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Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016
VI Enebio e VIII Erebio Regional 3
APRENDENDO BOTÂNICA NO ENSINO MÉDIO POR MEIO DE ATIVIDADES
PRÁTICAS
Bruno Jan Schramm Corrêa (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)
Claudinei de Freitas Vieira (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)
Karina Gabrielle Resges Orives (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)
Marciele Felippi (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)
RESUMO
O estudo da Botânica é considerado por muitos estudantes do Ensino Médio como
desinteressante. Portanto, torna-se importante a elaboração de estratégias visando à
aproximação do alunado à área. A utilização de frutos, em função das inúmeras características
morfológicas como cor, odor e sabor, seria uma possibilidade. Assim, o trabalho objetivou
despertar o interesse de alunos do segundo ano do ensino médio pela área da Botânica. Para
isso, dentre as atividades, foi realizada uma aula expositiva dialogada seguida por atividade
prática envolvendo exemplos de frutos. Posteriormente foi aplicado um questionário, sendo os
resultados comparados a outros trabalhos da área. O interesse dos alunos pelas atividades foi
notório e a utilização de práticas visando à observação e compreensão do conteúdo é efetiva
para a construção de conhecimentos sobre os vegetais.
Palavras-chave: Ensino de Botânica, Aula Prática, Estratégia de Ensino.
INTRODUÇÃO
A disponibilidade de recursos naturais do Brasil é enorme. Grande parte da
população possui consciência de que o país possui grandes riquezas como a floresta
Amazônica, a Mata Atlântica, o Cerrado, entre outros biomas. No entanto, o aprendizado
envolvendo a flora em termos gerais, carece de exemplificações, e principalmente
visualização.
O termo utilizado por Wandersee e Schussler (2001), “cegueira botânica”, ilustra
algumas razões para a falta de interesse pelos organismos vegetais. Segundo os autores,
ocorre a falta de capacidade das pessoas em perceber a existência das plantas no ambiente em
que vivem, o que conduz à inabilidade de reconhecer a importância das mesmas para biosfera
e consequentemente para os a humanidade.
Desta forma, a importância conferida à vegetação deve ser instruída desde cedo no
aprendizado. Particularmente no ambiente escolar, próprio para instrução das crianças e
jovens. Nesse contexto, o ensino da Botânica de acordo com Raven et al. (2001), fornece
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conhecimentos para que os cidadãos entendam muitas das problemáticas atuais, como a
escassez de alimento, poluição atmosférica e destruição de ecossistemas. Desta forma, o
ensino de botânica nas escolas é fundamental para despertar os alunos sobre a importância das
plantas.
Dentro das diversas áreas da biologia, a botânica geralmente é tratada com desdém
por alunos e até mesmos pelos professores. Segundo Arruda e Laburú (1996), esta
desvalorização da matéria tem como causas a precariedade de materiais, métodos ou
tecnologias que despertem a curiosidade do aluno. Além disso, as dificuldades enfrentadas
pelo estudante podem estar atreladas ao uso do método tradicional de ensino, feito apenas
com a utilização dolivro didático, não atendendo ao real contexto que o aluno esta inserido,
ou ainda pela falta de domínio do professor sobre a matéria, estimulando ainda mais a
“cegueira botânica”.
No estudo da Botânica, em especial, é comum a utilização de nomenclaturas de
difícil assimilação por parte dos alunos. Segundo Silva (2008), a dificuldade dos alunos na
compreensão é consequência direta do acúmulo de informações e especificidades da área,
onde as dificuldades de transposição se devem pelo distanciamento entre o pesquisador e o
professor. Isso, em longo prazo, torna o professor inseguro e receoso de trabalhar os
conteúdos, o que impede que novas estratégias sejam aplicadas para despertar a curiosidade
do aluno.
Desse modo, torna-se imprescindível entender as razões, consideradas pelos alunos,
que justificam as possíveis dificuldades em relação ao aprendizado sobre as plantas. Os
trabalhos científicos e propostas publicadas para a melhoria do Ensino de Botânica ainda são
incipientes. São poucos os estudos relacionados aos vegetais que abordam a temática voltada
para o ensino, ao passo que as pesquisas desenvolvidas na área de Educação apresentam
discussões sobre didática, e raramente estas são relacionadas diretamente à Botânica, sendo
este panorama, alvo de preocupação dos pesquisadores entusiastas no Ensino de Botânica
(SILVA; CAVASSAN, 2006).
