UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Doutorado O EDIFÍCIO E A LEI EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS PAULO EDUARDO DE OLIVEIRA COSTA São Paulo 2016 PAULO EDUARDO DE OLIVEIRA COSTA O EDIFÍCIO E A LEI EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS Tese de Doutorado apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Dra. Nadia Somekh São Paulo 2016 C837e Costa, Paulo Eduardo de Oliveira O Edifício e a lei em São José dos Campos. / Paulo Eduardo de Oliveira Costa - 2016. 228 f.: il.; 30 cm Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2016. Bibliografia: f. 219 – 228. 1. São José dos Campos. 2. Planejamento Urbano. 3. Legislação Urbanística. 4. Verticalização. 5. Qualidade de Vida. I. Título. CDD. 711.4 AGRADECIMENTOS À minha orientadora Professora Doutora Nadia Somekh, pelas críticas e sugestões precisas e oportunas durante o acompanhamento deste trabalho. À banca de qualificação, composta pela Professora Doutora Rebeca Scherer e Professora Doutora Angélica A.T. Benatti Alvim, pelas importantes observações e sugestões bibliográficas que contribuíram para a complementação desta pesquisa. Aos meus amigos e aos colegas da Prefeitura Municipal de São José dos Campos pelo incentivo. Aos meus pais (in memoriam), familiares e ao Adilson Raimundo da Silva (Tico) pela tolerância, paciência e apoio afetivo. “... o olhar percorre as ruas como se fossem páginas escritas: a cidade diz tudo o que você deve pensar, faz você repetir o discurso, e enquanto você acredita estar visitando Tamara, não faz nada além de registrar os nomes com os quais ela define a si própria e todas as suas partes.” (Calvino, 1990) RESUMO COSTA, P. E. O. O Edifício e a Lei em São José dos Campos, 2016. 230 f. Tese de doutorado - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2016. Esta tese tem como objeto o processo de verticalização em São José dos Campos e suas correlações com a legislação urbanística. Constata-se que a legislação urbanística de São José dos Campos e de outras cidades brasileiras é fator fundamental no processo de verticalização. Este estudo tem como ênfase a relação do edifício com a legislação urbanística, a relação da produção do espaço social urbano e a segregação socioespacial. Acredita-se que a legislação urbanística não só atende aos interesses do capital, mas, também é fundamental para a compreensão do pensamento urbanístico da época em que foi aplicada e, principalmente, de identificar os seus diferentes contextos políticos e econômicos. Busca-se compreender o papel do mercado imobiliário e suas relações com a legislação urbanística e do edifício e sua inserção urbana e dos efeitos da verticalização no tecido urbano e na paisagem urbana. Em São José dos Campos, assim como na maioria das cidades brasileiras, o Estado vem incentivando o processo de verticalização, em grande parte, por meio da legislação urbanística através dos Códigos de Obras, Planos Diretores e, principalmente, pelas Leis de Uso e Ocupação do Solo (Zoneamento). Este estudo tem o objetivo maior de contribuir na elaboração de novas políticas urbanas que visem a melhoria da qualidade de vida dos habitantes das cidades. Palavras-chave: São José dos Campos. Planejamento Urbano. Legislação Urbanística. Verticalização. Qualidade de Vida. ABSTRACT COSTA, P. E. O. The Building and the Law in São José dos Campos, 2016. 230 p. PhD thesis - College of Architecture and Urbanism, Mackenzie Presbyterian University, São Paulo, 2016. This thesis has on its objet the verticalization process in São José dos Campos and it is correlation with the urban legislation. It can be seen that the urban legislation in Sao José dos Campos and others brazilians cities is a fundamental factor in the verticalization process. This study has the emphasis on the buildings relationship with the city planning legislation, the ratio with urban social space production and the socio-spatial segregation. It is believed that the city planning legislation not only serves the capital interests, but it is also a key to understanding the urban thought at the time it was applied and, especially, to identify its different political and economic contexts. We seek to understand the role of the real estate market and its relation with the city planning legislation and the buildings and its urban insertion and the effects of vertical integration in the urban fabric and the city landscape. In São José dos Campos, as well as in most brazilians cities, the Government have encouraged the verticalization process, largely through planning legislation such as Building Codes, Master Plans and mainly by the Laws of Use and Occupation Soil (Zoning). This study aims to contribute to the development of new urban policies focused on improving the life quality for the city dwellers. Keywords: São José dos Verticalization. Life Quality. Campos. Urban Planning. Urban Legislation. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Linha do Tempo – Legislação Urbanística São José dos Campos…........76 Figura 2 – Quadro Geral - Legislação Urbanística – São José dos Campos..............77 Figura 3 - Estação Ferroviária – Ramal Parathey......................................................99 Figura 4 – Foto da Tecelagem Parahyba – Fim de turno em 1930...........................100 Figura 5 – Vista aérea do Complexo da Tecelagem Parahyba................................100 Figura 6 - Sanatório Vicentina Aranha – Vista aérea...............................................101 Figura 7 – Sanatório Vicentina Aranha....................................................................102 Figura 8 – Sanatório Vicentina Aranha e arredores.................................................102 Figura 9 - Avenida São José e orla do Banhado na Região Central.........................105 Figura 10 – Avenida João Guilhermino e as palmeiras imperiais............................106 Figura 11 – Jardim Nova América e Esplanada I e II...............................................107 Figura 12 – Rhodia S.A...........................................................................................108 Figura 13 – São José dos Campos na década de 1940...........................................110 Figura 14 – Origens e Antecedentes da verticalização em São José dos Campos..................................................................................................................113 Figura 15 – Rua XV de Novembro..........................................................................114 Figura 16 – Edifício Sunset.....................................................................................118 Figura 17 – Edifício Cinelândia...............................................................................120 Figura 18 – Edifício Grande Hotel em frente à Igreja Matriz....................................121 Figura 19 – Região central nos anos de 1960.........................................................121 Figura 20 – Vista aérea de São José dos Campos na década de 1960...................122 Figura 21 – Edifício Grande Hotel...........................................................................122 Figura 22 – Indústria Ericsson – 1960 – Projeto de Oscar Niemeyer......................123 Figura 23 – Shopping Center Vale..........................................................................124 Figura 24 – Edifício San Marco...............................................................................125 Figura 25 – Verticalização da Vila Ady’anna...........................................................134 Figura 26 – Catedral São Dimas e Faculdade de Odontologia UNESP...................134 Figura 27 – Edifício Nacional..................................................................................135 Figura 28 – Edifício Ipanema..................................................................................135 Figura 29 – Edifício Mansão do Vale......................................................................136 Figura 30 – Edifício Market Center.........................................................................136 Figura 31 – Edifício Samambaia.............................................................................137 Figura 32 – Edifício Vip Center................................................................................137 Figura 33 – Propaganda da Luiz Roberto Porto Imóveis em 1984.........................138 Figura 34 – Praça dos Expedicionários – Terminal rodoviário intermunicipal, em 1975.......................................................................................................................139 Figura 35 - Conjuntos habitacionais na Região Leste e o Projeto CURA (Comunidade Urbana para Recuperação Acelerada) ...................................................................142 Figura 36 - Quadra destinada aos equipamentos comunitários: Teatro, Tiro de Guerra, Hospital, Pronto Socorro, Velório Municipal, Urbam S/A (Urbanizadora Municipal) e complexo poliesportivo.......................................................................143 Figura 37 – 2º Período – 1971 a 1996 – Vista da Região Central, Vila Ady’anna e Esplanada..............................................................................................................149 Figura 38 – Bairro Jardim Esplanada II (Região Oeste) – verticalização avança e invade a privacidade dos moradores......................................................................151 Figura 39 – 2º Período do processo de verticalização em São José dos Campos – 1971 a 1996............................................................................................................155 Figura 40 – 3º Período 1997 a 2015 – Região Centro / Parque Vicentina Aranha / Vila Ady’anna..........................................................................................................177 Figura 41 – Vista aérea da antiga fábrica da Alpargatas.........................................179 Figura 42 – Conjuntos habitacionais na Região Leste e o Projeto CURA................179 Figura 43 – 3º Período 1997 a 2015 – Região Nobre – Oeste (Vila ema / Shopping Colinas / Av. Jorge Zarur e Eduardo Cury) ............................................................180 Figura 44 – 3º Período 1997 a 2015 – Região Oeste / Jardim Aquárius / Anel Viário......................................................................................................................180 Figura 45 – Edifício Sky House..............................................................................181 Figura 46 – Edifício The View Club Residence........................................................181 Figura 47 – Edifício Central Park Aquárius..............................................................182 Figura 48 – Edifício Le Classic................................................................................187 Figura 49 – Edifício The One...................................................................................188 Figura 50 – Edifício Helbor Offices Jardim Colinas.................................................188 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Edifícios produzidos com habite-se (curva da verticalização) ...............72 Gráfico 2 – Índices de inflação, no período de 1964 até 2013..................................73 Gráfico 3 – Número de ofertas de lotes no Município...............................................74 Gráfico 4 – Número de projetos aprovados...............................................................75 Gráfico 5 – Crescimento populacional das regiões urbanas de São José dos Campos..................................................................................................................130 Gráfico 6 – Evolução da condição de propriedade – apartamento..........................184 Gráfico 7 – Evolução da condição de propriedade – casa.......................................184 Gráfico 8 – Edifícios por região – 2013...................................................................185 Gráfico 9 – Edifícios segundo padrão e região........................................................191 Gráfico 10 – Edifícios produzidos (ano a ano) no período de 1997 – 2012..............198 Gráfico 11 – Número de edifícios segundo uso e região 1997 – 2013.....................201 Gráfico 12 – Unidades residenciais produzidas por região – 1997 a 2013..............202 Gráfico 13 – Números máximo e médio de pavimentos – 1997–2013....................205 LISTA DE MAPAS Mapa 1 – Evolução Urbana no período até 1950.....................................................111 Mapa 2 – Edifícios em São José dos Campos até 1954..........................................112 Mapa 3 – Edifícios em São José dos Campos no 1º Período – 1955 a 1970.........116 Mapa 4 – Evolução Urbana no período entre 1950 a 1960.....................................117 Mapa 5 – Evolução urbana de São José dos Campos até 1950, entre 1950 a 1960 e entre 1960 a 1970...................................................................................................130 Mapa 6 – Edifícios em São José dos Campos no 2º Período – 1971 a 1996...........132 Mapa 7 – Centro, Vila Ady’anna e Jardim São Dimas............................................133 Mapa 8 – Centro, Vila Ady’anna, Jardim São Dimas e Vila Industrial.....................142 Mapa 9 – Primeira Lei de Zoneamento – Lei 1606/71.............................................145 Mapa 10 – Segunda Lei de zoneamento – Lei nº 2263/80.......................................153 Mapa 11 – Evolução urbana - períodos entre 1978 a 1986 e 1986 a 1989. ...........158 Mapa 12 – Terceira Lei de Zoneamento – Lei nº 3721/90........................................161 Mapa 13 – Quarta Lei de Zoneamento – Lei nº 165/97...........................................167 Mapa 14 – Zoneamento e Verticalização................................................................172 Mapa 15 – Região Central – Lei de Zoneamento nº 165/97....................................173 Mapa 16 – Região Central – Lei de Zoneamento nº 428/10.....................................174 Mapa 17 – Verticalização existente – antes e depois de 1997.................................176 Mapa 18 – Densidade em São José dos Campos...................................................178 Mapa 19 – Total de Edifícios por Setor Econômico.................................................186 Mapa 20 – Distribuição dos Edifícios segundo Uso.................................................190 Mapa 21 – Distribuição dos Edifícios segundo Padrão Construtivo.........................190 Mapa 22 – Distribuição de Edifícios segundo Número de Blocos............................192 Mapa 23 – Distribuição dos Edifícios Altos..............................................................195 Mapa 24 – Somatório do Número de Pavimentos de Edifícios por Setor Socioeconômico.....................................................................................................195 Mapa 25 – Distribuição dos Edifícios Altos..............................................................196 Mapa 26 – Mapa de Kernel.....................................................................................197 Mapa 27 – Mapa de Kernel.....................................................................................197 Mapa 28 – Distribuição dos Edifícios Segundo Número de Pavimentos................207 Mapa 29 - Verticalização e Renda..........................................................................207 Mapa 30 - Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte......................210 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Evolução Populacional do Município entre 1940-2010..........................128 Tabela 2 – Participação da População de São José dos Campos na Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte e do Estado de São Paulo...........129 Tabela 3 – Tabela dos conjuntos habitacionais.......................................................142 Tabela 4 – Características de Uso e Ocupação de Lotes (Lei 165/97) ....................174 Tabela 5 – Características de Uso e Ocupação de Lotes (Lei 428/10) ....................175 Tabela 6 – Uso e Ocupação de Lotes (Lei 428/10) – atividades permitidas.............175 Tabela 7 – Evolução da ocupação residencial em apartamentos............................183 Tabela 8 – Edifícios por região................................................................................185 Tabela 9 – Distribuição dos edifícios quanto ao uso segundo região......................186 Tabela 10 – Edifícios segundo padrão construtivo..................................................190 Tabela 11 – Quantidade de edifícios segundo número de blocos...........................192 Tabela 12 – Quantidade de edifícios segundo número de pavimentos...................193 Tabela 13 – Edifícios altos segundo região (14 pavimentos e mais) .......................194 Tabela 14 – Maiores concentrações de edifícios altos (14 pavimentos e mais) ......194 Tabela 15 – Edifícios segundo região (1997-2013) ................................................199 Tabela 16 – Número de edifícios - padrão construtivo e região (1997-2013) ..........200 Tabela 17 – Edifícios segundo uso (1997-2013) ....................................................200 Tabela 18 – Edifícios residenciais produzidos - 1997-2013 segundo região..........201 Tabela 19 – Produção anual de edifícios residenciais no período 1997-2013.........202 Tabela 20 - Logradouros de localização dos edifícios residenciais (1997-2013) …203 Tabela 21 - Edifícios comerciais segundo região (1997-213) .................................204 Tabela 22 - Bairros - maior concentração edifícios comerciais (1997-2013) ..........202 Tabela 23 - Edifícios mistos erguidos segundo região (1997-2013) .......................205 Tabela 24 - Distribuição dos edifícios segundo número de pavimentos..................206 Tabela 25 - Edifícios produzidos -número de pavimentos (1997-2013) ..................206 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 16 CAPÍTULO 1 – A PRODUÇÃO DA VERTICALIZAÇÃO.......................................... 31 1.1 O Problema da Verticalização .......................................................................... 32 1.2 A Produção Social do Espaço e o Papel do Estado ......................................... 41 1.3 O Processo de Verticalização nas Cidades Brasileiras ..................................... 53 1.4 A Especificidade De São José Dos Campos ..................................................... 69 CAPÍTULO 2 – ORIGENS E ANTECEDENTES DA VERTICALIZAÇÃO EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS...............................................................................................91 2.1 Origens da Legislação Urbanística e da Verticalização em SJCampos ............ 85 2.2 A Constituição da Indústria da Construção Civil em SJCampos ....................... 95 2.3 Primeiro Período de Verticalização de SJCampos – 1954 a 1970 .................. 114 CAPÍTULO 3 – SEGUNDO PERÍODO – 1971 a 1996 .......................................... 126 3.1 Descentralização e Intensificação ................................................................... 127 3.2 A Legislação de 1970 ...................................................................................... 139 3.3 A Legislação dos Anos de 1980 ...................................................................... 148 3.3 A Legislação da Década de 1990.................................................................... 158 CAPÍTULO 4 – A VERTICALIZAÇÃO METROPOLITANA.................................... 169 4.1 Terceiro Período – 1997 a 2015 ...................................................................... 170 4.2 Panorama e Configuração Atual ..................................................................... 182 4.3 – O Desafio Metropolitano ............................................................................... 208 CONCLUSÕES: .................................................................................................... 214 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................220 OBRAS CONSULTADAS.......................................................................................226 16 INTRODUÇÃO Esta tese tem como objeto o processo de verticalização em São José dos Campos desde suas origens até agosto de 2015 e suas correlações com a legislação urbanística e insere-se no projeto “Verticalização, projetos urbanos e inclusão social”, na linha de pesquisa “Urbanismo Moderno e Contemporâneo”1 do programa de pós-graduação de arquitetura e urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Procura-se comprovar que a legislação urbanística de São José dos Campos e de outras cidades brasileiras é fator fundamental no processo de verticalização. Buscamos responder se a lei controla a verticalização e produz qualidade de vida; se a legislação urbanística interfere, ou não, no processo de verticalização das cidades brasileiras e como a lei é produzida. Se adotarmos o conceito de Estado como representante das classes dominantes, em última instância, a lei é uma consequência da acumulação do capital. Verificamos, a seguir, como ocorreu em São José dos Campos. Num primeiro momento, verificou-se que a legislação urbanística em São José dos Campos acontece de forma mais expressiva, simultaneamente, ao primeiro período do processo de verticalização dessa cidade. O marco do processo de verticalização em São José dos Campos é o ano de 1954 quando foi promulgado o primeiro Código de Obras e este tinha como intuito a regulação das edificações que ocorriam, até então, sem o controle do Estado. A partir daí, várias outras leis e planos sempre tiveram a preocupação de não apenas ordenar o território, mas, de certa forma, incentivar a produção de edifícios e de atender não só o mercado imobiliário (o capital). A legislação urbanística de São José dos Campos mostrou também que houve uma preocupação, pelo menos no discurso, de seus elaboradores de promover uma boa qualidade de vida à população desse município. Ao analisarmos a legislação urbanística dessa cidade verificou-se, ainda, que São José dos Campos trata-se de um verdadeiro “laboratório de ideias” e foi possível constatarmos o quanto 1 Urbanismo Moderno e Contemporâneo: Análise crítica das transformações da cidade contemporânea, processo de produção do espaço urbano; urbanização e urbanismo moderno e contemporâneo; intervenções urbanísticas com ênfase nos problemas emergentes e soluções atuais, em perspectiva transformadora. Espaço construído e público, agentes, instrumentos urbanísticos, política urbana, projeto urbano e plano urbanístico, intervenção e sustentabilidade; patrimônio cultural e intervenção em centros históricos e áreas degradadas, ambiente e sustentabilidade; historiografia do urbanismo moderno e contemporâneo brasileiro. 17 a legislação interfere no processo de verticalização e no espaço urbano dessa cidade. Como exemplo, citamos a proposta da lei de zoneamento de 1996 que possuía instrumentos urbanísticos inovadores para a época (anteriores ao Estatuto da Cidade de 2001) e que foram discutidos no Seminário Internacional “Instrumentos de Manejo do Solo Urbano: experiências e possibilidades” em São José dos Campos. De maneira geral, os instrumentos urbanísticos apresentados eram advindos de um movimento internacional2 e esses surgiram da necessidade de se mudar a forma de dirigir o crescimento das cidades e, também, para incentivar a criação de fóruns que efetivamente contemplassem a gestão dessas matérias. O objetivo central desse seminário foi o de promover a discussão da experiência dos municípios brasileiros em propor e aplicar novos instrumentos urbanísticos para o manejo do solo urbano. Esse seminário também visava avaliar a eficácia no atendimento dos objetivos e estratégias propostas e sua influência sobre os mercados fundiários e imobiliários urbanos como veremos no capítulo 3. A tese aqui apresentada é de que a legislação é fundamental no processo de verticalização de São José dos Campos e, provavelmente, da maioria das cidades brasileiras. De uma forma geral, a legislação determina as configurações espaciais e suas tipologias resultantes que podem ser identificadas no tecido urbano existente e na relação das tipologias com as referidas configurações que lhe deram origem. Acreditamos que a legislação urbanística não só atende aos interesses do capital e que esta é fundamental para a compreensão do pensamento urbanístico da época em que foi aplicada. Este estudo tem o objetivo maior de contribuir na elaboração de novas políticas urbanas que visem a melhoria da qualidade de vida dos habitantes dessa cidade. Busca compreender o papel do mercado imobiliário e suas relações com a legislação urbanística e do edifício e sua inserção urbana e dos efeitos da verticalização no tecido urbano e na paisagem urbana. Nesta pesquisa, utiliza-se como objeto a verticalização e a legislação urbanística de São José dos Campos, uma cidade paulista situada no eixo Rio – São Paulo, com 688.577 habitantes, segundo estimativa do IBGE para 2015. Em 2014, São José dos Campos despontou como o 7º município mais populoso do estado de São Paulo, o 27º de todo o país e sede da Região Metropolitana do Vale do Paraíba 2 Naquele período estavam sendo discutidos os preceitos contemporâneos e recentes do urbanismo que, na Conferência Mundial Habitat II de 1996, em Istambul, foram consolidados em um documento. 18 e Litoral Norte, formada por 39 municípios agrupados em cinco sub-regiões, criada pela lei complementar estadual nº 1.166, de 9 de janeiro de 2012. Concluímos que São José dos Campos não é uma cidade média, mas, um centro metropolitano. O recorte temporal adotado é o período de 1971, data da promulgação da 1ª lei de zoneamento, e o ano de 2010, data da promulgação da lei de zoneamento vigente, por tratar-se de um período no qual ocorreu a produção mais intensa dos edifícios e os diversos incentivos advindos da legislação urbanística para a verticalização que iremos apresentar no discorrer deste estudo. Estruturamos este trabalho em quatro capítulos. No primeiro capítulo, denominado “A produção da verticalização”, são feitas considerações sobre a produção social do espaço urbano e, principalmente, do papel do Estado no processo de verticalização que vem ocorrendo nas cidades brasileiras. A construção de um quadro conceitual teórico permitiu-nos a aproximação adequada com o material empírico. Ressalta-se que a Escola de Sociologia Urbana Francesa é essencial na formulação da teoria uma vez que não existe, de forma constituída, uma teoria do urbanismo e somos obrigados a emprestar conceitos da Economia, Sociologia, Geografia e até da Filosofia para compormos um instrumental que possibilite aproximações e mediações para que possamos alcançar o nosso objetivo.3 Primeiramente, discutimos sobre a verticalização que pode ser apontada como um exemplo de materialização das transformações técnicas que atingem as cidades contemporâneas de forma contundente. Mais especificamente, em São José dos Campos, onde a verticalização é estimulada pela legislação urbanística como símbolo de progresso que ela representa. A seguir, fez-se necessário esboçarmos algumas referências teóricas sobre a produção social do espaço urbano e o papel do Estado. Num terceiro momento, destacamos as especificidades de algumas cidades brasileiras com o objetivo de entendermos como vem ocorrendo o processo de verticalização dessas cidades e verificarmos que há muitas similaridades e concomitâncias com São José dos Campos. Por último, neste capítulo, após elaboração de gráficos sobre os edifícios produzidos com “habite-se” em São José dos Campos, inflação no Brasil ano a ano, ofertas de lotes no Município, aprovação de projetos e de um quadro da legislação urbanística mais relevante e seus Em Sessões Livres do XVI ENANPUR – Espaço, Planejamento e Insurgências em Belo Horizonte 2015, tema: Verticalização das cidades brasileiras: legislação, forma urbana, densidades e qualidade de vida. Coordenação: Prof.ª Dr. ª Nadia Somekh. 3 19 incentivos à verticalização por décadas, foram feitos cruzamentos desses gráficos com a legislação urbanística e a partir deste estudo elaborou-se uma periodização que foi dividida quatro partes: 1ª) “Origens e antecedentes da verticalização em São José dos Campos”, 2ª) O primeiro período, “Os primórdios da verticalização em São José dos Campos de 1954 a 1970”, 3º) O segundo período, denominado “Intensificação e Descentralização”, de 1971 a 1996 e 4ª) O terceiro período, “Verticalização Metropolitana”, que relata o período de 1997 a agosto de 2015. Observamos no processo de verticalização de São José dos Campos a presença de três períodos e um quarto período que começa a ser delineado. Este, certamente, tratará sobre o desafio metropolitano a ser enfrentado por São José dos Campos e região quanto à verticalização nos municípios que compõem a Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte. Atualmente, a verticalização dessa região metropolitana, assim como as demais do Brasil, vem se expandindo sem produzir uma metrópole compacta e densa. Este processo poderá ser revertido com instrumentos urbanísticos que utilizem sistemas de transportes que resultem em cidades mais compactas. No segundo capítulo, “Origens e Antecedentes da verticalização em São José dos Campos”, inicialmente descrevemos um panorama das origens e constituição da indústria da construção civil de São José dos Campos, de 1954 a 1970. São identificados os seus primeiros construtores e relatados os primórdios do processo de verticalização. Num segundo momento, aborda-se o processo de produção industrial ocorrido nesse período e verifica-se que não havia parâmetros urbanísticos (sem controle do Estado). São comentados os efeitos do controle do Estado (pós promulgação do Código de Edificações de 1954). Neste capítulo busca-se, ainda, discorrer como se deu a construção do polo tecnológico regional de São José dos Campos, uma vez que a verticalização em São José dos Campos sempre esteve atrelada ao processo de industrialização. No terceiro capítulo, “Descentralização e Intensificação – 1971 a 1996”, apresenta-se o segundo período da verticalização em São José dos Campos e destaca-se alguns aspectos relevantes sobre a primeira lei de uso e ocupação do solo e as principais diretrizes do PDDI, ambas de 1971. Esse plano teve como premissa não incentivar a expansão horizontal em São José dos Campos com o objetivo de produzir uma cidade compacta e densa. Numa primeira abordagem, 20 podemos dizer que essa premissa do PDDI de 1971 não conseguiu produzir uma cidade mais densa, assim como em São Paulo, e defendida por Somekh em 1994. Contextualizamos o milagre econômico, os financiamentos do BNH e a aceleração industrial que ocorreu nesse período no Brasil e que deram início à formação do atual polo tecnológico regional de São José dos Campos. Nesse período, ocorre o “boom" imobiliário da década de 1980, concomitante com a promulgação da Lei de Zoneamento de 1980. Ocorre a promulgação do Código de Obras de 1985 que trouxe mais exigências e controle. Trata-se de um período de uma intensa verticalização, de característica elitizante e destinada às classes de maior renda. Com o intuito de dar continuidade à compreensão do processo de verticalização de São José dos Campos, descrevemos a crise industrial que ocorreu no final da década de 1980 e meados dos anos de 1990, tempos de recessão econômica e de inflação alta no Brasil. Ressaltamos que este período foi marcado pelas alternativas adotadas pelas construtoras e incorporadores para financiar seus compradores, assumindo, então, o papel de instituição bancária e o uso da legislação como incentivadora da verticalização. Ainda neste terceiro capítulo, a legislação urbanística adotada pelo Poder Público nas décadas de 1970, 1980 e 1990 são analisadas. Foi possível verificar as diversas formas de agir do Estado no processo de verticalização de São José dos Campos. As mudanças na legislação municipal no decorrer dessas décadas dão um sentido temporal ao processo e, associadas a fatores como o investimento do setor imobiliário e às novas possibilidades de ocupação, contribuem para a periodização do processo no decorrer deste trabalho. No quarto capítulo, “A verticalização e o desafio metropolitano”, de 1997 até o ano de 2015, relata-se o terceiro período do processo de verticalização de São José dos Campos. Constata-se que a verticalização se pulveriza por todas as regiões. O ano de 1997 foi o da promulgação da lei de zoneamento que transformaria a cidade em uma grande zona de uso misto, com coeficientes de aproveitamento de três vezes o terreno, em quase a totalidade de seu território, sendo preservada, com coeficientes de 1,3, a zona residencial ZR1. Este período foi concomitante ao Plano Real e ao início de uma estabilização econômica (de combate à inflação), da retomada do crescimento econômico, da renda do trabalhador e da oferta de trabalho, marcado pelo início do Plano Nacional de Habitação (1996). Desse período foi levantado o 21 número total de edifícios com “habite-se” até agosto de 2015 com o intuito de elaborarmos uma configuração espacial e um panorama atual do processo de verticalização em São José dos Campos. É possível verificarmos que a legislação deste período continua a promover a verticalização e não vem produzindo uma cidade compacta e densa. Podemos constatar ao verificarmos que nas regiões mais verticalizadas, como por exemplo, a Vila Ady’anna (centro) possui uma densidade de 146 hab/ha e nas áreas horizontalizadas, como exemplo, o Campo dos Alemães (extremo sul) possui o índice de 145 hab/ha. Nesse capítulo, procura-se, também, esboçar o desafio metropolitano a ser enfrentado no processo de verticalização em São José dos Campos e que vem ocorrendo na região metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, com o desafio da legislação urbanística de solo metropolitano a ser aplicada nos próximos anos – um quarto período está por iniciar-se. Apropriando-se das informações contidas em cada um dos capítulos, é realizada a análise final do processo de verticalização que constitui as considerações finais. É por meio desta perspectiva que se comprova a tese de que a legislação urbanística em São José dos Campos ser fator fundamental no processo de verticalização e, provavelmente, nas cidades brasileiras, porém, não traz, necessariamente melhorias na qualidade de vida, pois a expansão traz altos custos sociais de urbanização. Em São José dos Campos, é fato que o processo de verticalização vem ocorrendo nos últimos quarenta anos sob o controle e organização do Estado por meio da legislação urbanística. Este estudo representa uma continuidade e teve origem na dissertação de mestrado denominada “Legislação urbanística e crescimento urbano em São José dos Campos”, sob orientação da Professora Doutora Rebeca Scherer e apresentada em junho de 2007, na FAUUSP. Nesse estudo, constatou-se que apesar da extensa legislação urbanística de São José dos Campos, esta não trouxe correspondente qualidade de vida4 para sua população. Esta constatação pode ser verificada através dos baixos índices de IDH apresentados nos últimos anos. A dissertação de mestrado foi balizada na premissa de que a legislação urbanística é fator fundamental da estruturação do habitat e, portanto, das condições de vida do 4 Qualidade de vida como um conceito que expressa a condição de bem-estar dos habitantes de uma cidade. 22 conjunto da população. Teve como estudo de caso a cidade paulista de São José dos Campos, um importante centro urbano receptor de investimentos, porém com baixo desempenho nos índices de qualidade de vida. Essa tese teve como intuito trazer para discussão algumas contribuições para futuras revisões do conjunto de leis urbanísticas existentes nas cidades brasileiras, de modo a influir na produção do espaço urbano e nas suas relações, na melhoria das condições de vida urbana e de seus habitantes. A lei não produziu qualidade de vida e veremos que se expandiu e não produziu uma cidade compacta e densa. Esta inquietude persiste e um fato relevante destaca-se na preocupação de São José dos Campos, desde 1970, em utilizar da legislação urbanística como instrumento do Estado para promover o seu crescimento econômico por meio da verticalização. Somekh (1997) aponta para a natureza das relações estabelecidas entre o arranha-céu e a cidade: de ser não apenas volumétrica, mas essencialmente simbólica na medida em que o edifício alto supõe desenvolvimento tecnológico, constitui manifestação das forças de mercado e implica novas formas de consumo. A autora ressalta que a forma simbólica assumida de arranha-céus representou, de um lado, a introdução do progresso na cidade, de outro, um processo de internacionalização, isto é, a entrada dos Estados Unidos na economia brasileira e, especificamente, em São Paulo, a “locomotiva do Brasil”. Esse fato ocorreu nas demais cidades brasileiras, inclusive em São José dos Campos. É interessante destacarmos que o significado da dimensão não é só simbólico, mas também econômico da verticalização que sempre esteve presente, desde o surgimento dos primeiros arranha-céus, associando-se a essa forma arquitetônica / geográfica a ideia de desenvolvimento e progresso. Recentemente, os “Tigres Asiáticos” vêm construindo os edifícios mais altos do mundo e aproveitamse deste fato como uma forma de expressar o seu poderio econômico, tentando superar os edifícios construídos em outras partes do mundo. Dos dez maiores edifícios construídos ou em construção no mundo, sete estão na Ásia, onde a escassez de terrenos é apontada como a principal razão para a proliferação desse tipo de construção. Trata-se de uma ação simbólica de marketing com o objetivo de novos investimentos. Quanto mais alto, maior poder econômico. A primeira ideia da proposta desses "neoplanejadores" é pensar a cidade como uma mercadoria posta à venda num mercado globalizado no qual centenas de outras cidades-mercadorias 23 também estão à venda. Está implícita a valorização da apropriação privada e concentrada do capital, simbolizada nas torres altas e únicas. A imagem não é apenas do poder e sim da concentração do capital privado. Ressalvamos que a construção de um quadro conceitual teórico permitiu a nossa aproximação adequada com o material empírico. Os trinta anos de atuação na área do planejamento físico e territorial urbano, com participação na equipe técnica da elaboração de três planos diretores (1995, 2006 e 2016) e três leis de uso e ocupação do solo (1990, 1997 e 2010) de São José dos Campos e, mais recentemente, na Câmara Técnica para a elaboração do primeiro Plano Diretor Urbano Integrado (PDUI) da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte forneceram-me experiências e um farto material empírico sobre o qual apoiei as nossas questões para esta tese de doutorado. Numa primeira abordagem, entende-se que o Estado é representante das classes dominantes que produz a legislação e esta atende à reprodução do capital. Segundo a definição dos marxistas, o Estado representa as classes dominantes e articula seus diversos segmentos (capital industrial, financeiro, comercial, etc.) e produz as condições gerais para a reprodução do próprio capital. Esse conceito é adotado por vários autores marxistas: Castells (1972), Lojkine (1981) e Topalov (1979). Entendemos que a legislação deve propiciar uma adequada reprodução do processo de acumulação em determinado momento histórico. Para Gottdiener (1993), no livro “A produção social do espaço”, o estado representa frações de classe e o capital manipula a legislação, por meio de sua influência sobre o Estado, e define os seus eixos de atuação. O autor reforça com muita ênfase a questão das frações de classes, explicando que existem várias frações da classe capitalista e que, muitas vezes, se opõem. Entendemos que cada fração interpreta as regulações da forma que lhe convém – dessa forma, segundo nosso entendimento, a regulação provida da legislação – a sua ausência e a forma como ela incide de modo diferente em diversas áreas da cidade – define e promove a verticalização, portanto, sendo um dos fatores fundamentais e, provavelmente, o mais importante na produção da verticalização no espaço urbano. Esclarecemos que quando recortarmos a visão do todo é para uma melhor compreensão da nossa questão central de que a legislação é fundamental no 24 processo de verticalização de São José dos Campos e, provavelmente, da maioria das cidades brasileiras. A legislação urbanística é um fator fundamental da estruturação do habitat e, portanto, das condições de vida do conjunto da população . Entendemos que a legislação não deve apenas atender ao capital, mas, principalmente, deve proporcionar uma boa qualidade de vida à população. Observamos que o entendimento dessa questão se trata de ser mais complexa como, por exemplo, ao fato de a legislação definir tipologias verticais que passam a aparecer a partir de uma certa regulação promovida por uma legislação, no momento em que o mercado começa a interpretar essa nova regulação e de acordo com seus próprios interesses. Outra parte de nossa resposta está, principalmente, no entendimento da produção social do espaço urbano e na compreensão do papel do Estado como agente produtor que iremos apresentar no primeiro capítulo deste estudo. Lefebvre (1974) lembra que o Estado não apenas intervém no espaço, como também o produz, e o produz de forma policiada. O Estado desenvolve um monopólio das ideias sobre o planejamento territorial, constituído de um lado por regulamentos e normativas, e sobre investimentos fundamentais na organização da cidade. Acreditamos que o discurso teórico, por meio da ação do Estado, serve para iludir a classe trabalhadora, levada a acreditar que a intervenção do Estado se presta, efetivamente, para a melhoria de suas condições de vida. Mas, acredita-se que a realidade seja outra; o fato é que o mercado da terra urbana, atuando de modo imperfeito, demanda a ação do Estado para liberar a terra para investimentos mais lucrativos. Outro fator relevante a ser considerado é que o Estado pode ser pressionado não só pelo capital, mas, também, pela participação popular e por outros segmentos da sociedade. Portanto, a legislação não é só um instrumento do capital. Observamos ainda que os técnicos (os burocráticos chamados por Weber) que a elaboram também não desejam que a legislação atenda, exclusivamente, aos interesses do capital. A nossa visão do Estado está referenciada pela Escola de Sociologia Urbana francesa. Lojkine (1981) em seu livro “Estado Capitalista e a Questão Urbana” nos faz entender o papel e o conceito de Estado. Naquele momento, são os franceses, que vão começar a perceber que entre o capital e o trabalho há um grande tema que estava em aberto e que não estava sendo objeto de estudo – a reprodução da força 25 do trabalho no que tange à cidade. São eles que também abordaram a questão dos bens de consumo coletivo e dentro desses bens de consumo coletivo, a habitação. Os franceses abordaram ainda que as cidades, e no caso do Brasil, mais distinta ainda do que uma cidade europeia, este processo de produção da cidade era mais perverso e não estava pautado nas lutas sociais. Topalov (1979) destaca que a questão era muito mais ampla e não poderíamos perder o foco entre capital e trabalho. Na verdade, temos duas grandes correntes dentro da discussão de espaço: uma que está focando mais a relação do capital e do trabalho e outra que vai focar capital/trabalho, mas, a partir da reprodução social. A nossa pesquisa tem como linha de trabalho a relação do capital e trabalho a partir da reprodução social. Topalov (id., 1979) relata como surge o Estado do bem-estar social. Na verdade, o que dá amparo à reforma urbana é o estado de bem-estar social. O autor vai retomar outras ideias sobre o conceito da luta capital e trabalho. No Brasil, nessa linha de pensamento, citamos Maricato e Bonduki que são os que vão procurar outros compromissos com o Estado e que irão delinear a perspectiva da reforma urbana. Isto mostra o quanto esta reforma é importante porque, a partir do momento que apresento esta tese para discutirmos a importância da verticalização, uma vez que a cidade de São José dos Campos está sendo reproduzida de uma determinada maneira, abrimos possibilidades de criação de instrumentos para conter este processo de produção de espaço e fazer um outro processo, por exemplo, através da legislação que produza mais densidades e mais pessoas em boas localizações. De fato, o que podemos observar é que o Estado continua a serviço do capital mesmo em cidades onde os partidos são de correntes ideológicas diferentes. Nesta pesquisa, estamos trabalhando com os teóricos que vêm o papel do Estado na reprodução da força do trabalho e a ideia do Estado do bem-estar social que vai estar presente e delineando a cidade. Esse Estado faz mediações dentro de uma cultura política e avança, de um modo sequencial, na tomada do Estado. A crítica que persiste é que, com todo o avanço que já tivemos com a reforma urbana e o Estatuto das Cidades, nossas cidades ainda não se alteraram de modo estrutural. Ressaltamos que São José dos Campos sempre teve uma legislação urbanística expressiva, no entanto, esta cidade não apresenta índices de qualidade de vida condizentes com o seu crescimento econômico. 26 Mesmo considerando que São José dos Campos apresente condições que a torne importante receptora de investimentos, não podemos deixar de considerar seu baixo desempenho quanto aos índices de qualidade de vida - (IDH)5 - índice de esperança de vida (IDHM-L) é a 114o, índice de educação (IDHM-E) é a 6a, índice de PIB (IDHM-R) é a 21a e no índice geral de desenvolvimento humano (IDH-M) ocupa a 24a posição no ranking do IDH-M entre todos os municípios do Brasil, e a 12a posição, entre os 645 municípios paulistas. A tese desta pesquisa é a de que a legislação urbanística, especificamente em São José dos Campos, é fundamental no seu processo de verticalização. Para respondermos essa questão sobre as possíveis relações da legislação urbanística com o processo de verticalização ocorrido em São José dos Campos foi necessária, inicialmente, a construção de um panorama atual que se baseou no estudo “Verticalização em São José dos Campos”, elaborado pela Secretaria de Planejamento Urbano sob a assessoria do IPPLAN, do qual participei da equipe técnica. Neste trabalho, foram levantados todos os edifícios construídos em São José dos Campos, desde suas origens até os mais recentes. Inicialmente, foram coletados na Prefeitura Municipal de São José dos Campos os dados cadastrados no Sistema Integrado de Receita e Fiscalização (SIRF). Também foram obtidos dados das plantas constantes dos processos de aprovação de projetos - microfilmados ou arquivados no Setor de Arquivo (SAQ) e nas planilhas de “habite-se” produzidas pela Divisão de Projetos Particulares da Secretaria de Obras, que tiveram uma importância fundamental para definição do ano de construção do edifício. Outra fonte de dados utilizada nesta pesquisa foram as fichas cadastrais da Supervisão de Campo e Levantamento Imobiliária – SCLI, da Prefeitura Municipal de São José dos Campos. Em várias situações, utilizamos o aplicativo PIMOB, desenvolvido para a Divisão de Patrimônio Imobiliário da Prefeitura, para conferência da grafia correta tanto dos nomes de loteamentos, quanto das ruas e da localização exata do edifício no bairro. 