Versão impressa REVISTA BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA vol. 73 - nº 3 - Maio/Junho 2014 MAI/JUN 2014 VOLUME 73 NÚMERO 3 P. 129-190 100 95 75 25 RBO 5 0 DESDE 1942 CAPA REVISTA-MAI-JUN-2014 sexta-feira, 8 de agosto de 2014 11:08:47 129 ISSN 0034-7280 Revista Brasileira de (Versão impressa) ISSN 1982-8551 (Versão eletrônica) Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CATARATA E IMPLANTES INTRAOCULARES SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA REFRATIVA Sociedade Brasileira de Oftalmologia Indexada nas bases de dados: LILACS Literatura Latinoamericana em Ciências da Saúde SciELO Scientific Electronic Library OnLine WEB OF SCIENCE www.freemedicaljournals.com Disponível eletronicamente: www.sboportal.org.br Publicação bimestral Editor Chefe Newton Kara-Junior (SP) Editor Executivo Arlindo José Freire Portes (RJ) Co-editores André Luiz Land Curi (RJ) Arlindo José Freire Portes (RJ) Bruno Machado Fontes (RJ) Carlos Eduardo Leite Arieta (SP) Hamilton Moreira (PR) Liana Maria Vieira de Oliveira Ventura (PE) Marcony Rodrigues de Santhiago (RJ) Mario Martins dos Santos Motta (RJ) Maurício Maia (SP) Niro Kasahara (SP) Renato Ambrósio Jr. (RJ) Rodrigo Jorge (SP) Rodrigo Pessoa Cavalcanti Lira (PE) Silvana Artioli Schellini (SP) Walton Nosé (SP) Corpo Editorial Internacional Baruch D. 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Barbosa - São Paulo - SP Edmundo Frota De Almeida Sobrinho- Belém- PA Eduardo Buchele Rodrigues – Florianópolis - SC Eduardo Cunha de Souza – São Paulo - SP Eduardo Damasceno - Rio de Janeiro - RJ Eduardo Dib – Rio de Janeiro - RJ Eduardo Ferrari Marback- Salvador- BA Eliezer Benchimol - Rio de Janeiro - RJ Enzo Augusto Medeiros Fulco – Jundiaí - SP Eugenio Santana de Figueiredo – Juazeiro do Norte - CE Fábio Marquez Vaz – Ondina – BA Felipe Almeida - Ribeirão Preto - SP Fernando Cançado Trindade - Belo Horizonte- MG Fernando Marcondes Penha - Florianópolis - SC Fernando Oréfice- Belo Horizonte- MG Fernando Roberte Zanetti – Vitória - ES Flavio Rezende- Rio de Janeiro- RJ Francisco de Assis Cordeiro Barbosa - Recife - PE Frederico Valadares de Souza Pena – Rio de Janeiro - RJ Frederico Guerra - Niterói - RJ Giovanni N.U.I.Colombini- Rio de Janeiro- RJ Guilherme Herzog Neto- Rio de Janeiro- RJ Harley Biccas - Ribeirão Preto - SP Haroldo Vieira de Moraes Jr.- Rio de Janeiro- RJ Hélcio Bessa - Rio de Janeiro - RJ Helena Parente Solari - Niterói - RJ Heloisa Helena Abil Russ – Curitiba – PR Henderson Celestino de Almeida- Belo Horizonte- MG Hilton Arcoverde G. de Medeiros- Brasilia- DF Homero Gusmao de Almeida- Belo Horizonte- MG Italo Mundialino Marcon- Porto Alegre- RS Iuuki Takasaka – Santa Isabel - SP Ivan Maynart Tavares - São Paulo - SP Jaco Lavinsky - Porto Alegre - RS Jair Giampani Junior – Cuiabá - MT Jeffersons Augusto Santana Ribeiro - Ribeirão Preto - SP João Borges Fortes Filho- Porto Alegre- RS João Luiz Lobo Ferreira – Florianópolis – SC João Marcelo de Almeida G. Lyra - Maceió - AL João Orlando Ribeiro Goncalves- Teresina- PI Jorge Carlos Pessoa Rocha – Salvador – BA JorgeAlberto de Oliveira - Rio de Janeiro - RJ José Augusto Cardillo – Araraquara – SP José Beniz Neto - Goiania - GO José Ricardo Carvalho L. Rehder- São Paulo- SP Laurentino Biccas Neto- Vitória- ES Leonardo Akaishi - Brasília - DF Leonardo Provetti Cunha - SP Leticia Paccola - Ribeirão Preto - SP Liana Maria V. de O. Ventura- Recife- PE Luiz Alberto Molina - Rio de Janeiro - RJ Manuel Augusto Pereira Vilela- Porto Alegre- RS Marcelo Hatanaka – São Paulo – SP Marcelo Netto - São Paulo - SP Marcelo Palis Ventura- Niterói- RJ Marcio Bittar Nehemy - Belo Horizonte - MG Marco Antonio Bonini Filho - Campo Grande - MS Marco Antonio Guarino Tanure - Belo Horizonte - MG Marco Antonio Rey de Faria- Natal- RN Marcos Pereira de Ávila - Goiania - GO Maria de Lourdes Veronese Rodrigues- Ribeirão Preto- SP Maria Rosa Bet de Moraes Silva- Botucatu- SP Maria Vitória Moura Brasil - Rio de Janeiro - RJ Mário Genilhu Bomfim Pereira - Rio de Janeiro - RJ Mario Luiz Ribeiro Monteiro - São Paulo- SP Mário Martins dos Santos Motta- Rio de Janeiro- RJ Marlon Moraes Ibrahim – Franca - SP Mauricio Abujamra Nascimento – Campinas - SP Maurício Bastos Pereira - Rio de Janeiro - RJ Maurício Dela Paolera - São Paulo - SP Miguel Ângelo Padilha Velasco- Rio de Janeiro- RJ Miguel Hage Amaro - Belém - PA Milton Ruiz Alves- São Paulo- SP Moyses Eduardo Zadjdenweber - Rio de Janeiro - RJ Nassim da Silveira Calixto- Belo Horizonte- MG Nelson Alexandre Sabrosa - Rio de Janeiro – RJ Newton Kara-José - São Paulo - SP Newton Leitão de Andrade – Fortaleza – CE Núbia Vanessa dos Anjos Lima Henrique de Faria - Brasília-DF Octaviano Magalhães Júnior - Atibaia - SP Oswaldo Moura Brasil- Rio de Janeiro- RJ Otacílio de Oliveira Maia Júnior – Salvador - BA Patrick Frensel de Moraes Tzelikis – Brasília – DF Paulo Augusto de Arruda Mello Filho – São Paulo – SP Paulo Augusto de Arruda Mello- São Paulo- SP Paulo Schor - São Paulo - SP Pedro Carlos Carricondo – São Paulo – SP Pedro Duraes Serracarbassa – São Paulo – SP Priscilla de Almeida Jorge – Recife – PE Rafael Ernane Almeida Andrade - Itabuna – BA Raul N. 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Ribeiro, Jesse Haroldo de Nigro Corpa, Cláudio Mitri Pola, José Ricardo Carvalho Lima Rehder 143 Avaliação da satisfação profissional de funcionários em um hospital público de reconhecida efetividade assistencial Evaluation of job satisfaction of employees of a public hospital care recognized effectiveness Maria Cecilia Machado, Rosane Castro Silvestre, Newton Kara-José, Newton Kara-Júnior 148 Achados histopatológicos em 431 córneas de receptores de transplantes no Rio de Janeiro Histopathology finds in 431 corneas from transplant receptors in Rio de Janeiro Luiz Carlos Aguiar Vaz 132 154 Influência da aplicação intraoperatória de mitomicina C tópica episcleral na proliferação e diferenciação de células epiteliais córneo-conjuntivais de coelhos Influence of intraoperative episcleral application of topic mitomycin C on proliferation and differentiation of rabbit corneal and conjunctival epithelial cells Marisa Braga Potério, Newton Kara-José, Eliane Maria Ingrid Amstalden, Keila Miriam Monteiro de Carvalho, Ana Maria Marcondes 162 Indicações e perfil epidemiológico dos pacientes submetidos à ceratoplastia Indications and epidemiological profile of patients submitted 167 Achados epidemiológicos e alterações oftalmológicas em diabéticos atendidos em hospital geral secundário Epidemiological and ophthalmological findings in diabetic patients examined in a general hospital Augusto Adam Netto, Caio Augusto Schlindwein Botelho, Lucas Costa Felicíssimo Mariluce Silveira Vergara, André Simoni de Jesus, Lucia Campos Pellanda, Manuel A P Vilela Relatos de Casos 171 Edema cistoide de mácula pós-LASIK tratado com ranibizumabe Macular edema post-LASIK treated with ranibizumab Luiz Guilherme Azevedo de Freitas, Natália Silva de Mesquita, Juliana Aquino Teixeira Zorrilla, Marcos Pereira de Ávila 174 Parinaud’s oculoglandular syndrome and possibly causing cortical cataract Síndrome oculoglandular de Parinaud como possível causa de catarata cortical 178 Melanoma conjuntival multifocal recidivado originado de nevus pigmentado preexistente Recurrent multifocal conjunctival melanoma originated from preexisting pigmented nevus 182 Trombose parcial do seio cavernoso Cavernous sinus thrombosis 185 Obstrução da via lacrimal após radioiodoterapia: relato de caso e conduta Lacrimal duct obstruction after radioiodine therapy: case report and treatment Mariana Heid Rocha Hemerly, Marcelo Berno Mattos, Fábio Petersen Saraiva, Fellipe Berno Mattos Marcos Leandro Pereira, Dulcídio de Barros Moreira Júnior Filipe Mira, Bruno Costa, Catarina Paiva, Rui Andrês, António Loureiro Silvia Helena Tavares Lorena, João Amaro Ferrari Silva Instruções aos autores 188 Normas para publicação de artigos na RBO EDITORIAL 133 Como mensurar a precisão dos resultados de estudos clínicos How to measure the precision of clinical study results N a fase de elaboração de um estudo clínico, após estabelecer uma pergunta a ser respondida por meio dos dados obtidos pela pesquisa, define-se a população que será estudada. Como, em geral, não é viável avaliar toda a população em estudo, seleciona-se uma amostra. Amostragem é quando a análise é realizada com base numa parte (representativa) da população. Nesta fase, o importante é considerar que a única forma de garantir a representatividade dessa amostra será fazendo sua seleção de forma aleatória, a fim de que cada elemento da população tenha exatamente a mesma probabilidade de ser selecionado, sem que haja influência do pesquisador (1-3). Em amostras selecionadas aleatoriamente (randomizadas) de uma população é possível mensurar a veracidade dos resultados obtidos, por meio de ferramentas como o cálculo do intervalo de confiança (IC). Geralmente, definimos como ideal o IC com 95% de precisão. Isto significa que, com 95% de garantia, o valor da porcentagem de cada variável estudada na amostra corresponde ao real valor da porcentagem da população. Contudo, devemos levar em consideração que mesmo este intervalo não é uma certeza, pois tem uma confiança de 95%, ou seja, há uma probabilidade de 5% de a verdadeira porcentagem na população estudada está fora desses limites. Quanto maior for uma amostra, menor será o intervalo de confiança e, assim, maior será a probabilidade de obtermos extrapolações precisas das verdadeiras porcentagens da população. Amostras pequenas geram dados imprecisos. Assim, é importante calcular a dimensão da amostra, a fim de dar precisão adequada aos resultados. A dimensão da amostra está relacionada com a precisão do intervalo de confiança desejada, para poder extrapolar os resultados da amostra para a população. Caso a amostra não seja aleatória, não fará sentido falar em intervalos de confiança, porque, nessa situação, a amostra não será representativa da população. Desta forma, o IC auxilia a verificar se o tamanho da amostra foi suficiente e se os resultados obtidos foram decorrentes da intervenção ou decorrentes do acaso (quanto mais estreito for o IC maior será a certeza de que a amostra representa a população). Além do tamanho da amostra e do IC, o valor “p” (nível de significância) ajuda a definir a precisão dos resultados do estudo. O “p” representa a probabilidade de as diferenças entre os resultados encontrados terem ocorrido por acaso e não devido à intervenção. Em geral, se tolera o valor de “p” < 5%, ou 0,05, o que significa que a chance de os resultados não serem verdadeiros é muito pequena, menos de uma chance em 20. Pode-se considerar que “p” indica a possibilidade de se detectar uma diferença que não existe (falso positivo). Este tipo de erro (tipo I ou α) é prejudicial aos pacientes, pois, no caso de estudos com novas medicações pode sugerir que uma droga que na verdade é ineficaz, faça efeito, prejudicando os usuários, que não estarão sendo adequadamente tratados. Por outro lado, erros falsos negativos (tipo II ou β), que correspondem à possibilidade de não se reconhecer uma diferença que realmente existe, são mais tolerados, em geral, até 20%, pois nesse caso, os prejudicados são as indústrias farmacêuticas, que desenvolvem uma droga eficaz, mas que os estudos consideram ineficaz e, portanto, essa droga não será utilizada. Assim, a amostragem é uma técnica estatística que significa extrair do todo (população) uma parte (amostra), com o objetivo de avaliar certas características dessa população. A validade do estudo está diretamente ligada à randomização, ao tamanho da amostra, aos indicadores de precisão dos dados (IC e “p”) e à magnitude de perda de seguimento. É importante que leitores analisem esses itens, para avaliar a possibilidade de extrapolação dos resultados da amostra para a população em estudo. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 133-4 134 Kara-Junior N Pesquisadores e leitores, também, devem atentar para o fato de que em amostras muito grandes, efeitos pequenos podem ser considerados estatisticamente significantes, com “p” < 5%, embora as diferenças sejam clinicamente irrelevantes. Assim, os leitores devem considerar, também, para a análise crítica dos artigos, além dos dados estatísticos, a relevância das caracterÌsticas clínicas dos resultados. Outro fator de confusão é o fato de que, dependendo da quantidade de testes estatísticos utilizados para análise dos dados, algum teste pode eventualmente ter significância positiva, enquanto a grande maioria é negativa, pois como o nível de significância utilizado, comumente, é de < 5%, espera-se que um caso em cada 20, seja falsamente positivo. Se, eventualmente, o pesquisador decidir forçar um resultado positivo, ele pode, por exemplo, realizar diversos testes estatísticos e considerar o único que foi positivo. De uma maneira geral, pesquisas que incorrem em erros metodológicos de seleção, de aferição ou de interpretação dos dados, tendem a produzir resultados divergentes de estudos semelhantes (4-5). Por isso, é importante que o leitor considere possíveis conflitos de interesse expressos pelos autores, além de, também, avaliar diversos estudos semelhantes, antes de formar uma opinião sobre um determinado assunto. Esta é a maneira ideal de se analisar criticamente a literatura. Newton Kara-Junior Editor-Chefe da Revista Brasileira de Oftalmologia Professor Colaborador, Livre-docente e Professor do Programa de Pós-graduação, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. Siqueira RC. Pesquisa translacional na oftalmologia: o caminho para a medicina personalizada. Rev Bras Oftalmol. 2012; 71(5):338-42. Kara-Junior N, Espindola RF, Gomes BA, Ventura B, Smadja D, Santhiago MR. Effects of blue light-filtering intraocular lenses on the macula, contrast sensitivity, and color vision after a long-term follow-up. J Cataract Refract Surg. 2011;37(12):2115-9 Kara-J·nior N, Jardim JL, de Oliveira Leme E, Dall’Col M, Susanna R Jr. Effect of the AcrySof Natural intraocular lens on blue-yellow perimetry. J Cataract Refract Surg. 2006;32(8):1328-30. Chamon W. [Plagiarism and misconduct in research: where we are and what we can do]. Arq Bras Oftalmol. 2013;76(6):V-VIII. Portuguese. Chamon W. [Fine prints at the bottom of the page]. Arq Bras Oftalmol. 2013;76(3):v-vi. Portuguese. