PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE GRAMÍNEAS FORRAGEIRAS EM DIFERENTES SISTEMAS DE PASTEJO PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE GRAMÍNEAS FORRAGEIRAS EM DIFERENTES SISTEMAS DE PASTEJO Trabalho apresentado como parte das exigências da Disciplina ZOO 650 - Forragicultura. Aluno: Domingos Sávio Campos Paciullo Prof.: Domicio do Nascimento Jr. VIÇOSA - MG, Julho - 1997 INTRODUÇÃO As espécies forrageiras apresentam diferenciadas respostas aos fatores de meio, sejam eles climáticos (luz, temperatura, precipitação e CO2), edáficos (composição química e física do solo) ou ainda relacionados aos processos de pastejo e pisoteio do animal. Assim, de complexas interações que combinam atributos genéticos e efeitos do ambiente sobre os processos fisiológicos e características morfológicas das plantas, resulta a produtividade do pasto e sua transformação em produto animal. A interferência do homem na produção animal a partir do uso de pastagens deve (1) garantir a perenidade do sistema adotado, seja ele baseado no uso de pastagens naturais ou cultivadas, (2) assegurar um compromisso entre a oferta de quantidade e qualidade de forragem compatível com a produção animal pretendida e permitida pelo meio, e (3) simplificar e reduzir custos ou aumentar a margem líquida (NABINGER, 1997). Para alcançar estes objetivos, é necessário que o manejo da pastagem, caracterizado pelo sistema de pastejo adotado, fertilização, pressão de pastejo, etc, seja adequado às características morfofisiológicas das plantas forrageiras. A seguir, serão discutidas algumas características morfológicas e fisiológicas das plantas forrageiras que condicionam a produção animal em pastejo, sendo abordados aspectos relacionados ao crescimento (rebrotamento) e utilização da forragem em diferentes sistemas de pastejo. MORFOFISIOLOGIA DE PLANTAS FORRAGEIRAS SOB PASTEJO · Princípios básicos da produção de forragem Expresso em medidas de comprimento, área ou peso, o crescimento vegetal depende fundamentalmente do processo de troca gasosa, fotossíntese aparente, cuja intensidade depende principalmente da quantidade e qualidade de luz interceptada e capturada pelas folhas do relvado. A quantidade de fotoassimilado excedente à respiração da planta é usada para expansão do sistema radicular e da área foliar, via desenvolvimento e crescimento de novas folhas e perfilhos. A rapidez com que uma planta forma ou reconstitui sua área foliar determina sua taxa de crescimento e a produtividade do relvado. file:///D|/Forragicultura/PRODUÇÃO E UTILIZA...GEIRAS EM DIFERENTES SISTEMAS DE PASTEJO.htm (1 of 6) [23/05/2001 22:15:21] PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE GRAMÍNEAS FORRAGEIRAS EM DIFERENTES SISTEMAS DE PASTEJO Da matéria seca produzida, distingui-se a produção primária, correspondente ao acúmulo de biomassa elaborada pela pastagem, e a produção colhível, correspondente apenas à biomassa presente na planta em dado momento. A diferença entre estas duas grandezas deve-se ao fato de que as folhas e, por consequência, os colmos das espécies forrageiras têm uma vida limitada e que o acúmulo de biomassa colhível é, na verdade, resultante de um fluxo de elaboração de novos tecidos foliares (produção primária) e de um fluxo de senescência e de decomposição dos tecidos foliares mais antigos (NABINGER, 1997). A literatura tem demonstrado correlação positiva entre índice de área foliar, interceptação de luz e produção forrageira. Entretanto, no cultivo e exploração de pastagens, existe necessidade simultânea de manter e/ou acumular área foliar, a fim de se conseguir mais elevada interceptação de luz, e fazer a desfolha através do pastejo, a fim de atender as necessidades nutricionais dos animais. O manejo da pastagem é, assim, o compromisso entre a necessidade de se manter área foliar para a fotossíntese e a de se colher grandes quantidades