» Rev Bras Neurol, 48 (3): 25-41, 2012 Demências rapidamente progressivas. Revisão atualizada e etapas diagnósticas Rapidly progressive dementias. Updated review and diagnostic steps Eliasz Engelhardt Resumo As demências rapidamente progressivas (DRPs) constituem um grupo heterogêneo de condições clínicas (neurodegenerativas, vasculares, infecciosas, imunomediadas, tóxicas, metabólicas, tumorais, psicogênicas) e cirúrgicas. Suas principais características são início e evolução rápidos, com comprometimento cognitivo, comportamental, psicológico e motor. Avaliação detalhada é imprescindível, devendo ser seguido protocolo extenso, de modo sistematizado, compreendendo anamnese minuciosa, exames clínico e neurológico e complementares de sangue, urina, LCR, EEG, neuroimagem e eventualmente biópsia cerebral. A investigação deve ser rápida, já que podem ser encontradas causas reversíveis, e uma demora pode levar a morbidade ou mortalidade. As DRPs representam um desafio clínico complexo, mesmo para os profissionais mais experientes. Palavras-chave: demência, evolução rápida, demência rapidamente progressiva, diagnóstico Abstract Rapidly progressive dementias (RPDs) constitute a heterogeneous group of clinical (neurodegenerative, vascular, infectious, immunomediated, toxic, metabolic, tumoral, psychogenic) and surgical conditions. Their main characteristic is rapid start and course with cognitive, behavioral, psychological and motor impairment. Detailed evaluation is essential, and an extensive protocol that must be followed in a systematic way, including a meticulous anamnesis, clinical and neurological examination, and complementary assessment, including blood, urine, CSF, EEG, neuroimaging exams, and eventually brain biopsy. The investigation must be fast, considering that reversible causes may be found, and a delay can lead to morbidity ou mortality. The RPDs represent a complex clinical challenge, even for the most experienced professionals. Keywords: dementia, rapid course, rapidly progressive dementia, diagnosis Neurologia Cognitiva e do Comportamento - INDC-CDA/IPUB-Universidade Federal do Rio de Janeiro Revista Brasileira de Neurologia » Volume 48 » Nº 3 » jul - ago - set, 2012 » 25 Engelhardt E. Introdução As demências rapidamente progressivas (DRPs) constituem grupo heterogêneo de condições que se caracterizam por apresentar um ritmo evolutivo rápido. O termo, apesar de não haver ainda uma definição plenamente aceita, pode ser utilizado para pacientes que evoluem para demência em período inferior a 2 anos, sendo mais comuns períodos inferiores a 1 ano, como meses, semanas ou mesmo dias. Desse modo, as DRPs progridem de modo muito mais rápido que a maior parte das demências neurodegenerativas típicas, que costumam evoluir no curso de diversos anos desde os primeiros sintomas até o quadro de demência, como a doença de Alzheimer (DA), degeneração lobar frontotemporal (DLFT), demência com corpos de Lewy (DCL), demência associada à doença de Parkinson (DDP), parkinsonismos atípicos, entre outras 31, 32, 63. Considerando que muitas das DRPs são passíveis de tratamento e reversão do quadro a avaliação do paciente costuma ser urgente e requer procedimentos complementares amplos com exames múltiplos realizados em paralelo. O diagnóstico rápido é imperioso levando em conta que a demora pode levar a sequelas irreversíveis ou mesmo à morte. Enquanto o prognóstico é relativamente bem conhecido nas demências crônicas, o prognóstico nas DRPs é variável, na dependência da causa subjacente. Desse modo, constituem-se em um desafio clínico complexo que requer avaliação rápida e eficiente, e diagnóstico preciso 32, 42, 46, 63, 65, 82 . O objetivo deste artigo, além de uma atualização de artigo previamente publicado20, propor um protocolo com etapas que possam facilitar o diagnóstico. Categorias de demências rapidamente progressivas As DRPs incluem variadas condições heterogêneas e podem ser encontradas no grupo etário senil e pré-senil, incluindo a sua faixa mais jovem, contando com condições que podem ser classificadas em neurodegenerativas, vasculares, infecciosas, imunomediadas, tóxicas-metabólicas, tumorais e psicogênicas. Estatísticas de centros de referência, que se dedicam ao estudo das DRPs (e principalmente da DCJ), mostram que cerca de a das DRPs são constituídas pela mais frequente doença por prion, 26 » Revista Brasileira de Neurologia » Volume 48 » Nº 3 » a doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ), sendo que a fração remanescente compreende numerosas condições heterogêneas que necessitam de esclarecimento detalhado33,37,42,63,65,82. Um dos centros de referência mais importante, o UCSF Memory & Aging Center, com os estudos mais detalhados sobre o assunto, teve a oportunidade de avaliar mais que 1.300 casos com suspeita de doença priônica. Revisão recente desses dados mostrou que o diagnóstico de doença priônica foi dado a 48% dos pacientes (32% com as formas esporádicas provável ou definida, 15% genética e 1% adquirida), 29% dos pacientes tiveram diagnóstico indeterminado (prontuários com informação insuficiente, rotulados como sDCJ potencial) e, aspecto muito importante, foi a demonstração que 23% apresentava outras condições não-priônicas, muitas das quais tratáveis. A classificação diagnóstica dessas DRPs não-priônicas foi neurodegenerativas (26%), autoimunes (15%), infecciosas (11%), psiquiátricas (11%), miscelâneas (9%) e 28% se mostraram ainda indeterminadas, sendo frequentemente leucoencefalopatias ou encefalopatias de etiologia desconhecida31,34. Neurodegenerativas A DCJ, a mais característica das DRPs, e demências neurodegenerativas clássicas, porém com evolução atípica, serão vistas a seguir32,33,42. Doença de Creutzfeldt-Jakob. Será considerada a forma esporádica (sDCJ), a mais conhecida e freqüente (85%), com incidência de 0,5 a 1,0 casos/ milhão/ano. Existem também as formas familial (genética) e adquirida. Os aspectos clínicos da sDCJ compreendem um quadro de demência associada a manifestações comportamentais, extrapiramidais, cerebelares e mioclonia. Ocorre geralmente entre 50 e 70 anos de idade, sem predileção de gênero. O EEG mostra complexos periódicos de pontas ou ondas lentas agudas em cerca de dos casos, sua presença depende da fase da doença, sendo características quando ocorrem. Esse padrão pode ser encontrado em outras condições, que podem ser confundentes. A sensibilidade é de 66% e há relatos que lhe atribuem uma especificidade de 74%. A RM pode mostrar, principalmente na sequência em difusão, considerada a mais sensível para esse fim, hiperintensidade nos gânglios da base, em particular no caudado (em 60% dos casos) e/ou corticais (faixas corticais) (em até 80% dos casos), enquanto o comprometimento talâmico jul - agos - set, 2012 Demências rapidamente progressivas. Revisão atualizada e etapas diagnósticas pode ser visto com menor freqüência (14% dos casos). A sensibilidade da RM em casos de sDCJ provável comprovados por autópsia variou entre 58 e 70%. Já a especificidade mostrou-se elevada, entre 81 e 89%. Eventualmente, a sintomatologia, os exames de EEG e de RM podem se mostrar focais ou lateralizados, dificultando o diagnóstico. O LCR mostra elevação da proteína 14-3-3 em 91% dos casos, com sensibilidade de 94% e especificidade de 84%. Podem ocorrer falsos positivos (casos de DA e DCL com evolução fulminante) e falsos negativos. Outros marcadores que podem ser utilizados são enolase neurônio-específica (ENE) e a S100b, com menor especificidade, e a tau total. Análise genética pode ser realizada com objetivo de identificar polimorfismos e/ou mutações no gene do prion celular (PRNP), a presença de mutações confirmando o diagnóstico de formas priônicas hereditárias. A biópsia cerebral costuma ser esclarecedora, com achados histopatológicos clássicos e principalmente com imunocoloração. Não é realizada com freqüência, levando em conta a possiblidade de estabelecer o diagnóstico com os exames acima mencionados. Devem ser tomados cuidados especiais, quando realizada11,19,32,41,42,44,55,75,82. Doenças neurodegenerativas classicamente crônicas. As doenças demenciantes neurodegenerativas clássicas costumam ter início insidioso e uma progressão muito lenta, com duração geralmente maior que cinco anos (p.ex., DA, DLFT, DCL, DCB, PSP). Entretanto, podem ser encontradas, de modo menos freqüente, formas rapidamente progressivas e inclusive fulminantes, com algumas características típicas da categoria, e outras atípicas, inclusive a rapidez da evolução. Desse modo, a avaliação de uma DRP requer frequentemente considerações diagnósticas que apresentam sobreposição apenas marginal com as demências lentamente progressivas. Excetuando possivelmente a DCL e a DCB, as outras demências de evolução lenta, como DA e DFT (exceto a DFT-DNM), raramente se apresentam como DRPs. Mioclonia e sinais extrapiramidais podem ser vistas na DCB, DCL e em fases mais adiantadas na DA, de modo que sua presença não sugere forçosamente o diagnóstico de DCJ. Essas demências podem se assemelhar a DCJ, podendo ser algumas vezes enquadradas na categoria de sDCJ possível. Adicionalmente ao quadro clínico semelhante, pode ser encontrado EEG sugestivo e proteína 14-3-3 no LCR. Caso a duração seja maior que 1 ano, pode se pensar em uma doença não DCJ como a mais provável. A dificuldade pode surgir diante de doença neurodegenerativa de evolução rápida ou de sDCJ de evolução lenta. Outro aspecto que deve ser considerado é a possiblidade de uma doença neurodegenerativa (AD, DCL) coexistir com a sDCJ, como