para o trabalhador”; “A Síndrome e suas
implicações no ambiente de trabalho, no contexto familiar e no social”. Conclusão: os enfermeiros
compreendem a Síndrome de Burnout como uma patologia que causa danos psicológicos, físicos e sociais para
a saúde do trabalhador. Descritores: Burnout; Saúde Do Trabalhador; Esgotamento Profissional; Equipe De
Enfermagem.
ABSTRACT
Objective: to investigate the understanding of nursing professionals about the Burnout Syndrome. Method:
This is an exploratory study, which is comprised of 12 nursing professionals who work in the hospital context.
Data were collected in September 2012, by means of forms, after approval by the Ethic Research Committee
(Protocol nº 84.022) and qualitatively analyzed, through the content analysis technique. Results: from the
analysis of the empirical material, three thematic categories have been unveiled: “Syndrome characterized by
physical and psychological exhaustion, arising from the job stress”; “Syndrome that causes signs and
symptoms, whether physical or psychological for the worker”; “The syndrome and its implications on the work
environment, in family and social contexts”. Conclusion: nurses understand the Burnout Syndrome as a
disease that causes psychological, physical and social hazards to the worker’s health. Descriptors: Burnout;
Worker’s Health; Professional Depletion; Nursing Staff.
RESUMEN
Objetivo: investigar la comprensión de profesionales de Enfermería sobre el Síndrome de Burnout. Método:
se trata de estudio exploratorio, constituido por 12 profesionales de enfermería que actúan en el contexto
hospitalario. Los datos se recabaron en setiembre de 2012 por medio de formulario, tras aprobación del
Comité de Ética en Investigación (Protocolo nº 84022) y analizados cualitativamente, mediante la técnica de
análisis de contenido. Resultados: del análisis del material empírico, surgieron tres categorías temáticas:
síndrome caracterizado por el agotamiento físico y psicológico, efecto del estrés laboral; síndrome que
implica señales y síntomas físicos y psicológicos en el trabajador; el síndrome y sus implicaciones en el
ambiente de trabajo, en contexto familiar y social. Conclusión: los enfermeros comprenden el Síndrome de
Burnout como una patología que ocasiona daños psicológicos, físicos y sociales para la salud del trabajador.
Descriptores: Burnout; Salud del Trabajador; Agotamiento Profesional; Equipo de Enfermería. 
1
Psicóloga, Doutora em Saúde Pública, Professora Adjunto do Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba/UFPB. João Pessoa
(PB), Brasil. E-mail: [email protected]; 2Enfermeira, Doutora em Educação, Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem
Clínica do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba/UFPB. João Pessoa (PB), Brasil. E-mail:
[email protected]; 3Enfermeira, Especialista em Saúde Pública. João Pessoa (PB), Brasil. E-mail: [email protected];
4
Fisioterapeuta, Especialista em Recursos Cinesioterápicos. João Pessoa (PB), Brasil. E-mail: [email protected]; 5Enfermeira,
Especialista em Auditoria em Saúde. João Pessoa (PB), Brasil. E-mail: [email protected]; 6Enfermeira, Especialista em
Auditoria em Saúde. João Pessoa (PB), Brasil. E-mail: [email protected]

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
Português/Inglês
Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(2):553-61, fev., 2013
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Batista JBV, Batista PSS, Barros EO et al.
INTRODUÇÃO
A Síndrome de Burnout é considerada uma
epidemia entre os trabalhadores que lidam
com pessoas. Apresenta alta incidência em
profissionais como médicos, enfermeiros e
professores, no mundo inteiro, e pode ser
vista como uma importante questão de saúde
pública. Essa síndrome é um dos agravos
ocupacionais de caráter psicossocial mais
importante na sociedade atual. Burnout é um
sério processo de deterioração da qualidade
de vida do trabalhador, tendo em vista suas
graves implicações para a saúde física e
mental.1-3
A palavra Burnout foi utilizada pela
primeira vez em 1953, em um estudo que
descrevia a problemática de uma enfermeira
psiquiátrica esgotada com o seu trabalho, e é
resultante de uma composição da língua
inglesa: burn, que significa queima; e out,
que significa exterior, o que sugere que a
pessoa com esse tipo de estresse consome-se
física
e
emocionalmente.