5 Concebido pela Organização das Nações Unidas (ONU) originalmente para medir o nível de desenvolvimento humano de países, através das dimensões longevidade, educação e renda, o IDH foi adaptado para ser utilizado como instrumento de avaliação de agrupamentos sociais menores - como os municípios -, surgindo assim o IDH-M. 27 É importante observarmos que nenhuma das fontes citadas continha integralmente as informações procuradas e para o fechamento do estudo foram efetuados levantamentos em campo a fim de preencher as lacunas existentes nas bases de informações, ou quando era identificada alguma inconsistência de dados entre as fontes. Também foram utilizados os dados constantes da “Pesquisa dos Edifícios de 3 Pavimentos e Mais”, de 1993, e as informações levantadas sobre os edifícios do período mais recente, dezembro de 2015, da Secretaria de Planejamento Urbano de São José dos Campos, e estes foram complementados e reunidos em uma mesma tabela Excel para a realização desta pesquisa. Num segundo momento, a tabela em Excel foi exportada para o programa estatístico SPSS6, tornando-se disponível para consultas e cruzamentos de diversas variáveis. Com base nessa tabela foi construído um banco de dados georeferenciado, elaborado pelo IPLAN, a partir do qual foram elaborados os mapas apresentados neste trabalho. A espacialização dos edifícios foi realizada por meio do processo de geocodificação de endereços, cuja finalidade foi a de transformar os dados de endereço postal em espaciais (dados pontuais) que teve como referência a Base de Arruamento de São José dos Campos em camadas de dados com informações geográficas, contendo os endereços que se espera encontrar. As informações dos edifícios foram disponibilizadas em tabela Excel e composta por 1234 registros até agosto de 2015. É importante ressaltarmos que entre os 1234 registros identificados neste estudo, 152 não foram encontrados de forma automática, por meio do processo de geocodificação. Esses dados foram inseridos no banco de forma manual, por meio de visita a campo. Uma vez associados a uma localização, juntamente com os atributos da tabela, os edifícios puderam ser inseridos em nosso estudo sobre o processo de verticalização de São José dos Campos. Em relação à legislação urbanística, foram analisados os quatro Planos Diretores, os Códigos de Obras, as Leis Municipais e as Leis Complementares mais específicas e incentivadoras ao processo de verticalização de São José dos Campos para que fossem feitos cruzamentos e a comprovação da tese. Foram selecionadas SPSS – é um dos programas de análise estatística mais usado nas ciências sociais; é também usado por pesquisadores de mercado, na pesquisa relacionada com a saúde, no governo, educação e outros sectores. 6 28 as seguintes leis: Lei nº 136/51, Código de Obras (Lei nº 281/54), Lei nº 664/60, Plano Diretor elaborado pelo CEPEUUSP (não aprovado), Lei de Zoneamento nº 1606/71, Decreto nº 1412/71, Código de Edificações (Lei nº 1578/70), PDDI (Lei nº 1623/71) elaborado pela SERETE S/A, Lei nº 1870/75, Lei nº 1755/75, Lei de Zoneamento nº 2263/80, Lei nº 2433/81, Lei nº 2855/84, Código de Obras (Lei nº 3039/85), Lei nº 3077/85, Lei nº 3096/86, Lei de Zoneamento nº 3721/90, PDDI de 1995 (LC nº 121/95), Pré-proposta de regulamentação do PDDI de 1995, LC nº 165/97 (Zoneamento), PDDI de 2006 (LC nº 306/06) e as LC nº 428/ 10 (Zoneamento) e a LC nº 488/10 (Transição) vigentes. Após efetuar o cruzamento da localização (espacialização do universo total de edifícios com “habite-se”) com a legislação urbanística produzida no período de 1950 a 2010 foi possível comprovarmos que a legislação urbanística produzida em São José dos Campos é fundamental e sempre presente e atuante no processo de verticalização dessa cidade. A princípio, pode-se afirmar que, de acordo com Somekh (1994), a ação do Estado como agente produtor de espaço é importante para explicar o fenômeno da verticalização. A legislação é um dos componentes da ação do Estado: planos e leis definem investimentos e outras ações da gestão urbana. A verticalização de São José dos Campos, assim como a de São Paulo, foi estimulada desde sempre, porém passa a ser limitada a partir de 2010, por meio do controle do gabarito de altura dos edifícios, na vigente lei de zoneamento7. Segundo Somekh (1994), “a legislação que interfere, efetivamente, na verticalização é aquela que limita ou estimula a potencialidade construtiva do terreno”. A autora mostra que, em São Paulo, a legislação limitou os gabaritos de altura dos edifícios num período e estimulou em outros. A legislação regula a potencialidade construtiva, limitando ou estimulando e dependendo do interesse das classes dominantes. Visa a melhoria das condições de reprodução capitalista do momento por meio de ciclos do investimentos no capital imobiliário e demandas específicas. Atualmente, em São José dos Campos, a verticalização está restrita por meio da Lei de Zoneamento (LC 428/10) ao gabarito máximo de altura dos edifícios em três categorias: 4 pavimentos, 8 pavimentos e até 15 pavimentos nas diversas zonas 7 LC 428/10, alterada pela LC 498/10. 29 de uso espalhadas por todo o seu território urbano. A verticalização de São José dos Campos, estimulada desde sempre, passa a ser limitada por meio da legislação urbanística. Esta legislação mais rígida é um dos fatores fundamentais para o que vem ocorrendo, ainda que em pequena escala, de um transbordamento da verticalização para as cidades vizinhas da região metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, como veremos no capítulo 4. Nas cidades brasileiras, mais especificamente em São José dos Campos, vêm ocorrendo um rápido e intenso processo de verticalização física e territorial, populacional e de renovação urbana, sobretudo a partir da metade do século XX, renovação tal para atender aos interesses da classe dominante, principalmente, a reprodução do setor imobiliário e suas demandas. Este trabalho tem como ênfase a relação do edifício com a legislação urbanística, a relação da produção do espaço social urbano e a segregação socioespacial. Com a intensificação do processo de instalação de indústrias, na década de 1970, ocorreu um grande crescimento econômico na cidade que ocasionou o aumento de atividades comerciais e de serviços que contribuíram para o surgimento dos primeiros edifícios na região central de São José dos Campos. Em 1971, foi promulgado o primeiro Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI) de São José dos Campos e uma de suas estratégias principais foi a de estimular a ocupação de grandes vazios urbanos, por meio da construção de edifícios para habitação coletiva e uso comercial nessas áreas. Consequentemente, os terrenos das áreas urbanas, principalmente aquelas centrais, e de bairros de classe média e alta, inflacionaram-se, pois, com o crescimento demográfico acelerado da cidade em consequência da expansão industrial e comercial, São José dos Campos tornou-se atraente principalmente aos trabalhadores da região sudeste do Brasil. Neste estudo, trataremos dos efeitos ocasionados pela legislação urbanística no processo de verticalização nas últimas quatro décadas (1970 – 2015) em São José dos Campos. Por meio da legislação urbanística é possível analisar com maior profundidade a intervenção do Estado no que diz respeito à regulamentação do processo de verticalização nesta cidade, fundamental. 30 Este estudo abre para discussão algumas contribuições para futuras revisões relativas ao conjunto de leis urbanísticas existentes nas cidades brasileiras, de modo a influir na produção do espaço urbano e das suas relações na melhoria das condições de vida urbana e de seus habitantes. Contribui-se, assim, com subsídios para que os profissionais, legisladores e governantes, mediante as informações contidas neste trabalho, possam produzir políticas públicas ao processo de verticalização, por meio de discussões e debates, que traga em benefício maior qualidade de vida à população das cidades brasileiras. Cumpre-se o seu objetivo maior de apresentar um documento cujos resultados possam ser úteis ao planejamento urbano e ao processo de verticalização, não apenas de São José dos Campos, mas das cidades brasileiras. 31 CAPÍTULO 1 – A PRODUÇÃO DA VERTICALIZAÇÃO Este capítulo estrutura-se em quatro partes. A primeira parte trata do problema da verticalização e, a princípio, constatamos que a verticalização é um processo de desenvolvimento urbanístico que se iniciou em grandes cidades e que, atualmente, vem ocorrendo em diversas cidades brasileiras. Consideramos que o Estado, como gestor dos diversos interesses conflitantes existentes na cidade e do plano como projeto social, tem como premissa a distribuição racional dos benefícios entre os diversos grupos de interesse na cidade. Na segunda parte, discorremos sobre a produção social do espaço e o papel do Estado. Destacamos que o espaço é uma totalidade cuja essência é social e o Estado representa as elites dominantes, incorporando as contradições entre as frações de capital e se constituindo num agente produtor do espaço a serviço da acumulação capitalista. A atuação do Estado visa criar condições de realização e reprodução da sociedade capitalista, isto é, condições que viabilizem o processo de acumulação e a reprodução das classes sociais. De fato, o Estado regula essas contradições, articulando entre si diversas frações de capital que representa e as relações capital e trabalho. Regula, ainda, os conflitos envolvidos na forma de essas frações se apropriarem do excedente social e os conflitos envolvidos nos interesses pela luta por qualidade de vida. Partimos do princípio que o Estado incentiva a verticalização, se esta for necessária à reprodução social naquele momento, por meio da legislação urbanística, portanto, fundamental no processo em si. Na terceira parte, destacamos algumas cidades brasileiras e as possíveis relações entre a verticalização e a legislação urbanística ocorridas nelas e verificamos que a legislação se apresenta não apenas como reguladora e a serviço do capital, mas, na maioria das vezes, como promotora e incentivadora da verticalização. Ressaltamos que não se trata de fazer um recorte da realidade e do conceito geral de Estado, mas, de refletir sobre o papel da legislação ser fundamental, um dos fatores mais relevantes da verticalização, quanto a sua produção. Na quarta e última parte foram elaborados quatro gráficos: 1) Os edifícios com “habite-se” para identificar a curva da verticalização; 2) Os índices de inflação no período de 1964 a 2015; 3) O número de ofertas de lotes e 4) O número de projetos aprovados e um quadro das principais leis e decretos de incentivos à verticalização de São José dos Campos, possibilitando elaborarmos uma periodização para o pleno desenvolvimento desta pesquisa. 32 1.1 O PROBLEMA DA VERTICALIZAÇÃO A verticalização pode ser apontada como um exemplo de materialização das transformações técnicas que atingem a cidade contemporânea de forma contundente. Tal fato deve ser considerado como uma consequência natural da urbanização, sendo uma das possíveis opções traçadas e definidas pelos diferentes atores sociais e interesses econômicos que envolvem a estruturação interna das cidades. Ficher (1994) lembra que esse processo foi viabilizado nas cidades modernas por meio do equacionamento de problemas técnicos da atividade construtiva, bem como da descoberta de novos materiais e da importante introdução do elevador. Segundo Souza (1994), "O Estado desempenha o papel de intermediário entre os donos da terra e os incorporadores ao liberar o solo para verticalização por meio de leis de uso do solo e, nesse contexto, a atuação do poder público influencia o processo de verticalização e o ordenamento do solo, ao promover a valorização de áreas propícias à verticalização por meio da implantação de políticas públicas8.” A política pública nasce, enquanto área de conhecimento e disciplina acadêmica, nos Estados Unidos, rompendo ou pulando as etapas seguidas pela tradição europeia de estudos e pesquisas nessa área, que se concentravam, até então, mais na análise sobre o Estado e suas instituições do que na produção dos governos. Na Europa, a área de política pública vai surgir como um desdobramento dos trabalhos baseados em teorias explicativas sobre o papel do Estado e de uma das mais importantes instituições do Estado (o governo), produtor, por excelência, de políticas públicas. Nos EUA, ao contrário, a área surge no mundo acadêmico sem 8 Entende-se como política pública o conceito de política e de administração que designa certo tipo de orientação para a tomada de decisões em assuntos públicos, políticos ou coletivos. Segundo Guareschi et al (2004, p.180), “é o conjunto de ações coletivas voltadas para a garantia dos direitos sociais, configurando num compromisso público que visa dar conta de determinada demanda em diversas áreas”. 33 estabelecer relações com as bases teóricas sobre o papel do Estado, passando direto para a ênfase nos estudos sobre a ação dos governos. A princípio, é possível afirmar que o Estado influencia a valorização da terra e, consequentemente, a verticalização por meio da taxação (tributos) e de algumas obras públicas, como a implantação do sistema de infraestrutura e equipamentos públicos. Assim, configurase que a verticalização de São José dos Campos é estimulada pela legislação urbanística como símbolo do progresso que ela representa. O processo de verticalização de São José dos Campos apresenta, a princípio, duas etapas: a primeira, residencial e a segunda, terciária (escritórios), que vem se intensificando em razão de São José dos Campos ser a sede da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, além de ser um polo de atração da região. Assim, como em outras cidades médias brasileiras, o desenvolvimento urbano, industrial e econômico de São José dos Campos fez com que seus imóveis centrais e legais ficassem mais valorizados. A verticalização, segundo Campos Filho (1992), acontece quando o preço da terra urbana é muito alto, fazendo com que os empresários imobiliários, para diluílo, busquem cada vez mais a redução do preço sobre o terreno, gerando edifícios mais altos. De acordo com Somekh (1997, p.20), “a verticalização foi definida como a multiplicação efetiva do solo urbano, possibilitada pelo uso do elevador”. A essa ideia associam-se a característica da verticalidade, o aproveitamento intensivo da terra urbana e o padrão de desenvolvimento tecnológico do século XX, demonstrando a relação da verticalização com a densidade. A autora expõe que São Paulo é vertical, mas, no entanto, não é densa. Em nossos estudos, podemos constatar que a verticalização em São José dos Campos não vem produzindo uma cidade compacta e densa. Para Ramires (1998): “Verticalizar significa criar novos solos, sobrepostos, lugares de vida dispostos em andares múltiplos, possibilitando o abrigo, em um local determinado, de maiores contingentes populacionais do que seria possível admitir em habitações horizontais e, por conseguinte, valoriza e revaloriza estas áreas urbanas pelo aumento potencial de aproveitamento". 34 Souza (1994) salienta que “a verticalização, ao longo da história de São Paulo, ocorreu em áreas já valorizadas”, e que a atuação do Estado neste processo esteve condicionada às decisões político-econômicas. A verticalização em São Paulo, e provavelmente na grande maioria das cidades brasileiras, busca áreas previamente valorizadas onde, geralmente, está a classe consumidora e, também, de acordo com o valor do terreno a ser incorporado que, para a autora, influenciaria no gabarito de altura como forma de diluir o investimento, chegando, então, ao que tecnicamente é conhecido como “fração ideal”. Esta é a lógica da atuação dos incorporadores imobiliários, no sentido de supervalorizar as áreas em que atuam no espaço urbano. Portanto, é possível concluir que a infraestrutura urbana influi decisivamente no preço da terra e, certamente, tem influência na estrutura e na forma urbana de ambas. Podemos concluir ainda que uma das principais questões urbana é a do preço da terra e o uso do solo. O preço da terra é o elemento responsável pelo estabelecimento do espaço urbano e pela segregação social na cidade. Para Lojkine (1981), a segregação urbana acontece em três situações distintas. A primeira, pela oposição entre centro e a periferia que reflete a oposição entre preço alto e preço baixo, ou seja, “renda de acordo com a localização”. A segunda distinção ocorre entre zonas reservadas às moradias de classes sociais mais altas e as zonas reservadas à moradia popular; a terceira, pela criação do zoneamento urbano. Sabemos que a terra urbana não é um bem produzido, portanto, não tem valor, mas ela adquire um preço. Segundo Singer (1977, p.38): “[...] o capital imobiliário é um falso capital. Ele é sem dúvida, um valor que se valoriza, mas a origem de sua valorização não é a atividade produtiva, mas a monopolização do acesso a uma condição indispensável àquela atividade”. Somekh (1994) acredita ser importante explicarmos a evolução das redes de infraestrutura e de transportes para que possamos entender a própria evolução das cidades. Outra parte importante que não pode ser esquecida é a questão do lugar – em referência ao uso da terra que aparece como apropriação pelo capital de determinado lugar da cidade. 35 Campos Filho (1992) discute o processo de urbanização das cidades brasileiras, identificando excessiva verticalização nas áreas centrais e excessiva horizontalização das periferias, atreladas às características peculiares da renda imobiliária da terra: “O preço mais alto da terra urbana fez com que empresários imobiliários, para diluí-lo, buscassem cada vez mais a redução da cota-parte dos terrenos [...]. Essa super verticalização, quando não contida por lei de zoneamento e gabaritos de altura máximos, provoca a saturação e o congestionamento dos serviços urbanos da área [...]. A elevação constante em valor dos preços dos terrenos centrais em poucos bairros privilegiados propaga-se para as periferias urbanas [...]. As cidades, por consequência, espalham-se demasiadamente, qual um queijo esburacado, podendo-se estimar que cerca da metade do espaço intraurbano no Brasil está vazio” (CAMPOS FILHO, 1992, p.50-51). Em um sentido amplo, é possível afirmar que a valorização fundiária foi o fator fundamental da expansão vertical, no momento em que a verticalização proporcionou a reprodução do valor da terra. Coelho (2007) explica que a valorização do espaço se dá tanto em função da infraestrutura e dos objetos imobiliários, que resultam em uma chamada "valorização objetiva", como também em função de uma "valorização subjetiva", baseada no desejo intrínseco do homem de busca por um lugar. Em outras palavras: “A valorização objetiva de uma determinada área ocorre a partir da concentração de elementos relacionados à estrutura urbana, tais como: infraestrutura, equipamentos públicos, acessibilidade a bens e serviços. Para compor a valorização subjetiva temos elementos tais como paisagem, áreas verdes, vizinhança, segurança e privacidade” (COELHO, 2007, p.182). A valorização, seja ela objetiva ou subjetiva de uma determinada área, provoca, de imediato, a elevação do custo da terra que, por sua vez, influencia 36 diretamente o custo da moradia. Dessa forma, terras caras induzem o processo de verticalização a fim de "compensar" o preço da terra. As leis de uso e ordenamento do solo expressas, sobretudo, na forma de Planos Diretores e códigos de obras, são compostas, dentre outros princípios, de prescrições urbanísticas - coeficientes de aproveitamento, taxas de ocupação, gabaritos, recuos etc. Uma das principais prescrições, sendo inclusive aquela mais disputada na aprovação dos Planos Diretores, é o coeficiente de aproveitamento 9. A primeira consequência da concessão dos elevados coeficientes é a valorização do solo urbano, aumentando o preço do metro quadrado, uma vez que aquele lote vai ter a possibilidade de construir edificações com uma área maior que outros lotes, cujos coeficientes são mais restritivos. Assim, os índices permissivos influenciam na elevação dos preços do solo e, por etapa, na tipologia arquitetônica a ser edificada no local, orientando a construção de estruturas mais elevadas pelo mercado imobiliário. Em outras palavras, o índice de aproveitamento influencia diretamente a valorização ou desvalorização imobiliária. O parcelamento do solo em lotes maiores também é outra variável que possibilita a construção de edifícios, aproveitando o maior potencial construtivo do terreno, uma vez que o coeficiente de aproveitamento e a taxa de ocupação são parâmetros relacionados à dimensão do terreno. Sendo assim, o valor da terra varia de acordo com a situação econômica: abundância de dinheiro eleva demanda e preços. Em épocas de prosperidade, os imóveis valorizam-se mais (SOMEKH, 1997, p.116). Comentando o fato, Somekh lembra que o comitê do Plano Regional de Nova York aponta que não é verdade a afirmação de que altos preços fundiários implicam necessariamente em edifícios altos. No entanto, esse comitê admite que altos preços estimulam a construção de edifícios altos em locais em que prédios menores, comerciais, poderiam ser construídos com maior rentabilidade. A autora ressalta que, de uma forma geral, é senso comum acreditar que devem ser construídos grandes edifícios em áreas de altos preços fundiários visto que, efetivamente, os preços são a desculpa dos empreendedores para construir intensivamente, criando um círculo vicioso de causa e efeito entre áreas de alta densidade e altos preços da terra. Sendo assim, pode ser afirmado que o preço da terra é o resultado do grau de 9 Este conceito embasa a tese do "solo criado". 37 equipamentos e da localização aliados à potencialidade construtiva permitida pela legislação, tendo em mente que nem sempre verticalização significa aumento de densidade. O conceito de verticalização faz sentido como uma forma de aumentar o aproveitamento do solo urbano, aumento de densidade demográfica, aproximando as pessoas e tendo ganhos de escala no uso do espaço e da infraestrutura construída10. Topalov (1979) sugere considerarmos a cidade como um produto, como resultado de um processo, e não somente como objeto de consumo simbólico: “[...] a cidade constitui uma forma de socialização capitalista das forças produtivas. Ela mesma é o resultado da divisão social do trabalho e é uma forma desenvolvida da cooperação entre unidades de produção. Em outros termos, para o capital, o valor da cidade reside no fato de que é uma forma produtiva, porque concentra as condições gerais da produção capitalista” (TOPALOV, 1979). Em São José dos Campos, a relação ao controle do Estado teve início no ano de 1954 com a promulgação do primeiro Código de Obras do município que continha a regulamentação para construção dos edifícios e a divisão da área urbana em zonas de uso (Plano de Massas). Para a análise da verticalização de São José dos Campos foi adotado o ano de 1954 como marco desse processo por ser o ano da promulgação do primeiro Código de Obras. No ano seguinte é construído o primeiro edifício, com três blocos de 22 pavimentos cada e destinado ao uso residencial, na Rua Coronel Madeira entre a Rua Major Antônio Domingues e avenida Doutor João Guilhermino, na região central. Estes edifícios são considerados os primeiros arranha-céus, os edifícios mais altos da cidade e da região do Vale do Paraíba para a época. Com o desenvolvimento do processo de verticalização surge uma nova responsabilidade para o Poder Público, no sentido de disciplinar o seu processo por meio de zoneamentos, definição de gabaritos dos prédios, estipulação das taxas de ocupação e índices de aproveitamento dos lotes. Os padrões urbanísticos sempre Jornal eletrônico Mercado Popular – Economia livre & Justiça Social, “Cidades brasileiras: a pior verticalização do mundo”, publicado em 05/05/2014. 10 38 foram discutidos como grandes diretrizes formadoras do espaço das cidades. Quando relacionamos verticalização e legislação urbanística a regra geral é a subordinação desta última aos grupos de interesses que produzem o espaço urbano. Em relação ao setor imobiliário na cidade, é importante pensarmos sobre a própria cidade contemporânea enquanto produto de relações sociais e produtivas. Nesse rumo, torna-se muito difícil entender a verticalização sem uma análise das práticas socioespaciais contidas na lógica da incorporação imobiliária. A verticalização é mais do que apenas um novo arranjo espacial. De certa forma, representa relações, assim como estabelece novas relações; é a manifestação espacial do processo social (MENDES, 2009). Para Somekh (1997), o arranjo espacial das cidades adapta-se a suas funções e existe uma regulação nacional compatível com o projeto global da nação. A verticalização é um processo de desenvolvimento urbanístico que se iniciou em grandes cidades e que, hoje em dia, vem ocorrendo cada vez mais em cidades médias. Para Spósito (1991), a verticalização é uma forma de expansão territorial. Por meio dela, o homem multiplica uma pequena parcela do solo urbano em diversos pavimentos. Essa multiplicação do espaço se constitui num claro exemplo de reprodução territorial da cidade. Segundo Sahr (2000), o poder público assume papel relevante para a verticalização, disciplinando o processo através da legislação urbana, a qual aparece extremamente subordinada aos interesses dos grupos que produzem este espaço. Atualmente, chama a atenção o fato de São José dos Campos estar cada vez mais verticalizada apesar de que os gabaritos de altura dos edifícios nas variadas zonas de uso de sua área urbana estejam limitados pela atual lei de uso e ocupação do solo – Lei Complementar nº 428/10 – limitados em 3 categorias: 4, 8 e 15 pavimentos. A verticalização urbana, de acordo com Souza (1994, p.129), constitui-se num tipo de “especificidade da urbanização brasileira”, pois “em nenhum lugar do mundo o fenômeno se apresenta como no Brasil, com o mesmo ritmo e com a mesma destinação prioritária para a habitação”. Dessa forma, a verticalização aparece como uma das principais modalidades de apropriação do espaço urbano nas grandes cidades do mundo e também no Brasil, pois representa um tipo de habitação – ao 39 menos no discurso racionalizante global – atrelada ao que há de moderno, gerando sentimentos de satisfação. Mendes (1992 p.32) define a verticalização como o “processo intensivo de reprodução do solo urbano, oriundo de sua produção e apropriação de diferentes formas de capital, aliado às inovações tecnológicas, alterando a paisagem urbana”. O autor fala de processo intensivo, ou seja, o solo urbano (escolhido de forma seletiva) possui a capacidade de receber edifícios de forma acelerada. Ramires (1998, p.13), ao estudar a verticalização em Uberlândia, afirma que o espaço verticalizado não só “representa uma revolução na forma de construir, afetando a dinâmica de acumulação/reprodução do capital no setor da construção civil e mercado imobiliário”, como atesta que este processo é um bom negócio para os capitalistas. Entendida como resultado da multiplicação do solo urbano (Souza 1994; Somekh, 1987), a verticalização no Brasil se caracteriza por estar atrelada, sobretudo à habitação e não ao setor de serviços como aconteceu em muitos outros países. Usualmente, o termo “verticalização” está relacionado com a expansão em altura da área edificada, ou construção de edifícios com muitos pavimentos. No Brasil, a produção da verticalização começou a ser expandida na década de 1920, no contexto do processo de substituição industrial das importações, tendo como destaque a cidade de São Paulo. Passou por transformações significativas vinculadas às inovações técnicas na área da construção civil; às mudanças no sistema bancário com expansão do crédito para aquisição de imóveis; nas imposições culturais de uma nova forma de morar, dentre outras (FRESCA, 2005). Numa primeira abordagem, é possível dizer que o mercado imobiliário assume um papel central na transformação do espaço nas cidades brasileiras como um agente que, constantemente, o transforma, intensificando o uso do solo no local e, por suas características, acaba selecionando alguns grupos sociais que podem ter acesso aos seus imóveis. “A verticalização é concebida como um processo de produção do espaço, caracterizado por um estágio avançado de exploração capitalista do solo urbano (SCHMIDT, COSTA e MENDES apud SOUZA, 1989)”. 40 Diante do exposto, podemos afirmar que o Estado, enquanto agente produtor, interfere no processo de valorização não só através da legislação. Em São José dos Campos, muito provavelmente, esse processo ocorreu por meio da atual restrição do gabarito de altura e, como consequência, do aproveitamento da multiplicação do uso do solo, portanto, expandindo por todas as regiões o crescimento vertical da cidade. 41 1.2. A PRODUÇÃO SOCIAL DO ESPAÇO E O PAPEL DO ESTADO A preocupação com o espaço permeia os estudos urbanísticos nos mais diversos aspectos e, na atualidade, observa-se que o conhecimento, como considera Milton Santos (1987) e Flávio Villaça (2006), em sua maioria, está a serviço das elites. Em São José dos Campos, assim como nas cidades brasileiras, a verticalização é elitizante. Segundo Abreu (1983), a construção da habitação para as populações com mais alto poder aquisitivo é o objetivo principal do capital imobiliário. Podemos observar que, no Brasil, as elites tendem a se isolar dos demais grupos sociais que compõem a cidade, vivendo uma autossegregação, onde preferem viver em local fechado com “maior segurança”, para fugir da violência que, na concepção dessa classe dominante, é causada pela parte mais pobre da cidade. Numa abordagem preliminar, é possível afirmar que a ação do Estado, como agente produtor do espaço, é fator de muita importância para que possa explicar o fenômeno da verticalização. Ao analisar diferentes agentes que produzem, transformam e consomem o espaço urbano, Harvey (1980) deixa evidente que um único agente pode assumir diferentes papéis. Segundo o autor, os incorporadores imobiliários também podem ser proprietários fundiários, agentes imobiliários, industriais da construção civil, instituições financeiras e governamentais, sendo que cada um deles está determinado por regras de valorização de cada capital em particular. Os proprietários fundiários procuram extrair a maior renda possível de seus terrenos (especulação), os produtores esperam obter o maior lucro possível de suas construções, a burguesia extrai a maior quantia de juros possível e o Estado tenta organizar o mercado para reduzir os conflitos sociais entre as diversas classes presentes no espaço urbano. 42 Num momento posterior, todos os fenômenos, elementos e agentes modificadores da paisagem aqui citados, para existir, devem estar situados em determinado local, num determinado espaço. Pode-se encontrar no espaço geográfico formas naturais, como rios, montanhas, vegetação e formas artificiais, ou seja, tudo aquilo criado ou modificado pelo homem. O espaço é ocupado e organizado por sociedades humanas, sendo necessário, para seu total entendimento, que haja um estudo sobre seu processo e condições históricas de formação. O espaço é algo que não se pode representar totalmente por meio de ilustrações ou imagens, e está presente em todas as relações. Ele engloba paisagens, lugares, e todas as outras unidades espaciais passíveis da ocupação humana. O espaço é o que comporta as pessoas e suas inovações tecnológicas, mudanças, infraestruturas, as redes de circulação e comunicação, as cidades. De acordo com Santos (1996), conforme já citado, o espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e, também, contraditório de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como um quadro único no qual ocorre a história. Segundo Gottdiener, o espaço (1993, p.26): “[...] não pode ser reduzido apenas a uma localização ou às relações sociais da posse da propriedade”; o espaço é “uma localização física, uma peça de bem imóvel e ao mesmo tempo o local existencial e uma expressão mental. O espaço é [...] o local geográfico da ação e a possibilidade social de engajar-se na ação”. Para Santos (2002, p.67), o espaço: “[...] é formado por um conjunto indissociável, solidário e, também, contraditório de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como quadro único no qual a história se dá. (...) Sistemas de objetos e sistemas de ações interagem. De um lado, os sistemas de objetos condicionam a forma como se dá às ações e, de outro lado, o sistema de ações leva à criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos pré-existentes. É assim que o espaço encontra a sua dinâmica e se transforma”. 43 Santos (1996) ressalta que: “o espaço deve ser considerado uma totalidade cuja essência é social. Para o autor, é uma instância da sociedade que contém e é contido pelas demais instâncias: a economia está no espaço, assim como o espaço está na economia. O autor recomenda que é preciso dividir o espaço em partes para compreender os diversos processos sociais que o compõem e adquirem formas de expansão territorial. “Como as formas geográficas contêm frações do social, elas não são apenas formas, mas formas-conteúdo” (SANTOS, idem, p.2). Essa consideração aponta os limites de uma possível distribuição justa dos recursos sociais. Limites que, para o autor, são estruturais, ainda que urgentes de ser ultrapassados no quadro de desigualdades das grandes cidades. Segundo Santos (id.,1996)11, a teoria do espaço, fundamentalmente, é uma teoria do lugar. Falar do método, segundo Milton Santos, muitas vezes, é ter que recorrer à filosofia. O livro A Natureza do Espaço é uma teoria de ação, na qual o espaço é o resultado da ação e objeto articulados, potência e ato dialeticamente integrados em um sistema. Segundo o autor, é insuficiente falar sobre espaço, sem oferecer categorias de análise. Para Santos (id, 1996), a geografia, o espaço não é nem uma coisa, nem um sistema de coisas, senão uma realidade relacional: coisas e relações juntas. O autor aborda que o espaço deve ser considerado como um conjunto indissociável do qual participam, de um certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e de outro, a vida que os preenche e os anima, ou seja, a sociedade em movimento. O autor aborda o espaço como multiplicidade de influências superpostas, mundiais, regionais e locais. No entanto, a seu critério, o espaço é maciço, continua indivisível, tão indivisível quanto a sociedade total da qual ele é o território e, como tal, sua relação é igualmente indivisível (id, 1993). Para o autor, o controle e a dimensão do espaço é papel do Estado. Sendo assim, quando se fala de espaço urbano deve-se ter em mente o conceito de cidade e, principalmente, o seu processo. As cidades surgiram com o propósito de organização socioespacial, com o objetivo de facilitar as relações sociais e econômicas, diminuindo o tempo dos fluxos e do deslocamento. 11 O geógrafo Milton Santos propôs uma periodização para o espaço geográfico brasileiro, segundo uma sequência histórica de três meios geográficos: o "meio natural", o "meio técnico" e o "meio técnico-científico-informacional". 44 De acordo com Ribeiro (2000), a organização espacial é o resultado do trabalho acumulado da sociedade ao longo do tempo, tendo no capital e na ação do Estado seus principais agentes de organização do espaço; não se pode esquecer que ela é, também, reflexo e reprodução de condições sociais. A cidade pode ser lida como uma morfologia material, uma realidade presente, imediata, um dado prático-sensível, arquitetônico. O urbano corresponde à morfologia social, uma realidade social composta de relações presentes e relações a serem concebidas, construídas ou reconstruídas pelo pensamento. Nesse sentido, as relações entre cidade e urbano são estreitas, já que é impossível para a vida urbana dispensar uma base prático-sensível, que se constitui em produto e condição da dinâmica social (LEFEBVRE, 1991). A cidade, enquanto forma, permite apenas a análise superficial, pois, é no processo de constituição que esta esconde a natureza das contradições do espaço. A produção do espaço urbano está intimamente ligada aos interesses de alguns agentes, e há muito tempo é fruto das relações capitalistas e suas diversas faces. O espaço urbano e rural é consequência do trabalho do homem, é o meio social se sobrepondo ao meio natural, é onde ocorrem as relações sociais. No caso de São José dos Campos, o processo de produção do espaço, dentro de um contexto de relações capitalistas, determina a forma como ocorre a ocupação espacial urbana. Nesse sentido, as cidades são produtos das contradições inerentes a esse processo de produção em determinado período histórico. Apresentam, com frequência, diferenciações no uso do solo que constituem e produzem uma segregação socioespacial. A atuação do Estado visa criar condições de realização e reprodução da sociedade capitalista reproduzindo a organização social, isto é, condições que viabilizem o processo de acumulação e a reprodução das classes sociais e suas frações. É possível verificar que o Estado capitalista cria mecanismos que levam à segregação residencial e à sua ramificação, assim, os diferenciais do imposto predial e territorial são fortes fatores discriminativos, afetando o preço da terra e dos imóveis e, como consequência, incidindo na segregação social. Os grupos de renda mais elevados residem em imóveis mais caros, localizados em bairros onde o preço da terra é mais elevado; e os de renda mais baixa residem na periferia onde, geralmente, os preços são menores (MENDES, 1992, p.39-40). 45 Da mesma maneira que ocorre no Brasil como resultado do sistema político e econômico, São José dos Campos também apresenta uma grande parcela de população socialmente excluída. Para os marxistas, a cidade grega é o resultado da concentração da força de trabalho e do capital, sendo esta a dinâmica. Suas transformações socioespaciais são reguladas pela lógica de acumulação de capital. O resultado desse processo é o desenvolvimento desigual e a disseminação de injustiças sociais, distribuídas tanto espacialmente quanto demograficamente (GOTTDIENER, 1993). Com base na estrutura econômica e social, análises foram realizadas com o objetivo de entendimento do espaço, pois, “... segundo os marxistas, a análise espacial deve estar vinculada diretamente às transformações da sociedade, produzidas pelo esforço de acumulação de capital e pela luta de classes” (GOTTDIENER, 1993, p.125). Não obstante, Gottdiener esclarece que: [...] Lefebvre formula uma abordagem marxista do espaço que difere drasticamente da de seus contemporâneos. Afirma, de forma ousada, que os fenômenos espaciais, na medida em que são produzidos em parte por antagonismos de classe, não podem ser abordados através da análise tradicional da economia política. Isso é verdadeiro, pois esta última apenas especifica teoricamente um espaço abstrato de análise marxista, que contém relações de dominação econômica. Mas a importância do espaço para Lefebvre é conquistada pela dialética entre valor de uso e valor de troca, que produz tanto um espaço social de usos quanto um espaço abstrato de expropriação. (GOTTDIENER, 1993, p.131). Para Somekh (1997), a abordagem marxista de alguns autores também apresenta limitações ao colocar as formas espaciais apenas como receptáculo de processos econômicos e políticos e, a cidade, como ponto de convergência das tendências de acumulação que demandam, num aspecto funcionalista, aglomerações centralizadas. No entanto, ao comentar Lefebvre, a autora expõe que há um avanço em relação do autor com Castells. E que este possui uma visão estruturalista e afirma que a cidade é produto do Estado e da economia. Lefebvre, menos reducionista, 46 inclui em sua teoria sobre espaço, além do fator econômico, fatores políticos e culturais. Mark Gottdiener (id.,1993), do ponto de vista ideológico, filia-se à corrente de pensamento marxista, na linha de Henri Lefebvre. Para Gottdiener, a cidade é entendida como uma forma qualitativamente nova de espaço – produto de transformações da organização social. Ele vê o cidadão como sujeito atuante na realidade urbana e ressalva que os estudiosos não podem produzir novas formas de relações sem o devido embasamento. Gottdiener, na linha de Lefebvre, tem como objetivo em seus estudos analisar os conceitos do direito à cidade e da gestão democrática da cidade. Para tanto, elabora uma crítica das abordagens de fenômenos urbanos, por ele consideradas convencionais, tais como: ecologia urbana, sociologia, geografia e economia urbana. O argumento central do autor é que essas teorias desenvolvidas por alguns autores contemporâneos a ele seriam insuficientes para explicar a organização espacial contemporânea. Somekh (1994), tal como Gottdiener (ibid.,1993), acredita que a teoria marxista avança em relação às teorias desenvolvidas a partir da Ecologia Urbana de Chicago porque, em primeiro lugar, substitui a teoria simplista de localização pelo entendimento do processo de acumulação como determinante do espaço. Em segundo lugar, porque os marxistas especificam o papel do ambiente construído no processo de acumulação vinculando-o às suas crises periódicas, explicitando a importância do Estado como agente produtor do espaço. E, finalmente, a autora aponta o espaço como relação de produção e consumo integrada a um sistema global incorporado a uma divisão internacional do trabalho. Entre outras limitações, elas se restringiram ao estudo da morfologia, sem contemplarem a organização social que pode produzir, manter e reproduzir os padrões do uso da terra. Seu aporte fundamental vem no sentido de superar as explicações que privilegiam os fenômenos econômicos, incorporando a dimensão das transformações sociais e culturais em sua relação dialética com o espaço, em uma perspectiva de vida cotidiana e escala local. Gottdiener debruça-se sobre o fenômeno do crescimento socioespacial – manifesta que a forma compacta que a cidade desenvolvera historicamente tinha dado lugar a regiões em permanente expansão – o autor utiliza-se do termo desconcentração para designar esse crescimento. 47 Gottdiener dedica-se à comparação das teorias do espaço e das relações entre Estado e produção do espaço urbano presentes: 1) no estruturalismo de Manuel Castells12; 2) na abordagem de Weber que se desenvolveu na Inglaterra em resposta às limitações do estruturalismo marxista, mas que compartilha a crítica ideológica de Castells à ecologia e 3) na obra de Henri Lefebvre sobre a produção de espaço, que diverge do marxismo dos estruturalistas. Pode ser dito que Gottdiener tem uma forte inclinação a identificar-se com Lefebvre ao apresentar a sua acepção sobre a produção do espaço, resgata o princípio fundamental da teoria de Marx, que enfatiza o homem como sujeito da sua história. Uma de suas contribuições mais importantes é a de uma apropriação e releitura da concepção lefebvriana de espaço na qual: [...] o espaço não pode ser reduzido apenas a uma localização ou às relações sociais da posse da propriedade – ele representa uma multiplicidade de preocupações sociomateriais. O espaço é uma localização física, uma peça de bem imóvel e, ao mesmo tempo, uma liberdade existencial e uma expressão mental. (GOTTDIENER, 1993, p.127) Sua maior contribuição é aprofundar a posição de Lefebvre no sentido de redirecionar o pensamento socioespacial de uma análise da economia para a transformação das relações sociais. O autor revela e analisa, de forma muito clara, o papel do Estado na construção e manutenção do crescimento da cidade, contribuindo para a compreensão de diversos processos em curso como, por exemplo, as operações de reurbanização realizadas nas áreas centrais e pericentrais das grandes metrópoles brasileiras. Ao explicar a insuficiência e inadequação de determinados conceitos para atender as atuais mudanças espaciais, o autor nos força a tentar entender as transformações que ocorrem em nossos territórios à luz do processo dialético que imbrica espaço e relações sociais, superando as análises que os consideram fundamentalmente em uma relação de causa e efeito. 12 Como discípulo de Althusser, Castells é visto por Gottdiener como um marxista estruturalista. No livro “A Questão Urbana” (Castells, 1983) o autor dá início a um debate sobre a teoria do espaço com enfoque muito semelhante ao de Lefebvre, considerando espaço como produto material de uma dada formação social. 48 Para Gottdiener (op. cit.,1993), “os problemas atuais da sociedade parecem cada vez mais articulados com problemas de natureza espacial”. O autor traz novas preocupações ao centro da investigação urbana, de maneira a desfazer a estreita fixação no desenvolvimento econômico, comum ao pensamento marxista. Entre elas, estão os fenômenos culturais frequentemente negligenciados pelos grandes projetos urbanos, porém cada vez mais essenciais e indispensáveis para se entender as rápidas e intensas transformações socioespaciais de nossas cidades. Propõe uma interpretação atual para o estudo da transformação dos padrões urbanos. Esta nova forma urbana, que é de desconcentração metropolitana, caracteriza a atual organização da vida cotidiana. Ela remete à necessidade de ideias novas para se compreender o atual processo de urbanização, os problemas de habitat e as novas questões sobre espaço da vida cotidiana. Segundo Corrêa (1995), os principais agentes produtores do espaço urbano são os proprietários dos meios de produção (donos de grandes indústrias e empresas comerciais), que estabelecem as dimensões de sua ocupação na cidade e sua grande capacidade de consumo do espaço urbano; os proprietários fundiários, cujo objetivo principal é extrair o máximo possível da renda fundiária de suas propriedades; os promotores imobiliários, que são responsáveis por regular os preços referentes não só ao espaço do terreno em si, mas da localização, da acessibilidade e da segurança que estão implícitos nessa relação; o Estado, que garante as leis, determina o empreendimento que pode ser realizado e beneficia o crescimento de uma cidade ou região; e, por último, os grupos sociais excluídos, que estão às margens da sociedade e fazem com que as classes altas configurem seus espaços e modo de vida para evitar qualquer contato com as classes pobres, gerando a segregação social. Para Corrêa (id.,1995), a urbanização é o processo de substituição das características rurais de uma localidade ou região, por características urbanas. Está intimamente relacionada com o desenvolvimento da civilização. As transformações que historicamente se deram, permitindo a estruturação do modo de produção capitalista, constituem consequências do próprio processo de urbanização. A cidade nunca fora um espaço tão importante e nem a urbanização um processo tão expressivo e extenso a nível mundial como a partir do capitalismo. 