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 133-4 ARTIGO ORIGINAL135 Ultra-high resolution optical coherence tomography analysis of bull’s eye maculopathy in chloroquine users Análise da maculopatia em bull’s eye pela tomografia de coerência óptica de alta resolução em usuários de cloroquina Celso Morita1, Daniel Araujo Ferraz2,3, Thais Zamudio Igami1, Beatriz Sayuri Takahashi1,2, Tiago Faria e Arantes3, Walter Yukihiko Takahashi4 ABSTRACT Purpose: Register and compare anatomical changes, structural and quantitative found in optical coherence tomography Stratus and Topcon 3D in chronic users of chloroquine. Methods: Five patients were diagnosed with toxic “bull’s eye” maculopathy was submitted to macular optical coherence tomography examination (Stratus and Topcon 3D). Results: Both tools demonstrated an increase reflectivity of choriocapillaris unit just foveal retinal pigment epithelium atrophy. However, Topcon 3D provided to all patients better description of the line corresponding to the transition between inner and outer segments of photoreceptors. Using the possibility of assembling threedimensional images and subtraction selective retinal layers, we found a lesion with a target that reflects the greater thickness of retinal pigment epithelium in central and parafoveal region that is matched to preserve macular photoreceptors.Conclusion: it was observed better resolution and faster image capture by Topcon 3D than Stratus OCT, that provided more detailed analysis of the line corresponding to transition between outer and inner segment of photoreceptors in macular region. With Topcon 3D, it was possible to evaluate soundly the thickness of retinal pigment epithelium in central and parafoveal region that caused an increase reflectivity of choriocapillaris creating a image with a target unpublished before. Keywords: Chloroquine/toxicity; Tomography, optical coherence/ instrumentation; Tomography, optical coherence/trends; Tomography, optical coherence/utilization; Retina/drug effects; Retinal diseases/diagnosis RESUMO Objetivo: Comparar e registrar as alterações quantitativas e qualitavivas na tomografia de coerência óptica nos pacientes com uso prolongado de cloroquina. Métodos: Avaliaram-se cinco pacientes com diagnóstico de bull’s eye no exame de tomografia de coerência óptica macular com dois modelos de aparelhos: Stratus e Topcon 3D. Resultados: Ambos aparelhos registraram aumento da refletividade coriocapilar foveal provocada pela atrofia do epitélio pigmentar da retina. Somente o Topcon 3D permitiu melhor visibilização da linha de transição entre o segmento interno e externo dos fotorreceptores. Este aparelho também permitiu a formação de imagens tridimensionais e subtração das camadas retinianas, com registro da diminuição da espessura do epitélio pigmentado da retina na região central e parafoveal macular. Conclusão: Foi possível observar a captação mais rápida e com melhor resolução das imagens geradas pelo Topcon 3D. A diminuição da espessura do epitélio pigmentado da retina, provocando o aumento da refletividade coriocapilar, com a formação de uma imagem linear circular cincundando a fóvea, foi mais detalhado pelos cortes realizados no Topcon 3D. Descritores: Cloroquina/toxicidade; Tomografia de coerência óptica/instrumentação; Tomografia de coerência óptica/tendências; Tomografia de coerência óptica/utilização; Retina/efeitos de drogas; Doenças retinianas/dignóstico Hospital das Clínicas, Universidade de São Paulo (USP) – São Paulo (SP), Brazil; Fundação Altino Ventura – Recife (PE), Brazil. 1,2,4 3 The authors declare no conflict of interest. Received for publication 23/01/2013 - Accepted for publication 23/02/2014 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 135-7 136 Morita C, Ferraz DA, Igami TZ, Takahashi BS, Arantes TF, Takahashi WY INTRODUCTION C hloroquine is an antimalarial drug, prescribed for treatment of amebiasis, systemic lupus eythematous, rheumatoid arthritis and for prophylaxis of malaria. Retinal toxicity with degeneration of neurosensory retina and of retinal pigment epithelium (RPE) as a result of long-term daily use of chloroquine has been well described(1-5). Most of cases of retinal toxicity have developed when higher than currently recommended dose (3,5 mg/Kg/day using lean body weight) was used (6). Paracentral scotoma may be the earliest manifestation of retinal toxicity and may precede the development of any ophthalmoscopic or ERG abnormality(7). Loss of the foveal light reflex and subtle macular pigment stippling may appear before the development of the classic bull’s eye maculopathy, in which a ring of depigmentation surrounded by an area of hyperpigmentation is seen centered on the fovea. Visual acuity decreases when the RPE abnormalities involve the center of the macula. In more severe cases, chloroquine retinopathy develops into the appearance of primary retinal degeneration with narrowed retinal vessels, optic disc pallor and severe visual acuity loss(1-5). In the last few years, the optical coherence tomography (OCT) has been used as non-invasive tool to access the macular anatomical status in many macular diseases(8). Spectral domain OCT (SD OCT) enhances the visualization of intraretinal architectural morphology relative to time domain OCT in many retinal diseases including cases of retinal toxicity(9-13). SD OCT also provides 50-70 times faster data acquisition that enables visualization in entire cubes that can be viewed in three dimensions and also gives a single-layer surface maps of RPE. SD OCT images with 5 microns of transverse resolution also enables better visualization of the inner segment and outer segment (IS/OS) photoreceptor (PR) junction and RPE, leading to a different understanding of pathogenic mechanisms for retinal diseases (10-12). Figure 1: Stratus OCT linear scan with just foveal RPE atrophy METHODS From february 2008 to march 2009, 234 patients, chronic users of chloroquine, were referred to ophthalmologic examination. Of these, five were diagnosed with toxic “bull’s eye” maculopathy. This diagnosis was based on historical chronic use of chloroquine, angiographic and fundus findings. These patients also underwent measurement of visual acuity logMAR in best corrected (on the scale of the Early Treatment Diabetic Retinopathy Study - ETDRS) and macular OCT (Stratus OCT and Topcon 3D OCT). It was considered both eyes of each patient for analysis statistics, except in a patient with macular edema after cataract surgery in one eye. To obtain the images with Stratus OCT version 4.0 (Carl Zeiss Meditec) scans were used Linear 5mm through the fovea in the vertical and horizontal fast retinal map. In Topcon 3D OCT, scans were performed in program linear (cross hair) and maps retinal (retinal map). We compared anatomical changes, structural and quantitative found in OCT Stratus and Topcon 3D. Using these parameters in Topcon 3D OCT, were analyzed three-dimensional maps of the surface of RPE. The Ethics Committee approved the study. RESULTS Demographic data of 5 patients are shown in table 1. Qualitative analysis of images obtained with both devices showed absence of changes in the vitreous-retinal interface in all patients. Foveal depression is present but with angled edges more acute in relation RPE line. Evaluation of neurosensory retina is hampered by a marked decrease in this layer fovea. Both tools demonstrated an increase reflectivity of choriocapillaris by absence of blocking light in caused by just foveal RPE atrophy. However, Topcon 3D OCT provided to all patients better description of the line corresponding to the transition between inner and outer segments of photoreceptors. Both machines devices enabled to detected reduction of macular thickness and volume in 9 eyes examined. Using tridimensional analysis, when part of the neu- Figure 2: Topcon 3D OCT linear scan with just foveal RPE atrophy with the line corresponding to the transition between inner and outer segments of photoreceptors Figure 3: Analyzed three-dimensional map of the surface of RPE with central and paracentral rings show a complex RPE-PR more thinning Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 135-7 137 Ultra-high resolution optical coherence tomography analysis of bull’s eye maculopathy in chloroquine users rosensory retina is subtracted (internal limiting membrane to outer limiting membrane), were observed a novel target in an image where the central and paracentral rings show a complex RPE-PR apparently more thinning (figures 1-3). DISCUSSION Optical coherence tomography has revolutionized the diagnosis and treatment of retinal diseases in last years. Macular thickness decrease using OCT in bull’s eye maculopathy of chloroquine users has been documented in previous studies(13), and was confirmed by both the devices used in this study. In this paper, the better resolution and faster image capture by SD OCT provided more detailed analysis of the line corresponding to transition between outer and inner segment of photoreceptors in macular region. Because of the possibility of assembling threedimensional images and subtraction selective retinal layers, we found an unpublished document, a lesion with a target that reflects the greater thickness of RPE in central and parafoveal region that is matched to preserve macular photoreceptors. It was possible to correlate the areas where the target pattern is less evident with thinning of the neurosensory retina in same location, which may indicate that the pattern observed in RPE target will be the “paid” with disease’s progression. Thus, in near future, a comparative analysis of three-dimensional graphics of RPE may enable the analysis of progression of maculopathy in bull’s eye induced by chloroquine. REFERENCES 1. 2. 3. 4. Hobbs HE, Eadie SP, Somervillle F. Ocular lesions after treatment with chloroquine. Br J Ophthalmol. 1961;45 (4):284-97. Hobbs HE, Sorsby A, Freeman A. Retinopathy following chloroquine therapy. Lancet. 1959;2(7101):478-80. Marks JS. Chloroquine retinopathy: is there a safe daily dose? Ann Rheum Dis. 1982;41(1):52-8. Nylander U. Ocular damage in chloroquine therapy. Acta Ophthalmol. (Copenh).1967:Suppl 92:1-71. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. Okun E, Gouras P, Bernstein H, Von Sallmann L. Chloroquine retinopathy; a report of eight cases with ERG and dark-adaptation findings. Arch Ophthalmol. 1963;69:59-71. Ochsendorf FR, Runne U. Chloroquine: consideration of maximum daily dose (3.5 mg/kg ideal body weight) prevents retinopathy. Dermatology. 1996;192(4):382-3. 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Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 255 – Cerqueira César Zip code: 05403-000, São Paulo (SP), Brazil Phone: 55-11-30697871; fax: 55-(11) 3069-7871 http://www.hcnet.usp.br E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 135-7 ARTIGO ORIGINAL 138 Estudo comparativo entre a técnica manual e a escova rotatória na remoção do epitélio corneano na ceratectomia fotorrefrativa (PRK) Comparative study between manual and brush de-epithelization in photorefractive keratectomy (PRK) Louise Rodrigues Candido1, Gustavo Chagas de Oliveira1, Edmundo José Velasco Martinelli1, Luís Gustavo I. Ribeiro1, Jesse Haroldo de Nigro Corpa1, Cláudio Mitri Pola1, José Ricardo Carvalho Lima Rehder2 RESUMO Objetivo: Comparar a influência de duas técnicas de remoção do epitélio da córnea quanto ao tempo de aplicação, ao conforto intraoperatório, à sintomatologia e à reepitelização no pós-operatório de ceratectomia fotorefrativa (PRK). Métodos: Este estudo prospectivo e randomizado incluíram 58 olhos de 29 pacientes que tiveram ambos os olhos submetidos sequencial e simultaneamente à PRK, sendo que em um dos olhos foi realizado a desepitelização manual com espátula e no outro, a técnica mecanizada com escova rotatória. Resultados: A técnica mais rápida, medida em segundos, foi a escova rotatória (16,4 ± 6,3) em comparação com a manual (35,7 ± 7,6). Não houve diferença entre os métodos quanto ao desconforto referido pelo paciente durante a cirurgia e quanto ao tipo de sintoma referido no pós-operatório (p>0,05). A análise de variância (ANOVA) mostrou que o método da escova estava relacionado a uma maior intensidade de sintomas [F(8,104)=1,5; p<0,05], e o teste post hoc indicou que essa diferença só foi significante (p<0,05) no 2º dia de pós-operatório. Todos os olhos dos 2 grupos apresentaram epitelização corneana completa no 5º dia de pós-operatório. Conclusão: Neste estudo, observou-se que a desepitelização com escova rotatória foi superior à técnica manual unicamente pelo seu menor tempo de aplicação. Comparativamente esteve relacionada a um mesmo nível de desconforto intraoperatório e uma intensidade maior nos sintomas pós-operatórios. Descritores: Erros refrativos; Ceratectomia fotorefrativa; Córnea; Epitélio; Cicatrização de feridas; Período pós-operatório ABSTRACT Objective: To compare the influence of two techniques for corneal epithelial removal in photorefractive keratectomy (PRK) – blunt scrape versus rotary brush – regarding duration of technique application, intraoperative comfort, and reepithelization. Methods: This prospective randomized study included 58 eyes of 29 patients that underwent simultaneous and sequential PRK in both eyes – blunt scrape (scraped group) in one eye and rotary brush (brushed group) in the fellow eye. Results: The faster technique, measured in seconds, was the rotary brush (16.4 ± 6.3) compared to the blunt scrape (35.7 ± 7.6). There was no difference between the methods regarding discomfort reported by the patient during surgery and the type of symptom reported postoperatively (p>0.05). The analysis of variance (ANOVA) showed that the brushed group were related to a greater intensity of symptoms [F (8.104) = 1.5, p<0.05] and post hoc testing indicated that this difference was only significant (p<0.05) on day 2. All eyes of the 2 groups showed complete corneal epithelialization on day 5 postoperatively. Conclusion: In this study, it was found that epithelial removal with rotating brush was superior to manual only by its shorter application. It showed the same level of intraoperative discomfort and determined a greater intensity of symptoms postoperatively. Keywords: Refractive errors; Photorefractive keratectomy; Cornea; Epithelium; Wound healing; Postoperative period I,2 Faculdade de Medicina do ABC – Santo André (SP), Brasil. Certificado de apresentação para apreciação ética - CAAE número 0594.1312.0.0000.0082 (Plataforma Brasil – CEP FMABC) Os autores declaram não haver conflitos de interesses Recebido para publicação em 23/11/2013 - Aceito para publicação em 19/2/2014 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 138-42 Estudo comparativo entre a técnica manual e a escova rotatória na remoção do epitélio corneano na ceratectomia fotorrefrativa (PRK) INTRODUÇÃO A era moderna da cirurgia refrativa teve início em 1983 quando foi introduzido o conceito do uso de um excimer laser para modificar a estrutura da córnea (1) . A ceratectomia fotorrefrativa (PRK – Photorefractive Keratectomy), uma das técnicas mais populares e efetivas para a correção das ametropias, consiste na ablação a laser da superfície anterior do estroma da córnea após uma remoção