Pode
ser
representada como um estado semelhante a
um fogo que sufoca, uma perda de energia,
uma chama que se extingue ou uma bateria
que se esgota.
Apesar da predominância do termo
Burnout, na maioria dos estudos, existem
referências
à
síndrome
com
outras
denominações, como por exemplo, “estresse
laboral”, “estresse profissional”, “estresse
assistencial”,
“estresse
ocupacional
assistencial” ou, simplesmente, “estresse
ocupacional”, que evidenciam a maior
incidência entre aqueles que se ocupam em
cuidar de pessoas, independentemente do
caráter profissional ou trabalhista. Existe
também a expressão “síndrome de queimar-se
pelo trabalho” ou “desgaste profissional”, em
alguns estudos espanhóis. No Brasil, são
encontradas nomenclaturas como “neurose
profissional”, “neurose de excelência” ou
“síndrome do esgotamento profissional”. Essa
variedade de denominações para o mesmo
agravo pode confundir e, muitas vezes,
dificultar levantamentos de pesquisas na
área.4
Quanto à legislação trabalhista brasileira, o
Ministério da Previdência e Assistência Social
apresentou a nova lista de doenças
profissionais e relacionadas ao trabalho, que
contém um conjunto de doze categorias
diagnósticas de transtornos mentais. A
síndrome de esgotamento profissional –
burnout - corresponde ao 12º transtorno e é
definida como um tipo de resposta prolongada
a estressores emocionais e interpessoais
crônicos no trabalho.5
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Convém mencionar que essa síndrome é
constituída por três dimensões relacionadas
entre si, as quais são independentes. Para
caracterizá-la, elas devem ser consideradas
sequencialmente de acordo com o modelo
processual. A primeira dimensão é a Exaustão
Emocional, que se caracteriza pela falta de
energia e de entusiasmo e pelo sentimento de
esgotamento de recursos. A Despersonalização
é a segunda dimensão, que ocorre quando o
profissional passa a tratar os clientes, os
colegas e a organização de forma distante e
impessoal, e o vínculo afetivo é substituído
por um racional. A terceira dimensão é a
Baixa Realização no Trabalho, em que o
trabalhador tende a avaliar-se de forma
negativa, mostra-se insatisfeito com seu
desenvolvimento profissional e experimenta
um declínio no sentimento de competência e
de êxito.6
Estudos voltados para a saúde do
trabalhador têm mostrado como vários
segmentos profissionais, principalmente da
área da saúde, desenvolvem e constituem um
significativo grupo de risco para a aquisição
dessa síndrome.7-10 Nesse sentido, vale
ressaltar que estudos relacionados à Síndrome
de Burnout têm ocorrido de maneira cada vez
mais frequente, no âmbito acadêmico, e que
essa enfermidade está relacionada ao estresse
específico que atinge profissionais que lidam
com pessoas ao desempenhar suas funções,
como por exemplo: professores, médicos,
enfermeiros, policiais, dentre outros.2
Foi investigada, através de um estudo a
relação
entre
sintomas
psíquicos
e
comportamentais e as dimensões positivas da
Síndrome de Burnout em profissionais (setores
administrativos, assistenciais e de apoio) de
um hospital público de média complexidade.
Os resultados evidenciaram a repercussão do
sofrimento psíquico na produtividade e na
qualidade do trabalho e encontraram relações
diretas entre as dimensões da síndrome me
questão
e
os
sintomas
pesquisados.