49 Além disso, verificou-se que ocorreu um significativo processo de surgimento de novas metrópoles, em diferentes localidades do território nacional que são cada vez mais parecidas com as grandes metrópoles. No entanto, deve ser ressaltado que este processo acontece em diferentes contextos urbanos. No processo de urbanização e de metropolização, ao mesmo tempo em que há uma modernização das atividades, há também uma expansão da pobreza. É o que Milton Santos chama de involução metropolitana já que, de um lado, existe crescimento, mas este é acompanhado pela redução do rendimento médio e pela expansão do número de empregos mal remunerados com suas correspondentes e precárias condições de vida. Portanto, a modernização de atividades é simultânea à expansão de formas econômicas menos modernas que abrigam uma parcela da pobreza urbana, permitindo a existência de um setor econômico diferenciado do setor do grande capital. A involução metropolitana e a segmentação da economia são, assim, fenômenos correlatos e podem ser verificados tanto através da variável produção como através das variáveis distribuição e consumo, determinadas pelos salários e pelo emprego e relacionadas com o nível de renda da população e sua localização geográfica. E nos países subdesenvolvidos essa modernização incompleta é, a cada momento histórico, o traço mais sensível das transformações do espaço. Seu efeito mais evidente é a desvalorização, senão mesmo a destruição localizada, mas não homogênea, de formas e habilidades do passado, efeito que se representa concretamente na paisagem de nossas cidades. Verifica-se ainda que o processo de involução urbana é acompanhado pela consolidação das cidades médias por tratar-se de pontos importantes no sistema de redes que se transformaram a partir do novo quadro desenhado pelo processo de globalização. Para Costa (2002), as cidades médias se definem não só pela sua dimensão geográfica e funcional em relação aos sistemas urbanos, mas, também, pela sua dimensão demográfica e funcional à escala regional, ao mesmo tempo que incorporavam outros critérios mais subjetivos, relacionados ao modo de vida das famílias que nela residem e os seus cotidianos e valores. De acordo com Santos (op. cit., 1993), a especulação imobiliária ocorre devido à superposição de um lugar social a um lugar natural e a disputa entre atividades ou pessoas para ocupar determinado local. O homem constrói cada vez mais lugares 50 sociais, gerando cada vez mais disputas, a partir do momento em que a cidade começa a aperfeiçoar suas funcionalidades. O espaço também não é apenas um instrumento político, um campo de ações de um indivíduo ou grupo, ligado ao processo de reprodução da força de trabalho por meio do consumo. Segundo Lefebvre, o espaço é mais do que isto. Engloba esta concepção e a ultrapassa. O espaço é o lócus da reprodução das relações sociais de produção (CORRÊA, 1995, p.25). É importante reconhecer que, atualmente, os avanços nos meios de informação e de circulação material e imaterial têm trazido mudanças significativas, principalmente, no modo como se realiza a estruturação das cidades, além, da racionalidade produzida nos diferentes lugares com sua especialização, e que essa realidade deve estar estritamente vinculada à análise da (re)produção socioespacial urbana, por conseguinte, em sua materialização. Todavia, o estudo das transformações provocadas, principalmente com o progresso técnico e científico na estruturação das cidades, deve partir do entendimento de como essas mudanças cooperam para a segregação socioespacial e impedem que as classes com menor poder aquisitivo possam usufruir o direito de sua utilização. É inegável que o Estado tem contribuído significativamente nos vários momentos da história para e com as transformações que ocorrem no espaço, e aqui consideramos que sua existência e participação é imprescindível. Contudo, o modo como tem realizado o seu papel tem acentuado os conflitos e as contradições na (re)produção socioespacial do espaço urbano das cidades brasileiras, ora, como interventor, ora, na maioria das vezes, como mediador. A valorização dos interesses do mercado, em detrimento dos interesses sociais, bem como da plena realização da vida, é uma das causas que devemos atribuir ao Estado como principal agente mediador dos conflitos. A inversão dos valores e das funções atribuídas às diferentes formas, assim como a transformação do “cidadão em consumidor”, Carlos (2004), além do racionalismo técnico da qual a cidade tem sido o alvo principal, é realizado sob o discurso ideológico provido pelo Estado. Harvey (1996) afirma que o socialismo tem que ser entendido como um projeto político, uma visão alternativa de como a sociedade funcionará, como relações 51 sócioecológicas se desdobrarão, como potencialidades humanas podem ser realizadas mesmo que dentro de uma geografia da diferença. No entanto, Harvey (id.,1996) reconhece como é difícil a concretização de práticas que levem a este tipo de transformação social, quando ele escreve: “A dificuldade é, como sempre, encontrar tanto a retórica quanto os meios tangíveis para colocar juntas forças opositoras divergentes engajadas na luta anticapitalista”. A grande questão “não é saber se o capital financeiro domina o capital industrial, em última instância, mas de que modo ele se relaciona, como uma parcela do capital, com outras parcelas do capital dentro de formações sociais específicas, e de que modo isso afeta a ação de classes” (SOJA, 1993). Mas, deve-se ter sempre em mente que a produção do espaço urbano está intimamente ligada aos interesses de alguns agentes, e há muito tempo é fruto das relações capitalistas e suas diversas faces. E que o espaço urbano é consequência do trabalho do homem; é o meio social se sobrepondo ao meio natural, é onde ocorrem as relações sociais. Segundo Somekh (1994), o Estado é um dos agentes transformadores do ambiente construído e gera, nessa função, duas ordens de conflitos: entre os interesses na forma de as frações se apropriarem do excedente social e entre os interesses na luta por qualidade de vida residencial e expansão espacial da acumulação. Como o capital não pode fazer com que o resultado das lutas em torno do ambiente construído seja determinado apenas pelos apropriadores de renda e pelo segmento da construção, ele intervém indiretamente, por meio da ação do Estado (HARVEY, 1980). Assim, é possível pensar a questão do consumo do espaço urbano verticalizado por meio da sua forma material – o edifício – como uma das estratégias dos diferentes agentes sociais que incorporam nas suas práticas não apenas a dimensão estritamente material, mas, também, aspectos subjetivos/simbólicos no intuito de ofertar produtos imobiliários para um público consumidor em expansão. O Estado, representante do sistema das elites dominantes, incorpora as contradições entre as frações de capital e se constitui num agente produtor do espaço a serviço da acumulação capitalista (SOMEKH, 1994). Nesse contexto, as transformações no ambiente construído podem ser explicadas pelo fluxo de capital entre três circuitos distintos de acumulação: o primário, estritamente produtivo; o 52 secundário, envolvendo o financeiro, o especulativo e o ambiente construído, e o terciário, constituído por investimentos em ciência e tecnologia (HARVEY, 1980). O Estado incentivou o processo de verticalização não só por meio de consideráveis investimentos modernizadores e modeladores da cidade para adequála à nova transformação espacial constituída pela massa vertical edificada, como também por meio da legislação urbanística (SOMEKH, op. cit.,1994). A autora cita Lefebvre (1974) para ressaltar o fato de que, apesar da intervenção modernizadora do Estado, não se pode concordar que o urbanismo é um mero instrumento estratégico do capitalismo, pois implicaria não vermos saída possível via intervenção urbanística. O processo acelerado de produção do espaço vertical em diversas cidades brasileiras, de modo geral, é resultado de dois aspectos situados, eficazmente, por Fresca (2009): em primeiro lugar, devido a um contexto de profunda recessão, de perda de ritmo de desenvolvimento econômico-social que teve como marco a elevada taxa de inflação e inúmeros planos econômicos para contê-la, já que a recessão havia sido colocada como a grande responsável pela não retomada do desenvolvimento. Dessa forma, as condições recessivas nas quais a inflação era apenas um mecanismo de defesa da economia, permitiram a expansão da construção civil, tendo na produção de edifícios a sua maior expressão, facilitada pelos intrincados mecanismos da ciranda financeira, sobretudo da década de 1980. Um segundo aspecto vincula-se à dinâmica socioespacial brasileira que possibilitou a conformação de inúmeras aglomerações urbanas a ultrapassar a barreira dos cem mil habitantes e dezenas de novas cidades milionárias. Nessa intensificação da urbanização, segundo Fresca (2009), a construção de edifícios foi um dos destaques na produção do espaço urbano, na qual distintos agentes sociais fizeram uso de tal processo para continuidade da reprodução do capital e da manutenção dos processos de segregação socioespacial, dentre outros. Destaca-se que um aspecto de suma importância para este estudo vincula-se à complexidade da divisão social do trabalho, com acentuadas alterações nas classes sociais e suas diversas frações sociais, a atender o mercado consumidor dos edifícios residenciais. Ressalta-se ainda nossa premissa na crença de que o urbanista deve compreender a dinâmica espacial que o cerca, interpretá-la e, não apenas, descrever o espaço, mas todas as suas singularidades e contradições. 53 1.3 O PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO NAS CIDADES BRASILEIRAS A verticalização é um processo de desenvolvimento urbanístico que se iniciou em grandes cidades do mundo e que, nos últimos anos, vem ocorrendo, cada vez mais, nas cidades médias brasileiras. Este fenômeno consiste na construção de edifícios em substituição à construção de casas ou de estabelecimentos térreos, tudo isso visando o aproveitamento máximo do espaço urbano. Souza (1994) é categórica ao afirmar que a verticalização representa um fantástico processo de produção do espaço e que produzir cidades é um grande negócio, assim como produzir edifícios é uma excelente atividade para poucos, visto que: “[...] a produção de edifícios constitui-se numa possibilidade inusitada de articulação das múltiplas formas do capital num objeto – o edifício, num mesmo lugar – o urbano, num tempo/circulação extremamente reduzidos” (SOUZA, 1994, p.138). No Brasil, o processo de verticalização inicia-se em São Paulo e Rio de Janeiro e ao longo do tempo, expande-se para as cidades médias. Essa forma espacial, que começa no Brasil a partir do início do século XX, pela grandeza que alcançou, destaca o país no cenário internacional (RAMIRES, 1998). Como vem ocorrendo o processo de verticalização urbana nas cidades médias brasileiras e, mais especificamente, em São José dos Campos? Qual especificidade em relação às grandes cidades? Para tanto, é necessário entender como se originaram as preocupações e os estudos referentes a esse tipo de cidade, bem como a forma de caracterizar o que vem a ser uma cidade média, visto que, “conceituar cidade média implica em esforço de abstração, de estabelecer a unidade daquilo que é pouco conhecido, que parece como muito diversificado” (CORREA, 1995, p.25). 54 De acordo com Amorim Filho e Serra (2001), a preocupação com as cidades médias, como instrumento de planejamento urbano e regional, tem sua origem na França após a 2ª Guerra Mundial, tendo em vista o processo de reconstrução do continente europeu e a aceleração do processo de urbanização mundial. Na década de 1960, as metrópoles regionais são alvos de estudos em várias partes do mundo. Na busca da necessidade de desconcentração e descentralização das massas urbanas e de suas atividades, para se alcançar uma diminuição dos problemas causados por essa situação nas metrópoles e grandes cidades, as cidades médias passam a ter relevância como instrumento de desenvolvimento e aplicação das políticas de planejamento urbano e regional. Assim, as cidades médias passam a ser tema de estudo e têm, na década de 1970, uma grande contribuição para o planejamento urbano-regional (Amorim Filho e Serra, 2001). Motta e Mata (2008, p.34) destacam a importância das cidades médias da seguinte forma: a importância das cidades médias reside no fato de que elas possuem uma dinâmica econômica e demográfica próprias, permitindo atender às expectativas de empreendedores e cidadãos, manifestados na qualidade de equipamentos urbanos e na prestação de serviços públicos, evitando as deseconomias das grandes cidades e metrópoles. Dessa forma, as cidades médias se revelam como locais privilegiados pela oferta de serviços qualificados e bem-estar que oferecem. De acordo com Motta e Mata (2008, p.34), “Não há consenso sobre o conceito de cidades médias”. Os critérios para a definição do que venha a ser uma cidade média dependerá [...] “dos objetivos de especialistas e de políticas públicas especificas”. De acordo com esses autores, o critério mais utilizado para determinar o que venha a ser uma cidade média, é o critério demográfico – entre 100 até 500 mil habitantes, sendo, para tanto, considerada a população total do município. Para Amorim Filho e Serra (2001, p.9), com base na experiência que foi acumulada até a década de 1970, especialmente, pela experiência desenvolvida na França para as cidades médias, os seguintes atributos são necessários para uma cidade ser qualificada como média: (i) interações constantes e duradouras tanto com seu espaço regional subordinado quanto com aglomerações urbanas de hierarquia superior; (ii) tamanho demográfico e funcional suficiente para que possam oferecer um leque bastante largo de bens e serviços ao espaço microrregional a elas ligado; 55 suficientes, sob outro ponto, para desempenharem o papel de centros de crescimento econômico regional e engendrarem economias urbanas necessárias ao desempenho eficiente de atividades produtivas; (iii) capacidade de receber e fixar os migrantes de cidades menores ou da zona rural, por meio do oferecimento de oportunidades de trabalho, funcionando, assim, como pontos de interrupção do movimento migratório na direção das grandes cidades, já saturadas; (iv) condições necessárias ao estabelecimento de relações de dinamização com o espaço rural microrregional que o envolve; e (v) diferenciação do espaço intraurbano, com um centro funcional já individualizado e uma periferia dinâmica, evoluindo segundo um modelo bem parecido com as grandes cidades, isto é, por intermédio da multiplicação de novos núcleos habitacionais periféricos. Conforme Soares (2007), o critério demográfico para classificação de uma cidade como média não atende por completo a amplitude dessa denominação. Esse critério relaciona cidades que apresentam funções e dinâmicas diferentes, numa mesma categoria. Para Soares (id, 2007, p.463) este critério, “[...] não consegue dar conta da realidade [...].” Ainda, conforme Soares (id, 2007, p.463), “[...] a categorização de tamanho demográfico de cidade média varia segundo a região, o país, e o período histórico considerado”. Amorim Filho e Serra (2001) adotaram, a partir de estudos da década de 1970, os limites para caracterização de cidades médias os limites de 50 a 250 mil habitantes; Andrade; Serra (2001) usam como critério o tamanho populacional de 50 a 500 mil habitantes; e Castelo Branco (2006), em seu estudo sobre as cidades médias no Brasil, adotaram como limite mínimo 100 mil e, como limite máximo, 350 mil habitantes. De maneira semelhante à definição de cidade, que pode ser feita utilizandose de diferentes critérios em diversas partes do mundo e no Brasil, a definição de cidade média obedece, de certa forma, a mesma maneira. Assim, utilizando-se o critério demográfico, por exemplo, uma cidade considerada média na Alemanha, poderá não o ser na Dinamarca ou no Brasil. A comparação entre a dimensão demográfica da maior aglomeração e a dimensão demográfica das “cidades médias”, em alguns países da União Europeia, elaborado por Costa (2002, p.110), relacionando cidades médias com a maior aglomeração de diferentes países da Europa, exemplifica essa questão. Assim, atribuir a denominação de cidade média passa além da utilização somente do critério demográfico. Os níveis das atividades econômicas, que resultam da confluência dos 56 sistemas logísticos e de transportes, bem como pela reconfiguração espacial e pela agregação de novas atividades que proporcionam nova dinâmica à indústria, ao comércio e serviços, devem ser considerados. As cidades médias no Brasil, de acordo com Motta e Mata (2008, p.33), “[...] desempenham o papel de núcleo estratégico da rede urbana do Brasil, constituindo-se elos dos espaços urbano e regional, desempenhando, nos anos 1970 e 1980, função estratégica na política nacional de desenvolvimento urbano do país”. De acordo com Amorim Filho e Serra (2001), a preocupação de atribuir uma função específica para as cidades médias de conter os fluxos migratórios das diversas regiões do país para as metrópoles explicita-se, especialmente, a partir da década de 1950, em diversos documentos governamentais. A contenção dessa migração tinha como o objetivo principal evitar o aumento dos diversos problemas sociais causados pelo rápido crescimento demográfico, especialmente, das regiões Sudeste e Sul. Conforme os autores, o desenvolvimento de uma política específica para as cidades médias não se encontrava clara no I Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND), 1971- 1974. O objetivo principal do I PND era o de conter, por intermédio do aumento da produtividade na agricultura da região Nordeste, os fluxos migratórios desta para outras regiões brasileiras. No II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), 1975 – 1979 evidenciouse a primeira política urbana nacional. A promoção da estruturação urbana era uma das políticas contempladas nesse plano. De acordo com Motta e Mata (id, 2008), a estratégia dessas políticas era a de interiorização e desconcentração da região Sudeste, ordenar o sistema urbano da região Sul, dinamizar a economia nordestina e promover a urbanização recente das regiões norte e centro-oeste. Além da implantação das regiões metropolitanas e das funções das metrópoles nacionais e regionais, são as cidades médias definidas como polos secundários. Como polos secundários – cidades médias - passaram a realizar o papel de elo entre as cidades pequenas e as cidades de maior porte – metrópoles nacionais e regionais. 57 O III Plano Nacional de Desenvolvimento (III PND) - 1980 – 1985, de acordo com Motta e Mata (2008), “...destacava o papel da rede de cidades no desenvolvimento do país, na estruturação do território nacional e na estruturação interna das cidades”. Destacavam-se como base para a implementação das políticas contempladas no III PND, que tinha como estratégia principal a desconcentração e a interiorização das atividades econômicas, as funções estratégias exercidas pelas Regiões Metropolitanas (RMs) e, também, pelas cidades médias. Nesse contexto, em que se redefine a divisão regional do trabalho e desconcentração da população, novas formas de produção do espaço urbano se apresentam. A desconcentração e a interiorização das diversas atividades econômicas, que a partir do final da década de 70 e início dos anos 80, direcionam-se às cidades médias, exigem, destas, condições para se efetivarem. Ressaltamos que esta descentralização de São Paulo nem sempre ocorreram apenas para as cidades médias. Assim, novas demandas de infraestrutura são apresentadas a esses núcleos urbanos paulistas e às suas regiões de influência. Novos produtos foram necessários para atender as necessidades daqueles que para lá se dirigiram. Novos produtos para a demanda solvável foram necessários. Assim, articulados, os agentes imobiliários com seus produtos, e o Estado fornecendo as condições necessárias de infraestrutura, apresentam o edifício, produto principal da verticalização, que, até então, presente nos núcleos urbanos de maior porte passa a fazer parte da paisagem urbana das cidades médias brasileiras. São José dos Campos é uma cidade paulista localizada no eixo Rio – São Paulo e que, recentemente, virou sede da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte do estado de São Paulo, mas, possui relações sociais e integrações territoriais que não a faz diferir das grandes cidades. Trata-se de uma metrópole. Os primeiros estudos acadêmicos referentes ao tema da verticalização urbana no Brasil datam da década de 1980. Conforme levantamento bibliográfico realizado por Ramires (1998), identifica-se como a primeira dissertação relativa ao tema, a realizada por Homem (1982), versando sobre o prédio Martinelli, em São Paulo. Ainda, de acordo com Ramires (1998), foi no 5º Simpósio Nacional de Geografia Urbana, realizado em Fortaleza no ano de 1995, que se organizou a primeira sessão temática sobre o processo de verticalização nas cidades brasileiras. 58 Ramires (1998), ao realizar estudo bibliográfico referente à verticalização das cidades brasileiras observou as seguintes características e pontos de consenso nos trabalhos analisados: 1) A questão de modernidade: neste aspecto os estudos apresentados evidenciam o arranha-céu como marco típico da modernidade. Trata, também, da nova forma de morar da sociedade brasileira, que foi proporcionada por intermédio do apartamento e aceita pelas classes média e alta. Relaciona, ainda, a verticalização das cidades brasileira, a partir dos anos 60, a política habitacional desenvolvida e estimulada desde a criação do Banco Nacional da Habitação; 2) Técnica, espaço e verticalização: neste ponto são contempladas, nos estudos analisados, as questões relativas às possibilidades técnicas que permitem produzir, a partir da verticalização, o espaço urbano no Brasil e em outros países; 3) Impactos na estrutura interna da cidade: os estudos feitos indicam que a forma espacial representada pela verticalização, tem provocado mudanças profundas na estrutura das cidades, relativas ao uso do solo urbano; 4) Legislação urbana e verticalização: são tratados nesses trabalhos a importância da participação do Poder Público, com vistas aos aspectos legais para disciplinar o processo de verticalização das cidades. É evidenciada, ainda, a influência de determinados grupos para subordinar a legislação aos seus interesses; 5) Incorporação imobiliária e verticalização: o processo de verticalização não pode ser entendido sem o instituto da incorporação imobiliária. Por intermédio do incorporador, reconhecido juridicamente, é o agente que produz importantes mudanças na estrutura das cidades, que resultam da convergência de interesses e, por vezes, de conflitos e antagonismos com outros agentes promotores do espaço urbano; 6) Etapas da verticalização: em muitos trabalhos evidencia-se, conforme o autor supracitado, a falta de atribuição de períodos para a realização dos estudos sobre o processo de verticalização. Por outro lado, há os que apresentam articulação das diversas etapas do processo com fenômenos de cunho social, econômico e político da sociedade brasileira, e a busca no sentido de relacioná-lo com os âmbitos nacional, regional e local. Nos anos 90, tal a importância que a verticalização exerceu sobre o espaço urbano, foram editados dois livros: A Identidade da Metrópole, de Souza (1994), e A 59 cidade vertical e o urbanismo modernizador, frutos dos estudos de Somekh (1997). São desse período, também, as primeiras teses, dissertações, artigos e outros estudos que buscaram, também, compreender como esse processo desenvolveu-se nas cidades médias brasileiras. Assim, nesse período, destacam-se os trabalhos realizados por Spósito (1991), referente à Presidente Prudente, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, SP; Mendes (1992), que analisa a verticalização de Maringá, PR, e Ramires (1998), que estuda esse fenômeno no espaço urbano de Uberlândia, MG. Com referência aos estudos realizados a partir de 1998, podemos observar que se destacam os trabalhos referentes às cidades paranaenses de Londrina, Apucarana, Maringá, Guarapuava, Ponta Grossa, dentre outras. O estudo da verticalização nessas cidades médias brasileiras, objeto dos autores já referenciados, apresenta os mais variados enfoques espaciais e temporais. Dentre esses trabalhos, destacam-se o de Mendes (1992), que explica a verticalização de Maringá, PR, a partir do estudo do papel do Estado e do capital; o de Ramires (1998), que analisa o espaço verticalizado na cidade de Uberlândia, MG, por meio da relação com os aspectos do consumo; o de SÄHR (2000) que examina a verticalização de Ponta Grossa, PR, identificando as dimensões histórica, espacial, social, simbólica, econômica e de planejamento, desse processo; o de Mendes (2005), que analisa o papel e atuação dos promotores imobiliários no Complexo Urbano Londrina-Maringá, PR; o de Barreto (2009), que aborda a participação do Estado e do capital no processo de verticalização do Parque Campolin, na cidade de Sorocaba, SP; o de Gimenez (2007), que explica a relação da urbanização e o processo de verticalização na cidade de Maringá, PR; o de Zemke (2007), que examina os reflexos socioespaciais do adensamento imobiliário e vertical de Itapema, SC; o de Passos (2007), que investiga como ocorreu a verticalização de Londrina, PR, a partir das diversas ações dos promotores imobiliários; o de Casaril (2008; 2009) que versa sobre a distribuição espacial da verticalização e como ela ocorreu, tão rapidamente, em Londrina, PR; o de Mendes (2009), que trata dos aspectos culturais do consumo e da mercantilização nas cidades de Maringá, Londrina, Apucarana, e Arapongas, PR; o de (Töws, 2010), que visa apreender, via legislação, o processo de verticalização das cidades de Londrina e Maringá, PR, destacando a participação do Estado nesse processo, dentre outros. Destaca-se, também, a edição do livro A geografia da verticalização urbana em algumas cidades médias no Brasil, organizado por Mendes e Töws (2009), 60 resultado de pesquisas sobre a ocorrência desse processo em Londrina, Maringá, Arapongas, Apucarana e Guarapuava, PR, e Sorocaba, SP. No Paraná, por exemplo, Ramires (1998), ao analisar os estudos de Mendes (1992), identificou que a cidade de Maringá, PR, importante centro dinâmico da economia paranaense, teve como influência a acumulação da produção cafeeira na década de 1960 a 1969, na modernização da agricultura no período de 1970 a 1979 e na agroindústria de 1980 a 1990. Carvalho e Oliveira (2008) identificaram, ao estudar a verticalização de Viçosa, MG, que a Universidade Federal de Viçosa (UFV) constitui-se no principal fator indutor desse processo de verticalização e aparece como motor transformador do espaço da cidade. Dezan (2007) na tese – “A implantação de uma modernidade: o processo de verticalização da área central de Campinas” – destaca que um dos instrumentos legais utilizados para implantar a imagem de modernidade na cidade foi o Plano de Melhoramentos Urbanos, desenvolvido pelo Engenheiro Arquiteto Francisco Prestes Maia na primeira metade do século XX. A intenção de adequar a cidade às novas necessidades econômicas e estéticas em desenvolvimento expressou-se na modificação da configuração do centro urbano por meio da legislação, alteração de eixos viários, alargamento de ruas e reconstrução de edificações públicas e particulares, principalmente verticalizadas. No ano de 1958, após o período sanatorial, São José dos Campos também utilizou do Plano Diretor, elaborado pelo CEPEUUSP, que teve como premissas coibir a especulação imobiliária que estava intensa devido a implantação de importantes indústrias (GM e Kodak) e do Centro Técnico Aeroespacial. A administração local queria promover uma nova imagem de cidade industrial e deixar para trás os tempos de estância climática. Naquela época também foram elaborados vários Planos Setoriais, coordenados por Anhaia Melo para promover melhorias viárias e educacionais. Foram nesses anos que a verticalização teve sua origem na região central como símbolo de progresso econômico. No estudo desenvolvido por Costa (2010), denominado “Relação entre o traçado urbano e os edifícios modernos no centro de São Paulo”, a autora afirma que o Prefeito Prestes Maia, em seu Plano de Avenidas, utilizou uma série de medidas por meio de legislação específica para adequar a escala das construções às novas avenidas propostas no referido plano. Tratou-se de uma tentativa de conciliar a imagem da cidade com “ares modernos” e o desenvolvimento econômico a partir do 61 estímulo à verticalização. Ao iniciar as obras do Plano de Avenidas, a legislação aprovada sugeria um desenho urbano que deveria acompanhar as principais vias. Além de priorizar a abertura de novas avenidas, a legislação Prestes Maia buscava também realizar obras de melhorias nos espaços públicos que se localizavam ao longo do circuito expresso. A autora comenta que a construção da paisagem dessas avenidas se deu a partir de novas normas estabelecidas pela legislação e pelos incentivos fiscais à construção desses espaços na cidade. Nessa época do Plano de Avenidas de Prestes Maia, São José dos Campos vivia o período sanatorial e com o objetivo de apagar a imagem de cidade destinada ao tratamento de doentes de tuberculose, utilizando-se da legislação para promover uma renovação da região central por meio da legislação que incentivava a construção de edifícios nas principais avenidas dessa região. Pode-se dizer que esse tipo de ação do Estado, com o intuito de promover a verticalização por meio da legislação, assim como em São José dos Campos, perpetua-se até os dias de hoje. Almeida (2004), quando relata em sua tese “As transformações urbanas ocorridas em Porto Alegre no período entre 1937 a 1961”, coloca que a legislação urbanística procura desvendar o papel assumido da legislação no urbanismo praticado nos governos locais como instrumento, entre outros, para a consecução de planos e metas governamentais, podendo representar concepções de ação transformadora sobre os espaços urbanos ou meros instrumentos coercitivos para atingir determinados fins. A autora constata por meio de levantamentos que a legislação influencia a formação de uma nova tipologia que iria se evidenciar em uma nova forma de ocupação dos lotes, determinando uma alteração na tendência incessante de elevação das edificações. Esta maneira da legislação influenciar a construção de edifícios cada vez mais altos é possível verificarmos em São José dos Campos quando observamos a disputa pelas alturas, a partir dos anos de 1970 e durante os de 1980 e 1990. Atualmente, a legislação vigente limita os gabaritos de altura em três categorias: até quatro, oito e quinze pavimentos em zonas pré-determinadas. No entanto, no mesmo ano de aprovação da vigente lei de zoneamento de 2010, foi aprovada uma lei de transição que liberou cerca de 200 empreendimentos com mais de 20 e 30 andares e, que segundo a ACONVAP, este estoque está para acabar nesse ano de 2016. 62 Apesar de a cidade contar com instrumentos jurídicos que normatizam a altura dos edifícios, isto não foi suficiente para impedir a instalação do processo de verticalização que vem se intensificando por todo o seu território. No caso de São José dos Campos, é por meio desse instrumental jurídico que também podemos desvendar formas de ação que se impuseram dentro de diferentes contextos políticos nos quais os governos locais passaram a atuar, ora por meio da imposição de políticas urbanísticas autoritárias, ora por meio de adoção de estratégias negociadas para o alcance de determinados fins. Ressaltamos que a relevância desta pesquisa e objeto consiste em preencher a lacuna sobre o processo de verticalização e suas possíveis relações com a legislação urbanística em São José dos Campos. A questão que se colocou à investigação proposta foi de a legislação urbanística em São José dos Campos ser um fator fundamental no seu processo de verticalização. Como este instrumento legal promove a transformação urbana que vem ocorrendo nesta cidade por meio da ação dos construtores locais e o mercado imobiliário. Não podemos esquecer que, apesar de contraditórios, o Estado, dentro do seu papel de promotor de melhorias de qualidade das condições de vida e a serviço de um mercado imobiliário que, em São José dos Campos, é extremamente organizado, tem como demanda a liberação da terra urbana para a aplicação de seus lucrativos empreendimentos. Töws, no artigo publicado em 2010, “A cidade como negócio: os casos de Londrina e Maringá – PR” apresenta como objetivo que analisamos a legislação urbanística de uma cidade devemos tecer algumas considerações sobre a produção do espaço via estratégias e ações, comportamento, papel e a atuação dos principais agentes produtores do espaço urbano no processo de verticalização nas cidades de Londrina e de Maringá. O recorte territorial para análise feito pelo autor partiu de um estudo comparativo entre as cidades de Londrina e de Maringá, no Paraná, cujo objetivo refere-se à atuação do Estado na produção do espaço vertical. Desse modo, o autor optou por discutir uma área distinta de cada cidade, que possuem características semelhantes, no que se refere ao desenvolvimento acelerado acontecido nos últimos anos proporcionado, sobretudo, pela mudança da legislação e pela propulsão ocasionada ao mercado imobiliário local, que enxergaram essas áreas como um 63 grande “filão” para o mercado. As construções nessas cidades são recentes, mas inúmeras, ocasionando grande transformação no espaço e na paisagem urbana. Constata-se que o Estado é um indutor do desenvolvimento da Zona Sul de Londrina, causando enorme diferenciação dessa parte da cidade em relação à zona norte, caracterizada pela pobreza, conjuntos habitacionais para a classe de menor renda. Especificamente, em São José dos Campos, a legislação urbanística (Zoneamento), por meio de seus instrumentos, também promove esta segregação destinando incentivos para a construção de edifícios altos (até 2010) à classe média na Zona Oeste (Jardim Aquarius) e, atualmente, criando ZEIS na Zona Leste destinada a construção de conjuntos habitacionais com gabarito limitado a quatro pavimentos. Gavriloff (2013), em seu trabalho denominado “Instrumentos de gestão urbana e a evolução da ocupação em Curitiba”, coloca que a produção do espaço das cidades também é influenciada pelos processos de planejamento, regulados por leis federais, estaduais e municipais, que direcionariam o seu desenvolvimento para alcançar objetivos estabelecidos. Em São José dos Campos, por meio da compreensão do processo de verticalização que vem ocorrendo é possível verificarmos as diversas formas e fases de atuação do planejamento urbano. É por meio da legislação urbanística que o Estado intervém e atua no espaço urbano dessa cidade e, mais ainda, na criação de infraestrutura. Pode-se dizer que cada cidade tem seu conjunto de regras e padrões a serem seguidos, de acordo com intenções previamente instituídas. Estas normas são aplicadas e fiscalizadas através de órgãos públicos, envolvidos desde a elaboração das diretrizes, acompanhamento dos estudos e realização de projetos. Além desta regulação, por meio de permissões e proibições, a legislação seria um delimitador de fronteiras do poder: [...] a lei organiza, classifica e coleciona os territórios urbanos, conferindo significados e gerando noções de civilidade e cidadania diretamente correspondentes ao modo de vida e à micropolítica familiar dos grupos que estiverem mais envolvidos na sua formulação. (ROLNIK, 1997, p.13). 64 A autora conclui que o Estado, como agente atuante na cidade, ao elaborar normas de uso e ocupação do solo que elevam o custo da terra, cria condições para reprodução das desigualdades sociais e conflitos, pois a promoção de infraestrutura adiciona valor a determinados locais que se tornam de interesse dos promotores imobiliários, afastando determinadas classes da população. Em São José dos Campos, a Zona Oeste tem recebido incentivos da legislação urbanística por meio de coeficientes de aproveitamento altos desde da Lei nº 3021/90. Esta Lei de Zoneamento teve o intuito claro de promover a verticalização no Jardim Aquarius e ao longo da Avenida Jorge Zarur (Região Oeste). Os terrenos localizados nessas áreas foram destinados à implantação de condomínios verticais de alto padrão, concentrando uma população detentora de boa parte da renda urbana dessa cidade. Esses espaços continuam recebendo investimentos da iniciativa privada com o apoio do Poder Público. Esse apoio é feito, por meio de oferta de altos coeficientes de aproveitamento. Para Botelho (2007, p.82-83), A ação do Estado não é neutra (...) as áreas da população mais rica e as atividades ligadas ao capital monopolista (produção, comercialização e consumo) são privilegiadas no que diz respeito aos investimentos estatais em infraestrutura e equipamentos de uso coletivo, bem como em relação à legislação urbanística. No artigo “A verticalização do Parque Campolin em Sorocaba”, de 2007, Barreto justifica o aumento de construções de elevado número de pavimentos é o fato de que, com a aprovação do novo Plano Diretor, em 2004, a possibilidade de construções desse porte poderia ser limitada, já que o referido Plano normatiza em seus parágrafos, por meio do coeficiente de aproveitamento dos terrenos, tais construções. O autor conclui que a cidade vertical vai se moldando às novas realidades e, uma dessas novas tendências, é a verticalização do bairro, em especial, aqueles que estão dotados de algumas características vitais a tal verticalização: bom aporte de infraestrutura e acessibilidade, proximidade relativa com a área central, disponibilidade de espaços para construções verticais e, por fim, permissividade por parte da Legislação Urbana. 65 Em São José dos Campos, o Plano Diretor não é vinculado à Lei de Zoneamento; são documentos elaborados separadamente e distintos. O primeiro dispõe sobre as diretrizes gerais a serem atendidas pela municipalidade e a segunda trata, exclusivamente, de instrumentos urbanísticos de controle do uso e ocupação do solo e diretrizes de âmbito urbanístico. Segundo Nascimento (2012), no artigo “O processo de verticalização do bairro da Ribeira em Natal”, a cidade foi favorecida não apenas por uma legislação permissiva, mas, indutiva. O autor analisa o impacto da Lei de Operação Urbana Ribeira e como esta favoreceu a aplicação de índices de potencial construtivo que permitem uma ocupação superior aos índices aplicados no restante da cidade. Esta prática utilizada pelo Estado é comum, na maioria das cidades brasileiras, e tem várias ações e a legislação urbanística é uma delas. Segundo Lowën Sahr (2000), o poder público assume um papel relevante para a verticalização disciplinando o seu processo por meio da legislação urbana, a qual aparece extremamente subordinada aos interesses dos grupos que produzem este espaço. Fialho (2007), em sua pesquisa sobre edifícios de escritórios na cidade de São Paulo, discute sobre a influência decisiva da legislação sobre a configuração dos edifícios e sua viabilidade, assim como o rebatimento na localização dos edifícios na cidade e no delineamento de vetores de expansão. O autor relata quais são as implicações da legislação no desenvolvimento dos projetos dos edifícios de escritórios na cidade de São Paulo. Mostra em que momentos esta interferência causada pela legislação se deu de maneira mais contundente. Cita o fato que o “arranha-céu” paulistano tem a sua pouca altura e volume condicionados por políticas de mercado e restrições de legislação. Tais restrições de uso do solo sempre privilegiaram modelos de ocupação relativamente rarefeitos, principalmente se compararmos às cidades americanas. Esta peculiaridade explica, em parte, como a saturação predatória de um bairro verticalizado inviabiliza seu potencial de crescimento aos olhos do mercado, o que leva a migração deste capital especulativo de uma região para outra. Silva (2007), em seu trabalho denominado “A verticalização do espaço urbano: o caso do bairro do Prado em Recife – PE”, teve como objetivo fazer uma discussão sobre o processo de verticalização dentro da cidade do Recife, numa área onde ela ocorre de forma incipiente, com o intuito de detectar os mecanismos ou 66 processos envolvidos na modelação do espaço urbano. Para tanto, a autora realizou uma análise do bairro do Prado, que está localizado numa área de transição onde, de um lado temos um núcleo de bairros que estão se adensando rapidamente e de outro, temos bairros mais populares que sofrem uma verticalização mais modesta. O bairro do Prado está se adensando através de um processo de verticalização lento. Seus limites com os bairros da Madalena, Zumbi, Cordeiro, San Martin, Bongi e Ilha do Retiro, mostram claramente que esta é uma área de transição entre um espaço em que prevalecem residências de uma população mais abastada e outra em que reside uma população de menor renda. Por isso seria essa área, também, o limite da verticalização que invade aos bairros beira-rio. Enquanto espaço de transição, o bairro possui contradições que podem inibir essa verticalização. O fato de o bairro ser composto em grande parte por Zonas Especiais de Interesse Social - ZEIS inibe o avanço construtivo na totalidade do bairro, resultando no adensamento vertical restrito, limitado no perímetro que não se constitui enquanto ZEIS. Em contrapartida os elementos locacionais como proximidade de vias de circulação de acesso aos principais centros comerciais e de serviços da cidade, a disponibilidade de equipamentos públicos e a amenidade ambiental tem contribuído para a atração de novos investimentos imobiliários. Diante de tais condicionantes a verticalização se dá nesse espaço de forma lenta, concentrada, buscando implantar-se nos espaços mais receptíveis do bairro alterando as formas tradicionais e imprimindo uma feição moderna e vertical. A autora destaca que o “empreendedorismo urbano” passou a fazer parte das agendas locais das cidades brasileiras, que crescem cada vez mais desiguais, uma vez que essas ações têm um alto custo social que se reflete em demandas não atendidas (habitação, saúde, educação, etc.). Essa constante relação entre crescimento da população e consequente demanda por habitação e a produção material da cidade, realizada principalmente pela verticalização, será permanentemente regulada pelo Estado, por intermédio das leis de uso e ocupação do solo urbano. Em contrapartida, esse mesmo Estado regulador não tem sido capaz de promover com eficácia a melhoria das áreas mais carentes, deixando-as a margem da geração de infraestrutura e de integração social à cidade. Diante da regulação do espaço os agentes imobiliários atuam no mercado buscando as áreas mais valorizadas disponíveis para os empreendimentos. Essa ação não ocorre de forma homogênea, mas sim concentrada nos ambientes em que residem as populações de mais alta renda. Assim como em Recife, verificamos que em São José 67 dos Campos essa prática dos agentes imobiliários vem sendo aplicada e a saturação dos espaços tradicionais da verticalização tem gerado uma nova tendência, motivada principalmente pela criação de leis que regulam o uso do espaço urbano, que está induzindo as empresas à exploração de áreas menos tradicionais. A região sul de São José dos Campos, principalmente o bairro do Parque Industrial, próximo ao Anel Viário, tem se adensado em decorrência dessa busca por novos espaços para verticalização. Contudo, os agentes imobiliários enfrentam condicionantes que os levam a limitar sua área de atuação dentro do bairro, ampliando as contradições paisagísticas e sociais do bairro. Aspectos físicos como infraestrutura, equipamentos antigos e condicionantes sociais como o “apego” ao lugar e a presença de áreas pobres limita a livre atuação do mercado imobiliário. O que podemos observar é que, assim como ocorre em Recife, a legislação e a verticalização são um desafio da maioria das cidades brasileiras. Afinal, a verticalização traz qualidade de vida para os moradores do edifício e do seu entorno? Nadia Somekh (1987), na dissertação de mestrado, “A (Des)verticalização de São Paulo”, traça um perfil histórico da cidade de São Paulo entre 1920 a 1991 e, de acordo com a autora, as áreas verticalizadas são adensadas apenas aparentemente. O motivo deste fenômeno seria a legislação urbanística que reduziu ao longo do tempo os coeficientes de aproveitamento permitidos e consequentemente, com a redução da possibilidade de verticalizar, ampliou-se a demanda por solo edificável, com a inflação dos preços do mercado. Maria Adélia Aparecida de Souza (1994), no livro “A identidade da metrópole: a verticalização em São Paulo”, resgata a importante abordagem sobre a dinâmica da verticalização em São Paulo. Tem como premissa estudar a verticalização em São Paulo como parte do processo de urbanização e como (re) produção do espaço urbano. Destaca-se a descrição que a autora realiza sobre as Leis de Uso do Solo em períodos diferentes. Constata que, ao longo destes diferentes períodos, quanto à legislação urbana de São Paulo, não houve preocupação com o processo de expansão do espaço urbano. Quanto às Leis de Uso do Solo, a autora diz: “(...) seu exame, no entanto, revela as posições das diferentes instâncias e agentes interessados na produção do espaço vertical no município de São Paulo”. Primeiramente, foi através das especificidades de outras cidades brasileiras que constatamos que São José dos Campos não se trata de uma cidade média 68 brasileira, trata-se de uma metrópole, e constitui-se num centro regional de destaque, incontestável, na rede urbana nacional. Analisando a relação entre a legislação e a verticalização de algumas cidades brasileiras podemos dizer que o Estado investe e ajuda a promover a verticalização por meio da legislação. O Estado tem várias ações, a legislação é uma delas, e esta é fator fundamental no processo de verticalização nas cidades brasileiras. Verificamos que a atuação do Estado no urbano é feita através da produção de infraestrutura; da legislação; da manutenção da ordem e da difusão de discursos hegemônicos. A seguir, iremos tratar da especificidade de São José dos Campos e apresentar como construímos nossa periodização para o pleno desenvolvimento desta pesquisa. 69 1.4 A ESPECIFICIDADE DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS São José dos Campos constitui-se num centro regional de destaque, incontestável, na rede urbana nacional. Para descrevermos o processo de verticalização em São José dos Campos, objeto deste estudo, elaboramos uma periodização a partir da sua legislação urbanística, de dados sobre sua evolução histórica, bem como de informações sobre as transformações sociais, políticas e econômicas dessa cidade e da região na qual está inserida - o Vale do Paraíba e Litoral Norte paulista. Procuramos identificar os pontos de inflexão do processo em estudo. Para o pleno desenvolvimento desta pesquisa foram elaborados quatro gráficos com base nos grandes períodos do desenvolvimento econômico brasileiro e a ação do Estado por meio da produção intensa de legislação urbanística em São José dos Campos que incentivaram a verticalização nesta cidade. Santos (1994) nos chama a atenção para o fato de que na análise da história da cidade ou do urbano a questão da periodização seja bem colocada, com um perfeito entendimento do que seja período. Nas suas palavras “cada periodização, trazendo formas próprias de arrumação de variáveis, permite reconhecer um processo histórico mais geral, seja onde estivermos” (SANTOS, 1994, p.71). Somekh (1987), por exemplo, adota uma periodização que procura relacionar as grandes fases do desenvolvimento econômico nacional e paulista e as ações e critérios do Estado. No trabalho de Somekh (id.,1987), para cada período são apontadas algumas características do processo de verticalização vinculadas a uma conjuntura econômica mais ampla. Assim, o primeiro período é marcado pela influência da 70 arquitetura europeia, com tendência de homogeneização de altura entre os edifícios e a difusão do uso do elevador. Em 1934 cria-se uma legislação urbanística que restringe a construção de edifícios com mais de 10 andares na área central, fazendo com que o processo de verticalização se expanda para áreas adjacentes ao centro. Esta periodização nos remete a um espaço de tempo (histórico) e a legislação urbanística produzida em cada um dos períodos identificados neste estudo tem como objetivo compreender o processo de verticalização que ocorre em São José dos Campos. Souza (1994) privilegia a produção de edifícios e sua vinculação ao processo mais amplo de produção e apropriação do espaço urbano, destacando o desenvolvimento da sociedade e o papel da técnica no espaço. A autora detecta que a verticalização no seu período inicial foi predominantemente terciária e espacialmente concentrada na área central da cidade de São Paulo. Os edifícios para os escritórios, bem como os residenciais, na sua maioria eram construídos para aluguel. Posteriormente, o uso residencial dos edifícios passa a ser predominante e verifica-se uma progressiva articulação do Estado com o capital imobiliário, definindo as tendências de territorialização desse processo. Primeiramente, faz-se necessário entendermos o crescimento da economia e a ação do Estado, critérios indissociáveis, somados à caracterização específica do fenômeno estudado, e suas variações quantitativas e qualitativas, que nortearam a definição dos períodos (SOMEKH, 1997). Nesta pesquisa sobre o processo de verticalização em São José dos Campos foram elaborados os seguintes gráficos para definição dos períodos: Gráfico 1 – “Edifícios produzidos com habite-se” (curva da verticalização); Gráfico 2 – “Índices de inflação”, no período de 1964 até 2013; Gráfico 3 – “Número de ofertas de lotes no Município” e Gráfico 4 – “Número de projetos aprovados”. 