cuidadosa do epitélio(2). Uma das desvantagens desta técnica é o desconforto ocular pós-operatório associado à desepitelização e à consequente exposição de fibras nervosas corneanas(3), além da liberação de fatores inflamatórios. A dor inicial costuma durar de 12 a 24 horas e é seguida por irritação e lacrimejamento até que o epitélio esteja completamente cicatrizado(4). Na atualidade, os pacientes candidatos à cirurgia refrativa estão cada vez mais exigentes não apenas em relação aos resultados visuais, mas também quanto ao conforto do procedimento e ao tempo de recuperação pós-operatório. Embora muitos oftalmologistas acreditem que a PRK seja uma opção mais segura, o laser in situ keratomileusis (LASIK) ainda hoje é a cirurgia refrativa mais realizada no mundo(5). O incômodo ocular referido pelos pacientes no pós-operatório de PRK apesar de todo o arsenal analgésico disponível e o maior tempo para recuperação visual continuam sendo um desafio para o cirurgião, que muitas vezes opta pelo LASIK para contornar estes inconvenientes(6). Muitas modificações na técnica manual convencional foram realizadas na tentativa de diminuir a dor e acelerar a recuperação epitelial pós-operatória, a maioria delas alterando a forma como o epitélio é removido(7): desepitelização mecânica com escova rotatória(8,9), ablação transepitelial com laser(6,10) e desepitelização com álcool(11-13). O objetivo deste estudo foi avaliar a influência de duas técnicas de remoção do epitélio da córnea – a manual com espátula e a escova rotatória – em diversos momentos da cirurgia de PRK. Este é um dos poucos trabalhos na literatura que avalia, além do tempo de reepitelização e o conforto pós-operatório, o desconforto intraoperatório, comparando as duas técnicas. MÉTODOS Este estudo prospectivo e randomizado incluiu pacientes do Setor de Cirurgia Refrativa do Instituto de Olhos da Disciplina de Oftalmologia da Faculdade de Medicina do ABC opera- Figura 1: Desepitelização manual com bisturi crescente reto de pontas rombas (Alcon, Brasil) 139 dos no centro conveniado de cirurgia a laser do Centro Oftalmológico Laser Ocular ABC, Santo André (SP), Brasil. Participaram da amostra pacientes com indicação de PRK, de ambos os sexos, com idade entre 21 a 45 anos e que apresentavam ametropias semelhantes ou muito próximas em ambos os olhos. Critérios de exclusão: ametropias pré-operatórias com diferença maior que uma dioptria e meia de equivalente esférico entre um olho e o contralateral; não comparecimento aos retornos programados; intercorrências intraoperatória ou pós-operatória. Imediatamente antes da cirurgia, foi realizado um sorteio para definir qual o primeiro olho a ser operado e qual técnica seria aplicada em cada olho. Como a comparação entre as técnicas dependia de uma avaliação subjetiva dos sintomas fornecida pelo paciente, este foi mascarado para o tipo de desepitelização realizada. O projeto recebeu a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina do ABC e todos os procedimentos foram realizados de acordo com os preceitos da Declaração de Helsinki. A participação dos pacientes foi voluntária e todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido após receberem orientações detalhadas sobre a pesquisa. Na avaliação pré-operatória foram realizados os exames de acuidade visual, refração dinâmica e estática, biomicroscopia na lâmpada de fenda, tonometria de aplanação, paquimetria ultrassônica, tomografia de córnea e mapeamento de retina. Nesta e em todas as avaliações subsequentes os pacientes foram examinados sempre por um dos oftalmologistas autores deste estudo. Procedimento cirúrgico As cirurgias foram realizadas sob anestesia tópica com duas gotas de cloridrato de proximetacaína 0,5% (Anestalcon ®, Alcon). Um marcador de zona óptica de 9mm foi usado para demarcar a área a ser desepitelizada. Cada paciente teve ambos os olhos submetidos sequencial e simultaneamente à cirurgia de PRK com o excimer laser Allegretto WaveLight Eye-Q 400 Hz. Em um dos olhos foi realizada a desepitelização manual com bisturi crescente reto de pontas rombas (Alcon, Brasil) (figura 1) e no outro, a técnica mecanizada com escova rotatória de 9mm (Amoils Rotatory Epithelial Scrubber da Innovative Excimer Solutions, Inc., Toronto, Canada) (figura 2), seguindo a técnica de uso orientada pelo fabricante. Todas as cirurgias foram realizadas pelo mesmo cirurgião, com bastante experiência neste tipo de cirurgia refrativa. Mitomicina C a 0,02% foi aplicada durante 30 segundos em todos os olhos após a ablação usando-se um marcador de Figura 2: Desepitelização mecanizada com escova rotatória de 9 mm (Amoils Rotatory Epithelial Scrubber da Innovative Excimer Solutions, Inc., Toronto, Canada) Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 138-42 140 Candido LR, Oliveira GC, Martinelli EJV, Ribeiro LGI, Corpa JHN, Pola CM, Rehder JRCL (homogeneidade de variância, normalidade e ausência de valores extremos), seguidos por análise de variância (ANOVA) adequada e um pós-teste (post hoc). O teste realizado para comparar a frequência dos sintomas foi o Qui-quadrado. Figura 3: Escala analógica visual zona óptica de 6mm de perfil alto. Solução salina balanceada congelada em hastes com esponja de PVC (álcool polivinílico) foi usada como coadjuvante na analgesia, sendo aplicada por 10 segundos, antes e logo após a fotoablação, Ao final da cirurgia todos os olhos receberam uma gota de moxifloxacino 0,5% (Vigamox ®, Alcon) e de acetato de prednisolona 1% (Falcon Genéricos, Alcon) e foram colocadas lentes de contato terapêuticas hidrofílicas. Tratamento pós-operatório Os pacientes foram instruídos a aplicar os mesmos colírios nos dois olhos no pós-operatório: moxifloxacino 0,5%, uma gota três vezes ao dia por sete dias; nepafenaco 0,1% (Nevanac®, Alcon), uma gota três vezes ao dia por quatro dias; acetato de fluormetolona 0,001g (Florate®, Alcon), uma gota quatro vezes ao dia por três semanas e carmelose sódica 0,5% (Fresh Tears®, Allergan), uma gota seis vezes ao dia por dois meses. Os pacientes foram examinados no primeiro e no quinto dias do pós-operatório. Avaliação dos tempos cirúrgicos de cada técnica Os tempos cirúrgicos para a realização de cada técnica de desepitelização foram cronometrados. A contagem de tempo medida em segundos ocorreu somente durante o período de desepitelização. Avaliação do desconforto intraoperatório Durante a cirurgia, logo após a desepitelização do segundo olho, se solicitou ao paciente que desse uma nota de 0 a 10 de acordo com seu critério para o desconforto sentido durante a realização dos procedimentos em cada olho. Foi orientado a considerar a nota 0 como ausência e 10 como máximo de desconforto. Questionários de sintomas pós-operatórios No primeiro dia de pós-PRK o paciente foi questionado pelo oftalmologista sobre o sintoma mais importante apresentado em cada olho e sua intensidade foi medida por meio de uma escala analógica visual (figura 3), que corresponde a uma linha de 10cm contendo um marcador móvel que quantifica os sintomas entre 0 a 10 pontos(14). O paciente foi orientado que o 0 representava ausência de sintomas e o 10 intensidade máxima do mesmo e foi solicitado ao paciente que deslizasse a marca até o ponto que considerava compatível com a intensidade de seu sintoma para cada olho. Ao final do segundo e terceiro dias de pós-operatório e sempre no mesmo horário, cada paciente anotou em folheto entregue na primeira consulta pós-operatória a intensidade do sintoma em cada olho. No 5º dia pós-PRK, o paciente retornou para avaliação da cicatrização corneana e registro das informações anotadas em casa. Análise estatística Para a análise dos dados foi utilizado o programa IBM SPSS 19. Foi realizada uma análise estatística quantitativa dos resultados: testes para verificar se os dados foram paramétricos Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 138-42 RESULTADOS Trinta e três pacientes preencheram os critérios para a participação no estudo, porém foram contabilizadas quatro perdas, restando um total de 58 olhos de 29 pacientes para análise dos dados. Das quatro exclusões, três foram devido à queda da lente de contato terapêutica antes do quinto dia de pós-operatório e uma devido ao não comparecimento para consulta no período estipulado. Análises intraoperatórias A técnica mais rápida foi a escova rotatória com tempo cirúrgico mínimo de nove e máximo de 38 segundos (16,4±6,3) em comparação a manual com tempos de 17 e 51 segundos, respectivamente (35,7±7,6) e essa diferença foi estatisticamente significante [t(46) = -9,5; p=0,00]. Quando comparamos o desconforto referido pelo paciente durante a cirurgia, os dois grupos não apresentaram diferença estatisticamente significante [t(56) = 0,9; p=0,37)]. Análise pós-operatória O sintoma referido como o mais importante apresentado no primeiro dia de pós-PRK foi sempre o mesmo nos dois olhos, com exceção de dois pacientes que negaram qualquer tipo de sintoma no olho em que foi realizada a técnica manual (tabela 1). Nenhum paciente mencionou dor como sintoma. Sensação de areia e ardência foram os sintomas mais comumente referidos nos dois grupos e significativamente (p<0,05) mais frequentes do que os demais sintomas. Não houve diferença entre os métodos quanto ao tipo de sintoma referido no pós-operatório (p>0,05). A figura 4 mostra o score sintomatológico fornecido pela aplicação da escala analógica subjetiva visual nos dois grupos. A análise de variância (ANOVA) mostrou que o método da escova apresentou maior intensidade de sintomas quando comparado com a técnica manual [F(8,104)=1,5; p<0,05], e o teste post hoc mostrou que essa diferença só foi significante (p<0,05) no 2º Figura 4: Score sintomatológico fornecido pela aplicação da escala analógica subjetiva visual após desepitelização manual e com escova rotatória Estudo comparativo entre a técnica manual e a escova rotatória na remoção do epitélio corneano na ceratectomia fotorrefrativa (PRK) 141 Tabela 1 Tipo de sintoma mais importante referido na desepitelização manual e com escova rotatória Sintoma Manual Sensação de areia Ardência Pontada Fotofobia Incômodo Total Escova N % N % 11 10 3 2 1 27 40,7 37 11,1 7,4 3,7 100 12 10 4 2 1 29 41,4 34,5 13,8 6,9 3,4 100 Tabela 2 Avaliação subjetiva dos sintomas pós-operatórios na desepitelização manual e com escova rotatória 1º PO Média DP Valor de P 2º PO 3º PO Manual Escova Manual Escova Manual Escova 2,38 2,23 3,31 3,31 2,17 2,11 3,38 2,58 1,72 2,03 2,52 2,10 0,13 0,06 0,15 PO = pós-operatório; DP = desvio padrão dia de pós-operatório (tabela 2). Todos os olhos dos 2 grupos apresentaram epitelização corneana completa no 5º dia de pós-operatório e as lentes de contato foram retiradas neste dia. DISCUSSÃO O presente estudo fez uma comparação entre a desepitelização manual com espátula e a escova rotatória na cirurgia de PRK. Este é um dos poucos trabalhos na literatura que avalia, além do tempo de reepitelização e o conforto pósoperatório, o desconforto intraoperatório, comparando as duas técnicas. Pallikaris et al.(15) demonstraram, em 1994, que o uso da escova rotatória para remoção do epitélio foi mais rápido do que a técnica manual e estudos posteriores mostraram que esta técnica é segura e efetiva (8,9,16) . No presente estudo a desepitelização foi mais rápida no grupo da escova rotatória e os olhos operados por esta técnica apresentaram o mesmo nível de desconforto da técnica manual durante a cirurgia. Corpa et al.(13) apontaram, em um estudo que comparou as técnicas de desepitelização manual com e sem o uso de álcool diluído, que os sintomas pós-operatórios mais frequentemente encontrados nos dois grupos foram a sensação de areia e a ardência. O presente estudo detectou resultados muito semelhantes quanto ao tipo de sintomatologia pós-PRK nas técnicas comparadas. Na PRK a fotoablação atinge os nervos do plexo sub-basal e do estroma anterior da córnea, deixando fibras nervosas abruptamente cortadas expostas na base e margem da ferida(17). As citocinas e o fator de crescimento neural (NGF) liberados após injúria também podem sensibilizar os nervos, diminuindo o limiar para excitação(4,18). Muitas modificações na técnica manual convencional foram realizadas na tentativa de diminuir a dor e acelerar a recuperação epitelial pós-operatória, a maioria delas alterando a forma como o epitélio é removido(7). Chang et al.(19) observou que a desepitelização mecânica aumentou mais a resposta às citocinas inflamatórias e a expressão do gene TGF-beta 1 em comparação com a remoção com etanol. Em contrapartida, estudos recentes mostraram que o uso de etanol no PRK gera mais sintomas pós-operatórios do que a técnica manual provavelmente por toxicidade causada pelo álcool(3,13). Um estudo de 2012 provou que usar escova rotatória gera significantemente mais dor no pós-operatório de PRK em comparação com o “ephitelial-laser in situ keratomileusis” (epi-LASIK) com remoção do flap(20). Já foi sugerido que escova rotatória provoca o esmagamento das células epiteliais e, como consequência, liberam mais citocinas pró-inflamatórias no sítio cirúrgico (21). No presente estudo, houve maior intensidade de sintomas nos olhos submetidos à desepitelização com escova rotatória. Weiss et al.(22) analisaram imagens de microscopia eletrônica de córneas de coelhos submetidas a diferentes métodos de desepitelização e concluíram que tanto os métodos de remoção com álcool, escova rotatória ou laser eram superiores à desepitelização mecânica com espátula por produzirem uma superfície mais lisa e uniforme no estroma anterior da córnea. A superfície mais irregular provocada pela desepitelização manual com espátula dificulta a cicatrização do epitélio. Em um estudo comparativo de diferentes técnicas de remoção do epitélio na PRK, Griffith et al.(16) concluíram que o método da escova rotatória apresentava regeneração do epitélio mais rápida do que a remoção manual. No presente estudo, todos os olhos foram avaliados somente no 5º dia de pós-operatório, e todos apresentaRev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 138-42 142 Candido LR, Oliveira GC, Martinelli EJV, Ribeiro LGI, Corpa JHN, Pola CM, Rehder JRCL ram o processo de epitelização completo nessa data. Este estudo falhou em não fazer uma avaliação diária do processo cicatricial do epitélio corneano, que seria uma forma mais adequada de se analisar uma possível interferência de uma reepitelização mais demorada nos sintomas pós-operatórios. Seria interessante comparar, através de novos trabalhos, a resposta inflamatória após os diferentes tipos de remoção do epitélio na PRK o que permitiria esclarecer o nível e as causas do desconforto pós-operatório em cada uma delas, auxiliando o cirurgião a escolher a técnica mais confortável para seu paciente. CONCLUSÃO Neste estudo, observou-se que a desepitelização com escova rotatória foi superior à manual unicamente pelo seu menor tempo de aplicação. Comparativamente apresentou o mesmo nível de desconforto intraoperatório e determinou uma intensidade maior nos sintomas pós-operatórios. REFERÊNCIAS 1. Trokel SL, Srinivasan R, Braren B. Excimer laser surgery of the cornea. Am J Ophthalmol. 