Observando, especificamente, os profissionais
da área de Enfermagem (segunda categoria
profissional a desenvolver o burnout), foram
encontrados estudos que confirmaram o
quanto essa categoria se inclui no grupo de
risco.11
Nesse enfoque, é perceptível que a
Síndrome de Burnout não é um fenômeno
exclusivamente com características individuais
e
internas,
mas
um
complexo
de
características psicológicas que refletem as
estruturas de uma determinada sociedade. E
embora seja prevista como doença do
trabalho, ainda é desconhecida por uma
considerável parcela dos profissionais que
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fazem parte do grupo de risco. Apesar dessa
patologia, entre profissionais de saúde,
certamente ocorrer há muito tempo, seu
reconhecimento como problema sério de
saúde pública tem sido mais explícito nos
últimos anos. Trata-se de uma mal que
acomete esses profissionais, provavelmente,
desde que suas funções vêm sendo associadas
a importantes fatores sociais, psíquicos e
econômicos, que hoje são reconhecidos como
importantes em relação à síndrome em
questão.3
Assim, saber da existência de uma
patologia que atinge o trabalhador, de tal
forma que pode afastá-lo das atividades
laborais e inutilizá-lo para a vida, motivou o
interesse em realizar um estudo a respeito da
Síndrome de Burnout com profissionais de
enfermagem de uma instituição hospitalar.
Também fazem parte dessa motivação o
reconhecimento da relevância do tema e a
existência de uma lacuna no que se refere às
publicações existentes.
Diante do exposto, este estudo parte da
seguinte questão norteadora: Como os
enfermeiros que atuam no contexto hospitalar
compreendem a Síndrome de Burnout?
Para responder à questão proposta, o
estudo teve o seguinte objetivo: Investigar a
compreensão de profissionais da área de
enfermagem que atuam no contexto
hospitalar, no que concerne à Síndrome de
Burnout.
Os resultados deste estudo devem servir
não apenas como respaldo para a construção
de
medidas
interventivas
para
esses
trabalhadores, mas também para auxiliar a
futuros projetos de pesquisa que tratem desse
tema, prevenir essa patologia no meio laboral,
promover uma melhoria em sua qualidade de
vida e contribuir com a diminuição da lacuna
existente na área de publicação específica
sobre este tema.
MÉTODO
Trata-se de um estudo do tipo exploratório,
com abordagem qualitativa, realizado em uma
instituição hospitalar da rede pública do
município de João Pessoa, Paraíba, Brasil, e
cuja
amostra
populacional
envolveu
profissionais de enfermagem (enfermeiros e
técnicos de enfermagem) do hospital
selecionado para o estudo. Para a seleção da
amostra, foram adotados os seguintes critérios
de inclusão: estar atuando na instituição
eleita para o estudo no momento da coleta de
dados; ter, no mínimo, um ano de atuação
profissional e disponibilidade para participar
da pesquisa.
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Com base nos critérios de inclusão
previamente estabelecidos, a amostra foi
constituída por sessenta profissionais de
Enfermagem (22 Enfermeiros e 38 Técnicos de
Enfermagem). Destes, 48 entregaram o
formulário em branco, alegando desconhecer
a referida temática, e 12 devolveram o
formulário respondido. Assim, a amostra final
foi composta por 12 profissionais de
Enfermagem - seis enfermeiros e seis técnicos
de Enfermagem. O material empírico advindo
desses profissionais foi codificado com base na
categoria profissional, a fim de se manter o
anonimato deles. Dessa forma, os formulários
dos enfermeiros foram identificados pela letra
“E”, seguido de números de um a seis.
Exemplos:
“E1”,
“E2”,
e
assim
sucessivamente. Em relação aos técnicos de
enfermagem, foi atribuído o código “TE”,
também seguido de números de um a seis.
Para viabilizar a coleta de dados, realizada
em setembro de 2012, foi utilizado um
formulário contendo questões pertinentes ao
objetivo proposto para a pesquisa. Vale
ressaltar que este estudo foi norteado a partir
das recomendações éticas dispostas nas
diretrizes e nas normas regulamentadoras
para
pesquisas
com
seres
humanos,
estabelecidas na Resolução nº 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde12, em vigor no
país, principalmente, no que diz respeito ao
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
do participante, bem como à garantia do
anonimato e ao sigilo de informações.
