A base e a educacao

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A base é a educação
Alfredo da Mota Menezes
Tive um colega coreano, Kim, no Centro de Estudos Latino-Americano de uma universidade em
Nova Orleans. A primeira coisa que chamava a atenção era um cara da Coréia do Sul estudando a
América Latina. Ele sabia o que queria, deve estar trabalhando em alguma multinacional daquele
país na região.
Lembro de um "paper" que me deu. Era uma comparação entre as economias do seu país e a do
Brasil. Ele acreditava, aí por 1982, que as duas estavam no mesmo patamar e que eram das
poucas no mundo que tinham condições de atingir patamares econômicos maiores. Falava disso
com entusiasmo.
Abro esse artigo com essa historinha para pegar um gancho maior numa matéria da revista Veja
da semana passada. Fala de um estudo do Banco Mundial, de 1960, em que se fazia um paralelo
entre o Brasil, Coréia do Sul e Gana.
Naquela época a renda per capita do Brasil era de 1.800 dólares, a de Gana e da Coréia estavam
em 900 dólares. O dólar da medida é o de paridade de compra. Ou, em palavras diferentes, um
dólar em um país pode comprar mais coisas do que um dólar pode comprar em Nova York. O da
paridade de compra dá uma comparação estatística mais honesta.
Entre 1960 e 1980 a renda per capita coreana empatou com a do Brasil. Nos últimos vinte anos,
período ruim da economia nacional, a economia coreana disparou. A renda per capita dali hoje,
acredite, é o dobro da do Brasil com a de Gana juntas.
Por que tudo isso? O investimento maciço e constante em educação. Este foi o fator principal para
a enorme transformação naquele país. A taxa de escolarização dos jovens da Coréia é uma das
maiores do mundo. E também, com mais educação, puderam investir mais em tecnologia.
Enquanto boa parte da exportação brasileira é de matéria-prima, lá exportam bens com maior
valor agregado. No último ano exportamos 55 bilhões de dólares, eles exportaram 172 bilhões.
Tem muito mais coisas ainda nessa área da educação. Continuo a seguir a matéria da revista. Os
especialistas apontam ainda uma gigantesca desproporção nos gastos com o ensino superior e o
fundamental. No Brasil, o que se gasta com um universitário é dezessete vezes maior do que com
um estudante nas primeiras séries do ensino fundamental. Na Coréia? Dois por um. Nossas
universidades acham que recebem pouco ainda. Mexer aí é um vespeiro.
Um outro dado que atrapalha a educação no Brasil é a troca de políticas educacionais. Ministros e
secretários estaduais de Educação acham de alterar as regras. Enrola tudo. Somos o país dos
experimentos educacionais.
Além de invenções diversas. Exemplos? O Collor tinha os Ciacs, Brizola os Cieps, Itamar Franco os
Caics. Marta Suplicy inventou agora os Ceus. Cada um segue um modelo de construção própria e,
mais importante, seguem normas educacionais próprias também.
O caso dos Cieps do Brizola é emblemático. Construi-se um monte deles. Os alunos ficavam ali o
dia inteiro. Aplicava-se uma regra educacional. Veio o Moreira Franco, não prosseguiu com a idéia
porque era de seu adversário político. O pior é que encetou uma campanha maligna contra o
método educacional implantado nos Cieps. Acabou com a experiência. É de amargar.
Se encontrasse meu parceiro coreano Kim não teria como explicar a ele como seu entusiasmo
sobre o Brasil era infundado e nem tinha como explicar o porquê disso tudo. Ele não entenderia.
Alfredo da Mota Menezes escreve em A Gazeta.
Agosto de 2003
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