Levantamento de construções com verbo suporte na letra G Autor

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Levantamento de construções com verbo suporte na letra G
Autor: Raquel Dias do Nascimento
Orientador: Maria Helena Voorsluys Battaglia
Universidade de São Paulo/Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
[email protected]
Resumo
Construções com verbo suporte (CVS) são estruturas estudadas no campo da fraseologia e tem por
definição estruturas formadas por um verbo funcional (também chamado de verbo-suporte) e um
substantivo deverbal ou derivado de adjetivo, com ou sem preposição como, por exemplo, soltar um gemido
ou soltar gritos. O objetivo desse trabalho é catalogar em fichas lexicográficas as CVS encontradas na letra
G em dicionários monolíngues do português do Brasil.
Palavras Chaves: construções com verbo suporte, ficha lexicográfica, fraseologia
Abstract
Functional verb constructions (FVC) are constructions, which are studied in the field of phraseology and
are by definition constructions made of a functional verb (also called support verb) and a deverbal noun or a
noun derived from an adjective, with or without prepositions, e.g. soltar gemidos or soltar um grito. The aim
of this work is to catalog in lexicographical records functional verb constructions found in the letter G in
monolingual dictionaries of Brazilian Portuguese.
Key words: functional verb constructions, lexicographical records, phraseology
Introdução
A comunicação está presente em nosso dia a dia pelas mais diversas maneiras, seja ela escrita ou oral,
falamos e escrevemos o tempo todo e mesmo respeitando as convenções de escrita e fala, passamos
despercebidos por alguns pontos da nossa língua que para alguns são apenas palavras, mas que para
especialistas são fonte de estudos de uma vida inteira. Esse é o caso das construções com verbo suporte
(em alemão Funktionsverbgefüge) que são construções predicativas formadas por um formativo verbal
(Vsup) e um formativo nominal (Npred) que desempenha a função de núcleo predicativo da construção.
Esse tipo de construção pode ser formado ou não por preposição. No entanto, uma característica
fundamental é que o verbo suporte não possui mais o estatuto de verbo pleno, ou seja, ele é
semanticamente esvaziado. Além disso, as Construções com Verbo suporte, geralmente são formadas por
um verbo suporte muito produtivo, por exemplo, na expressão “Não posso cair na tentação de um dia
desatar a fazer o Made in Portugal com entrevistas pelo meio. (Herman José ao Público, 17.5.98).”1 onde o
verbo “cair” não desempenha o seu significado pleno como em “Devo tomar cuidado para não cair do
penhasco”.
1
ATHAYDE, M. F. Construções com Verbo-Suporte (Funktionsverbgefüge) do Português e do Alemão,
cadernos do cieg, nº 1, 2001
SIICUSP 2014 – 22º Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP
Os estudos desse tipo de construção são ainda muito recentes no Brasil, somente a partir da década de 90,
as gramáticas funcionais começam a tratar e descrever as CVS. No entanto, não há uma bibliografia muito
extensa sobre o tema. Na área de Alemão as Profªs. Drªs. Eva Glenk e Maria Helena Battaglia estão
fazendo um levantamento dessas expressões para compor um dicionário eletrônico de construções com
verbo-suporte (CVS) e colocações em Português do Brasil/Alemão – Alemão/Português do Brasil, e a minha
pesquisa se insere no Projeto Ensinar com Pesquisa “Levantamento de construções com verbo-suporte no
par de línguas português - alemão para o Dicionário eletrônico de construções com verbo-suporte (CVS) e
colocações em Português do Brasil/Alemão – Alemão/Português do Brasil (Verbos G a K)”, em que sou
responsável pela varredura da letra G nos dicionários monolíngues do Português do Brasil, a fim de
encontrar verbos-suporte ou substantivos deverbais que possam integrar as CVS.
Vale ressaltar que embora as construções com verbo suporte sejam construções peculiares, elas também
podem ser facilmente confundidas com outros tipos de construções verbais como colocações (palavras que
usualmente são utilizadas juntas como, por exemplo dar à luz) e expressões idiomáticas (expressões
semanticamente convencionadas, ou seja, expressões cujo significado não pode ser depreendido a partir do
significado de suas partes como, por exemplo, pagar o pato = ser responsabilizado)2.
Objetivos
Este trabalho tem por objetivo realizar um levantamento de CVS em dicionários monolíngues da Língua
Portuguesa do Brasil na letra G, que integrarão o Dicionário eletrônico de construções com verbo-suporte
(CVS) e colocações em Português do Brasil/Alemão – Alemão/Português do Brasil.
Materiais e Métodos
Esse trabalho teve como enfoque a pesquisa de verbos e substantivos da língua portuguesa que formam
CVS com a letra G. Para isso foi realizada uma varredura nos seguintes dicionários: Aurélio, Dicionário
eletrônico Houaiss da língua Portuguesa 3.0 e Borba. Os verbos ou substantivos, no caso da letra G, em
que havia indícios de fazerem parte de uma CVS, foram catalogados, em fichas lexicográficas. Para cada
registro de palavra foi preparada uma ficha lexicográfica que marca a entrada do verbete no dicionário, o
verbo base (no caso de substantivos), as relações paradigmáticas, valências/usos/restrições, exemplos
encontrados nos dicionários e em corpus e o significado.
