16 QUINTA-FEIRA. 17 DE MAIO DE 2007 -BIGBrasil International Gazeta ENTREVISTA: Luiz Henrique Ceotto Ações "politicamente corretas" não bastam Bruna Nicolielo São Paulo O Rochaverá Corporate Towers, em São Paulo, vai ser o maior empreendimento sustentável do país. Concebido e realizado pela Tishman Speyer, o conjunto de edifícios é um prédio verde, que obedece a altos padrões de sustentabilidade. A construtora também está trabalhando em projetos de prédios verdes residenciais. "É necessário investir muito mais na fase de concepção e de projetos, quando se podem implementar soluções que efetivamente reduzirão os atuais problemas", acredita o engenheiro Luiz Henrique Ceotto, diretor de Projeto e Construção da Tishman Speyer. Bruna N i c o l i e l o - Hoje, qual o impacto real da construção civil no meio ambiente? O modelo da construção civil atual está obsoleto? Luiz Henrique Ceotto - A construção civil é uma das indústrias que mais impactam o meio ambiente, se você considerar toda a cadeia, desde a produção do material. Utilizamos insumos de alto consumo energético e alta liberação de CO2, o gás carbônico, como o aço e o cimento. A produção de cimento gera 8% a 9% de todo o CO2 emitido no Brasil. Assim como o c i m e n t o , a maioria dos insumos usados pela construção civil é produzida com alto consumo de energia e grande liberação de CO2. A operação dos edifícios consome mais de 40% de toda energia produzida no mundo. Os materiais da construção civil também provocam detritos numa intensidade grande. Tanto nas reformas, construção e demolições. A construção civil gera de 35% a 40% de todo resíduo produzido na atividade humana. Na construção e reforma dos edifícios se produzem anualmente perto de 400 quilos de entulho por habitante, volume quase igual ao do li- xo urbano.Qual é nossa responsabilidade? Projetar edifícios cujo desempenho durante a vida útil seja eficiente. juntos chegam a aproximada- Maximizar o uso de recursos mente 1% do total. O custo de renováveis. Prolongar a vida construção corresponde aproxi- útil dos produtos. madamente a um sexto do custo A adaptação no futuro será de uso e manutenção. O impac- na durabilidade, no consumo BN - Como é possível cons- to desse edifício no meio am- de materiais, na redução de truir mais e melhor, gastando biente é diretamente proporcio- desperdícios de maneira geral. menos recursos naturais e po- nal a esses custos. De nada É preciso propagar atitudes coluindo menos? adianta uma empresa usar papel mo evitar desperdício, e não LHC - Impacto tem a ver reciclado na fase de projeto vi- usar material tóxico. Construir com o custo operacional. Ao se sando a ajudar o meio ambien- edifícios com propriedades que considerar como 100% o custo te, se nessa fase se concebem possam ser usadas de outra fortotal de um edifício durante to- edifícios que irão ser energeti- ma no edifício. Escadas, estrucamente ine- turas, vãos livres, pé direitos f ic i e n t e s , alto, shafts abundantes. desperdiçar BN - É possível conciliar lugrande quant i d a d e d e cro e produtividade à sustentaágua potável bilidade? Como fazer isso? ou despejar LHC - Claro, não tenho a grandes volu- menor dúvida. Basta ter visão mes de esgo- para priorizar medidas de baito ou l i x o . xo custo e alto impacto positiHoje, ações vo, como a retenção e reserva "politicamen- de água das chuvas, uso de pete corretas" ças sanitárias de baixa vazão e estão sendo lâmpadas de alta eficiência, usadas como utilizando os princípios de susatenuadoras tentabilidade na concepção de d e n o s s a s projeto. Basta priorizar ações consciências, de baixo custo e alto impactc mas têm pou- positivo no meio ambiente ca eficácia na Nós não queremos impacto zesolução dos ro, apenas eliminar o desperdíp r o b l e m a s cio, fazendo isso com a tecnoambientais. logia que temos. Precisamos entender que BN - Mas o Brasil tem tecqualquer edi- nologia suficiente? f í c i o a ser LHC - Já existe tecnologú c o n s t r u í d o suficiente. É possível obtei impactará o boas soluções baseadas em tecLuiz Henrique Ceotto, da Tishman Speyer m e i o a m - nologia já dominada e disponíbiente e pro- vel. Estamos longe de resolvei da a sua vida útil, incluindo o vocará um custo ambiental para o problema e muito desenvolcusto de concepção, projeto, toda a sociedade, do momento vimento científico vai ser neconstrução, uso e manutenção, da sua construção até a sua cessário para a solução mai: bem como sua adaptação para eventual reciclagem. completa. Mas muita coisa pó novo uso, o item mais imporQualquer decisão de enge- de ser feita já, para se reduzi tante é justamente o de uso e nharia tomada no projeto de resultados imediatos ou mês manutenção. Aproximadamen- um edifício afetará toda a nos- mo permitir que edifícios cons te 80% de todo o custo que irá sa sociedade e por muito tem- truídos hoje possam ser adap incorrer acontecerá nesse perío- po. Todos precisaremos pagar tados no futuro com soluçõe: do e corresponderá ao custo de esse custo e, por isso, é neces- ainda a serem descobertas. Se energia, água, esgoto e manu- sário sermos muito mais res- jam quais forem as soluções tenção. Esse é o custo necessá- ponsáveis. Reduzir o consumo precisarão ser implementada: rio para manter o funcionamen- de materiais e de energia, redu- na concepção e nos projetos to do edifício e dessa forma zir a emissão de substâncias tó- sob pena de serem inócuas oi possibilitar seu uso. Perto desse xicas, principalmente o gás impossíveis de serem conside custo total, os custos de concep- carbônico (CO2). Intensificar radas em fases avançadas d( ção e do projeto são irrisórios e o uso de materiais reciclados. empreendimento.