COMPARANDO INFORMAÇÃO TÉCNICA E NARRATIVA EM CONTEÚDOS EDUCATIVOS FORNECIDOS PELAS MÍDIAS SOCIAIS MARTINS, Emanuel Antonio Guimarães1; NASCIMENTO, Carina Cristina2 1. UNIMAR – Universidade de Marília; [email protected] 2. USC – Universidade Sagrado Coração; [email protected] RESUMO Os estudos sobre a influência das mídias sociais na educação são embrionários, no entanto, observa-se que sua utilização teve um aumento significativo devido à importância atrelada ao papel das novas tecnologias no processo educacional. Apesar da existência de poucos estudos e referencial teórico de apoio, verifica-se a existência de um grande interesse, por parte do público, em conhecer os efeitos provocados na utilização dessas mídias no processo de aprendizagem. O objetivo principal deste trabalho é ampliar o conhecimento sobre os efeitos das formas de utilização das mídias sociais, atendendo a necessidade de melhorar a efetividade do processo de aprendizagem. Este foco está diretamente ligado ao interesse teórico do papel do estado afetivo em modificar o comportamento cognitivo do receptor / sujeito. Em um estudo inicial deste efeito, Golding (1992) encontrou que um formato técnico de um conteúdo ou mensagem tem maior capacidade de atração mas perde leitores mais rapidamente do que um conteúdo narrativo, quando o meio é um jornal diário. Recentemente Blanchette; Richards (2004), manipulando a emoção associada a algumas asserções encontraram que a emoção afetou as respostas dos respondentes. Sendo assim, pretende-se avaliar empiricamente o efeito da forma de apresentação dos conteúdos educacionais fornecidos pelas mídias sociais, observando como esta afeta os receptores em seus aspectos cognitivos no processo de aprendizagem. Parte-se do pressuposto teórico, que através do tipo de linguagem utilizadas nas mídias sociais, formato técnico ou narrativo, o mapa cognitivo dos receptores pode ser alterado, na estrutura de seu processo de aprendizagem. Palavras-chave: mídias sociais; linguagem; aprendizagem; cognição. ABSTRACT The studies on the influence of the social medias in the education are embryonic, however, it is observed that its use had a significant increase due to importance to the paper of the new technologies in the educational process. Although the existence of few studies and theorical reference, verifies it existence of a great interest, on the part of the public, in knowing the effect provoked in the use of these medias in the learning process. The main objective of this work is to extend the knowledge on the effect of the forms of use of the social medias, taking care of the necessity to improve the effectiveness of the learning process. This focus is directly on to the theoretical interest of the paper of the affective state in modifying the cognitive behavior of the receiver. In an initial study of this effect, Golding (1992) it found that a format technician of a content or message has greater attraction capacity but loses readers more quickly of what a narrative content, when the way is a daily periodical. Recently Blanchette; Richards (2004), manipulating the emotion associated with some assertions had found that the emotion affected the answers of the respondents. Being thus, it is intended to empirically evaluate the effect of the form of presentation of the educational contents supplied by the social medias, observing as this affects the receivers in its cognitive aspects in the learning process. It has been broken of the estimated theoretician, who through the type of language used in the social medias, the cognitive map of the receivers can be modified, in the structure of its process of learning. Key words: social medias; language; learning; cognition. INTRODUÇÃO Com o surgimento de novos recursos interativos como Youtube, Orkut, Blogs, Wikis e outros, observou-se uma mudança na forma como os usuários navegam na internet. Estes recursos proporcionaram que milhões de usuários passassem a produzir suas próprias informações e criassem relações duradouras entre si, as chamadas Mídias Sociais. Segundo Kaplan (2008), o conceito de mídias sociais precede a internet e as ferramentas tecnológicas - ainda que o termo não fosse utilizado. Trata-se da produção de conteúdos de forma descentralizada e sem o controle editorial de grandes grupos. As ferramentas das mídias sociais são sistemas online projetados para permitir