254 ESTRUTURA FUNDIÁRIA E CONFIGURAÇÃO AGROPECUÁRIA DO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA-SP Francielly Naves Fagundes- [email protected] Mestranda UNESP-Rio Claro-SP Bolsista CAPES Ana Claudia Giannini Borges - [email protected] Docente da UNESP- Campus de Jaboticabal e Rio Claro Introdução A partir de estudos da estrutura fundiária e configuração agropecuária, é possível estabelecer o perfil da produção rural de um município. E, para tal, faz-se necessário apresentar conceitos importantes para a questão agrícola e agrária. Dentre eles destacam-se os conceitos, introduzidos no documento Estatuto da Terra (1964), de imóvel rural e módulo fiscal, que são fundamentais para a avaliação da estrutura fundiária de uma localidade. (BRASIL, 1964). Segundo o Estatuto da Terra, para a definição de imóvel rural têm-se “área aproveitável passível de exploração agrícola, pecuária ou florestal” e para módulo fiscal considera-se: tipo de exploração predominante (lavoura hortifrutigranjeira, cultura permanente e temporária, pecuária; florestal) em hectares; renda obtida no tipo de exploração predominante e outras explorações existentes, embora não predominantes. Logo, o número de módulos fiscais, de um imóvel rural, será obtido “dividindo-se sua área aproveitável total pelo módulo fiscal do município”. (BRASIL, 1964, p.17). Segundo as informações do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária-INCRA (2015), que é uma autarquia federal responsável pelo ordenamento fundiário nacional, cada município tem fixado um módulo fiscal, referentes às suas características locais. Sendo assim, a área em hectares, que representa um módulo fiscal, apresenta variações nos municípios, estados e regiões do país. Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo De acordo com os módulos fiscais, o INCRA classifica os imóveis rurais pelo tamanho da área, em: minifúndio; pequena, média e grande propriedade. É considerado minifúndio “o imóvel rural com área inferior a 1 (um) módulo fiscal”1; pequena propriedade “o imóvel rural de área compreendida entre 1 (um) e 4 (quatro) módulos fiscais”; média propriedade “o imóvel rural de área superior a 4 (quatro) e até 15 (quinze) módulos fiscais”; e grande propriedade “o imóvel rural de área superior a 15 (quinze) módulos fiscais”. (INCRA, 2015). A classificação de imóveis rurais, em relação ao tamanho da área, é uma variável a ser considerada na identificação da dinâmica fundiária. Sobre estrutura fundiária, esta corresponde à maneira como estão distribuídas as terras no território, podendo ser concentradas (grande parcela das terras em posse de poucos proprietários) ou não. Sobre a importância da compreensão desta questão e da distribuição dos imóveis rurais, Reis et al. (2008) reconhecem que esse conhecimento é fundamental para o planejamento de ações e definição de políticas públicas, que possibilitem o desenvolvimento das diferentes “comunidades rurais”. Objetivo O artigo busca identificar o perfil das terras rurais do município de São João da Boa Vista-SP, a partir de análise da estrutura fundiária e configuração agropecuária. Metodologia Para tal, fez-se coleta de dados secundários na base LUPA - Levantamento Censitário das Unidades de Produção Agropecuária do Estado de São Paulo -, quanto ao número de unidades de produção agropecuárias (UPAs) no município, bem como os dados de área das atividades nessas UPAs, estabelecendo uma comparação entre 1995/1996 e 2007/2008 (último levantamento da base LUPA). Resultados Finais Estrutura fundiária O município de São João da Boa Vista está localizado a nordeste do estado de São Paulo, conta com 89.027 habitantes e uma área de 516,399 km². (IBGE, 2015). No que diz respeito às UPAs, o município de São João da Boa Vista-SP apresentou aumento de 94 UPAs e expandiu 23.562 hectares na área total de 1995/1996 para 2007/2008 (TABELA 1). Tabela 1: Número de Unidades Produtivas Agropecuárias e Área Total, município de São João da Boa Vista-SP, 1995/1996 e 2007/2008. 