verificado em estudos de autópsia12,32,34,36,42,76,77. Vasculares Doença cerebrovascular. Lesões cerebrovasculares causadas por doença arteriosclerótica de artérias de grande calibre e/ou de pequeno calibre, podem levar a comprometimento cognitivo vascular e demência vascular (DV), de modo agudo ou subagudo, com características de DRP. As lesões teciduais ocorrem sob a forma de infartos córtico-subcorticais ou subcorticais em áreas heteromodais ou límbicas-paralímbicas ou em estruturas subcorticais (tálamo, gânglios da base). Lesões podem também ocorrer na substância branca subcortical, sob a forma de leucoaraiose e lacunas, interrompendo feixes que interconectam estruturas diversas. As lesões das estruturas cinzentas e da substância branca devem ter características de localização e extensão que atendam aos critérios diagnósticos estabelecidos. Lesões hemorrágicas intracerebrais também podem ocorrer e ocasionar síndromes semelhantes, agudas. As regiões e os feixes atingidos devem ser relevantes para a integração cognitiva e/ou comportamental, causando síndromes cognitivas por lesão específica ou por desconexão. As manifestações clínicas são variadas, cognitivas e neuropsiquiátricas, na dependência das estruturas atingidas. A disfunção executiva, o comprometimento da atenção, memória, linguagem, função visuoespacial, entre outras, podem estar presentes, em combinações e intensidade variadas. O diagnóstico de DV é estabelecido por critérios próprios, onde a neuroimagem tem lugar de destaque, principalmente a RM do crânio. As sequência básicas, com ênfase para a sequência em FLAIR, podem mostrar os diversos tipos de lesão acima descritas21,47,50,53,73. A angiopatia amilóide cerebral (AAC) é uma desordem caracterizada por depósito de β-amilóide nas paredes de artérias e arteríolas leptomeníngeas e corticais cerebrais. A forma esporádica é a mais comum e sua incidência encontra-se associada à idade avançada. Pode ser assintomática, ou causar diversas condições clínicas em consequência à ruptura de vasos, levando à micro-hemorragias ou à hemorragia lobar. Revista Brasileira de Neurologia » Volume 48 » Nº 3 » jul - agos - set, 2012 » 27 Engelhardt E. A hemorragia intracerebral lobar relacionada à AAC é a condição clínica mais bem estudada. Os depósitos amilóides podem também obliterar a luz vascular levando a infartos e leucoaraiose. As manifestações clínicas compreendem comprometimento cognitivo/ demência de instalação rápida (infarto, hemorragia). A TC de crânio sem contraste pode ser útil no diagnóstico diferencial entre infarto e hemorragia. Caso seja uma hemorragia em localização suspeita para diagnóstico de AAC deve ser realizada RM, incluindo a sequência gradiente-eco, adequada para detecção de micro-hemorragias crônicas córtico-subcorticais. Além disso, a RM nas sequências em FLAIR e gradiente-eco pode mostra hiperintensidades na substância branca (leucoaraiose) e micro-hemorragias9,13. A trombose microangiopática na púrpura trombocitopênica trombótica pode levar à DRP. A redução da perfusão cerebral devido a síndromes de hiperviscosidade com policitemia ou gamopatias monoclonais, ou ainda trombose de fístulas arteriovenosas durais, podem evoluir com demência de instalação rápida, parkinsonismo ou ataxia. Casos com história familial sugestiva de demência de início precoce e ictus vasculares permitem considerar a possibilidade de doenças mitocondriais no diagnóstico diferencial32,33,74,82. A s va s c u l i t e s c e n t r a i s , e m b o r a d e c a u s a imunomediada, podem ser incluídas nesse ponto, considerando seus efeitos diretos nos vasos arteriais e na integridade do tecido cerebral. Vasculites centrais. A vasculite primária do SNC (vasculite [angiite] cerebral) é uma condição autoimune rara, não apresenta uma causa subjacente definida e pode ocorrer associada a certas condições clínicas (infecções, vasculites sistêmicas), a determinados medicamentos e a tumores. Acomete geralmente vasos pequenos e médios, com inflamação e necrose segmentar de vasos leptomeníngeos e parenquimatosos, podendo levar a lesões múltiplas. A evolução é progressiva e flutuante ou escalariforme, com cefaléia, alterações do estado mental, sinais neurológicos focais, e com a progressão da doença são observadas manifestações multifocais. Apresentação similar pode ser vista também nas vasculites com células gigantes e a poliarterite nodosa. Infecções bacterianas, fúngicas e virais podem levar a vasculites semelhantes à primária. Outras vasculites compreendem a vasculite granulomatosa do SNC, a poliarterite nodosa e as relacionadas à sarcoidose, 28 » Revista Brasileira de Neurologia » Volume 48 » Nº 3 » lupus eritematoso, síndrome de Sjögren, doença de Behçet, síndrome hipereosinófila. Exames laboratoriais visando avaliação reumatológica incluem VHS, PCR, complemento (C3), complemento (C4), complemento total (CH50), anticorpo antinuclear (AAN), fator reumatóide (FR), anticorpos aos antígenos Ro/SSA e Lo/SSB, anticorpos anticitoplasma de neutrófilos (ANCA), padrão perinuclear (p-ANCA) e padrãocitoplasmático (c-ANCA) devem ser realizados. Esses testes podem mostrar positividade ou ter apenas o VHS e o PCR elevados. Os exames complementares podem oferecer esclarecimento. A RM revela alterações variadas, como lesões isquêmicas múltiplas de idade diferente, hemorragias, leucoencefalopatia, realce meníngeo ao contraste. A angio-RM pode ser útil, porém a angiografia cerebral (AGC) convencional é mais precisa, podendo mostrar estreitamentos multifocais e oclusão de artérias de médio e grande calibre, apesar de alto índice de falsos negativos. O LCR é geralmente anormal, com leucocitose leve e aumento de proteínas. A biópsia leptomeníngea-cerebral pode ser esclarecedora33,56,61,62. Infecciosas Causas infecciosas de DRPs compreendem vírus, bactérias, fungos e parasitas. As infecções do SNC, meningites e encefalites, geralmente são acompanhadas por manifestações sistêmicas típicas de infecção, como febre, leucocitose e eventualmente sinais meníngeos (em caso de menigoencefalites). A maioria das infecções que causam alterações do estado mental se manifestam de modo agudo, algumas podendo se instalar de modo mais lento. O exame do LCR mostra padrão citológico e bioquímico que varia com o agente etiológico. A detecção do agente causal pode ser realizada através de exames imunológicos10,32,33,82. Encefalites. Entre as infecções, as encefalites virais podem-se apresentar como uma DRP. Os vírus Herpes simplex (VHS-1 e 2), Epstein–Barr, citomegalovirus (CMV), vírus varicela-zoster (VVZ) e enterovirus, embora tipicamente se apresentarem sob a forma de uma encefalite aguda, podem se manifestar com alterações mais graduais do estado mental e do comportamento. A detecção dos vírus mais comuns é possível pela PCR, mais rápida que a cultura, podendo o teste diferenciar o agente causal, assim como a detecção de anticorpos IgM e IgG para outros vírus. A encefalite pelo VHS-1 (EHS-1) é a mais jul - agos - set, 2012 Demências rapidamente progressivas. Revisão atualizada e etapas diagnósticas comum no adulto, com altas taxas de morbidade e de mortalidade. Constitui-se em caso de urgência e deve ser considerada na avaliação de alterações cognitivas ou comportamentais de instalação rápida. As manifestações compreendem amnésia, desinibição ou outros aspectos psiquiátricos devido ao comprometimento de estruturas límbicas. Ocasionalmente o quadro pode ser precedido por alucinações olfatórias ou gustativas. O EEG é bastante sensível e mostra anormalidade de modo freqüente, com atividade delta rítmica intermitente, lentificação temporal não rítmica ou lentificação frontotemporal, podendo se desenvolver, com a evolução da doença, um padrão periódico. Apesar de sua menor especificidade em comparação à RM e ao LCR, é importante na monitoração de atividade de crise, quando presente ou suspeitada. A RM apresenta-se anormal na grande maioria dos casos, nas sequência em difusão e FLAIR, assim como ao contraste, com edema da região inferomedial do lobo temporal, uni- ou bilateral, algumas vezes hemorrágico, eventualmente associado comprometimento da insula e do giro do cíngulo. O LCR apresenta pleocitose linfocitária moderada, leve aumento de proteínas e glicose normal, podendo ser encontradas hemácias e leve xantocromia. O VHS-1 pode ser diagnosticado no LCR pela detecção do seu DNA pela PCR, com alta sensibilidade e especificidade1,5,54,71. A encefalite pelo vírus da raiva é uma doença fulminante desde o início, após um período de incubação médio de 1-2 meses (3 semanas a raramente dois anos) pós-exposição ou na aparente ausência desta. Aparecem inicialmente espasmos faringolaríngeos, seguidos por aspectos comportamentais e neuropsiquiátricos marcantes, incluindo agitação, comportamento bizarro, alucinações, excitabilidade e rápida progressão para o estado de coma. O exame de sangue pode mostrar hiponatremia. Testes sorológicos específicos podem mostrar resultados variáveis. A RM pode mostrar áreas com hipersinal mal definido em T2 na substância branca subcortical, hipocampos, núcleos cinzentos profundos e córtex cerebral, e tronco cerebral, de gravidade variada na dependência do estágio, com realce ao contraste em fases mais adiantadas. O LCR pode ser normal. O diagnóstico pode ser feito através de biópsia de pele da nuca, com a demonstração do antígeno do vírus na inervação de folículos pilosos por técnica com anticorpo fluorescente em cortes congelados. O teste da impressão corneana ou salivar pode não ser confiável. Pode haver prevenção com imunoterapia