1983;96(6):710-5. 2. Carones F, Fiore T, Brancato R. 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Scanning electron microscopy comparison of corneal epithelial removal techniques before photorefractive keratectomy. J Cataract Refract Surg. 1999;25(8):1093-6. Autor correspondente: Louise Rodrigues Candido Av. Príncipe de Gales, nº 821 – Príncipe de Gales CEP 09060-650 – Santo André - (SP), Brasil Tel: (11) 4993-7242 E-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL143 Avaliação da satisfação profissional de funcionários em um hospital público de reconhecida efetividade assistencial Evaluation of job satisfaction of employees of a public hospital care recognized effectiveness Maria Cecilia Machado1, Rosane Castro Silvestre2, Newton Kara-José3, Newton Kara-Júnior4 RESUMO Objetivo: Avaliar a satisfação no trabalho de profissionais não médicos, a fim de identificar possíveis falhas do serviço e propor modificações para melhoria. Métodos: Foi realizado um estudo transversal e descritivo com 14 funcionários do Centro Oftalmológico no Hospital Regional de Divinolândia, São Paulo. Utilizou-se como instrumento de pesquisa, um questionário autoaplicável desenvolvido pelos autores. Os dados coletados foram tabulados e apresentados na forma de tabelas. Resultados: Relataram ótimo nível de satisfação com o trabalho desempenhado (71,4%). O fator que mais agradou os funcionários no ambiente de trabalho foi o bom relacionamento com os colegas (35,6%). Consideraram como sendo ótimo o relacionamento com a equipe médica e com os pacientes (71,4%). Referiram como fator mais desagradável o fato de o espaço físico ser muito pequeno (35,7%). A maioria dos funcionários (64,3%) trabalhava na instituição há mais de 10 anos. Conclusão: Encontrou-se elevado grau de satisfação dos funcionários com a instituição, com a equipe médica e com os pacientes. Descritores: Satisfação no emprego; Equipe de assistência ao paciente; Ambiente de trabalho ABSTRACT Objective: To evaluate job satisfaction of non-medical professionals in order to identify potential service failures and propose changes for improvements. Methods: A cross-sectional, descriptive study of 14 employees in the Ophthalmologic Center Divinolândia Regional Hospital in São Paulo state. Was used as a research tool, a self-administered questionnaire developed by the authors. The collected data were tabulated and presented in tables. Results: Reported great satisfaction with the work performed (71,4%). The factor that most pleased the employees in the workplace was the good relationship with colleagues (35.6 %). Considered as great the relationship with the medical staff and the patients (71,4%). Mentioned as the most unpleasant factor in the workplace, the fact that the physical space is very small (35.7%). Most employees (64.3 %) worked in the institution for more than 10 years. Conclusion: We found a high satisfactory degree of employee satisfaction with the institution, with medical staff and patients. Keywords: Job satisfaction; Patient care team; Work environment. Centro Oftalmológico de Divinolândia – Divinolândia (SP), Brasil; Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – Campinas (SP), Brasil; 3 Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – Campinas (SP); Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil; 4 Hospital Sírio Libanês, São Paulo (SP), Brasil. 1 2 Hospital Regional de Divinolândia; Hospital Sírio Libanês, São Paulo, SP, Brasil. Os autores declaram não haver conflitos de interesses Recebido para publicação em 30/7/2013 - Aceito para publicação em 19/2/2014 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 143-7 144 Machado MC, Silvestre RC, Kara-José N, Kara-Júnior N INTRODUÇÃO P or muito tempo o significado do trabalho foi associado a sacrifício. A concepção de trabalho como fonte de autorrealização surgiu à época do Renascimento(1), quando o trabalho passou a ser uma oportunidade de criação, realização, crescimento pessoal, possibilidade de o homem construir a si mesmo e marcar sua existência no mundo(2). O trabalho precisa estar integrado à vida, ter um sentido, e não pode se restringir a ser apenas um meio de sobrevivência. O indivíduo que tem a possibilidade de realizar seus planos e projetos no trabalho, investe no bom relacionamento, não só com seus pares, mas também com a equipe médica e os pacientes, elevando assim, o padrão de qualidade no atendimento(2) . Em instituições públicas promotoras de saúde, especialmente em países em desenvolvimento, a identificação e o engajamento dos profissionais com o trabalho é particularmente importante, uma vez que os usuários destes serviços, em geral, são pessoas de baixa renda, baixa escolaridade, que superaram obstáculos logísticos para conseguir acesso ao tratamento, e são ainda vulneráveis pela doença a ser tratada(3). Esta é a realidade do Centro Oftalmológico do Hospital Regional de Divinolândia, que mantém convênio com o serviço de oftalmologia da Universidade Estadual de Campinas, e oferece atendimento gratuito, clínico e cirúrgico para os usuários do SUS de dezesseis municípios da região de São João da Boa Vista (490 mil habitantes)(4). Avaliações anteriores o Centro Oftalmológico de Divinolândia foram realizadas. Em 2011, foi considerado pelos usuários como sendo um dos melhores serviços públicos de saúde do estado de São Paulo e em 2006, gestores de saúde e pacientes classificaram o atendimento médico e da equipe de enfermagem como sendo ótimos(5). Esse resultado é particularmente importante pois no caso de serviços oftalmológicos, a vulnerabilidade do paciente muitas vezes é potencializada pela idade avançada, pelo medo de perder a visão e pela dependência de acompanhantes para comparecer à consulta, o que afeta em muito o paciente(6-8). Neste contexto, acredita-se que a existência de um ambiente em que os profissionais de saúde (administrativos, de apoio e médicos) estejam satisfeitos com as condições laborais, sejam motivados e se identifiquem com o real sentido de seu trabalho, possam contribuir positivamente para o sucesso na aceitação e na adesão dos pacientes ao tratamento(4). O objetivo deste estudo é avaliar a satisfação no trabalho dos profissionais não médicos no Centro Oftalmológico de um hospital público, a fim de identificar possíveis falhas do serviço e propor mudanças para melhorar o atendimento ao usuário. MÉTODOS Foi realizado estudo transversal e descritivo no Centro Oftalmológico Prof. Dr. Newton Kara-José, do Hospital Regional de Divinolândia, Divinolândia - São Paulo. A amostra compôs-se de 14 funcionários de enfermagem e administração, que concordaram em participar do estudo e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. O instrumento de pesquisa foi um questionário, elaborado pelos autores, com questões fechadas, de múltipla escolha, autoaplicável, que visava estimar o nível de satisfação dos funcionários com o local de trabalho, colegas e equipe médica. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 143-7 Os dados foram coletados na semana de 14 a 18 de junho de 2010. Os funcionários, os quais não eram identificados, não foram coagidos e nem obrigados a responder a todas as questões. Os resultados foram inseridos em um banco de dados e as respostas tabuladas. A média aritmética das questões de cada bloco apurou o índice daquela dimensão. Esta pesquisa foi aprovada pela Comissão de Ética em Pesquisa da UNICAMP – Projeto de Pesquisa nº 520/2006 e do Conderg-Projeto de Pesquisa nº 002/2010. RESULTADOS A maioria dos funcionários (64,3%) trabalhava no Centro Oftalmológico Prof. Dr. Newton Kara-José do Hospital de Divinolândia há mais de 10 anos (tabela 1), sendo que para 42,8% este é o primeiro emprego. Com relação ao nível de satisfação com o trabalho desempenhado, todos entrevistados que responderam referiram bom ou ótimo nível de satisfação (tabela 2). Quando questionados sobre o que mais lhe agradava no ambiente de trabalho, o bom relacionamento entre os membros da equipe foi o item mais apontado (tabela 3). Quanto aos fatores negativos no ambiente de trabalho, o item menos favorável foi a dimensão do espaço físico (tabela 4). Todos os funcionários referiram ter bom ou ótimo nível de relacionamento com os pacientes Centro Oftalmológico(tabela 5). Em relação ao sentimento de preocupação com o sofrimento dos usuários, todos os funcionários declararam compreender o sofrimento dos pacientes.(tabela 6). Todos os funcionários referiram ter bom ou ótimo nível relacionamento com a equipe médica (tabela 7). Em sua totalidade, os funcionários Centro Oftalmológico classificaram como ótima a qualidade dos serviços prestados pelo hospital e o recomendariam para parentes e amigos (tabela 8). DISCUSSÃO A fase áurea da realização individual com o trabalho foi na época da produção artesanal, quando o trabalhador acompanhava e interferia em todas as etapas da produção, existindo grande identificação com o produto final. Com a revolução industrial e a disposição dos consumidores por aceitar produtos fabricados em série sem nenhuma diferenciação, a emoção deixou o local de trabalho. Foram estabelecidos horários para chegar e para sair da fábrica, tempo pré-determinado para executar tarefas, monitoramento do tempo livre e controle das formas de lazer para que não interferissem na disposição do operário. Na década de 1980, muitas empresas dividiram-se em grupos por diferentes partes do mundo, em uma relação de terceirização ou subcontratação, foi a fase do capitalismo flexível, em que desapareceram os empregos permanentes e cresceu a precarização e a instabilidade do trabalho(2). Apesar de o trabalho ser o centro da vida da grande maioria das pessoas, é crescente o número de trabalhadores que não reconhecem a esfera profissional como um espaço de realização, de reconhecimento, de poder ser útil à sociedade. Embora exista uma minoria de trabalhadores atuando em funções que permitem envolvimento e identificação, há um grande grupo que trabalha apenas por necessidade financeira, que trocaria facilmente de atividade profissional. Para estes, o trabalho não é um Avaliação da satisfação profissional de funcionários em um hospital público de reconhecida efetividade assistencial Anos % N Tabela 1 Tabela 6 Tempo de serviço dos funcionários Compreensão das dificuldades e do sofrimento dos pacientes 3 4 6 11 13 15 17 23 14,2 22 14,2 2 7,1 1 14,2 2 7,1 1 7,1 1 7,1 1 28,5 4 145 (n=14) Avaliação n % Muito Pouco Nenhuma 13 01 92,85 7,14 Tabela 2 Tabela 7 Nível de satisfação com o trabalho desempenhado Nível de relacionamento com a equipe m[edica (n=14) Avaliação n % Ruim Regular Bom Ótimo 0 0 4 10 0 0 28,5 71,4 (n = 14) Avaliação n % Ruim Regular Bom Ótimo 0 0 4 10 0 0 28,5 71,4 Tabela 3 Tabela 8 Fatores que mais agradam em relação ao ambiente de trabalho (n = 14) Fatores n O bom relacionamento entre os componentes da equipe O sentimento de união O ambiente de trabalho Poder ajudar ao próximo % 05 04 02 03 35,6 28,5 14,2 21,4 Tabela 4 Fatores que mais desagradam no ambiente de trabalho (n = 14) Fatores n % Nada desagrada O espaço físico muito pequeno Falta de coleguismo 8 5 1 57,1 35,7 7,1 Tabela 5 Avaliação do relacionamento de funcionários com os pacientes (n = 14) Avaliação n % Ruim Regular Bom Ótimo 0 0 4 10 0 0 28,5 71,4 Opinião dos funcionários referente à recomentação do serviço para os seus parentes e amigos (n = 14) Recomendação do serviço n % Sim Não 14 0 100 0 fim em si mesmo, é exclusivamente um meio para alcançar outros objetivos(2,9,10). Frederick Herzberg desenvolveu uma teoria que identifica quais as consequências de determinados tipos de acontecimentos na vida do profissional, visando determinar os fatores que os levam a se sentirem satisfeitos ou não no trabalho. O autor concluiu que a satisfação e a insatisfação no trabalho decorrem de dois conjuntos de fatores. Os fatores extrínsecos, que abrangem as condições de trabalho, como por exemplo, salário, tipo de chefia ou supervisão, condições físicas e ambientais, políticas e diretrizes da empresa, clima de relações entre a empresa e os funcionários, regulamentos internos, etc. Quando os fatores extrínsecos são ótimos, eles apenas evitam a insatisfação. Por outro lado, os fatores intrínsecos (de motivação) estão relacionados ao conteúdo do cargo, com a natureza das tarefas que o indivíduo executa e com as recompensas ao desempenho profissional. Esses fatores motivacionais estão sobre o controle do indivíduo, pois estão relacionados a como ele percebe aquilo que ele faz. Os fatores motivacionais envolvem os sentimentos de crescimento individual, de responsabilidade, de reconhecimento profissional(11). Na área da saúde, o Brasil passa por uma fase de transformação de exigências dos consumidores, que já não se contentam apenas com o fato de serem atendidos pelo médico, exigindo que o Sistema de Saúde se responsabilize também pelos resultados da intervenção, o que implica orientação sobre o problema, conduta e prognóstico, além de criar condições Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 143-7 146 Machado MC, Silvestre RC, Kara-José N, Kara-Júnior N para aderência ao tratamento. Considera-se que o principal objetivo das unidades prestadoras de saúde é o de oferecer serviços com a melhor qualidade possível, sendo que para avaliação do desempenho existem alguns indicadores baseados na avaliação do reconhecimento do que está sendo feito e da aceitação por parte do usuário(12,13). A partir dos trabalhos de Donabedian, 1997, a comunidade médica internacional passou a considerar a importância da satisfação dos usuários do Sistema de Saúde(14). Considera-se que informações sobre motivação dos trabalhadores, clima e cultura organizacional, possibilitam a correção de possíveis desvios e falhas do serviço, permitindo atender melhor à demanda interna e externa da organização e assegurar a satisfação dos trabalhadores por meio de uma melhor qualidade de vida no trabalho(15). O reconhecimento público da qualidade do serviço do CONDERG pode ser atestado pelo fato do Hospital de Divinolândia ter recebido os valiosos e concorridos prêmios baseados em avaliação dos usuários do Ministério e da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, por serviços prestados(6). Tendo em vista o valor do CentroOftalmológico do Hospital Regional de Divinolândia para a promoção da saúde oftalmológica na região de São João da Boa Vista, esta pesquisa estimou a percepção com o valor positivo do trabalho entre seus profissionais, com vistas à saúde mental do trabalhador e seu possível impacto na prestação de serviços, embasado nas variáveis estudadas na teoria de Frederick Herzberg(11). Os funcionários do hospital de Divinolândia (64,5%) estão há mais de 10 anos no serviço, sendo que este é o primeiro emprego para 42,8%. A estabilidade no trabalho favorece a identificação com a missão da instituição. Segundo Kramer et al.