Física Atómica e Nuclear

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Física Atómica e Nuclear – Capítulo 4. Interação Spin-Órbita. Momento Angular Total. Estrutura Fina.
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Física Atómica e Nuclear
Notas de Aula
4 Interação Spin-Órbita
Embora a ideia de spin seja subtil, muitos dos efeitos por ele produzidos não são nada
subtis. Talvez o facto mais importante seja a duplicação do número de electrões que o
“Princípio de exclusão de Pauli” permite, para preencher os estados quânticos de um
átomo de muitos electrões. Veremos mais adiante que o estado fundamental dos átomos
ficaria muito alterado se os electrões não tivessem o spin. Isto traria grandes
consequências sobre as propriedades periódicas dos átomos, e portanto em toda a
química e na física do estado sólido. Estudaremos neste capítulo os efeitos do spin,
sobre o campo magnético interno do átomo e sobre momento angular total.
4.1 Energia de Interacção Spin - Órbita
Estudaremos nesta secção a interacção entre o momento magnético de spin e o campo
magnético interno de um átomo de um electrão. Como o campo magnético interno é
consequência do momento angular orbital do electrão, chamaremos a essa interacção de
interacção spin-órbita. Trata-se de uma interacção relativamente fraca que é
responsável, em parte, pela estrutura fina dos estados excitados dos átomos de um
electrão.
A interacção spin-órbita também ocorre nos átomos com mais de um electrão,
mas nesses átomos ela é razoavelmente forte, uma vez que o campo magnético interno é
muito forte. Além disso um efeito totalmente análogo à interacção spin-órbita ocorre no
núcleo. A interacção spin-órbita nuclear é tão forte que ela governa as propriedades
periódicas do núcleo.
Vamos supor o modelo de Bohr, onde o electrão está sujeito a um campo
magnético Bl devido ao seu movimento em torno do núcleo. O campo interage com o
momento magnético do electrão. Para poder calcular o valor desse campo magnético
convém considerar o sistema sob o ponto vista do referencial do electrão: o electrão está
fixo e o núcleo move-se em torno dele. Veja a Figura 4.1.
(a)
(b)
Figura 4.1. a) Movimento de um electrão movendo-se numa órbita de Bohr, visto pelo
núcleo. b) O mesmo movimento visto pelo electrão. Sob o ponto de vista do electrão, o
núcleo move-se em torno dele.
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

Substituímos o vector posição da órbita do electrão r por  r . O campo magnético da
carga +Ze que se move, é obtido através da Lei de Biot-Savart:

Ze 0 
v   r    Ze30 v  r
Bl  
3
4r
4r
(4.1)
onde 0 é a permeabilidade no vazio.


O núcleo carregado constitui um elemento de corrente j  Zev .
O momento angular é definido por:
 

L  r  mev
ou

 
 L  mev  r
(4.2)
que substituindo em (4.1), fica:

Ze0 
Bl 
L
4r 3me
(4.3)
Assim, o campo magnético que é gerado pelo movimento relativo do núcleo em relação
ao electrão é proporcional e paralelo ao momento angular orbital do electrão. Veja
Figura 4.2.

Figura 4.2. Precessão do spin em torno do campo magnético Bl associado ao momento
angular orbital, com componentes
S z e  s, z .
O electrão e o seu momento magnético de spin podem assumir diferentes
orientações no campo magnético interno do átomo e sua energia potencial será diferente
para cada orientação. A energia de interacção entre o spin e o campo magnético orbital
é:
 
Vl , s   s  Bl
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(4. 4)
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
Substituímos o valor de s, Bl e gs = 2. Além disso, como estamos interessados em
calcular a energia potencial em relação ao referencial normal, onde o núcleo está em
repouso, temos que reduzir a energia de um factor 2, por causa do efeito relativístico de
transformação de velocidades denominado de precessão de Thomas:
1
e    Ze0
Vl , s   g s
S .
2  2me   4r 3me
 
  Ze2 0  
L  
SL
2 3
 8me r
(4.5)
ou
Vl , s 

a  
S L
2

(4.6)
Ze2 0 2
, e é conhecida como constante de acoplamento spin-órbita.
8me2 r 3
Podemos escrever esta interacção em termos da energia potencial do electrão
Ze 2
, porque:
V r   
40 r
onde a 
Ze2
1 d  Ze2  1 dV r 



40 r 3 r dr  40 r  r dr
(4.7)
e sabendo que c 2  1 /  0  0 , obtemos:
Vl , s 
1 dV r   
S L
2me2c 2 r dr


(4.8)
Esta expressão foi deduzida pela primeira vez por Thomas em 1926, que também usou
uma combinação do Modelo de Bohr, mecânica quântica e cinemática relativística.
Contudo ela está totalmente de acordo com a Mecânica Quântica de Dirac. É uma
equação importante tanto na teoria de átomos de muitos electrões, quanto nos átomos de
um electrão. Além disso, uma equação semelhante é fundamental para a compreensão
da teoria da estrutura dos núcleos.
4.2 Momento Angular Total


