Título: PESQUISA ESCOLAR - ESTRATÉGIA METODOLÓGICA DE RECONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO NO ENSINO FUNDAMENTAL Área Temática: Didática, Metodologia e Prática na Educação Escolar Autora: JUSSARA MARIA POPIOLEK BECKER Instituição: Universidade Federal do Paraná - Mestrado em Educação Este estudo é uma proposta de reflexão e implantação da Pesquisa Escolar como estratégia principal da reconstrução do conhecimento no âmbito do Sistema Educacional que contempla a Educação Básica, tendo em vista que às vésperas do século XXI aumenta o consumo em torno da convicção de que o manejo e a produção de conhecimento constituem a mais decisiva oportunidade de desenvolvimento do ser humano. No contexto da ONU – Organização das Nações Unidas, define-se desenvolvimento humano como questão de oportunidade, para ressaltar que a cidadania é parte constituinte fundamental, ao lado da necessidade econômica. Nesse sentido, Educação e Conhecimento constituem-se como eixos fundamentais para o desafio do equilíbrio entre a cidadania e a economia. Em termos de cidadania emancipatória, a educação é definida como a construção competente da autonomia do sujeito histórico, sendo seu instrumento primordial o manejo e a produção do conhecimento. Assim, se a educação pretende, de fato, ser equalizadora de oportunidades precisa aproximar-se da melhor maneira possível da construção do conhecimento. A realidade educacional atual, no entanto vêm demonstrando um desequilíbrio entre Educação e conhecimento, e como regra geral têm-se a didática marcada pelo mero ensino e pela mera aprendizagem. De um lado, aparece um pretenso sujeito, chamado professor, que apenas ensina, no sentido surrado de copiador de cópias; do outro, aparece um típico objeto de aprendizagem - o aluno, cuja função é ser cópia da cópia. Aspectos estes que colaboram para com que o Sistema Educacional permaneça em sua maior parte como um Sistema de Treinamento Subalterno para gente subalterna, desvinculando-se o aluno do aprender a aprender e do saber pensar. Mediante tal fato o educador deve ter a clareza que a inovação depende intrinsecamente do conhecimento inovador, subjaz aí a visão diferente de ciência que deve ser compreendida não mais como estoque de conhecimentos, mas como processo de inovação permanente. Mais que a obtenção de resultados inovadores, trata-se de estabelecer o processo de renovação permanente pela via do questionamento sistemático crítico e criativo, com vistas a uma forma mais competente de intervenção. A renovação do conhecimento coloca ainda a necessidade de atualização constante, e exige o revisar da proposta educativa, em termos instrumentais, direcionando-a para o compromisso construtivo para a pesquisa, que permita ao aluno chegar a aprender, a ver com os próprios olhos, a expressar-se com as próprias palavras de modo a desenvolver o espírito crítico. Tem-se pois, na Pesquisa Escolar, um dos desafios mais profundos do desenvolvimento humano, sustentado em particular por um país em desenvolvimento que tem no atraso educacional um dos obstáculos de maior comprometimento. Como tudo em educação, essa renovação implica esforço a longo prazo e mudanças radicais que também ferem interesses corporativos e do sistema. Não se trata mais de aprimorar procedimentos vigentes, mas de os questionar radicalmente, visto que para transformar mero ensino em formação e mera aprendizagem em aprender a aprender, um dos passos mais decisivos é a renovação do professor, sendo essencial que se procure caminhos para sair do atraso, avançando devagar e sempre na direção da qualidade do ensino, da cidadania e da economia, fazendo com que a marca registrada de tudo seja a construção do conhecimento. Incentivar os educadores que inserem-se no chamado contexto de ensino Educação Básica, é a meta principal desta pesquisa que apresenta e analisa dados sobre a Pesquisa Escolar como mola mestra indicadora de possibilidades e de novos caminhos para a reconstrução do conhecimento. Embora, a pesquisa venha sendo realizada nas escolas, ela hoje não contempla o procedimento ativo nem integrativo, isto porque na maioria das vezes a participação do aluno está em pedir aos adultos as informações que o professor deseja. A situação complica-se quando os pesquisadores não têm fontes de consulta ou as têm inadequadas. TEIXEIRA (1992) diz que nota-se que muitos professores referem-se à pesquisa como sendo a “tábua de salvação” de sua incompetência ou falta de tempo para preparar a aula. “A pesquisa tornou-se atividade de mudar. Os professores acham que devem exigi-la, as crianças têm que trazê-la e os adultos, por conseguinte, têm que fazê-la. A pesquisa assim desenvolvida não passa de uma caricatura de procedimento ativo” (TEIXEIRA, 