(16), a longa permanência no emprego permite o desenvolvimento de relações mais sólidas e duradouras com a empresa, criando comprometimento e respeito mútuos. A avaliação sugere haver espírito de solidariedade entre os funcionários, identificados pela ausência de desavenças graves, e a existência de relações de amizade fora do ambiente de trabalho. Todos os funcionários se consideraram satisfeitos com o trabalho executado e com seu resultado final. O fato de o indivíduo ter uma atividade laboral não lhe garante por si só realização profissional e pessoal. O trabalho jamais é neutro, ou joga a favor da saúde do trabalhador ou, pelo contrário, contribui para sua desestabilização(17). Portanto, a organização do trabalho e o modo de gestão a que estão submetidos os trabalhadores, exercem influência na maneira de trabalhar e de ser do sujeito, afetando-o física e psiquicamente(18). Para um terço dos funcionários o espaço físico muito pequeno foi o principal fator de insatisfação. Em sua teoria de fatores de satisfação e insatisfação de trabalhadores, Herzberg salienta a importância das condições físicas e ambientais do trabalho(11). O reconhecimento deste fator negativo foi determinante para a construção de um novo centro oftalmológico, com área útil de 1.100 metros quadrados já em funcionamento. Nenhum dos respondentes citou a remuneração como fator de descontentamento, apesar da restrição que os serviços públicos apresentam nesta questão. Herzberg situa o salário como fator extrínseco na avaliação de contentamento do trabalhador e ressalta os fatores intrínsecos como os mais determinantes na manutenção de satisfação(11). Todos os funcionários consideraram como o bom relacionamento, o sentimento de equipe (de pertencer ao grupo), a autossatisfação sobre o desempenho de suas funções, a facilitação de acesso ao superior direto, a consideração dada a suas propostas de melhoria do serviço, os principais fatores do sentimento de ser prestigiado pela instituição. Estas ações oferecem Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 143-7 condições para que os trabalhadores criem vínculos organizacionais. O serviço tem um programa de aulas de educação continuada, os funcionários participam de congressos de oftalmologia e administração, além de reunião coletiva mensal com a participação da chefia. Conhecer o grau de satisfação dos funcionários é fundamental para a produtividade e qualidade do produto de uma empresa. Para Siqueira et al., visando ao sucesso, as empresas modernas buscam valorizar os recursos humanos, que constituem seu principal patrimônio. Também estão desenvolvendo a consciência da necessidade de investir em treinamento e qualidade de vida no trabalho, pois, para se inserir de forma vantajosa no mundo globalizado, faz-se necessário manter funcionários saudáveis, motivados e qualificados (19). O estudo evidenciou que os funcionários consideram como sendo ótimo o relacionamento com os pacientes e se solidarizaram com o seu sofrimento, acarretando maior humanização do atendimento . No centro oftalmológico, a ótima relação entre os funcionários e a equipe médica, é particularmente importante, pois o médico trabalha com uma equipe de auxiliares em todas as etapas do atendimento. Na dinâmica do atendimento em Divinolândia o médico trabalha em todas as etapas com auxiliares de oftalmologia especialmente treinadas. Assim, as auxiliares realizam a pré-consulta (anamnese, medem a acuidade visual, a pressão intraocular de não-contato), durante o atendimento médico (revisão da anamnese, refração e demais exames, auxiliam no deslocamento do paciente e anotam o resultado dos exames), na pós-consulta reforçam a orientação dada pelo médico e nos casos em que o paciente e/ou acompanhante ainda manifestem dúvidas, recorrem a nova intervenção do especialista. Na tabela 7, vemos que o os funcionários consideram o seu relacionamento com os médicos como ótimo, o que é indispensável para alcançar eficácia do serviço. Os funcionários consideram o atendimento como bom e o recomendariam para parentes e amigos (tabela 8). A sensação de poder ajudar ao próximo com seu labor revela comprometimento com a qualidade do atendimento ao público. Todos os funcionários consideraram o produto da instituição bom ou muito bom para a comunidade. Os relatos dos funcionários sobre os motivos de satisfação com o emprego estão entre os principais encontrados por Herzberg(11) na sua classificação de motivos internos, o sentimento de equipe, o bom relacionamento e o ambiente de trabalho saudável. As características organizacionais influenciam no comportamento dos indivíduos e por sua vez são influenciadas pelas maneiras de pensar e sentir dos seus participantes. Sugerindo assim, que a motivação dos funcionários possa ter influência sobre a qualidade da prestação de serviços e consequentemente na percepção favorável dos usuários(20). A avaliação da percepção dos funcionários administrativos e de saúde do centro oftalmológico revelou alto grau de satisfação nos diferentes aspectos do serviço. O Centro Oftalmológico Prof. Dr. Newton Kara-José desenvolveu um modelo funcional que procura o aperfeiçoamento continuado, visando alcançar a qualidade total. Considera-se que a proposta do serviço, de oferecer um atendimento de alto padrão para os usuários do SUS e complementação do estágio para médicos residentes da Unicamp, não poderia ser alcançada sem que fosse obtida a satisfação de todos os envolvidos, desde prefeitos municipais, gestores e secretários de saúde até os usuários, médicos, e toda a equipe de saúde e administrativa(4). A teoria da hierarquia da necessidade de Abraham Maslow Avaliação da satisfação profissional de funcionários em um hospital público de reconhecida efetividade assistencial é um dos modelos mais divulgados no estudo da ciência do comportamento humano. Segundo ele, à medida que as necessidades primitivas (fisiológicas e de segurança), tais como alimento, abrigo e proteção, vão sendo satisfeitas, outras mais complexas vão tomando o seu lugar: necessidades sociais de proximidade, de relacionamento com as outras pessoas. E em um nível superior, a necessidade de estima, de reconhecimento por aquilo que fazemos. Finalmente, existe dentro de cada de um de nós a necessidade de autorrealização, sentimento interior de realização do seu próprio potencial(21). Os fatores relacionados com o grau de satisfação, relacionamento com os colegas, ambiente de trabalho saudável, avaliação da eficácia do seu trabalho e do grupo, além do reconhecimento pelos pacientes foram todos avaliados como bom e ótimo. Essa experiência de 25 anos constitui um modelo a ser considerado para os serviços de atendimento público do país. CONCLUSÃO 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. Dentro das condições deste estudo o Centro Oftalmológico desenvolveu um modelo de atendimento de serviço público para os usuários do SUS, que obteve um alto de grau de satisfação dos funcionários envolvidos. 15. REFERÊNCIAS 17. 1. 2. 3. 4. 5. 6. Albornoz S. O que é trabalho. 6a ed. São Paulo: Brasiliense; 1994. Ribeiro CV, Léda DB. [The meaning of work in time of productive reorganization]. Estud Pesqui Psicol. 2004;4(2):76-83. Portuguese. 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É notável a diferença entre os percentuais e o ordenamento das principais causas de transplante achadas neste levantamento, todos por comprovação histopatológica dos diagnósticos, e as citadas em bibliografia encontradas em Sorocaba, Porto Alegre, Florianópolis, Manaus e Recife baseadas apenas no levantamento dos prontuários clínicos. Descritores: Córnea/patologia; Transplante de córnea/estatística & dados numéricos; Transplante de córnea/epidemiologia ABSTRACT Four hundred and thirty one cornea from transplant receptors in Rio de Janeiro were analised, most of them received from Banco de Olhos, associated to Brazilian Society of Ophtalmology (SBO) and from Rio-transplante, after temporary closing of Banco de Olhos. There is a markable difference between the percentual and incidence from the most important causes founded in this work, all of them prooved by histopathology, and the causes reported in bibliography at Sorocaba, Porto Alegre, Florianópolis, Manaus and Recife, based only in clinical archives. Keywords: Cornea/pathology; Corneal transplantation/estatistics & numerical data; Corneal transplantation/epidemiology 1 Faculdade de Ciências Médica da Universidade Estadual do Rio Janeiro (UERJ) – Rio Janeiro (RJ), Brasil. Trabalho realizado no Departamento de Patologia e Laboratórios da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil Os autores declaram não haver conflitos de interesses Recebido para publicação em 12/2/2013 - Aceito para publicação em 26/2/2014 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 148-53 Achados histopatológicos em 431 córneas de receptores de transplantes no Rio de Janeiro 149 INTRODUÇÃO E m 1995 foi criado o Banco de Olhos da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO) destinado à recepção e distribuição de córneas para transplante. Em 2007, a Central Estadual de Transplantes da Secretaria de Estado da Saúde (CNCDO-RJ/SES) assumiu o controle do Banco de Olhos depois de quase um ano de interrupção da sua atividade, por determinação do Serviço de Vigilância Sanitária. A indicação e ordenação dos pacientes-receptores estão baseadas nos diagnósticos clínicos das doenças corneanas. A confirmação histopatológica destes diagnósticos nas córneas retiradas torna-se a comprovação material da acurácia diagnóstica e base dos estudos estatísticos de causa, o que interessa aos próprios oftalmologistas, assim como à saúde pública. O presente trabalho é o resultado da parceria Banco de Olhos - UERJ, comprovando a indicação clínica correta do transplante no estado do Rio de Janeiro. Ceratopatia bolhosa (45%), ceratite infecciosa (20%), ceratocone (12,5%), falha de enxerto (11%) e distrofias (8%) foram as principais causas identificadas no exame histopatológico. Figura 2: Córneas por sexo e idade MÉTODOS Não havia um protocolo para encaminhamento ao exame histopatológico, o que resultou no recebimento de diversas peças cirúrgicas com requisições incompletas quanto às informações de identificação do paciente, do resumo clínico da indicação do transplante e até mesmo da assinatura do médico requisitante. As córneas foram divididas em metades para o processamento e inclusão em parafina, microtomia entre 3 e 5 µm e coloração de rotina em hematoxilina-eosina (HE). Quando necessário, outros cortes foram corados por PAS e prata de Grocott para pesquisa de fungos, tricrômico de Masson, PAS, vermelho-Congo, Alcian-Blue para as distrofias corneanas, Von Kossa para pesquisa de cálcio. Os laudos histopatológicos(1) foram conclusivos ou de compatibilidade, quando as informações clínicas ausentes das requisições prejudicaram a correlação dos achados. Figura 3: Córneas por sexo RESULTADOS As causas determinantes do transplante de córnea foram agrupadas segundo a lógica da natureza das lesões e dos números dos achados (figura 1), pois não existe na literatura nenhuma proposta de classificação. Entre os nove diagnósticos listados, Figura 4: Causas de transplantes - Relação entre os sexos Figura 1: Causas de transplante – diagnóstico histopatológico o destaque numérico do grupo ceratopatia bolhosa (CB), em que todos os casos resultaram de complicações no pós-operatório de cirurgias de catarata, levam também ao destaque das faixas etárias entre 50 e 80 anos de idade (figura 2), quando foram excluídos os casos onde a idade dos pacientes não foi informada, diminuindo a amostragem de 431 para 410. O número de CB associada à cirurgia de catarata eleva a média das idades dos pacientes para 57,5 anos e neutraliza a significância das diferenças entre os sexos ou faixas etárias (figuRev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 148-53 150 Vaz LCA Figura 5: Idade média dos pacientes Figura 8: Causas adquiridas Figura 6: Causas de transplante Figura 9: Ceratites inflamatórias - distribuição dos casos por idade Figura 7: Causas congênitas Figura 10: Ceratocone - distribuição dos casos por idade ra 3), que doenças como o ceratocone e a distrofia de Fuchs poderiam ocasionar (figura 4). Combinando os diagnósticos histopatológicos com as médias de idade, a distribuição das córneas por faixa etária (figura 5), os achados estão dentro do esperado: as causas primárias de doença corneanas como leucomas congênitos e ceratocone em idades mais baixas, adultos na fase ativa da vida predominam entre as lesões traumáticas e das ceratites infecciosas, a mistura das causas dos transplantes representadas no grupo da falha do enxerto aproxima a idade média do grupo com a idade média de todos os pacientes da amostra. Outra forma de agrupar estas causas foi dividindo-as entre congênitas e adquiridas (figuras 6, 7 e 8), com os respectivos números de casos e as linhas de distribuição ou a dispersão dos casos ajudam a visualizar detalhes dos grupos com maior amostragem (figuras 9, 10 e 11). As curvas das ceratites infecciosas (figura 9) e do ceratocone (figura 10) têm uma distribuição de normalidade, acompanhando a linha de tendência em que os casos de ceratocone começam na idade escolar quando o paciente se queixa dos distúrbios visuais. As linhas de distribuição dos casos de distrofia de Fuchs e distrofia de Lattice (figura 11) estão nitidamente separadas pelo número de casos e pelos extremos das idades. Estas distrofias também divergem no predomínio dos sexos. Voltando a figura 4, vê-se o predomínio do sexo feminino na distrofia de Fuchs. As distrofias somadas aos dois casos de leucomas congênitos (uma anomalia de Peters e uma esclerocórnea) e ao grupo ceratocone, Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 148-53 Achados histopatológicos em 431 córneas de receptores de transplantes no Rio de Janeiro 151 Figura 11: Distrofias - distribuição de casos por idade Figura 14: Ceratites infecciosas - etiologia Figura 12: Ceratopatia bolhosa - Dispersão dos casos por idade Figura 15: Trauma Figura 13: Ceratites infecciosas - número de casos Figura 16: Calcificação distrófica formam o grupo das causas congênitas ou primárias de transplante (Figuras 6 e 7). No gráfico de dispersão por idade da CB (figura 12), os raros casos associados ao glaucoma congênito aparecem nitidamente isolados dos demais que estão vinculados à cirurgia de catarata. O grande número destes últimos concentrados na faixa etária entre 50 e 90 anos de idade torna a