Como alternativas eficientes ao ensino de Botânica destacam-se as aulas a campo, em
ambientes naturais. Benetti e Carvalho (2002) e Chapanie e Cavassan (1997), descrevem que
a sala de aula constitui um ambiente pouco atrativo tanto para aluno quanto para o professor,
ao passo que o assunto de botânica, quando trabalhado fora da sala de aula torna-se
estimulante e dinâmico. Pesquisas propondo metodologias de ensino sobre botânica sugerem
a utilização do ambiente natural que sempre que possível (PINHEIRO DA SILVA,
CAVASSAN, 2005; SILVA, 2008).
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As aulas realizadas em ambientes naturais, aproveitando os espaços externos da escola
bem como as plantas disponíveis no local como complemento das aulas teóricas de botânica
tem se mostrado uma metodologia eficiente em envolver e motivar os alunos na construção do
conhecimento (RODRIGUES et al., 2013).
Muitas vezes, ocorre a impossibilidade do professor conduzir uma atividade, viagem
ou visita com os alunos para ambientes naturais, obrigando-o a ministrar aulas utilizando o
livro didático, slides ou outras tecnologias como orientadores para a exemplificação de
conceitos. Desta forma, as aulas relacionadas a tipos morfológicos podem ser
complementadas com a observação de espécimes de plantas trazidos para a sala de aula. Onde
se pode apontar as estruturas em estudo e explicar a sua função e características mesmo sem
sair do espaço físico dos arredores do colégio. Segundo Pereira e Putzke (1996) o pátio da
escola é considerado um lugar eficiente para o ensino de Ecologia e Botânica, pois desperta o
aluno por este estarem um ambiente diferente da sala de aula.
A utilização de exemplares para aulas práticas também é considerada um instrumento
importante para o Ensino de Botânica. Joly (1976) coloca ao professor que nunca desenvolva
estudos de classificação de plantas e de caracterizações morfológica sem recorrer a
exemplares vivos, retirados da natureza.
Os frutos em geral, além da sua importância ecológica, tem importância econômica
para o homem. Sendo que os frutos possuem diversas características únicas, como cores,
cheiros e sabores, características estas pouco exploradas no ensino de Botânica.
Souza et al. (2014), Matos (2013) e Uchôas e Gomes (2011), atestam a eficiência do
uso de vários recursos em suas aulas práticas, incluindo frutos, afirmando que sua utilização é
eficiente como método para despertar a motivação e interesse dos alunos por assuntos
relacionados a Botânica.
A partir disso, o presente trabalho buscou adotar uma abordagem prática sobre
botânica utilizando variados tipos de frutos para investigar a eficácia do método com relação à
aprendizagem e interesse de alunos do ensino médio sobre a matéria de botânica.
METODOLOGIA
As atividades foram desenvolvidas em escola do Ensino Fundamental e Médio,
localizada no município de Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná. A instituição possui 1.299
alunos.
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A prática fez parte do projeto de Estagio Curricular em Biologia II, do curso de
Ciências Biológicas – Licenciatura, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, UTFPR,
e foi aplicada a 37 alunos matriculados no 2º ano do Ensino Médio, na disciplina de Biologia.
Foram consideradas três etapas para a aplicação do projeto: 1) aula expositiva
dialogada; 2)aula prática e 3) resposta aos questionários.
Inicialmente, em sala de aula, utilizando slides, foi ministrado o conteúdo intitulado
“Conhecimento sobre a área Botânica, e quais suas implicações no dia-a-dia”, contemplando
informações básicas. Durante a atividade, os alunos visualizaram exemplares de exsicata,
carpoteca, xiloteca e sementeca fornecidos por meio de empréstimo do Laboratório de
Botânica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus de Dois Vizinhos.
Na segunda etapa, os alunos foram conduzidos ao saguão da escola para uma oficina,
onde se seguiu uma atividade utilizando de frutos. Explicou-se a importância dos frutos para a
economia e qual a importância ecológica das mesmas. Foram trazidos pelos ministrantes,
exemplares de frutos carnosos (tomate, pepino, laranja, limão-cravo, milho, abacate e caqui)
pseudofrutos (pera, maçã e morango), e de frutos secos (cedro, angico-vermelho, feijão e
soja), que foram partidos ao meio com estilete para demonstração ilustrativa. Em seguida, os
alunos visualizaram a parte interna e externa destes frutos popularmente conhecidos.