Se não existisse interacção spin-órbita, os momentos angulares orbital L e de spin S do
electrão atómico, seriam independentes um do outro e obedeceriam cada um
separadamente, a lei de conservação de momento angular da mecânica quântica. Ambos
os vectores precessariam aleatoriamente em torno do eixo z. Entretanto a interacção
spin-órbita existe e corresponde a um campo magnético forte, cuja orientação é dada por

L , que actua sobre o electrão produzindo um torque sobre o momento magnético de
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


spin, que está orientado segundo S . O torque força um acoplamento entre L e S ,
fazendo com que a orientação de um dependa da orientação do outro. A Figura 4.3


mostra a precessão dos vectores L e S , devida a interacção spin-órbita. Esses vectores

movem-se de maneira que a sua soma, o momento angular total J , obedece a lei da
conservação do momento angular em mecânica quântica. Portanto um átomo num
espaço livre, sem que haja torques actuando sobre ele, tem um momento angular total
igual a:
  
J LS
(4.9)
mantendo um valor constante de J e da componente z, Jz.
O momento angular total satisfaz as relações de comutação:
J , J   iJ
x
y
z
e etc.
Figura 4.3. No modelo vectorial o acoplamento dos vectores do momento angular



orbital L , e de spin S corresponderá ao momento angular total J . A figura apresenta o


caso típico do estado l=2, j=5/2 2  1/ 2 e mj=3/2. Os vectores L e S precessam


uniformemente em torno da sua soma J , enquanto J precessa aleatoriamente em torno
de z.

A intensidade e a componente z do momento angular total J , são especificadas por dois
números quânticos: j e mj:
J
j j  1
(4.10)
e
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J z  m j
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(4.11)
onde
m j   j , j  1, j  2..., j  1, j
(4.12)
são os valores permitidos do número quântico mj. Os valores permitidos do número

quântico j, são obtidos através da componente z de J :
J z  Lz  S z
(4.13)
Lz e S z satisfazem as condições de quantização:
Lz  m
S z  ms 
e
(4.14)
Alguns autores chamam m de ml.
Definimos:
J z  m j
(4.15)
m j   m  ms 
(4.16)
ou
m j  m  ms
(4.17)
O maior valor possível de m é l, e o maior valor possível de ms é s=1/2, porque estamos
tratando de um sistema com um electrão, portanto o valor máximo de mj será:
m 
j max
l
1
2
(4.18)
De acordo com a equação (4.11) o maior valor permitido de mj, também é o maior valor
permitido de j. Como os demais números quânticos de momento angular, os valores
possíveis de j diferem por números inteiros. Estes valores fazem parte de uma série
decrescente:
1
1
3
5
j  l  , l  , l  , l  ,...
2
2
2
2
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(4.19)
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Figura 4.4. Diagramas vectoriais para L  S .
Para determinar o limite inferior da série, podemos utilizar a desigualdade vectorial:
 
 
LS  L  S
(4.20)
cuja validade poderá ser comprovada pela análise dos diagramas vectoriais apresentados
na Figura 4.4.

 
Escrevendo L  S como J , obtemos a desigualdade:

 
J  LS
(4.21 )
ou, escrevendo em função dos números quânticos:
J
j  j  1  l l  1  ss  1
(4.22)
Como temos somente um electrão, s=1/2 e em geral vão existir dois membros da série
que satisfazem a desigualdade acima, que são:
1
1
j  l  ,l  .
2
2
(4.23)
e se l=0, teremos somente o valor j=1/2.
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______________________________________________________________________
Exemplo 4.1. Determine os valores possíveis dos números quânticos j, mj, para os estados onde l=2.
Resolução:
Como temos estamos tratando de átomos de um electrão, teremos s=1/2. Os valores possíveis de j, são
1
1
1
1 5 3
, l  . Substituindo o valor de l=2, obtemos: j  2  ,2   , . Como
2
2
2
2 2 2
5 3 1 1 3 5
m j   j , j  1, j  2..., j  1, j , teremos para cada j: m5 / 2   , , , , ,
e
2 2 2 2 2 2
3 1 1 3
m3 / 2   , , , .
2 2 2 2
dados por: j  l 
_____________________________________________________________________________________
4.3 Estrutura Fina
Em primeiro lugar vamos determinar a energia de interacção spin-órbita em termos dos
números quânticos l, s e j. A seguir mostraremos como essa expressão é usada para
prever a estrutura detalhada dos níveis de energia dos átomos de hidrogénio.
Vl ,s 
1
dV r   
S L
2 2
2m c r dr
(4.24)
 