dispersão dos pontos uma linha contínua. No grupo das ceratites infecciosas (Figura 13), não subdividimos os casos pela topografia como aparece na literatura ou foi referida em algumas requisições de exame pelo cirurgião como subepiteliais, intersticiais, superficiais, profundas, centrais ou marginais. Qualquer agente infeccioso, independente de sua natureza, pode atingir qualquer uma destas localizações de acordo com a intensidade da infecção e do tempo de evolução da doença. Assim, utilizamos uma simples divisão em ulceradas e não-ulceradas que expressa melhor a gravidade da lesão. Quanto aos agentes infecciosos (figura 14), a etiologia deriva em grande parte das informações clínicas porque as córneas mostraram o processo inflamatório em fase de cicatrização após o tratamento clínico. Por princípio, os processos inflamatórios bacterianos e virais são considerados inespecíficos na visão do Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 148-53 152 Vaz LCA Figura 17: Falha do Enxerto - causas principais Figura 18: Falha do enxerto - alterações associadas à ceratopatia bolhosa patologista, uma vez que a identificação dos agentes depende de cultura ou comprovação de antígenos. Somente os fungos são visíveis e identificáveis com o auxílio de colorações especiais como a prata de Grocott ou PAS. Em 3 de 8 casos as hifas de Cândida sp. foram identificadas. O grupo leucoma cicatricial (figuras 1, 4, 5 e 8) que aparece nas figuras não deveria existir se as informações clínicas estivessem sempre presentes nas requisições de exame, permitindo uma correlação com o aspecto histopatológico. O termo leucoma refere-se apenas a opacificação da córnea observada clinicamente. No exame histológico corresponde desde uma simples e discreta perda de orientação dos ceratócitos até óbvia cicatriz fibrosa, aspecto final que qualquer doença corneana pode apresentar. O grupo trauma (figura 15) foi composto por casos colhidos dentre os leucomas cicatriciais onde havia o relato clínico de traumatismo não-cirúrgico. Ele surpreende no seu pequeno número quando se pensa no grande número de acidentes de trabalho no Brasil. As alterações histológicas variaram entre cicatriz fibrosa nos casos antigos até o processo inflamatório agudo nas lesões recentes com infecções bacterianas superpostas. Não constituindo um grupo à parte de causa determinante de transplante, a calcificação da córnea (figura 16) foi um achado histológico algumas vezes suspeitado no relato clínico e confirmado no exame histopatológico pela coloração de Von Kossa. O termo clínico ceratopatia calcificada em banda corresponde na patologia a uma calcificação do tipo “metastática” com deposição uniforme do cálcio na membrana de Bowman associada a alterações do metabolismo do cálcio de diversas causas. A deposição irregular de cálcio é dita tipo “distrófica” quando ela ocorre em tecido previamente lesado ou morto, como ocorreu em todos os casos em que foi observada. O grupo falha de enxerto (figuras 1, 5, 8 e 16) é constituído por córneas de transplantes prévios que por diversas razões não vingaram, sendo a CB a principal delas (figura 17). Como desconhecemos o número total de transplantes realizados no mesmo período, nada podemos comentar sobre o percentual de insucesso neste tipo de cirurgia. Se 47 córneas são produto de falhas de enxerto, deveríamos ter um número equivalente de córneas originais dos mesmos pacientes no universo das 431 córneas da amostra. Só pareamos córneas de sete pacientes sendo que destes, três (03) tiveram as córneas dos dois olhos transplantados, dois (2) por ceratocone e um (01) por distrofia de Fuchs e dois (2) com CB. Na figura 18 estão os achados histopatológicos que acompanham a processo de inflamação e cicatrização das causas da falha. No grupo ceratocone (figuras 1, 4, 5, 7 e 10), surpreende o maior número de pacientes do sexo masculino (figura 4), já que a literatura cita a proporção de 70% para as mulheres. Os 52 casos distribuem-se ao longo de uma linha de normalidade, não havendo concentração numa determinada faixa etária (figura 10). Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 148-53 DISCUSSÃO É notável a diferença entre os percentuais e o ordenamento das principais causas de transplante achadas neste levantamento de 431 casos do Rio de Janeiro, todos por comprovação histopatológica dos diagnósticos, indicando CB pós-facectomia como a causa principal e o ceratocone em terceira posição, e as citadas em bibliografia encontradas em Sorocaba(2), Campinas(3), Porto Alegre(4), Florianópolis(5), Manaus(6) e Recife(7) baseadas apenas no levantamento dos prontuários clínicos. Os percentuais seriam ainda mais divergentes se acrescentassemos as falhas de enxerto em que a CB era a causa primária do transplante. Por serem heterogêneas nas origens das informações, não se deve concluir confrontando os achados histopatológicos deste estudo com os destas séries clínicas, mas arriscamos algumas especulações para abrir um leque de possibilidades de futuros trabalhos em busca de explicações para esta divergência. Um estudo clínico do perfil epidemiológico de 320 pacientes na lista de espera para transplante de córnea no estado de Sergipe(8) aponta a primazia da CB pós-facectomia sobre a doença ceratocone, como também ocorre nos EUA e Japão. A população de idade avançada em crescente número no Rio de janeiro e nos países desenvolvidos acabam levando a maior número de cirurgias de catarata. Essa seria a explicação mais simples, mas tornaria questionável em relação a Sergipe e criaria um paradoxo quanto à primazia do ceratocone na Europa e em importantes cidades de São Paulo ou do sul do Brasil. Outro estudo clínico sobre o perfil de 35 pacientes com CB pósfacectomia atendidos em um hospital público na cidade do Rio de Janeiro(9) encontra diferentes resultados conforme as técnicas cirúrgicas utilizadas, a avaliação de risco pré-operatório de doenças sistêmicas como a diabetes mellitus e da própria córnea e ainda a experiência profissional dos envolvidos nesta avaliação e na cirurgia. Haveria então um fator iatrogênico explicando as diferenças do ordenamento das principais causas que levam ao transplante corneano e nos achados histopatológicos associados à falha dos enxertos. Não seriam apenas as variantes Achados histopatológicos em 431 córneas de receptores de transplantes no Rio de Janeiro demográficas das cidades e a incidência natural das doenças que favorecem o ceratocone e a distribuição gráfica normal das ceratites infecciosas ou os fatos incidentais, como traumatismo não-cirúrgico que determinam o ordenamento das causas. Um dos objetivos deste projeto foi oferecer pela comprovação histopatológica, uma ferramenta de controle de qualidade na acurácia do diagnóstico clínico pela concordância ou discordância do diagnóstico alegado para justificar o transplante. Somente em 4 entre 431 casos, portanto menos de 1% do total, houve absoluta discordância entre os diagnósticos clínicos e histopatológicos. Os quatro casos oriundos do mesmo médico e com relato clínico de ulceração e descemetocele, que representam uma situação de urgência cirúrgica, divergem dos diagnósticos histopatológicos, dois de ceratocone e outros dois de ceratopatia bolhosa não-complicada, doenças sem caráter emergencial, embora indicativas de transplante. No restante dos casos, o diagnóstico histopatológico foi totalmente concordante ou de compatibilidade, sendo que nesta última situação os achados histopatológicos careciam de especificidade. A padronização dos formulários de requisição de exame histopatológico, que deveria ser exatamente o mesmo da requisição de córneas para transplante, evitaria que informações clínicas e os dados de identidade do paciente fossem omitidas ou não-preenchidos. Melhor ainda, seria se os formulários fossem eletrônicos de tal modo que se algum campo obrigatório não fosse preenchido não seria possível concluir a requisição. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 153 Flores VG, Dias HL, Castro RS. [Penetrating keratoplasty indications in “Hospital das Clínicas-UNICAMP”]. Arq Bras Oftalmol. 2007;70(3):505-8. Portuguese. Cattani S, Kwitko S, Kroeff MA, Marinho D, Rymer S, Bocaccio FL. [Indications for corneal graft surgery at the Hospital de Clínicas of Porto Alegre]. Arq Bras Oftalmol. 2002;65(1):95-8. Portuguese. Florence M, Regis-Pacheco LF. [Changing indications for penetrating keratoplasty 1990 -1997]. Arq Bras Oftalmol. 1999;62(3):272-7. Portuguese. Carvalho RC, Moss M, Garrido C, Cohen J, Chaves C. [Indications of corneal transplantation in the State of Amazon, Brazil: 11 years of experience at the Instituto de Oftalmologia de Manaus]. Rev Bras Oftalmol. 1996; 55(8): 619-22. Portuguese. Amaral CS, Duarte JY, Silva PL, Valbuena R, Cunha F. [Indications for penetrating keratoplasty in Pernambuco]. Arq Bras Oftalmol. 2005;68(5):635-37. Portuguese. Araujo AA, Melo GB, Silva RL, Araujo Neta VM. [Epidemiological profile of the patients on the waiting list for cornea transplantation in the State of Sergipe, Brazil]. Arq Bras Oftalmol. 2004;67(4):613-6. Portuguese. Santhiago MR, Monica LA, Kara-Junior N, Gomes BA, Bertino PM, Mazurek MG, et al. [Profile of patient with aphakic/ pseudopfakic bullous keratopaty attended at public hospital]. Rev Bras Oftalmol. 2009;68(4):201-5. Portuguese. Agradecimentos Financiado pela FAPERJ (No do Processo: APQ1 E-26 / 110.414 / 2007) Programa: Transplante Rio – Rio de Janeiro (RJ), Brasil REFERÊNCIAS 1. 2. Myron Yanoff, Ben S. Ocular pathology. 5th ed. Mosby Inc: USA; 2002. Machado Filho O, Machado GA, Macêdo CL, Luz CAB, Cunha M. Indicações de ceratoplastia penetrante em 1993 – Escola Paulista de Medicina. Arq Bras Oftalmol. 1994;57(4):236. Autor correspondente: Luiz Carlos Aguiar Vaz Anatomia Patológica FCM-UERJ Ed. A. Piquet Carneiro Rua Professor Manoel de Abreu, nº 444 – Vila Isabel CEP 20550-170 Rio de Janeiro - (RJ), Brasil Tel: (21) 2587-6380 E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 148-53 ARTIGO ORIGINAL 154 Influência da aplicação intraoperatória de mitomicina C tópica episcleral na proliferação e diferenciação de células epiteliais córneo-conjuntivais de coelhos Influence of intraoperative episcleral application of topic mitomycin C on proliferation and differentiation of rabbit corneal and conjunctival epithelial cells Marisa Braga Potério1, Newton Kara José1, Eliane Maria Ingrid Amstalden1, Keila Miriam Monteiro de Carvalho1, Ana Maria Marcondes1 RESUMO Objetivo: Avaliar a influência da mitomicina C a 0,02% (MMC), aplicada em dose única por 3 minutos, na proliferação e diferenciação das células epiteliais da córnea de coelhos. Métodos: A MMC tópica foi aplicada na episclera da área límbica temporal, mediante tecido epitelial corneano intacto (um olho) e após desepitelização epitelial parcial da córnea (outro olho). Durante o procedimento cirúrgico, MMC ou solução fisiológica 0,9% (SF) foi aplicada e a solução escolhida para cada animal foi determinada por sorteio. Os animais foram divididos em grupo A (20 olhos), grupo B (16 olhos) e grupo C (14 olhos). Foram sacrificados respectivamente em 4º, 15º e 45º dia de pós-operatório. Para estimular a proliferação celular, os animais do grupo C foram submetidos à desepitelização central da córnea 3 dias antes do dia do sacrifício. Marcadores de diferenciação celular (AE1, AE3 e AE5) e de proliferação (5Bromo-2-Deoxiuridina, BrdU) foram utilizados. Nas lâminas coradas com BrdU, as áreas nasal, temporal e central foram delimitadas. O número de células coradas pela BrdU foram contadas nos 3 diferentes campos e a média aritmética de cada área foi analisada estatisticamente. Resultados: Houve diferença estatística entre MMC e SF nas áreas central e temporal da córnea previamente desepitelizada em todos os grupos. Não houve diferença estatística durante a análise de diferenciação celular. Conclusão: A MMC na dose de 0,02%, aplicada por 3 minutos sobre a episclera, interfere na proliferação celular da área exposta à droga e previamente desepitelizada. Não interfere na diferenciação celular e sua ação possui efeito prolongado. Descritores: Córnea; Células epiteliais/efeito de drogas; Mitomicina/administração & dosagem; Coelhos ABSTRACT Objective: To evaluate the influence of a three-minute application of 0.02% mitomycin C (MMC) on proliferation and differentiation of rabbit corneal epithelial cells. Methods: Topical MMC or 0.9% saline solution was applied to the episclera of the temporal limbal area of both eyes, maintaining intact epithelial tissue in one eye, and after partial corneal deepithelialization in the contralateral eye. The animals were arranged in groups A (20 eyes), B (16 eyes) and C (14 eyes) and sacrificed respectively on the 4th, 15th and 45th postoperative days. In order to stimulate cell proliferation, group C was submitted to central corneal deepithelialization three days before sacrifice. Cell differentiation markers (AE1, AE3 and AE5) were used for differentiation analysis and 5-bromo-2-deoxyuridine (BrdU) for detection of corneal epithelial cells proliferation. Results: There was no statistical difference in differentiation cells when drugs or surgical techniques were analyzed. Cell proliferation when using MMC or SF was statis-tically significant at central and temporal areas when applied after partial corneal deepithelialization in all groups. Conclusion: These results suggest that the three-minute episcleral application of 0.02% MMC does not affect epithelial cell differentiation; however, when MMC application occurs after corneal deepithelialization, it may affect cell proliferation. Keywords: Cornea; Epithelial cells/drug effects; Mitomycin/administration & dosage; Rabbits Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) – Campinas (SP), Brasil. 