Além de toda a bibliografia utilizada para compreensão do conceito de CVS, nos apoiamos nos testes
apresentados por Moura Neves, pois em seu trabalho “A delimitação das unidades lexicais: o caso das
construções com verbo suporte” ela adapta e aplica os testes propostos por Radford (1988, p89-105) para
determinação da estrutura de constituinte de uma construção. Esses testes, nos quais nos baseamos para a
verificação das nossas fichas lexicográficas, incidirão, inicialmente, sobre o elemento na posição de objeto
do verbo, com intuito de verificar seu estatuto de constituinte, para posteriormente – se possível - ao
conjunto de verbo+objeto, para a verificação da mesma ordem.3
Vale ressaltar que neste trabalho não são todas CVS compostas por verbo suporte iniciado pela letra G, há
também aquelas formadas por substantivo deverbal iniciados pela letra G e acompanhados por verbos
suporte com outra letra. No caso dessa pesquisa temos como e exemplo os verbos dar, sofre e soltar, que
formam CVS como dar uma gargalhada, dar um gemido e sofrer uma goleada.
2
TAGNIN, Stella E.O. O jeito que a gente diz, São Paulo, Disal, 2005. Páginas 64,71, 100 e 104
3
MOURA NEVES, M. H. de. “A delimitação das unidades lexicais:o caso das construções com
verbo-suporte”. In: A gramática: história, teoria, análise e ensino. São Paulo: Editora UNESP,2002.
SIICUSP 2014 – 22º Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP
Resultados
Foram encontradas na letra G as seguintes construções com verbo suporte: dar um gemido (gemer), dar um
grito (gritar), dar uma gargalhada (gargalhar), dar uma garfada (garfar), dar uma garimpada (garimpar), dar
um giro, dar um golpe (golpear), dar goleada (golear), levar uma goleada, sofrer uma goleada, soltar um
gemido, soltar um grito, soltar uma gargalhada.
Observa-se que CVS, cujo verbo suporte inicie com a letra G foi encontrado apenas o verbo ganhar, que
forma contruções como: ganhar um tapa, ganhar uma paulada, ganhar uma bofetada.
Nesta pesquisa foram registradas CVS onde o verbo suporte iniciasse com outra letra, tendo apenas o
substantivo deverbal (constituinte da CVS) que inicie com a letra G, observamos que o segundo verbo
suporte mais produtivo nas CVS encontradas foi o soltar com três ocorrências. Em menor escala, os verbos
sofrer e levar, considerando que esse levantamento foi feito somente em dicionários.
Visto que o verbo dar já vem sendo bastante trabalhado por outros colegas do projeto, este trabalho irá se
ater ao segundo verbo mais produtivo o soltar, que foi descrito no dicionário de Borba (2003: 1479) como
um verbo suporte e confirmado nas construções acima a partir dos testes de Moura Neves (2002).
Ao compararmos a CVS “soltar um gemido” com “soltar uma gaivota”, observamos que são duas
construções com o verbo soltar, entretanto há uma grande diferença entre essas duas expressões, uma vez
que na primeira o verbo está parcialmente esvaziado de seu sentido original e, no segundo, ele atua em seu
sentido pleno. Além desta diferença principal notamos que na primeira expressão, o complemento é um
substantivo deverbal, abstrato que junto com o verbo forma uma CVS, enquanto em “soltar a gaivota”, “a
gaivota” é o complemento do verbo soltar, isto é, o objeto direto.
Conclusões
A partir da varredura na Letra G em dicionários do português do Brasil, foi verificado que há apenas um
verbo com características de verbo suporte, a saber “ganhar”, porém não é um verbo muito produtivo. No
entanto, a busca nas entradas nos dicionários também se deu pelo nome/substantivo deverbal que
acompanha o verbo suporte. A partir do substantivo foram encontradas várias CVS acompanhadas dos
verbos ‘dar’ e ‘soltar’ como os mais produtivos, além de outros menos produtivos como ‘sofrer’ e ‘levar.
Referências Bibliográficas
ATHAYDE, M. F. Construções com Verbo-Suporte (Funktionsverbgefüge) do Português e do Alemão,
cadernos do cieg, nº 1, 2001.
BUCKINGHAM, L. Las construcciones com verbo suporte en un corpus de especialidad.Frankfurt: Peter
Lang. Band 60. 2009.
HELBIG, G & BUSCHA, J. Deutche Grammatik – Ein Handbuch für den Ausländerunterricht. Leipzig:
Langenscheidt. 1996.
MOURA NEVES, M. H. de. “A delimitação das unidades lexicais:o caso das construções com
verbo-suporte”. In: A gramática: história, teoria, análise e ensino. São Paulo: Editora UNESP,2002.
TAGNIN, Stella E.O. O jeito que a gente diz, São Paulo: Disal, 2005.
Dicionários
BORBA, Francisco da Silva & Ignácio, Sebastião Expedito. Dicionário de usos do português do
Brasil. 1ª ed. Ed. Ática, São Paulo, 2002.
SIICUSP 2014 – 22º Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP
DICIONÁRIO AURÉLIO – Versão eletrônica 5.0, 2004.
HOUAISS, Antônio e VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário eletônico Houaiss da Língua Portuguesa 3.0.
HOUAISS. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa- Versão 3.0. Objetiva, Rio de
Janeiro, 2009.
SIICUSP 2014 – 22º Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP
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