71 Gráfico 1 – Número de edifícios produzidos com “Habite-se” por ano em São José dos Campos – Fonte: Secretaria de Planejamento Urbano de São José dos Campos, 2014. Gráfico 1 – “Edifícios produzidos com Habite-se” em São José dos Campos, a elaboração deste gráfico produz a curva da verticalização ao longo do século XX e meados do século XXI. Numa primeira abordagem, podemos verificar que no ano 1975 ocorreu o primeiro pico de produção da verticalização, logo após ao “milagre econômico” e, provavelmente, devido à diretriz contida no PDDI de 1971, de verticalizar e adensar a cidade e tornar a cidade mais compacta e densa. Outro fato relevante que podemos notar é quanto aos altos coeficientes de aproveitamento praticados na Lei de Zoneamento de 1971 e ao “milagre econômico brasileiro”13. Verificamos ainda que este alto crescimento dos edifícios ocorre logo após a implantação da Refinaria da Petrobrás no Município, em 1974 que gerou uma grande 13 Período da História do Brasil entre os anos de 1969 e 1973 foi marcado por forte crescimento da economia. Nesta época o Brasil era uma Ditadura Militar, governado pelo general Garrastazu Médici. O termo “milagre” está relacionado com este rápido e excepcional crescimento econômico pelo qual passou o Brasil neste período. Este crescimento foi alavancado pelo PAEG (Programa de Ação Econômica do Governo) implantado em 1964, durante o governo do general Castelo Branco. 72 demanda habitacional. Destacam-se também na curva de verticalização o ano de 1993, após a promulgação da lei de zoneamento de 1990 e o ano de 2003. Pode-se verificar que, no ano de 2012, foi onde ocorreu a maior produção de edifícios com “habite-se” (reflexos da aprovação dos projetos de altos edifícios por meio da Lei de Transição da atual lei de zoneamento de 2010 que limita os gabaritos de altura em 3 categorias). Observamos ainda que, em 2013, esta curva de verticalização despencou a quase zero. Esta legislação teve como premissa um controle rígido do gabarito de altura na cidade devido ao grande estoque existente e ao acordo com os vereadores de não aprovarem nenhuma lei de regularização pelos próximos cinco anos. Gráfico 2 – Índices de inflação de 1964 a 2013 – Fonte: IPC e IBGE, 2014. Gráfico 2 – denominado de “Inflação no Brasil ano a ano”, foi elaborado a partir de 1964. Observa-se que o ano de 1964, e no período da Ditadura Militar (31/03/1964 a 15/01/1985), teve como um dos seus aspectos negativos a inflação elevada entre 15% e 20% ao ano. Podemos observar ainda que, ocorreram dois grandes picos, nos anos de 1989 e 1994 (ano da implantação do Plano Real e crise no setor industrial) e que há uma certa “estabilidade”, que se manteve até os anos de 2013. Atualmente, a inflação está em fase de elevação e a indústria da construção tem a preocupação de, por meio da legislação, estimular a indústria da construção civil. 73 Gráfico 3 – Ofertas de lotes (em centenas) – Fonte: Secretaria de Planejamento Urbano de São José dos Campos, 2014. Gráfico 3 – “Ofertas de lotes no Município” – apresenta as ofertas de lotes no Município, no qual podemos verificar que, no ano de 1960, ano da elaboração do Plano Diretor do CEPEU-USP, foram ofertados o maior número de lotes justificando a preocupação do Poder Público e a contratação desse estudo que teve como tarefa apresentar diretrizes para ordenar o território e coibir os abusos da especulação imobiliária que vinham ocorrendo desde 1948 (ano do início da construção do C.T.A. e ITA). Outro destaque é o ano de 1975, ano da implantação da Refinaria Henrique Lajes que trouxe para São José dos Campos um grande fluxo populacional e crescimento econômico. Verifica-se, ainda, que as ofertas de lotes, geralmente, crescem após a promulgação das leis de zoneamento de 1970, 1980, 1990 e 1997. Mas, foi nos anos de 1960 e 1992 que houve a maior produção de lotes em São José dos Campos. Quando esta produção dá inícios de enfraquecimento uma nova lei com estímulos é promulgada. Podemos observar ainda que, a produção de lotes caiu, drasticamente, com a atual lei de zoneamento (LC 428/10) devido as inúmeras 74 restrições quanto à implantação e produção de novos loteamentos. A legislação rígida e coerciva provoca a fuga de investidores e estes agentes procuram novas localidades. Gráfico 4: Aprovação de Projetos – Fonte: Secretaria de Obras, 2014. Gráfico 4 – “Aprovação de Projetos” podemos verificar que há um aumento substancial no número de projetos aprovados nos anos de 1998, 2006 e 2012, datas da promulgação das principais leis de regularização que foram aprovadas com intuito de legalizar as construções irregulares existentes na cidade. A seguir, elaboramos uma linha do tempo e um quadro da legislação urbanística de São José dos Campos mais relevante com seus incentivos à verticalização em São José dos Campos no período de 1950 a 2010 para fazermos os cruzamentos necessários para a definição dos períodos do seu processo de verticalização. 75 LINHA DO TEMPO DA LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS 1950 1940 1930 1970 1960 1971 2º Plano Diretor – SERETE S/A – Estímulos para a produção de uma cidade compacta e densa. 1960 1º Plano Diretor – CEPEUUSP – Visava coibir a especulação imobiliária. 1947 Plano Urbanístico do CTA – Oscar Niemeyer e Lúcio Costa 1932 1971 1954 O princípio de “Zoning” é institucionalizado. 1ª Lei de Zoneamento – Adotou-se o zoneamento funcional. São aplicados coeficientes altos para promover a verticalização. 1º Código de Obras – Feições e princípio de “Zoning”. 1980 1990 1995 1985 3º Plano Diretor - Convênio com a UNES de Rio Claro chamado de “Plano da Cidadania” por conter diretrizes que visavam dirimir as inequidades sociais. 2º Código de Obras 1990 1980 3ª Lei de Zoneamento – Difere das duas primeiras leis pelo fato de ter sido produzida originalmente pelos técnicos da Administração Municipal. 2ª Lei de Zoneamento – Difere da primeira apenas por não ter sido decorrente de um plano diretor, pois igualmente, foi formulada por uma empresa de consultoria externa. Há um verdadeiro “boom” na construção de edifícios altos. 2000 2015 Elaboração de uma nova Lei de Zoneamento. 4º Plano Diretor – Promover uma Cidade Sustentável. 2003 Figura 1: Linha do Tempo – Legislação Urbanística. Fonte: Elaborada pelo autor, 2016. 4ª Lei de Zoneamento - O PDDI-95 estabeleceu como diretrizes fortalecer o Parque Industrial. Há uma flexibilização do uso e ocupação do solo urbano. 2010 2006 3º Código de Obras 1997 2010 2010 5ª Lei de Zoneamento - Rígidos e diversificados parâmetros quanto a recuos, coeficientes de aproveitamento e controle do gabarito de altura. Lei de Transição – Cerca de 200 Projetos para construção de edifícios são aprovados e este estoque está previsto para terminar em 2016. 76 QUADRO GERAL DA LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA MAIS RELEVANTE E SEUS INCENTIVOS À VERTICALICALIZAÇÃO EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS – 1950 A 2010 DÉCADAS LEGISLAÇÃO CARACTERÍSTICAS Esta Lei nº 136/51 lei tinha como OBSERVAÇÕES Menciona, pela primeira premissa o incentivo da vez, a questão da verticalização na região verticalização que central. naquela época era embrionária e sem 1950 quaisquer parâmetros urbanísticos. Marco do início do Criação de parâmetros para construção de Lei nº 281/54 edificações. controle do Estado e a divisão da área urbana em 3 zonas de uso. A possibilidade de maior Dirigida às construções reprodução do solo, aliada de edificações verticais a determinação de mais estabeleceu dois Lei nº 664/60 coeficientes de aproveitamento para a 1960 cidade. de um pavimento região contribuíram na central, para a construção dos primeiros edifícios nesta região. Plano Diretor do Diretrizes para Elaborado sob a CEPEUUSP -1958 a verticalização na região coordenação de Anhaia 1964 - (1º Plano Diretor e central e coibir a Melo e não foi aprovado. Planos Setoriais) especulação imobiliária Lei nº 1578/70 Criação de novas Criação de parâmetros exigências e orientações específicos para a para a construção de construção de edifícios. edifícios no Código de Exigência de elevadores. Edificações 1970 Lei nº 1623/71 Incentivo a verticalização Elaborado pela SERETE PDDI por meio de altos S/A sob a coordenação (2º Plano Diretor) coeficientes como o de Jorge Wilheim intuito de criar uma cidade compacta e densa 77 Fixou uma altura máxima para 1970 as construções verticais em toda a cidade, Lei 1755/75 independentemente do Fica fixada em 35,00 (trinta e cinco metros) ou 10 (dez) pavimentos a altura máxima permitida para as construções no tamanho do lote. Município. Ocorre o “Boom” imobiliário e a produção de edifícios cresce cerca de 340% na Região Centro – Vila Ady’anna. Altos coeficientes de aproveitamento e Lei nº 2263/80 (2ª Lei de Zoneamento) incentivos à descentralização da verticalização. Apesar de estímulos que a Lei nº 2433/81 Incentivo a construção de lei proporcionava, como a edifícios-garagens nas taxa de ocupação de 80%, zonas comerciais e não foi construído nenhum centro. edifício para esse uso. Passou a exigir a instalação de mais de um Lei 3039/85 Reformulação do Código de Obras elevador para edifícios com mais de oito 1980 pavimentos Proíbe a construção de edifícios residenciais na Lei nº 3077/85 ZE-10, correspondente ao Classificou a área do Bairro Vila Ema, bairro da Vila Ema como contrariando as zona de uso unifamiliar expectativas dos incorporadores e mercado. Lei 3096/86 Incentivos a construção Objetivo de estimular a de edifícios na ZE-9, uma verticalização a partir da região ao região central da cidade Ribeirão Vidoca e próxima em direção às Avenidas a ZE-10. Esta lei dispensa Jorge Zarur e Eduardo a ZE-9 das exigências de Cury e Jardim Aquarius altura máxima de trinta e (Região Oeste). cinco metros que foram Determinou dois anteriormente fixadas pela coeficientes: 4 para as Lei nº 2490/81 para todo o edificações destinadas ao Município e estipula novos uso residencial e 3 para próxima coeficientes zona. para esta as edificações destinadas ao uso comercial. 78 Uma lei produzida, Foram criadas inúmeras Lei nº 3721/90 originalmente, pelos zonas mistas e (3ª Lei de Zoneamento) técnicos da Administração corredores para incentivar Lei nº 121/95 (3º Plano Diretor) Municipal. Grande a implantação de incentivo à verticalização comércio, serviço e no bairro Jardim Aquarius indústrias por toda a área (Região Oeste) urbana Fortalecer e consolidar o Denominado como um Parque Industrial plano para a cidadania – existente, de incentivar a visava dirimir as implantação de pequenas inequidades sociais. e microempresas e de, principalmente, fortalecer 1990 o desenvolvimento de tecnologia de ponta no Município, como forma de potencializar a geração de emprego e renda. Pré-proposta de Propõe a implantação de regulamentação do PDDI coeficiente único e a de 1995 diferença era negociada Não foi aprovada. com o Poder Público. Esta lei visava uma maior Objetivo foi alavancar a flexibilização no uso e economia que ficou LC nº 165/97 ocupação do solo urbano abalada após a crise (4ª Lei de Zoneamento) e a prática de coeficientes industrial em meados da altos por todo o território. década de 1990. Transforma a cidade em uma grande área mista. Plano que possui como premissas a recuperação das Zonas de Cursos Três pilares: Habitação, LC nº 306/06 D’Água, a implantação de Economia e qualidade de a (4º Plano Diretor / parques lineares e vida. 2010 vigente) incentivos para ocupação 2000 das áreas encravadas no tecido urbano – reintegração. 79 Os gabaritos de altura Apresenta rígidos e foram controlados em diversificados parâmetros de distribuição de usos, variadas zonas de uso em 3 categorias: até 4 recuos frontais e laterais, pavimentos, até 8 e até coeficiente de LC nº 428/10 (5ª Lei de Zoneamento / vigente) 15 pavimentos. aproveitamento e Justifica que por meio do restrições do gabarito de controle do gabarito de altura dos edifícios que altura ocorre a dificultaram a sua 2000 aplicação e vem a preservação da paisagem urbana e, como sobrestando a 2010 consequência, traz a implantação de diversas melhoria da qualidade de atividades no município. vida à população. Cerca de 200 edifícios foram aprovados sem LC nº 488/10 Lei de Transição limites de gabarito de altura e com utilização de coeficiente de aproveitamento máximo e este estoque está previsto para terminar em 2016. Figura 2: Quadro Geral da Legislação Urbanística mais relevante e seus incentivos à verticalização em São José dos Campos – 1950 a 2010. Fonte: Elaborada pelo autor, 2016. Ressaltamos que, por vezes, esta difere de sua aplicação. Após análises dos gráficos 1, 2, 3, 4 e do cruzamento com o conjunto mais relevante da legislação urbanística de São José dos Campos que incentivou, de certo modo, a verticalização por décadas, foi possível identificar que o processo de verticalização de São José dos Campos é composto por: Origens e Antecedentes da verticalização em São José dos Campos e mais 3 períodos, descritos a seguir: “Origens e Antecedentes da verticalização em São José dos Campos” – O início do processo de verticalização de São José dos Campos foi quando havia uma verticalização embrionária. Neste período são promulgadas as primeiras leis urbanísticas de incentivo para atração de indústrias. Como consequência desta política, ocorre a implantação das primeiras grandes indústrias de cerâmica (Weiss) e têxtil (Tecelagem Parahyba e Rhodia) – denominado por alguns autores como o 1° Período Industrial. Constata-se em nossos estudos que a verticalização em São José dos Campos sempre esteve atrelada ao processo industrial e surge na área central 80 com um edifício de uso misto. A construção dos edifícios não era regulada pelo Estado, não havia parâmetros quanto ao gabarito de altura dos edifícios, taxa de ocupação e coeficiente de aproveitamento. É neste período que ocorre a implantação do C.T.A. (1950), da Rodovia Presidente Dutra (1951). Pela primeira vez, o Censo de 1950 demonstra que a população urbana de São José dos Campos ultrapassa a rural – inicia-se o 2º período industrial (química e automobilística). PRIMEIRO PERÍODO – 1954 A 1970 – Em 1954 é promulgado o Código de Obras e Edificações, marco do início do controle do Estado. A verticalização surge na região central (ainda tímida). O ano de 1958 é marcado pelo fim da fase Sanatorial e início dos estudos para elaboração do primeiro Plano Diretor. No intervalo de 1958 a 1964, com a preocupação por parte do Poder Público em promover diretrizes para o rápido e intenso crescimento econômico e de ordenar o seu território, são elaborados um Plano Preliminar (o primeiro Plano Diretor) e Planos Setorias, elaborados pelo CEPEUUSP, sob a coordenação de Anhaia Melo. Este plano teve como premissa, dentre outras, coibir a especulação imobiliária. No entanto, estes planos não foram aprovados. Em 1964 são elaborados os Planos Setoriais. A legislação urbanística de São José dos Campos neste(s) primeiro(s) período (anos) foi fundamental quanto a regular e prover parâmetros urbanísticos que até então não existiam. SEGUNDO PERÍODO – 1971 a 1996 –“Intensificação e Descentralização” – No ano de 1971 é promulgado o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (o segundo plano), aprovado, elaborado pela SERETE S.A. e coordenado pelo Arquiteto Jorge Wilheim (Lei 1623/71). Este plano teve como premissa o incentivo à verticalização – “não incentivar a expansão horizontal e o estímulo à ocupação e ao adensamento dos vazios urbanos”. Destaca-se que a promulgação da 1ª Lei de uso e ocupação do solo (Lei 1606/71) ocorreu antes da aprovação deste plano. Nesta lei de zoneamento foram adotados altos índices de coeficiente de aproveitamento (incentivo à verticalização) – em várias zonas de uso chegavam a 6 vezes a área do lote para habitações coletivas e de usos mistos. Registra-se o 3° Período Industrial (Refinaria e Aeronáutica). Constata-se ainda que é neste período que há uma forte atuação do BNH que financia a construção intensa de edifícios residenciais e 81 conjuntos habitacionais na região leste e há a implantação do projeto CURA. A 2ª Lei de Zoneamento (Lei 2263/80) foi elaborada nos moldes da lei de São Paulo (tratava-se de uma cópia). A 3ª Lei de Zoneamento (Lei 3721/90) divide a cidade em várias zonas mistas e inúmeros corredores. Em 1995 ocorre a elaboração e aprovação do 3° Plano Diretor que teve o convênio com a UNESP Rio Claro (LC 121/95). Este plano propunha um plano para a cidadania. Após aprovação do plano, é elaborada uma pré-proposta de lei de zoneamento para regulamentação desse plano, onde foram estabelecidas zonas de controle, a incentivar e a incrementar a verticalização. Foram criados vários instrumentos urbanísticos inovadores (anteriores ao Estatuto da Cidade de 2001) – Operações Urbanas, Operações Interligadas, Solo Criado, IPTU Progressivo e a criação de um coeficiente único de aproveitamento e a verticalização deveria a ser negociada. Esta proposta de lei visava dirrimir as inequidades sociais presentes no território por meio desses instrumentos urbanísticos. Neste segundo período constata-se que a legislação é determinante para intensificar e, de certa forma, promover a verticalização e, por meio dela, criar novas centralidades. TERCEIRO PERÍODO – 1997 a 2015 – “Verticalização Metropolitana” – Este atual período do processo de verticalização teve início com a promulagação da 4ª Lei de Zoneamento (LC165/97) que propôs para quase a totalidade da área urbana o coeficiente de aproveitamento igual a 3 com o objetivo de estimular os investimentos imobiliários e a implantação de novas indústrias em zonas mistas espalhadas por todo o seu território. Esta diretriz foi colocada devido a grande crise que São José dos Campos passou após a crise da EMBRAER onde, cerca de cinco mil funcionários tinham sido demitidos e outros milhares nas indústrias que davam suporte à esta empresa também sentiram esse momento. A lei de Zoneamento de 1997 também propôs, entre outras medidas, que na região central o coeficiente adotado fosse de 4 com o objetivo de estímular e revitalizar a região do centro – fato que não aconteceu. Vale ressaltar que durante todo o período de sua vigência, cerca de treze anos, em paralelo, havia uma lei de regularização para atender os que não a cumpriam. Em 2006, ocorre a elaboração do 4° Plano Diretor (LC 306/06) que visava a sustentabilidade e o fortalecimento do setor terciário de caráter metropolitano. Essa medida teve o intuito de fortalecer São José dos Campos como cidade sede da região metropolitana do Vale Paraíba e Litoral Norte. Em 2010 é 82 promulgada a 5ª Lei de Zoneamento (LC428/10) – que teve como justificativa promover a preservação da paisagem urbana e, para tanto, controla o gabarito de altura dos edifícios em 3 categorias: até 4 pavimentos, até 8 pavimentos e até o máximo de 15 pavimentos em diferentes zonas denominadas de urbanização controlada (ZUCs). Alguns meses após a promulgação da lei de zoneamento é aprovada uma lei de transição (LC 430/10), na qual foram aprovados cerca de duzentos edifícios. Segundo a ACONVAP, este estoque está para terminar em 2016. Atualmente, encontra-se na Câmara Municipal de São José dos Campos, para aprovação, uma proposta para uma nova lei de uso e ocupação do solo que propõe coeficiente único e igual a 1 (um) em toda a área urbana e o seu execedente terá que ser pago e destinado para um fundo de habitação (trata-se de uma legislção negociada). Paralelamente, a AGEMVALE, uma agência metropolitana do estado de São Paulo, está coordenando e desenvolvendo estudos para implantação de uma lei de uso de solo metropolitano. O objetivo da AGEMVALE é o de articular e integrar a organização, o planejamento e a execução das ações públicas de interesse comum desse território. Para isso, foi instituído um Conselho de Desenvolvimento Regional, formado por prefeitos e representantes do Estado. O Conselho tem como atribuição definir as prioridades para os investimentos na região. Estão entre as atribuições da agência, a arrecadação de receitas e a elaboração de planos, programas e projetos para cumprir metas e objetivos estabelecidos pelo conselho. Os recursos virão de dotações orçamentárias do Estado e dos municípios da Região Metropolitana, de subsídios federais, de outros Estados, de entidades públicas e privadas, além do Fundo de Desenvolvimento da RMVPLN. Também estão previstas receitas próprias, por meio de serviços prestados segundo regulamento, e provenientes de concessões, permissões e autorizações. Seu patrimônio será constituído pelos bens móveis e imóveis doados pela União, Estado e municípios e pelos bens, direitos e valores adquiridos. A estrutura da AGEMVALE conta com um conselho de administração com funções exercidas pelo Conselho de Desenvolvimento da RM Vale do Paraíba e Litoral Norte; uma diretoria executiva, composta por um diretor executivo e dois adjuntos nomeados pelo governador; com assistência técnica; procuradoria jurídica; diretoria técnica e diretoria administrativa. Haverá ainda um ouvidor, com mandado de dois anos, também designado pelo Executivo. 83 Nesse capítulo, retratamos o terceiro período do processo de verticalização de São José dos Campos, no qual pudemos constatar que a legislação urbanística, na maioria dos casos aqui analisados, mostra-se restritiva e continua sendo um instrumento utilizado pelo Estado com o intuito de promover a verticalização e, por meio deste instrumento, beneficiar o setor imobiliário e promover a acumulação do capital. Observamos ainda que um quarto período do processo de verticalização de São José dos Campos encontra-se em fase de formação; trata-se da verticalização presente, na maioria das cidades da região do Vale do Paraíba e do Litoral Norte. Apresenta-se que o maior desafio metropolitano atual é a legislação urbanística, sua eficácia e seus efeitos que trarão para a Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte (RMVPLN) que tem como sede São José dos Campos. No capítulo a seguir, iremos descrever as origens e os antecedentes do processo de verticalização de São José dos Campos. 84 CAPÍTULO 2 – ORIGENS E ANTECEDENTES DA VERTICALIZAÇÃO EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS Este segundo capítulo está estruturado em três partes. Na primeira parte discorremos sobre as origens da legislação urbanística e da verticalização em São José dos Campos que no início desse processo é embrionária. Na segunda parte é apresentado um panorama das origens e constituição da indústria da construção civil de São José dos Campos. Verifica-se que, neste primeiro período, não havia parâmetros urbanísticos (sem o controle do Estado). São comentados os efeitos desse controle do Estado (pós promulgação do Código de Edificações de 1954). Neste subcapítulo busca-se também discorrer como se deu a construção do polo tecnológico regional de São José dos Campos, uma vez que a verticalização em São José dos Campos sempre esteve atrelada ao processo de industrialização. Na terceira parte desse capítulo descrevemos o primeiro período do processo de verticalização em São José dos Campos. Nesse primeiro período desse processo são relatados os primórdios da verticalização e identificados os seus primeiros edifícios e principais construtores. Verificamos que a verticalização em São José dos Campos iniciou-se, assim como na maioria das cidades brasileiras, na região central. 85 2.1 ORIGENS DA LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA E DA VERTICALIZAÇÃO EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS O urbanismo aparece com os problemas advindos das cidades industriais, sobretudo em razão do aumento da concentração da população urbana que gera conflitos e demanda controle. O urbanismo enquanto ciência propõe-se a revelar os segredos da organização social através de suas formas materiais. A organização socioespacial é consequência direta das relações entre processos econômicos, políticos e sociais. De acordo com Benevolo (1974), das cidades industriais emergem problemas e o urbanismo surge para tentar resolvê-los, como disciplina moderna que vincula as transformações da cidade às transformações da própria sociedade. Com o urbanismo aparece a figura do urbanista que, segundo Somekh (1994), tem o papel de buscar uma cidade mais justa, ambientalmente adequada e, sobretudo, bela. O zoneamento surge como uma das primeiras ferramentas para conter, controlar e disciplinar os conflitos nas cidades. Alguns autores, mais especificamente Villaça (1998), colocam que o zoneamento foi uma fórmula importada dos Estados Unidos para fazer a opinião pública crer que algum controle era exercido. Mas, como temos observado, isso não é verdade. Os urbanistas iam a congressos e poderiam até errar, mas não tinham o intuito de enganar a população. Podemos observar que, assim como na grande maioria das cidades brasileiras, em São José dos Campos as primeiras normativas de zoneamento estimulavam a verticalização em vez de controlá-la. 86 Observamos que o objetivo da organização funcional das cidades brasileiras, de uma forma geral, é dar a cada uma das atividades o máximo crescimento e não o desenvolvimento (palavras distintas), portanto, máximo rendimento. Surgido em fins do século XIX na Alemanha e com o objetivo maior de atender às questões ambientais, o zoneamento atinge sua maturidade disciplinar no período posterior à primeira guerra e, a partir daí, se expande para quase todos os países. Vale ressaltar que o zoneamento é uma forma de trabalhar dos urbanistas. Sua primeira e mais significativa exportação é para os Estados Unidos, onde após a adoção da primeira lei abrangente ao conjunto da cidade, em 1916, em Nova York, adquire características particulares (FELDMAN, 1996). Somekh (1994) coloca que dentro da experiência urbanística europeia, destaca-se o tratamento específico dado pelos urbanistas à questão do adensamento, com a “descoberta” do zoneamento na Alemanha. Nesse país, no final do século XIX, o zoneamento surge para conter a questão social e acaba por constituir-se num discurso, até hoje, sem questionamento no Brasil e no mundo. A autora ressalta que o adensamento, fenômeno típico das cidades industriais europeias, é enfrentado pelos urbanistas principalmente por meio do zoneamento, instrumento racional, globalizante e moderno. Em 1978, Franco Mancuso, vinculado à instituição veneziana, publica “Las Experiencias del Zoning”, trabalho que reconstrói o percurso do zoneamento, do seu surgimento em 1870, na Alemanha, à sua difusão, a partir da primeira década do século XX, nos Estados Unidos (FELDMAN, 1996). Podemos dizer que o zoneamento surge da necessidade de encontrarmos soluções para o controle econômico e social dos conflitos urbanos e, principalmente, regular a estrutura urbana. Na sua origem, é um instrumento ideológico, marcadamente funcional, para atender à consecução desses objetivos. Não resulta, portanto, de uma elaboração disciplinar autônoma, nem traduz tecnicamente uma hipótese arquitetônica ou urbanística correspondente a uma determinada ideia de cidade. São esses os parâmetros que orientam a subdivisão das cidades em zonas de uso, a densidade e a altura das edificações (MANCUSO, 1980). As experiências europeias sobre o zoneamento acabam por transpor o Atlântico, chegando aos Estados Unidos, onde serão reinterpretadas visando à criação de uma identidade nacional, ou seja, de uma marca. 87 Como na Europa, também nos Estados Unidos o zoneamento consagrou-se como um regulador de conflitos, sendo o instrumento legal necessário à eliminação das disputas entre agentes econômicos e grupos sociais e à garantia da produtividade do solo. No caso americano, os conflitos assumem duas formas básicas: uma físicaterritorial, que se refere à altura das edificações, e a outra, de ordem étnica, manifestando-se em especial nas cidades fronteiriças. No Brasil, desde o princípio do século XX, o assunto zoneamento faz parte das discussões dos urbanistas paulistanos, que eram alimentados por textos vindos da Europa e Estados Unidos, viagens pessoais, seminários e congressos internacionais. Destacam-se nesse cenário Luís Ignácio de Anhaia Mello e Francisco Prestes Maia, que a partir de meados da década de 1920, exercem forte influência na difusão de ideários urbanísticos, na formação de quadros técnicos, na divulgação de teorias e na prática política de adoção do zoneamento (NERY JÚNIOR, 2002). No início da década de 30 e da Era Vargas, o perímetro urbano de São José dos Campos ocupava uma área de aproximadamente 5 km 2. A área central concentrava a maioria das edificações que era composta por ruas estreitas e empoeiradas14. Nesse período, a precariedade urbana vivida pela população de São José dos Campos era notada pela falta d’água, deficiência de coleta de esgotos, mendicância, sujeira e profunda promiscuidade entre sadios e infectados pela tuberculose. Este quadro caótico contrariava as propagandas dos loteadores imobiliários. Um novo loteamento foi anunciado em 1926 e seus proprietários o batizaram com uma denominação atrativa: “Vila Progresso”. A interferência da Interventoria nas ações das administrações municipais foi nitidamente notada na seguinte medida de autoria do Prefeito Coronel José Domingues de Vasconcellos, em março de 1932. Sob alegação de resguardar a estética da cidade, evitar a promiscuidade entre tuberculosos e sadios e, também, destinar um espaço específico da cidade para a instalação de pensões sanatoriais e sanatórios, o administrador determinou que a Estação Climática fosse dividida em três zonas territoriais15: Comercial, Sanatorial e Residencial. Esse Ato foi levado e 14 Jornal Correio Joseense, edição no 630, 16 de junho de 1935. Surgido em fins do século XIX na Alemanha, o zoneamento atinge sua maturidade disciplinar no período pós-primeira guerra e, a partir daí, se expande para quase todos os países. Sua primeira e mais significativa exportação foi para os Estados Unidos, 15 88 submetido à aprovação do departamento da Administração Municipal, órgão vinculado à Interventoria Federal. Além disso, de acordo com aquela repartição, a zona urbana dividiu-se em quatro zonas: Industrial, Comercial, Sanatorial e Residencial16. A topografia privilegiada da Zona Sanatorial, delimitada em 1933, e sua proximidade do núcleo urbano fizeram com que surgissem alguns loteamentos residenciais para atender a uma população de melhor renda e que incentivou um processo de especulação imobiliária. No início dos anos 30, a Estância Climática de São José dos Campos passava por uma profunda transformação urbana. A divisão da cidade, em zonas, passava por retificações dos traçados de várias ruas do centro, exemplo de interferências que passaram por prefeitos, cuja formação era de engenheiros sanitários ou médicos que eram nomeados pelo governo estadual. A ação intervencionista implementada por esses prefeitos guardava similaridades com as ações executadas nesse início do século XX, no Rio de Janeiro, pelo Engenheiro Pereira Passos e pelo Sanitarista Oswaldo Cruz. Para a Zona Urbana, foram previstos lotes em grandes dimensões para uma melhor ventilação e insolação. Essa visão de amplos terrenos para edificação foi efetivamente adotada na Zona Sanatorial, em dezembro de 1933. Em 1935, por força do Decreto Estadual nº 7.007, de 12 de março daquele ano, São José dos Campos foi elevada à condição de Estância Climática e Hidromineral17. Por esse decreto, as receitas da estância seriam constituídas pelas arrecadações municipais destinadas à manutenção administrativa e pelas receitas oriundas da arrecadação estadual que seriam aplicadas em serviços públicos. O princípio do “zoning” foi implementado pelo Prefeito e Engenheiro Sanitário, Benoit Almeida Victoretti, em 1954, com o Código de Obras. Essa lei foi a primeira tentativa de ordenar o espaço urbano de São José dos Campos e dividiu a cidade em três zonas: Urbana, Suburbana e Rural. As Zonas Urbana e Suburbana subdividiam-se, por sua vez, em zonas comerciais, industriais, residenciais, onde após a adoção da primeira lei abrangente ao conjunto da cidade, em 1916, em Nova York, adquire características particulares (FELDMAN, 1996). 16 São Paulo. Departamento da Administração Municipal, Ofício no 11244, 08 de junho de 1932. 17 O que torna significativa a condição de Estância Climática e Hidromineral que a cidade assumia por decreto, dentre outros fatores, foi a possibilidade de dotação de verbas vindas do fundo de participação das Estâncias. Essas verbas possibilitaram não só ensaios de Plano Diretor de numerosas cidades, mas também, no caso de São José dos Campos, a urbanização, principalmente no setor de infraestrutura de saneamento, em uma época que os recursos eram escassos para a maioria das cidades. 89 sanatorial e aeronáutica, as quais possuíam recuos e afastamentos diferenciados entre elas. Para disciplinar o crescimento da cidade e conter a especulação imobiliária que vinha ocorrendo de forma acelerada, o Poder Público tomou duas decisões: em primeiro lugar foi promulgado o Código de Obras, em 1954, que tinha nos seus postulados, feições e princípios do “zoning” de 1932; e, num segundo momento, iniciou-se a elaboração de um Plano Diretor pelo CEPEUUSP, em 1958, para planejar e pensar a cidade. Naquela época, a Rodovia Presidente Dutra, por si só, torna-se fator de grande atração para a implantação de novas indústrias. No caso de São José dos Campos, tornou-se mais especial ainda, em razão de vários outros aspectos institucionais e estratégicos (a base aeronáutica do Centro Técnico Aeroespacial – CTA e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA), que se somaram à acessibilidade proporcionada. Em razão da nova fase industrial deflagrada, e que se contrapunha ao que poderíamos chamar de período pré-industrial, a cidade timidamente começa a esboçar pequenas transformações, iniciando o rompimento com a Fase Sanatorial que seria encerrada ao final da década de 50. Mas foi o processo de industrialização transcorrido durante a década de 60 que fez romper, definitivamente, os laços com o passado sanatorial, pois o crescimento e a urbanização intensificada estabeleceram novas formas de convívio e fizeram incorporar à cidade novas características, tais como : intensificação e diversificação das atividades comerciais e de serviços, o surgimento de atividades de caráter de lazer e recreação mais ao centro da cidade, inclusive noturnas, o aumento do número de automóveis e, consequentemente do fluxo viário e a produção de unidades habitacionais através de prédios residenciais multifamiliares. Destaca-se a instalação do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em 1961, trazendo vários pesquisadores de outros países, principalmente dos Estados Unidos, Rússia e Índia. No ano seguinte, ocorre a duplicação da Rodovia Presidente Dutra. Para estabelecer novas bases de crescimento desejado do município, sem que houvesse comprometimento da qualidade de vida, iniciou-se em 1968 a elaboração de um Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado - PDDI, do qual resultou a primeira lei de uso e ocupação do solo (zoneamento) de São José dos 90 Campos, promulgada em 1971. O estudo desse plano constituiu-se num período de transição, no qual o ano de 1970 pode ser caracterizado como o ponto de inflexão, porém nunca de ruptura. É a partir desse ponto que passamos a contar com uma nova organização físico-espacial, que levou a cidade à configuração atual. A conjunção de vários diplomas legais, quase que promulgados ao mesmo tempo, como a legislação de Uso e Ocupação do Solo, Código de Edificações, Código Administrativo, Código Tributário e a Lei de Parcelamento do Solo, todos oriundos desse plano, permitiu corrigir os rumos da urbanização até então praticada, criando um novo padrão de organização territorial, bem como de estética e limpeza. Sem tais diplomas reguladores, São José dos Campos, com certeza, não apresentaria a atual configuração, seja do ponto de vista territorial, como viária, o que a diferencia dos demais municípios vizinhos. É possível identificarmos, por exemplo, que os municípios vizinhos não possuíam um sistema viário do porte e características aqui encontradas, nem um padrão urbanístico e estético aqui praticado. A relação entre a cidade industrial e o urbanismo moderno como atividade que acompanhou as transformações introduzidas na cidade, passou a se dar através das leis de zoneamento, a primeira encetada com a lei 1.606/71. O zoneamento passa a ser praticado de forma sistemática na administração municipal e são aplicados coeficientes de aproveitamentos altos com o intuito de fortalecer a diretriz do PDDI de 1971 de produzir uma cidade verticalizada e mais compacta. O zoneamento instituído em 1971, através da lei 1.606/71, tinha características muito semelhantes às primeiras leis de zoneamento americanas. Adotou-se o zoneamento chamado funcional, onde as zonas residenciais, comerciais, industriais e áreas de recreação são ligadas umas às outras, sem que o tecido urbano total tivesse sido pensado em função da vida coletiva. A segunda lei de zoneamento estudada (LC 2.263/80), de 1980, difere da primeira apenas por não ter sido decorrente de um plano diretor, pois igualmente foi formulada por uma empresa de consultoria externa, contratada para esse fim. Ressaltamos que é a partir de 1980, com o aumento da importância assumida pelo zoneamento no controle do uso e ocupação do solo, é que alguns estudos dessa legislação e propostas de alteração começam a surgir, a partir de ideias do próprio corpo técnico da municipalidade e elaborada nos moldes da lei de zoneamento de São Paulo. 91 O zoneamento nessa época se institucionaliza como uma das principais atividades do setor de planejamento de São José dos Campos, firmando-se como o principal instrumento de planejamento urbano até 1995, quando novo Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado foi instituído. Foram vinte e cinco anos sem planos. A terceira lei (LC 3721/90), de 1990, difere das duas primeiras pelo fato de ter sido produzida, originalmente, pelos técnicos da Administração Municipal, dando continuidade ao processo iniciado em 1980, quando os técnicos da prefeitura assumiram esse papel, em decorrência do conhecimento teórico acumulado e da experiência adquirida. Foi em 1981 que ocorreu a criação da Secretaria de Planejamento Urbano. A quarta lei de parcelamento e zoneamento promulgada em 1997 (LC 165/97) tinha como cenário um município ainda bastante ressentido com a crise econômica que se desencadeou no final dos anos 80 e teve seu ápice no início dos 90. Com esse panorama e com as diretrizes e premissas contidas no PDDI-95, de fortalecer e consolidar o Parque Industrial existente, de incentivar a implantação de pequenas e microempresas e de, principalmente, fortalecer o desenvolvimento de tecnologia de ponta no Município como forma de potencializar a geração de emprego e renda, é que foi elaborada a LC 165/97. Nesse contexto, coube a esta lei uma maior flexibilização no uso e ocupação do solo urbano e a prática de coeficientes altos por todo o território. A quinta lei de uso e ocupação do solo promulgada em 2010 (LC 428/10) e ainda vigente, também apresenta rígidos e diversificados parâmetros de distribuição de usos, recuos frontais e laterais, coeficiente de aproveitamento e restrições do gabarito de altura dos edifícios que dificultaram a sua aplicação e vem sobrestando a implantação de diversas atividades no município. Somado a estes fatores, essa lei apresenta algumas incorreções que dificultam a sua aplicabilidade pelos técnicos e a compreensão, muitas vezes desconexas, face ao teor de diversos artigos que se conflitam. O estudo das leis de zoneamento de 1971, 1980, 1990, 1997 e 2010 nos faz concluir que, gradativamente, migramos de leis flexíveis, abrangentes e de predominâncias para leis rígidas, complexas e detalhistas. O conceito de zoneamento funcional, rígido, imutável, detalhista e complexo, consolidou-se ao longo desses 45 anos, nos quais se verificou que a lógica 92 segregacionista, de um lado, e a protecionista, de outro, encontraram um campo fértil para se estabelecer e crescer em São José dos Campos. Após pouco mais de seis décadas de zoneamento em São José dos Campos, é possível entender e concluir pela defesa desse instrumento como mediador, condutor e regulador do processo de crescimento da cidade, pois permitiu estruturar e organizar o tecido urbano de forma funcional, racional e produtiva, protegendo áreas da intromissão de usos inadequados ou indesejáveis. Provavelmente, se não existissem essas cinco leis de zoneamento, a paisagem e o território de São José se apresentariam de uma forma bem mais caótica, com bem mais problemas. Esta legislação produzida conseguiu garantir uma melhor estruturação do espaço urbano. É preciso, no entanto, enxergar a cidade como um organismo vivo e dinâmico, que cresce, muda e busca novas oportunidades a todo instante. É preciso avaliar todas as suas potencialidades e desenvolvê-las com a participação equilibrada e racional de todos os segmentos da sociedade. O zoneamento, além de flexível, deve conter regras claras e objetivas, possuir instrumentos de gestão urbanística, dispositivos que permitam avaliação adequada dos megaempreendimentos, sem esquecer-se dos meios de transportes e do sistema viário que são dois importantes elementos estruturadores do território. Sabemos que não bastam as regras, é necessário gerir e acompanhar a sua aplicação. Para Somekh (1994), os objetivos do zoneamento e a diversidade de interesses de agentes exigem que este instrumento mediador seja, de certa forma, manipulável e que admita negociações ou concessões a uma ou outra força de disputa. É possível afirmar que a legislação urbanística em São José dos Campos possui um papel central e fundamental na verticalização. Nesse aspecto, pode ser dito que a verticalização em São José dos Campos restringiu-se, até os anos de 2010, ao estabelecimento de coeficientes máximos. Foi com a promulgação da atual lei de zoneamento que resultou num controle efetivo do gabarito de altura, com o propósito de proporcionar uma melhor qualidade de vida à população, segundo justificativa do Poder Público. No entanto, não podemos esquecer que a legislação que interfere, efetivamente, na verticalização, é aquela que limita a potencialidade construtiva do terreno? (SOMEKH, 1997). 93 A cidade de Berlim, por exemplo, sofre a maior inversão do mundo de capitais direcionados à construção civil que proíbe edifícios com mais de 20 metros de altura. Algumas exceções, para serem admitidas, são muito bem estudadas. As zonas onde estes edifícios podem ser construídos são cuidadosamente delimitadas, próximas de transportes públicos e sem vagas de estacionamento. Para os alemães, os grandes edifícios (arranha-céu) são vistos como antiecológicos pelo seu alto dispêndio de energia na sua construção e manutenção e somente são aceitos em condições muito especiais. Em Bali, um paraíso natural, a resolução do Plano Diretor para limitar o gabarito de altura dos edifícios foi muito simples e enfática: nenhum edifício pode ser maior que uma palmeira [...]. Em São José dos Campos, certamente, a paisagem visual da Serra da Mantiqueira, ao norte do município, assim como o banhado, na região central, devem ser preservados. O discurso teórico, pelo Estado, leva a acreditar que a intervenção dele se presta, efetivamente, para a melhoria das condições de vida. Mas, a realidade é outra. O mercado da terra urbana, atuando de modo imperfeito, demanda ação do Estado para liberar a terra para os investimentos mais lucrativos. É certo que esse discurso teórico nos leva a acreditar nessa premissa, mas, não é toda a verdade visto o Estado exercer o papel de interventor e mediador. Em São José dos Campos, atualmente, assim como em São Paulo na década de 1930, há certa dificuldade em definir o que se entende por arranha-céu e verticalização. Recentemente, foram realizadas várias audiências públicas para mudança de zoneamento de uma gleba de terras situada na região oeste do município para a construção de um complexo de edifícios. Um deles teria mais de 50 andares e o que foi constatado é a vontade da grande maioria da população participante de não aceitar a verticalização e, muito menos, um arranha-céu nas proximidades de sua casa. Constata-se que tanto a verticalização como o arranhacéu são condenados pela população e acredita-se que a sua construção deva ser autorizada apenas em zonas pré-fixadas e com regulamentos rígidos. Entendemos que a verticalização em si não é um problema, mas, assim como em São Paulo, em São José dos Campos ela vem promovendo uma produção intensa de edifícios e uma cidade não densa. A legislação e as opções de transporte não vêm produzindo, até hoje, uma cidade compacta e trazem a reboque uma elitização na produção de edifícios de apartamentos destinados, em sua maioria, para a classe média. 94 Este estudo aponta para os efeitos da verticalização em São José dos Campos e os elementos que configuram. Aparentemente, temos uma cidade dispersa e elitista, produzida pela combinação do desenvolvimento do capital imobiliário na busca de terrenos mais baratos, uma legislação aparentemente restritiva e com pouco investimento em transportes coletivos, por parte do poder público18. Recentemente, São José dos Campos iniciou transformações no âmbito da mobilidade urbana através da introdução dos corredores com faixas exclusivas para ônibus em doze avenidas e ruas. Foi proposto um Plano de Mobilidade (PMOB) elaborado pelo IPPLAN e SPU que tem como opção o modal de transporte BRT e a cidade deverá receber cerca de 50 quilômetros de corredores segregados para o transporte coletivo. Recursos do governo federal, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e contrapartidas municipais serão utilizados para a implementação do novo modelo de transporte de massa em um futuro próximo. A infraestrutura urbana influi decisivamente no preço da terra e certamente também na estrutura e na forma urbanas. É importante explicar a evolução das redes de infraestrutura e de transporte para entendermos a própria evolução das cidades (SOMEKH, 1997, p.115). Observamos neste capítulo que, assim como em São Paulo, a verticalização em São José dos Campos precede, em alguns casos, a implantação de um sistema adequado. Para uma melhor compreensão, faz-se necessário um estudo mais aprofundado sobre as possíveis relações entre transporte/preço da terra/ocupação. A seguir iremos apresentar a constituição da indústria da construção civil de São José dos Campos. 18 Recentemente, a atual administração solicitou um empréstimo de 800 milhões de reais ao governo federal para implantação de BRT (Bus Rapid Transit) na região sul e central do município. 