1 Estudo realizado no Departamento de Otorrino/oftalmologia, Medicina Experimental da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) – Campinas (SP), Brasil Os autores declaram não haver conflitos de interesses Recebido para publicação em 17/3/2013 - Aceito para publicação em 23/11/2013 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 154-62 Influência da aplicação intraoperatória de mitomicina C tópica episcleral na proliferação e diferenciação de células epiteliais ... INTRODUÇÃO O crescimento celular e sua proliferação estão intima-men te relacionados à diferenciação celular. Célu-las indiferenciadas apresentam uma alta capacidade de divisão celular(1). Uma regulação precisa do ciclo celular durante o período embrionário é fundamental para definir o tamanho, a forma e fornecer as condições necessárias para o crescimento e diferenciação celular(2). Agentes antimitóticos podem bloquear este ciclo celular durante a diferenciação celular(3). A mitomicina C (MMC) é um antibiótico isolado do Streptomyces caespitosus, antineoplásico, que inibe seletivamente a síntese de DNA, RNA e a síntese proteica em células de crescimento rápido. Como os agentes alquilantes, forma ligações covalentes com os resíduos de guanina no DNA. Imita a radiação ionizante, podendo apresentar efeitos cumulativos e sua ação permanecer por longo tempo após cessado o tratamento. Por ser um inibidor potente da proliferação fibroblástica, a MMC é indicada para a prevenção de recidivas pós-operatórias de pterígio, e no aumento do índice de sucesso e manutenção das cirurgias fistulizantes antiglaucomatosas. É utilizada também com sucesso no tratamento de outras doenças oculares(4). O uso tópico da MMC tem desencadeado complicações droga-relacionadas(5-8), ressaltando o fato de que a segurança no modo de aplicação e a melhor concentração a ser utilizada, devem ser avaliadas(9-11). Observou-se, em estudos prévios, o aumento da frequência de complicações, quando se utilizava a técnica de esclera nua para a ressecção do pterígio, uma vez que esta técnica mantém a exposição da esclera após a aplicação da MMC nesta região(12-14). Na tentativa de diminuir o índice de complicações relacionadas a exérese de pterígio e aplicação da MMC, foi desenvolvida uma técnica cirúrgica, onde a remoção da cabeça do pterígio na porção da córnea é realizada após a aplicação da droga. Esta técnica mantém protegido o tecido da córnea durante a aplicação da MMC, e os bons resultados obtidos sugerem que a técnica cirúrgica também influi nos índices de complicações pós-operatórias droga-relacionadas(15). O objetivo deste estudo foi avaliar a influência do uso tópico episcleral intraoperatório de mitomicina C na proliferação e diferenciação de células epiteliais córneo-conjuntivais de coelhas em diferentes técnicas cirúrgicas. MÉTODOS Foi realizado um estudo duplo cego, utilizando 24 coelhas albinas da raça Nova Zelândia, pesando de 800 a 1900g (média de 1135,60g ) e que não apresentavam anormalidades oculares detectadas ao 155 exame biomicroscópico inicial à lâmpada de fenda. Após aprovação do estudo pelo Comitê de Ética Animal (nº 475-2), os animais foram tratados segundo as normas da Association of Research in Vision and Ophthalmology (ARVO) e do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA). Os animais foram distribuídos em 3 lotes de acordo com o tempo estipulado para o sacrifício. O lote A continha animais que foram sacrificados em 4 dias, o lote B em 15 dias e o lote C em 45 dias de pós-operatório. Após a sedação dos animais com injeção intramuscular de cloridrato de cetamina na dose de 50mg/kg de peso e de xilazina na dose de 5mg/kg de peso, os olhos dos coelhos foram irrigados com solução de cloreto de sódio 0,9% (SF) e após instilação de 1 gota de tetracaína a 0,5% (1 gota/olho) foram submetidos às técnicas cirúrgicas descritas a seguir. Duas soluções foram utilizadas: SF (para os animais controle) e MMC a 0,2mg/mL (para os olhos medicados) previamente preparadas por outro pesquisador, que não participou dos procedimentos cirúrgicos, e colocadas em frascos numerados 1 e 2. A solução a ser aplicada nos dois olhos, bem como a técnica cirúrgica empregada em cada olho das coelhas foi determinada por sorteio. Estudo com desepitelização parcial prévia da córnea A área conjuntival e a córnea temporal foram demarcadas com marcador de zona óptica de 8,0mm de diâmetro, corado previamente em violeta de genciana. O marcador de zona óptica foi centrado no limbo temporal do olho de cada coelho (figura 1). A área conjuntival demarcada foi divulsionada e a episclera foi exposta. As células epiteliais da córnea demarcada foram desidratadas com o auxílio de cotonete embebido em álcool etílico 95% por 30 segundos. Após a irrigação com SF, o epitélio da córnea foi removido com bisturi lâmina 15 e a total desepitelização confirmada com a aplicação de 1 gota de fluoresceína sódica a 2%. Aplicou-se na área episcleral por 3 minutos, a esponja de celulose medindo de 5,0 por 3,0mm da Weck-Cel (Weck-Cel modelo C00054, Edward & Company, Treton, NJ), embebida em solução 1 ou 2. A área episcleral foi irrigada com 100mL de SF e as bordas conjuntivais suturadas com fio absorvível 8-0 (figura 1). Estudo com córnea íntegra Foi aplicada no olho contralateral de cada animal obedecendo-se a sequência descrita a seguir: após a exposição da área episcleral a esponja de celulose embebida na mesma solução utilizada no procedimento cirúrgico do primeiro olho foi aplicada por 3 minutos. A seguir a área episcleral foi irrigada com 100mL SF e o epitélio demarcado da córnea foi desidratado e removido. As bordas conjuntivais foram suturadas com fio absorvível 8-0 para a proteção da área episcleral que recebeu a aplicação da solução (figura 2). Figura 1: A) marcador de zona óptica de 8,0mm de diâmetro posicionado em região limbar temporal de olho direito do coelho; B) a região demarcada, abrange a área da córnea desepitelizada e a área episcleral exposta; C) a esponja de “weck-cell” embebida em solução é aplicada na região episcleral; D) a conjuntiva é suturada com fio absorvível 8-0 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 154-62 156 Potério MB, Kara-José N, Amstalden EMI, Carvalho KMM, Marcondes AM Figura 2: A) marcador de zona óptica de 8,0mm de diâmetro posicionado em região limbar temporal de olho direito do coelho; B) A região demarcada, abrange a área da córnea íntegra e a área episcleral exposta; C) a esponja de “weck-cell” embebida em solução é aplicada na região episcleral; D) a córnea demarcada é desidratada e desepitelizada e a seguir a conjuntiva é suturada com fio absorvível 8-0 Todos os olhos receberam colírio de dexametasona e cloranfenicol, 1 gota em cada olho de 8/8hs por 7 dias. A avaliação das complicações externas, como a presença de secreção, áreas desepitelizadas da córnea, alterações conjuntivais e palpebrais foi realizada em exame macroscópico e biomicroscópico. Procedimento realizado nos animais do lote C Para avaliação dos efeitos prolongados da MMC, os coelhos sacrificados em 45 dias foram submetidos a uma nova desepitelização da córnea central em área previamente demarcada com trépano de 8mm de diâmetro, no 42º dia de pósoperatório. A córnea demarcada foi desidratada e desepitelizada com lâmina 15 conforme procedimento realizado na córnea temporal. Aplicação do antígeno BrdU (Calbiochem – laboratório sigma) A injeção endovenosa, em veia marginal da orelha do animal, de 100mg/kg de 5-bromo-2-deoxiuridine (BrdU) diluído em 20,0mg/mL de fosfato esterilizado (PBS) com pH=7,4, foi aplicada 24 horas antes do sacrifício do animal. As células que estavam na fase S da divisão celular durante o período de 24h após a aplicação da injeção endovenosa contendo BrdU foram coradas. A quantificação da positividade das células do epitélio, foi definida utilizando-se o reagente BrdU e o anticorpo anti-BrdU. Análise imuno-histoquímica das células Após o sacrifício dos animais, com aprofundamento do plano anestésico utilizando-se uma solução de tiopental a 3% (25mg/ kg de peso vivo) aplicado via endovenosa, as córneas foram fixadas in-situ perfundindo-se a câmara anterior com 1% de paraformaldeído diluída em fosfato por 5 minutos. O material retirado foi conservado em formalina tamponada a 10%. Uma marcação com fio seda 4-0 foi realizada na região da córnea nasal exatamente oposta à área submetida ao procedimento cirúrgico, como ponto de referência. Todos os frascos foram identificados para posterior inclusão do material em parafina. Depois de preparadas, as lâminas foram encaminhadas para o processamento dos diversos reagentes (AE1/AE3, AE5 e BrdU). A diferenciação epitelial foi avaliada pelos anticorpos monoclonais AE1/AE3 e AE5. As análises foram executadas sem conhecimento prévio do procedimento cirúrgico realizado e de qual lote de animais provinha o material de estudo. Reagente AE1/AE3 e AE5 A absorção dos reagentes AE1/AE3 e AE5 pelas células, após reação com as ceratinas do epitélio da córnea foi revelada pelo método ABC (complexo redutor-estreptovidina e biotina Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 154-62 peroxidase revelada). As lâminas foram desparafinadas com imersões rápidas em xilol I previamente aquecido em estufa a 110oC por 30 minutos, e a seguir com imersões em xilol II e III na temperatura ambiente, em álcool absoluto I, II, III, 80 e 50% (temperatura ambiente) e em água corrente e destilada. A seguir foram submetidas ao bloqueio da peroxidase endógena com 10mL de H2O2 (30%) diluída em metanol 90mL. Foram realizadas 3 trocas de 3 minutos em temperatura ambiente. Após lavagem em água corrente e destilada, foram submetidas à recuperação antigênica por 30 minutos em panela a vapor a 95oC com tampão citrato 10mM em pH=6,0 e lavadas em água corrente (5 minutos), água destilada (5 minutos) e PBS (5 minutos). Os anticorpos AE1/AE3 (1:50) diluído em tampão PBS e BSA (soro albumina bovina na concentração de 1,25mL), pH=7,5 e AE5 (1:50), diluído em tampão PBS e BSA pH=7,5, foram instilados em lâminas diferentes e incubados em câmara úmida e estufa a 37oC por 30 minutos. As lâminas foram retiradas da incubação com anticorpo primário e lavadas, no agitador em PBS, em temperatura ambiente por 5 minutos cada (3x) a temperatura ambiente. A seguir receberam o anticorpo secundário – Multi-Link diluído em PBS 1:80, em temperatura ambiente e incubação por 1 hora na estufa a 37oC. Foram lavadas por 3 vezes, em agitador, em PBS à temperatura ambiente por 5 minutos cada etapa e secadas com papel de filtro. Receberam então o complexo ABC diluído em PBS a 1:100 e foram incubadas por 40 minutos a 37oC em estufa. Após colocação das lâminas no tampão PBS e coloração por 5 minutos com DAB (diaminobenzidina) e lavagem com água corrente, foram contracoradas com hematoxilina de Mayer por 30 a 60 segundos de acordo com a coloração macroscópica e lavadas em água amoniacal (Nh4OH), água corrente e destilada por alguns segundos. As lâminas foram desidratadas e montadas para análise. Reagente BRDU As córneas foram desparafinizadas com xilol I por 15 minutos na estufa a 60oC. Depois, xilol II, III por 10 minutos cada em temperatura ambiente. Aplicou-se solução contendo etanol a 100%, 3 vezes por 1 minuto cada, a 95% por 1 minuto e a 70% por 3 vezes, 1 minuto em cada passagem. As lâminas foram lavadas com água destilada, 3 vezes por 1 minuto cada e em PBS por 3 vezes, 5 minutos cada, e permaneceram em banho a 31oC com 2NHCl por 20 minutos. A seguir foram banhadas por 2 minutos em solução de tripsina 0,005g diluída em 100mL de PBS a 37oC e colocadas em leite desnatado Molico® 1g para 100mL de PBS previamente homogeneizado. Permaneceram nesta solução por 1 hora em temperatura ambiente. O Ac BrdU (1:50) foi diluído em BSA (albumina bovina) a 1% e aplicado sobre as lâminas, que permaneceram em câmara escura e úmida por 1 hora. Após Influência da aplicação intraoperatória de mitomicina C tópica episcleral na proliferação e diferenciação de células epiteliais ... lavagem das lâminas com PBS por 3 vezes (5 minutos cada sessão), foi aplicado o anticorpo secundário Multi-Link 1:80 diluído em BSA permanecendo por 1 hora em câmara úmida e escura. Após lavagem com PBS 3 vezes por 5 minutos cada e bloqueio endógeno com peroxidase em H2O2 a 3% por 5 minutos, as lâminas receberam complexo ABC em PBS (A e B = 1:50), por 30 minutos, em câmara úmida e escura. O DAB (1 gota em 1mL do tampão) foi aplicado e imediatamente após a reação, as lâminas foram colocadas na cuba com água destilada corrente por 5 minutos e coradas com hematoxilina. As lâminas foram lavadas, desidratadas e montadas para análise. Análise do padrão de diferenciação do epitélio da córnea As células epiteliais das regiões límbica e central da córnea foram analisadas. O reagente AE1, cora células que apresentam ceratinas de 40-56Kd e o reagente AE3 as células que possuem ceratinas de 52-67Kd. As ceratinas coradas pelos reagentes AE1/ AE3 encontram-se no citoplasma, principalmente nas células basais e suprabasais do epitélio, próximas ao limbo ou na periferia da córnea e o reagente AE5 para as ceratinas de 64Kd específicas das células maduras ou suprabasais da córnea(16). Quantificação das células Nas imagens microscópicas os núcleos celulares corados com BrdU foram contados utilizando-se a seguinte metodologia. Sob microscopia óptica (microscópio Nikon – Labophot) com aumento de 4 vezes e utilizando-se uma caneta de retroprojetor, foram determinados as 2 extremidades (temporal e nasal) da córnea. O tecido foi então dividido em 3 partes iguais com régua milimetrada e delimitado por marcações na lâmina com a caneta. Determinaram-se 2 áreas periféricas e 1 central da córnea. O tecido da lâmina foi comparado com o tecido emblocado em parafina (com fio de seda na região nasal) e as áreas periféricas das lâminas (nasal e temporal) foram identificadas. Para análise microscópica foram escolhidos três campos em cada região numa amostra aleatória com a objetiva para aumento de 40 vezes. Utilizando-se ocular milimetrada Kpl 8x – Carl Zeiss – Germany com a objetiva de 40 vezes, contou-se o número de células coradas em cada campo milimetrado escolhido (equivalente a 0,25mm). A contagem de células em três campos de cada região (0,75mm) englobou aproximadamente 90% da área total do epitélio da córnea. Foram consideradas positivas, as células íntegras, redondas e intensamente coradas. As células não intensamente coradas foram consideradas negativas(17). Para análise estatística foi utilizada a média aritmética dos resultados obtidos nos 3 campos de cada área (nasal, central e temporal). Utilizou-se o modelo fatorial de análise de variância para o teste do efeito das drogas, em associação aos lotes em cada região da córnea de acordo com a técnica cirúrgica. Em todos os testes estatísticos utilizou-se a medida descritiva p e 157 adotou-se um nível de significância de 5% (p< 0,05)(18). Os dados foram editados em Microsoft Excel, versão Windows 98. RESULTADOS Análise macroscópica e biomicroscópica Não foram observadas hiperemia ou secreção durante o período pré-operatório nos olhos dos animais. No período pósoperatório, observou-se leucoma no local da área desepitalizada de 1 olho de 1 animal integrante do lote A (que recebeu MMC e desepitelização parcial prévia à aplicação da MMC). Secreção amarelada em moderada quantidade foi observada em 3 olhos, sendo 2 coelhos do lote A (recebeu MMC e técnica de depitelização parcial prévia e outro que recebeu SF e desepitelização parcial da córnea após a aplicação da solução) e 1 do lote B (recebeu SF e desepitelização parcial antes da aplicação da solução). Este último apresentou no mesmo olho uma área de afilamento escleral com abaulamento do tecido na área operada. Reagentes AE1/AE3 e AE5 As células consideradas positivas ou marcadas pelos anticorpos primários AE1/AE3 ou AE5 apresentavam expressão de ceratinas presentes na camada