de tecido foliar antes que esse tecido morra (PARSONS, 1988c). Este aparente paradoxo é agravado tendo em vista que as folhas mais novas são aquelas de mais alta eficiência na fixação de CO2 (PARSONS et al., 1983a) e as primeiras a serem destruídas pelos animais, por se situarem no topo da folhagem. É de grande importância, pois, que o sistema de pastejo adotado e as práticas de manejo aplicadas à pastagem, permitam à planta forrageira a melhor capacidade de rebrotamento, bem como eficiente colheita pelo animal, evitando desperdícios pela morte e decomposição dos tecidos vegetais. A produção de novo tecido foliar após o pastejo é dependente de três fatores básicos: sobrevivência dos meristemas apicais, níveis de carboidratos de reserva e índice de área foliar remanescente. Geralmente, os meristemas sobreviventes e suas folhas associadas localizam-se abaixo do nível de pastejo, e o tecido foliar pode continuar sendo produzido a partir dos perfilhos desfolhados, para repor os tecidos removidos pelo pastejo. Assim, se o número de meristemas apicais eliminados é baixo, o rebrotamento se faz rápido e vigoroso a partir dos meristemas sobreviventes. Por outro lado, a eliminação do ápice caulinar e a decapitação do perfilho determinam sua morte. Nesta condição a recuperação da planta deve dar-se por meio da brotação das gemas basilares e/ou axilares, que constitui-se em recuperação mais lenta e, portanto, menos satisfatória. A capacidade de rebrotamento é, neste caso, favorecida pela existência de adequado número de gemas basilares, aptas a se desenvolverem em novos perfilhos, assim como elevado nível de compostos orgânicos de reserva armazenados na planta. Conquanto a participação das reservas orgânicas no rebrotamento após a desfolha seja controvertida, sua importância parece limitar-se aos primeiros dias de recuperação após o corte ou pastejo, enquanto se expandem as primeiras folhas. Embora boa parte das reservas sejam utilizadas na respiração, trabalhos utilizando 14C mostram que uma parte das reservas é utilizada como material estrutural no início do rebrotamento (Morot-Gaudry citado por NABINGER, 1997). A interação área foliar x reservas orgânicas na recuperação de forrageiras foi demonstrada em alguns trabalhos, principalmente na formação de novos perfilhos. Humphreys e Robison citados por FAVORETTO (1993) verificaram que a recuperação de Panicum maximum foi mais afetada pelo IAF residual após o corte do que pelo grau de reserva orgânica da planta. · Os sistemas de pastejo e a eficiência de utilização do pasto Dentro do sistema planta-animal a forragem produzida deve ser consumida e convertida em produto de origem animal para ter valor. Um sistema de pastejo ideal deve permitir a utilização da pastagem e a file:///D|/Forragicultura/PRODUÇÃO E UTILIZA...GEIRAS EM DIFERENTES SISTEMAS DE PASTEJO.htm (2 of 6) [23/05/2001 22:15:21] PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE GRAMÍNEAS FORRAGEIRAS EM DIFERENTES SISTEMAS DE PASTEJO produção animal em seus níveis máximos, sem efeitos prejudiciais à persistência das plantas forrageiras. Este sistema envolve uma série de fatores com suas variações, tais como: clima, solo, planta, animal e suas interrelações, além da influência exercida pelo homem no sistema de produção. A escolha do melhor sistema de pastejo é, portanto, tarefa complexa, pois envolve várias condições distintas e específicas, sendo a generalização medida arriscada. A forma de utilização das pastagens com animais varia em função da freqüência com que a mesma área é pastejada, ou seja, do intervalo de tempo entre um pastejo e outro, do tempo em que os animais permanecem pastejando a mesma área e da intensidade com que este pastejo remove a parte aérea das plantas. Os principais sistemas de pastejo são: contínuo e rotacionado. De acordo com MARASCHIN (1986), o pastejo rotacionado caracteriza-se pela mudança