Seguindo as recomendações da referida
Resolução, o projeto de pesquisa foi aprovado
por um Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal da Paraíba, João
Pessoa/PB, em agosto de 2012, sob o número
do Protocolo 84.022.
A análise dos dados foi efetivada em uma
abordagem qualitativa. O material empírico
apreendido, a partir de questões subjetivas,
contempladas em um formulário, foi agrupado
e analisado mediante a técnica de análise de
conteúdo, proposta por Bardin. Tal método é
composto de três fases: pré-análise, em que o
pesquisador realiza uma leitura flutuante dos
dados que orientarão a análise, de acordo com
o objetivo proposto; exploração do material,
fase em que o material codificado, ou seja,
submetido a um processo por meio do qual os
dados brutos são agregados em categorias
temáticas; e o tratamento e a interpretação
dos resultados, em que os dados empíricos
obtidos são analisados de acordo com as
categorias temáticas que se revelaram,
respaldados na literatura pertinente ao tema
em estudo.13
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos sessenta profissionais selecionados para
o estudo, apenas doze (seis enfermeiros e seis
técnicos de Enfermagem) participaram da
pesquisa proposta, visto que os demais
referenciaram não ter conhecimento sobre a
Síndrome de Burnout. Esse desconhecimento
retrata uma situação preocupante, devido ao
caráter sorrateiro desse mal, que pode estar
presente de modo intermitente e avança com
o tempo.14
O desconhecimento de profissionais de
enfermagem acerca dessa síndrome evidencia
a pouca ênfase dada a esse assunto durante a
formação universitária em saúde. Em estudo
sobre a Síndrome de Burnout com profissionais
da área de saúde, foi revelado que a pouca
importância dada a essa temática na formação
de profissionais da área de saúde acontece,
entre outros fatores, devido à visão distorcida
de que conteúdos referentes à saúde desse
tipo de trabalhador podem ser aprendidos no
decorrer da vida profissional. Esse é um dado
preocupante, pois implica a ausência de
implantação de medidas de combate, com a
finalidade de proporcionar uma melhor
qualidade de vida no ambiente de trabalho.3
As categorias temáticas apreendidas por
meio da técnica de análise de conteúdo, com
base no material empírico do estudo, foram
estas:
Síndrome
caracterizada
pelo
esgotamento físico e psicológico, em
decorrência do estresse laboral; Síndrome que
acarreta sinais e sintomas físicos e
psicológicos para o trabalhador; A Síndrome e
suas implicações no ambiente de trabalho, no
contexto familiar e no social.
 Categoria I - Síndrome caracterizada pelo
esgotamento físico e psicológico, em
decorrência do estresse laboral
Os depoimentos dos profissionais envolvidos
no estudo retrataram, de forma geral, que a
síndrome pode ser adquirida através do
estresse decorrente de intensa jornada de
trabalho de profissionais de enfermagem que,
especificamente, trabalham sob pressão, o
que provoca esgotamento físico e psicológico.
Essa compreensão pode ser observada em
relatos como os seguintes:
É um estado de esgotamento físico e
mental, sua causa está intimamente ligada à
vida profissional diária de cada indivíduo.
(E1)
Síndrome caracterizada por transtorno
psicológico, em que a pessoa vulnerável
geralmente são aquelas que trabalham sob
pressão. (E2)
Síndrome caracterizada por esgotamento
físico e psicológico, alterando o desempenho
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profissional podendo vir associado a outras
patologias. (E3)
[...] Trata-se da síndrome do esgotamento
devido trabalho intenso. (E4)
É uma síndrome adquirida através do
estresse acometido durante o processo de
trabalho. (E6)
Esgotamento de trabalho. (TE1)
Distúrbio psíquico depressivo que se
manifesta especialmente em pessoas cuja
profissão exige envolvimento interpessoal.