ativa e passiva e quando aplicada em período adequado pode ser eficaz. Embora considerada incurável, já há relatos de raros casos de cura4,38. Encefalopatia por HIV. O vírus da imudeficiência humana (HIV ) acomete o SNC causando a encefalopatia por HIV ouencefalopatia por AIDS. O comprometimento cognitivo compreende deficiência nas áreas da atenção, aprendizado, memória, velocidade de processamento, além de manifestações comportamentais (alteração de personalidade, apatia, instabilidade do humor, alucinações). Quadro de demência costuma ocorrer geralmente em fases mais avançadas da doença e em percentual mais baixo em fases iniciais. A progressão é variável, alguns casos evoluindo de forma rápida, em 3 a 6 meses, ou outras o quadro pode durar de 1 a 2 anos, entrando no diagnóstico diferencial de DRPs. Entretanto, sua incidência tem diminuído com a introdução de medicação anti-retroviral. O diagnóstico é baseado em teste de HIV no soro, baseado na técnica de detecção de anticorpos contra o vírus. Existem outras técnicas (detecção de antígenos, cultura viral e amplificação do genoma do vírus), utilizadas em situações específicas. A contagem de células CD4 no sangue é uma medida de imunocompetência celular e tem implicações prognósticas na evolução da infecção, sendo mais útil no acompanhamento de pacientes infectados. Outros exames podem ajudar na avaliação, como a RM, que pode mostrar lesões hiperintensas e eventualmente atrofia cerebral. O EEG pode mostrar lentificação generalizada. O LCR pode mostrar citologia com contagem normal e leve aumento das proteínas. A presença de bandas policlonais e um aumento da IgG indica produção intratecal de imunoglobulinas. Além do comprometimento direto do SNC pelo vírus, podem ocorrer diversas infecções oportunistas subagudas ou crônicas (fungos [criptococose], parasitas [toxoplasmose], bactérias [tuberculose])10,4a,13a,17. Poliomavirus. Esta família conta com dois subgrupos principais – os virus BK (iniciais de um paciente) e JC (John Cunningham), com genoma semelhante. São muitos comuns na população geral e costumam permanecer latentes e assintomáticos, vindo a se manifestar em condições de baixa da imunidade, como na imunodeficiência adquirida (AIDS – 50 a 80% dos casos) e em determinados tratamentos Revista Brasileira de Neurologia » Volume 48 » Nº 3 » jul - agos - set, 2012 » 29 Engelhardt E. (transplante de órgãos, neoplasias, LES). O vírus JC pode causar a leucoencefalopatia multifocal progressiva (LMP), quadro desmielinizante subagudo pouco comum, com comprometimento cognitivo, ataxia, crises. A evolução é progressiva, com sobrevida de 1-4 meses, raramento mais que 1 ano. A RM mostra lesões da substância branca subcortical, incluído a interface córtico-subcortical, inicialmente múltiplas e pequenas, eventualmente coalescem para formar lesões maiores, sendo mais frequentes em localização parieto-occipital e frontal. O LCR pode ser normal ou com leve aumento de células e proteínas. A PCR permite identificar o virus JC, que tem alta sensibilidade e especificidade na LMP (relatos de 95-100%). A biópsia é o critério padrão de diagnóstico, porém, com clínica e neuroimagem características, e PCR positivo no LCR, têm sido evitada7,18. Panencefalite esclerosante subaguda. É doença decorrente de infecção persistente do vírus do sarampo imuno-resistente (mutante) que pode ocorrer raramente em adultos jovens. A evolução da PESS é relativamente rápida com sobrevida média de um ano e meio, podendo ser fulminante, com óbito em 3 meses. O quadro compreende demência progressiva, crises focais ou generalizadas, mioclonia, ataxia, espasticidade. O EEG apresenta caracteristicamente pontas de alta amplitude ou complexos periódicos de descargas de ondas delta polifásicas de alta voltagem, sincrônicas e bilateralmente simétricas (complexos de Rademecker) (frequentemente correlacionadas a mioclonia clínica) ou outros complexos periódicos. Pode se apresentar normal ou evidenciar apenas lentificação do traçado no início e em fases tardias mostrar-se desorganizado com atividade lentificada e de alta amplitude. À medida que a PESS progride, a atividade de fundo apresenta-se suprimida, resultando em um padrão de descarga-supressão. A RM tem um papel limitado e pode mostrar no início lesões mal definidas na substância branca subcortical occipital e frontal, com hipersinal em T2, evoluindo para desmielinização subcortical extensa em fases mais tardias. O LCR revela frequentemente leve pleocitose e aumento das proteínas, gamaglobulina elevada (com banda oligoclonal) e títulos elevados de anticorpos ao virus do sarampo (estes também no soro). A PCR permite detectar o RNA do vírus30,54,57,71. 30 » Revista Brasileira de Neurologia » Volume 48 » Nº 3 » Criptococose e outros fungos. A meningite por criptococose pode apresentar-se com evolução subaguda e comprometimento cognitivo. Outros fungos (cândida, aspergilos, mucormicose, histoplasmose) também podem causar quadros semelhantes. Embora mais comum em pacientes com imundepressão, podem também ocorrer em indivíduos imunocompetentes. A RM mostra, na criptococose, espessamento das meninges da base e eventualmente nódulos intracerebrais com realce ao contraste, além do aparecimento de hidrocefalia. Podem ocorrer infartos isquêmicos em território de artérias grande e/ou pequenas. Raramente observam-se leões intracerebrais maiores (criptococomas). O LCR mostra pleocitose com predominância mononuclear, aumento leve a moderado de proteínas e glicose diminuída. O exame com tinta nanquim geralmente mostra-se positiva, assim como a cultura (no sangue menos). Os títulos para antígeno capsular do fungo encontram-se elevados (também no soro)8,49,51. Tuberculose. A meningite tuberculosa ou outras espécies de micobactérias podem cursar de modo subagudo e comprometimento cognitivo. Pode apresentar-se também em casos com imunodepressão. A RM mostra espessamento das meninges da base com realce ao contraste e eventualmente granulomas e hidrocefalia. Podem ocorrer ictus vasculares com infartos isquêmicos em território de artérias grande e/ ou pequenas. A angio-RM pode mostrar estreitamentos vasculares compatíveis com arterite. O LCR mostra geralmente pleocitose linfocitária, elevação das proteínas e glicose baixa. Podem ser vistos BAAR no esfregaço. A cultura demora no mínimo duas semanas. Mais da metade dos casos não são confirmados por microbiologia. A PCR pode detectar ácidos nucléicos de micobactérias com boas sensibilidade e especificidade39,51. Ne u r o s s í f i l i s . Po d e s e apre s e nt ar c om comprometimento cognitivo e demência, desordens de linguagem, transtornos de comportamento, crises. A avaliação para essa infecção é sempre necessária, apesar de disfunção cognitiva seja geralmente uma complicação tardia. Entretanto pode apresentar-se de modo mais agressivo em casos com imunodepressão. A RM não é específica e frequente pode não haver alterações. Pode haver atrofia temporal medial, atrofia jul - agos - set, 2012 Demências rapidamente progressivas. Revisão atualizada e etapas diagnósticas cortical ou áreas de desmielinização. Eventualmente há evidência de lesão vascular isquêmica e raramente goma. O LCR pode mostrar pleocitose linfocitária moderada, leve aumento de proteínas, glicose normal, com freqüente reatividade positiva ao teste do VDRL e ao TPHA (também no soro)6,69,83. Imunomediadas Os tipos dessa categoria são numerosos, compreendendo a condições imunomediadas paraneoplásicas (associadas a antígenos-anticorpos específicos) e não-paraneoplásicas. Geralmente acometem estruturas límbicas e neocorticais, podendo também atingir regiões subcorticais. Devem ser diagnosticados prontamente, pois podem evoluir de modo rápido e são passíveis de tratamento eficaz. Entre as formas imunomediadas nãoparaneoplásicas podem ser mencionadas as doenças desmielinizantes, a encefalopatia de Hashimoto, as encefalopatias ligadas ao lupus eritematoso sistêmico, à síndrome de Sjögren. Além disso, ocorrem demências sem antígenos-anticorpos específicos, porém com evidência de inflamação, como a doença de Behçet, sarcoidose, vasculite primária do SNC32,33,62,79. Algumas das encefalopatias imunomediadas nãoparaneoplásicas encontram-se a seguir. Doenças desmielinizantes. As condições desmielinizantes imunomediadas compreendem, entre outras, a esclerose múltipla e a encefalomielite disseminada aguda. A esclerose múltipla (EM) é a doença desmielinizante mais frequente em adultos jovens. Estudos de prevalência indicam taxas elevadas de pacientes que apresentam comprometimento cognitivo, inclusive em fases precoces da doença. Entretanto, demência é menos comum, podendo ser observada principalmente nos estágios finais da doença. As funções cognitivas que são mais frequentemente acometidas compreendem atenção, função executiva, velocidade de processamento, memória. O declínio cognitivo nesses pacientes vem sendo correlacionado com alterações cerebrais macro e microscópicas, demonstráveis por neuroimagem estrutural. Estudos recentes mostram que a disfunção cognitiva na EM resulta em grande parte por desconexão de estruturas relacionadas com processamento cognitivo, por ruptura de feixes de substância branca córtico-corticais e córticosubcorticais25,32,35,79. Foi descrito comprometimento cognitivo/demência com evolução de alguns meses da doença, portanto sob forma de DRP, porém de modo raro24,28. Os dados clínicos, associados a exames complementares permitem o diagnóstico da doença, compreendendo neuroimagem e exame de LCR, estudo de potenciais evocados, entre