95 2.2 A CONSTITUIÇÃO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS São José dos Campos torna-se vila em 1767 e cidade em 1864. Como outras cidades do Vale do Paraíba, a cidade cresce lentamente nos séculos XVIII e XIX, baseada na exploração da pecuária leiteira e da agricultura do café. Em 1862, a cidade possuía cerca de 250 casas térreas. A vila só ganharia destaque a partir de 1867, por ser uma das maiores produtoras de algodão do estado – destinado ao abastecimento das tecelagens inglesas. Segundo Rocha Filho (1994), três outros acontecimentos também marcaram esse período: em 1871, pela lei provincial nº 47, a povoação passou a se chamar São José dos Campos. Em 1872, foi criada a comarca de São José, que já contava com uma população de 12.988 habitantes, incluindo 1.245 escravos. Por fim, grande alento foi dado ao progresso da cidade com a chegada, em 1876, da Estrada de Ferro Central do Brasil, cortando o centro urbano e ligando o município ao Rio de Janeiro e a São Paulo. Concomitantemente, o plantio de café já começava a ser introduzido na região. O município atingiria o auge da produção em 1886 e conseguiria algum destaque nessa cultura até por volta de 1930, apesar da forte geada de 1918, que marcou o início do incremento da pecuária e da produção leiteira na região. No final do século XIX a cidade passa a ser procurada por doentes do pulmão devido ao seu clima favorável para o tratamento dessa doença. O núcleo urbano existente, até então, em função das relações com a economia agrária, passa pelas primeiras e mais significativas transformações na área urbanizada do município. Segundo Santos (1993): (...) esses fatores, todos agregados, parecem ter condicionado uma configuração espacial da área urbanizada em modelo concentrado, 96 com especialização quase que exclusiva de centro administrativo e de ocupação residencial local, com tecido articulado em função dessa simplificação de funções. Naquela época, temos o nome de um construtor de destaque em São José dos Campos, o Major Constanzo De Finis, que é considerado pela Associação dos Engenheiros e Arquitetos o primeiro arquiteto de São José dos Campos. O periódico Folha Esportiva de São José, de 10/11/1938, atribui ao Major De Finis o exercício da profissão de arquiteto, já então há cerca de trinta anos, e de ter construído a maior parte das construções “modernas” da cidade, atestando os trabalhos da Construtora da família De Finis. Segundo o periódico, o Major De Finis, além de construtor, tinha preocupações urbanísticas, pois como vereador da Câmara Municipal apresentou, entre outros, dois relevantes projetos de lei: 1) Para desapropriar e demolir as casas do lado par da Rua São José para permitir uma vista livre e grandiosa do banhado. Para que os prédios da referida rua, no outro lado, mudassem o alinhamento do então Grupo Escolar Olímpio Catão e 2) Alinhamento da Rua XV de Novembro com a dos Bambus (atual Dr. Nelson D’Ávila), exigindo para isso a compra do cemitério desativado na Praça Afonso Pena que mais tarde seria implantado no local o Edifício Cinelândia (1961) e, no pavimento térreo, o Cine Palácio. Se, atualmente, as ruas do centro estão no alinhamento deve-se à atuação do Major De Finis, uma figura marcante da construção civil de São José dos Campos na virada do século XX. Nessa época, muitos foram os mestres, imigrantes italianos, que formavam uma mão de obra especializada que vai iniciar a transformação da cidade de taipa de pilão para a alvenaria de tijolos. A chegada dessa mão de obra italiana cria escola e forma uma geração de mestres de obras, ex-serventes e filhos do “capo mestri”. Citamos, por exemplos: Jerônimo, Carlos e Romeu Carnevalli; Francisco, Pedrinho e Alfredo Perotti. Naquela época, o campo da construção civil de São José dos Campos limitouse à construção de casas térreas e edifícios para o uso comercial. Esta situação sofreu um impacto quando começam a se instalar na cidade sanatórios de grande porte. Caso muito eloquente foi a construção do Sanatório 97 Vicentina Aranha, concluído em 27/4/1924, o primeiro edifício com 3 pavimentos e reformado no período de 1936-1944. Essa construção hospitalar, projetado pelo Escritório Ramos de Azevedo, localiza-se no centro de São José dos Campos, e hoje, é um belo parque municipal. Quando chegamos aos anos de 1940, a cidade é quase que um grande sanatório. Mas, a descoberta da penicilina faz decrescer a atividade dos serviços hospitalares e esta fase termina em meados de 1950. A Fase Sanatorial, em termos cronológicos, foi simultânea ao primeiro período do processo de industrialização de São José dos Campos. Não havia, nesses primeiros anos, basicamente até o final da primeira década do século XX, uma implantação industrial de porte, quer seja pela dimensão dos estabelecimentos, quer seja pela capacidade de produção e/ou pelo número de empregados. O processo de industrialização do município (indústria têxtil e cerâmica) teve início a partir da década de 20 quando houve a ocorrência de um conjunto de fatores favoráveis à implantação de indústrias: 1) A situação geográfica favorável; 2) A concessão de incentivos fiscais; 3) A oferta de terrenos para a instalação de indústrias. Em 1920, o então Prefeito Municipal, Coronel João Cursino, concedeu favores às indústrias que se instalassem em São José dos Campos. O objetivo dessa resolução era atingir o capital fabril e a geração de empregos, principalmente para as mulheres. As concessões traduziam-se em isenção de impostos, doação de terrenos e cessão das habitações aos empregados. Há nessa resolução a seguinte descrição: (...) Se o proprietário de uma fábrica de 100 ou mais operários empregar operários desta cidade e seu município (principalmente mulheres) em número não inferior a um terço de todo pessoal, a Câmara lhe fará doação do terreno ocupado logo que se verifique que os operários do lugar se achem satisfeitos e tenham garantia de permanência em seus empregos.19 19 Jornal Correio Joseense, edição no 684, de 10 de maio de 1936. 98 Os anos subsequentes apresentaram-se para o município como os das primeiras grandes inovações no que se refere à produção, modos e meios, desvinculados da cultura do café. Segundo Santos (1993), é nesse período que a área urbanizada sofre um pequeno reflexo dessas inovações, considerando-se que dois aspectos contribuíram para essa situação: 1) Parte da produção, de certa forma, ainda se localizava em zonas distantes da área urbanizada - setor rural extremamente dependente da disponibilidade da matéria-prima, a mandioca, pelo transporte e manipulação. 2) Apesar de as novas formas de produção serem as maiores empregadoras de mão de obra, além de solicitarem certa especialização, não representavam fator de migração, e ainda que o fossem, as possibilidades de adensamento no que era então o intraurbano parecem ter conseguido assimilar essa nova transformação. A partir de 1925, São José dos Campos já contava com algumas indústrias de cerâmica e tecelagem e foi nesse período que as indústrias começaram a ser implantadas fora do núcleo central. Na década dos anos de 1920, a implantação do ramal Parathey levou ao deslocamento da estação ferroviária (figura 3), da área próxima ao platô central para a área mais ao norte, em direção ao fundo do vale do Rio Paraíba do Sul, próximo de onde se localizaria a Tecelagem Paraíba, em 1925 (figura 4). Inicia-se o 1º período industrial (Cerâmica e Têxtil). Figura 3 - Estação Ferroviária – Ramal Parathey. Fonte: P.M.S.J.C., s/d 99 Figura 4 – Foto da Tecelagem Parahyba – Fim de turno em 1930. Fonte: P. M. S. J. C. Figura 5 – Vista aérea do Complexo da Tecelagem Parahyba. Fonte: P.M.S.J.C., s/d Nessa mesma década, ocorreu a abertura da estrada estadual SP-50 que liga São José dos Campos a Campos do Jordão e ao Sul de Minas. A implantação reforçou a transposição e a ocupação da margem esquerda do Rio Paraíba em direção ao norte do município. Para se ter uma ideia, até 1925, uma viagem rodoviária entre São Paulo e Rio de Janeiro levava de quatro a seis dias. Em 1925, a falta de ordenamento urbano que vinha ocorrendo em São José dos Campos mereceu, do editor do jornal local, advertências às autoridades públicas para melhoramento do município, por meio de um plano de obras elaborado por higienistas que sugeria, ainda, verbas do Estado para o aparelhamento da Estação de Cura, diante da escassez de recursos municipais. A partir do governo de Washington Luiz (1926 – 1930) cujo lema era “governar é abrir estradas” é que há uma melhora na ligação rodoviária entre as duas maiores 100 capitais do país, até então ligadas apenas pela Estrada de Ferro Central do Brasil. Como fruto dos esforços desse governo, implanta-se a ligação entre Rio e São Paulo, uma estrada extremamente sinuosa. Em 1928, é inaugurada outra importante rodovia, antiga estrada velha Rio São Paulo, configurando-se na primeira ligação rodoviária de grande distância do país, cortando o município mais ao Sul do platô central. Nesse período, o eixo marcante de expansão foi no sentido Nordeste / Sudoeste. Esse eixo foi marcado pelo traçado do rio Paraíba do Sul e pela construção da ferrovia e da rodovia. Quem ia de São Paulo ao Rio era obrigado a cruzar todas as cidades, passando pelos seus centros. A viagem era extremamente demorada e, para piorar, nem toda a estrada era pavimentada. Havia um grande fluxo de pessoas que aumentou, buscando, principalmente, estâncias climáticas. A primeira metade do século XX, conhecida como Fase Sanatorial, foi marcada por um processo de urbanização peculiar, mais especificamente, a partir da segunda metade dos anos 1920. O Sanatório Vicentina Aranha, projeto de Ramos de Azevedo, de 1924, é marco importante desta época e o primeiro edifício com 3 pavimentos construído em São José dos Campos, em 1924. Pode ser identificado como o primeiro edifício desta fase de origens e antecedentes do processo de verticalização. Figura 6 – SANATÓRIO VICENTINA ARANHA – Vista aérea. Ao fundo, o Jardim Esplanada. Fonte: P.M.S.J.C., s/d. 101 A construção é feita com pinho de riga, ferragens, ferro batido e pisos importados. O edifício possui 3 pavimentos e os pisos do térreo e do primeiro andar são os originais da época da construção. A laje do primeiro piso é do tipo abobadilha (vergalhões de aço e tijolos em arco sofrendo compressão). Na figura a seguir podemos notar que, na década de 1970 já podemos perceber, ao fundo, o início da verticalização na Vila Ady’anna que iria ter o seu auge na década dos anos de 1980. Figura 7 – SANATÓRIO VICENTINA ARANHA – A esquerda início da verticalização da Vila Ady’anna e do seu entorno na década de 1970 – Fonte: P.M.S.J.C., 1970. Abaixo é possível observar que, atualmente, o processo de verticalização no entorno do Sanatório Vicentina Aranha, na da Vila Ady’anna, mostra-se consolidado. Figura 8 – SANATÓRIO VICENTINA ARANHA – A consolidação da verticalização ao seu redor. Fonte SPU – P. M. S. J. C., 2014. 102 Até então, a legislação de controle do uso e ocupação do solo (lei de zoneamento) estava restrita a uma distribuição de atividades no território muito preliminar e genérica. Neste período, portanto, a legislação urbanística para o controle de ocupação do espaço se fazia em legislação edilícia, com a exigência de numeração das casas e logradouros, com a preocupação pelo alinhamento em relação aos passeios e alargamentos das vias centrais. Verificou-se que já havia uma política de incentivos fiscais para implantação de indústrias nesse município. No início da década dos anos de 1930, a “Era Vargas”, o perímetro urbano de São José dos Campos ocupava uma área de aproximadamente 5 km 2. A área central concentrava a maioria das edificações que era composta por ruas estreitas e empoeiradas20. Nesse período, a precariedade urbana vivida pela população de São José dos Campos era notada pela falta d’água, deficiência de coleta de esgotos, mendicância, sujeira e profunda promiscuidade entre sadios e infectados pela tuberculose. Este quadro caótico contrariava as propagandas dos loteadores imobiliários. Um novo loteamento foi anunciado em 1926 e seus proprietários o batizaram com uma denominação atrativa: “Vila Progresso”. A interferência da Interventoria nas ações das administrações municipais foi nitidamente notada na seguinte medida de autoria do Prefeito Coronel José Domingues de Vasconcellos, em março de 1932. Sob alegação de resguardar a estética da cidade, evitar a promiscuidade entre tuberculosos e sadios e, também, destinar um espaço específico da cidade para a instalação de pensões sanatoriais e sanatórios, o administrador determinou que a Estação Climática fosse dividida em três zonas territoriais21: Comercial, Sanatorial e Residencial. Esse Ato foi levado e submetido à aprovação do departamento da Administração Municipal22. Além disso, de acordo com aquela repartição, a zona urbana dividiu-se em quatro zonas: Industrial, Comercial, Sanatorial e Residencial23. 20 Jornal Correio Joseense, edição no 630, 16 de junho de 1935. Surgido em fins do século XIX na Alemanha, o zoneamento atinge sua maturidade disciplinar no período pós-primeira guerra e, a partir daí, se expande para quase todos os países. Sua primeira e mais significativa exportação foi para os Estados Unidos, onde, após a adoção da primeira lei abrangente ao conjunto da cidade, em 1916, em Nova York, adquire características particulares (FELDMAN, 1996). 22 Órgão vinculado à Interventoria Federal. 23 São Paulo. Departamento da Administração Municipal, Ofício no 11244, 08 de junho de 1932. 21 103 Essa divisão da cidade em zonas de usos já tinha sido utilizada na Lei nº 3.427 de 1929, consolidada pelo Ato nº 663, de 10 de agosto de 1939 de São Paulo. Esta lei era composta por 817 artigos e dividida em seis partes. Na sua primeira parte, no artigo 4º, “Das construções particulares”, continha logo após as definições básicas, a divisão da cidade de São Paulo em quatro zonas: central, urbana, suburbana e rural (SOMEKH, 1994, p.186). Em São José dos Campos, a topografia privilegiada da Zona Sanatorial, delimitada em 1933, e sua proximidade do núcleo urbano fizeram com que surgissem alguns loteamentos residenciais para atender a uma população de melhor renda e que incentivou um processo de especulação imobiliária. No início dos anos de 1930, a Estância Climática de São José dos Campos passava por uma profunda transformação urbana. A divisão da cidade em zonas passava por retificações dos traçados de várias ruas do centro, exemplo claro de interferências que passaram por prefeitos, cuja formação era de engenheiros sanitários ou médicos nomeados pelo governo estadual24. Para a Zona Urbana foram previstos lotes em grandes dimensões para uma melhor ventilação e insolação. Essa visão de amplos terrenos para edificação foi efetivamente adotada na Zona Sanatorial, em dezembro de 1933. O chefe do poder executivo, o Engenheiro Leovigildo Trindade, determinou que os lotes nas zonas urbana e suburbana deveriam ter área mínima de 1.000m 2. Os lotes destinados às zonas operárias deveriam ter área mínima de 300 m 2 e na zona rural os lotes não poderiam ter área inferior a 1.500m 225. Nesse mesmo ano, por força do Decreto Estadual nº 7.007, de 12 de março de 1935, São José dos Campos foi elevada à condição de Estância Climática e Hidromineral26. Por esse decreto, as receitas da Estância seriam constituídas pelas arrecadações municipais destinadas à manutenção administrativa e pelas receitas oriundas da arrecadação estadual a serem aplicadas em serviços públicos. 24 A ação intervencionista implementada por esses prefeitos guardava similaridades com as ações executadas pelo Engenheiro Pereira Passos e pelo Sanitarista Oswaldo Cruz, nesse início do século, XX, no Rio de Janeiro. 25 São José dos Campos, Ato Municipal no 224, 26 de dezembro de 1933. 26 O que torna significativa a condição de Estância Climática e Hidromineral que a cidade assumia por decreto, dentre outros fatores, foi a possibilidade de dotação de verbas vindas do fundo de participação das Estâncias e essas verbas possibilitaram não só ensaios de Plano Diretor de numerosas cidades, mas também, no caso de São José dos Campos, a urbanização, principalmente no setor de infraestrutura de saneamento, em uma época como a depressão da segunda guerra mundial, quando os recursos eram escassos para a maioria das cidades. 104 Sucedendo o Engenheiro Leovigildo Trindade, assumiu, em 20 de setembro de 1937, o Prefeito Sanitarista Edgar Melo Matos de Castro. Não ocorreram intervenções urbanas significativas em sua gestão. Foi, no entanto, na gestão de seu sucessor, o Engenheiro Francisco José Longo, a partir de junho de 1938, que São José dos Campos passaria pelas mais significativas transformações urbanas. Essas transformações decorreram do estreito relacionamento entre o Interventor Federal Adhemar de Barros e o Prefeito Francisco José Longo para que fossem feitas dotações orçamentárias necessárias para viabilizar um plano de obras urbanísticas de porte, como a construção de uma rede para a distribuição de água potável e, principalmente, a desapropriação dos imóveis do lado par da Rua São José para a futura construção de uma avenida que contornasse a orla do banhado. Figura 9 – Avenida São José e orla do Banhado na Região Central. Fonte: Google Earth, 2014. Nesse mesmo período, o poder Executivo fixou novos limites para os perímetros urbano e rural e uma nova subdivisão para o zoneamento territorial que envolveria as quatro zonas já definidas. Em consequência dessa diretriz, a Zona Sanatorial foi ampliada, anexandose cerca de 12.000.000 m2 ao espaço compreendido pelo Campo do Putim que, 105 posteriormente, foi doado ao Ministério da Aeronáutica para fins de implantação do atual Centro Técnico Aeroespacial.27 Essa gleba de terras viria a se tornar, mais tarde, um grande obstáculo de transposição e de circulação viária entre os bairros da Zona Sul do município, pois o CTA dificulta a interligação da Região Sul. A Sudeste ocorre problema semelhante em razão da área da Refinaria Henrique Lage. Estas áreas impossibilitam a transposição e a circulação entre os bairros situados na Região Leste e Sudeste do município. A partir de 1942, na administração de Pedro Popini Mascarenhas, foram intensificadas as desapropriações, a maioria para retificar traçados de vias centrais. Assim, São José dos Campos passou a ter um traçado pautado pela continuidade espacial, quadras regulares e vias amplas e ortogonais. Nesse período, e ao contrário das outras cidades do Vale do Paraíba, São José dos Campos começava a se diferenciar de suas vizinhas, com ruas e avenidas amplas, ensolaradas, arborizadas e arejadas. Por meio do urbanismo, a cidade estava rompendo com a imagem de uma cidade empoeirada e com traçado colonial do século XIX para adquirir uma nova imagem de cidade moderna do século XX. Figura 10 - Avenida João Guilhermino e as Palmeiras Imperiais (ruas largas e arejadas). O edifício à direita é o “Versalhes” com “habite-se” de 1976 e 22 pavimentos. Fonte: P.M.S.J.C., s/d 27 São José dos Campos, Ato Municipal no 14, 11 de outubro de 1938. 106 Destaca-se, nesse período, a aprovação de um projeto para a criação de um loteamento baseado nos conceitos de uma cidade-jardim, inspirado no movimento iniciado na Inglaterra por Ebenezer Howard. São os atuais bairros Jardim Nova América, Jardim Europa e Jardim Esplanada I. Esses espaços privilegiados localizam-se entre as Avenidas São João e Borba Gato, incrustados na Zona Sanatorial. Os loteamentos eram compostos internamente por ruas verdes e desenho orgânico, além de planejamento paisagístico, aspectos fundamentais desse ideário, que foram considerados avançados para a época. Assim como o primeiro projeto de bairro com características de cidade-jardim, em São Paulo, o Jardim Nova América, esses foram implantados para uma população de alta renda de São José dos Campos. Figura 11 – Jardim Nova América e Esplanada I e II – São José dos Campos. Fonte: Google, 2014. A administração de Elmano Ferreira Veloso, empossado por nomeação, substituiu a de Antenor Nascimento Filho, em 17 de fevereiro de 1949. Sua primeira medida administrativa tinha como objetivo atrair capital fabril têxtil e trouxe repercussões diretas no espaço urbano joseense: a concessão de terreno de 107 propriedade pública, medindo 90.000,00 m2 para a Companhia RHODOSA, de Raion Sociedade Anônima (Rhodia S.A.).28 A implantação dessa indústria, ao Norte do município, foi um dos indutores do transbordamento dos limites de expansão urbana que já vinha ocorrendo desde 1925, quando foi inaugurada a Tecelagem Parahyba. Figura 12 – Vista da Rhodia S.A. às margens do Rio Paraíba do Sul. Fonte: Google, 2014. A instalação da multinacional francesa (Rhodia), às margens do Rio Paraíba do Sul, no bairro de Santana, do CTA, ITA e INPE fizeram com que famílias de origem europeia e de outros estados viessem morar em São José dos Campos. Esses novos habitantes tinham nível socioeconômico mais elevado do que a população da cidade, o que provocou um aumento geral nos custos de habitação e nos preços dos gêneros de primeira necessidade. Naquela época, São José dos Campos já adquiria “ares” cosmopolita, diferenciada das outras cidades do Vale do Paraíba e novos loteamentos foram implantados para atender essa nova classe média no entorno da região central. Muitos desses trabalhadores se instalaram nos Jardins Esplanada I e II, América e Europa. Esse fato também foi notado quando da instalação da General Motors29, dez anos mais tarde. 28 29 São José dos Campos, Lei Municipal no 38, 10 de março de 1949. São José dos Campos, Plano Diretor do Município de São José dos Campos: Plano Preliminar, 1961, p.56. 108 Para se compreender o nível a que chegou a especulação fundiária iniciada em 1948, uma matéria jornalística chamava a atenção para os exploradores do crescente mercado imobiliário joseense. A imprensa local destacava que os terrenos comercializados em São José dos Campos eram caros e desprovidos de benfeitorias públicas.30 Muitos loteamentos eram comercializados sem a infraestrutura necessária. Com a intenção de controlar a especulação imobiliária, em junho de 1949, o Poder Público promoveu a retração da Zona Sanatorial e ampliou a Zona Residencial incluindo o perímetro que abrange o atual Jardim São Dimas. 31 Desta forma, acreditava-se que, aumentando a oferta, o preço da terra poderia vir a se estabilizar e tornar-se acessível à população. Sobre a distribuição espacial da urbanização nos anos de 1940, podemos dizer que essa teve características de tecido misto - serviços, comércios, residências e instalações industriais, com forte presença quanto ao porte e localização intraurbana. A política adotada nesse período, pelo governo federal, privilegiava o incentivo e a participação estatal - direta ou indireta - na implantação, principalmente, da indústria de base (siderurgia, cimento, etc.) e na ampliação e consolidação da rede de transportes. A década de 40 correspondeu a um período de intensas modificações estruturais do parque industrial brasileiro e, em particular, do paulista. É nessa década que a dinâmica produtiva de São José dos Campos passa a ser mais diversificada no setor industrial. Podemos notar essa diversificação, ainda que tímida, se considerarmos que até o final dos anos 30, a cidade dispunha de seis estabelecimentos de torrefação e moagem de mandioca na Zona Rural, uma de fiação e tecelagem na Área Urbana e um estabelecimento de laticínios e derivados, na área urbanizada do município. Na foto a seguir (feita da torre da Matriz) podemos observar que não há nenhum edifício nesse período. 30 31 Jornal Correio Joseense, edição de 12 de julho de 1948. São José dos Campos, Lei Municipal no 45, 06 de junho de 1949. 109 Figura 13 – São José dos Campos na década de 1940 – totalmente horizontal. Fonte: P. M. S. J. C., s/d. Ao final dos anos 40, São José dos Campos tinha, na área urbana, as seguintes atividades industriais: uma fábrica de fios e fibras sintéticas – RHODIA, duas unidades de laticínios e derivados, uma de torrefação e moagem e um estabelecimento de artigos de limpeza. Na década de 1940, profissionais formados, engenheiros e arquitetos, não se interessavam em morar em cidades menores como São José dos Campos, pois, o número e o vulto das obras eram pequenos e nos eventuais casos de obras maiores chamava-se um profissional de outra cidade. Mas, como as obras tinham que ser feitas, o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura costumava credenciar profissionais experientes e não formados em faculdades. Eram os construtores licenciados e autorizados a se responsabilizar por projetos e obras de pequenas edificações. Alguns desses profissionais: Romeu Carnevalli, Vicente De Finis e José Pereira Costa32. Em junho de 1949, também foi criada uma Comissão de Organização do Centro Técnico Aeroespacial (COCTA)33, depois extinta em novembro de 1953, quando foi criado oficialmente o Centro Técnico Aeroespacial - CTA.34 Seu objetivo foi de implantar o núcleo inicial para estimular a indústria aeronáutica brasileira e de Esses profissionais eram conhecidos como os profissionais “L” pois, em suas carteiras do CREA, junto ao número de registro, vinha a letra L definindo que era um profissional “licenciado”, ao contrário dos profissionais diplomados que junto ao número de registro tinha a letra “D”, de diplomado. 33 Decreto Federal no 26.509, 25 de março de 1949. 34 Decreto Federal no 34.707, 26 de novembro de 1953. 32 110 uma escola de engenharia aeronáutica, sendo escolhida a cidade de São José dos Campos por sua localização estratégica entre os grandes centros brasileiros, Rio de Janeiro e São Paulo. A instalação do Centro Técnico da Aeronáutica - CTA, em 1950, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, foi inspirado no modelo americano do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussets). Como podemos observar no mapa de evolução urbana a seguir que, até a década de 1950, um maior desenvolvimento urbano acontece nas regiões periféricas do núcleo original e em direção ao Norte da cidade, onde se instalaram as primeiras grandes indústrias (Tecelagem Parahyba - fig.5 e Rhodia) e é nessa década que tem início ao processo de verticalização em São José dos Campos a partir do centro. MAPA DA EVOLUÇÃO URBANA DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS ATÉ 1950 Mapa 1 - Evolução Urbana no período até 1950. Fonte: Secretaria de Planejamento Urbano, elaborado pelo autor, 2015. Mapa 1 – Evolução Urbana no período até 1950. Fonte: Secretaria de Planejamento Urbano; elaborado pelo autor, 2015. 111 No mapa da evolução urbana, podemos observar ainda que o núcleo urbano de São José dos Campos restringia-se à concha do banhado na região central e se expande para o norte onde localizavam-se a Cerâmica Weiss e a Tecelagem Parahyba. Neste período do estudo pudemos identificar que houve a construção de três edifícios com 3 pavimentos, localizados na Região Centro. São eles: 1. O Sanatório Vicentina Aranha, de 1924, projeto do Escritório de Ramos de Azevedo – uso hospitalar – Rua Prudente Meireles de Moraes, nº 302 – atualmente Parque Municipal Vicentina Aranha; 2. Edifício Boulos Elias, de 1945, autor desconhecido – uso misto – comércio no pavimento térreo e dois pavimentos de uso residencial – Rua Siqueira Campos, nº 107/109, em frente ao Mercado Municipal; 3. Edifício Salomão Diamante, autor desconhecido – uso misto – comércio no pavimento térreo e dois pavimentos de uso residencial – Rua XV de Novembro, nº 136. Mapa 2 – Edifícios em São José dos Campos até 1954, sem escala. FONTE: IPPLAN, 2015. Numa primeira abordagem, verifica-se que o início do processo de verticalização em São José dos Campos ocorreu na região central do município e o primeiro edifício, o Vicentina Aranha, era um hospital destinado ao tratamento de doentes da tuberculose. Os outros dois, eram de uso misto (comercial no pavimento térreo e residencial nos superiores). 112 As 3 edificações das Origens e Antecedentes da verticalização em São José dos Campos: Edifício Vicentina Aranha Endereço: Rua Prudente Meireles de Moraes, 302 - Vila Ady’anna Tipologia: Hospital Pavimentos: Térreo + 2 pavimentos Habite-se: 1924 Observações: Atualmente Parque Municipal Vicentina Aranha. Edifício Boulos Elias Endereço: Rua Siqueira Campos, 107 - Centro Tipologia: Uso misto Pavimentos: Térreo + 2 pavimentos Habite-se: 1945 Observações: Comércio no térreo e residencial nos 2 pavimentos superiores. Edifício Salomão Diamante Endereço: Rua XV de Novembro, 136 – Centro Tipologia: Uso misto Pavimentos: Térreo + 2 pavimentos Habite-se:? Observações: Comércio no térreo e residencial (atualmente salas para prestação de serviços). Figura 14 – Origens e Antecedentes da verticalização em São José dos Campos. Fonte: Google Earth, 2015 e Secretaria de Planejamento Urbano, elaborado pelo autor. 113 A primeira lei que se destaca em nossos estudos é a Lei nº 136 de 23/11/1951, anterior ao Código de Edificações de 1954, por mencionar pela primeira vez a questão da verticalização que, naquela época, era embrionária e sem quaisquer parâmetros urbanísticos. Esta lei tinha como premissa o incentivo da verticalização na região central. O seu artigo 1º determina que: “Não será permitida a construção de prédios de um só pavimento nas seguintes vias e logradouros públicos: a) Rua 15 de Novembro; b) Praça João Pessoa; c) Rua Siqueira Campos, no trecho compreendido entre a Praça João Pessoa e a Avenida Dr. Mário Galvão; d) Rua 7 Setembro; e) Rua Coronel José Monteiro, no trecho compreendido entre a Rua 7 de Setembro e a Praça Cônego Lima; f) Praça Cônego Lima; g) Rua Sebastião Humel no trecho entre a Rua 7 de Setembro e Rua 15 de Novembro”. O resultado desta diretriz pode ser observado na foto abaixo, no “skyline” da principal rua do centro de São José dos Campos. Figura 15 – Rua XV de Novembro – Após a promulgação da Lei nº 136 de 1951 surgem os primeiros edifícios com 3 pavimentos de uso misto na região central. Entre o Banco Francês e Brasileiro e as Lojas Pernambucanas, o Restaurante Santa Helena que era o reduto da política, da boa comida e da boemia joseense. Fonte: P.M.S.J.C., s/d. 114 2.3 O PRIMEIRO PERÍODO DO PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS – 1954 A 1970 O marco do controle do Estado foi o 1° Código de Obras (Lei 281/54). O código de 1954 foi o qual, primeiramente, dividiu a cidade em zonas: urbana, suburbana e rural. Este capítulo retrata o período após a promulgação do Código de Obras, no qual o intervalo a ser estudado é o de 1954 a 1970. Este período inicia-se, simultaneamente, ao 2° Período Industrial (Química e Automobilística) de São José dos Campos que trouxe uma aceleração da urbanização e um forte crescimento demográfico. O início do processo de verticalização de São José dos Campos acontece em meados de 1950 e foram as instalações da RHODIA S.A. em 1949, do Centro Técnico de Aeronáutica, em 1950, e da construção da Rodovia Presidente Dutra, em 1951, que deram o impulso a esse processo. Nesse início de década que começa a mudança de uma cidade (inexpressiva) do ciclo do café para uma nova cidade industrial e tecnológica (Polo Regional). É neste período que o poder público começa a se preocupar com a elaboração de parâmetros urbanísticos para as construções no município e no ano de 1954 foi promulgado o primeiro Código de Obras35. De acordo com o artigo 144 desse código, nos edifícios de mais de três pavimentos, deverá existir elevador e escada de emergência. Surge na região do centro o primeiro edifício com 3 pavimentos onde, no térreo, era ocupado pelo uso comercial e os dois pavimentos superiores eram destinados ao uso residencial da família do proprietário. 35 Lei Municipal nº 281 de 1954. 115 Registra-se nesse período os anos finais da fase sanatorial em São José dos Campos, mais especificamente, em 1958. Edifícios em São José dos Campos de 1954 a 1970 Mapa 3 – EDIFÍCIOS EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS NO 1º PERÍODO – 1954 a 1970. Fonte: IPPLAN, 2015. Após a promulgação do primeiro Código de Edificações de 1954 podemos constatar que foram produzidos 48 edifícios com mais de três pavimentos, sendo 2 na região norte (Hospital Pio XII e o Edifício Sebastião Diamante) e 46 na região central. O processo de verticalização em São José dos Campos teve início nesse período com a construção dos primeiros edifícios no núcleo central da cidade. Nesta década, destacam-se os edifícios Grande Hotel (atual Suíte Center), o Edifício Salim Simão e o Cinelândia, os três primeiros edifícios da cidade, apesar dos seus “habitese” serem datados de 1961. 116 Simultaneamente ao processo de verticalização que se iniciava, observa-se no mapa de evolução urbana do período de 1950 a 1960 inúmeros loteamentos que começam a surgir ao longo da Rodovia Presidente Dutra. MAPA DA EVOLUÇÃO URBANA DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS – 1950 A 1960 Mapa 4 – Evolução Urbana no período entre 1950 a 1960. Fonte: P. M. S. J. C., 2014. No mapa da evolução urbana de São José dos Campos entre 1950 a 1960 podemos constatar que na década de 1960 os loteamentos são implantados ao longo da Rodovia Presidente Dutra. Com os objetivos principais de ordenar o território e coibir a especulação imobiliária dá-se início, em 1958, à elaboração do 1° Plano Diretor, sob a coordenação do CEPEUUSP. Este plano também gerou vários Planos Setoriais que não foram aprovados. A lei nº 664 de 18/02/1960 que foi dirigida às construções de edificações verticais estabeleceu dois coeficientes de aproveitamento para a cidade. “Artigo 1º - Nas edificações em geral, em qualquer zona do território do Município, o coeficiente de aproveitamento do lote, ou seja, a relação entre a área 117 total construída, inclusive edículas e a área do respectivo lote, não poderá ser superior a: I) 4 (quatro) para prédios comerciais; II) 2 (dois) para prédios de habitação coletiva (apartamentos ou hotéis).” Cabe ressaltar que a possibilidade de maior reprodução do solo, aliada a determinação de mais de um pavimento na região central, contribuíram para a construção dos primeiros edifícios nesta região. Neste primeiro período destaca-se o Edifício Sunset, com “habite-se” de 1955, 22 pavimentos, localizado na região central, na Rua Coronel Madeira. Esse edifício pode ser considerado o primeiro arranha-céu de São José dos Campos e do Vale do Paraíba. É possível constatar ainda que a verticalização continua, predominantemente, na região central. Este edifício de três blocos é chamado, popularmente, de “Os 3 Patetas” pelo fato de serem três blocos altos e iguais que se destacavam na paisagem horizontal da cidade daquela época. São 3 torres de 22 andares, sendo uma com 3 dormitórios (sem suíte), outra com 2 dormitórios e a última com 1 dormitório. Podemos dizer que este conjunto de edifícios é o marco do processo de verticalização em São José dos Campos – eles foram os primeiros arranha-céus da cidade e da região do Vale do Paraíba. Figura 16: Os 3 blocos do Edifício Sunset de 22 pavimentos, “habite-se” de 1955. Fonte: P. M. S. J. C. 118 Edifício SUNSET – “Habite-se” de 1955 – 3 blocos – 22 Pavimentos Figura 16 – Edifício Sunset. Fonte: Prefeitura Municipal de São José dos Campos, 2015. Edifício Sunset Endereço: Coronel Madeira, nº 42 – Centro Tipologia: Comércio e Serviços no Térreo + Residencial Nº de Pavimentos: 22 Habite-se: 1955 Observações: Trata-se do primeiro arranha-céu de São José dos Campos e do Vale do Paraíba. Figura 16 – Edifício Sunset. Fonte: Google Earth, 2015 e Secretaria de Planejamento Urbano. Outro edifício de destaque, nesse primeiro período, é o edifício Cinelândia situado na Praça Afonso Pena, nº 105, onde funcionava o Cine Palácio no pavimento térreo com capacidade para cerca de 1200 pessoas e possuía salas para escritórios de comércio e serviço nos dez andares superiores. Atualmente, assim como em muitas cidades brasileiras, o Cine Palácio transformou-se em estacionamento. 119 Figura 17 – Edifício Cinelândia – “Habite-se” de 1961. Fonte: Acervo P.M.S..C, s/d. Edifício Cinelândia Endereço: Praça Afonso Pena, nº 105 - Centro Tipologia: Comércio e Serviços Nº de Pavimentos: 7 Habite-se: 1961 Observações: No andar térreo funcionava o Cine Palácio com capacidade para 1.200 pessoas. Fonte: Google Earth, 2015 e Secretaria de Planejamento Urbano; elaborado pelo autor. De acordo com alguns autores, o primeiro edifício construído em São José dos Campos foi um que o seu proprietário era o Senhor Salim Simão, apesar do “habite-se” ser datado de 1961. Esse edifício é vizinho, pela lateral, do Edifício Cinelândia, na Praça Afonso Pena. Mas, de acordo com Souza (2000), o primeiro edifício a ser registrado em cartório, no dia 04/05/1962, foi o Edifício Suíte Center, antigo Grande Hotel, localizado na Praça João Pessoa (Matriz). 120 A figura abaixo mostra o edifício Grande Hotel, com 7 pavimentos e 77 apartamentos, localizado em frente à Igreja Matriz. Podemos observar que seu gabarito de altura não ultrapassa a torre da igreja. Figura 18 – Edifício Grande Hotel em frente à Igreja Matriz – “Habite-se” de 1961. Fonte: P. M. S. J. C., s/d. Podemos observar, ainda, uma área de terreno desapropriada pela prefeitura nos anos de 1960 para a construção da Rodoviária, ao lado da Igreja Matriz e o Grande Hotel. É possível observar, também, o início da abertura da Avenida São José (atual Madre Thereza) na orla do banhado que hoje é a principal ligação da região norte para a região central. Figura 19 – Região central nos anos 1960 – vê-se o Edifício Grande Hotel e, ao fundo, o Salim Simão e Cinelândia. Ao lado da Matriz, o terreno desapropriado para construção da Rodoviária e o início da abertura da Avenida São José, na orla do banhado. Fonte: P.M.S.J.C., s/d. 121 Figura 20 – Vista aérea de São José dos Campos na década de 1960, predominantemente horizontal. Observa-se, na parte inferior da foto, o Complexo da Tecelagem Parahyba; ao centro, o edifício do Grande Hotel em frente à Igreja Matriz e, mais ao fundo, em destaque o Edifício Salim Simão na Praça Afonso Pena. Fonte: P.M.S.J.C., s/d. Edifício Grande Hotel Endereço: Praça Padre João Guimarães, 108 Centro Tipologia: Residencial (77 apartamentos) Nº de Pavimentos: 7 Habite-se: 1961 Observações: Figura 21 – Edifício Grande Hotel. Fonte: Google Earth, 2015 e Secretaria de Planejamento Urbano; elaborado pelo autor. No início dos anos de 1960, São José dos Campos, já possui um bom parque industrial e uma mão de obra especializada. Em 1962, a Rodovia Presidente Dutra é duplicada. Naquela época, as grandes capitais, Rio de Janeiro e 122 São Paulo, têm como palavra de ordem “a descentralização industrial e sua interiorização. Na década dos anos de 1960 e início de 1970, os loteamentos são implantados ao longo da Rodovia Dutra e nas regiões norte e sudeste do município. Na região sudeste, a implantação de novos loteamentos em 1969 ocorre em razão da Embraer. Nessas décadas são instaladas novas indústrias ao longo da Rodovia Dutra: Kanebo, Alpargatas, Johnson & Johnson, Ericsson, General Motors, Kodak e Engesa. A construção desses complexos industriais foi feita com pessoal e firmas de outras cidades que, parcialmente, se instalaram em São José dos Campos. Somente nos anos de 1980 é que os novos empreendimentos foram feitos por construtores locais. Um exemplo a ser citado é o prédio da indústria Ericsson, às margens da Rodovia Dutra, construído na década de 1960, projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, edificado por uma empresa da capital e que, na década de 1980, foi totalmente descaracterizado e adaptado para se tornar o primeiro shopping regional. No final dos anos de 1980, por meio de uma empresa local, esse edifício sofreu mais uma adaptação e reforma geral na qual não foram preservados nenhum traço ou característica do edifício original. Figura 22 – Indústria Ericsson na década dos anos de 1960 – Projeto de Oscar Niemeyer. Fonte: Arquivo Municipal, 2015. 123 Figura 23 – Shopping Center Vale. Fonte: Google, 2015. Se nos anos de 1960 a indústria civil de São José dos Campos ainda não tem porte e o devido “know-how” para construir indústrias, ela já possuía condições de começar a construir casas e prédios para a mão de obra que chega para trabalhar nas novas indústrias. Surgem, nessa década, os primeiros incorporadores de imóveis que começaram a trabalhar com o recém-criado Banco Nacional da Habitação – BNH. O BNH foi criado por meio da Lei nº 4.380, de 21 de agosto de 1964, para atrair recursos da população a serem depositados em poupança. A finalidade de tais recursos era a aplicação em saneamento e habitação. Passados dois anos, em 1966, o governo criou o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), em benefício dos empregados, com recursos compulsoriamente exigidos dos empregadores. A gestão dos recursos pelo banco foi bastante criticada e, em 1986, o BNH foi incorporado pela Caixa Econômica Federal. Ainda que o motivo de sua criação fosse a de agradar “largos setores de massas” (AZEVEDO, 1984), a quantidade de habitações construídas foi, significativamente, alavancada no país. A Fundação da Casa Popular, predecessora do BNH, criada em 1946, contabilizara apenas 17 mil financiamentos residenciais em 1960 (AZEVEDO, 1982). O BNH, em seus 22 anos de existência, financiou 4,5 milhões de unidades (AZEVEDO, 1982), metade das quais voltadas para o segmento de mercado médio, isto é, produzidas por incorporadores privados. 124 Durante esse período ocorreu, de fato, a retomada do investimento governamental e da construção civil residencial, possibilitadas pela melhora das condições de financiamento público e pelo fortalecimento do Banco Nacional da Habitação, especialmente nos seus primeiros anos de existência. O objetivo do banco era promover a construção e a aquisição da casa própria, principalmente para as classes de menor renda. A base do financiamento do BNH visava compatibilizar prazo de pagamento, custo de construção e capacidade de amortização da dívida pelo comprador do imóvel. Assim, a prestação do financiamento ficava em torno de 1,3 vezes o valor do aluguel para moradia idêntica, permitindo que o comprador financiasse a casa própria, saindo do aluguel. Na mesma década outros edifícios foram construídos na região central da cidade de São José dos Campos, como é o caso dos edifícios Salim Simão (com “habite-se” de 1970) e o San Marco (1969). Também começa a construção do edifício Nacional que marcou início da descentralização do processo a partir do núcleo central da cidade em direção a outras regiões. Nesta década, os incorporadores locais com maior destaque eram Pierino Rossi e Alfredo Asdente. O primeiro prédio de característica moderna de São José dos Campos, incorporado por Alfredo Asdente e que dá o início à intensa construção de prédios para apartamentos residenciais, foi o Edifício San Marco. O arquiteto deste edifício foi Luiz Erasmo Moreira, engenheiro responsável pela fiscalização e implantação da obra do C.T.A., projeto de Oscar Niemeyer. O edifício San Marco, localizado na Avenida São José (atual Avenida Madre Thereza), foi o primeiro a ser construído com mão de obra totalmente local. Alfredo Asdente, construtor deste edifício, morou no 12º andar do edifício que foi reformado e os dois apartamentos do último andar tornaram-se um grande e confortável apartamento com vista privilegiada para o banhado e região oeste. Edifício San Marco – 1969 11 Pavimentos Figura 24 – Edifício San Marco na orla do banhado. Fonte: Acervo Prefeitura Municipal de São José dos Campos, 2015. 125 Edifício San Marco Endereço: Avenida Madre Tereza, 519 - Centro Tipologia: Residencial Pavimentos: Térreo + 10 pavimentos Habite-se: 1969 Observações: O construtor do edifício fez a junção dos dois apartamentos do último andar para sua moradia. Fonte: Google Earth, 2015 e Secretaria de Planejamento Urbano; elaborado pelo autor. O final dos anos de 1960 é marcado pela presença de Alfredo Nagib Rizkallah. Trata-se do primeiro incorporador do BNH, fundador da empresa Novação que, dentre vários edifícios construídos, destaca-se o edifício Nacional, com 24 andares, localizado na Avenida Engenheiro Francisco José Longo – São Dimas, região até então distante do centro nobre da cidade. Naquela época, São José dos Campos não tinha vocação para morar em apartamentos. O começo da virada dos anos de 1960 – 1970 marca o início da fundação da construtora ARZG, de propriedade de sócios joseenses. Essa é a primeira grande construtora local e que irá liderar o setor da construção civil até o final dos anos 70. Em 1968, a Prefeitura Municipal promoveu, em conjunto com a firma de Engenharia e Consultoria SERETE S.A. e uma equipe de profissionais locais e de São Paulo, coordenada pelo arquiteto Jorge Wilheim, a elaboração de um estudo que embasou o Plano Preliminar. Posteriormente, esse plano deu origem ao segundo Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI), aprovado em 1971. Nesse primeiro período da verticalização de São José dos Campos observamos que este processo começa a “caminhar” da região central em direção à novas centralidades (incentivada pela legislação). Primeiro em direção ao bairro do São Dimas, em 1970. Num segundo momento, em 1980, para a Vila Ady’anna e, num terceiro momento, para o Jardim Aquarius (1990). Atualmente, após transpor a Rodovia Dutra, verifica-se uma nova ramificação da verticalização em direção a região sul e de um espraiamento deste processo por todo o território do município. Veremos a seguir como a verticalização se desenvolve e de que forma, por meio do crescimento demográfico ou da intensificação da produção. 126 CAPÍTULO 3 – SEGUNDO PERÍODO – 1971 a 1996 Neste capítulo relatamos o segundo período do processo de verticalização de São José dos Campos, de 1971 a 1996; esses anos são os mais intensos e o início da descentralização deste processo. Estruturamos este capítulo em três partes. Na primeira parte são feitos comentários sobre a elaboração do PDDI de 1971 e de suas principais premissas e diretrizes para incentivar a verticalização. Este plano teve como sua principal premissa conter o crescimento horizontal e promover a verticalização por meio de instrumentos urbanísticos com o intuito de construir uma cidade compacta e densa. Na segunda e terceira parte, discorremos sobre a legislação urbanística dos anos de 1970 e 1980 (PDDI de 1971 e as Leis de Zoneamento de 1971, 1980 e 1990) e destacamos os claros objetivos deste período de sempre promover e incentivar a verticalização em pré-determinadas regiões infraestruturadas e criando novas centralidades para o capital especulativo. Para constatarmos essas diretrizes são destacados e comentados alguns artigos dessas leis que incentivaram a verticalização com o intuito de comprovarmos a nossa tese de que a legislação é um dos fatores fundamentais e eficaz no processo de verticalização de São José dos Campos e, provavelmente, das cidades brasileiras. 127 3.1 – DESCENTRALIZAÇÃO E INTENSIFICAÇÃO Se uma cidade dobra sua população a cada dez anos, uma coisa é dobrar de 77.533 habitantes, em 1960, para 148.332 em 1970. Mais impressionante ainda, é dobrar e alcançar 287.513 habitantes em 1980 e 442.370 em 1991, como podemos observar no quadro sobre a evolução populacional de São José dos Campos a seguir. São José dos Campos teve um intenso crescimento na década de 1960 e nas décadas seguintes desse segundo período ocorreu uma verdadeira explosão demográfica. Uma das razões deste crescimento e o fato de São José dos Campos nesse período ter uma curva ascendente populacional é devido ao grande número de indústrias que se instalaram nessa cidade e que trouxeram, como consequência, uma população a procura de trabalho e moradia. Quadro da Evolução Populacional do Município de São José dos Campos 1940-2010 Censos População Incremento populacional entre censos Entre 1920 e 1940* 5.598 1940 População total 36.279 População urbana 14.474 População rural 21.805 1950 44.804 Entre 1940 e 1950 8.525 26.600 18.204 1960 77.533 Entre 1950 e 1960 32.729 56.882 20.651 1970 148.332 Entre 1960 e 1970 70.799 132.482 15.850 1980 287.513 Entre 1970 e 1980 139.181 276.901 10.612 1991 442.370 Entre 1980 e 1991 154.857 425.515 16.855 2000 539.313 Entre 1991 e 2000 96.943 532.717 6.596 2010 629.921 Entre 2000 e 2010 90.608 615.022 14.899** Tabela 1 – Evolução Populacional do Município entre 1940-2010. Fontes: IBGE e Secretaria de Planejamento Urbano – PMSJC. * Não houve Censo em 1930; o Censo anterior, em 1920, registrou 30.681 pessoas residentes. ** População rural com base na Lei Complementar 428/10 (estimativa da Secretaria de Planejamento). 128 Ao observarmos o crescimento populacional do Município nessas últimas décadas, verifica-se que São José dos Campos vem aumentando sua participação no total da população do Estado de São Paulo e no conjunto dos municípios que integram a Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte (RMVPLN). Sua população representa 1,52% dos moradores do Estado e 27,81% dos moradores da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte. São José dos Campos é um dos maiores polos de atração de indústria de alta tecnologia do Brasil e global e continua a atrair moradores quando analisamos a sua participação populacional no conjunto da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte e não apenas devido ao seu setor industrial mas, pelo seu recente crescimento e fortalecimento no setor terciário de âmbito regional. Quadro da Participação da População de São José dos Campos no Conjunto da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte e do Estado de São Paulo. População Absoluta Ano 1980 1991 2000 2010 São José dos Campos 287.513 442.370 539.313 629.921 População Relativa % Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte 23,54 26,78 27,07 27,81 Estado de São Paulo 1,15 1,40 1,46 1,52 Tabela 2 – Participação da População de São José dos Campos na Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte e do Estado de São Paulo. Fontes: IBGE e Secretaria de Planejamento Urbano – PMSJC e IPPLAN. Como podemos observar no gráfico a seguir, o aumento de população verificado no último período intercensitário, quando distribuído entre os distritos que compõem administrativamente o Município, aponta a região oeste como a região que mais houve crescimento demográfico devido ao intenso processo de verticalização. São Francisco Xavier aparece com a segunda maior taxa de crescimento, sendo que este aumento populacional repartiu-se, equitativamente, entre o seu perímetro urbano e a área rural e devido ser um polo turístico. Já nas demais regiões urbanas do Município, as taxas de crescimento registradas variam entre 0,20% na região do Centro e 1,68 % na região Leste. 