(TE2)
É uma doença que acomete trabalhadores de
diversas áreas profissionais. (TE4)
Distúrbio psíquico devido ao estresse, que
pode surgir com esgotamento físico e
mental. (TE6)
A partir do que foi relatado pelos sujeitos,
a Síndrome de Burnout é uma doença que
decorre do estresse laboral, que provoca um
esgotamento físico e mental em profissionais
de enfermagem.
É oportuno ressaltar que, com as mudanças
no mundo moderno, a tecnologia e a
robotização têm avançado significativamente,
e isso acarreta a desumanização dos contatos
humanos e afetivos dentro do ambiente de
trabalho. Diante do panorama da atualidade,
encontram-se profissionais como os da
profissão de enfermagem, para os quais o
contato direto e permanente com outras
pessoas e excessiva carga de trabalho faz
parte de sua condição de trabalho. São
chamados de profissionais de alto contato,
que, inevitavelmente, envolvem-se com
outras pessoas e com uma excessiva carga de
trabalho, em ambiente potencialmente
gerador de conflitos e de doenças, como por
exemplo, o Burnout, que aparece como uma
preocupante ameaça ao trabalho.15
Essa síndrome pode estar relacionada à
resposta emocional às situações de estresse
crônico, em razão de jornadas intensas de
trabalho, ou aos profissionais que apresentem
grandes expectativas em relação ao seu
desenvolvimento profissional e a dedicação à
profissão e não alcançam o retorno esperado.
Esse
esgotamento
também
pode
ser
consequente da divisão social do trabalho na
Enfermagem, já que essa divisão se processa,
inicialmente, para atender a um modelo de
política de saúde estabelecida, ao mesmo
tempo em que produz a estrutura de classes
da
sociedade
capitalista,
através
da
hierarquização profissional.16,17
A equipe de enfermagem é formada por
auxiliares, técnicos e enfermeiros que, nem
sempre, trabalham harmonicamente. Por
vezes,
há
problemas
interpessoais,
principalmente relacionados à falta de
respeito em relação à hierarquia profissional,
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ou mesmo ao abuso de poder por parte de
enfermeiros em direção aos técnicos ou
auxiliares de enfermagem. Tudo isso pode
provocar momentos de tensões e pressões no
ambiente de trabalho que, com o decorrer do
tempo, pode resultar em comprometimento
dos âmbitos psicológico e biológico de
profissionais, com o aparecimento de
doenças. Acrescente-se, ainda, que esses
profissionais, em geral, precisam ter mais de
um emprego, a fim de manter um padrão
socioeconômico adequado para suas famílias,
o que os induz, muitas das vezes, a não ter
um descanso satisfatório e isso pode acarretar
altos níveis de estresse, tanto no que se
refere à relação entre seus pares, quanto no
que diz respeito à relação com o próprio
paciente.
Ademais, os profissionais de saúde,
especialmente os enfermeiros, que adquirem
essa
síndrome,
frequentemente
são
submetidos à sobrecarga física e mental
durante
suas
atividades
laborais.
Os
equipamentos e o ambiente dos hospitais
habitualmente não respeitam as normas
ergonômicas
e
impõem
tarefas
que
sobrecarregam o indivíduo, inclusive, com
jornadas extensas e duplicidade de plantões.
Associados a esses fatores, o trabalho com a
doença e o sofrimento de pacientes constituese em causa de estresse físico e psicológico.18
Como se pode observar, muitas são as
situações
que
podem
acarretar
o
desenvolvimento da Síndrome de Burnout em
profissionais de enfermagem. Por isso, eles
devem estar atentos; tanto para enfrentar
adequadamente essas situações de estresse,
quanto para perceber, antecipadamente,
sintomas que possam estar manifestando e
que requerem um tratamento adequado.