outros. O diagnóstico diferencial pode ser feito com doenças granulomatosas e vasculíticas cerebrais, que podem se manifestar sem manifestações sistêmicas ou serológicas informativas. A RM é fundamental, com a sequência em FLAIR para demonstrar as lesões na substância branca, que se mostram hiperintensas, constituindo-se em marca de desmielinização. Lesões mais novas poderão mostrar realce após infusão de agente paramagnético. Outras sequências podem ser utilizadas para detalhar variados aspectos da doença (DTI, ERM). O LCR pode mostrar evidência de inflamação crônica, com leve aumento de linfócitos e de proteínas, e síntese intratecal de imunoglobulinas. As bandas oligoclonais de IgG são sintetizadas por linfócitos B próximos das áreas de desmielinização – duas ou mais bandas oligoclonais de IgG encontradas no LCR, não observadas no soro correspondente, comprovam a síntese local. Estudo no nosso meio demonstrou bandas oligoclonais em 85% de pacientes com EM definida. Entretanto, pode ser encontrada até 95% dos casos utilizando focalização isoelétrica com imunotransferência de IgG. Não representa um marcador da doença, considerando não ser específica da EM, podendo ser encontrada em outras desordens neurológicas centrais14,58,59,70. A encefalomielite disseminada aguda (ADEM) é uma doença desmielinizante imunomediada que pode ocorrer após infecção viral ou bacteriana em até 75% dos casos, pode ser pós-vacinal ou aparentemente sem causa prévia. Embora mais frequente na faixa infantojuvenil, pode ocorrer de modo mais raro em adultos jovens e idosos. A ADEM tem um início agudo e evolução monofásica, embora tenham sido descritos casos recorrentes ou multifásicos, com sintomas focais ou multifocais que aparecem em 1-3 semanas após a infecção ou vacinação. Inicialmente pode ocorrer febre, cefaléia mal estar, e as manifestações centrais podem se instalar de modo agudo ou subagudo, com quadro de encefalopatia manifestada por estado confusional, transtornos psiquiátricos (irritabilidade, depressão, alterações de personalidade, psicose), alteração do estado de consciência (sonolência, torpor, coma), crises focais ou generalizadas, sinais focais motores, Revista Brasileira de Neurologia » Volume 48 » Nº 3 » jul - agos - set, 2012 » 31 Engelhardt E. podendo haver ataxia ou movimentos anormais. Os exames paraclínicos não são específicos. O EEG geralmente é anormal, com lentificação generalizada de leve a acentuada, algumas vezes com lentificação focal e descargas irritativas. A RM é essencial para o diagnóstico, mostrando lesões focais ou multifocais assimétricas em T2 e FLAIR na substância branca subcortical, tálamo, gânglios da base, tronco cerebral, medula, que podem mostrar realce ao contraste, que tendem a diminuir e até desaparecer, ou permanecer sem alteração e sem aparecimento de novas lesões (ausência de disseminação temporal, diagnóstico diferencial com EM). O LCR pode ser normal ou apresentar pleocitose mononuclear leve e pequeno aumento de proteínas. A gamaglobulina geralmente não se encontra elevada e bandas oligoclonais podem ser observadas em até metade dos casos, podendo ser transitórias (em contraste à EM). Pode haver aumento da proteína básica da mielina, achado não específico3 1,39,41a,51a,54a,67a,71a . Encefalopatia de Hashimoto. Além do termo encefalopatia de Hashimoto (EH), outros são também utilizados para designar essa condição autoimune rara, possivelmente subdiagnosticada – meningoencefalite inflamatória autoimune não-vasculítica e encefalopatia responsiva a esteróide. Esta, associada à tireoidite autoimune (SREAT) é a frequentmente referida como EH. O nome reflete a presença de autoimunidade à tireoide, frequentemente sem evidência clínica o laboratorial de disfunção da glândula. Os anticorpos anti-tireoperoxidase (a-TPA) ou anti-tireoglobulina (a-TG) podem estar presentes no soro. O título dos anticorpos, geralmente elevado, não se correlaciona com a gravidade ou com qualquer dos aspectos clínicos. Parece duvidosa uma relação causal direta entre os anticorpos anti-tireoideanos e a encefalopatia. Pode ocorrer comprometimento cognitivo, manifestações psiquiátricas, tremores, mioclonia, crises. Foram identificadas duas formas de apresentação, uma com evolução surto-remissão e episódios semelhantes a ictus vascular e outra de instalação insidiosa, em indivíduos mais idosos. O diagnóstico é confirmado pelo achado de acentuado aumento dos níveis de anticorpos a-TPA e/ou a-TG no soro. Apresenta aspectos que podem se assemelhar a outras DRPs, particularmente a sDCJ, a vasculites centrais e a encefalite paraneoplásica, tornando-se importante 32 » Revista Brasileira de Neurologia » Volume 48 » Nº 3 » considerar sempre no diagnóstico diferencial de uma DRP. O EEG é inespecífico, podendo ser encontrado, geralmente, padrão de ondas lentas, focal ou com descargas periódicas como vistas na sDCJ. A RM mostra-se variável, podendo ser normal, com atrofia generalizada ou com hiperintensidades na substância branca subcortical. O LCR pode apresentar uma pleocitose linfocitária e leve elevação da taxa de proteínas. Anticorpos anti-tireoideanos também podem ser encontrados, mas sua presença não parece se correlacionar com aspectos clínicos da doença3,23,31,32,33,62,66,79. Sarcoidose. Essa condição pode imitar diversas condições neurológicas, com manifestações clínicas e de neuroimagem variáveis. As manifestações neurológicas podem ser periféricas e centrais, estas podendo ser resultantes também de vasculite de vasos intracranianos. Pode ocorrer comprometimento cognitivo e um quadro de DRP. A RM pode ser normal ou evidenciar granulomas com realce ao contraste, hiperintensidades na substância branca, espessamento da leptomeninge da base, hiperintensidades nas sequência em difusão (parecidas com sDCJ). Manifestações sistêmicas e imagem torácica podem ajudar no diagnóstico. O LCR pode ser normal, mas é comum pleocitose e aumento de proteínas. A biópsia do tecido afetado pode ser necessária para o diagnóstico32,33,61,62. Fo r a m i d e n t i f i c a d a s d i v e r s a s s í n d r o m e s imunomediadas não-paraneoplásicas, que se assemelham à encefalopatia límbica (EL) (ver abaix). Algumas dessas síndromes tiveram identificados os anticorpos e algumas vezes seus antígenos. Entre essas síndromes, duas de EL não-neoplásica são devidas a anticorpos anti-VGKC e a anticorpos antineurópilo, além da síndrome por anticorpos anti-GAD, que pode causar algumas vezes leve comprometimento cognitivo. Quadros com características de EL sem os marcadores já reconhecidos, paraneoplásicos ou autoimunes, revelaram anticorpos (soro ou LCR) que ligam a receptores sinápticos, AMPA-R ou GABAB-R31,62,79. Entre as formas imunomediadas paraneoplásicas são apresentadas a seguir algumas das síndormes mais importantes. As síndromes paraneoplásicas correspondem a um grupo de condições que resultam da produção de anticorpos antineuronais (onconeuronais), que podem ser encontrados no soro e/ou no LCR, resultando jul - agos - set, 2012 Demências rapidamente progressivas. Revisão atualizada e etapas diagnósticas em sintomas neurológicos focais. Esses anticorpos, expressos pela neoplasia, reagem com proteínas neuronais, podendo preceder a detecção do tumor subjacente com grande frequência. A variedade de manifestações e a evolução rápida das encefalopatias paraneoplásicas tornam o diagnóstico muitas vezes difícil. O resultado do processo diagnóstico revela um quadro autoimune e a síndrome encontrada clinicamente pode sugerir o tipo de pesquisa em relação aos anticorpos e, em muitos casos, a neoplasia maligna subjacente32,33,62,79. Fazem parte desse grupo a encefalopatia límbica paraneoplásica (ELP), como principal representante de quadro demencial, além de outras síndromes centrais. Encefalopatia límbica. Doenças cerebrais autoimunes associadas a anticorpos antineuronais que causam EL são relativamente comuns, sendo que cerca de 60% são de causa paraneoplásica. Os sintomas da forma paraneoplásica (ELP) constituem uma síndrome com comprometimento da memória de curto prazo, amnésia retrógrada, crises focais (em ⅔ dos casos, geralmente crises parciais complexas temporais) e sintomas psiquiátricos (depressão, psicose ou mudança de personalidade. Podem ocorrer crises parciais complexas curtas, que podem ser sutis e não reconhecidas, com apresentação comportamental e cognitiva que pode imitar uma DRP. Os sintomas podem se desenvolver em dias ou semanas. A ELP encontra-se associada à neoplasia maligna (pulmonar [carcinoma de células pequenas], testicular, timoma, mamária, teratoma ovariano, linfoma de Hodgkin), sendo os anticorpos mais comuns encontrados o antiHu (ANNA-1), anti-Ma2, CV2 (anti–CMRP-5), Yo (PCA-1) e provavelmente o antineurópilo. Os sintomas da ELP com frequência precedem o diagnóstico da neoplasia, podendo imitar outras complicações da mesma ou as decorrentes do tratamento, o que pode ser confundente. O EEG encontra-se alterado na maior parte dos pacientes, com freqüente atividade epileptiforme temporal, assim como lentificação difusa. A RM pode mostrar-se normal em fases iniciais ou com edema uni- ou bilateral em estruturas temporais mediais, com hiperintensidade na sequência com FLAIR. Após a resolução do edema ficam alterações variadas, como hiperintensidade em hipocampo(s) com dimensões normais, ou mais frequentemente, atrofia das estruturas temporais mediais (inclusive hipocampos) com hipersinal. Também podem ocorrer alterações na amígdala, tálamo, hipotálamo, tronco cerebral. Há semelhanças desses achados com fases iniciais da