129 TAXA DE CRESCIMENTO POPULACIONAL REGIÕES URBANAS 2000 - 2010 6,00 4,99 5,00 4,88 4,00 %3,00 1,68 2,00 1,00 1,67 1,56 Sudeste Sul 0,81 0,20 0,00 Centro Leste Norte Oeste SFX Gráfico 5 – Crescimento populacional das regiões urbanas de São José dos Campos. Fonte: IBGE, estimativas da Secretaria de Planejamento Urbano e IPPLAN. No mapa da evolução urbana de São José dos Campos entre 1960 a 1970, abaixo, é possível verificarmos que, no início desses anos, os loteamentos continuam sendo implantados com maior intensidade ao longo da Rodovia Presidente Dutra e há um crescimento da malha urbana, mais intenso, em direção as regiões oeste, sul e norte. MAPA DA EVOLUÇÃO URBANA DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS ENTRE 1960 A 1970 LEGENDA: Até 1950 1950 a 1960 1960 a 1970 Mapa 5 – Evolução urbana de São José dos Campos até 1950 (vermelho), entre 1950 a 1960 (amarelo) e entre 1960 a 1970 (ciam). Fonte: PMSJC, 2015; elaborado pelo autor. 130 Em 1971 foi promulgado o primeiro Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI) de São José dos Campos e uma de suas estratégias principais foi a de estimular a ocupação de grandes vazios urbanos, por meio da construção de edifícios para habitação coletiva e uso comercial nesses vazios. Consequentemente, os terrenos das áreas urbanas, principalmente aquelas centrais e de bairros de classe média e alta, inflacionaram-se, pois, com o crescimento demográfico acelerado da cidade em consequência da expansão industrial e comercial, São José dos Campos tornou-se atrativo aos trabalhadores da região Sudeste e do Brasil. Estes fatos, que incentivaram o contínuo processo de verticalização existente na cidade, persistiram com mais intensidade a partir da década de 1990 e continuam até hoje. O primeiro fato que chama a atenção é que após o diagnóstico da cidade para a elaboração do PDDI de 1971, principalmente da região central, foram elaboradas diretrizes para o incentivo à descentralização das atividades comerciais da área central e proposta de sua expansão em direção à Vila Ady’anna. A verticalização da área deveria ocorrer a partir de leis que permitissem um aproveitamento maior do solo local. Para isso, o PDDI propunha uma lei que concedesse o direito de construção de até seis vezes a área do terreno para este bairro. No entanto, existiam algumas restrições quanto à iluminação, à ventilação e recuos, ou seja, em um terreno de 1.000,00 m² poderia ser construído um prédio com até 6.000,00 m² de área construída. É importante ressaltar que o incentivo para a construção de prédios nas áreas próximas ao núcleo central da cidade ocorreu em razão do centro apresentar uma tendência de se verticalizar o que, segundo seus elaboradores, aumentaria ainda mais os problemas de infraestruturas da zona central. Como forma de desestimular a verticalização no centro da cidade, o PDDI sugeria normas que não a inviabilizasse, mas que dificultasse a construção de edifícios no local, como recuos de frente de 6,00 m (seis metros) que deveriam ser, obrigatoriamente, arborizados com árvores de porte médio. A construção de edifícios no local deveria também prever área para estacionamento e calçadas largas e cobertas para pedestres. Como podemos constatar, a legislação é fundamental porque, muitas vezes ela incentiva a verticalização mas, em alguns casos específicos, ela pode controlar 131 e desestimular seu processo em regiões como o objetivo de não ocasionar sua saturação. Apesar de ter-se iniciado no centro, a verticalização em São José dos Campos não se limitou a essa região devido, principalmente, às diretrizes rígidas e incentivadoras da legislação urbanística para criação de novas centralidades para a sua expansão. Edifícios em São José dos Campos de 1971 a 1996 Mapa 6 – Edifícios em São José dos Campos no 2º Período – 1971 a 1996 Fonte: Estudo do IPLAN, 2015; elaborado pelo autor. Conforme levantamentos, neste segundo período foram construídos 487 edifícios com “habite-se” sendo 15 na região norte, 28 na Leste, 06 na Sudeste, 73 na Sul, 46 na Oeste e 319 na região central. Ressaltamos que na região central os edifícios são construídos devido ser o local com maior infraestrutura, os investimentos imobiliários são feitos em regiões infraestruturadas. É possível afirmar que na região central, mais especificamente nos bairros São Dimas e Vila Ady’anna, há um verdadeiro “boom” imobiliário iniciado na década dos anos de 1970 e que se intensificou nos anos de 1980. Observa-se ainda que neste período, a verticalização já se encontrava presente nas seis regiões do município e os gabaritos de altura e os coeficientes de aproveitamentos continuavam altos. 132 MAPA DE LOCALIZAÇÃO DOS BAIRROS VILA ADY’ANNA E JARDIM SÃO DIMAS Mapa 7 – Centro, Vila Ady’anna e Jardim São Dimas. Fonte: P.M.S.J.C., 2015. Podemos dizer que o capital procura regiões da cidade que possuem boas infraestruturas e que atenda a classe de maior renda, satisfazendo a exigência desta quanto a proximidade dos centros urbanos para usufruir dos seus comércios e serviços. São nesses meados dos anos de 1970 que surge a figura do edifício de apartamentos e do conjunto habitacional vertical como soluções modernas para a questão habitacional. A seguir, observam-se três grandes edifícios construídos no bairro do São Dimas (Avenida Francisco José Longo), na década de 1970. Na década de 1970 foram erguidos 169 edifícios. A verticalização prossegue forte no São Dimas (21 edifícios dos 40 do bairro). Residenciais e mistos em maior número. A partir de 1973 se inicia a verticalização na Vila Ady’anna, muito forte entre 1974 e 1976, mas que irá prosseguir assim até o final dos anos 80. Na década, foram 74 edifícios. São exemplos os Edifícios Mansão do Vale (São Dimas, 1974 – Residencial com 28 pavimentos), Ipanema (São Dimas, 1974 – Residencial com 29 133 pavimentos), Nacional (São Dimas, 1975 - Residencial com 25 pavimentos) e Market Center (São Dimas, 1974, Comercial, 22 pavimentos). Edifício Mansão do Vale – 1974 28 pavimentos Edifício Ipanema – 1974 29 pavimentos Edifício Nacional – 1975 25 pavimentos Figura 25 – Verticalização da Vila Ady’anna. Fonte: Secretaria de Planejamento Urbano, 2015. Esses edifícios, Mansão do Vale, Ipanema e Nacional, destacam-se até os dias de hoje na paisagem urbana de São José dos Campos e são ícones do processo de verticalização neste segundo período, no qual foram os mais altos da cidade por muitos anos. Catedral de São Dimas Figura 26 – Catedral São Dimas e Faculdade de Odontologia UNESP. Fonte: Secretaria de Planejamento Urbano, 2015. Faculdade de Odontologia – UNESP 134 Edifício Nacional Endereço: Avenida Francisco José Longo, nº 555 – São Dimas Tipologia: Residencial Pavimentos: Térreo + 25 pavimentos Habite-se: 1974 Observações: o 16º edifício mais alto da cidade. Figura 27 – Edifício Nacional. Fonte: Google Earth, 2015 e Secretaria de Planejamento Urbano. Edifício Ipanema Endereço: Avenida Francisco José Longo, nº 622 – São Dimas Tipologia: Residencial Pavimentos: Térreo + 29 pavimentos Habite-se:1980 Observações: o 5º edifício mais alto da cidade. Figura 28 – Edifício Ipanema. Fonte: Google Earth, 2015 e Secretaria de Planejamento Urbano. 135 Edifício Mansão do Vale Endereço: Avenida Francisco José Longo, nº 633 – São Dimas Tipologia: Residencial Pavimentos: Térreo + 28 pavimentos Habite-se: 1969 Observações: o 7º edifício mais alto. Figura 29 – Edifício Mansão do Vale. Fonte: Google Earth, 2015 e Secretaria de Planejamento Urbano. Nesse período, a empresa Novação lança o inovador prédio Market Center. Um edifício com 14 pavimentos de uso para escritórios, com um heliporto homologado pelo Ministério da Aeronáutica e um auditório. O projeto é do Arquiteto Roger Zmekhol que havia se destacado entre os arquitetos paulistas em 1961 com o edifício Paes de Almeida na esquina da avenida Rio Branco com o Largo Paissandu: uma torre de 20 andares com vedação externa em sistema “curtainwall”. O edifício Market Center de São José dos Campos é o primeiro prédio do interior do estado de São Paulo a ter a sua fachada tipo “curtain-wall”36. Figura 30 – Edifício Market Center – “habite-se” de 1974 e 22 pavimentos. Fonte: Google Earth, 2015 e Secretaria de Planejamento Urbano. 36 Trata-se de um sistema de fachada independente da estrutura resistente do edifício. A parede de cortina é projetado para suportar a força do vento , assim como o seu próprio peso, e transmiti-lo para as lajes . Geralmente as paredes de cortina são construídas pela repetição de um elemento pré-fabricado modulado que inclui os elementos necessários de proteção, abertura e acessibilidade, conforme necessário. 136 Essa mesma empresa lança o edifício residencial Samambaia, localizado na Avenida Adhemar de Barros – Bairro Vila Ady’anna e projeto do arquiteto Willi Pecher, além do loteamento Bosque Imperial, situado na Avenida São João (Região Oeste), o primeiro loteamento fechado da cidade. O edifício Samambaia foi residência do Prefeito Sérgio Sobral de Oliveira que, de certa forma, este “novo hábito” de morar de um chefe do poder executivo influenciou a classe média local. Edifício Samambaia Endereço: Avenida Adhemar de Barros, nº 510 – Vila Ady’anna Tipologia: Residencial Pavimentos: Térreo + 18 pavimentos Habite-se: 1987 Observações: Residência do Prefeito Sérgio Sobral de Oliveira. Figura 31 – Edifício Samambaia – Avenida Adhemar de Barros – Jardim São Dimas. Fonte: Google Earth, 2015 e Secretaria de Planejamento Urbano. Nessa mesma época, é lançado o edifício Vip Center que foi o primeiro prédio do país a possuir inovadores elevadores panorâmicos e de fabricação local. Edifício VIP Center – “Habite-se de 1976 – 20 pavimentos Figura 32 – Edifício Vip Center. Fonte: Secretaria de Planejamento Urbano, 2015. 137 Figura 33 – Propaganda da Luiz Roberto Porto Imóveis em 1984 – em segundo plano, o Edifício Vip Center. Fonte: Secretaria de Planejamento Urbano, 2015. Nesse início do segundo período do processo de verticalização verifica-se que há uma grande produção de edifícios. Naquela época, grandes construtoras de São Paulo atuavam na cidade: Hindi, Guarantã, Garant, Envil e Racz. Os anos de 1970 veem renascer a Associação de Engenheiros e Arquitetos de São José dos Campos. Quanto ao desenvolvimento da tecnologia da construção civil vale ressaltar que, nesses anos, o mais rotineiro dos controles de qualidade de construção de prédios, feito pelo rompimento em prensa de corpos de prova de concreto, não era executado rotineiramente em São José dos Campos. As poucas construtoras que faziam este teste utilizavam uma prensa do Instituto Tecnológico Aeronáutico (ITA). Somente nos anos de 1980 é que empresas de tecnologia e de controle de qualidade da construção civil se instalaram em São José dos Campos e esses testes passaram a ser rotineiros. 138 Figura 34 – Praça dos Expedicionários – Terminal rodoviário intermunicipal, em 1975. Fonte: Desenho de Omar Fonseca, FVE, 1975. Os indícios de uma verticalização intensa, verificados na década de 1970, reproduziram-se na década de 1980 e foi nesta década que o processo ocorreu de forma mais efetiva. A região da Vila Ady’anna recebeu o maior número de edifícios, os mais altos da cidade, e outras áreas, ainda pouco verticalizadas na década de 1970, deram continuidade ao processo. Neste período podemos verificar que 416 edifícios foram construídos. Este total mostra que ocorreu um grande aumento no número de edifícios em relação a década de 1960, representados por 94 edifícios construídos. Esses dados indicam que no período de 10 anos, na década dos anos de 1970, o número de edifícios construídos na cidade aumentou em 342%. Além do crescimento demográfico, podemos constatar que a verticalização, nesse período, desenvolveu-se através da crescente produção de edifícios. A seguir, foram feitos levantamentos e análises da legislação urbanística nesse período e por décadas. Neste estudo destacamos artigos e premissas que incentivaram o processo de verticalização de São José dos Campos para compreensão e comprovação de que a legislação produzida dessa cidade é um fator fundamental deste processo que vem ocorrendo até os dias de hoje. 139 3.2 A LEGISLAÇÃO DE 1970 No Brasil, a partir da década de 1970, o processo de urbanização das cidades se intensifica em função do crescimento econômico e o governo buscou equacionar a longo prazo, por meio dos Planos Diretores, os problemas que as cidades vinham enfrentando em decorrência desse processo acelerado. No Vale do Paraíba, no início da década de 1970, é criado o Consórcio de Desenvolvimento Integrado do Vale do Paraíba - CODIVAP e os prefeitos dos municípios do Vale do Paraíba começaram a discutir a ideia de criar um consórcio que promovesse o desenvolvimento econômico dessa região. No Plano CODIVAP - Consórcio de Desenvolvimento Integrado do Vale do Paraíba e Litoral Norte foram reafirmadas tendências para a vocação pelo aspecto econômico da região do Vale e, no escopo desse plano, também foram indicadas políticas públicas para o corredor da Via Dutra. Esse plano fazia parte de uma estratégia maior do Governo Militar contemplada pelos Planos Nacionais de Desenvolvimento - PND I e II. Nesse período, o planejamento regional foi pensado e executado para o desenvolvimento econômico, para a industrialização e para a modernização do aglomerado do Vale do Paraíba e, principalmente, para São José dos Campos que foi o foco das atenções e de suas diretrizes. Analisando o estudo desenvolvido pelo CODIVAP pudemos verificar que este foi o primeiro plano para a região do Vale do Paraíba que tinha como objetivo um planejamento regional integrado proposto através da sistematização de dados e informações que conduzisse a região para um pleno desenvolvimento econômico. Enquanto o CODIVAP elaborava seu diagnóstico e suas diretrizes para o Vale do Paraíba estavam sendo implantadas e regulamentadas diversas leis de ordenamento do município seguindo os conceitos estabelecidos no PDDI de 1971. Dentro desse contexto, foi elaborado o segundo Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de São José dos Campos. Os anos de 1970 foram marcados pela elaboração desse primeiro Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI) – Lei nº 1623/71 e da primeira lei de zoneamento – Lei nº 1606/71. O PDDI de 1971 teve início em 1969 por meio da contratação da empresa Serete S/A Engenharia pela Prefeitura Municipal, fazendo parte deste trabalho, como subcontratada, a SD Consultoria de Planejamento Ltda. e Jorge Wilheim Arquitetos 140 Associados como responsável pelos aspectos urbanísticos. Este contrato ocorreu na gestão do prefeito Elmano Ferreira Veloso (1966 a 1970), tendo sido entregue em sua gestão, o Plano Preliminar. Coube ao seu sucessor, Brigadeiro Sérgio Sobral de Oliveira, que assumiu a prefeitura em 04 de fevereiro de 1970, discutir as minutas apresentadas pelos técnicos, aprovar e receber o plano em sua versão final. Uma das estratégias adotadas no PDDI foi a de estimular a ocupação e o adensamento de grandes vazios urbanos existentes no município e, por meio dessa diretriz, conseguir certa linearidade na ocupação do solo. Para tanto, o PDDI de 1971 utilizou-se de instrumentos urbanísticos para atender sua diretriz maior que era a de incentivar a verticalização e, para tanto, foi utilizado a aplicação de coeficientes de aproveitamento altos de até seis na região central. Seus elaboradores (SERETE S/A) entendiam que a oferta desses coeficientes iria promover uma cidade mais compacta e densa. A primeira medida adotada para que fosse conseguida essa linearidade foi a elaboração de uma lei de uso e ocupação do solo que incentivasse a construção de edifícios para habitações coletivas e comerciais, conjuntos habitacionais verticais e horizontais. O adensamento de um desses vazios urbanos, localizado na Região Leste, nos bairros Vila Industrial e Jardim Ismênia, citados aqui como exemplo, tornou-se realidade com a implantação dos Conjuntos Habitacionais Intervale, Integração, Parque das Américas. Nesse segundo período, criou-se dois vetores distintos e opostos: um primeiro em direção à Vila Ady’anna e Jardim São Dimas (oeste) que recebiam edifícios para uma classe de maior renda e um outro vetor em direção à Vila Industrial (leste) onde são implantados conjuntos habitacionais com altas densidades para atender uma classe de menor renda. No mapa de localização da Vila industrial (leste), abaixo, podemos observar que esse bairro é contíguo a região central e em sentido oposto à verticalização destinada às classes de maior renda (Oeste). 141 MAPA DE LOCALIZAÇÃO DA VILA INDUSTRIAL Mapa 8 – Centro, Vila Ady’anna, Jardim São Dimas e Vila Industrial. Fonte: P. M. S. J. C., 2016. A tabela a seguir sobre a densidade dos conjuntos habitacionais na região leste mostra que a diretriz do PDDI de produzir uma cidade vertical, compacta e densa foram cumpridas e mostra o quanto esta legislação foi determinante e eficaz. Tabela dos conjuntos habitacionais por região, número de blocos e densidades Conjuntos Habitacionais Região Blocos Densidades Integração Leste 62 436 hab/ha Intervale Leste 34 293 hab/ha Parque das Américas Leste 40 201 hab/ha Tabela 3 – Tabela dos conjuntos habitacionais Fonte: Secretaria de Planejamento Urbano de São José dos Campos, 2016. Figura 35 - Conjuntos habitacionais na Região Leste e o Projeto CURA (Comunidade Urbana para Recuperação Acelerada). Fonte: Google Earth, 2015. 142 Aliado a essa medida, como fato positivo, nesses Conjuntos Habitacionais foi implantado o projeto CURA - Comunidade Urbana para Recuperação Acelerada, financiado pelo BNH, promovendo uma radical transformação na região em termos de infraestrutura básica e de equipamentos para educação, saúde e lazer. Figura 36 - Quadra destinada aos equipamentos comunitários: Teatro, Tiro de Guerra, Hospital, Pronto Socorro, Velório Municipal, URBAM S/A (Urbanizadora Municipal) e complexo poliesportivo. Fonte: Google Earth, 2015. O PDDI -1971 propôs também, em suas diretrizes, uma nova legislação de Parcelamento do Solo que estabeleceu os requisitos para a implantação de novos loteamentos, contendo diretrizes urbanísticas, obras de infraestrutura, normas para aprovação, até o sistema de garantia para execução das obras por parte do loteador. No início dos anos 70, as áreas próximas à Zona Central são efetivamente ocupadas, iniciando-se o processo de verticalização, tanto da área central como das áreas próximas, o que permitiu um maior adensamento. A Região Sul foi a que mais sofreu impacto desse crescimento por causa da instalação de indústrias, da maior ocupação de loteamentos já existentes e da implantação de conjuntos habitacionais. Atualmente, essa região é a que possui a maior população do município. A política adotada no PDDI-1971 foi a de não incentivar a expansão horizontal, à exceção dos vazios urbanos das áreas urbanizadas e também exigia todas as obras de infraestrutura, exceto pavimentação. Naquela época, todo o planejamento urbano de São José dos Campos foi pensado e executado para o desenvolvimento econômico, a industrialização e a 143 modernização. O que se observa no PDDI e na sua implantação é que as diretrizes urbanísticas preponderaram sobre as demais áreas. O zoneamento foi o instrumento utilizado com sucesso, primeiramente, para garantir a reserva de espaços para as grandes indústrias e, em segundo plano, para incentivar a verticalização e disciplinar os demais usos do solo urbano. O adensamento proposto nas áreas disponíveis de infraestrutura e a contenção da expansão horizontal foram aspectos positivos. Entretanto, a falta de uma política para a habitação popular foi uma grande falha do plano. O PDDI, sem dúvida, contribuiu para a estruturação do tecido urbanoindustrial que se conhece. Contudo, em função do acelerado crescimento demográfico, além das previsões do Plano, rapidamente muitas de suas diretrizes ficaram ultrapassadas ou inviabilizadas economicamente. Em decorrência dos estudos advindos do Plano de Desenvolvimento Integrado, vários instrumentos legais foram promulgados quase que simultaneamente: 1) Organização Administrativa da Prefeitura. Lei Municipal no 1537, de 03/03/1970; 2) Código Administrativo. Lei Municipal no 1566 de 01 de setembro de 1970; 3) Lei de Loteamentos Urbanos. Lei Municipal no 1576, de 25 de setembro de 1970; 4) Sanções do Código de Edificações. Lei Municipal no 1575, de 25/09/1970; 5) Código Tributário. Lei Municipal no 1577, de 30 de setembro de 1970; 6) Código de Edificações. Lei Municipal no 1578, de 07 de outubro de 1970; 7) Plano Trienal de Investimentos. Em 17 de junho de 1971, por meio do ofício 017/71/DJ, o prefeito Sérgio Sobral de Oliveira encaminha à Câmara Municipal o projeto de Lei 1606/71 que dispunha sobre o uso e ocupação do solo do município. Após dois meses, o projeto entra em votação na sessão da Câmara Municipal de 17 de agosto de 1971. A Lei Municipal no 1606/71, quando de sua promulgação, apresentava-se relativamente simples se comparada às atuais leis de zoneamento, contando com apenas 25 artigos. Essa lei propunha que o município fosse dividido em Zona Urbana, Zona de Expansão Urbana e Zona Rural. Os perímetros dessas zonas seriam fixados por lei e as zonas de uso, inseridas na zona urbana e de expansão urbana, teriam seus perímetros delimitados por meio de ato do executivo, ou seja, por decreto, o que dispensava consulta ao poder legislativo, tanto na sua formulação como numa eventual alteração desses. 144 Como podemos observar no mapa da 1ª Lei de Zoneamento de 1971, a seguir, essa lei dividiu a cidade em área urbana, de expansão urbana e rural. As áreas urbanas e de expansão urbana em nove zonas, classificadas como Zonas de Predominância Comercial (ZPC), Zona de Predominância Habitacional (ZPH), Zona de Predominância Recreacional (ZPR), Zona de Predominância Industrial (ZPI), Zona Industrial (ZI), Zona Especial (ZE), Zona de Expansão Urbana (ZEU), Zona Industrial (ZI), Zona Especial (ZE), Zona de Expansão Urbana (ZEU), reserva de áreas livres nas zonas de expansão e Zona Central (ZC). MAPA DA 1ª LEI DE ZONEAMENTO – 1971 Mapa 9 – Primeira Lei de Zoneamento – Lei 1606/71. Fonte: Secretaria de Planejamento Urbano, 2016. 145 Verifica-se que a lei nº 1606/71 foi promulgada com a finalidade de minimizar alguns problemas existentes no núcleo central da cidade, em consequência do seu alto adensamento. Na leitura da lei constatou-se que a grande concentração de comércio e serviços na região central sobrecarregava as vias, dificultando o acesso às demais regiões, uma vez que para o acesso a essas regiões era necessário passar pelo centro. Para tanto, foi incentivada a migração das atividades comerciais e de serviços e, principalmente, o adensamento para as áreas próximas à região central. A delimitação da região da Vila Ady’anna e parte do platô central da cidade em zona de predominância comercial e zona de predominância habitacional, respectivamente, foi fundamental para iniciar o processo de verticalização nesses locais. Tal afirmação pode ser comprovada a partir da descrição das atividades que foram permitidas pela lei nº 1606/71 para cada uma dessas zonas. É importante exemplificar e relatar alguns artigos da lei para melhor compreensão de como a legislação urbanística de São José dos Campos vem incentivando e direcionando a verticalização. Abaixo, alguns artigos da lei nº 1606/71. “Art. 5º A zona de predominância comercial (ZpC), será constituída por diversos setores administrativos (bairros), sendo permitido edifícios públicos, estabelecimento de comércio atacado a varejo, supermercados, edifícios de escritórios e residenciais, habitações coletivas, pensões a hotéis, bancos, editoras, gráficas, estações de rádio a televisão, edifícios culturais a de ensino, locais de reunião, recreação e culto, cafés, bares, padarias, confeitarias, restaurantes a congêneres. § 3º No caso de edifícios para habitações coletivas, ou uso misto de escritórios a habitação coletiva, será permitida taxa de uso de, no máximo, 6 (seis) vezes a área do lote, observando os recursos laterais, peças a corredores constantes desta Lei e do Código de Edificações. Art. 6º A zona de predominância habitacional (ZpH) será formada por duas subzonas, ZpHA, e ZpHB, constituídas por diversos setores administrativos (bairros) descontínuos; nela haverá predominância da função residencial, sendo permitidos edifícios residenciais individuais, estabelecimentos de ensino o cultura, residências coletivas, consultórios e escritórios em edifícios individuais, barbearias, institutos de 146 beleza, comércio varejista, locais de reunião, cinemas, auditórios e teatros, restaurantes e bancos. Área do Lote (S) 450 - 1.000 1.000 - 2.000 + de 2.000 Taxa de Ocupação (TO) 2/5 1/3 ¼ Taxa de Uso (tu) 2 4 6 S = A área do lote em metros quadrados; To = Taxa de ocupação: proporção da área projetada pela área do lote; Tu = taxa de uso: proporção do área total de construção pela área do lote; Os números da tabela expressam o limite máximo para To e Tu, de acordo com a área do lote (S). Art. 12. Na zona central não serão aprovados projetos para edificações de menos de 3 (três) pavimentos. Art. 14. A altura máxima permitida para os prédios da zona central é de 60,00m (sessenta metros).” No ano de 1975, em cumprimento à legislação federal do Ministério da Aeronáutica, que regulava a construção de edificações verticais em área de influência de aeródromos, é publicado o Decreto nº 1870 de 29 de agosto de 1975. “Art. 1º- Os projetos de edificação vertical que se localizarem dentro do cone de aproximação do aeroporto local deverão ser submetidos, em função do gabarito de altura, à aprovação do Ministério de Aeronáutica. ” No mesmo ano, a Lei nº 1755/75 de 31 de outubro de 1975, fixou uma altura máxima para as construções verticais em toda a cidade, independentemente do tamanho do lote. “Art. 2º - Fica fixada em 35,00 (trinta e cinco metros) ou 10 (dez) pavimentos a altura máxima permitida para as construções no Município. 1º - Inclui-se no gabarito fixado neste artigo as obras de caixa d’água e casas de máquinas. 2º- Se a construção localizar-se na área do cone de aproximação do aeroporto local, a altura permitida neste artigo deverá ser reduzida em decorrência do disposto na legislação federal.” Apesar da restrição imposta pela legislação, neste período, anos da década de 1970, verificou-se a construção de vários edifícios altos dentro do perímetro do cone de aproximação do aeroporto, como o Nacional (25 pavimentos) e o Cabo da Boa Esperança (27 pavimentos). Esses edifícios foram construídos anteriormente a 147 promulgação da Lei nº 1755/75 e ultrapassam o limite de altura e de pavimentos estipulados nessa lei. Verificou-se, também, que outros edifícios foram construídos anteriormente a promulgação, como o Mansão do Vale (27 pavimentos) e o Ipanema (29 pavimentos), aprovado em 03 de setembro de 1975. Com a aprovação dessas leis e decretos esperava-se que o processo de urbanização que, naquele período, continuava a apresentar um significativo espraiamento e adensamento, com transbordamento por sobre as infraestruturas preexistentes, tais como: as rodovias, a ferrovia e o Rio Paraíba do Sul e os pequenos fundos de vale, fosse diminuído. A Região Central começava a se especializar em atividades de comércio e serviços e o processo de esvaziamento do uso e ocupação residencial começava a se deslocar para áreas em verticalização e para outros platôs mais distantes do Centro. Tais ocupações e transposições são induzidas pelas infraestruturas de acesso e pela proximidade dos novos setores de produção e pelos custos imobiliários das áreas centrais e do entorno imediato. Verifica-se ainda que a distribuição espacial da urbanização nesse período dos anos de 1970 acabou por se configurar de dois modos que, contudo, parecem concomitantes. São eles: a) contíguos que acompanham as áreas industriais de porte ao longo da Rodovia Presidente Dutra e b) num eixo Norte-Sul, de forma estrangulada ao Norte do município decorrentes da existência da planície de fundo de vale em aluvião e terrenos com baixa resistência. Em relação à verticalização pode-se dizer que foi em meados dos anos de 1970 que vários incentivos na legislação viabilizaram para que ocorresse um deslocamento da implantação dos edifícios da região central para as regiões dos bairros de São Dimas e Vila Ady’anna. Esses bairros eram contíguos à região central e os moradores pertenciam a classe de renda média. Foram instalados diversos consultórios médicos e comércios (restaurantes, bares e lojas e padarias), tornando-se em um grande atrativo para o mercado imobiliário. 148 3.3 A LEGISLAÇÃO DOS ANOS DE 1980 Nos anos de 1970, eram as construtoras de São Paulo, Hindi, Guarantã e Lindenberg que dominavam o mercado de São José dos Campos. Os anos de 1980 marcam a liderança das construtoras locais, nos setores habitacionais, institucionais, comercial e industrial. Destacam-se nesse período as construtoras locais Reflora, Castor, Paraíso, San Marco, Sérgio Porto e Marcondes César. Figura 37 – 2º Período – 1971 a 1996 – Vista da Região Central, Vila Ady’anna e Esplanada. Fonte SPU – PMSJC, 2015. Em 1980, a lei nº 1606/71 é revogada e é promulgada a Lei nº 2263/80, uma cópia fiel da lei de zoneamento de São Paulo. A lei 2263/80, promulgada em 4 de janeiro de 1980, dividiu o município de São José dos Campos em um único perímetro de zona urbana e de expansão urbana e o remanescente, como zona rural. A zona urbana e de expansão urbana foi subdividida em 15 zonas de uso, sendo cortadas por 16 corredores. Essa lei não teve sua origem vinculada a nenhum Plano Diretor, pois São José dos Campos vivia um período que não havia um Plano, muito menos diretrizes. Naquele período de elaboração da lei, São José dos Campos tinha um Departamento de Planejamento, criado em 1976, cuja competência era elaborar o plano de ação de governo, os planos setoriais e os programas necessários para implantação desses planos. Merece destaque o Plano Diretor de Creches, de 149 Equipamentos de Saúde, o projeto do Anel Viário, de drenagem das águas pluviais e o programa de transporte urbano. No entanto, ao analisar o texto legal, elaborado e complexo, infere-se que, pela primeira vez, o parcelamento do solo foi tratado em conjunto com as questões e diretrizes de uso e ocupação do solo. Em comparação à lei 1606/71 também é possível observar que a lei 2263/80 apresentou uma novidade em relação às categorias de uso permitidas nas zonas de uso. Essas seriam permitidas segundo dois grupos: uso conforme e uso sujeito a controle especial. O uso conforme era aquele permitido e incentivado na zona de uso, devendo ser respeitados os demais parâmetros urbanísticos mínimos estabelecidos para a zona de uso. As categorias de uso sujeitas ao controle especial seriam aquelas que viriam a ser permitidas, desde que respeitados os parâmetros mínimos necessários, e atendessem a uma regulamentação específica de controle de poluição ambiental, níveis de ruído e horário de funcionamento especial. As condicionantes das categorias de uso permitidas sob controle especial não foram regulamentadas no decorrer dos dez anos de vigência da lei 2263/80; essas condicionantes passaram a ser equiparadas, na prática, com categorias de uso permitidas nas zonas de uso. Na década de 1980 foi aprovada a Lei de Parcelamento e de Uso e Ocupação do Solo (Lei Municipal nº 2263/80), elaborada nos moldes da Lei de Uso e Ocupação do Solo de São Paulo e Campinas. Essa lei teve como uma de suas diretrizes a ampliação do perímetro de expansão urbana do município e abriu a possibilidade de expansão horizontal da cidade por meio de novos loteamentos. Essa política foi totalmente contrária às diretrizes propostas no Plano Diretor de 1971, o que confirmava que os dirigentes não se preocupavam em seguir as diretrizes que constituíam esse plano. Entre 1980 e 1981 há um grande número de aprovações de loteamentos, em diversas áreas periféricas do Município. Entretanto, a maior parte destes não conseguiu executar as obras de infraestrutura, tendo o Poder Público de intervir em muitos deles e executar as obras necessárias ao atendimento da população que já ocupava esses locais. 150 Em 1981 foi criada a Secretaria de Planejamento e Informática, sendo que o Departamento de Planejamento continuou a exercer papel de coordenação e acompanhamento dos Planos e Programas. Destaca-se nesse período, a formulação de uma proposta elaborada por essa secretaria para a primeira lei sobre o Patrimônio Histórico e Ambiental do Município. Nesse período em que esteve vigente, a lei 2263/80 sofreu 94 alterações e modificações, sendo que o maior número de alterações ocorreu na gestão do Prefeito Robson Marinho (1983 a 1986) e as alterações mais frequentes visavam prever e respaldar novas situações legais, não previstas ou não permitidas, que pudessem ajustar-se às novas demandas provenientes das mais diversas origens. As situações mais comuns nessas alterações propostas eram no sentido de: a) alterar o zoneamento de uma determinada área ou região a fim de permitir uma determinada atividade outrora não permitida; b) criar novas zonas de uso com parâmetros de uso e ocupação específicos; c) restringir a verticalização em determinados bairros; d) reduzir parâmetros de ocupação do solo e) incrementar a taxa de ocupação máxima ou o coeficiente de aproveitamento. Como podemos observar na imagem a seguir, a legislação urbana estimula a verticalização e a disputa por espaços para a verticalização, muitas vezes, invadia e ocupava áreas antes destinadas ao uso residencial unifamiliar, o que causava confrontos e conflitos. Podemos citar o caso do bairro Jardim Esplanada, tipicamente uma ZR1, com lotes de 450 m² e 360 m² e casas antigas que, até os dias atuais, sofre grandes pressões do setor imobiliário nas discussões para aprovação de uma lei de zoneamento para que nesse bairro possam ser construídos edifícios e permitidos comércio e serviços. Trata-se de um bairro com boa infraestrutura e também contíguo a região central assim como o Jardim São Dimas e a Vila Ady’anna. Figura 38 – Bairro Jardim Esplanada II (Região Oeste) onde a verticalização avança e invade a privacidade dos moradores. Fonte: Secretaria de Planejamento Urbano, 2015. 151 A competição pelo espaço também ocorreu entre a indústria e o setor imobiliário que transformava áreas industriais em áreas para urbanização residencial ou transformava áreas residenciais em áreas industriais. Essa transformação não significou uma substituição de atividades, mais do que isso, representou a substituição do capital industrial pelo capital imobiliário de incorporações. Exemplo dessa transformação de capitais foi a área da antiga Alpargatas onde hoje funciona um shopping center e a área remanescente foi parcelada em grandes lotes e implantados vários edifícios residenciais. A disputa do capital imobiliário com o capital industrial por terras aconteceu mais na Região Leste do município. A implantação da Refinaria Henrique Laje, em 1975, transformou este complexo petrolífero em uma grande barreira física no tecido urbano, e no seu entorno foram instaladas várias indústrias de gás liquefeitos, vizinhas a loteamentos residenciais. Em abril de 1985, uma comissão foi constituída por meio do decreto 5.008/85 para analisar e propor alterações na lei 2263/80. Essa comissão era composta por representantes da prefeitura e da sociedade civil. A existência de representantes da indústria, do comércio, do mercado imobiliário e da construção civil em órgãos colegiados como esse não se dava por acaso. A disputa dos capitais industrial, mercantil e imobiliário pelo espaço fez com que aqueles procurassem sempre estar presentes em todas as formulações e discussões que pudessem interferir em seus interesses relacionados com a terra, seu uso e seu preço. Villaça (1998) chama a atenção de que o preço da terra urbana tem dois componentes: um decorrente do seu próprio preço de produção e o outro decorrente do preço de seu monopólio. Esse último possui uma íntima relação com os produtos específicos resultantes da produção do espaço intraurbano, em razão de suas localizações e acessibilidades, bem como dos artifícios produzidos pelas leis de zoneamento que podem incentivar, inibir ou proibir determinadas atividades ou formas construtivas. A lei 2263/80 dividiu a cidade em novas zonas e estabeleceu diferentes coeficientes para cada zona. 152 MAPA DA 2ª LEI DE ZONEAMENTO – 1980 Mapa 10 – Segunda Lei de zoneamento – Lei nº 2263/80. Fonte: Secretaria de Planejamento Urbano, 2016. Os coeficientes utilizados eram inferiores aos anteriormente estipulados pela Lei nº 1606/71. Constata-se que nas Zonas Comerciais (ZC) o antigo índice de 6 foi substituído por, no máximo, 3,5. Nas Zonas Residenciais (ZR), os índices variavam entre 2 e 6; na nova Lei, o coeficiente adotado foi de 3. 153 A diminuição dos coeficientes na região central e outras próximas ao centro não causaram interferências na continuidade e avanço do processo de verticalização tendo em vista que os coeficientes de 3 e 3,5, fixados em lei, foram suficientes para atender ao mercado em áreas ainda não ocupadas por construções verticais e em áreas de vazios urbanos existentes em alguns bairros da cidade. Muitos bairros localizados nas áreas classificadas como Zona de Predominância Habitacional B (Lei 1606/71) tiveram o seu coeficiente aumentado de 2 para 3. De certa forma, pode-se afirmar que a Lei nº 2263/80 não criou dificuldades para a construção de edifícios. Houve uma continuidade à tendência da construção de blocos de quatro pavimentos, iniciada na década de 1970. Outros conjuntos habitacionais verticais foram construídos na região leste, nos bairros da Vila Industrial e Jardim Tatetuba. São exemplos os Conjuntos Intervale, com 34 blocos, Integração, com 62 blocos, e o Parque das Américas, com 40 blocos. Na região sul pode-se destacar a construção dos conjuntos habitacionais Sport Ville e Sport Center, com 12 blocos de quatro pavimentos cada empreendimento. A lei 2263/80 introduziu uma série de inovações em relação à lei 1606/71: 1) exigir equipamentos destinados ao lazer nos conjuntos habitacionais; 2) classificar as atividades industriais de acordo com padrões qualitativos e quantitativos, sendo fixados níveis máximos de emissões permissíveis; 3) elaborar uma listagem de atividades que foram classificadas segundo diversas subcategorias de uso comercial, de serviços e institucional; 4) tratar o uso de uma determinada subcategoria de uso conforme, sujeito a controle especial ou não conforme. Sobre os conjuntos habitacionais produzidos no período da lei 2263/80, eles passaram a ser construídos, em sua maioria, verticalizados, com vários blocos de apartamentos dotados de área de uso comum e coletivo, contendo equipamentos de lazer ativo e contemplativo. Verifica-se também que tais construções habitacionais só poderiam acontecer em terrenos que fizessem parte de loteamentos aprovados, excluindo dessa forma, as glebas e vazios eventualmente deixados estrategicamente pela especulação imobiliária. Desse período, cabe destaque para a Lei nº 2433/81 de 23/03/1981 que tinha como premissa o incentivo à construção de edifícios-garagens nas zonas comerciais. Apesar do estímulo que a lei proporcionava, como a taxa de ocupação de 80%, não foi construído nenhum edifício com essa finalidade. 154 Nesse ano de 1981 foi promulgada a Lei nº 2490/81 que alterou a redação do artigo 2º da lei nº 1755/75. “Artigo 1º - O artigo 2º da Lei Municipal nº 1755 de 31 de outubro de 1975, passa a vigorar com a seguinte redação: “Fica fixada em 35,00 m (trinta e cinco metros) a altura máxima permitida para as construções no Município.” São José dos Campos é uma base militar e área de segurança nacional e esse limite teve o objetivo de segurança aos moradores dos edifícios que estavam na rota do aeroporto. Figura 39 – 2º Período do processo de verticalização em São José dos Campos – 1971 a 1996 – Vista dos bairros de Vila Ady’anna e Jardim Esplanada – ao fundo pode-se ver a REVAP. Fonte SPU – P.M.S.J.C., 2015. Em abril de 1985, constituiu-se uma comissão por meio do decreto 5008/85 para analisar e propor alterações na lei 2263/80. Essa comissão era composta por representantes da prefeitura e da sociedade civil. Em 01 de novembro de 1985 é revogado o primeiro Código de Obras de 1954 e promulgado o segundo Código de Obras de São José; este com mais parâmetros e restrições específicos para a construção de edifícios. A Lei nº 3039/85 passou a exigir a instalação de mais de um elevador para edifícios com mais de oito pavimentos. De acordo com 3º parágrafo do artigo 58 desse código: “[...] quando o edifício possuir mais de oito pavimentos deverá ser provido de dois elevadores”. Ao analisarmos, comparativamente, os códigos de 1954 e o de 1985 verificamos que esses são completamente distintos. As principais diferenças: 1. Extensão dos códigos: o código de 1954 possui 210 artigos e o código de 1985 tem 320 artigos – as posturas cresceram mais de 50%; 2. A filosofia dos códigos: não se trata apenas do aspecto quantitativo de artigos que mais chama a atenção, mas, sim, a filosofia de um e de outro. 155 O Código de Edificações de 1985 é o que podemos chamar de código dirigido a um suposto corpo técnico qualificado existente na cidade e que este sabe como fazer. Por outro lado, o Código de Edificações de 1954 chega até a ensinar e dar diretrizes ao usuário de como fazer obras. Há um reconhecimento por parte do Poder Público que o corpo técnico da cidade é heterogêneo e composto por engenheiros e construtores prático-licenciados e muitos pedreiros autossuficientes. Para exemplificar, seguem algumas passagens do Código de 1954. Artigo 6°, parágrafo 3° ensina como desenhar – “As escalas não dispensam o emprego de cotas. Indicar dimensões dos compartimentos”. No artigo 119 – o código dá critério de uso de coeficientes de segurança e no artigo 120 indica o valor da sobrecarga para o cálculo da estrutura. O cuidado é tanto que chega a surpreender quando se observa o artigo 127 – “No caso de fundação em estacas, a Secretaria de Obras Particulares (SOP) poderá exigir que a cravação das mesmas seja acompanhada por funcionário municipal. Onde serão registradas as dimensões de cada estaca, peso e altura de queda e a penetração correspondente às duas últimas pancadas, este registro será arquivado, juntamente com o projeto”. 3. Tipo de edificação: o código de 1954 restringe-se a disciplinar lojas, armazéns, habitações, cortiços (que serão proibidos pelo código), habitações particulares e a construção de edifícios de apartamentos e comércio. É possível verificar que o código de 1985 é muito mais minucioso e para cada tipo de uso do edifício, este possui regras específicas para elaboração de um projeto. Na década de 1980, segundo levantamento na Secretaria de Planejamento Urbano, a política de desenvolvimento da cidade tinha as seguintes diretrizes urbanísticas: reurbanização da região central, regionalização e descentralização da área central a partir da Vila Ady’anna em direção do Ribeirão Vidoca e da Avenida Cassiano Ricardo (bairro Parque Residencial Aquárius – região). Interessante ressaltar como uma política pode promover a revitalização de uma região central enquanto promove a sua descentralização e o seu enfraquecimento? Nota-se que já havia uma intenção de mudança de centralidade para a Vila Ady’anna e Jardim Aquárius (região oeste). No meio dessa “caminhada” encontrava-se o bairro da Vila Ema, cuja localização despertava o interesse do mercado imobiliário que tinha (até hoje) 156 interesse de verticalizar o local, mas este foi preservado. Segundo alguns incorporadores, há um interesse do mercado na Vila Ema com excelentes vias de acesso e topografia plana. Em 1985, a Lei nº 3077 de 17/12/1985 proíbe a construção de edifícios residenciais na ZE-10, correspondente ao Bairro Vila Ema, contrariando as expectativas dos incorporadores. Em contrapartida, a Lei nº 3096/86 é promulgada e traz incentivos a construção de edifícios na ZE-9, uma região próxima ao Ribeirão Vidoca e próxima à ZE-10. Esta lei dispensa a ZE-9 das exigências de altura máxima de trinta e cinco metros que foram anteriormente fixada pela Lei nº 2490/81 para todo o Município e estipula novos coeficientes para esta zona. “Artigo 26º - ... i) ZE-9 – “Zona de uso diversificado de alta densidade, que por suas características de ocupação permitem a convivência harmoniosa entre as atividades residencial multifamiliar, comércio varejista diversificado, prestação de serviços, edificações verticalizadas e atividades de cultura e lazer”. Em relação ao coeficiente de aproveitamento (CA) para ZE-9, a lei nº 3096/86 determinou dois coeficientes: 4 para as edificações destinadas ao uso residencial e 3 para as edificações destinadas ao uso comercial. Para as edificações destinadas ao uso residencial: “Artigo 4º - parágrafo III – O coeficiente de aproveitamento máximo será de 4 (quatro) vezes a área do lote. Para as edificações destinadas ao uso comercial: Artigo 5º - parágrafo III – O coeficiente de aproveitamento máximo será de 3 (três) vezes a área do lote.” Esta Lei buscava incentivar a verticalização no último vazio urbano existente na área central. Os incorporadores locais não acreditavam na vocação desta área, à margem do Ribeirão Vidoca e do bairro residencial Jardim Esplanada, para a construção de edifícios altos, além do fato de as construtoras não possuírem capacidade tecnológica. Houve um receio de que construtoras de maior porte e de outras cidades viessem à procura desse mercado em expansão. Mas, quando vieram novas construtoras, os incorporadores locais passaram a renovar-se tecnologicamente para competir; alguns não conseguiram, outros reinventaram-se. Outra lei aprovada neste período em estudo foi a Lei nº 3077, de 17/12/1985, 157 que classificou a área do bairro da Vila Ema como zona de uso unifamiliar. Esta Lei obteve, segundo levantamentos, a aprovação de 90 % dos seus moradores para que fosse proibida a verticalização naquele local. Este bairro, até os dias de hoje, conseguiu ficar congelado apesar de que, sempre que há o projeto de estudos de uma nova lei de zoneamento, há uma forte pressão do setor imobiliário e uma reação contrária de mesma intensidade da sociedade amigos da Vila Ema (SAVEMA). Verifica-se, nesses casos, que a legislação tanto pode ter o poder de incentivar quanto o poder de inibir o processo de verticalização em determinadas áreas no tecido urbano. Esta lei impediu a tendência natural da verticalização no bairro da Vila Ema. Curioso é que o impedimento da expansão da verticalização nesse bairro não trouxe uma desvalorização do metro quadrado que, até hoje, é maior que muitos outros bairros. Com a aprovação da Lei nº 165/97, o bairro foi classificado como Zona Mista Um (ZM1) e os seus corredores (Av. Heitor Vila Lobos e Madre Paula) foram incentivados à verticalização com o coeficiente de 3. Esta diretriz ocasionou a construções de vários edifícios altos até os dias recentes. Podemos observar no mapa de evolução urbana, a seguir, que entre o final dos anos de 1970 até a segunda metade dos anos de 1980, há um crescimento da malha urbana, mais intenso, em direção as regiões sul e leste. No intervalo entre 1986 e 1990 há um crescimento na Região Oeste (Urbanova e Jardim Aquárius). MAPA DA EVOLUÇÃO URBANA ENTRE 1978 A 1990 Legenda: Até 1950 1950 a 1960 1960 a 1970 1971 a 1978 1978 a 1986 1986 a 1990 Mapa 11 – Evolução urbana - períodos entre 1978 a 1986 (marrom) e entre 1986 a 1989 (rosa). Fonte: PMSJC, 2015, elaborado pelo autor. 