Temos que obter o produto S  L , em função de l, s e j começamos por fazer o produto
escalar:



 
   
     
J  J  L  S  L  S  L  L  S  S  2S  L
(4.25)
   
uma vez que L  S = S  L .
Então:

  1      
S L  J J  LLS S
2

(4.26)
ou
  1
S  L  J 2  L2  S 2
2


(4.27)
Num estado quântico associado aos números quânticos l, s e j, cada termo à direita tem
 
um valor fixo, e consequentemente o produto S  L também tem um valor fixo:
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  2
S  L   j  j  1  l l  1  ss  1
2
62
(4.28)
Substituindo em Vl,s, obtemos:
Vl , s 
2
 j  j  1  l l  1  ss  1 1 dV r 
2
4mec
r dr
(4.29)
Lembrando que não existe nenhuma órbita fixa do átomo descrito pela teoria quântica, a
energia da interacção spin-órbita para o estado é o valor esperado dessa quantidade:
Vl , s 
2
 j  j  1  l l  1  ss  1 1 dV r 
2
4mec
r dr
(4.30)
1 dV r 
é calculado usando a função potencial V(r) para o
r dr
sistema e a densidade de probabilidade (normalmente calculada em termos da densidade
de probabilidade radial Pnl  r 2 Rnl* Rnl ) para o estado em questão.
onde o valor esperado
Por causa da interacção spin-órbita todos os níveis de energia dos átomos com
um electrão, com excepção dos estados s, se subdividem em dois subestados, e
produzem estruturas múltiplas ou duplas das linhas espectrais, que são
denominadas genericamente pelo nome de estrutura fina. A estrutura fina não pode
ser explicada através da interacção Coulombiana entre os núcleos e os electrões, mas
sim pela interacção magnética entre o momento magnético orbital e o momento
intrínseco do spin, a interacão spin-órbita.
Agora vamos explicar o simbolismo necessário para identificar os níveis de
energia dos átomos. Os termos do momento angular orbital são indicados por:
S l0
P l 1
D l2
F l 3
.
.
.
.
.
.
(4.31)
O simbolismo usual é:
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n 2 S  1 LJ
n  nº quântico principal
S  nº quântico de spin


 L  nº quântico do momento angular orbital
 J  nº quântico do momento angular to tal
63
(4. 32)
Este simbolismo com as letras maiúsculas S, L e J, só é aplicável aos átomos com
muitos electrões. No caso dos átomos de um electrão, utilizamos s, l e j, ou seja, letras
minúsculas. Para s =1/2 e 2s+1=2 (multiplicidade), obtemos o simbolismo:
n 2l j
(4. 33)
1
1
onde l  n  1 e que j  l  , l  .
2
2
______________________________________________________________________
Exemplo 4.2. Determinar os valores possíveis dos números quânticos j, para os estados onde l=1 e
2
escrever os níveis de energia na notação espectroscópica n L J para S=1/2.
Através
dos
valores
indicados
em
(4.20),
l=1
corresponde
a
P.
n=2
e
1
1
1
1 3 1
j  l  , l   1  ,1   , . Então teremos 22P1/2 e 22P3/2. Devemos lembrar que quando
2
2
2
2 2 2
existe somente um electrão envolvido, como é o caso dos átomos de um electrão, podemos representar
l=1 por “p” em vez de “P”.
A Figura mostra o desdobramento do nível de energia
(estrutura fina) do estado P num sistema de um
electrão, em dois estados P1/2 e P3/2. A constante a
aparece na equação (4.6) e pode ser escrita como:
a~
Z4
 1
n3  l  l  1
 2
______________________________________________________________________
Como conhecemos explicitamente as funções de onda do átomo de hidrogénio,
podemos prever com detalhes e com exactidão, a estrutura dos seus níveis de energia. O
que temos utilizado até agora para o átomo de hidrogénio foi a equação de Schrödinger
não relativística, que dá os estados de energia Enl. Observa-se porém que um nível de
energia do hidrogénio sofre um deslocamento devido a dependência relativística da
massa com a velocidade comparável ao deslocamento produzido pela interacção spinórbita, que também é um efeito relativístico, mas de natureza distinta. Um tratamento
completo de todos os efeitos relativísticos nos níveis de energia do átomo de hidrogénio
só pode ser feito em termos da teoria de Dirac. Podemos calcular as duas correcções
separadamente e escrever:
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Enlj  Enl  Erel  Els
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(4.34)
Os dois termos da correcção, o correspondente a variação da massa relativística Erel, e o
termo do acoplamento spin-órbita, juntos, correspondem a correcção de estrutura fina
EFS. Não desenvolveremos estes cálculos porque são muito longos e de facto o único
efeito importante num átomo típico é a interacção spin-órbita.
O resultado do cálculo relativístico completo de Dirac para os níveis de energia
do átomo de hidrogénio é:
Enlj  Enl  EFS
EFS  
En 2  1
3 

