TESTE RÁPIDO PARA HEPATITES B E C EM UM CENTRO DE TESTAGEM E ACONSELHAMENTO: PREVALÊNCIA E CARACTERÍSTICAS DOS CASOS POSITIVOS Jennifer Juliana Fernandes Rafael Paiola, Elma Mathias Dessunti [email protected] Universidade Estadual de Londrina / Departamento de Enfermagem/ CCS Área e sub-área do CNPq: Ciências da Saúde/ Enfermagem Palavras-chave: Hepatite B; Hepatite C; Epidemiologia Resumo Consideradas um grave problema de saúde pública no Brasil e no mundo, as hepatites virais são doenças provocadas por cinco tipos de vírus hepatotrópicos diferentes, sendo eles: vírus da hepatite A, B, C, D e E. O objetivo deste trabalho foi analisar a prevalência de hepatites B e/ou C por meio de testes rápidos e as características dos casos positivos, cujos exames foram realizados em um Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) da cidade de Londrina - PR. Os dados foram levantados a partir dos 6.392 casos registrados no Sistema de Informação do CTA (SI/CTA) de usuários que realizaram teste rápido para as Hepatites B e C no período de junho de 2012 a maio de 2015. A prevalência de hepatites B e/ou C foi de 1,5% (94), sendo que 46 (0,7%) eram reagentes para hepatite B, o mesmo número para hepatite C e 02 (0,03%) para associação das hepatites B e C. Os indivíduos mais jovens apresentaram positividade maior para a hepatite B (71,4%) (p=0,008) e os mais velhos para a hepatite C (66,7%) (p=0,004). Todos os usuários que se identificaram como homo/bissexual foram reagentes para hepatite B (p=0,012) e dos que se identificaram como heterossexual, 53,2% foram reagentes para hepatite C (p=0,015). 21,3% dos usuários apresentaram testes positivos para Sífilis e/ou HIV. A prevalência de hepatites foi menor do que em outros estudos; resultados apontam a necessidade de melhorar a divulgação e acessibilidade aos testes rápidos e às medidas de prevenção e controle. Introdução As hepatites virais, causadas pelos vírus A, B, C, D e E, são consideradas um grave problema de saúde pública. A importância do estudo sobre as hepatites virais se dá pelo grande número de pessoas atingidas e por serem as principais responsáveis por doença hepática no mundo. Podem apresentar complicações nas formas agudas e crônicas; na hepatite B, a cronificação ocorre em cerca de 5 a 10% dos adultos infectados, sendo que 20 a 25% desses casos com evidências de replicação viral evoluem para doença hepática avançada (cirrose e hepatocarcinoma). Na hepatite C, a cronificação ocorre em 70 a 85% dos casos, sendo que, em média, um quarto a um terço destes pode evoluir para formas histológicas graves ou cirrose no período de 20 anos, caso não haja intervenção terapêutica (BRASIL, 2008; BRASIL, 2010). A inserção dos testes rápidos para a triagem sorológica das hepatites B e C proporcionou o conhecimento precoce do diagnóstico e consequente acesso ao tratamento adequado em tempo de evitar complicações da forma crônica da doença. Levando em conta o que foi exposto, o objetivo deste estudo foi analisar a prevalência de hepatites B e/ou C por meio de testes rápidos e as características dos casos positivos, cujos exames foram realizados em um Centro de Testagem e Aconselhamento da cidade de Londrina – PR. Método Trata-se de um estudo descritivo, transversal, com abordagem quantitativa, cujos dados foram levantados a partir dos 6.392 casos registrados no Sistema de Informação do Centro de Testagem e Aconselhamento (SI/CTA) de usuários que realizaram teste rápido para as Hepatites B e C no período de junho de 2012 a maio de 2015. A amostra foi constituída por 94 indivíduos que foram submetidos ao teste rápido, cujo resultado foi positivo para hepatites B e/ou C. A coleta de dados para os casos positivos para as hepatites foi realizada por meio de um instrumento de pesquisa, cujas variáveis foram levantadas a partir dos Formulários de Cadastro de Usuários. A tabulação e a análise dos dados foram realizadas pelo software Statistical Package for Social Science (SPSS) versão 20.0. Para comparação entre as variáveis foram utilizados os testes Qui-quadrado de Pearson e Exato de Fisher, considerando-se o valor de alfa < 0,05 como estatisticamente significante. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina, atendendo as exigências da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, CAAE 35357914.0.0000.5231. Resultados e discussão Dentre os 6.392 atendimentos realizados no CTA, 94 (1,5%) foram positivos para as hepatites B e/ou C, sendo que 46 (0,7%) eram reagentes para hepatite B, o mesmo número para hepatite C e 02 (0,03%) para associação das hepatites B e C. Índices bem menores do que os encontrados em estudo realizado em um CTA de Minas Gerais, o qual apresentou taxas de 14,4% e 5,9%, respectivamente (VILELA et al, 2010). Os indivíduos mais jovens (16 a 45 anos) apresentaram uma positividade maior para a hepatite B (71,4%), enquanto que os indivíduos de 46 a 75 anos foram mais reagentes para a hepatite C (66,7%), com diferença significativa em ambos os casos. Resultado semelhante foi encontrado por Coelho et al. (2012), observando-se maior positividade para hepatite B entre os mais jovens (100,0%) e para hepatite C entre os mais velhos (82,7%). Uma possível explicação para o fato de a incidência da hepatite C ser maior nos idosos é que muitos deles foram submetidos a procedimentos nos quais se utilizaram instrumentos perfuro cortantes que não passaram pelo processo de esterilização corretamente, ou passaram por transfusões de sangue no período anterior a 1993, quando não havia a triagem sorológica para as hepatites nos bancos de sangue (MELLO, MOTTA, SANTOS; 2011). Todos os usuários que se identificaram como homo/bissexual e que realizaram o teste rápido para hepatite B foram reagentes. Entre os usuários que se identificaram como heterossexuais, 53,2% foram reagentes para a hepatite C, com diferença significativa para as duas categorias. Estudo realizado em centro de referência brasileiro apontou que 80,6% dos casos de hepatite B analisados foram de usuários que se declararam heterossexuais (JUSTINO et al., 2014). A figura 1 mostra os casos de coinfecção com as hepatites. Figura 1 - Número de usuários positivos aos testes rápidos para hepatites B e/ou C, segundo a positividade para as coinfecções pelo HIV e sífilis, no período de junho de 2012 a maio de 2015. Londrina, 2016. Legenda: HCV (Vírus da hepatite C); HBV (Vírus da hepatite B); HIV (Vírus da Imunodeficiência humana) Dentre os 94 usuários atendidos pelo CTA, 20 (21,3%) apresentaram testes positivos para Sífilis e/ou HIV (Figura 1). Estudo realizado no Estado de São Paulo mostrou percentuais maiores de coinfecção pelo HBV e HIV (2,8%), HCV e HIV (6,45%), observando-se ainda, associação de HBV, HCV e HIV em 0,43% dos casos (FARIAS et al., 2012). Conclusão À despeito da fragilidade das pesquisas que trabalham com dados secundários, este estudo apontou que as hepatites virais continuam sendo um relevante problema de saúde pública, havendo necessidade de campanhas mais efetivas para a sua prevenção, maior acessibilidade aos testes rápidos e tratamento precoce dos casos. Observou-se a ausência de algumas informações nas fontes de dados, o que prejudica parte das análises, assim como a dificuldade na obtenção dos dados de acompanhamento dos casos para confirmação diagnóstica, fase da infecção e tratamento instituído. Agradecimentos Agradeço à minha orientadora, Profª Drª Elma Mathias Dessunti e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq – pela Bolsa de Iniciação Científica que possibilitou a realização deste estudo. Referências BRASIL, Ministério da Saúde. Hepatites virais: o Brasil está atento. 3ª ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2008. 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Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília, v. 21, n. 3, p. 475-486, 2012. Disponível em: <http://scielo.iec.pa.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S167949742012000300013>. Acesso em: 15 maio 2016. JUSTINO, E.M.G. et al. Perfil de portadores de hepatite B em um serviço de referência: estudo retrospectivo. Revista Brasileira de Promoção da Saúde, Fortaleza, v. 27, n. 1, p. 53-61, 2014. Disponível em: < http://ojs.unifor.br/index.php/RBPS/article/view/2363/pdf_1>. Acesso em: 24 ago. 2016. MELLO, J.C.; MOTTA, T.P.; SANTOS, M.C. Perfil epidemiológico de portadores de hepatite C do núcleo hospitalar epidemiológico do sul do Brasil. Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde, v. 15, n. 3, p. 55-64, 2010. Disponível em: < http://www.redalyc.org/pdf/260/26021120006.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2016. VILELA, M.P. et al. Perfil epidemiológico dos Usuários do Centro de Testagem e Aconselhamento de Alfenas, Minas Gerais. 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