158 3.3 A LEGISLAÇÃO DA DÉCADA DE 1990 Após o estudo e a constatação das dificuldades de aplicação da lei de zoneamento anterior37, formou-se um grupo de estudos composto por funcionários das Secretarias de Planejamento, Obras, Fazenda e Assuntos Jurídicos para a elaboração de uma nova Lei de Zoneamento. Conforme levantamentos, o estudo para a elaboração da terceira Lei de Zoneamento de São José dos Campos começou no ano de 1987, com os seguintes objetivos específicos: 1) elaborar uma nova lei que contemplasse todas as alterações ocorridas na lei anterior e 2) tornar essa nova lei mais simples e de mais fácil entendimento pela população. A proposta técnica de sistematização da lei de zoneamento foi concluída e apresentada ao então prefeito, Antônio José, e aos secretários em junho de 1987. Após a conclusão dessa primeira fase, iniciou-se o processo de discussão com a Comissão de Zoneamento38. Essa comissão reuniu-se pela primeira vez, em 21 de dezembro de 1987. Era composta por funcionários da prefeitura e representantes da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de São José dos Campos (AEASJC), da Associação Comercial e Industrial (ACI), dos empresários de loteamentos (AELO), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), da Associação das Construtoras do Vale do Paraíba (ACONVAP), do Escritório Regional de Planejamento (ERPLAN), da Câmara Municipal (CM) e das Regiões Administrativas da prefeitura (Sul, Norte, Leste e Centro). A comissão realizou mais 12 reuniões, finalizando os trabalhos na reunião de 29 de março de 1988. Em 16 de maio de 1988 foi encaminhado ao prefeito o texto da lei de parcelamento, uso e ocupação do solo do município. Após as análises efetuadas pela Assessoria Técnica e Legislativa (ATL) e pela Secretaria de Assuntos Jurídicos foi elaborado um projeto de lei, no 026/88, e publicado no Boletim do Município, no 609, em 19 de julho de 1988. O ano de 1988 era eleitoral e o Prefeito Antônio José resolveu não encaminhar o projeto de lei à Câmara Municipal, deixando essa tarefa ao seu sucessor. Pela segunda vez elegeu-se prefeito Joaquim Bevilacqua, a quem coube, novamente, a exemplo de 1979, discutir a aprovação de uma nova lei de zoneamento. 37 38 Lei Municipal no 2.263/80. Criada por meio do Decreto Municipal no 5.008, de 1 de abril de 1985. 159 Em 06 de abril de 1989, o prefeito encaminhou à Câmara Municipal a mensagem 023/ATL/89 referente ao projeto de lei que dispunha sobre o parcelamento, uso e ocupação do solo do município que tinha como objetivo principal a consolidação e sistematização das diversas alterações havidas na lei anterior39. A Lei Municipal nº 3721/90 propôs a divisão do território do município em 30 zonas de uso e seis tipos de corredores especiais que, por sua vez, desdobravamse em 72 vias públicas. Pode-se observar que se o objetivo dos organizadores era o de simplificar, com certeza, com essas inúmeras zonas de uso, não conseguiram. Certamente, esse foi o objetivo primeiro de sua elaboração, comparada com a lei anterior. Podemos verificar que o número de zonas de usos duplicou de 15, em 1980, para 30, em 1990. Os corredores, por sua vez, quadruplicaram, passando de 16 vias em 1980 para 72 em 199040. Este aumento do número das zonas de uso ocorreu em razão do desdobramento das Zonas Especiais (ZEs), criadas na vigência da lei 2.263/80 e das áreas de proteção ambiental (APAs), como consequência de um estudo mais criterioso do meio físico (restrições e potencialidades) do município. Essas áreas foram regulamentadas a partir das restrições impostas pelo meio físico e das aptidões naturais provenientes de estudos efetuados por meio de um convênio entre a prefeitura e a CETESB, na década de 1980. A Lei Municipal nº 3721/90 fez a inserção de alguns corredores de uso especial em zonas de uso exclusivamente residencial (ZRs) e de uso especial (ZEs) que poderiam causar eventual descaracterização dessas zonas, uma vez que poderiam causar um transbordamento das atividades não residenciais. Estes corredores foram classificados segundo seis tipologias, obedecendo a função e hierarquia desempenhadas no sistema viário. Destacamos também a criação da Zona de Vazio Urbano (ZVU), cuja ocupação e aproveitamento dependiam de uma análise de proposta de um plano ou projeto da Secretaria de Planejamento. Nessa análise seriam avaliados os aspectos 39 Lei Municipal 2.263/80. Este zoneamento funcional ou funcionalista é um instrumento urbanístico que fixa quais as atividades que serão permitidas nas diversas zonas de uso, delimitadas segundo perímetros ou mapas. Ele é resultado dos planos urbanísticos difundidos nas primeiras décadas do século XX em congressos internacionais que consagraram o zoneamento como instrumento regulador de conflitos, de divisão funcional da cidade, separando residências de atividades comerciais, indústrias e de lazer. Como conceito, este instrumento foi defendido por Garnier e Le Corbusier a partir de 1928, no Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM) e corroborado cinco mais tarde pela Carta de Atenas (SOMEKH, 1994). Neste 4o Congresso, realizado em 1933, elaborou-se a Carta de Atenas cujo conteúdo passou a ser o bem comum dos urbanistas (CHOAY, 1979). 40 160 físico-territoriais da gleba e de seu entorno, as tendências do mercado imobiliário, bem como a infraestrutura disponível. Sobre a Zona de Vazio Urbano (ZVU), essa era uma zona de uso que foi inserida na lei por causa das inúmeras glebas de médio e grande porte existentes no território do município. Diante da indefinição da aptidão dessas áreas, a sua ocupação e aproveitamento dependiam da análise de um plano ou de um projeto específico por parte da Secretaria de Planejamento. MAPA DA 3ª LEI DE ZONEAMENTO – 1990 Mapa 12 – Terceira Lei de Zoneamento – Lei nº 3721/90. Fonte: Secretaria de Planejamento Urbano, 2015. 161 Ocorreram 90 alterações na lei 3721/90 que visavam beneficiar interesses pontuais e foram introduzidas por meio de leis complementares. Essas sucessivas alterações e adaptações da lei e das anteriores são decorrentes de um princípio existente no modelo de zoneamento americano: a elasticidade. Durante a vigência dessa lei, outras 12 leis de anistia, destinadas às construções irregulares e clandestinas, foram regularizadas, ou seja, dos 2920 dias de vigência dessa lei, 1252 dias foram vigorados por algum tipo de anistia, o que corresponde a 43% do período. Essa lei de parcelamento, uso e ocupação do solo foi produto do trabalho da equipe de técnicos da prefeitura. Esse trabalho de várias secretarias foi uma consolidação de todas as alterações implementadas na lei 2263/80 que propôs a inclusão de novos instrumentos e tinha como meta principal a sistematização da lei de zoneamento anterior, tornando-a mais simples e de mais fácil entendimento. A proposta técnica foi concluída e apresentada em junho de 1987, iniciando o processo de discussão com a Comissão de Zoneamento que durou até 29 de março de 1988. A lei 37121/90 foi resultado da sistematização das diversas alterações da lei anterior, 2263/80. Essa sistematização teve a supervisão dos trabalhos feita pelos técnicos da prefeitura e o território de São José dos Campos foi dividido em 30 zonas de uso e seis tipos de corredores especiais que se desdobraram em 72 corredores. Com o aumento do número de zonas de uso, das tipologias de corredores, das subcategorias de uso e das suas respectivas atividades, houve necessidade de serem constituídos 82 quadros que se cruzavam para cada zona de uso, com informações de uso e ocupação do solo, mostrando que esta complexidade reforçava que a lei era claramente uma representação do zoneamento funcionalista. Nesta lei, verificou-se que, mais uma vez, os coeficientes de aproveitamento de várias zonas foram alterados, principalmente nas zonas de uso residencial. Como exemplo, pode ser citado o Parque Residencial Aquárius (ZR-5) que passou a ter o coeficiente 4,5. Esta alteração na legislação provocou a intensificação da ocupação do solo por edifícios altos nesse bairro e que, atualmente, os seus moradores tanto reclamam nas audiências de novas propostas de leis quanto a saturação do sistema viário e ao dano causado, pelo incentivo da legislação à verticalização na paisagem urbana do município. Verificou-se, ainda, que as zonas comerciais também tiveram o seu coeficiente aumentado, fixado entre 1,3 e 3,5. 162 Mesmo assim, constata-se que os coeficientes do Parque Residencial Aquárius e região central foram assegurados por um período de 5 anos após a promulgação da Lei nº 165/97, conforme o artigo 161. “Art. 161. Para os imóveis localizados nas zonas de uso definidas na Lei 3.721/90, em que são permitidos os coeficientes de aproveitamento máximos de 4.0 (quatro) e 4.5 (quatro e meio), ficam assegurados o direito à utilização desses índices, pelo prazo máximo de 5 (cinco) anos, contados da data da publicação desta Lei Complementar”. O terceiro Plano Diretor de São José dos Campos foi aprovado em 9 de junho de 1995, por meio da Lei Complementar Municipal 121/95. Esse plano teve como uma de suas premissas incorporar a cidade ilegal à cidade formal com a intenção de cumprir um dos seus objetivos (“da Cidadania”) que era o de possibilitar a futura regularização urbanística e fundiária desses assentamentos. Ressalta-se que, naquele período, o processo de ocupação clandestina já estava em ritmo acelerado nas Regiões Norte e Leste. Após a aprovação do PDDI de 1995 foi elaborada uma proposta de lei que visava regulamentar as diretrizes contidas nesse plano. Essa proposta foi apresentada e discutida em reuniões realizadas no Paço Municipal de São José dos Campo, durante o segundo semestre de 1995 e durante o ano de 1996. Ela continha em seus princípios, o estabelecimento de dois usos básicos: o residencial e o não residencial, apresentados a seguir de forma sintetizada. Para o uso residencial, o objetivo principal foi a regulamentação da densidade demográfica: foram estabelecidos índices de densidade máxima por zona. Observou-se que o coeficiente de aproveitamento (CA) nas cidades brasileiras não regulava as densidades demográficas. Efetivamente, era a renda da população que definia a densidade e a opção pelo estabelecimento de densidades demográficas por zona, conforme o grau de equipamento e infraestrutura. Para o uso não residencial foi estabelecido o CA (coeficiente de aproveitamento) único igual a 1 (um), podendo ser superado nas zonas onde houvesse infraestrutura, por meio da outorga onerosa do direito de construir, solo criado e, nas zonas com carência de infraestrutura, mediante aplicação do instrumento das Operações Interligadas. Este instrumento previa a análise urbanística do empreendimento a ser aprovado e o estabelecimento de contrapartida para investimentos em habitação ou desenvolvimento urbano. 163 Em relação às zonas de uso foi estabelecido que: 1) Na zona onde deveria ser feito controle do adensamento que tratava da área central da cidade, na qual existiam condições satisfatórias de infraestrutura instalada, sua ocupação intensiva poderia provocar saturação, principalmente do sistema viário. Nesta zona, o uso não residencial poderia superar o CA = 1 até um limite de CA = 2 mediante a aplicação de operações interligadas nas duas zonas com infraestrutura e nas zonas com carência de infraestrutura. Foi proposto que os empreendimentos habitacionais pudessem atingir uma densidade máxima de 600 hab/ha que foi fixado com base nos limites estabelecidos na zona a permitir o adensamento, cuja infraestrutura era incompleta, mas a área era classificada como zona de expansão urbana. Nesta zona, foi fixada a densidade demográfica máxima de 400 hab/ha que correspondia a uma ocupação horizontal com lotes de 125 m². Na contraproposta41 apresentada pelos empresários, o coeficiente de aproveitamento seria quatro vezes a área do terreno. 2) Na zona onde deveria ser incentivado o adensamento que se caracterizava como uma área onde houvesse condição satisfatória de infraestrutura, porém com baixa intensidade de aproveitamento, buscava-se estimular a ocupação. A previsão de densidade máxima de 800 hab/ha para o uso residencial e, para o uso não residencial, o coeficiente máximo poderia chegar a quatro vezes a área de terreno, mediante outorga onerosa do direito de construir. Nos lotes vazios ou subutilizados, com área acima de 20 mil m², seria aplicado o dispositivo constitucional do IPTU progressivo no tempo para evitar sua retenção especulativa e incentivar sua ocupação. Na contraproposta foi sugerido um coeficiente igual a seis. Nesta zona, a prefeitura poderia convocar, por edital ou receber proposta de proprietários de terrenos, que tivessem interesse em participar de empreendimentos de Habitação de Interesse Social e/ou de Condomínios Empresariais, sendo utilizado como instrumento urbanístico a Urbanização Consorciada. Para tanto, seria necessária a avaliação do interesse público pelo Planejamento Urbano do Município e aprovado pelo Colegiado Municipal do Desenvolvimento Urbano. 3) A zona com restrição ao adensamento se localizava no sopé da Serra da Mantiqueira, caracterizada como Zona de Preservação das condições ambientais, 41 Os representantes do setor construtivo e imobiliário que participavam das reuniões para regulamentação do PDDI de 1995 apresentaram um parecer com sugestões para alterações da pré-proposta elaborada pela Administração Municipal denominada de “Contraproposta”. 164 sobretudo pela fragilidade do solo. Nesta zona foi proposto que se limitasse a densidade habitacional por meio da permissão de ocupação por lotes mínimos de 2 mil m², introduzindo-se uma cota de terreno de 500 m² por unidade residencial a fim de incentivar a implantação de conjuntos condominiais. A contraproposta propunha que não fosse fixada nenhuma densidade para toda a Região Norte e que não fosse limitado o tamanho máximo do lote e fossem mantidas as exigências da Lei Municipal no 3721/90. Em agosto de 1996 ocorreu o Seminário Internacional “Instrumentos de Manejo do Solo Urbano: experiências e possibilidades”. O objetivo central desse seminário foi o de promover a discussão da recente experiência dos municípios brasileiros em propor e aplicar novos instrumentos urbanísticos para o manejo do solo urbano. Esse seminário também visava avaliar a eficácia no atendimento dos objetivos e estratégias propostas e sua influência sobre os mercados fundiários e imobiliários urbanos. No seminário, foram relatadas as experiências das cidades de Natal, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e São José dos Campos que apresentaram grandes avanços e muitos limites na reformulação do Planejamento Urbano. Destacam-se as ZEIS que se constituíram em um instrumento redistributivo que deu certo nessas cidades. Mas foi a criação de fóruns de negociação de comissões de zoneamento ou de conselhos de desenvolvimento, nos quais os destinos da cidade poderiam ser debatidos e deliberados que, sem dúvida, representou grandes avanços nas exposições dos planos de cada cidade42. Para Gottdiener (1996), A questão do controle, gestão ou desregulação do uso do solo no planejamento urbano deve ser localizada, em primeiro lugar, na história do desenvolvimento de uma sociedade e, em seguida, dentro de um quadro político-econômico antes de ser analisada com clareza. Esse é o caso da regulação do solo porque, atualmente, os economistas não têm um consenso unificado de como tratá-la, como regulá-la e como tratá-la como recurso social. Consequentemente, a assim chamada “questão fundiária” é sempre uma questão política. 42 Na ata da 42a reunião da Comissão de Zoneamento de São José dos Campos verificamos que foi colocado aos presentes que “[...] a ideia de colegiado de Desenvolvimento Urbano preveria que por meio desse dar-se-ia a articulação dos demais conselhos e fundos, sendo que esse colegiado seria o responsável pela coordenação das ações e recursos da administração”. 165 As reuniões para a regulamentação do PDDI de 1995 se estenderam até o final de 1996 e a regulamentação do Plano Diretor, de 1995, não foi encaminhada à Câmara Municipal. A primeira proposta de regularização do PDDI de 1995 teve como objetivo principal diminuir as iniquidades sociais. Buscou-se tal objetivo por meio de um zoneamento elaborado em seus princípios pela articulação da ação dos agentes públicos e privados e, também, por meio de parcerias para se obter recursos para financiamento de equipamentos e infraestrutura urbana. No entanto, em 1997, uma nova administração assumiu a prefeitura e esta proposta foi abandonada. Em 1997, com o argumento principal de alavancar a economia local, foi estabelecida pela administração municipal a necessidade de ser proposta uma nova lei de parcelamento e de uso e ocupação do solo que procurasse flexibilizar ao máximo o uso e a ocupação do território no município. Contrária às diretrizes da pré-proposta de lei de regulamentação de 1996, foi apresentada uma nova lei de uso e ocupação do solo e o território de São José dos Campos foi dividido em várias zonas mistas que permitiam a instalação de indústrias de pequeno e médio porte, com o intuito de atrair o capital industrial e, principalmente, de serem atendidas as sugestões feitas pela contraproposta dos empresários de São José dos Campos. Nessa nova proposta não se propunha um zoneamento por densidade e um coeficiente único de 1 para todo o território municipal; a nova lei propôs coeficientes elevados e variados que visavam alavancar o crescimento econômico da cidade. Para tanto, nas zonas mistas, o coeficiente a ser utilizado seria de 3 vezes a área do terreno; nas Zonas Residenciais seria de 1,3 e para a Zona Central aplicarse-ia o coeficiente de 4 vezes. Esse último foi aplicado com o objetivo de atrair investimentos para o Centro e para a construção do uso residencial multifamiliar. No entanto, o que podemos observar é que, até hoje, não ocorreu nenhum investimento dessa categoria de uso nessa região. Seus formuladores também acreditavam que com coeficientes elevados, o setor privado iria investir mais nas diversas regiões do município e as indústrias voltariam a se instalar no município. Durante a elaboração da lei de zoneamento, em 1997, a “nova” administração levantou a questão sobre o real objetivo das operações interligadas quanto à provisão de recursos para investimentos urbanos. 166 A Lei nº 165/97 alterou novamente os coeficientes de aproveitamento; no Parque Residencial Aquárius, este foi reduzido de 4,5 para 3. As zonas mistas tiveram seu coeficiente reduzido de 4,0 para, no máximo, 3. Porém, o coeficiente das zonas comerciais passou de 3,5 para 4. A definição de coeficientes menores para algumas áreas nada significou pelo fato de existir diversos vazios urbanos pulverizados por todo o território do Município. MAPA DA 4ª LEI DE ZONEAMENTO – 1997 Mapa 13 – Quarta Lei de Zoneamento – Lei nº 165/97. Fonte: Secretaria de Planejamento Urbano, 2015. 167 Com a promulgação da Lei nº 165/97, a região sul, que possuía como barreira física a Rodovia Presidente Dutra, começa a receber um número mais intenso de edifícios. Verifica-se que é após esses estímulos da legislação que a verticalização transpõe essa barreira da rodovia. A Lei nº 165/97 alterou o uso dessa região de ZR2 para ZM-1, onde o coeficiente passou de 1,3 para 3, o que representou um grande incentivo ao processo de verticalização na região. Se nos anos de 1980 a verticalização dessa região se restringia a edifícios de apartamentos com no máximo quatro pavimentos, em sua maioria blocos de conjuntos habitacionais, no final da década de 1990, e mais recentemente, deram lugar a edifícios altos e com maior número de pavimentos para fins habitacionais. Este estímulo também ocorreu na região Sudoeste de São José dos Campos, no Jardim das Indústrias, onde vários edifícios foram construídos, principalmente, nos corredores com coeficiente mais alto. Na região leste, sobretudo no bairro da Vila Industrial, a classificação como Zona Mista, estipulada pela Lei nº 3721/90 foi mantida. O coeficiente de aproveitamento 3 favoreceu a continuidade do processo que, além dos conjuntos habitacionais, outros edifícios foram construídos. Cabe ressaltar que a Lei no 165/97 não repercutiu no processo de verticalização da região norte. É possível verificar que, atualmente, a verticalização mostra-se presente com maior intensidade nos arredores do Parque da Cidade. Nas regiões contíguas à região central, o coeficiente de 3 continuou a incentivar o processo de verticalização que vinha acontecendo desde a década de 1980 e outros edifícios foram construídos. Com o objetivo de revitalizar o centro da cidade, a lei oferece o coeficiente de 4 para esta região. Mas, devido à inexistência de vazios e a problemas de mobilidade urbana não houve interesse dos incorporadores pela área e estes continuaram a construir em outras regiões. Quando a Lei Complementar nº 165/97 passa a valer, as zonas mistas na cidade ocupam cerca de 80% da área urbana. O coeficiente de 3 adotado para a maioria dessas zonas mistas favoreceu a pulverização do processo de verticalização de São José dos Campos que estava restrito a uma zona ou outra que seus criadores queriam que fosse estimulada ou não. 168 Verifica-se que no decorrer de seus treze anos, a Lei Complementar Municipal no 165/97 sofreu inúmeras alterações, assim como as suas anteriores de 1971, 1980 e 1990 que continuaram a ser feitas com o objetivo de prever e respaldar novas situações legais, não previstas ou não permitidas, para se ajustarem às novas demandas provenientes das mais diversas origens. Continuaram a ser propostas alterações no zoneamento de uma zona, criação de novas zonas de uso, restrição ou incentivo à verticalização, incremento ou redução de parâmetros de ocupação do solo. No período de vigência dessa lei também pudemos verificar que houve três leis de anistia para regularização das construções, em 1998, 1999 e a última, feita através da Lei Municipal no 271/03. Segundo levantamento da Divisão de Projetos da Secretaria de Planejamento Urbano constatou-se cerca de 1.800 processos para a legalização de construções a serem analisados até julho de 2007. Cabe a pergunta: para que existe uma lei que regulamenta o uso e ocupação do solo enquanto existem outras leis para legalizar o não cumprimento daquela? Em São José dos Campos, a criação de leis de regularização ou, atualmente denominadas de legalização, é utilizada desde dos anos de 1990 como prática do Poder Público. Essas leis que, de certa forma, são criadas para atender os “fora da lei” têm o objetivo, a princípio aparente, de legalizar as construções que não atendem a legislação vigente. Na verdade, trata-se de uma prática que vem sendo utilizada pelo Estado com a justificativa de arrecadar mais dinheiro aos cofres públicos. Na verdade, o Estado cria uma legislação tão rígida e coerciva com a finalidade de atender ao capital que, muitas vezes, provoca a ilegalidade e como solução cria uma legislação que valida o não cumprimento da legislação. No capítulo a seguir elaboramos um panorama atual do processo de verticalização de São José dos Campos e descreveremos os rumos desse processo de verticalização na região metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte do estado de São Paulo. 169 CAPÍTULO 4 – TERCEIRO PERÍODO 1997 A 2015 – A VERTICALIZAÇÃO METROPOLITANA Este capítulo tem o intuito de retratar o terceiro período do processo de verticalização do espaço urbano em São José dos Campos, no período de 1997 a 2015. De forma sistematizada, reunimos um conjunto de dados dos edifícios existentes na cidade e, a partir daí, pudemos mapear os seus rumos e tendências. Após levantamentos e análises, constatamos ainda que, um novo período está sendo esboçado – a verticalização metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte. Estruturamos este capítulo em quatro partes. Na primeira são feitos comentários e análises das Leis de Zoneamento nº 165/97 e a nº 428/10 (vigente). Foram destacadas as principais premissas e diretrizes com incentivos à verticalização. Num segundo momento, verificamos que a verticalização em São José dos Campos nem sempre foi sinônimo de densidades maiores. Constatamos que as regiões mais densas dessas cidades são de ocupação horizontal. Constatamos ainda que não há em seu conjunto de leis urbanísticas uma diretriz que promova a verticalização e a construção de uma cidade compacta e densa e, muito menos, de proporcionar uma melhor qualidade de vida à sua população. Na segunda parte do capítulo, discorremos sobre o panorama contemporâneo do processo de verticalização e apresentamos a evolução desse processo no período de 1997 a 2013 (ressalvamos que alguns dados de nossa pesquisa como o número total de condomínios verticais e o número total de blocos de edifícios foram atualizados até o mês de agosto de 2015). Na terceira parte são feitas considerações sobre o desafio metropolitano a ser enfrentado por São José dos Campos e pelas cidades da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte quanto a verticalização: a legislação urbanística metropolitana. Verificamos que os anos do terceiro período são os mais intensos do processo de verticalização e da legislação urbanística. Constatamos ainda que o Estado atua como agente regulador e estimulador da verticalização através da legislação, beneficiando as classes dominantes e a acumulação do capital. Na quarta parte são apresentadas as conclusões desta pesquisa e pudemos comprovar que: 1º) A legislação urbanística de São José dos Campos é fator fundamental para a produção do espaço urbano e 2º) Apesar de intensa, a verticalização que vem ocorrendo em São José dos Campos, não é densa. 170 4.1 TERCEIRO PERÍODO – 1997 A 2015 Numa primeira abordagem, verificamos que os levantamentos apresentados neste trabalho mostram que, igualmente a outros centros urbanos nacionais, o processo de verticalização na cidade São José dos Campos teve início na região central da cidade, local dotado de infraestrutura urbana, portanto propício ao processo, passando, após novas diretrizes urbanísticas a ocorrer, mais efetivamente, em áreas contíguas. Do início dos anos noventa até os dias de hoje, a população do Município de São José dos Campos cresceu 42% e podemos verificar que vem ocorrendo uma grande transformação na sua paisagem urbana em relação ao seu processo de verticalização nessas últimas décadas. Na década de 90, fica-nos claro que a existência de barreiras físicas como o Banhado, o Rio Paraíba do Sul, o Ribeirão Vidoca, o Córrego Lavapés e a Via Dutra, não interferiram na evolução do processo de verticalização. Embora a quantidade de edifícios construídos tenha sido superior nesta década em relação às demais, o processo nos anos 90 é caracterizado pela uniformidade na distribuição dos edifícios pela cidade. Houve uma distribuição mais descentralizada das edificações verticais. Pudemos verificar que essa descentralização é devido aos incentivos da legislação para a verticalização em regiões mais distantes do centro e pela criação de novas centralidades valorizando os terrenos próximos. A observação do mapa sobre o zoneamento e a verticalização, a seguir, permite constatar que, sob o ponto de vista da legislação urbanística em vigor 43, que houve a possibilidade de verticalização em amplas áreas da cidade, embora a 43 Lei Complementar nº 428/10. 171 legislação de uso e ocupação do solo limite o gabarito de altura em até quinze pavimentos em algumas zonas de uso da cidade. Mapa 14 – Zoneamento e Verticalização. Fonte: Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2014. Na análise da evolução do processo, no decorrer de aproximadamente seis décadas, pudemos constatar que o processo de verticalização segue a tendência de evolução dos seus primórdios, a partir do centro para as periferias. Neste período, o número de edifícios aumentou, a partir dos modestos dois edifícios em 1961, na região central, para 764 edifícios, em 1997 e para 1274 edifícios em 2015, espalhados por todas as suas regiões. Constamos ainda que, atualmente, existem diversas técnicas construtivas para diferentes tipos de edifícios que são disponibilizadas pelo mercado imobiliário. Essas construções estão presentes em praticamente todo o perímetro urbano, variando desde simples conjuntos habitacionais verticalizados, com poucos pavimentos, até altos edifícios, com mais de 30 pavimentos presentes na região central e oeste do Município. Em São José dos Campos, é por meio da legislação que o Estado vem atuando como agente regulador (e de certa forma estimulador) do processo de 172 verticalização e este utiliza, como principal recurso, o estabelecimento de altos coeficientes de aproveitamento do solo (que determina a altura máxima do edifício em relação ao tamanho do terreno). Trata-se, assim como definiu Somekh (1994), “A multiplicação efetiva do espaço urbano possibilitada pelo elevador”44, embora possa trazer benefícios sob o aspecto do aproveitamento da infraestrutura existente, é capaz de produzir efeitos importantes sobre a paisagem, do adensamento populacional, do sistema viário e das condições de ventilação e insolação de espaços da cidade. O terceiro período desta pesquisa, de 1997 até agosto de 2015, é o mais intenso da verticalização em São José dos Campos e de grandes incentivos da legislação que vem proporcionando um crescimento ascendente. Destaques para a região central e oeste, onde a verticalização continua a ser a mais intensa. Após 1997, data da publicação da Lei de Zoneamento de 1997 (LC 165/97) o processo de verticalização fortaleceu-se na sua “caminhada” para a região oeste (Jardim Aquárius) e após a transposição da Rodovia Dutra, em direção à região sul (Jd. Satélite e Bosque dos Eucaliptos) vem intensificando-se por todo o território. Quando comparamos a Lei nº 165/97 e a atual Lei nº 428/10 podemos verificar, numa primeira abordagem, que os incentivos na legislação destinada ao uso multifamiliar vertical (R2 e R3) – ver Anexo 01 (Tabela 4) – deixam de ser permitidos na região central e são incentivados os usos comerciais e, mais especificamente, os de uso para serviços de diversão noturna – ver Anexo 12 (Tabela 5) – mostra-se um claro intuito de seus organizadores de incentivar o uso desta região nesse período. Região Central – Lei de Zoneamento nº 165/97 Mapa 15 – Região Central – Lei de Zoneamento nº 165/97 – sem escala. Fonte: Secretaria de Planejamento Urbano, 2015. 44 Somekh, Nádia. A cidade vertical e o urbanismo modernizador: São Paulo 1920-1939. São Paulo; EDUSP, 1997. 173 ANEXO 01 – LEI COMPLEMENTAR Nº 165/97 Tabela 4 – Características de Uso e Ocupação de Lotes (Lei 165/97). Fonte: Secretaria de Planejamento Urbano, 2015. Região Central – Lei de Zoneamento nº 428/10 Mapa 16 – Região Central – Lei de Zoneamento nº 428/10 – sem escala. Fonte: Secretaria de Planejamento Urbano, 2015. No mapa acima, podemos observar que a Zona Central Um - ZC1, conforme a Lei nº 428/10, constitui-se de uma pequena porção do Centro Tradicional, onde predominam os usos comerciais e de serviços que necessitam de renovação urbana, no qual se pretende criar um setor de diversões noturnas, ficando vedado o uso residencial multifamiliar vertical nesta zona. De acordo com o Anexo 12 da Lei nº 428/10, são permitidas as seguintes atividades, para a zona de uso ZC1, devendo ser respeitadas as características de uso e ocupação dos lotes. 174 ANEXO 12 – LEI COMPLEMENTAR Nº 428/10 CARACTERÍSTICAS DE USO E OCUPAÇÃO DOS LOTES NAS ZONAS DE USO ÍNDICES MÁXIMOS ZONA ZC 1 ATIVIDADES PERMITIDAS R1 / CS CS1 / I / AGI A / CS4-1(4) e CS42(4) ÍNDICES MÍNIMOS DIMENSÕES MÍNIMAS DO LOTE CA 3,0 TO 0,80 GABARITO N° MÁX. PAV. 8,70 _ _ 15 MCS ÁREA DO LOTE (m²) TESTADA (m) 200,00 8,00 250,00 10,00 500,00 15,00 RECUOS MÍNIMOS (m) RECUO FRONTAL RECUO LATERAL ATÉ 2° PAV. RECUO FUNDOS ATÉ 2° PAV. _ _ 1,50 1,50 5,00 (1) 5,00 (1) _ 2,00 (5) Tabela 5 – Características de Uso e Ocupação de Lotes (Lei 428/10) Fonte: Secretaria de Planejamento Urbano, 2015. A Zona Central Dois - ZC2 constitui-se de áreas onde há concentração de atividades comerciais e de prestação de serviços que necessitam de renovação urbana, onde se pretende estimular, além da diversidade de usos, o uso residencial multifamiliar com maior densidade construtiva, visando otimizar a infraestrutura existente e consolidar uma área de interesse urbanístico para a Cidade. De acordo com o Anexo 12 (Tabela 6), são permitidas as seguintes atividades, devendo ser respeitadas as características de uso e ocupação dos lotes: ANEXO 12 – LEI COMPLEMENTAR Nº 428/10 CARACTERÍSTICAS DE USO E OCUPAÇÃO DOS LOTES NAS ZONAS DE USO ÍNDICES MÁXIMOS ZONA ATIVIDADES PERMITIDAS C A TO R1 / CS RH1 / RH2 ZC2 RV1 ÍNDICES MÍNIMOS DIMENSÕES MÍNIMAS DO LOTE 3,0 RV2 CS1(3) / I / AGI A MCS 0,80 GABARITO N° MÁX. PAV. 8,70 _ _ 15 8,70 _ _ 15 RECUOS MÍNIMOS (m) ÁREA DO LOTE (m²) TESTADA (m) RECUO FRONTAL 200,00 500,00 8,00 _ 500,00 15,00 2,00 (5) 1.000,00 250,00 500,00 10,00 15,00 _ 2,00 (5) RECUO LATERAL ATÉ 2° PAV. RECUO FUNDOS ATÉ 2° PAV. _ 1,50 _ 3,00 5,00 (1) 5,00 (1) 1,50 5,00 (1) 1,50 5,00 (1) Tabela 6 – Uso e Ocupação de Lotes (Lei 428/10) – atividades permitidas. Fonte: Secretaria de Planejamento Urbano, 2015. Ao compararmos as leis constata-se que: 1. O perímetro da Zona Central (LC 165/97) e os perímetros das Zona Central 1 e Zona Central 2 (LC 428/10) são diferentes. O da LC 165/97 era mais expandido; enquanto o da LC 428/10 ficou subdividido em ZC 1 (porção do centro tradicional) e em ZC 2 (entorno da ZC 1 para o adensamento construtivo e renovação urbana, admitindo o adensamento também residencial). 175 2. O CA da LC 165/97 era 4,00, enquanto a ZC 1 e ZC 2 (LC 428/10) é 3,00. 3. A Zona Central (LC 165/97) admitia os conjuntos e prédios residenciais, enquanto a LC 428/10 somente admite este uso na ZC 2. A ZC 1 não admite o uso residencial multifamiliar vertical. O gabarito máximo também ficou limitado a 15 pavimentos pela atual lei. 4. No entorno (num raio de 300,00m) da Igreja São Benedito, ainda permanece as restrições do CONDEPHAAT. O Mapa a seguir apresenta a verticalização de São José dos Campos antes e depois de 1997. Podemos observar que antes de 1997 a produção de edifícios, em sua grande maioria, ocorreu na região central e na região contígua dos bairros São Dimas e Vila Ady’anna. Adensou o Centro e expandiu para o Oeste e Sul, pulverizou. VERTICALIZAÇÃO EXISTENTE ANTES E DEPOIS DE 1997 Mapa 17 – Verticalização existente – antes e depois de 1997. Fonte: IPPLAN e P.M.S.J.C., 2014. 176 Figura 40 – 3º Período 1997 a 2015 – Região Centro / Parque Vicentina Aranha / Vila Ady’anna. Fonte: SPU – PMSJC, 2015. Como sabemos, nem sempre verticalização significa aumento de densidade. O conceito de verticalização faz sentido como uma forma de aumentar o aproveitamento do solo urbano, aumento de densidade demográfica, aproximando as pessoas e tendo como ganhos de escala no uso do espaço e da infraestrutura construída45. Quando observamos o mapa de densidades de São José dos Campos a seguir, verificamos que, as regiões mais densas, em vermelho, são, predominantemente, de ocupação horizontal. Este dado relevante, comprova que, apesar de intensa, a verticalização que vem ocorrendo em São José dos Campos, não é densa. Jornal eletrônico Mercado Popular – Economia livre & Justiça Social, “Cidades brasileiras: a pior verticalização do mundo”, publicado em 05/05/2014. 45 177 DENSIDADES EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS Mapa 18 – Densidade em São José dos Campos. Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2014. Mais recentemente, após a transposição da Rodovia Dutra, o processo de verticalização de São José dos Campos segue em direção à região sul do município, que vem se intensificando e, provavelmente, nos próximos anos deverá atingir todo o seu território. Verifica-se o deslocamento do processo a partir do centro passando pelo Jardim Aquárius para uma região de topografia plana, dotada de infraestrutura e com forte vocação para o desenvolvimento de atividades comerciais. A década de 1990 e o início dos anos 2000 também são marcados pela intensificação do processo de verticalização e mais estímulos da legislação. Importante ressaltar que a promulgação da Lei nº 165/97, quando transformou a região sul em uma grande zona mista, com coeficiente 3, trouxe o interesse do mercado imobiliário em investir em edificações verticais residenciais nessa região. A implantação do Vale Sul Shopping atraiu mais investidores na região e a verticalização vem se intensificando. 178 Figura 41 – Vista aérea da antiga fábrica da Alpargatas. Fonte: Acervo da Prefeitura Municipal de São José dos Campos, 2015. Na região Sul, destacamos o Conjunto Residencial Primavera, com 63 blocos, que apresenta a terceira maior densidade do Município, com 208 habitantes por hectare. Na região Leste, como podemos ver na figura a seguir, nos setores de localização do Conjunto Integração e do Conjunto Habitacional Intervale – com 62 e 34 blocos, respectivamente – foram registradas uma das maiores densidades populacionais do município, de acordo com o último Censo Demográfico: 436 habitantes por hectare no Conjunto Integração e 293 habitantes por hectare no Intervale. Figura 42 – Conjuntos habitacionais na Região Leste e o Projeto CURA. Fonte: Google Earth, 2015. 179 Na região Oeste, a expansão do processo de verticalização, estimulada, primeiramente, pela lei de nº 3096/86 – Artigo 26º que criou a ZE-946, que tinha como objetivo estimular a verticalização a partir da região central da cidade em direção às Avenidas Jorge Zarur e Eduardo Cury e Jardim Aquárius (região oeste), podemos verificar nas fotos a seguir que este estímulo deu certo. Figura 43 – 3º Período 1997 a 2015 – Região Nobre – Oeste (Vila Ema / Shopping Colinas / Av.Jorge Zarur e Eduardo Cury). Fonte SPU – P.M.S.J.C., 2015. Figura 44 – 3º Período 1997 a 2015 – Região Oeste / Jd. Aquárius / Anel Viário. Fonte: SPU – P.M.S.J.C., 2015. “ZE-9 – Zona de uso misto diversificado de alta densidade que, por suas características de ocupação, permite a convivência harmoniosa entre as atividades residencial multifamiliar, comércio varejista diversificado, prestação de serviços, edificações verticalizadas e atividades de cultura e lazer de massa. 46 180 Destacamos, como exemplo, os seguintes edifícios deste terceiro período: Edifício Sky House Endereço: Avenida Cassiano Ricardo, nº 101 – Parque Residencial Aquárius Tipologia: Residencial Nº de Pavimentos: 33 Habite-se: 2011 Observações: O edifício Sky House é o mais alto de São José dos Campos e do Vale do Paraíba. Figura 45 – Edifício Sky House. Fonte: Google Earth, 2015 e Secretaria de Planejamento Urbano. Elaborado pelo autor. The View Club Residence Endereço: Avenida Cassiano Ricardo, nº 1411 – Parque Residencial Aquárius Tipologia: Residencial Nº de Pavimentos: 32 Habite-se: 2010 Observações: O edifício The View Club Residence é o segundo mais alto de São José dos Campos. Figura 46 – Edifício The View Club Residence. Fonte: Google Earth, 2015 e Secretaria de Planejamento Urbano; elaborado pelo autor. 181 Edifício Central Park Aquarius Endereço: Rua Tubarão, nº 331 – Parque Residencial Aquárius Tipologia: Residencial Nº de Pavimentos: 32 Habite-se: 2012 Observações: O edifício Central Park Aquárius é o terceiro mais alto de São José dos Campos. Figura 47 – Edifício Central Park Aquárius. Fonte: Google Earth, 2015 e Secretaria de Planejamento Urbano; elaborado pelo autor. Atualmente, é na região oeste que são construídos os edifícios mais altos de São José dos Campos incentivados pela legislação desde 1986. Em 2010, a Lei Complementar nº 428 (Lei de Zoneamento), os gabaritos de altura dos edifícios em São José dos Campos foram controlados. Essa lei tem como justificativa desse controle, o princípio de que a preservação da paisagem urbana da cidade iria trazer, como consequência, a melhoria da qualidade de vida da população. Logo após a promulgação desta diretriz, o Poder Público criou uma lei de transição, a Lei nº 498/10, que aprovou cerca de duzentos empreendimentos verticais com mais de 15 pavimentos. Este estoque está sendo implantado até hoje, mas está por terminar no ano de 2016. 182 4.2 PANORAMA E CONFIGURAÇÃO ATUAL Recentemente, o tema verticalização é abordado pelo IBGE nos questionários dos Censos Demográficos por meio do quesito referente ao tipo de domicílio particular permanente da pessoa residente. A Tabela 7 apresenta-nos a evolução da distribuição dos domicílios por tipo entre os Censos de 2000 e 2010. De uma maneira geral, nota-se que a cidade possui uma característica predominantemente horizontal, porém verifica-se que a participação das residências em apartamentos (verticalização) no conjunto dos domicílios passou de 12% para 17% no período. São José dos Campos: evolução da ocupação residencial em apartamentos Censo 2000 Domicílios tipo População residente em apartamento apartamentos 12% 9% Censo 2010 Domicílios tipo População residente em apartamento apartamentos 17% 13% Tabela 7 – Evolução da ocupação residencial em apartamentos. Fonte: IBGE/Censos demográficos 2000 e 2010. Com relação à população, verificamos através dos dados censitários que o número de moradores em apartamentos em São José dos Campos saltou de 48.628 em 2000 para 85.504 pessoas em 2010. Se em 2000, os habitantes de apartamentos representavam 9% do conjunto da população, em 2010, passaram a constituir 13%. Outra questão abordada pelo IBGE refere-se à condição de propriedade do domicílio, indicada através dos gráficos 6 e 7. Os dados coletados em 2010 apontam que, considerando-se cada um dos tipos – casas e apartamentos, os percentuais de domicílios tipo “casa própria já quitada” ou “casa própria em aquisição” mantiveram-se estáveis. Por outro lado, verificamos que houve um aumento considerável do percentual de “apartamentos próprios já quitados” e a queda na participação relativa dos “apartamentos próprios em aquisição”, apesar da expansão do crédito para compra de moradia que ocorreu de forma marcante no período (2000-2010). Praticamente não houve alteração na participação dos imóveis em aquisição, comparando-se 2000 e 2010. Os imóveis em aquisição- casas ou apartamentos – representavam 11,95% do total dos domicílios em 2000 e 11,14% em 2010. Em números absolutos, as casas em aquisição passaram de 12.697 (em 2000) para 14.353 (em 2010). Já os apartamentos, passaram de 4.592 (2000) para 6.762 (2010). 183 Gráfico 6 – Evolução da condição de propriedade – apartamento. Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. Gráfico 7 – Evolução da condição de propriedade – casa. Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. Nesta primeira parte da pesquisa elaboramos uma descrição da situação atual de ocupação vertical na cidade, que teve como ênfase as variáveis de localização, uso, padrão construtivo, número de blocos e número de pavimentos. No levantamento constatamos que em São José dos Campos há 1.133 edifícios ou condomínios verticais em São José dos Campos até fevereiro de 2013. Após uma atualização desses dados até agosto de 2015 verificamos que há 1234 edifícios. Se considerarmos o número total de blocos de edifícios, este é de 1.887 blocos, tendo em vista que um condomínio pode ser composto por mais de um bloco. Esse número é de 2.091 até agosto de 2015. No entanto, como o banco de dados foi organizado objetivando espacializar os edifícios por meio do endereço postal, e os blocos todos de um condomínio possuem um mesmo endereço, os dados trabalhados irão se referir aos condomínios verticais ou edifícios com vários blocos como uma unidade. Ressaltamos que no 184 desenvolvimento desta pesquisa serão indicados os casos de condomínios com vários blocos ou prédios. Na região Centro foram identificados cerca de 45% dos edifícios. Nas regiões Sul e Oeste constatamos, respectivamente, 27% e 16% das edificações. Estas três regiões, portanto, concentram cerca de 90% dos empreendimentos. Comparativamente, há poucos condomínios verticais nas regiões Norte e Sudeste, e mesmo na região Leste, considerando-se a extensão do seu território e a população. Estes números e proporções podem ser verificados por meio da tabela 8 e do gráfico 8. Região Centro Leste Norte Oeste Sudeste Sul Total Edifícios segundo região Número de edifícios Até agosto de 2015 507 523 71 87 40 42 185 198 19 29 311 355 1.133 1.234 Tabela 8 – Edifícios por região. Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2016. Gráfico 8 – Edifícios por região – 2013. Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. O mapa, a seguir, do total de edifícios por setor econômico, indica-nos a distribuição dos edifícios segundo setores socioeconômicos, unidades territoriais formadas por agrupamento de bairros. 185 Verificamos que estão nos setores 20 (área do bairro Vila Ady’anna – Região Centro), 03 área central, 19 (área do Jardim Aquárius – Região Oeste), 14 (área do bairro Floradas de São José – Região Sul) e 15 (área do Jardim América – Região Sul) as principais concentrações de edifícios. Estes dados fortalecem a elitização da verticalização em São José dos Campos. Mapa 19 – Total de Edifícios por Setor Econômico. Fonte: Secretaria de Planejamento – PMSJC – 2013. Em uma primeira abordagem, podemos constatar que a verticalização em São José dos Campos destina-se, predominantemente, ao uso residencial. Os edifícios residenciais representam mais de 70% do total e, com este uso, a ocupação vertical espalha-se por todas as regiões, como observamos na Tabela 9, a maior concentração ocorre nas regiões: Centro, Sul e Oeste. Distribuição dos edifícios quanto ao uso segundo região Região Uso do edifício47 Até agosto 2015 Centro Leste Norte Oeste Sudeste Sul Total Residencial 294 61 33 158 12 263 821 919 Comercial 106 3 3 13 0 30 155 163 Misto 66 5 3 3 1 13 91 91 Especial 38 2 1 9 6 5 61 56 3 0 0 2 0 0 5 507 71 40 185 19 311 1.133 Flat Total 5 1234 Tabela 9 – Distribuição dos edifícios quanto ao uso segundo região. Fonte: Secretaria de Planejamento – PMSJC – 2016. 47 Como edifício de uso misto considera-se aquele que apresenta unidades comerciais (salas, escritórios, consultórios) no térreo e/ou sobreloja e unidades residenciais nos pavimentos superiores; o edifício especial inclui os hospitais, os hotéis, as escolas, as igrejas e edificações de indústrias. 186 Como vimos, os edifícios mistos estiveram ligados aos primórdios do processo de verticalização em São José dos Campos. Os primeiros edifícios da cidade, ainda nos meados dos anos de 1940, eram de uso misto, como o Boulos Elias e o Salomão Diamante, na Siqueira Campos e na Rua XV, respectivamente, ambos com três pavimentos. Ao longo dos anos de 1960, vários outros edifícios de uso misto foram erguidos, destacamos, na Praça Padre João (Matriz), o Suíte Center (antigo Grande Hotel) com sete pavimentos, o primeiro a ser registrado em cartório. A região da Vila Ady’anna e São Dimas são os locais preferidos dos profissionais liberais, nas décadas dos anos de 1980 e início dos anos de 1990, mas devido ao surgimento de novos e modernos edifícios, estes profissionais são atraídos a instalar seus escritórios e consultórios em uma outra centralidade, na região oeste, no Parque Residencial Aquárius, onde edifícios “inteligentes” e seguros são implantados. O pioneiro nesse bairro foi o Edifício Le Classic que possui elevadores inteligentes e um sistema bem rigoroso de segurança. Edifício Le Classic Endereço: Rua Alfredo Nogueira Penido, nº 255 – Parque Residencial Aquárius Tipologia: Comércio e Serviços Nº de Pavimentos: 23 Habite-se: 2006 Observações: Marco da mudança dos consultórios dos profissionais liberais da Vila Ady’anna para o Jardim Aquárius. Figura 48 – Edifício Le Classic. Fonte: Google Earth, 2015 e Secretaria de Planejamento Urbano, elaborado pelo autor. Mais recentemente, são construídos outros edifícios para uso comercial e serviços. 