Para a caracterização dos frutos, foram destacadas três importâncias; Seco ou
carnoso, deiscente ou indeiscente e camadas do pericarpo (epicarpo, mesocarpo e endocarpo).
Ao final da oficina, solicitou-se que os alunos formassem duplas para realizar o
desenho de um fruto a escolha indicando as camadas da periderme (endocarpo, mesocarpo e
epicarpo). Informou-se que os desenhos não precisavam ser seguidos à risca. A pintura dos
desenhos ficou por escolha dos alunos e à entrega do desenho foi atribuída uma nota parcial
de trabalho bimestral, combinada previamente com o professor regente da turma.
Após a prática, alguns frutos utilizados na prática (maçã, pera, tomate e caqui) foram
consumidos pelos alunos, sendo que os mesmos foram higienizados antes e depois da
aplicação da aula prática.
Concomitantemente, durante as atividades foram anotadas informações a partir da
observação quanto ao comportamento dos alunos. Ao final das ações foi aplicado um
questionário contendo quatro questões sobre a atividade. Optou-se por aplicar o questionário
duas semanas depois da realização da prática, de forma a perceber se o assunto foi
compreendido pelos alunos após os mesmos voltarem para as atividades normais do ano
letivo.
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As informações do questionário foram relacionadas a reflexões de diferentes
pesquisadores, sendo que, os dados obtidos foram analisados e discutidos, propondo-se
melhorias no ensino-aprendizagem da matéria de acordo com a abordagem quanti-qualitativa
(DAL-FARRA; LOPES, 2013).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante a primeira etapa do projeto, observou-se que o conteúdo de Botânica já havia
sido estudado, e o enfoque a partir do Ensino Médio tende a diminuir. Notou-se o interesse e a
interação no inicio da aula, quando foi apresentada a importância da Botânica para a
preservação ambiental.
Notou-se que a curiosidade dos alunos foi instigada a partir das informações sobre as
frutas nativas do Brasil, onde a maioria não conseguiu pensar em uma fruta que é natural do
país. As respostas que a goiaba, o abacaxi e o maracujá são nativos do país criaram certo
alvoroço em sala de aula. A revelação de que a banana e o abacate não são nativos foi um
ponto ainda mais alto de discussões.
As coleções botânicas também se mostraram como uma boa ferramenta na promoção
da curiosidade e informação aos alunos. A sementeca e a carpoteca foram os materiais mais
importantes, já que chamaram a atenção por ser um recurso visual contendo variados formatos
e cores. Uchôas e Gomes (2011), utilizando a carpoteca como recurso educativo para a
preservação da flora do bioma Cerrado, obtiveram resultados semelhantes. Enquanto Souza
(2014) atestou que a construção e observação de uma mini-carpoteca em sala de aula
proporcionou um processo de aprendizagem efetivo sobre os termos técnicos botânicos.
De fato, as coleções botânicas, além de ser um material imprescindível no estudo de
identificação, conservação e manejo florístico, atuam como instrumento didático em Ciências
Biológicas, onde é utilizado em aulas práticas promovendo o interesse do aluno pela flora
(KRASILCHIK, 2008; DIAS; BITAR, RASSI, 2013). Assim, recomenda-se, sempre que
possível, demonstrar exemplares de coleções botânicas de forma a complementar o ensino de
biologia em conteúdos como botânica, ecologia e biogeografia.
Durante a segunda etapa, onde os alunos foram conduzidos ao saguão da escola, se
seguiu a oficina utilizando de frutos (Figura 1).
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Figura 1 – Aula prática no saguão da escola utilizando de frutos. Fonte: Do autor. 2016
A partir da atividade prática, observou-se a atenção dos alunos, os questionamentos,
observações. Muitos estudantes não sabiam a função ecológica dos frutos e a relação com a
dispersão e proteção da semente. Através dos comentários, percebeu-se que os alunos
consideravam somente a importância econômica dos frutos, em função, principalmente, da
alimentação.
Dentre os desenhos entregues, observaram-se trabalhos feitos com muita precisão,
coloridos e chamativos, contando ainda com a correta caracterização dos tecidos (Figura 2).
Figura 2 – Exemplares ilustrados pelos alunos com a correta identificação dos tecidos em limão-cravo,
pêra e abacate. Fonte: Do autor, 2016.