encefalite herpética. Em fases mais tardias da doença frequentemente se desenvolve atrofia hipocampal marcante, associado a comprometimento cognitivo permanente e epilepsia. O LCR, com características inflamatórias (pleocitose mononuclear, aumento das proteínas, bandas oligoclonais, síntese intratecal de proteínas) na maioria dos casos é sugestivo de ELP. A ELP pode ser confirmada quando anticorpos onconeuronais são encontrados no LCR (e/ou no soro), o que nem sempre ocorre. Quando presentes, esses anticorpos facilitam o diagnóstico da encefalopatia e frequentemente permitem a detecção da neoplasia associada. O diagnóstico diferencial inclui encefalopatias autoimunes não-paraneoplásicas, encefalites virais, DCJ, vasculites29,33,60,62,64,78,82. Outras encefalopatias. A encefalopatia por anticorpos anti-receptor, como anti-receptor NMDA, pode ocorrer em mulheres com teratoma ovariano, homens com tumores de células germinativas testiculares, ou não associado a neoplasia. A síndrome característica é constituída por um quadro gripal prodrômico seguido por sintomas psiquiátricos (ansiedade, depressão) ou psicose (comportamento bizarro, delírios, alucinações), muitas vezes levando a psiquiatra com suspeita de esquizofrenia. Geralmente ocorre discinesia orofacial ou de membros, seguido por catatonia, mutismo, hipertonia, permanecendo os olhos abertos, progressão eventual para coma e insuficiência respiratória. Podem ocorrer crises e instabilidade autonômica. A RM pode ser normal, mas ¼ pode ter achados de EL, como hiperintensidades temporais mediais, estruturas subcorticais e raramento hiperintensidades corticais. O EEG mostra lentificação delta-teta difusa. O LCR apresenta aumento de linfócitos e aumento de proteínas, o diagnóstico podendo ser confirmado pela presença de anticorpos para NMDA-R (também no soro)33,40,79. Tumorais Processos expansivos não neoplásicos (p.ex., hematoma subdural, uni- ou bilateral), assim como as neoplasias malignas primárias ou secundárias (metástases) podem causar DRPs. São identificados através de neuroimagem adequada e não serão Revista Brasileira de Neurologia » Volume 48 » Nº 3 » jul - agos - set, 2012 » 33 Engelhardt E. considerados no momento. Os tumores focalizados serão o linfoma primário do SNC e o linfoma intravascular (linfoma angiotrópico). Linfomas. O linfoma primário, difusamente infiltrativo, pode causar quadro de demência subaguda. Geralmente é do tipo de células B não-Hodgkin e com frequência ocorre em um estado de imunossupressão. A RM do crânio mostra sinal isointenso ou levemente hiperintenso em T2, frequentemente envolvendo os gânglios da base, a substância branca periventricular e/ou o corpo caloso, com realce variável ao contraste. O LCR mostra linfocitose, aumento de proteínas e frequentemente baixa de glicose. A citologia específica é frequentemente negativa e o diagnóstico geralmente requer biópsia cerebral. Quando o linfoma primário ocorre sob a forma de linfomatose cerebral a RM mostra anormalidades difusas de sinal na substância branca, sem realce ao contraste ou efeito de massa, como visto em um processo infiltrativo difuso sem quebra da barreira hematoencefálica. Pode ser necessária biópsia cerebral para esclarecimento diagnóstico. O linfoma intravascular é raro, apresentando-se com sintomas semelhante a ictus vascular e também com quadro de demência subaguda. Deve ser investigado o comprometimento da pele ou de órgãos viscerais. A RM do crânio mostra regiões hiperintensas em T2, com realce variável ao contraste e algumas vezes edema. A biópsia cerebral é necessária para o diagnóstico, pois o estudo angiográfico pode se assemelhar ao da vasculite central32,82. Tóxicas-Metabólicas Numerosas causas metabólicas e tóxicas podem causar DRPs. Tóxicas. Intoxicação por metais (chumbo, arsênico, mercúrio, alumínio, lítio) pode causar declínio cognitivo rápido. A radioterapia (RT) e a quimioterpia (QT) em casos oncológicos podem levar a períodos de sobrevivência que permitem o aparecimento e manifestação das lesões cerebrais. Estas podem aumentar de intensidade de modo progressivo e constituir quadro de encefalopatia com comprometimento cognitivo expressivo. A RM mostra, nesses casos, hiperintensidades difusas na substância 34 » Revista Brasileira de Neurologia » Volume 48 » Nº 3 » branca subcortical, podendo ser mais circunscrita quando a RT é localizada15,31,32,82. Metabólicas. Distúrbios eletrolíticos, hipovitaminoses e outras condições podem ser causa de DRP aguda ou subaguda. A investigação deve incluir a dosagem de eletrólitos (NA, K, Ca, P, Mg), vitamina B1, B12, determinação das funções renal e hepática. Deficiência de vitaminas (p.ex., tiamina [B1], niacina, vitamina E), que ocorre geralmente associada ao alcoolismo ou desnutrição (encefalopatia de Wernicke, psicose de Korsakoff ) ou em condições mal-absortivas pode causar manifestações demenciais. A porfiria pode causar psicose e dor abdominal inexplicada. Doenças metabólicas hereditárias, mais habituais na infância, podem se apresentar no adulto (p.ex., doenças de Kufs, Wilson, HallervordenSpatz, a xantomatose cerebrotendínea, leucodistrofia metacromática e adrenoleucodistrofia, entre outras), além de mitocondriopatias, causando quadros de diagnóstico difícil22,31,32,37,48,82. Psicogênicas Condições psicológicas e neuropsiquiátricas podem eventualmente imitar uma DRP. A demência relacionada à depressão (“pseudodemência” depressiva) pode ocorrer de modo rápido em casos com história prévia de depressão maior. Deve ser ressaltado que muitos casos com “pseudodemência” podem ter demência subjacente. Geralmente pode ser observada a presença de depressão grave acompanhada por disfunção cognitiva, especialmente em situação de teste, o que pode ser atribuída a pouco empenho. Transtornos psiquiátricos não depressivos, como desordens de personalidade, manifestações conversivas, psicose e simulação podem estar associados a DRPs. Aspectos psiquiátricos podem ser sintoma precoce de muitas doenças neurodegenerativas, como DCJ, DCL, DFT, entre outras. Uma avaliação completa é muitas vezes fundamental para excluir condições “orgânicas” que necessitem de abordagens terapêuticas específicas.32,33. Etapas diagnósticas As descrições acima mostram as categorias e a heterogeneidade das principais causas de DRPs, reunidas em diversos tópicos, e a frequente semelhança de suas manifestações clínicas e paraclínicas. O diagnóstico não é fácil e requer conhecimentos jul - agos - set, 2012 Demências rapidamente progressivas. Revisão atualizada e etapas diagnósticas apropriados e um protocolo que conta com itens sofisticados, estes nem sempre disponíveis em todos os centros. O diagnóstico de uma DRP pode ser obtido com maior segurança ao seguir de modo sistematizado etapas de um protocolo, que compreende várias etapas, visando distinguir os subtipos potencialmente passíveis de reversão ou melhora, dos subtipos degenerativos, irreversíveis (Tabela) 33, 37, 63, 82. Tabela. Classificação das DRPs e suas principais causas (constantes do texto). Neurodegenerativas Tumorais doenças priônicas [esporádica, familial, adquirida] demências clássicas - evolução atípica [DCL, DCB, DA, DFT, DFT-DNM] não-neoplásicas hematoma subdural [uni- ou bilateral] neoplasias malignas primárias metástases linfomas primários células B não-Hodgkin linfoma intravascular Vasculares doença cerebrovascular angiopatia amilóide cerebral trombose microangiopática vasculites centrais primárias vasculites secundárias Infecciosas encefalites encefalite pelo VHS-1 AIDS poliomavirus. panencefalite esclerosante subaguda raiva meningoencefalites fungos tuberculose neurossífilis Imunomediadas não-paraneoplásicas doenças desmielinizantes esclerose múltipla encefalomielite disseminada aguda [ADEM] encefalopatia de Hashimoto sarcoidose encefalopatias tipo límbica anticorpos anti-VGKC anticorpos antineurópilo anticorpos anti-receptores sinápticos [AMPA, GABAB] paraneoplásicas encefalopatia límbica paraneoplásica encefalopatia anti-receptor NMDA Tóxicas-metabólica s intoxicação por metais [As, Bi, Hg, Li, Pb] medicamentos radioterapia quimioterpia desquilíbrio eletrólito [NA, K, Ca, P, Mg] disfunção paratireoideana hipovitaminoses [B1, B12] disfunção hepatica disfunção renal doenças metabólicas hereditárias [metabólicas, mitocondriais] Psicogênicas depressão (“pseudodemência” depressiva) transtornos psiquiátricos desordens de personalidade manifestações conversivas psicose simulação Revista Brasileira de Neurologia » Volume 48 » Nº 3 » jul - agos - set, 2012 » 35 Engelhardt E. Assim, diante de um paciente com suspeita de DRP, as etapas abaixo são sugeridas visando o esclarecimento do diagnóstico, e a avaliação de qualquer apresentação de DRP exige dados concordantes obtidos a partir da anamnese, exames clínico e neurológico, assim como de exames paraclínicos (sangue, neuroimagem, EEG, LCR). A escolha dos exames e a ordem da realização podem variar na dependência da apresentação clínica e da suspeita diagnóstica. Deve ser lembrada, a cada momento, a existência de resultados falsos positivos e falsos negativos em diversas modalidades de exames, devendo ser tomadas as devidas cautelas na sua interpretação. Etapa nº 2 Delirium e outras condições sistêmicas Etapa nº 1 Anamnese detalhada A anamnese deve ser abrangente, com foco na linha temporal, natureza dos sintomas e potenciais fatores associados que possam contribuir para o quadro. É importante avaliar aspectos pré-mórbidos. Informações de acompanhante confiável podem ser críticas para evitar inconsistências relativas à