  Z 2
n  j  1 / 2 4n 
(4.35)
(4.36)
onde
 
e2
40c
(4.37)
ou
 
0c 2
1
e 
4
137
(4.38)
que corresponde a constante de estrutura fina de Sommerfeld: velocidade do electrão na
primeira órbita de Bohr / velocidade da luz. 0 é a massa reduzida do electrão. O mais
importante deste resultado é o facto da energia da estrutura fina do átomo de hidrogénio
depender somente de j (inclui o spin) e não de l.
Os resultados da teoria de Dirac e do modelo de Sommerfeld são essencialmente
os mesmos:
ESommerfeld
E n 2

n
 1
3 
  Z 2
 n 4n 
(4.39)
j + 1/2 e n são inteiros que vão de 1 a n. Como o modelo de Sommerfeld é baseado no
modelo de Bohr, ele é de facto somente uma aproximação grosseira da realidade física.
Esta modelo contrasta com a teoria de Dirac, porque esta representa uma expressão
extremamente refinada da nossa compreensão da realidade. O facto dessas duas teorias
levarem essencialmente aos mesmos resultados para o átomo de hidrogénio é uma
coincidência que provocou enorme confusão na década de 20, quando as teorias
quânticas modernas se desenvolveram. A coincidência ocorreu porque os erros
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introduzidos com o modelo de Sommerfeld, ao ignorar a interacção spin-órbita e ao
utilizar a mecânica clássica para o cálculo da variação da energia devido à dependência
relativística da massa com a velocidade, se cancelam no caso do átomo de hidrogénio. A
Figura 4.5 mostra os níveis de energia do átomo de hidrogénio previsto por Bohr,
Sommerfeld e Dirac. Para tornar visíveis os desdobramentos dos níveis de energia,
denominados de estrutura fina, os deslocamentos dos níveis de energia de Sommerfeld
e Dirac em relação aos de Bohr foram ampliados por um factor (137)2 = 1.88  104. No
diagrama dos níveis de energia de Dirac não aparecem os valores do número quântico
mj, que especifica a orientação espacial do átomo, pois sua energia não depende dessa
orientação na ausência de campos externos. Existe um número quântico espacial similar
no modelo de Sommerfeld e cujos valores não aparecem na Figura 4.5, pela mesma
razão. Também não aparecem os níveis de energia do átomo de hidrogénio
determinados pelas medidas de espectroscopia óptica. Eles estão em excelente acordo
com os níveis tanto de Sommerfeld quanto de Dirac.
Figura 4.5. Níveis de energia do átomo de hidrogénio para n=1, 2 e 3, segundo Bohr,
Sommerfeld e Dirac. Os deslocamentos dos níveis de Sommerfeld e de Dirac em
2
2
relação aos de Bohr foram aumentados de um factor 1 /    1 / 137   1.88  10 4 .
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A única diferença entre os resultados desses dois tratamentos é que,
contrariamente a Sommerfeld, o modelo de Dirac prevê a existência de uma
degenerescência para a maioria dos níveis (além da trivial devido a orientação espacial
já mencionada) porque a energia depende dos números quânticos n e j mas não do
número quântico l. Como em geral existem dois valores de l para o mesmo valor de j
(ver a Figura 4.5), a teoria de Dirac prevê que a maioria dos níveis são duplos. Foi
Lamb e Retherford que em 1947 verificaram experimentalmente que na verdade para
n=2 e j=1/2 existem dois níveis separados, denominados deslocamento de Lamb
(ver a Figura 4.6). A separação entre estes dois níveis é tão pequena que a frequência se
encontra na faixa de microondas. Essas medidas de grande precisão, podem ser
explicadas através da teoria de electrodinâmica quântica.
Figura 4.6. Deslocamento de Lamb: estrutura fina do nível n=2 no átomo de hidrogénio
de acordo com Bohr, Dirac e a Electrodinâmica Quântica, incluindo o deslocamento de
Lamb. A degenerescência em j é levantada.
O núcleo do átomo também tem influência sobre o espectro do átomo. A
interacção entre o campo magnético interno produzido pelo movimento do electrão
e o momento magnético do spin do núcleo faz com que haja um desdobramento
dos níveis de energia. Este desdobramento denominado de hiperfino, mesmo com a
escala exagerada, não pode ser explicitada na figura 4.5, porque é 10-3 menor que o
desdobramento spin-órbita. Este efeito pode ser explicado quantitativamente através da
mecânica quântica de Schrödinger e pode ser utilizado para medir os spins e momentos
magnéticos nucleares. Na verdade, todos os aspectos do comportamento do átomo de
hidrogénio podem ser explicados em detalhe pelas teorias da física quântica.
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