1992, p, 28). O êxito de uma pesquisa está intimamente relacionado à orientação dada pelo profissional da educação, mas para que isso aconteça, ele próprio deve ter a clareza do que é uma pesquisa escolar ou educacional, quais suas finalidades, propósitos e metas e segundo DEMO (1995), educar pela Pesquisa tem como condição essencial primeira que o profissional da educação seja pesquisador, ou seja, maneje a pesquisa como princípio científico e educativo e a tenha como atitude cotidiana. Na realidade não se busca um profissional da pesquisa, mas um profissional da educação pela pesquisa que estabeleça relações com os alunos, que se tornem sujeitos participativos, onde o questionamento reconstrutivo seja um desafio comum. Entretanto, o educador deve ter a clareza que não se pode reduzir o questionamento reconstrutivo à simples competência formal da aprendizagem, mas é crucial compreendê-lo como processo de construção do sujeito histórico, que se funda na competência advinda do conhecimento inovador, mas implica, na mesma matriz, a ética da intervenção histórica, sendo mister, desenvolver a face educativa da pesquisa, também para não restringi-la a momentos de acumulação de dados, leituras, materiais, experimentos, que não passam de insumos preliminares. A característica emancipatória da educação, exige portanto a pesquisa como método formativo, pela razão principal de que somente um ambiente de sujeitos gera sujeitos, sendo que entre a educação e a pesquisa existe um trajeto coincidente, ou seja, ambas se postaram contra a ignorância, a primeira busca a consciência crítica e a segunda busca o conhecimento; ambas se dedicam ao processo reconstrutivo, ambas incluem a confluência entre teoria e prática; ambas se opõem à condição de objeto por ser a negação da qualidade formal e política; ambas se opõem a procedimentos manipulativos e ambas condenam a cópia. Para DEMO (1995) até certo ponto, pesquisar e educar são processos coincidentes na escola, visto que, a tarefa do aluno é ser parceiro do trabalho, não ouvinte domesticado. Sem tal conscientização não aparecerá a emancipação – processo histórico de conquista e exercício da qualidade de ator consciente e produtivo, porque o ser social – o aluno ainda será objeto. Para além da crítica, torna-se fundamental ir em busca de pistas de atuação alternativa. A primeira preocupação é repensar o professor e na verdade recriá-lo. De mero ensinador-instrutor no sentido mais barato – deve passar a mestre. Para tanto, é essencial recuperar a atitude de pesquisa, assumindo-a como conduta estrutural, a começar pelo reconhecimento do que sem ela não há como ser professor em sentido pleno. A Pesquisa para a criança deve significar o despertar e o motivar da atitude de questionamento, de criatividade via manifestação lúdica, de curiosidade crítica, de postura do sujeito. Vista desta forma, a Pesquisa Escolar não pode referir-se ao estereótipo acadêmico, da satisfação e da atividade especial, mas sim a intervenção competente na realidade, ou o diálogo crítico permanente com a realidade, tanto no sentido teórico como prático. Trata-se pois, de uma atitude cotidiana, não de hora marcada, de lugar específico ou de instrumento especial. O Procedimento Metodológico distintivo da Pesquisa é sem dúvida o questionamento reconstrutivo, que pode ser simples na pessoa simples e sofisticado na pessoa sofisticada, mas gira em torno do mesmo eixo. Quando uma criança, estimulada em sua curiosidade e expressão lúdica, procura mexer em tudo, ver as coisas por dentro, perguntar sem parar, está pesquisando no sentido mais real do termo, porque cabe aí o questionamento reconstrutivo. Não será difícil distinguir esta atitude dinâmica e participativa de outra apenas reprodutiva, que faz somente objeto de ensino externo. A criança, portanto, dentro de seu contexto e nível de desenvolvimento, pode pesquisar com extrema qualidade, referida esta à formação da competência que aí cabe. Segundo DEMO (1995) não é difícil reconhecer que ninguém é mais pesquisador que uma criança que está descobrindo o mundo, é fará isto com qualidade tanto mais aprimorado, se encontrar o ambiente e profissionais adequados na escola. Todavia, se cair nas mãos de uma Instituição Educacional absoluta, poderá ter seu processo de questionamento reconstrutivo cercado, por conta de preocupações com ordem e disciplina, ou com didáticas meramente reprodutivas, reduzindo a criança a simples objeto de manipulação e obediência. Educar pela Pesquisa pode parecer estranho, até porque pesquisar é, quase sempre, estranho mesmo em ambientes de educadores. Entretanto, observando atentamente o processo de pesquisar, nota-se que seu dinamismo intrínseco expressa o compromisso permanente com o