linha temporal e à evolução, importantes na distinção de demências atípicas das típicas. Qualquer paciente que apresenta deterioração cognitiva em período inferior a 2 anos é suspeito de ter DRP. Além disso, a evolução e a qualidade dos sintomas podem oferecer indicações quanto a doença subjacente. Considerando que os pacientes com DRP apresentam disfunção cognitiva e comportamental, a informação sobre a modalidade cognitiva comprometida (memória, linguagem) ou o tipo de comportamento apresentado, pode ajudar no diagnóstico. Como ocorre disfunção motora de modo frequente, que pode estar relacionada à doença da via motora piramidal, gânglios da base ou cerebelo, desse modo devem ser feito perguntas no sentido de esclarecer a atividade motora do paciente. Apurar sintomas sistêmicos e fatores que potencialmente possam contribuir ao quadro é necessário no caso de causas reversíveis. É preciso inquirir sobre exposição a tóxicos, assim como sobre uso de álcool e drogas recreacionais. Medicamentos de ação central, especialmente de acordo com os critérios de Beers (considerados inadequados aos idosos) podem causar alterações mentais agudas e subagudas (p.ex., anticolinérgicos, anti-histamínicos, antidepressivos tricíclicos, analgésicos narcóticos, miorrelaxantes, barbitúricos, entre outros). Devem ser consideradas neoplasias não diagnosticadas na 36 » Revista Brasileira de Neurologia » suspeita de possível condição paraneoplásica, com perguntas sobre tabagismo e perda de peso. Diversas neoplasias (câncer pulmonar de células pequenas, timoma, neoplasias mamária, ovariana, testicular) foram associadas a anticorpos paraneoplásicos de ação central. Levando em conta que distúrbios do sono podem contribuir ao comprometimento cognitivo, deve ser esclarecida a presença de apnéia do sono e desordens relacionadas. A história familial pode indicar a possibilidade de causas hereditárias, como DCJ familial (genética), encefalopatia mitocondrial, leucodistrofias26,31,32,33,46,63. Volume 48 » Nº 3 » Deve ser considerada presença de quadro de delirium devido a processo infeccioso, metabólico ou tóxico (inclusive medicamentos), independente ou sobreposto a um eventual quadro demenciante subjacente (neurodegenerativo., p.ex.), conforme informações obtidas na anamnese, ressaltando revisão detalhada de medicamentos com ação central que possam contribuir para mudança abrupta do estado mental. Exames paraclínicos (ver abaixo) devem ser obtidos com ênfase e prioridade na detecção de condições sistêmicas, como infecção pulmonar (raios-x de tórax) e urinária (exame de urina com cultura), desequilíbrio hidroeletrolítico e disfunção renal e hapática, além de outros exames, conforme necessário26,27,31,33,46,48,63,81. É importante lembrar que causas comuns são comuns, de modo que muitos casos de DRP em idosos provavelmente resultam de infecções (urinária, respiratória) causando delirium. Entretanto, quando causas mais simples são exluídas, torna-se necessário considerar diversas categorias de etiologias possíveis e excluir cada uma de modo sistemático 31, 33. Dessa forma, uma vez esclarecida essa etapa (delirium vs não-delirium) a investigação já iniciada pode prosseguir, levando em conta os dados já obtido e a obtenção de exames adicionais, conforme necessário. A etapa seguinte ajuda a difenciar as variadas categorias e etiologias de DRPs relacionadas na Tabela. Etapa nº 3 Exame neurológico, neuropsicológico e neuropsiquiátrico O exame neurológico pode oferecer dados importantes jul - agos - set, 2012 Demências rapidamente progressivas. Revisão atualizada e etapas diagnósticas através da evidenciação de comprometimento motor e oculomotor, movimentos anormais (tremor, coréia, mioclonia, asterixis), alterações de tônus, exame de FO. Podem ser encontrados sinais de liberação frontal (preensão, nasopalpebral, labial, sucção, palmomentoniano). A avaliação neuropsicológica (testagem de função executiva, memória, linguagem, função visuoespacial) pode mostrar padrões de comprometimento cognitivo sugestivo de tipos de demência. É necessária avaliação comportamental (depressão, ansiedade, agitação, apatia, delírios, alucinações) também capaz de trazer dados relevantes 52, 63, 72 . Etapa nº 4 Exames paraclínicos Exame de sangue. Hemograma e bioquímica são necessários para definir encefalopatias com causas reversíveis. Distúrbios eletrolíticos [inclusive Na, Ca, P e Mg] e das taxas de glicose (hipo- ou hiperglicemia) podem causar alteração aguda do estado mental. Leucocitose pode indicar processo infeccioso sistêmico. Exame de função tireoideana (inclusive anticorpos a-TPA e a-TG), hepática (inclusive amônia) e renal, e eventualmente paratireoideana, vitamina B12, homocisteína,ácido metilmalônico, VDRL, marcadores inflamatórios (VHS, PCR) e painel reumatológico (complementos C3, C4 e CH50, AAN, FR, ANCA [p, c], anticorpos anti-Ro/SSA e anti-Lo/SSB), são necessários para encontrar demências reversíveis. Em casos específicos devem ser realizados testes para vírus (VHS-1, HIV, VVZ). Diante de suspeita de condições paraneoplásicas uma pesquisa de anticorpos onconeuronais (antineuronais) no soro torna-se necessária, compreendendo o anti-Hu (ANNA-1), anti-Ma2, CV2 (anti–CMRP-5), Yo (PCA-1), antiNMDA-R. Pensando em condições não-neoplásicas devem ser consideraod os anticorpos anti-VGKC e antineurópilo, anticorpos para GAD e para receptores AMPA-R e GABAB-R. Essa pesquisa pode também ser realizada no LCR. O exame de urina, compreendendo cultura e a existência de fatores que possam contribuir ao quadro demencial deve ser realizado sistematicamente. Outros itens são solicitados de acordo com o quadro clínico1,31,32,33,46,62,63,64,72. Exame de LCR. É uma das principais etapas. Oferece informações iniciais quanto a possível natureza inflamatória da doença e permite obter biomarcadores de lesão neuronal ou de doença infecciosa. A pressão inicial deve ser verificada, assim como o aspecto físico. São realizados exame citológico (incluindo leucócitos e hamácias) total e diferencial, pesquisa de células neoplásicas, dosagem das proteínas e da glicose, eletroforese e IgG (obter um índice de IgG determinar aumento de sua síntese intratecal) e bandas oligoclonais, encontrado de modo frequente na EM e também em outras doenças imunomediadas ou inflamatórias. O exame bacterioscópico é realizado com material corado para flora gram-positiva e gramnegativa, BAAR e fungos, acompanhado por estudo imunológico para bactérias, fungos e vírus e teste VDRL. Deve ser semeado material para as culturas específicas. A pesquisa da proteína 14-3-3 e da tau total, biomarcadores de lesão neuronal, é fundamental. A presença de proteína 14-3-3 é indicativa de destruição neuronal significativa e relativamente rápida. O aumento de sua concentração ocorre na sDCJ e também em algumas outras DRPs (falsos positivos, como em casos de DA e DCL com evolução fulminante) e falsos negativos, devendo-se ter cautela na interpretação. Outros marcadores que podem ser utilizados são enolase neurônio-específica (ENE) e a S100b, com menor especificidade, e a tau total. A dosagem de β-amilóide, tau e P-tau deve ser solicitada na suspeita de DA. Havendo suspeita de doença paraneoplásica devem ser pesquisados anticorpos onconeuronais1,16,31,32,33,45,59,62,63,64,72,79. Neuroimagem. Deve ser realizada sempre. A TC pode ser útil em uma triagem inicial, sendo um procedimento rápido e importante em situações agudas (infarto vs hemorragia intracraniana). A RM do crânio, sem e com contraste, deve ser realizada utilizando diversas sequências (difusão, gradienteeco, FLAIR) . O padrão das anormalidades na RM pode ser específico e indicar o diagnóstico, e mesmo quando inespecífico, pode ajudar no diagnóstico diferencial e no encaminhamento para outros exames. Permite evidenciar processos vasculares, infecciosos, autoimunes, neurodegenerativos. Além de achados como tumores primários ou secundários, pode ser encontrada imagem de hematoma subdural uni- ou bilateral. Achados como infartos (regiões subcorticais e corticais), hiperintensidades (substância branca), hemorragias ou micor-hemorragias (AAC), anormalidades nas regiões mediais dos lobos temporais (EL, EHS-1), alterações compatíveis com sarcoidose Revista Brasileira de Neurologia » Volume 48 » Nº 3 » jul - agos - set, 2012 » 37 Engelhardt E. (espessamento e realce ao contraste das leptomeninges) são outros aspectos relevantes para o diagnóstico específico. A RM (com sequência em difusão) é imprescindível na distinção de uma DPR priônica de uma não-priônica. A sDCJ se caracteriza pela presença de anormalidades corticais (em até 80% ), nos gânglios da base (em particular no caudado), (em 60%), tálamo (14%) . Entretanto o diagnóstico deve ser feito com cautela, já que a concordância entre profissionais mostrou-se em torno de 64% dos casos, mostrando que a definição nem sempre é fácil. A sensibilidade da RM em casos de sDCJ provável comprovados por autópsia variou entre 58 e 70%, de acordo com o observador. Já a especificidade mostrou-se elevada, entre 81 e 89%. A avaliação de padrões de atrofia pode distinguir diversas demências neurodegenerativas. A EL pode mostrar na RM, inicialmente, edema uni- ou bilateral em estruturas temporais mediais, com hiperintensidade na sequência com FLAIR. O uso de contraste frequentemente não mostra realce das alterações encontradas. É necessária a diferenciação com a EHS, na qual a RM mostra geralmente sinais de edema e efeito de massa, sendo algumas vezes hemorrágico, e ocorre realce ao contraste. Deve ser realizada angio-RM e