 Categoria II – Síndrome que acarreta sinais
e sintomas físicos e psicológicos para o
trabalhador
Com Burnout, o indivíduo perde a
capacidade de compreender o sentimento ou
a reação de outras pessoas. Não se deixa
envolver com os problemas e as dificuldades
dos outros, e as relações interpessoais podem
ser interrompidas. O sujeito se predispõe ao
desenvolvimento de sintomas físicos e
psíquicos e o adoecer pode trazer
consequências negativas para a vida laboral
e/ou pessoal.19
Nos relatos dos profissionais inseridos no
estudo, foram mencionados os seguintes sinais
e sintomas:
[...] Falta de ar, oscilação de humor,
distúrbio do sono, tem dificuldades de
concentração, insatisfação, transtorno de
ansiedade, entre outros. (E1)
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Depressão,
insônia,
concentração. (E2)
dificuldade
para
Dor de cabeça, dor de estômago, depressão,
insônia, cansaço, problemas respiratórios.
(E3)
Estresse,
desânimo,
irritabilidade,
inapetência sexual, sonolência, cansaço,
fadiga, entre outros. (E4)
Atitudes
negativas,
agressividade,
isolamento, dor de cabeça, insônia,
distúrbios gastrointestinais. (E5)
Estresse, hipertensão arterial sistêmica,
humor deprimido. (E6)
Cansaço físico, pressão alta, insônia. (TE1)
Irritabilidade, dificuldade de concentração,
ansiedade. (TE2)
Isolamento, agressividade, dor de cabeça.
(TE3)
Cansaço físico, mental, estresse alto, dores
de cabeça. (TE4)
Atitudes
negativas,
agressividade,
isolamento, dor de cabeça, insônia,
distúrbios gastrointestinais. Geralmente
variam de acordo com cada pessoa. (TE5)
Desgaste físico, emocional, irritação,
labilidade, agressividade, ansiedade e até
depressão. (TE6)
A partir do que foi relatado e de estudos
que
abordam
especificamente
a
sintomatologia, a Síndrome de Burnout é
considerada uma experiência de caráter
subjetivo, que pode desencadear um conjunto
de sinais e sintomas físicos e psíquicos,
consequentes da má adaptação ao trabalho e
de uma intensa carga emocional, e pode estar
acompanhado de frustração em relação a si e
ao trabalho.20,21
Os sinais e os sintomas psicológicos
identificados pelos participantes do estudo
são descritos como sentimentos e atitudes
negativos do trabalhador de enfermagem, tais
como:
insatisfação,
irritabilidade
e
agressividade. Esses sintomas interferem em
seu desempenho profissional e trazem
consequências que envolvem a deterioração
das relações interpessoais e do rendimento
laboral.
Cabe ressaltar que essa síndrome apresenta
diferentes graus de manifestação, frequência
e intensidade, por ter um processo de caráter
gradual e acumulativo. Em relação à
frequência, o menor grau é presente quando
ocorre o aparecimento casual dos sintomas, e
o maior grau é detectado quando a presença é
permanente. Em relação à intensidade, o
nível baixo caracteriza-se pela incidência de
sentimentos como irritação, esgotamento,
inquietações e frustração, e o nível alto está
associado à presença de doenças e ao
processo de somatização.18
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Os trabalhadores com Burnout, acometidos
pelas doenças de origem emocional, como
depressão e ansiedade, e pelas doenças físicas
oportunistas, necessitam de tratamento
médico e psicológico, levando-os geralmente à
deterioração do bem-estar físico e emocional.
Não é por acaso que o profissional afetado por
ela sente-se exausto, adoece frequentemente,
sofre de insônia, úlcera, dor de cabeça,
problemas relacionados à pressão sanguínea,
tensão muscular e fadiga crônica, dentre
outros sintomas.22
No caso de trabalhadores de enfermagem,
esse leque de consequências sintomáticas e
sociais tende a se ampliar, e o Burnout,
indiretamente, pode atingir os pacientes, seus
familiares e a organização geral do trabalho, o
que deixa o profissional mais vulnerável
ainda. É importante enfatizar que esse tipo de
consequência acontece quando os métodos de
enfrentamento dos fatores estressantes
falham ou são insuficientes.16
Frequentemente, essa síndrome traz
implicações negativas para o trabalhador e
estão associadas à incapacitação, ao
absenteísmo, à queda da produtividade, a
demissões, ao uso abusivo de tranquilizantes,
álcool e outras drogas.23
Nesse
sentido,
é
importante
que
trabalhadores e gestores identifiquem as
sintomatologias descritas e procurem a ajuda
de profissionais específicos, antes que os
trabalhadores atingidos sofram as implicações
que, em geral, essa síndrome traz para sua
vida laboral, familiar e social.