a interação social a partir do compartilhamento e da criação colaborativa de informação nos mais diversos formatos. Dada a contemporaneidade deste assunto, os estudos e o referencial teórico de apoio é bastante linitado, nesse sentido, tomou-se como base pesquisadores norte-americanos que possuem como linha de pesquisa estudos de recepção, congnição, percepção e aprendizagem aplicadas em mídias tradicionais e contemporâneas. As mídias sociais tem um grande poder de formação e podem ajudar no processo de aprendizagem. Em matéria publicada no dia 20 de junho de 2008, no jornal Folha de São Paulo, uma pesquisa da Universidade de Minessota, Estados Unidos, concluiu que sites de relacionamento como Orkut, MySpace, Facebook e Youtube trazem benefícios educacionais, contestando todos os estudos recentes sobre o tema, conforme afirma Greenhow (2008): O que nós descobrimos foi que estudantes que usam sites de relacionamento estão atualmente praticando habilidades do século 21 e querem desenvolvê-las para alcançar o sucesso (GREENHOW, 2008). O grande diferencial da utilização das mídias sociais na produção de conteúdos educacionais, para outras plataformas de aprendizagem, é que a relação entre emissor e receptor passa pela percepção cognitiva. Portanto, depende muito do tipo de conteúdo disponibilizado na mídia social (KAPLAN, 2008). Neste sentido, o presente trabalho foca no efeito da forma como os conteúdos produzidos pelas mídias sociais afetam os receptores, no processo de aprendizagem e intenções de comportamento. Parte-se da teoria de Payne; Bettman; Johnson (2002) em que os resultados deste meio, (mídias sociais), indicam que o processo de aprendizagem pode ser influenciado pelo formato, conteúdo e pela percepção cognitiva da informação que está completa ou não. Conforme dito anteriormente, Payne; Bettman; Johnson (2002), em sua linha de estudos de recepção e cognição, acreditam que o processo de aprendizagem pode ser influenciado pelo formato, conteúdo e pela percepção. O bom senso sugere que, de maneira geral, para o sujeito incorporar uma informação no seu processo de aprendizagem, há pelo menos quatro condições a cumprir: a. saber da existência da informação; b. ter conhecimento suficiente da necessidade para avaliar as alternativas que dispõe; c. compreender a informação e a relação dela com o que necessita; d. ser capaz de incorporar a informação no seu processo de aprendizagem. O não-atendimento dessas condições pode gerar falhas no processo de aprendizagem. De acordo com Simon (1955), se o receptor / sujeito não tiver habilidade em absorver a informação, (por falha em algum dos pontos acima), ele pode decidir pela simplificação. Dessa forma, pode-se inferir que apenas a informação recebida não é o suficiente para o aprendizado; ela tem que ser acessível, isto é, entendida e aplicada no processo de decisão. O formato da mensagem tem sido identificado como uma ferramenta importante para tornar a aprendizagem acessível. Pesquisadores norte-americanos descobriram que a informação apresentada numericamente comparada com informação verbal afeta o processamento do seu conteúdo para sujeitos de experimentos (WALLSTEN, STONE; SCHKADE, 1991). Considerando o formato técnico, como mais próximo de números e tabelas e o narrativo como descrição verbal do mesmo problema, Golding et al. (1992) demonstraram que uma reportagem contendo informações de forma técnica era mais atrativa para os leitores de um jornal diário do que uma versão narrativa da mesma história, que tratava dos perigos do gás Radon. No entanto, o interesse (medido pela leitura repetida no mesmo assunto) também declinou mais rapidamente quando apresentada em formato técnico. Assim, em um jornal, uma mensagem com conteúdo técnico faz com que mais leitores estejam expostos à informação, mas não consegue fazer com que estes leitores continuem interessados no assunto (talvez pela percepção de suficiência de conhecimento), dificultando o aprendizado. Comparar informações técnicas e narrativas em conteúdos educacionais fornecidos pelas mídias sociais é o ponto fundamental deste trabalho. Os estudos de Golding et al (1992) indicam que um formato mais técnico de uma mensagem ou conteúdo para aprendizagem tem maior capacidade de atração, mas perde leitores mais rapidamente do que um conteúdo mais narrativo. O objeto a ser pesquisado é o efeito que uma mídia