eventualmente AGC convencional, para o diagnóstico de vasculites. Diante de suspeita de doença inflamatória ou paraneoplásica devem ser obtidas imagens de tórax, abdome e pelve com TC ou RM, conforme necessário33,41,43,44,63,68,72,75,78. Eletroencefalograma. É um recurso diagnóstico importante. As alterações encontradas podem ser variadas, que podem ajudar no diagnóstico diferencial, com presença de lentificação inespecífica, elementos irritativos, entre outros. A definição da presença ou não de crises clínicas ou subclínicas, é importante em pacientes que apresentam comprometimento cognitivo subagudo relacionado a estado epiléptico não-convulsivo (epilepsia focal ou crises parciais complexas), ou de um estado pós-crítico. É essencial na sDCJ, onde complexos periódicos de pontas ou ondas lentas agudas de 0,5 a 2,0 Hz estão presentes em cerca de 2/3 (dependendo da fase) dos pacientes com sDCJ (em numero menor em casos jovens), com sensibilidade de 66% e relatos que lhe atribuem uma especificidade de 74%. As descargas periódicas sincrônicas parecem ser a marca da sDCJ, entretanto, outras apresentações atípicas foram relatadas sem tais grafoelementos. O EEG é importante na EL e EH, estas comumente associadas a crises. Pode 38 » Revista Brasileira de Neurologia » Volume 48 » Nº 3 » apresentar anormalidade em encefalopatias (p.ex., hepática com ondas trifásicas). O exame é bastante sensível e mostra anormalidades e 80% dos casos de EHS. Considerando o contexto clínico, a ocorrência de lentificação focal temporal ou difusa e a presença de complexos periódicos e descargas irritativas lateralizadas periódicas é fortemente sugestiva de EHS33,54,63,71,72. Concluídas essas etapas e não havendo uma definição diagnóstica é considerada a possibilidade de biópsia meníngea-cerebral. Etapa nº 5 Biópsia meníngea-cerebral Determinados casos, nos quais o diagnóstico não pode ser definido após exaustiva pesquisa conforme as etapas propostas, podem requerer a indicação de uma biópsia meníngea-cerebral para esclarecer uma determinada etiologia, se neurodegenerativa, neoplásica, inflamatória ou infecciosa. A decisão, no caso de uma DRP, pode ser uma questão premente, considerando a oportunidade de diagnosticar uma condição tratável e potencialmente reversível. A biópsia ainda vem sendo vista como um último recurso, e muitas vezes não chega a ser cumprida. Este aspecto pode ser atribuído à taxa que permanece com diagnóstico indefinido e à possibilidade de complicações (morbidade, mortalidade). A decisão de indicar uma biópsia cerebral depende da análise de risco-benefício, onde a probabilidade de obter um diagnóstico e possivelmente alterar o manejo do caso deve ser ponderado em relação aos riscos do procedimento e as chances de uma terapêutica empírica. A sensibilidade diagnóstica em casos de DRPs oscila entre 20-65% e em alguns serviços de referência acima desses valores. A biópsia para diagnóstico da sDCJ praticamente deixou de ser feita com os critérios clínicos e complementares (EEG, RM com sequência em difusão, LCR com pesquisa da proteína 14-3-3) utilizados, eliminando os numerosos riscos associados à mesma (morbidade, mortalidade, contaminação do material utilizado e seu descarte)43,63,67,80. Etapa n° 6 Diagnóstico Esgotadas as etapas acima a expectativa é a de chegar ao diagnóstico e, em decorrência, ao tratamento adequado. Tal expectativa, porém, é muitas vezes frustrada, pois, mesmo nos grandes centros, fica jul - agos - set, 2012 Demências rapidamente progressivas. Revisão atualizada e etapas diagnósticas um percentual de quadros com diagnóstico não determinado. Conclusão As DRPs se constituem em um grupo heterogêneo de condições que evoluem de modo rápido com comprometimento cognitivo, neuropsiquiátrico e motor. Apesar de relativamente infrequentes representam um dos maiores desafios clínicos, mesmo para os profissionais mais experientes. A avaliação diagnóstica de qualquer paciente com suspeita de apresentar uma DRP é tipicamente mais abrangente Referências 1. Anderson WE. Herpes Simplex Encephalitis: Differential Diagnoses & Workup. [serial on the Internet] 2009 [cited 2010 Mai] Available from: URL: http://emedicine. medscape.com/article/1165183-diagnosis 2. APA. Diagnostic and statistical manual of mental disorders: DSM-IV. 4ª ed. Washington, D.C.: American Psychiatric Association, 1994. 3. Aquino RT, Mutarelli EG. Hashimoto’s encephalopathy. Arq Neuropsiquiatr 2009; 67(3A):724-725. 4. Baevsky RH, Bartfield JM. Human rabies: A review. Am J Emerg Med 1993;11(3):279-286. 4a. Ballone GJ. Aspectos Neuropsiquiátricos da Infecção por HIV. In. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb. med.br, revisto em 2005 [acessado em 2012] 5. Baringer JR. Herpes Simplex Infections of the Nervous System. Neurol Clin 2008; 26: 657-674. 6. Barreto ML, M. Elvira Balcells M, Ana Fernández S et al. Neurosífilis en pacientes portadores y no portadores de VIH: Descripción y comparación de dos cohortes históricas. Rev Chil Infect 2009;26(6):540-547. 7. Berger JR, Major EO. Progressive multifocal leukoencephalopathy. Semin Neurol 1999;19(2):193-200. 8. Bicanic T, Harrison TS. Cryptococcal meningitis. Br Med Bull 2005;72(1):99-118. 9. Biffi A, Greenberg SM. Cerebral Amyloid Angiopathy: A Systematic Review. J Clin Neurol 2011;7:1-9. 10. Big C, Reineck LA, Aronoff DM. Viral Infections of the Central Nervous System: A Case-Based Review. Clin Med Res, 7(4):142-146, 2009. 11. Cambier DM, Kantarci K, Worrell GA,Westmoreland BF, Aksamit AJ. Lateralized and focal clinical, EEG, and FLAIR MRI abnormalities in Creutzfeldt–Jakob disease. Clin Neurophysiol 2003; 114:1724-1728. 12. Boeve BF. Rapidly Progressive Dementias: Neurodegenerative Disorders. CD da 64ª Reunião Annual da American Academy of Neurology, New Orleans, 2012. 13. Chao CP, Kotsenas AL, Broderick DF. Cerebral Amyloid Angiopathy: CT and MR Imaging Findings. RadioGraphics em comparação às condições neurodegenerativas crônicas. Deve seguir um protocolo detalhado de modo sistematizado, visando o diagnóstico de modo rápido e acertado, objetivando estratégias terapêuticas adequadas. A questão mais importante com a qual o clínico se depara é a de determinar se uma DRP tem uma possibilidade de ser uma doença passível de ser revertida ou amenizada ou é uma condições com tratamento disponível limitado ou inexistente, mas cuja definição pode contar com vantagens clínicas, epidemiológicas e em relação à família. 2006; 26:1517-1531. 13a. Christo PP. Alterações Cognitivas na Infecção pelo HIV e AIDS. Rev Assoc Med Bras 2010; 56(2):242-247. 14. Compston A, Coles A. Multiple sclerosis. Lancet 2002; 359: 1221-1231. 15. Damin AE, Morillo LS, Perroco TR et al. Dementia post-radiotherapy: improvement with acetylcholinesterase inhibitor. A case report. Dement Neuropsychol 2009; 3(1):68-72. 16. Deisenhammer F, Bartos A, Egg R et al. Guidelines on routine cerebrospinal fluid analysis. Report from an EFNS task force. Eur J Neurol 2006;13:913-922. 17. Dore GJ, Cooper DA. AIDS: Clinical Manifestations. Encyclopedia of Life Sciences, Nature Publishing Group, pg 1-8, 2001. [cited 2010 Mai] Available from: URL: http://web.udl.es/usuaris/e4650869/docencia/segoncicle/ genclin98/recursos_classe_(pdf(/revisionsPDF/AIDSClinical-.pdf 18. Dworkin MS. A review of progressive multifocal leukoencephalopathy in persons with and without AIDS. Curr Clin Top Infect Dis 2002;22:181-195. 19. Eduardo MBP, Katsuya EM, Bassit NP (coordenadores/ autores). Vigilância da Doença de Creutzfeldt-Jakob e outras Doenças Priônicas. Normas e Instruções. São Paulo, 2008. http://www.cve.saude.sp.gov.br 20. Engelhardt E. Demências rapidamente progressivas. Uma revisão breve. Rev Bras Neurol 2010; 46 (2):5-15. 21. Engelhardt E, Moreira DM. Demência Vascular. In: Neurologia Cognitiva e do Comportamento. Teixeira AL e Caramelli P, Ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2012, pg 297-310. 22. Engelhardt E, Laks J, Cavalcanti JLS et al. Demências. In: Neurologia para o Clínico. Gomes MM, Cavalcanti JLS Ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2008, pg 437-480. 23. Fatourechi V. Hashimoto’s encephalopathy: myth or reality? An endocrinologist’s perspective. Best Pract Res Clin Endocrinol Metab 2005; 19(1):53-66. 24. Feinstein A. The clinical neuropsychiatry of multiple sclerosis. Cambridge: Cambidge University Press, 2ª Ed. 2007. 25. Ferreira MLB. Cognitive deficits in multiple sclerosis: a Revista Brasileira de Neurologia » Volume 48 » Nº 3 » jul - agos - set, 2012 » 39 Engelhardt E. systematic review. Arq. Neuropsiquiatr 2010;68(4):632-641. 26. Fick DM, Cooper JW, Wade WE et al. Updating the Beers Criteria for Potentially Inappropriate Medication Use in Older AdultsResults of a US Consensus Panel of Experts. Arch Intern Med 2003;163(22):2716-2724. 27. Fong TG, Samir R. Tulebaev SR, Sharon K. Inouye SK. Delirium in elderly adults: diagnosis, prevention and treatment. Nat Rev Neurol 2009;5:210-220. 28. Fontaine B, Seilhean D, Tourbah A et al. Dementia in two histologically confirmed cases of multiple sclerosis: one case with isolated dementia and one case associated with psychiatric symptoms. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1994; 57(3): 353-359. 29. Foster AR, Caplan JP. Paraneoplastic Limbic Encephalitis. Psychosomatics 2009;50:108-113. 30. Garg RK. Subacute sclerosing panencephalitis. Postgrad Med J 2002;78:63–70. 31. Geschwind MD. Rapidly Progressive Dementia (RPDs): Jakob-Creutzfeldt Disease and Related Disorders. CD da 64ª Reunião Annual da American Academy of Neurology, New Orleans, 2012. 