 Categoria III – A Síndrome e suas
implicações no ambiente de trabalho, no
contexto familiar e social
Nas respostas apresentadas, a Síndrome de
Burnout
aparece
como
um
fator
desencadeante, tanto de problemas físicos,
quanto psicológicos, que alteram a interação
do profissional de enfermagem nos meios
social e laboral. Observou-se também que
muitos se referiram à desmotivação pelo
trabalho, o que, consequentemente, leva ao
déficit em sua qualidade. Os problemas
interpessoais com colegas, chefes e com a
família, como implicações do Burnout,
também
foram
referenciados
pelos
participantes. Pode-se observar isso através
dos seguintes depoimentos:
Ocasiona
pouca
autonomia
no
desenvolvimento profissional; problema de
relacionamento seja com a chefia, colegas
de trabalho e, até mesmo, entre a família.
(E1)
Déficit em exercer sua função no trabalho.
(E2)
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Alterações no desempenho de suas funções
laborais, alterações do convívio familiar e
isolamento social. (E3)
Ausência do trabalho, por auxilio doença.
(E5)
Afastamento de trabalho. (TE1)
Distanciamento do trabalho, diminuição da
qualidade
dos
serviços
prestados,
transferências,
afeta
também
a
lucratividade. (TE2)
Exclusão social,
tratamento. (TE3)
longos
períodos
de
Desmotivação pelo trabalho desenvolvido.
Falta de atenção em suas atividades. Doença
de origem emocional como lupus e outros.
(TE4)
Ausência do trabalho, gerado por auxilio
doença, longo período de tratamento
psicológico, exclusão social. (TE5)
Predispõe o trabalhador a outras doenças
oportunistas, ao menor relacionamento
interpessoal com colegas e clientes. Afeta as
emoções e afeições do trabalhador. (TE6)
Como pode ser percebido nos depoimentos
acima, essa síndrome traz implicações para a
vida laboral e pessoal do trabalhador de
enfermagem. Por ser um processo de resposta
ao estresse ocupacional crônico, tem impacto
sobre o aspecto psicológico do trabalhador,
com consequências negativas nos níveis
individual, profissional, familiar e social.24
O encadeamento de eventos negativos do
Burnout começa com cansaço, desgaste físico
e mental, que levam o profissional à exaustão
emocional, e evoluem de forma progressiva,
com
um
caráter
cumulativo.
Nessas
circunstâncias, a exaustão remete, sobretudo,
ao rompimento da reciprocidade entre os
profissionais e a organização a qual estão
vinculados, o que origina o sentimento de
injustiça, que compromete cada vez mais a
saúde do trabalhador, e de doenças de ordem
psicológica e/ou até mesmo física.14 Essa
situação traz consequências prejudiciais para
o cotidiano do trabalhador, que começa a
deteriorar suas relações no âmbito do
trabalho, a faltar com frequência, inclusive
por motivo de doença, e a se afastar das
amizades.
Esse desequilíbrio na saúde do trabalhador
pode ocasionar o aumento nos índices de
absenteísmo, que gera licenças médicas e a
necessidade, por parte da organização do
trabalho, de promover a reposição de
funcionários,
transferências,
novas
contratações, novos treinamentos, dentre
outras despesas. Com isso, a qualidade dos
serviços prestados e o nível de produção
fatalmente serão afetados, assim como os
lucros gerados pela empresa.25 Nesse sentido,
o trabalhador, além de estar doente,
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Batista JBV, Batista PSS, Barros EO et al.
necessitando de tratamento, corre o risco de
ser demitido da instituição, visto que, em
geral, as empresas estão preocupadas com o
rendimento laboral e tendem a excluir de seu
quadro de funcionários aqueles que não se
adequarem às exigências do trabalho.