questionamento reconstrutivo em vários momentos, ou seja, como ponto de partida, porque só pesquisa quem sabe que não sabe tudo, é coisa de quem se interessa em perguntar, duvidar, querer saber; como processo permamente, porque se aposta na inovação pelo conhecimento sempre renovado, ou seja na qualidade metodológica do questionamento sistemático e como ponto de chegada, porque nada do que se obtém por Pesquisa representa ponto final; ao contrário, é apenas o próximo convite ao questionamento. Por outro lado, observando o processo educativo, e tomando-o como expressão emancipatória, conquista e superação permanente, o processo de Pesquisa coincide com ele em múltiplos momentos, em particular na capacidade de questionamento, embora a educação envolva muito mais que pesquisa, pois reduz somente ao conhecimento. DEMO (1995) ressalta que é por demais importante manter o conhecimento no espaço da educação, para que a esta sirva como instrumento permanente, de renovação e competência, e afirma que não existe contato pedagógico mais profundo do que aquele em que o professor emerge como orientador do processo de questionamento reconstrutivo deixando de ser o instrutor ou treinador, para assumir precisamente a maiêutica pedagógica. Ambos trabalham juntos, professor e alunos em busca da cidadania própria e comum. Esta situação é infinitamente superior à aula típica, a começar pelo fato de se estabelecer a motivação de dentro para fora, como deve ser a educação. O aluno é incitado a reconstruir de maneira participativa e avaliado pelo que consegue refazer, questionamento reconstrutivo. pelo que conquistou no processo de VASCONCELOS (1995) ressalta que a Pesquisa como atitude cotidiana não deve ignorar a pesquisa como expressão mais intensa e concentrada, que é aquela que é usada para elaborar um texto ou um material didático, participar de projeto político-pedagógico, organizar dados e materiais para uma proposta. Ao contrário, os momentos mais intensos de pesquisa organizada demonstram principalmente a base cotidiana em marcha corporificada em oportunidades específicas. “Para fazer uma Pesquisa determinada é mister, como regra, fazer leituras específicas, entretanto, decisivo é manter um processo permanente de leitura crítica, para estar constantemente alimentado. Será sempre útil permanecer bem informado, não só para acompanhar os acontecimentos mais importantes, mas sobretudo para subsidiar uma cidadania mais presente” (DEMO, 1995, p. 86). VEIGA (1993) sintetiza a Pesquisa como atitude cotidiana, analisando algumas dimensões próprias que envolvem: o saber pensar e aprender a aprender são, em grande medida, saber avaliar, estabelecendo parâmetros comparativos, distintivos e diferenciadores, para poder-se chegar a preferir condições sobre outras, ou a rejeitar situações consideradas inaceitáveis, ou a consolidar propostas e projetos; vale o mesmo para o desafio de saber fazer, ou refazer, porque sempre se remete ao confronto daquilo que se fez mal ou que se fez bem, ou de como se faria diferentemente, para se contribuir com uma cidadania tanto mais crítica e atuante, e assim por diante; não se pode aceitar a exclusão sem saber, engolir a injustiça por comodismo, fazer todo o dia a mesma coisa por mera rotina, para na vida, regredir; assim avaliar implica noção de processo, capacidade de comparar e preferir, interesse em inovar constantemente, compromisso com o aprimoramento da qualidade de vida; o desenvolvimento aguçado do espírito crítico, sem azedume, buscando conhecer sempre mais e melhor, para poder inovar e/ou colaborar; visão crítica significa sobretudo que se sabe o que é vigente, mas também o que poderia vir a ser, que é importante ter idéia de alternativas, que se é capaz de contrapropor e desenhar futuros melhores; não quer dizer apenas contraposição, em sentido negativo da recusa, embora isto também caiba, confundindo-se já crítica com mau humor permanente, a idéia central está em saber inovar, com qualidade formal e política, ou seja, não inovar por inovar, que seria apenas modismo, mas dinamizar as legítimas esperanças do ser humano e forçar as necessárias reestruturações para que as oportunidades de desenvolvimento se viabilizem; popularmente falando espírito crítico é principalmente saber das coisas; o reconstruir a visão globalizada da realidade, para não perceber apenas partes e pedaços, deixando o ser humano como minúscula peça de uma engrenagem que não vê e muito menos compreende; compreender a realidade, em termos mais populares, há de significar sobretudo organizar informação múltipla e crítica, para ter-se dela visão de conjunto, permitindo movimentar-se nela com algum conhecimento de causa; pode-se meljor localizar-se no cenário e analisar com pertinência