1 A classificação de um imóvel rural deve considerar, além do tamanho de área, as seguintes variáveis: Dimensão, Grau de Utilização da Terra e Grau de Eficiência na Exploração. (INCRA, 2015). Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 255 Variável Número de UPAs Área total (ha) Ano Valor 1995/1996 1.122 2007/2008 1995/1996 1.216 47.064,50 2007/2008 49.420,70 Fonte: São Paulo (1996 e 2008). 256 Segundo o Sistema Nacional de Cadastro Rural- Índices Básicos- do INCRA (2013), o módulo fiscal, no município, representa 22 hectares. Assim, têm-se: minifúndios de 1 até 22 hectares, pequena propriedade de 22 a 88 hectares, média propriedade de 88 a 330 hectares e grande propriedade acima de 330 hectares. Em relação ao número de UPAs destaca-se o tamanho de área de ‘10 a 20 hectares’ (minifúndios) que participavam com 9%, em 1995/96, e 24%, em 2007/08. Já em relação à área total, destacam-se os tamanhos de área de: ‘200 a 500 hectares’ (média e grande propriedade) em 1995/96; e de ‘100 a 200 hectares’ (média propriedade) e ‘200 a 500 hectares’ (média e grande propriedade) em 2007/08. (TABELA 2). Tabela 2: Número de Unidades produtivas agropecuárias e área total, por estrato de área, município de São João da Boa Vista-SP, 1995/1996 e 2007/2008. N° de UPAs Área total (ha) Tamanho de 1995/96 Participação 2007/08 Participação 1995/96 Participação área (ha) (0 a 1) (1 a 2) (2 a 5) (5 a 10) (10 a 20) (20 a 50) (50 a 100) (100 a 200) (200 a 500) (500 a 1.000) (1.000 a 2.000)* 17 36 160 185 267 255 95 62 35 8 2 2% 3% 14% 16% 24% 23% 8% 6% 3% 1% 0% 18 41 180 209 295 271 100 62 30 5 5 1% 3% 15% 17% 24% 22% 8% 5% 2% 0% 0% 10,4 55,2 597,1 1.400,60 3.872,30 8.082,50 6.577,40 8.693,10 9.885,50 5.448,60 2.441,80 0% 0% 1% 3% 8% 17% 14% 18% 21% 12% 5% 2007/08 Participação 10,4 64,2 650,1 1.589,10 4.284,90 8.549,60 6.759,90 8.679,40 8.669,00 2.969,10 7.195,00 0% 0% 1% 3% 9% 17% 14% 18% 18% 6% 15% Fonte: São Paulo (1996 e 2008). Nos anos de 1995/1996 e 2007/2008, têm-se o destaque dos minifúndios na participação de UPAs (59% e 61%) e das grandes propriedades (acima de 500 ha) na participação da área (17% e 21%) no total do município (TABELA 3). Vale destacar, também, as médias e grandes propriedades de ‘200 a 500 ha’, pois estas detêm 21% e 18%. Tabela 3: Número de Unidades produtivas agropecuárias e área total, por estratos de terra, município de São João da Boa Vista-SP, 1995/1996 e 2007/2008. Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo N° de UPAs Área total (ha) Estratos de Tamanho de área (ha) 1995/96 2007/08 1995/96 2007/08 Área (0 a 1) (1 a 2) Minifúndio 59% 61% 13% 13% (2 a 5) (5 a 10) (10 a 20) (20 a 50) Pequena 31% 31% 31% 31% (50 a 100) (100 a 200) Média 6% 5% 18% 18% (200 a 500) (500 a 1.000) Grande 4% 3% 38% 38% (1.000 a 2.000)* Fonte: São Paulo (1996 e 2008). Em uma estrutura fundiária, em que se denota predomínio de pequenas propriedades (UPAs), Oliveira (2004/2005) destaca como vantagens: a maior geração de empregos no campo; e o direcionamento agrícola, para produção de alimentos, sobretudo dos que compõem a dieta da população. Isso se dá pela diversificação produtiva, da maioria dessas propriedades rurais, em detrimento da monocultura. Configuração agropecuária Em relação às principais formas de uso da terra, em 1995/1996, tinha-se no município objeto, a maior parte das terras rurais destinadas à lavoura de Milho, com representação de 32% da área total. (TABELA 4). Tabela 4: Principais formas de uso das terras rurais, município de São João da Boa Vista-SP, em 1995/1996, em hectares. 1995/1996 Área Total (lavouras e matas) Milho Cana-de-açúcar Capim Braquiária Café Algodão Batata-inglesa Eucalipto Feijão Capim elefante Soja 24.258,20 7.652,40 5.845,40 3.516,30 2.676,00 858,2 766,1 731,1 577,6 485,2 397,8 Participação na Média de N° de área total (lavouras hectares por UPAs e matas) UPAs 32% 24% 14% 11% 4% 3% 3% 2% 2% 2% 356 219 149 140 16 46 138 31 178 5 21 27 23 19 54 17 5 18 2 79 Fonte: São Paulo (1996 e 2008). Já no levantamento de 2007/2008, no município objeto, a maior parte das terras rurais era destinada ao Capim-Braquiária (utilizado para alimentação de gado). A principal lavoura era a Cana-de-Açúcar com 22% do total de área, seguido de Milho e Café, com participação de 7% cada um. Houve perda de 25% na participação do milho em 2007/08, se comparado a 1995/96 (TABELA 5). Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 257 Tabela 5: Principais formas de uso das terras rurais, município de São João da Boa Vista-SP, em 2007/2008, em hectares. 2007/2008 Área Total (lavouras e matas) Capim Braquiária Outras gramíneas para Pastagem Cana-de-Açúcar Milho Café Eucalipto Laranja Feijão Capim elefante Batata- inglesa Participação na Média de N° de área total (lavouras hectares por UPAs e matas) UPAs 43.659,80 12.453,90 10.342,50 10.486,40 3.336,40 3.169,00 930,7 738,3 563,7 506,8 346,2 26% 22% 22% 7% 7% 2% 2% 1% 1% 1% 476 644 268 284 156 131 15 38 122 34 26 16 39 12 20 7 49 15 4 10 258 Fonte: São Paulo (1996 e 2008). Os dados indicam, também, que as maiores médias em hectares por UPA (TABELA 4 e 5) são das culturas agrícolas de Soja, em 1996/1997, e de Laranja, 2007/2008, que apresentam média de 79 e 49 hectares por UPA, respectivamente. Considerações finais Foi possível identificar, a partir dos dados da base LUPA, que houve aumento do número de unidades produtivas agropecuárias- UPAS, e aumento da área total destas UPAs, nos anos selecionados, no município objeto. Da estrutura fundiária têm-se o maior número de UPAs nos estratos de áreas considerados como minifúndio, e em relação a área total destacam-se as médias e grandes propriedades (acima 200ha). Isso denota que as maiores extensões de terras, estão de posse, de um pequeno número de proprietários rurais, e as menores extensões de terras, estão de posse, de um amplo número de proprietários rurais, no município objeto. Por fim, sobre as formas de uso das terras rurais, é possível identificar queda na representação em área da cultura agrícola do milho (32% em 1995/1996 para 7% em 2007/2008), sobretudo pela ascensão do Capim-Braquiária (14% em 1995/1996 para 26% em 2007/2008). Na comparação dos anos apresentados, observou-se também o aumento de importância da classe de “outras gramíneas para Pastagem” em detrimento de outras lavouras agrícolas, sobretudo o milho. Referências bibliográficas: BRASIL. ESTATUTO DA TERRA. 1964. Disponível <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4504.htm> Acesso em: Mar/2016 em: IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia <http://www.sidra.ibge.gov.br/> Acesso em: Mar/2016. em: e Estatística Disponível INCRA. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária-INCRA. Disponível em: <http://www.incra.gov.br/tamanho-propriedades-rurais> Acesso em: Mar/2016 Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo INCRA. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária-INCRA. Sistema Nacional de Cadastro RuralÍndices Básicos 2013. Disponível em: <http://www.incra.gov.br/sites/default/files/uploads/estrutura-fundiaria/regularizacaofundiaria/indices-cadastrais/indices_basicos_2013_por_municipio.pdf> Acesso em: Mar/2016 OLIVEIRA, A. U. “Quem Sabe Faz a Hora, Não Espera Acontecer: O MST Como Movimento Socioterritorial Moderno”. In: Revista USP, São Paulo, n.64, p. 156-172, Dezembro/Fevereiro. 2004-2005. Acesso em: Fev/2016. SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Coordenadoria de Assistência Técnica Integral. Instituto de Economia Agrícola. LUPA 1995/1996. São Paulo: SAA/CATI/IEA, 1996. Disponível em: <http://www.cati.sp.gov.br/projetolupa>. Acesso em: Fev/2016. SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Coordenadoria de Assistência Técnica Integral. Instituto de Economia Agrícola. LUPA 2007/2008. São Paulo: SAA/CATI/IEA, 2008. Disponível em: <http://www.cati.sp.gov.br/projetolupa>. Acesso em: Fev/2016. Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 259