187 Edifício The One Endereço: Rua Cassiano Ricardo, nº 255 – Parque Residencial Aquárius Tipologia: Comércio e Serviços Nº de Pavimentos: 30 Habite-se: 2013 Observações: Heliponto Figura 49 – Edifício The One. Fonte: Google Earth, 2015 e Secretaria de Planejamento Urbano, elaborado pelo autor. Edifício Helbor Offices Jardim Colinas Endereço: Avenida São João, nº 2375 – Jardim Colinas Tipologia: Comércio e Serviços Nº de Pavimentos: 30 Habite-se: 2013 Observações: Heliponto Figura 50 – Edifício Helbor Offices Jardim Colinas. Fonte: Google Earth, 2015 e Secretaria de Planejamento Urbano, elaborado pelo autor. No entanto, a construção de edifícios mistos não se firmou como uma tendência forte, uma vez que, eles representam cerca de 8% do total dos edifícios existentes. 188 Por meio dos levantamentos podemos constatar que os usos comercial e misto encontram-se, ainda, concentrados na região Centro, onde se localizam 66% dos empreendimentos de uso comercial e 72% dos mistos. Também há concentração dos Edifícios Especiais48 na região Centro. Em relação aos flats, verificamos que este uso são mais frequentes nas regiões Centro e Oeste. Ressaltamos que, atualmente, no campo da habitação popular, as parcerias entre o município, o estado e o governo federal vêm sendo reforçadas, principalmente com vistas a reduzir o déficit habitacional nas faixas inferiores de renda e o Programa Habitacional Minha Casa minha Vida pôde finalmente distribuir suas primeiras unidades residenciais em 2014. As unidades contratadas junto aos agentes financeiros atenderão a cerca de 20% do déficit habitacional medido através das inscrições no programa habitacional municipal. Observa-se que os empreendimentos aprovados estão direcionados principalmente para as regiões Leste e Sudeste, que passam a compor importantes vetores de crescimento para os próximos anos. O mapa da distribuição dos edifícios segundo uso, a seguir, destaca a localização dos principais usos residencial, comercial e misto. Mapa 20 – Distribuição dos Edifícios Segundo Uso. Fonte: IPPLAN e P.M.S.J.C., 2014. 48 A Divisão de Pesquisas da Secretaria de Planejamento Urbano classifica como edifício especial os hospitais, os hotéis, as escolas, as igrejas e edificações de indústrias. 189 Para avaliação do padrão construtivo dos edifícios adotamos a classificação utilizada pelo SIRF49 para fins de tributação do imóvel. Mapa 21 – Distribuição dos Edifícios Segundo Padrão Construtivo. Fonte: IPPLAN e P.M.S.J.C., 2013. A tabela dos edifícios segundo padrão construtivo, a seguir, apresenta que os padrões dominantes na cidade são, de um modo geral, o simples e o médio, que representam, respectivamente, 40% e 30% do conjunto de edifícios existentes. Edifícios segundo padrão construtivo. Padrão Quantidade de edifícios Superior 145 Médio 340 Simples 450 Econômico 173 Sem informação 25 Tabela 10 – Edifícios segundo padrão construtivo. Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. 49 Segundo a classificação do Sistema Integrado de Receita e Fiscalização-SIRF, para cada tipo de imóvel é atribuída uma categoria de padrão de construção que leva em consideração várias características, como projeto arquitetônico, materiais de acabamento, itens de lazer, elevadores, vagas de garagem entre outras. A cada padrão está associado um valor venal por metro quadrado de construção. A descrição dos padrões e os valores respectivos atualmente em vigor foram estabelecidos pela LC 516/13. 190 Classificados no padrão superior, foram identificados 145 edifícios, menos de 13% do total, sendo que mais de 70% deles estão localizados na região Centro. Há edifícios de padrão superior também na Oeste (14%), mas eles são bem raros nas demais regiões. Na análise da distribuição dos edifícios, segundo o padrão construtivo, observamos que as melhores construções se localizam nas regiões centrais e oeste. Observamos no gráfico abaixo que, na região sul, os padrões construtivos predominantes são o simples e o econômico. Gráfico 9 – Edifícios segundo padrão e região. Fontes: IPPLAN/ Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. Em São José dos Campos identificamos 199 condomínios verticais residenciais com mais de um bloco. Estes empreendimentos aconteceram em todas as regiões da cidade, entretanto, ao considerarmos a quantidade de blocos, constatamos que estão nas regiões Leste e na Sul as maiores aglomerações. A tabela a seguir apresenta a quantidade de condomínios existentes segundo a quantidade de blocos. 191 Quantidade de edifícios segundo número de blocos Quantidade de blocos Quantidade de edifícios 2 91 - 30 4 31 5 13 6 13 7 4 8 3 10 2 11 1 12 2 16 1 19 2 25 1 32 1 34 1 40 1 62 1 63 1 Total 199 Tabela 11 – Quantidade de edifícios segundo número de blocos. Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. O mapa da distribuição dos edifícios segundo número de blocos pontua os edifícios que possuem mais de um bloco segundo intervalos de números de blocos. Mapa 22 – Distribuição de edifícios segundo número de blocos. Fonte: IPPLAN e P.M.S.J.C., 2013. 192 Ao observarmos o mapa de distribuição dos edifícios segundo número de blocos verificamos que há um maior número de conjuntos com vários blocos nas regiões sul e leste do município. Verificamos que a média de pavimentos dos edifícios de São José dos Campos é de nove pavimentos, se considerarmos todos os edifícios da cidade. Constatamos ainda que os edifícios de três e quatro pavimentos são os mais frequentes, como podemos verificar através da tabela 12, a seguir. A tabela sobre a quantidade de edifícios segundo número de pavimentos informa ainda que 80% dos edifícios contam com até catorze pavimentos. Quantidade de edifícios segundo número de pavimentos. Número de pavimentos 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 32 33 Total Quantidade de edifícios 199 275 48 32 36 62 33 34 55 44 55 33 20 35 36 23 25 27 16 14 9 2 6 5 1 3 2 2 1 1.133 Tabela 12 - Quantidade de edifícios segundo número de pavimentos. Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. 193 Os edifícios altos50, considerados neste estudo aqueles que possuem catorze pavimentos ou mais, somam 260 e se concentram nas regiões Centro e Oeste, como indicado na tabela anterior. Foram construídos 227 edifícios acima de 15 pavimentos, cerca de 20% do total. A tabela 13, a seguir, detalha os bairros com maior número de edifícios altos segundo regiões e a tabela 14 indica que há uma aglutinação acentuada na área do Parque Residencial Aquárius. Edifícios altos segundo região (14 pavimentos e mais). Região Centro Oeste Sul Norte Leste Quantidade de edifícios 125 82 42 6 5 Tabela 13 - Edifícios altos segundo região (14 pavimentos e mais). Fonte: Secretaria de Planejamento – P. M. S. J. C. – 2013. Maiores concentrações de edifícios altos (14 pavimentos e mais). Bairro Parque Residencial Aquárius Centro Vila Ady’anna Vila Ema Floradas de São José Jardim Altos do Esplanada Jardim Satélite Jardim Cassiano Ricardo Quantidade de edifícios 48 24 22 18 13 12 10 9 Tabela 14 – Maiores concentrações de edifícios altos (14 pavimentos e mais). Fonte: Secretaria de Planejamento – P. M. S. J. C.– 2013. No mapa sobre a distribuição dos edifícios altos podemos observar que os edifícios altos existentes na cidade até fevereiro de 2013 continuam concentrados na região centro e oeste da cidade. Para esta classificação de edifício alto adotamos o critério do Council on Tall Buildings and Urban Habitat – CTBUH organização não governamental com sede nos EUA e considerada uma referência como fonte de informações sobre edifícios altos. Segundo a instituição “although number of floors is a poor indicator of defining a tall building due to the changing floor to floor height between differing buildings and functions (eg: office versus residential usage), a building of perhaps 14 or more stories – or over 50 meters in height - could perhaps be used as a threshold for considering it a tall building.” 50 194 Mapa 23 – Distribuição dos Edifícios Altos. Fontes: IPPLAN/ Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. O mapa da somatória do número de pavimentos dos edifícios por setor socioeconômico pontua os edifícios segundo o intervalo de número de pavimentos. Mapa 24 – Somatório do Número de Pavimentos de Edifícios por Setor Socioeconômico. Fontes: IPPLAN / Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. 195 Segundo a soma do número de pavimentos dos edifícios por setor socioeconômico podemos verificar que os bairros Vila Ady’anna, São Dimas e Jardim Aquárius, são os que possuem os maiores números de pavimentos entre 1208 e 2456. Para elaboração do mapa da distribuição dos edifícios altos, a seguir, utilizamos o método Kernel51 para que possamos ter uma melhor visualização da distribuição e concentração dos edifícios altos em São José dos Campos. Mapa 25 - Distribuição dos Edifícios Altos. Fontes: IPPLAN/ Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2015. O Mapa Kernel é uma alternativa para análise geográfica do comportamento de padrões. Neste mapa podemos averiguar, por meio de métodos de interpolação, 51 Em inglês, a palavra Kernel significa “núcleo”. No contexto das Geotecnologias esse termo faz referência a um método estatístico para estimar curvas de densidades. Neste método cada uma das observações é ponderada pela distância em relação a um valor central, o núcleo. 196 a intensidade pontual de um determinado fenômeno em toda a região de estudo (no caso, a verticalização). Quando utilizamos esta ferramenta, temos uma visão geral da intensidade do processo de verticalização em todo o território. Há pelo menos duas vantagens na utilização do método de Kernel para geração de mapas temáticos: 1. Quando existe uma concentração excessiva de pontos a análise visual pode acabar sendo prejudicada. Por exemplo, em uma área um ponto pode estar na realidade representando várias ocorrências (casos de doenças, crimes, etc.). 2. A representação não fica limitada a áreas pré-definidas, como é o caso de polígonos de bairros ou municípios. Mapa 26 – Mapa de Kernel. Fontes: IPPLAN e P.M.S.J.C., 2015. Mapa 27 – Mapa de Kernel. Fontes: IPPLAN e P.M.S.J.C., 2015. 197 Neste mapa podemos observar e comprovar que a maior concentração de edifícios ocorre na região central e tem como vetores de crescimento em direção ao bairro Jardim Aquárius na região oeste e, mais recentemente, podemos constatar que a transposição da Rodovia Dutra para a região sul do município vem se consolidando. No período compreendido entre 1997 e início de 2013 – e período de vigência das duas diferentes leis de zoneamento52, constatamos que 588 condomínios verticais receberam “habite-se” em todas as regiões da cidade, com a média de 36 edifícios ao ano. Considerando-se todos os blocos erguidos nos condomínios verticais de todos os tipos, podemos totalizar 969 edifícios nesse período. Isso significa que, no espaço de dezesseis anos, foram construídos mais de 50% dos prédios de três pavimentos ou mais existentes na cidade. No gráfico 10, a seguir, é interessante observarmos que o primeiro ano da série (1997) e o último (2012)53 foram os anos de menor e o de maior número de habite-se para edifícios. O ano de 2001 apresentou um número bem inferior à média da série histórica, porém, já no ano seguinte, 45 edifícios foram entregues e outros dois picos de entregas foram observados nos anos 2006 (41 prédios) e 2012 (55 prédios). Gráfico 10 – Edifícios produzidos (ano a ano) no período de 1997 – 2012. Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. 52 53 LC 165/97 e LC 428/10. Não foi considerado neste caso o ano de 2013 que apresentou, até o mês de fevereiro, 10 habite-se. 198 Após atualização de alguns dados, verificamos que no ano de 2013 foram produzidos 44 edifícios, em 2014 foram 48 e até agosto de 2015 foram 19, totalizando 1234 edifícios. Quanto à localização, destaca-se a importância da região Sul que, recentemente, absorveu cerca de 40% dos empreendimentos, como indica a tabela 15. Um único dado informa a intensidade do crescimento vertical da região Sul neste período: 76,5% dos edifícios ali existentes foram erguidos entre os anos 1997 e 2013. Também merece destaque a ocupação vertical que se processou na região Oeste. Iniciada em 1983 e bastante rarefeita até meados dos anos 90, durante os dezesseis anos do período estudado foram erigidos mais de 76% dos condomínios verticais hoje existentes. Por outro lado, na região Centro, ao iniciar-se o período deste estudo, já estavam construídos 74,4% dos edifícios. Edifícios segundo região (1997-2013). Região Número de edifícios % Centro 134 22,8 Leste 43 7,3 Norte 23 3,9 Oeste 139 23,6 Sudeste 12 2,0 Sul 237 40,3 Total 588 100 Tabela 15 - Edifícios segundo região (1997-2013). Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. 199 O padrão construtivo predominante no período de 1997 a 2013 foi o “simples”, categoria de classificação de 44% dos edifícios do período. Cerca de 24% foram classificados como de padrão “médio” e cerca de 6% enquadraram-se no padrão “superior”. A tabela16 apresenta a distribuição dos edifícios segundo padrão construtivo por região. Observa-se que os edifícios classificados como de padrão “superior” concentram-se em maior número nas regiões Centro e Oeste, e são raros ou inexistentes nas demais regiões. Número de edifícios segundo padrão construtivo e região (1997-2013). Padrão Região Econômico Médio Simples Superior Centro 10 51 53 18 Sem informação 3 Leste 23 2 13 1 3 Total 135 42 Norte 13 1 9 0 0 23 Oeste 0 64 53 16 6 139 Sudeste 10 0 2 0 0 12 Sul 69 27 133 2 6 237 Total 125 145 263 37 18 588 Tabela 16 - Número de edifícios segundo padrão construtivo e região (1997-2013). Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. Do total de edifícios produzidos no terceiro período deste estudo, mais de 80% são edifícios de uso residencial. Os edifícios comerciais representaram cerca de 11% e os mistos 3% do total. A tabela 17 apresenta o número de edifícios construídos segundo uso e por meio do gráfico 11 podemos visualizar a sua distribuição por regiões. Edifícios segundo uso (1997-2013). Uso do edifício Número de edifícios no período Residencial 481 Comercial 63 Misto 19 Flat 4 Especial 21 Total 588 Tabela 17 - Edifícios segundo uso (1997-2013). Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. 200 Gráfico 11 – Número de edifícios segundo uso e região 1997 – 2013. Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. A produção de 481 edifícios de uso residencial no total foi dominante em todas as regiões. Na região Sul, 237 edifícios residenciais receberam habite-se entre 1997 e 2013. Neste período, a região Oeste ultrapassou o Centro em número de edifícios residenciais construídos, como revela a tabela 18, a seguir. Na região Sul, a ocupação do bairro Floradas de São José se inicia em 1998 e prossegue de forma mais intensa até 2005. Também ao longo da Cidade Jardim, avenida que atravessa vários bairros, onde muitos edifícios foram erguidos. A partir de 2002, outro vetor de verticalização importante situou-se na região Oeste, no Parque Residencial Aquárius e no Jardim das Indústrias, localização de 43% e 21%, respectivamente, das construções erguidas nesta região da cidade. Edifícios residenciais produzidos no período 1997-2013 segundo região. Região Quantidade de edifícios Centro 87 Leste 37 Norte 22 Oeste 115 Sudeste 12 Sul 208 Total 481 Tabela 18 – Edifícios residenciais produzidos no período 1997-2013 segundo região. Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. 201 Conforme levantamentos na Secretaria de Obras, constatou-se que os anos de maior concessão de “habite-se” para edifícios residenciais foram os de 2002, 2006 e 2012. A tabela 19 apresenta a distribuição dos edifícios residenciais ano a ano no período em estudo. Produção anual de edifícios residenciais no período 1997-2013. Ano 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Número de edifícios 16 19 26 28 19 37 31 25 27 30 2007 2008 2009 2010 2011 2012 201354 31 31 36 31 37 47 10 Tabela 19 – Produção anual de edifícios residenciais no período 1997-2013. Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. Considerando-se as unidades residenciais produzidas, observa-se que três regiões da cidade – a Sul, a Oeste e a Centro - concentraram mais de 80% da oferta de unidades, conforme apresentado no gráfico 12. A baixa proporção de unidades ofertadas na região Sudeste (1,2 %) é outro aspecto a destacar, nela localizam-se a Embraer, o C.T.A., o INPE e o aeroporto. Gráfico 12 – Unidades residenciais produzidas por região – 1997 a 2013. Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. 54 Até o mês de fevereiro de 2013. 202 Verificamos também que, embora a localização dos edifícios tenha sido dispersa em muitas vias, algumas avenidas e ruas concentraram uma quantidade maior de edifícios residenciais. Nos logradouros listados na tabela 20 situaram-se 20% deles. Destaque para as avenidas Cidade Jardim (Sul) e São João (Centro). Principais logradouros de localização dos edifícios residenciais (1997-2013). Logradouro Cidade Jardim São João Heitor Villa Lobos João Baptista Soares de Queiroz Júnior São Cristóvão Benedito Osvaldo Lecques Da Alegria Jorge Zarur Jorge de Oliveira Coutinho Palmares Tubarão Armando D’Oliveira Cobra Francisca Maria de Jesus Heitor de Andrade José Cobra Mar de Plata Região Sul Centro Centro Oeste Sudeste Oeste Sul Centro Oeste Sul Oeste Oeste Sul Oeste Sul Sul Quantidade de edifícios 12 9 7 7 7 6 6 6 6 6 6 5 5 5 5 5 Tabela 20 - Principais logradouros de localização dos edifícios residenciais (1997-2013). Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. Uma tendência observada, ao analisarmos os edifícios residenciais do período 1997 a 2013, é o surgimento dos condomínios de mais de um bloco com padrão construtivo “superior” e com grandes áreas de lazer. De acordo com os dados coletados, antes de 1997 apenas dois edifícios de padrão “superior” apresentavam mais de um bloco55. Condomínios com vários blocos estavam associados aos padrões construtivos “simples” e “econômico”. Com o padrão “médio”, havia edifícios com dois blocos, em geral56. Durante os anos 1997-2013, pudemos verificar que sete edifícios classificados como de padrão “superior” e com mais de um bloco foram erguidos, de acordo com uma nova concepção de projeto: os condomínios clube ou, como podemos chamar de “Onda Bege” – Edifícios altos em cor pastel, geralmente, com varandas “gourmet” e de estilo neoclássico ou de linhas retas e “modernas”. Esses empreendimentos “oferecem ao morador serviços e itens de lazer que praticamente dispensem a sua 55 São eles: o edifício Bosque do Engenho (1984), com três blocos e o edifício Altos do Esplanada (1990), com dois blocos. Os conjuntos Integração e Intervale (1981) e o Parque Residencial das Américas (1982) são exemplos de condomínios de padrão simples e econômico com vários blocos. 56 203 necessidade de sair de casa.”57 Entre eles, condomínios com quatro, cinco e até seis blocos como o Gran Esplendor, o Pátio Condomínio Club e o Residencial Gran Club. Este novo tipo de adensamento apresenta características peculiares, sendo uma delas a média superior de vagas de estacionamento para automóveis por domicílio, de pelo menos duas vagas. Nesse período foram produzidos 63 edifícios comerciais, o que representa quase 40% dos edifícios comerciais existentes, número que revela a importância desses dezesseis anos para a expansão dos edifícios comerciais. A região Centro manteve-se como local preferencial para este uso, seguida de bem perto pela região sul (constata-se ser o novo vetor de expansão). Mas, se no período anterior estavam concentrados ali 50% dos edifícios, entre os anos 1997 e 2013 ocorreu um processo mais intenso de deslocamento dos empreendimentos para as regiões Sul e Oeste. A tabela 21 apresenta a distribuição dos condomínios comerciais segundo região e a tabela 22 indica os bairros que mais receberam as construções. Edifícios comerciais segundo região (1997-213). Região Centro Leste Norte Oeste Sul Total Quantidade de edifícios 28 1 1 13 20 63 Tabela 21 - Edifícios comerciais segundo região (1997-213). Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. Bairros com maior concentração de edifícios comerciais (1997-2013). Bairro Quantidade de edifícios Centro 10 Parque Residencial Aquárius 9 Bosque dos Eucaliptos 6 Floradas de São José 4 Jardim Satélite 3 Vila Ady’anna 3 Vila Ema 3 Tabela 22 - Bairros com maior concentração de edifícios comerciais (1997-2013). Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. 57 Exame.com “Os prós e os contras dos condomínios-clube”. 204 Entre os anos 1997 e 2013 dezenove edifícios mistos receberam habite-se. A maior parte deles situa-se nas regiões Centro e Sul, como aponta a Tabela 23. Os bairros Jardim Satélite (Zona Sul) e Vila Ady’anna (Zona Centro) foram a localização de cerca de 30% dos empreendimentos para uso misto erguidos no período. Edifícios mistos erguidos segundo região (1997-2013). Região Centro Leste Oeste Sul Total Quantidade de edifícios 8 2 3 6 19 Tabela 23 - Edifícios mistos erguidos segundo região (1997-2013). Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. Quanto aos flats, apenas cinco foram cadastrados no presente estudo, sendo que quatro deles foram erguidos entre os anos 2000 e 2008. Os cinco flats identificados distribuíram-se entre as regiões Centro e Oeste. Os edifícios construídos na cidade entre 1997 e 2013 variaram entre três e trinta e três pavimentos ou andares. Este foi o período de construção dos edifícios mais altos, considerando-se a quantidade de pavimentos. O gráfico 13 revela-nos que, tanto a média de pavimentos quanto o número máximo edificado, houve uma escalada marcante dos anos iniciais para os anos finais do período em análise. Gráfico 13 – Número máximo e número médio de pavimentos – 1997 – 2013. Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. 205 A tabela 24 apresenta-nos a distribuição dos empreendimentos segundo o número de pavimentos, comparando-se os anos 1997-2013 com os anteriores. Verificamos que os edifícios de até quatro andares perderam representatividade face ao aumento da participação dos “altos”. Distribuição dos edifícios segundo número de pavimentos. Período anterior a 1997 % de edifícios Período entre 1997 e 2013 % de edifícios Até 4 pavimentos 53 32 Entre 5 e 8 pavimentos 15 17 Entre 9 e 13 pavimentos 20 20 14 pavimentos e mais 13 32 Número de pavimentos Tabela 24 - Distribuição dos edifícios segundo número de pavimentos. Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. A tabela 25, a seguir, informa a quantidade de edificações que foram erguidas durante os últimos dezesseis anos por classes de número de pavimentos. Edifícios produzidos segundo número de pavimentos (1997-2013). Até 4 pavimentos 186 Entre 5 e 8 pavimentos 99 Entre 9 e 13 pavimentos 115 14 pavimentos e mais 188 Tabela 25 - Edifícios produzidos segundo número de pavimentos (1997-2013). Fonte: Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2013. No mapa da distribuição dos edifícios segundo número de pavimentos podemos observar a produção de edifícios ocorrida durante os anos de 1997 a 2013, segundo número de pavimentos. Observamos que, enquanto os bairros Parque Industrial, Bosque dos Eucaliptos e Jardim das Indústrias receberam uma quantidade maior de edifícios mais baixos (classe de até quatro pavimentos), a Vila Ema, o Floradas de São José e o Parque Residencial Aquárius receberam as edificações mais altas. Apenas o Parque Residencial Aquárius recebeu quarenta e sete empreendimentos com catorze ou mais pavimentos, aprovados dias antes da promulgação da Lei Complementar nº 428/10. 206 Mapa 28 – Distribuição dos Edifícios Segundo Número de Pavimentos. Fontes: IPPLAN/ Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C – 2014. Mapa 29 - Verticalização e Renda. Fontes: IPPLAN / Secretaria de Planejamento – P.M.S.J.C. – 2014 No Mapa 29 sobre a verticalização e renda podemos observar que fora a região central a verticalização não coincide com a alta renda da população. 207 Como aponta o mapa de verticalização e renda: 1. A verticalização para uso residencial concentrou-se nas áreas onde a renda média domiciliar é superior a dez salários mínimos. 2. Já a oferta para a faixa entre sete e dez salários ocorreu basicamente na região Sul. 3. Os espaços caracterizados pela baixa renda praticamente não receberam edifícios. É possível antecipar que as ações recentes do poder público em São José dos Campos, por meio da legislação urbanística, visando a oferta de moradias para a população de baixa renda terão, nos próximos anos, impacto sobre o panorama da verticalização nessa cidade. Serão construídas unidades de interesse social em edifícios de quatro ou cinco pavimentos, com grande concentração na região Leste. 208 4.3 – O DESAFIO METROPOLITANO As metrópoles surgiram com funções centralizadoras. Hoje, este papel de núcleo de amplas bacias econômicas tende a ser substituído pelo papel de elo numa rede internacional de cidades mundiais, na expressão de Friedman e Wolff (1986). Segundo Lencioni (1994), a reestruturação da metrópole de São Paulo, por exemplo, produto dos processos de concentração e centralização do capital, se traduz num fenômeno socioespacial novo, criação e repetição de uma região metropolitana mais complexa, fragmentada e hierarquizada em que a conurbação de cidades e o crescimento, relativamente menor de algumas ou da exacerbação de outras, não significam processos autônomos de metropolização. (...) ao contrário, são manifestações constituídas da expansão do espaço metropolitano paulista, que se configura numa “macrometrópole” que é reforçada e não negada pela dispersão das suas atividades e, consequentemente, da sua urbanização (LENCIONI, 1994). A metropolização da região do Vale do Paraíba vem se impondo desde os anos 70, sendo que São José dos Campos assumiu o papel de metrópole emergente, o que pode ser verificado, principalmente, pelo caráter regional do setor de serviços que dá sustentação à intensificação dos fluxos e relações entre São José dos Campos e as cidades do seu entorno, compondo traços fundamentais do processo de metropolização da região do aglomerado do Vale do Paraíba. A Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte foi organizada em 5 sub-regiões. São José dos Campos integra a Sub-Região 1, juntamente com os municípios de Caçapava, Igaratá, Jacareí, Jambeiro, Monteiro Lobato, Paraibuna e Santa Branca. 209 A Lei Complementar nº 1.258/2015 criou a Agência Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte que tem por finalidade integrar a organização, o planejamento e a execução das funções públicas de interesse comum dessa região metropolitana. MAPA DA REGIÃO METROPOLITANA DO VALE DO PARAÍBA E LITORAL NORTE Mapa 30 - Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, sem escala. Fonte: EMPLASA - Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano SA –. Disponível em http://www.emplasa.sp.gov.br/Emplasa/Indicadores/valeparaiba.asp, acessado em 30/07/2015 Com 16.179,95 km2, a região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte é a mais extensa região metropolitana do estado de São Paulo. Sua área territorial corresponde a 32,41% da Macrometrópole Paulista, 6,52% do estado e a 0,19% da superfície nacional. É a terceira maior região metropolitana do Estado em número de habitantes, com 2.264.594 moradores em 2010. Essa população representa 5,49% da população estadual e 1,19% da nacional. Sua taxa de crescimento no período 2000/2010 foi de 1,29%, valor acima do registrado pela macropetrópole (1,15%) e estado de São Paulo (1,10%). Essa região exibe um Produto Interno Bruto (PIB), em 2012 de R$ 55.254.155.396,00. Esse montante corresponde a 3,92% do PIB estadual e 1,26% 210 do PIB nacional. Seu PIB per capita de R$ 24.399,14 é bastante significativo se comparado ao do Estado (R$ 33.624,41) e ao do Brasil (R% 22 645,86). Este desenvolvimento reflete-se nas atividades de comércio e prestação de serviços. A exemplo, a cidade conta com alguns equipamentos do setor terciário comércio varejista em grande escala - próprio das metrópoles, destacando-se assim, dos demais núcleos urbanos da região. De fato, o interior de São Paulo reúne, desde a década de 90, condições extremamente favoráveis para atrair novos investimentos em razão dos condicionantes de competitividade que se impõem às empresas. Nesse sentido, é importante atentar para os aspectos que, atualmente, se colocam como principais determinantes da localização industrial: a dotação de infraestrutura e possibilidade de estruturar logísticas adequadas de suprimento e o escoamento da produção; mercado de trabalho qualificado e mercado profissional dinâmico; boa qualidade de vida; proximidade física com empresas fornecedoras e montadoras; ambiente empresarial; suporte de serviços industriais e de apoio à produção; entre outros. As cidades do aglomerado vale paraibano ganharam outras dimensões. Multiplicaram-se as interdependências e São José dos Campos assumiu, definitivamente, as características de um centro regional. Uma conurbação embrionária, a partir da Via Dutra, passou a definir um aglomerado urbano de grandes proporções, embora relativamente difuso. Mais relevante ainda, é o adensamento desta rede de cidades e a natureza articulada de seu crescimento. A industrialização paulista e a modernização de sua agricultura expressaramse no surgimento de áreas concentradas, tradicionalmente chamadas de polos regionais, dentre os quais São José dos Campos se destaca. Entretanto, este processo de dinamização/modernização das atividades produtivas não foi acompanhado por transformações que melhorassem as condições de vida para a maioria dos moradores destas cidades. Ao contrário, a especialização de funções, em algumas áreas, produziu uma heterogeneidade dos espaços ocupados que acirraram as desigualdades sociais. São José dos Campos vive, hoje, um processo de metropolização, fato que pode ser constado pela observação do cotidiano da cidade que indica uma reestruturação do ambiente construído. 211 Castells (2003) afirma que a metrópole é expressão e não reflexo do modo de produção da sociedade. Assim sendo, a metrópole pode ser vista como um poderoso agente das transformações que nela se organizam, no âmbito da nova etapa do sistema produtivo, e não como pura consequência lógica e passiva desse desenvolvimento. Faz-se necessário identificarmos como se deu o processo de verticalização que vem ocorrendo em São José dos Campos, bem como, o perfil das atuais dinâmicas urbanas que estão ocorrendo, no território dessa nova metrópole do Vale do Paraíba, com o objetivo de traçarmos um panorama desse processo. Para Meyer, Grostein e Biderman (2004), uma das inúmeras definições de metrópole sustenta que, do ponto de vista estritamente funcional, ela é uma congregação de unidades administrativas autônomas que apresentam problemas urbanos comuns. Para esses autores, e concordando com eles, “a metrópole é, acima de tudo, a expressão de um processo de articulação e não de desarticulação do território urbanizado, sendo esse atributo que as distingue das demais formas de organização territorial”. Segundo os autores, desde os anos 70, as palavras-chave utilizadas para descrever física e funcionalmente a nova organização metropolitana, quando esse fenômeno se tornou patente, são fragmentação e dispersão. Essas duas palavras atestam a presença de uma característica específica do território metropolitano contemporâneo que consiste em romper as continuidades urbanas tradicionais e gerar núcleos de atividades, descritos como desagregados do ponto de vista urbano, e difusos do ponto de vista funcional. Para Meyer, Grostein e Biderman (2004), tanto o primeiro, qualitativo, quanto o segundo podem ser equivocados, pois a sua percepção está baseada em formas já superadas de continuidade física, isto é, formas de organização relacionadas com o modelo em processo de superação. Os dois atributos - fragmentação e dispersão - não apenas passaram a representar um novo arranjo do território como também ganharam, simultaneamente, a condição de experiências espaciais, territoriais e até existenciais sintonizadas com as mudanças, e o que é mais grave, perderam até mesmo seu significado original. (Meyer, Grostein e Biderman, 2004). 212 São José dos Campos é sede de uma Região Metropolitana que dá sustentação à metrópole de São Paulo. Essa região formou-se, seja por fragmentação ou dispersão, da metrópole maior. Constata-se que as cidades de Jacareí, São José dos Campos, Caçapava, Taubaté e Pindamonhangaba estão conurbadas ao longo da Rodovia Dutra. Segundo Reis Filho (2006), as mudanças que estão ocorrendo no processo de urbanização da região do Alto Vale do Paraíba são decorrentes da formação de áreas de urbanização dispersas. Ao observarmos as cidades que formam esse aglomerado, identificamos nessa microrregião fatores que, segundo Reis Filho, são relacionados às consequências do acelerado processo de urbanização que essas cidades vivenciam. 1) Essa região que, apesar de ser separada no espaço por meio de perímetros ou por acidentes naturais geográficos, mantém entre si, estreitos vínculos; 2) Identifica-se também a adoção de modos metropolitanos de vida e de consumo pela população. No Vale do Paraíba, a urbanização se desenvolveu ao longo de todo o eixo da Via Dutra, sendo que o trecho mais condensado situa-se entre as cidades de Jacareí e Pindamonhangaba, com cerca de 90 km de comprimento e entre 10 a 20 km de largura. Os dois centros maiores, São José dos Campos e Taubaté, polarizam a região. Nesses municípios, como em outras cidades do Vale do Paraíba, o urbano já não se concentra apenas no interior das cidades. As fábricas, o comércio, os serviços locais e de entretenimento e lazer e, recentemente, no caso de São José dos Campos, algumas universidades e condomínios de alto padrão estão dispostos ao longo Rodovia Dutra. As áreas residenciais tendem a se localizar próximas ao entroncamento dos principais eixos rodoviários ou em suas margens, em locais de fácil acesso ou passagem obrigatória. Na região do Vale do Paraíba, há um longo eixo de urbanização. Em alguns casos, o conceito de urbanização dispersa, no conjunto de cidades médias como o Vale do Paraíba, passou a se organizar de modo integrado, como uma área metropolitana, embora não assumida pelas administrações desses municípios. A existência da dispersão urbana é resultado da descentralização industrial e também de uma intensa mobilidade da população dessa região. 213 Na opinião de Reis Filho (2006), esse processo é muito mais amplo e complexo do que se poderia supor e, com tais características, dificilmente será um processo reversível. Os novos padrões correspondem a mudanças permanentes. A cidade tradicional, de tecido contínuo e com limites razoavelmente definidos, já não pode mais ser considerada regra. A partir do reconhecimento desta mudança, ou seja, que a parte faz parte de um todo complexo pela administração de cada cidade que compõe a Região Metropolitana do Vale do Paraíba, os correspondentes poderes locais devem abandonar as suas políticas independentes e só assim, haverá um pleno desenvolvimento dessa região; caso contrário, a pulverização dos controles políticos seguindo interesses menores, sem qualquer visão de conjunto, podem trazer maiores problemas intraurbanos para cada município, além de um problema maior que é a falta de desenvolvimento regional pleno. Como observa Villaça (1999) “no intraurbano estamos no âmbito do consumo; no regional estamos no âmbito da produção”. Os padrões correntes de controle do Estado (em todos os seus níveis) sobre o espaço urbano e sobre as práticas de sua produção e gestão estão se tornando obsoletos e a busca de alternativas para o enfrentamento desta questão, em termos de políticas públicas, faz-se necessária. Na verdade, falta poder de fato (legal) para as Regiões Metropolitanas no Brasil. E ao admitirmos que a cidade tradicional de algum modo desapareceu perguntamos: a) A verticalização vem ocorrendo de que forma nas demais cidades da Região Metropolitana do Vale do Paraíba? b) Podemos dizer que o processo de verticalização dessas cidades possuem pontos em comum? Se sim ou não, quais são eles? 214 CONSIDERAÇÕES FINAIS: Nossa pergunta inicial se a legislação urbanística é um dos fatores fundamentais para a produção do espaço urbano em São José dos Campos foi respondida nesta tese e se confirma diante da investigação empírica aqui apresentada que, muitas vezes, foi possível verificarmos que existem inúmeras correlações entre o processo de verticalização ocorrido em São José dos Campos e sua legislação urbanística. A verticalização em São José dos Campos foi estimulada desde seus primórdios por representar e ser o símbolo do seu crescimento econômico. Ao sistematizarmos esta legislação, observamos que o Estado, mais especificamente, São José dos Campos, sempre utilizou de leis urbanísticas incentivadoras para criar novas centralidades (atrativos) dentro do seu território urbano. Esta legislação serviu para impulsionar o setor imobiliário local para a produção de edifícios cada vez mais altos e provavelmente mais lucrativos. Verificamos que a presença do Estado, na grande maioria das cidades brasileiras, no sentido de valorizar o espaço urbano da cidade, é feita, muitas vezes, além da legislação, por meio de intervenções no sistema viário. Em São José dos Campos, esta forma de agir não foi diferente e como exemplo citamos a construção do Anel Viário, em 1996, onde foram elaborados vários estímulos à verticalização ao longo deste sistema. Verificou-se que, ao longo das décadas, em determinadas regiões (Zonas) são utilizados coeficientes de aproveitamentos altos com o objetivo único de atrair e favorecer a estratégia de acumulação do setor imobiliário. Podemos dizer ainda que, o mercado imobiliário assume um papel central na transformação do espaço nas cidades brasileiras como um agente que, constantemente, o vem transformando, intensificando o uso do solo no local e, por suas características, selecionando alguns grupos sociais que podem ter acesso aos seus imóveis. Em São José dos Campos, o Estado vem incentivando o processo de verticalização, em grande parte, por meio da legislação urbanística através dos Códigos de Obras, Planos Diretores e, principalmente, pelas Leis de Uso e Ocupação do Solo (Zoneamento). 215 O zoneamento que vem sendo aplicado em São José dos Campos segue o modelo de várias cidades brasileiras que, apesar de ter o discurso do controle como central, estimula, nitidamente, o desenvolvimento do setor imobiliário. Pudemos constatar que o zoneamento que vem sendo aplicado em São José dos Campos, com características monofuncionalista, pressupõe uma racionalidade, baseada na crença de que essa legislação é efetivamente boa para a cidade. Observamos ainda que o controle do gabarito de altura, adotado na vigente lei de zoneamento, trata-se de uma maneira das construtoras locais se protegerem das construtoras de outras regiões metropolitanas que vêm em busca de conquistar novos mercados lucrativos. Não podemos esquecer também que, provavelmente, este controle rígido do gabarito de altura dos edifícios poderá criar em seu território uma escassez de terra urbana verticalizável que poderá incrementar o processo de uma supervalorização fundiária. A análise do processo de desenvolvimento urbano e da verticalização de São José dos Campos e, provavelmente, nas cidades brasileiras em geral, demonstra que a materialização do espaço urbano dá-se através da regulação e dos desígnios do capital, muitas vezes, sem a busca da urbanidade e que dependem da sociedade. No entanto, verificamos que, assim como em São Paulo, São José dos Campos é vertical, não densa e como vimos nos capítulos 3 e 4 deste trabalho. Constamos que há uma tendência ao espraiamento da verticalização por todo o seu território nos últimos dezesseis anos e as regiões Centro, Sul e Oeste concentram 80% dos edifícios. Constatamos ainda que o uso residencial concentrou-se nas áreas onde a renda média domiciliar é superior a dez salários mínimos. Para a faixa entre sete e dez salários há produção de edifícios residenciais, basicamente, na região Sul. Nos espaços caracterizados pela baixa renda (as ZEIS), praticamente, não receberam edifícios. A verticalização em São José dos Campos, de uma maneira geral, e como nas demais cidades brasileiras, esteve sempre voltada para os segmentos mais abastados da população, mais solvável e assim como toda a produção habitacional legalizada. Em relação ao número de pavimentos, constatamos que uma verticalização mais suave acontece na região Sul, onde o edifício mais alto possui vinte e um pavimentos e 70% dos edifícios apresentam até oito pavimentos. 216 Na região Oeste, 60% dos edifícios contam com nove ou mais pavimentos, e ali se localizam os edifícios mais altos, entre trinta e dois e trinta e três pavimentos. Verificamos que o uso residencial na produção dos edifícios é predominante em todas as regiões, observamos ainda que na região Centro os usos são mais diversificados da verticalização: 21% dos seus edifícios são comerciais e 13% são mistos. São José dos Campos não possui muitos edifícios de uso misto. Nos últimos dezesseis anos, apenas dezenove edifícios mistos foram erguidos. Esta condição está relacionada às características do mercado local e condicionada por peculiaridades da legislação. No entanto, verifica-se que a construção de edifícios comerciais tem demonstrado maior vigor: 40% deles foram erigidos nesses últimos dezesseis anos. Em relação a metropolização da Região do Vale do Paraíba, esta vem se impondo desde os anos 70 e São José dos Campos assumiu, mais recentemente, o papel de uma metrópole emergente, o que pode ser verificado, principalmente, pelo caráter regional do setor de serviços que dá sustentação à intensificação dos fluxos e relações entre São José dos Campos e as cidades do seu entorno, compondo traços fundamentais do processo de metropolização da região do aglomerado do Vale do Paraíba. Considerando a intensa dinâmica entre os municípios do Vale do Paraíba e que São José dos Campos é sede de um dos mais importantes aglomerados tecnológicos do país, fica evidente que os problemas urbanos elencados não afetam apenas uma ou outra cidade, mas o aglomerado como um todo. Por outro lado, constatou-se que cada um desses municípios ainda não assumiu seu devido papel nesse aglomerado para que, a partir disso, haja um enfrentamento dessa nova condição de “cidade regional”. Portanto, não podemos falar de cidade média, tratase de uma metrópole. Verificamos que esse espaço urbano define a feição do espaço nacional, ao mesmo tempo em que interpreta e realiza as diretrizes políticas, econômicas e sociais da nação, sintetizadas em uma política de urbanização, isto é, no projeto e também na prática de sua própria ordenação. Disto resulta que se impõe a efetiva formulação de uma política de urbanização e que o espaço não decorra da inércia dos responsáveis, ou ainda, da ausência deles. 217 Assim, apesar da intensa dinâmica entre os municípios do Vale do Paraíba, nota-se a ausência de uma efetiva política regional articulada e a não implantação de políticas integradas de uso do solo em nível metropolitano. Cabe salientar que a experiência de outras regiões já demonstrou que não é possível conseguir um plano metropolitano satisfatório simplesmente pela coordenação ou entrosamento dos diversos planos municipais ou setoriais. Impõese a elaboração de um plano que envolva os municípios do aglomerado do Vale do Paraíba, no qual seriam abordados os diversos aspectos do desenvolvimento dessa região, por uma autoridade metropolitana que trate esse espaço como um todo diferenciado e não apenas como a soma das partes. Não se trata apenas de uma mudança de escala para que os problemas de uma ou outra cidade sejam resolvidos. Não adianta passarmos, simplesmente, do local para o regional para resolver os impasses urbanos no intraurbano e, por fim, dizer que o espaço nacional se unificou, o que não significa afirmar que ele não tenha desigualdades internas. Ao contrário, suas desigualdades só existem porque o espaço é integrado. Identificá-los e relacioná-los no exercício em que eles são produzidos, seja intraurbanos ou extraurbanos, faz-se necessário para a devida compreensão e futuro enfrentamento por políticas públicas eficientes e claras nos seus objetivos. No caso apresentado, políticas públicas significam a aplicação sistemática de instrumentos urbanísticos que viabilizem os programas de urbanização e legalização dos assentamentos precários, a formação de um estoque de terrenos públicos, a geração de recursos para a habitação de interesse social e a redução de parte dos vazios urbanos em áreas infraestruturadas. Trata-se, mais detalhadamente, de entender qual seria o interesse metropolitano e as questões de desenvolvimento metropolitano. Mais especificamente ainda, para a metropolização de São José dos Campos e da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte não basta apenas o controle institucional. A abordagem da produção do espaço como produção das relações sociais ali colocadas não é meramente uma questão de território, mas de fato uma “costura” de relações. Essas relações mudam e se alteram a cada intervenção ou a cada transformação nessa ou naquela cidade. No caso do aglomerado do Vale do Paraíba, a diluição dos limites das cidades que o compõem - Jacareí, São José dos Campos, Caçapava, Taubaté, Tremembé e 218 Pindamonhangaba - é passível de ser observada no encontro das periferias em suas fronteiras, sendo um dos fatores dessa diluição, o alto custo da terra próxima das zonas centrais dessas cidades. O processo também ocorre não apenas porque o trabalho assalariado impõe a concentração espacial dos produtores diretos ou porque as indústrias ou o comércio necessitam dessa forma de organização espacial, mas, sobretudo, porque a urbanização – a dimensão espacial do avanço no processo de socialização dos custos da produção representado pela economia de mercado – significa, da mesma forma, uma crescente socialização do processo de reprodução social. Assim, o que observamos é que esse espaço se expressa dessa mesma forma: o todo não é, ainda, assumido pelas administrações dos municípios integrantes desse aglomerado. A partir desta constatação concluímos que para a solução dos problemas urbanos de São José dos Campos, os quais vêm extrapolando os limites municipais, certamente, exigirá das Administrações Municipais do Aglomerado do Vale do Paraíba, não só uma abordagem regional, mas a aplicação de instrumentos urbanísticos que viabilizem os programas de urbanização e legalização dos assentamentos precários, a formação de um estoque de terrenos públicos, a geração de recursos para a habitação de interesse social e a redução de parte dos vazios urbanos em áreas infraestruturadas. Considerando a intensa dinâmica entre os municípios do Vale do Paraíba e a compreensão de que o local é o geral em seu processo de formação do espaço, seria proveitoso, além de promover uma política regional articulada, serem estudadas e implantadas políticas integradas de uso do solo em nível metropolitano. Constatamos que um dos seus principais desafios metropolitanos de São José dos Campos e da região do Vale do Paraíba e Litoral Norte, certamente, é a produção de uma legislação urbanística de âmbito metropolitano que possua em seus propósitos o objetivo de promover a construção de uma metrópole comprometida com a ampliação da oferta habitacional para diversas faixas de renda, a mobilidade urbana, a redução da gentrificação e, principalmente, ter como premissa a produção de cidades compactas e mais densas para o pleno desenvolvimento econômico e, consequentemente, da qualidade de vida de sua população. 219 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, I. G. de. O Crescimento da zona Leste de Teresina — Um caso de Segregação? 1983. 203. f. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Instituto de Geociências, Programa de Pós-Graduação em Geografia. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1993. 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