mais aguda as chances de intervir, colaborar, ou os obstáculos à inovação; a competência em discutir com fundamento possível tudo que pareça importante na realidade e na vida, como sinal concreto e dinâmico da presença ativa; fomenta a superação da condição de receptor de influências externas, da passividade espectadora, da situação de objeto; discutir inclui sempre confronto, que pode ser suave, elegante ou frontal, tendo seu cerne não a violência física, mas na capacidade de convencer pela boa argumentação; o sentido mais legítimo de discutir é saber perguntar, aduzindo para o fazer ou deixar de fazer razões plausíveis, permeáveis ao diálogo aberto; o ambiente de comunicação desimpedida, à medida que privilegia menos a contundência agressiva da crítica, do que a capacidade de fundamentar a crítica, com isto promove o diálogo aberto, no qual todos podem e devem participar, mas sempre com base em razões e argumentos; a crítica de mão única destrói-se a si mesma, porque desfaz a própria lógica da qual se nutre; a contracrítica e sobretudo a autocrítica é o eco natural e necessário, absolutamente inevitável, além de sadio, para poder-se privilegiar a convivência e a solidariedade sobre a mera competição; a competência comunicativa é sempre preferível à competência competitiva. A Pesquisa, como signo principal da competência, segundo PENIN (1994) supõe uma série de procedimentos e iniciativas. Nesse sentido, arrolase algumas condições e circunstâncias favoráveis, senão necessárias, tais como: alimentar uma pequena biblioteca, na qual tenha-se à mão os livros mais decisivos e instigadores de nosso interesse científico; embora isto soe estranho num país em que os professores recebem remunerações que sequer permitem sobreviver, na verdade é necessidade inelutável, não só para coibir o envelhecimento precoce em termos de manejo do conhecimento, mas sobretudo para manter a presença atualizada e para poder apresentar-se ao aluno como exemplo a ser seguido; esta biblioteca não pode restringir-se aos livros didáticos, mas alcançar autores que mantêm viva a discussão crítica nos temas de maior interesse, de tal sorte que o professor possa sempre postar-se na vanguarda do conhecimento; reunir material eletrônico, não só para saber das novidades, mas sobretudo para incutir nesta parafernália o sentido didático reconstrutivo, sem falar em recuperar, urgentemente, a motivação nos alunos; revista especializada ou mesmo conteúdo genérico, o que permite um sentido mais concreto de atualização e de participação da discussão de temas pertinentes; ligações com entidades profissionais e científicas, para participar de eventos interessantes, receber constante material de apoio e sobretudo poder, vez ou outra, apresentar alguma contribuição própria; se isto foi difícil ou impraticável, resta sempre a possibilidade de os professores organizarem uma entidade de promoção científica local, que permita motivar encontros, trazer gente inovadora, discutir desafios, produzir materiais, publicar contribuições; vigência sempre renovada de um projeto pedagógico na escola ou na Secretaria, que serve de ponto concreto de referência para a renovação constante da competência; sob seu apelo pode-se constantemente pleitear chances de estudo, análise, avaliação, contraproposta, exigindo acesso atualizado; a participação recorrente em cursos de longa duração, que têm como finalidade maior refazer permanentemente a competência, desde que não sejam de mero “treinamento”; neles pode-se ver, estudar, refazer material inovador, além de entrar em contato com pesquisadores convincentes. Segundo PENIN (1994) dada a penúria generalizada em que vive o professor, é uma idéia muito recomendável que cada Secretaria de Educação organize uma “Casa do Professor” ou coisa que o valha, na qual ele poderia melhor se confrontar com o desafio da Pesquisa. Nesta “Casa” seria possível oferecer uma biblioteca atualizada (livros, revistas, coleções, enciclopédias, entre outros) para que se possa colocar sempre em dia a leitura e o contato com bons autores; uma videoteca e assemelhados, para dispor de materiais modernos, supondo que não se restrinjam ao mero repasse de conhecimento; uma informática, sobretudo familiaridade com o computador, para poder usá-la como apoio reconstrutivo e multimeios, como tática de concertar todas essas modernidades, sobretudo de atingir a capacidade de (re)construir pessoalmente propostas didáticas; acesso a dados, pesquisas, informações gerais e específicas, que permite animar o professor ao questionamento reconstrutivo, em particular a autocrítica; acesso à legislação vigente, suas mudanças, nos níveis federal, estadual e municipal, bem como material de interpretação e pesquisa legislativa; espaço