social, representada por um Blog pode representar no processo de aprendizagem de alunos. Este é um tema que já foi bastante debatido na Escola de Comunicações e Artes da USP, mas contém muitas incertezas devido à grande controvérsia dos resultados apresentados, o que deve gerar interesse dos participantes (alunos da ECA-USP), uma vez que estes são grandes usuários de mídias sociais para entretenimento e aprendizagem. A escolha da ECA-USP deu-se pelo fato de um dos pesquisadores desenvolver estudos de recepção e cognição nesta escola. Mais especificamente, o objetivo é demonstrar que informações com características mais técnicas (contendo números e gráficos apresentados como itens, por exemplo) afetam o mapa cognitivo do receptor no processo de aprendizagem diferentemente do que o mesmo conteúdo, mas no formato narrativo (dados inseridos em uma história de um indivíduo, por exemplo). Os esforços serão dirigidos para a criação de uma situação onde o receptor / sujeito aparentemente seja exposto de forma natural a um texto produzido por um Blog, porém, usando um ambiente controlado (laboratório de pesquisa de opinião), buscando responder a algumas questões não totalmente respondidas por estudos anteriores e que vão ao ponto central da pesquisa, isto é, o formato afeta a maneira que as pessoas aprendem conteúdos educacionais produzidos por mídias sociais? Este tipo de pesquisa vai ao encontro às atuais necessidades da área de educação e tecnologia, uma vez que pesquisadores, educadores, entre outros interessados têm procurado diretrizes para uma melhor interação entre fonte e público-alvo no que tange aos efeitos do processo de aprendizagem, principalmente em situações nas quais a ação do indivíduo (ao contrário de ações de grupos) é determinante na solução ou atenuação do problema Covello et al. (1988). Um outro aspecto que motiva este trabalho é que pesquisadores desta área concordam que apesar da sua importância, o conteúdo produzido por uma mídia social representa apenas um dos fatores de influência na aprendizagem, enquanto o formato de apresentação (ex. técnico vs. narrativo) da mensagem, está muito mais relacionado com seu efeito (HADDEN, 1986). A relação entre o público a ser atingido e o conteúdo fornecido pela mídia social gera demandas diferentes com relação ao formato da informação; por exemplo, informações que quantificam o problema ou o qualificam podem afetar os receptores / sujeitos, diferentemente com relação ao conhecimento, aprendizagem e/ou comportamento conforme Keeney; von Winterfeldt,1986. OBJETIVOS Objetivo geral Participar no esforço em ampliar conhecimento específico sobre os efeitos que o conteúdo produzido pelas mídias sociais podem provocar no processo de aprendizagem; Objetivos específicos Avaliar o efeito da forma como os conteúdos das mídias sociais afetam os receptores, em seus aspectos cognitivos e de aprendizagem; Avaliar a capacidade que a mídia social Blog possui para produzir conteúdos educativos em uma população (estudantes da USP) com total acesso (cobertura de praticamente 100%) e acostumada à sua utilização, uma vez que esta mídia pode ser a mais efetiva de produzir conteúdo devido à sua, cada vez maior, presença na vida moderna como fonte de informações; Estender os resultados de Golding et al (1992), que compararam os formatos técnicos e narrativos na apresentação de informação usando o jornal como meio para apresentar conteúdo, para um meio mais atual, mais presente e com maior capacidade de interação com o receptor, como um Blog (mídia social). METODOLOGIA Este estudo fará uso de método experimental em situação controlada, com medição antes e depois (do estímulo) com grupo controle. Chamado de experimentos com fator único onde comparações são feitas em relação ao efeito de dois tratamentos, neste caso os formatos técnico e narrativo do conteúdo da mídia social. Sujeitos: um grupo inicial de 60 sujeitos será convidado a participar do experimento de forma voluntária, divididos em três situações: formato técnico, formato narrativo e neutro (grupo controle). Estímulo: os estímulos serão duas páginas de um blog educativo. Uma delas se apresentará com aparência bastante técnica, dados e resultados de pesquisa demonstrando determinado assunto relacionado à comunicação, enquanto a outra apresentará dados que demonstrem o mesmo conteúdo, mas em forma de relatos de acontecimentos, mais