Os relatos apontam para o desamparo que
se impõe ao trabalhador, quando este é
acometido pela síndrome em questão e como
a vida pessoal, de forma geral, é atingida. Não
é por acaso que algumas investigações
exprimem a intensa preocupação com as
consequências físicas, emocionais e sociais
advindas da instalação do burnout, visto que
as pessoas se tornam mais distantes e frias em
relação ao trabalho, aos colegas e aos
familiares, uma vez que sentem que é mais
seguro ficar indiferentes.26
Assim, influenciado pelas manifestações
psicológicas e biológicas provocadas pelo
estresse contínuo, esse trabalhador tende a
alterar seu convívio familiar e social e, assim,
se tornar uma pessoa com problemas de
relacionamento
e
com
tendência
ao
isolamento social, como referido por alguns
participantes da pesquisa. Portanto, o
trabalhador
afetado
precisa
de
acompanhamento de profissionais de saúde e
de apoio e compreensão da família, que deve
acolhê-lo e ajudá-lo a sair dessa fase difícil de
sua vida.
CONCLUSÃO
DOI: 10.5205/reuol.3073-24791-1-LE.0702201330
Síndrome de Burnout: compreensão de profissionais…
isso,
devem-se
adotar
estratégias
organizacionais e individuais, com vistas a
combater a síndrome e/ou minimizar os seus
efeitos sobre o trabalhador e proporcionar
uma melhora em sua qualidade vida.
Com enfermeiros, diversos estudos foram
realizados referentes à Síndrome de Burnout e
suas implicações no cotidiano do trabalho
desses indivíduos. Na atualidade, discute-se
por que é relevante estudar o Burnout. O fato
é que os indivíduos de profissões de ajuda são
especialmente suscetíveis a altas taxas. Por
isso, as organizações estão começando a se
preocupar com a qualidade de vida, o bemestar e a saúde física e mental de seus
colaboradores. Some-se a isso o fato de que o
Burnout produz sérias repercussões, tanto no
âmbito profissional quanto no pessoal. Afinal,
a saúde laboral dos profissionais de saúde
pode repercutir na qualidade da atenção
prestada, em sua relação com familiares e no
contexto social. Por essa razão, sugere-se que
outros estudos sejam realizados, no sentido de
complementar as informações aqui apontadas.
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A partir deste estudo, conclui-se que os
enfermeiros
participantes
da
pesquisa
compreendem a Síndrome de Burnout como
uma patologia que traz danos psicológicos,
físicos e sociais para a saúde do trabalhador.
Entretanto, o estudo evidenciou um número
considerável de profissionais que não
responderam
ao
formulário,
alegando
desconhecer a doença. Pode-se constatar que
há um déficit no que se refere à real
compreensão da Síndrome de Burnout entre
profissionais da área de enfermagem. Esse é
um fato preocupante, uma vez que sua
incidência, nessa categoria laboral, está entre
as mais altas.
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Nessa perspectiva, este estudo aponta que
os gestores públicos devem intervir no sentido
de que essa patologia laboral seja conhecida,
e para que esse tema seja mais valorizado na
formação em saúde, especialmente nos Cursos
de Enfermagem, seja no Ensino Médio ou
Superior, e disseminado em instituições de
saúde. Além disso, é igualmente importante
alertar o serviço público de saúde para a
necessidade de realizar o enfrentamento e a
interferência do Burnout, enfatizando que
ações preventivas devem ser elaboradas. Para
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Submissão: 31/10/2012
Aceito: 07/01/2013
Publicado: 01/02/2013
Correspondência
Jaqueline Brito Vidal Batista
Núcleo de Estudos e Pesquisa Bioética
Centro de Ciências da Saúde
Universidade Federal da Paraíba – Campus I
Av. Contorno da Cidade Universitária
CEP: 5059-900 ‒ João Pessoa (PB), Brasil
Português/Inglês
Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(2):553-61, fev., 2013
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