para iniciativas próprias, ligadas à recuperação permanente da competência: grupo de estudo, construção de material próprio, exposição de processos e resultados, discussão de práticas, entre outros; condições para tomar contatos instigadores com Universidades, Institutos de Pesquisa, educadores relevantes, bem como com outras Secretarias ou entidades de educação, inclusive estrangeiras. Na mesma "Casa" se oportuniza a socialização de conhecimento através de eventos constantes que sustentem oportunidades de informação atualizada e contatos instigantes (conferências, seminários, palestras e encontros); cursos de longa duração, que não se reduzam a aulas ou à transmissão reprodutiva, mas alcancem a reconstrução da competência pela via da Pesquisa e elaboração própria, em ambiente didático no qual prevaleça inequivocadamente, o questionamento reconstrutivo, com qualidade formal e política, unindo teoria e prática. Não se pode dizer que só interessa a prática, pois a prática que não se constrói teoricamente vira fanatismo ou ativismo, perde o sento crítico, e reduz o mundo ao tamanho de nossa experiência limitada. Assim, nada é mais importante para a teoria do que a prática, e vice-versa. O ímpeto inovador do conhecimento se alimenta do vaivém teórico-prático, incessantemente. Pode- se afirmar, certamente, que a prática é o lugar onde quer-se chegar e por isso representa a questão fundamental. A Pesquisa Escolar pode ser a mola propulsora da reconstrução do conhecimento em qualquer nível de ensino. A Pesquisa numa perspectiva de reconstrução do conhecimento pode iniciar-se através de uma atividade lúdica associada e dependente da criatividade que leva a descobrir relações, ou seja, é a própria descoberta do mundo circundante até em níveis mais avançados onde caracteriza-se como trabalho científico de inovação crítica e criativa, não devendo esquecer que a metodologia científica assume em qualquer nível de ensino o papel de incentivo à Pesquisa, na condição de propedêutica construtiva, ou seja, como instrumento fundamental para construir a capacidade de reconstruir o conhecimento. Aprender a aprender e saber pensar para intervir de modo inovador devem ser habilidades indispensáveis do professor, visto que, ele possui o privilégio da construção do conhecimento e da formação da competência inovadora, sendo seu desafio maior o sair da postura reprodutiva surrada, marcada principalmente pela aula repetitiva que induz o aluno a construir conhecimento, como tarefa mais cotidiana. Para quem se propõe a fazer Pesquisa ou aplicá-la como recurso de ensino que conduz à reconstrução do conhecimento o maior desafio certamente está em adotar o compromisso construtivo, factível em todos os autores citados e identificados nas escolas pelo aprender a aprender e pelo saber pensar e reconhecer de que manejo e produção de conhecimento são os instrumentos primordiais da cidadania e da economia. O conhecimento adequado dos paradigmas científicos, das polêmicas principais, dos ventos que sopram nas fronteiras metodológicas, bem como dos métodos e técnicas empíricas é garantia de qualidade formal indispensável ao professor e aluno pesquisador, visto que, a Pesquisa apresenta-se como a instrumentação teórico-metodológica para construir e reconstruir o conhecimento. O professor que atua em níveis inicias do ensino deve ter em mente que argumentar significa primeiro, conhecer os argumentos em uso, dominantes nas suas origens e confrontos, seus vazios e virtudes, e, em seguida constituir sua maneira própria de argumentar, na convicção legitimamente científica de que tudo pode ser dito, se tiver a devida argumentação e nada pode ser dito, se não tiver a conveniente base de argumentação. Fica aqui registrado que a presente proposta não teve a intenção de negar ou deixar de reconhecer na postura atual dos professores uma série de conquistas que correspondam a avanços que passaram a ser definitivamente incorporados às diversas maneiras de conceber-se o ensino hoje, mas sim propor e mostrar a todos os educadores que ele pode ser um pesquisador, um fazedor de pesquisadores e sobretudo de reconstruir o conhecimento muitas vezes arraigados ao ostracismo de arraigados preceitos positivistas. Trata-se pois, de uma exemplificação de um procedimento, de uma reflexão sobre possíveis implicações do uso da Pesquisa, de chamar a atenção para a incursão no desconhecido, na busca de novidades, do refazer o conhecido a partir de questionamentos reconstrutivos. Referências bibliográficas BARRETO, A.M.R.F. A geografia do professor leigo: Situação atual e perspectivas. Brasília – DF: IPEA, Textos para discussão 8 (223), 1991. BECKER, F. A Epistemologia do Professor. 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