periódica e freqüente dos animais de um piquete para outro, dentro do mesmo tipo de pastagem. É baseado no princípio de que um período de descanso favorece a produção de forragem, permitindo o desenvolvimento de raízes, perfilhos e reservas orgânicas. Quanto ao pastejo contínuo, o autor definiu como o método de pastejo no qual os animais permanecem no mesmo piquete durante o período de produção de forragem. A permanência dos animais poderá ser de algumas semanas ou meses, como em pastagens temporárias e anuais, ou até um ano inteiro, em pastagens perenes onde não há paralisação do crescimento da pastagem. As espécies forrageiras diferem em sua capacidade para persistir em comunidades sob pastejo. Algumas toleram pastejo contínuo intenso, enquanto que outras persistem melhor sob condições de pastejo rotacionado (FAVORETTO, 1993). O conceito de que rebrotamento vigoroso pode ser obtido através da preservação de meristemas apicais associada a índice de área foliar remanescente é de importância acentuada para manutenção da produtividade da pastagem. Assim, gramíneas estoloníferas ou gramíneas cespitosas, que apresentam processo tardio de alongamento do caule, se adaptam bem ao pastejo contínuo, enquanto que, as gramíneas cespitosas de intenso perfilhamento e que apresentam precoce alongamento do caule e, consequentemente, rápida elevação do meristema apical, são melhores adaptadas ao pastejo rotacionado. No manejo da pastagem, além de rebrotamento vigoroso e produtividade elevada, é importante considerar a utilização (aproveitamento) da matéria seca acumulada. A eficiência de utilização do pasto pode ser definida como a proporção da MS bruta produzida (produção primária acima do solo) que é removida pelos animais em pastejo (LEMAIRE, 1997). Um manejo racional das pastagens corresponderia a uma técnica que permita a máxima colheita da MS produzida através da redução das perdas de tecidos pela senescência, maximizando a produção animal por área, sem comprometimento da produção por animal. Este ponto de colheita pode ser determinado para as diferentes espécies e cultivares de plantas forrageiras por meio de estudos de fluxo e renovação de tecidos (dinâmica de acúmulo de matéria seca) aliados a avaliações da demografia de perfilhos. Trabalhos de PARSONS et al., (1983 a,b, 1988 a,b,c) demonstraram a importância do balanço entre os principais processos envolvidos na produção e utilização do pasto (fotossíntese, produção bruta de tecidos, consumo de forragem e senescência de tecidos). Sob condições de pastejo contínuo leve em azevém, com IAF=3, o relvado apresentou grande área foliar e elevada fotossíntese bruta, entretanto, as perdas de folhas por senescência foram altas comprometendo a eficiência de utilização da forragem produzida. Por outro lado, o consumo de forragem por hectare foi maximizado sob condições de relvado com IAF=1, embora a fotossíntese bruta e a produção bruta de tecidos não tenham sido maximizadas (PARSONS et al., 1983b). Sob condições de pastejo contínuo, a file:///D|/Forragicultura/PRODUÇÃO E UTILIZA...GEIRAS EM DIFERENTES SISTEMAS DE PASTEJO.htm (3 of 6) [23/05/2001 22:15:21] PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE GRAMÍNEAS FORRAGEIRAS EM DIFERENTES SISTEMAS DE PASTEJO máxima produção colhível pelo animal é conseguida num IAF abaixo do ótimo para a produção de biomassa, mas que permite a melhor oportunidade de colheita de material vivo (PARSONS et al., 1988c). Entretanto, se a taxa de utilização da biomassa produzida continua a aumentar, a grande remoção de tecidos fotossintetizantes determina considerável redução no IAF e na quantidade de radiação interceptada, resultando em queda na quantidade colhida por área. O pastejo rotacionado apresenta uma diferença fundamental em relação ao pastejo contínuo, que é a existência de períodos bem definidos de IAF crescente na ausência de desfolhamento. Durante