próximo de uma matéria jornalística, contendo entrevistas e depoimentos sobre o assunto. Enquanto na condição neutra uma matéria jornalística de um site sobre atualidades é apresentada. Procedimentos: os indivíduos serão conduzidos para uma sala onde serão recebidos por um “experimentador” que encaminhará o sujeito para um computador previamente preparado para: 1. Exibir um questionário inicial a respeito de fontes de informação, atitudes, conhecimentos sobre sua área de interesse relacionado ao conteúdo do Blog; 2. Após responder o questionário, os sujeitos serão expostos às páginas do blog com o conteúdo pré-determinado por um sorteio aleatório (conteúdo narrativo, técnico ou neutro); 3. Ao terminar a leitura de uma página o indivíduo é orientado pela própria, a prosseguir para a próxima, onde existirá um questionário que o mesmo deverá responder sem a possibilidade de retorno ao texto lido. Este questionário irá conter perguntas específicas a respeito do seu tema de interesse, além de uma escala que medirá o comportamento do participante em relação ao nível de envolvimento com o assunto e a utilização da mídia social. Vinte e quatro horas depois o indivíduo receberá uma senha para acessar novamente a página e responder perguntas relacionadas com a atitude, conhecimento em relação ao tema estudado (para avaliar curva do esquecimento) e a respeito da intenção de modificação de comportamento com relação aos conteúdos educativos produzidos pelas mídias sociais, além de indicar qual o grau de aprendizagem com os assuntos apresentados durante o teste. RESULTADOS ESPERADOS Num primeiro momento espera-se a ampliação de conhecimento específico sobre os efeitos que o conteúdo produzido pelas mídias sociais podem provocar no processo de aprendizagem, tendo em vista, os poucos estudos e referencial teórico de apoio envolvendo esta temática. Nesse sentido, a expectativa é estender os resultados de Golding et al (1992), através das comparações feitas no conteúdo do Blog, objeto de estudo desta pesquisa, pois até o momento foram estudados formatos técnicos e narrativos na apresentação de informação usando o jornal como meio para apresentar conteúdo. A expectativa é que o formato técnico facilite mais a compreensão mas tenha menor durabilidade na memória, do que as informações adquiridas em formato narrativo e, de uma forma geral, espera-se que os dois grupos expostos à informação tenham maior confiança no julgamento feito do que o grupo controle. A comparação entre os grupos deve fornecer bases para estabelecer vantagens e desvantagens dos formatos comparados, além de permitir uma avaliação do efeito da forma como os conteúdos das mídias sociais afetam os receptores, em seus aspectos cognitivos e de aprendizagem. Além disso, acredita-se que a mídia social Blog possui grande capacidade para produzir conteúdos educativos e influenciar de forma positiva a aprendizagem dos sujeitos devido à sua, cada vez maior, presença na vida moderna como fonte de informações. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BLANCHETTE, Isabelle; RICHARDS, Anne. Psychological Science. Vol 15(11), 745752, 2004. COVELLO, V. Mccallum D. ; PAVLOVA, M. Effective communication. New York: Plenum, 1988. GOLDING, Dominic et. al. Evaluation risk communication: narrative vs, technical presentations of information about radon. Risk analysis, v. 12, n. 1, p. 27-35, 1992. GREENHOW, Christine. Para pesquisadores norte-americanos professores devem aproveitar as habilidades que as redes sociais ofereceram. Jornal Folha de São Paulo. São Paulo, 2008. Caderno de Educação. HADDEN, S. Public perception of hazard waste. Risk Analysis, vol. 11, 1, p. 47-57, 1986. KAPLAN, Andreas. Users of the world, unite. The challenges and opportunities of social media. Business Horizons, v. 53, issue 1, 2008. KEENEY, R. L.; WINTERFELDT, D. Improving risk communication. Risk Analysis, v. 6, n. 4, 417-424, 1986. PAYNE, J.; BETTMAN, J.; JOHNSON, E. Behavorial decision research: A constructive processing perspective. Annual Review Psychology, v. 43, p. 87-131, 2002. SIMON, H. A. On a class of skew distribution functions. Biometrika, v. 42, n. 3-4, p. 425440, 1955. WALLSTEN, T. STONE; SCHKADE. The coast and benefits of vague information. In: R. M. Hogarth (Ed.), Insights in decision making: a tribute to Hillel J. Einhorn, p. 28-43. Chicago: University of Chicago Press, 1991.