32. Geschwind MD, Shu H, Haman A, Sejvar JJ, Miller BL. Rapidly Progressive Dementia. Ann Neurol 2008; 64(1):97108. 33. Geschwind MD, Haman A, Miller BL. Rapidly Progressive Dementia. Neurol Clin 2007; 25:783–807. 34. Geschwind MD, Haman A, Viskontas IV. Prion disorders and other rapidly progressive dementias. In: The Behavioral Neurology of Dementia. Miller BL, Boeve BF E. Cambridge: Cambridge University Press, 2009, pg 345-366. 35. Guimarães J, Sá MJ. Cognitive dysfunction in Multiple Sclerosis. Frontiers in Neurology 2012;3(Article74):1-8. 36. Haraguchi T, Terada S, Ishizu H et al. Coexistence of Creutzfeldt-Jakob disease, Lewy body disease, and Alzheimer’s disease pathology: an autopsy case showing typical clinical features of Creutzfeldt-Jakob disease. Neuropathology 2009;29(4):454-459. 37. Heinemann U, Gawinecka J, Schmidt C, Zerr I. Differential Diagnosis of Rapid Progressive Dementia. Eur Neurol Rev 2010;5(2):21-28. 38. Hemachudha T, Laothamatas J, Rupprecht CE. Human rabies: a disease of complex neuropathogenetic mechanisms and diagnostic challenges. Lancet Neurology 2002;1(2):101109. 39. Heringer RR, Fernandes LEBC, Gonçalves RR, PuccioniSohler M. Localização da lesão e achados do líquido cefalorraqueano na meningite tuberculosa: diferenças nos compartimentos lombar, cisternal e ventricular. Arq Neuropsiquiatr 2005; 63(2B):543-547. 40. Herrero-Velázquez S, Guerrero-Peral AL,Gámez-Leyva G, Fernández-Buey MN, Conde A, Rodríguez M, RojoMartínez E, Pascual J, Fernández-Herranz MR, DalmauObrador J. Encefalitis por anticuerpos contra el receptor NMDA. Descripción de una paciente sin tumor asociado y revisión de la bibliografia. Rev Neurol 2010; 50 (11): 66140 » Revista Brasileira de Neurologia » Volume 48 » Nº 3 » 666. 41. Izco FM, Larrarte LA. Neuroimagen em el diagnostíco de las encefalopatias espongiformes transmisibles humanas. Neurologia 2006; 21(8):428-436. 41a. Höllinger P, Sturzenegger M, Mathis J, Schroth G, Hess CW. Acute disseminated encephalomyelitis in adults: a reappraisal of clinical, CSF, EEG, and MRI findings. J Neurol 2002;249(3):320-329. 42. Josephs KA, Ahlskog JE, Parisi JE, Boeve BF, Crum BA, Giannini C, Petersen RC. Rapidly Progressive Neurodegenerative Dementias. Arch Neurol 2009;66(2):201-207. 43. Josephson SA, Papanastassiou AM, Berger MS et al. The diagnostic utility of brain biopsy procedures in patients with rapidly deteriorating neurological conditions or dementia. J Neurosurg 2007;106:72-75. 44. Kallenberg K, Schulz-Schaeffer WJ, Jastrow U et al. Creutzfeldt-Jakob disease: comparative analysis of MR imaging sequences. AJNR 2006;27(7):1459-1462. 45. Karcher DS, McPherson RA. Cerebrospinal, Synovial, Serous Body Fluids, and Alternative Specimens. In: McPherson: Henry’s Clinical Diagnosis and Management by Laboratory Methods, 22nd ed, McPherson RA, Pincus RM ed. Philadelphia: Saunders, 2011, pg 480-508. 46. Kelley BJ, Boeve BF, Josephs KA. Rapidly Progressive Young-Onset Dementia. Cogn Behav Neurol 2009;22(1):22-27. 47. King O, Song X, Rockwood K. Cognitive Impairment of Acute Onser in the consortium to Investigate Vascular Impairment of cognition (CIVIC) Study: Occurrence, correlates, and Outcomes. Am J Geriatr Psychiatry 2006;14:893-896. 48. Kunze K. Metabolic encephalopathies. J Neurol 2002;249:1150-1159. 49. Lan SH, Chang WN, Lu CH, Lui CC, Chang HW. Cerebral infarction in chronic meningitis: a comparison of tuberculous meningitis and cryptococcal meningitis. Q J Med 2001; 94: 247-253. 50. Lanna MEO, Alves CEO, Sudo FK, Alves G, Valente L, Moreira DM, Cavalcanti JLS, Engelhardt E. Cognitive disconnective syndrome by single strategic strokes in vascular dementia. J Neurol Sci 2012 Aug 28. [Epub ahead of print] 51. Lindenberg ASC, Chang MR, Paniago AMM et al. Clinical and epidemiological features of 123 cases of cryptococcosis in Mato Grosso do Sul, Brazil. Rev Inst Med Trop S Paulo 2008;50(2):75-78. 51a. Menge T, Hemmer B, Nessler S, Wiendl H, Neuhaus O, Hartung HP, Kieseier BC, Stüve O. Acute disseminated encephalomyelitis: an update. Arch Neurol 2005;62(11):1673-1680. 52. Miller BL. Basal Clinical Approaches. In: The Behavioral Neurology of Dementia. Miller BL, Boeve BF Eds. Cambridge: Cambridge University Press, 2009, pg 1-6. 53. Moreira DM, Oliveira Jr AC, Nacif MS, Engelhardt E. A jul - agos - set, 2012 Demências rapidamente progressivas. Revisão atualizada e etapas diagnósticas artéria de Percheron e infartos talâmicos bilaterais. Rev Bras Neurol 2008;44(1):35. 54. Neiman ES, Hanna PA. EEG in Dementia and Encephalopathy. Medscape, 2012. emedicine.medscape. com/article/1138235 [acessado em 02-10-2012] 54a. Noorbakhsh F, Johnson RT, Emery D, Power C. Acute disseminated encephalomyelitis: clinical and pathogenesis features. Neurol Clin 2008;26(3):759-780. 55. Pereira E. Diffusion-weighted sequence on MRI for the diagnosis of Creutzfeldt-Jakob disease. Arq Neuropsiquiatr 2002; 60 (4):906-908. 56. Pomper MG, Miller TJ, Stone JH, Tidmore WC, Hellmann DB. CNS Vasculitis in Autoimmune Disease: MR Imaging Findings and Correlation with Angiography. AJNR 1999;20:75-85. 57. Prashanth LK, Taly AB, Ravi V, Sinha S, Arunodaya GR. Adult onset subacute sclerosing panencephalitis: clinical profile of 39 patients from a tertiary care centre. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2006;77:630-633. 58. Puccioni-Sohler M. Cerebrospinal fluid oligoclonal IgG bands in multiple sclerosis: what does it mean? Arq. Neuropsiquiatr 2012;70(8):569-570. 59. Puccioni-Sohler M, Passeri F, Oliveira C, Brandão CO, Papaiz-Alvarenga R. Multiple sclerosis in Brazil. Analysis of cerebrospinal fluid by standard methods. Arq Neuropsiquiatr 1999;57:927-931. 60. Ramos-Rivas M, Rojas-Velasco G, Acuña-Hidalgo R et al. Encefalitis límbica paraneoplásica: una entidad de difícil diagnóstico. Rev Neurol 2009;48(6):311-316. 61. Rehman HU. Primary angiitis of the central nervous system. J R Soc Méd 2000;93(11):586–588. 62. Rosenbloom MH, Smith S, Akdal G, Geschwind MD. Immunologically Mediated Dementias. Curr Neurol Neurosci Rep 2009;9(5):359-367. 63. Rosenbloom MH, Atri A. The Evaluation of Rapidly Progressive Dementia. Neurologist 2011;17(2):67-74. 64. Rosenfeld MR, Dalmau J. Paraneoplastic limbic encephalitis associated with small-cell lung cancer. Commun Oncol 2007;4:491-494. 65. Sala I, Marquié M, Sánchez-Saudinó MB et al. Rapidly Progressive Dementia Experience in a Tertiary Care Medical Center. Alzheimer Dis Assoc Disord 2012;26:267-271 66. Schiess N, Pardo CA. Hashimoto’s encephalopathy. Ann N Y Acad Sci 2008;1142:254-265. 67. Schuette AJ, Taub JS, Hadjipanayis CG, Olson JJ. Open biopsy in patients with acute progressive neurologic decline and absence of mass lesion. Neurology 2010;75:419-424. 67a. Schwartz S, Mohr A, Knauth M, Wildemann B, StorchHagenlocher B. Acute disseminated encephalomyelitis: a follow-up study of 40 adult patients. Neurology 2001;56(10):1313-1318. 68. Seeley WW, Crawford RK, Zhou J, Miller BL, Greicius MD. Neurodegenerative diseases target large-scale human brain Networks. Neuron 2009;62(1): 42-52. 69. Sethi S, Das A, Kakkar N, Banga SS, Prabhakar S, Sharma M. Neurosyphilis in a tertiary care hospital in north India. Indian J Med Res 2005;122:249-253. 70. Sicotte NL. Neuroimaging in Multiple Sclerosis: Neurotherapeutic Implications. Neurotherapeutics 2011; 8(1):54-62. 71. Smith SJM. EEG in Neurological Conditions other than Epilepsy: When does it Help, what does it add? J Neurol Neurosurg Psychiatry 2005;76(Suppl II):ii8- ii12. 71a. Sonneville R, Klein I, de Broucker T, Wolff M. Postinfectious encephalitis in adults: diagnosis and management. J Infect 2009;58(5):321-328. 72. Sorbi S, Hort J, Erkinjuntti T et al. on behalf of the EFNS Scientist Panel on Dementia and Cognitive Neurology. EFNS-ENS Guidelines on the diagnosis and management of disorders associated with dementia. Eur J Neurol 2012;19:1159-1179. 73. Szirmai I, Vastagh I,Szombathelyi E, Kamondi A. Strategic infarcts of the thalamus in vascular dementia. J Neurol Sci 2002; 203- 204: 91-97. 74. Takada LT, Camiz P, Grinberg LT, Leite CC. Noninflammatory cerebral amyloid angiopathy as a cause of rapidly progressive dementia: A case study. Dement Neuropsychol 2009;3(4):352-357. 75. Tschampa HJ, Kallenberg K, Urbach H et al. MRI in the diagnosis of sporadic Creutzfeldt-Jakob disease: a study on inter-observer agreement. Brain 2005;128(9):2026-2033. 76. Tschampa HJ, Neumann N, Zerr I et al. Patients with Alzheimer’s disease and dementia with Lewy bodies mistaken for Creutzfeldt-Jakob disease J Neurol Neurosurg Psychiatry 2001;71:33-39. 77. Tsuchiya K, Yagishita S, Ikeda K et al. Coexistence of CJD and Alzheimer’s disease: an autopsy case showing typical clinical features of CJD. Neuropathology 2004; 24(1):46-55. 78. Urbach H, Soeder BM, Jeub M et al. Serial MRI of limbic encephalitis. Neuroradiology 2006;48(6):380-386. 79. Vernino S. Autoimmune Encephalopathies. CD da 64ª Reunião Annual da American Academy of Neurology, New Orleans, 2012. 80. Warren JD, Schott JM, Fox NC et al. Brain biopsy in dementia. Brain 2005;128:2016-2025. 81. Wilson JX, Young GB. Sepsis-Associated Encephalopathy: Evolving Concepts. Can J Neurol Sci 2003; 30: 98-105. 82. Woodruff BK. Evaluation of Rapidly Progressive Dementia. Seminars Neurol 2007;27(4):363-375. 83. Yu Y, Wei M, Huang Y et al. Clinical presentation and imaging of general paresis due to neurosyphylis in patients negative for human immudodeficiency virus. J Clin Neurosci 2010;17(3):308-310. Revista Brasileira de Neurologia » Volume 48 » Nº 3 » jul - agos - set, 2012 » 41