o período de descanso, o IAF da pastagem é inicialmente baixo e constituído de folhas velhas, cinco a dez dias depois, por folhas emergentes, enquanto as folhas expandidas predominam mais tarde (PARSONS et al., 1988b). Os crescentes valores de IAF e intensidade fotossintética durante o rebrotamento, ocasionam progressivo acúmulo de matéria seca até alcançar um valor máximo em que aparecimento e senescência de folhas se compensam (ROBSON, 1973). Neste ponto, a taxa de produção líquida (taxa de produção bruta - taxa senescência) é máxima, sendo que um aumento no período de descanso representa queda no acúmulo líquido de forragem e na eficiência de utilização, pelo excessivo acúmulo de tecido morto. Após o desfolhamento, a capacidade fotossintética do dossel depende da quantidade e do potencial fotossintético do tecido foliar remanescente. A quantidade de área foliar residual é função da intensidade do desfolhamento determinada pela pressão de pastejo imposta durante o período de utilização da pastagem. Estudo da interação entre IAF remanescente (inicial para o rebrotamento) e duração do período de descanso, realizado por PARSONS et al. (1988c) em um modelo matemático teórico, revelou que em intensidades de desfolhamento mais severas (menor IAF remanescente) o período de descanso da pastagem deve ser prolongado, permitindo alcançar máxima taxa média de crescimento, sem contudo permitir deterioração do relvado pela elevada participação de colmos na matéria seca produzida. Sob esta condição, a forragem apresenta elevada digestibilidade, sendo a eficiência de consumo maximizada. Por outro lado, sob desfolhamento menos intenso o período de descanso deve ser curto, pois, a máxima taxa de senescência de tecidos é rapidamente atingida, comprometendo a colheita pelo animal. Neste estudo foi demonstrado que sob pastejo rotacionado os valores da taxa média de crescimento foram ligeiramente superiores àqueles sob condições de pastejo contínuo. Apesar desta pequena vantagem em favor do pastejo rotacionado, os autores sugerem que em algumas situações o pastejo contínuo pode ser a melhor opção, visto que o pastejo rotacionado demanda maior quantidade de insumos e manejo mais complexo. Fica evidente que o método de pastejo empregado pode ter influência acentuada sobre o desempenho tanto da planta forrageira como do animal. Cada método possui características particulares que permitem flexibilidade às diferentes condições de meio e às diferentes espécies forrageiras usadas sob pastejo. Cabe ao manejador de pastagens estar atento para que mudanças no manejo sejam feitas, sempre que necessário, no momento e da forma corretos, a fim de garantir perenidade, produtividade, qualidade e lucratividade do sistema de produção empregado. Por fim, vale ressaltar que, de acordo com SILVA E PEDREIRA (1997), não existe um método de pastejo ideal, mas sim aquele mais apropriado e indicado para cada situação em particular. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS file:///D|/Forragicultura/PRODUÇÃO E UTILIZA...GEIRAS EM DIFERENTES SISTEMAS DE PASTEJO.htm (4 of 6) [23/05/2001 22:15:21] PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE GRAMÍNEAS FORRAGEIRAS EM DIFERENTES SISTEMAS DE PASTEJO FAVORETTO, V. Adaptação de plantas forrageiras ao pastejo. In: SIMPÓSIO SOBRE ECOSSISTEMA DE PASTAGENS, 1993, Jaboticabal. Anais... Jaboticabal: FCAV/UNESP, 1993. p.130-65. LEMAIRE, G. The phisiology of grass growth under grazing: tissue turn-over. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE PRODUÇÃO ANIMAL EM PASTEJO, 1997, Viçosa. Anais...Viçosa: UFV, 1997. p.117-44. MARASCHIN, G.E. Sistemas de pastejo I. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PASTAGENS,1986, Piracicaba. Anais... Piracicaba: FEALQ, 1986. p.261-90. NABINGER, C. Princípios da exploração intensiva de pastagens. 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