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Sobre a maior dificuldade enfrentada para o entendimento da prática, 77% não
observaram dificuldade no entendimento da prática. Notou-se que a dificuldade maior foi que
o conteúdo possui uma linguagem difícil (12%) e que o mesmo não possui relação com seu
cotidiano (12%). Este resultado demonstra que o conhecimento foi construído por parte da
maioria dos alunos. As dificuldades sentidas são as mesmas apontadas por Kinoshita et al.
(2006). Isto demonstra que o assunto em si, ainda, expõe dificuldades devido a sua natureza
pautada em memorização excessiva de nomes e conceitos não utilizados normalmente no
cotidiano dos alunos.
Quando perguntados sobre a importância ecológica dos frutos (Figura 3), 81% dos
alunos responderam que os frutos são os responsáveis pela dispersão das sementes e
propagação da espécie, 8% relataram que os frutos são utilizados na alimentação humana e
animal, 4% atribuíram uso medicinal para as plantas, enquanto 4% relataram o uso em
pesquisas de identificação de plantas. Este resultado atesta que a principal importância
ecológica dos frutos foi compreendida pela maioria dos alunos.
Figura 3 – Respostas obtidas quanto à importância dos frutos para as plantas. Resultados expressos em
porcentagem (%). Do autor. 2016
As respostas dos questionários mostraram que a atividade alterou a concepção sobre
Botânica. Todos os alunos afirmaram que atividade proporcionou informações importantes
para o seu dia a dia e para o aprendizado de Botânica em geral. Segundo Feitosa e Leite
(2012), uma das exigências atuais no ensino de biologia é a contextualização do assunto com
o cotidiano do aluno. O que pode ser atingido com a demonstração e questionamentos de
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conceitos observáveis no dia a dia do aluno, como o formato, a consistência e a cor de uma
fruta no supermercado por exemplo.
Sobre os recursos que poderiam ser utilizados na motivação para a aprendizagem de
botânica, 73% dos alunos sugeriram aulas práticas em laboratório, sala de aula ou
dependências do colégio. Enquanto 27% preferiam aulas a campo em jardins, parques ou
áreas naturais.
As aulas fora da sala de aula mostram-se novamente como um elemento chave para a
complementação de aulas de Biologia. As dependências do colégio que contam com
vegetação podem sempre ser usadas para a demonstração de conceitos práticos. Admitindo
que aulas práticas realizadas fora do ambiente habitual do aluno promovem uma maior
atenção e dedicação ao que está sendo ministrado. Resultados semelhantes aos encontrados
por Silva et al. (2015), com estudo em turmas de Ensino Fundamental no Piauí .
A aula prática prima por sua simplicidade e facilidade da aplicação, buscando sempre
relacionar cotidiano do aluno com ao que esta sendo explicado. Atesta-se também a eficiência
na utilização de frutas verdadeiras, distanciando o ensino da abstração oferecida por uma aula
expositiva complementada somente com imagens dos livros didáticos (MENEZES et al. 2008;
BOCKI et al. 2011); ao mesmo tempo que oferece uma atividade diferenciada ao aluno ao
utilizar-se de atributos especiais conferidos as frutos utilizados comercialmente, que é a
oportunidade de degustação e aroma, o que atrai ainda mais o aluno para o conhecimento.
Esta metodologia já verificada por Matos et al. (2015) aqui ganha complemento com os
desenhos realizados pelos alunos como forma de visualização mais detalhada da morfologia
dos frutos.
Recomenda-se, sempre que possível que a utilização de exemplares naturais sejam
utilizados para aulas envolvendo botânica (ARAUJO, 2011), não de forma que o livro
didático seja abandonado no processo, mas que sirvam como um importante complemento
para a inserção do aluno à esta ciência, presente diretamente e indiretamente no cotidiano
escolar.
As visualizações de recursos naturais tendem a promover uma conscientização do
aluno sobre a importância da conservação e diversidade da vegetação brasileira, contribuindo
para desconstrução da imagem da botânica como conteúdo desinteressante.
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CONCLUSÕES
Os resultados obtidos demonstraram que a atividade proporcionou aos alunos um
aumento na atenção e curiosidade sobre os conteúdos de Botânica. Concomitantemente, a
experiência foi eficiente para promover aos alunos o conhecimento sobre alguma
característica nova sobre alimentos e produtos presentes no seu cotidiano. Indica-se que as
metodologias de ensino devem sempre ser aprimoradas pelos educadores de forma a tornar as
aulas mais atrativas utilizando de materiais simples e de fácil aquisição, como é o caso da
utilização de frutos.
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