basal e suprabasal do epitélio. Na análise do padrão de diferenciação das células epiteliais basais das regiões periféricas da córnea e central, observou-se que as células da periferia e da área central reagiram com os anticorpos AE1/AE3 em todos os lotes avaliados nas duas técnicas cirúrgicas, independentemente da droga utilizada (tabela 1). A figura 3A ilustra o padrão de positividade aos reagentes AE1/AE3 das ceratinas do epitélio da córnea. O padrão foi semelhante nos diferentes lotes e também para as diferentes drogas (MMC e SF) e técnicas cirúrgicas (desepitelização parcial prévia e córnea íntegra). As células epiteliais da região central da córnea reagiram com o anticorpo AE5 nos animais dos lotes estudados (tabela 2 e figura 3B). Para este anticorpo primário, o padrão de diferenciação celular foi semelhante nos animais que receberam SF e MMC, independente da técnica cirúrgica utilizada ou do lote analisado. Reagente BrdU As células consideradas positivas ou marcadas pela BrdU (figura 3C) estão presentes na camada basal e suprabasal do epitélio, nos três lotes. A tabela 3 demonstra que neste modelo experimental, para a técnica de desepitelização parcial prévia, existem evidências estatísticas de diferença para o fator droga, entre SF e MMC, nas regiões central e temporal e na associação de ambas as regiões (p<0,05), ou seja, existem evidências estatísticas que, para esta técnica, a MMC afetou a quantidade de células medidas, nas regiões citadas. Figura 3: A) Microscopia óptica de espécime contendo epitélio corneano, exemplo das células basais e da lâmina reticular marcadas com AE1/ AE3 (400X); B) microscopia óptica de espécime contendo epitélio corneano, exemplo das células basais e da lâmina reticular marcadas com AE5 (400X); C) microscopia óptica de espécime contendo epitélio corneano, exemplo das células basais e da lâmina reticular marcadas com BrdU (400X) Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 154-62 158 Potério MB, Kara-José N, Amstalden EMI, Carvalho KMM, Marcondes AM Tabela 1 Tabela 2 Resultados da análise imuno-histoquímica, da expressão de citoceratinas de células epiteliais de córneas de coelhos, dos 3 lotes, com os anticorpos AE1/AE3, distribuídos de acordo com a técnica cirúrgica (desepitelização parcial prévia = desepitelização da córnea antes da aplicação da solução; córnea íntegra = desepitelização da córnea após a aplicação da solução) e da solução aplicada (SF; MMC) Resultados da análise imuno-histoquímica, da expressão de citoceratinas de células epiteliais de córneas de coelhos, dos 3 lotes, com o anticorpo AE5, distribuídos de acordo com a técnica cirúrgica (desepitelização parcial prévia = desepitelização da córnea antes da aplicação da solução; córnea íntegra = desepitelização da córnea após a aplicação da solução) e da solução aplicada (SF; MMC) Técnica Nº do Lote Solução animal Desepitelização parcial Técnica Córnea íntegra Nº do Lote Solução animal Periferia Central Periferia Central A SF MMC B SF MMC C SF MMC 3 6 8 17 19 4 5 7 16 18 23 24 25 26 20 21 22 27 10 12 14 9 11 13 15 + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + - + + + perda + + + + + + + + + + + + + + + + + perda + + + + + + + + + + + + Desepitelização parcial Córnea íntegra Periferia Central Periferia Central A SF MMC B SF MMC C SF MMC 3 6 8 17 19 4 5 7 16 18 23 24 25 26 20 21 22 27 10 12 14 9 11 13 15 + + + + + + + + + + + + + + + + perda - + + + + + + + + + + + + + + + + + perda + + + + + + + perda + + + + + + + + + + + - + + perda + + + + + + + + + + + + + + + + + + Lote A – animais sacrificados no 4º dia de pós-operatório (PO); lote B – no 15º PO; lote C – 45º PO e 72 horas após nova intervenção para desepitelização central da córnea; MMC = mitomicina C; SF = solução de cloreto de sódio a 0,9%; perda = material insuficiente, não avaliado; + = presença de expressão de ceratinas; - = ausência de expressão de ceratina Lote A – animais sacrificados no 4º dia de pós-operatório (PO); lote B – no 15º PO; lote C – 44º PO e 72 horas após nova intervenção para desepitelização central da córnea; MMC = mitomicina C; SF = solução de cloreto de sódio a 0,9%; perda = material insuficiente, não avaliado; + = presença de expressão de ceratinas; - = ausência de expressão de ceratina A análise estatística evidencia que para a técnica de córnea íntegra, não existem evidências estatísticas de diferença para o fator droga entre SF e MMC. Existem evidências estatísticas de diferença entre os lotes, na região temporal e na associação de ambas as regiões (p<0,05), ou seja, para esta técnica, o lote A e o lote B são estatisticamente diferentes na quantidade de células medidas nas regiões citadas. O lote C foi comparado e não apresentou diferença estatística. A interação dos fatores droga e lote foi testada e não apresentou diferença estatística(tabela 4). DISCUSSÃO cido da córnea com o tecido humano. Possuem um rápido turnover das células epiteliais, e grande semelhança no padrão de ceratinas humanas(21-23). A MMC, droga utilizada em diversos procedimentos oftalmológicos como terapia adjuvante, atua como inibidor da proliferação celular e tem sido vinculada ao surgimento de complicações durante o período pós-operatório, como erosões de córnea, hiperemias conjuntivais, blefaroespasmos, afilamentos de córnea e esclera e perfurações(8,10). No presente estudo, não foram verificadas complicações como secreções, hiperemia, afilamentos de córnea e/ou esclera atribuídas ao uso da MMC a 0,02% aplicada em dose única por 3 minutos na região episcleral. Os mesmos achados foram observados por Sampaio et al., quando instilou MMC a 0,02 e 0,04% em olhos de ratas(24). Ainda é desconhecido o mecanismo regulador do número de células basais que penetra na córnea, provindas das células Os efeitos das drogas oftálmicas usadas topicamente sobre a córnea podem influenciar na cinética celular do epitélio(19,20). Os coelhos foram os animais escolhidos, pela semelhança do teRev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 154-62 Influência da aplicação intraoperatória de mitomicina C tópica episcleral na proliferação e diferenciação de células epiteliais ... 159 Tabela 3 Modelo fatorial para análise estatística considerando como fatores: drogas utilizadas (MMC e SF) e lotes (A, B e C). Estudo considerando a proliferação celular em toda a córnea e em cada região específica, após a técnica de desepitelização parcial prévia = desepitelização parcial da córnea antes da aplicação da solução Técnica Região da córnea Nasal+central+ temporal Desepitelização parcial prévia Nasal Central Temporal Fatores Valor F Pr>F Significância Lotes 0,48 1. Droga 10,00 2. Lotes X Droga 0,36 0,5067 0,0023 0,6993 n.s. * n.s. Lotes Droga Lotes X Droga Lotes Droga Lotes X Droga Lotes Droga Lotes X Droga 0,1210 0,2266 0,1399 0,0767 0,0263 0,3447 0,6803 0,0451 0,9737 n.s. n.s. n.s. n.s. * n.s. n.s. * n.s. 2,37 1,56 2,19 2,95 5,81 1,13 0,39 4,60 0,03 Lote A – animais sacrificados no 4º dia de pós-operatório (PO); lote B – no 15º PO; lote C – 45º PO e 72 horas após nova intervenção para desepitelização central da córnea; (*) significativo ao nível de 5%; n.s.: não significativo Tabela 4 Modelo fatorial para análise estatística considerando como fatores: drogas utilizadas (MMC e SF) e lotes (A, B e C). Estudo considerando a proliferação celular em toda a córnea e em cada região específica, após a técnica de córnea íntegra (isto é, desepetilezação parcial da córnea após a aplicação da solução) Técnica Região da córnea Nasal+central +temporal Córnea íntegra Nasal Central Temporal Fatores 3. Lotes A e B 4. Droga 5. Lotes X droga Lotes Droga Lotes X droga Lotes Droga Lotes X droga Lotes A e B Droga Lotes X droga Valor F Pr>F Significância 3,19 2,90 0,07 1,25 0,58 1,03 1,50 3,90 2,94 4,57 3,41 0,03 0,0480 0,0955 0,9305 0,3078 0,4546 0,3775 0,2493 0,0629 0,0773 0,0240 0,0804 0,9711 * n.s. n.s. n.s. n.s. n.s. n.s. n.s. n.s. * n.s. n.s. Lote A – animais sacrificados no 4º dia de pós-operatório (PO); lote B – no 15º PO; lote C – 45º PO e 72 horas após nova intervenção para desepitelização central da córnea; (*) significativo ao nível de 5%; n.s.: não significativo germinativas situadas no limbo e que é responsável pelo controle da proliferação das células basais, sua diferenciação e pela sua descamação(25). Os relatos da literatura, enfatizando que a MMC é um potente agente antineoplásico capaz de inibir a proliferação celular e desta forma colaborar para o sucesso de diversos procedimentos oftálmicos, como por exemplo, a diminuição da proliferação celular de tecido tenoniano e conjuntival em pós-operatório de cirurgias fistulizantes, ou a diminuição dos índices de recidivas em pós-operatórios de cirurgias de pterígio, bem como a diminuição dos índices de haze em pós-operatórios de cirurgias refrativas. O baixo custo e a facilidade na manipulação, justificam a sua utilização e a necessidade de melhores conhecimentos relativos às possíveis complicações droga-dependentes (5,6,10,26). Como a MMC provavelmente induz maior dano às células com intensa atividade proliferativa, a droga atuaria especificamente nos processos de síntese do DNA e funcionamento do fuso mitótico das células germinativas presentes no limbo da Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 154-62 160 Potério MB, Kara-José N, Amstalden EMI, Carvalho KMM, Marcondes AM córnea(5,27). Em 1992, Kawase et al.(28) mediram a concentração da MMC na conjuntiva, esclera e humor aquoso de coelhos após injeções subconjuntivais cujas concentrações da droga variavam de 0,002 a 0,2mg/mL. Estes autores observaram que a MMC apresenta uma meia-vida de 0,18 até 0,48 hora. A concentração da mesma foi reduzida para 1/15 quando a conjuntiva e a esclera foram irrigadas com 200mL de solução de cloreto de sódio a 0,9%, porém, a meia-vida da droga permanecia inalterada. Estes resultados reforçam que a droga desaparece rapidamente dos tecidos e a irrigação diminui significativamente a concentração da MMC. Neste estudo, a irrigação da área episcleral que recebeu MMC com 100mL de SF foi suficiente para não permitir interferência na proliferação celular da área nasal da córnea (tabelas 3 e 4). Os estudos sobre o potencial regenerador das células epiteliais da córnea, para a reparação rápida do tecido, sugerem que o processo de regeneração pode ocorrer de maneira centrípeta pela migração das células germinativas provenientes do limbo ou de forma circunferencial por deslizamento das células adjacentes às bordas da área desepitelizada(23,28,29). Mesmo com a rapidez do potencial regenerador, houve diferença significante na proliferação celular das regiões central e periférica temporal dos animais que receberam SF ou MMC avaliados no 4º, 15º e 45° dias de pós-operatório quando a técnica de desepitelização parcial prévia da córnea foi aplicada (tabela 3). Esses resultados sugerem que a MMC atuou onde foi aplicada, ou seja, a inibição celular observada nas regiões temporal e central sugere que a MMC influencia as células expostas após defeito epitelial e não influencia as células com o epitélio íntegro. A utilização da técnica cirúrgica que preserva a integridade do epitélio da córnea durante a aplicação da MMC pode ser um fator importante durante a cicatrização no período pós-operatório. A inibição da proliferação celular observada nas fases consideradas tardias (15 e 45 dias de pós-operatório) sugere que a MMC tem efeito inibidor prolongado sobre as células epiteliais da córnea de coelhos (tabela 3). Nesta investigação, além dos anticorpos AE1/AE3, marcadores de células em proliferação, empregou-se também o AE5, um anticorpo monoclonal, altamente específico para a ceratina de 64Kd, considerado marcador específico da célula epitelial da córnea diferenciada(22). Dessa forma observou-se a presença de células diferenciadas, ou seja, que apresentavam ceratinas que reagem com o anticorpo monoclonal AE5, em todos os lotes estudados (tabelas 1 e 2). Holzchuh(16), em 1999, observou que após instilação de colírio de MMC a 0,02% ou água destilada, as células do epitélio íntegro de coelhos apresentaram um padrão de diferenciação quando marcadas pelos anticorpos AE1 e AE5, onde as células do limbo coravam na presença do anticorpo AE1 e as células centrais coravam com o AE5 em todos os lotes avaliados. No presente estudo, nos animais sacrificados no 4º e 15º dias de pós-operatório observou-se a presença de células basais coradas com o anticorpo monoclonal AE5 na periferia da córnea (tabela 2). Em 1986, Schermer et al.(23), usaram o AE5 em estudos de cinética das células epiteliais e demonstraram que em colônias de epitélio da córnea as ceratinas de 55/64Kd estão localizadas suprabasalmente, bem como na região límbica. Em contraste, a resposta das células basais do epitélio da região central da córnea foi positiva quanto à presença de ceratina 64Kd. Esses achados sugerem que as células basais do limbo estão em um estado mais avançado de diferenciação em relação às células germinativas. Os ceratócitos das camadas basais presentes em cultura de tecidos da córnea podem corar com o anticorpo monoclonal AE5, sugerindo que a localização suprabasal não é um pré-requisito para a expressão das ceratinas de 64Kd. No presente estudo, em todos os lotes estudados, não houve diferença entre o padrão de diferenciação observado nos animais Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 154-62 que receberam SF (controle) ou MMC, e, portanto, a MMC não interferiu no padrão de diferenciação celular independente da técnica cirúrgica utilizada. Em 1982, Gratzner(30) desenvolveu e testou a BrdU para o estudo da cinética celular. O autor sugeriu que a BrdU poderia ser um reagente alternativo, eficiente, de fácil e rápido manuseio para evidenciar o processo de divisão celular do epitélio da córnea. A BrdU substitui a timidina e é incorporada no DNA celular durante a fase S de replicação celular. Na década de 90 Raska et al.(31) e Szerenyi et al.(17) relataram que o tempo de exposição à BrdU influencia as taxas de marcação sendo que o intervalo de tempo ideal dependeria da duração do ciclo celular. No presente estudo, a BrdU foi escolhida pela facilidade de manuseio, por não ser um agente radioativo e por ser eficaz na determinação das células em proliferação. Foi aplicada em injeção endovenosa, 24 horas antes do sacrifício dos animais, abrangendo assim o ritmo circadiano de mitoses das células epiteliais cujo pico de mitose é de 9 horas, como descrito por Haaskjold et al.(32), em 1992. O sacrifício dos animais 24 horas após a aplicação da BrdU permitiu sua incorporação ao DNA celular e posterior quantificação das células da córnea durante as análises laboratoriais dos tecidos. Durante a análise do BrdU, observou-se que a MMC interferiu na proliferação celular nas áreas temporais e nasais das córneas que previamente foram desepitelizadas. No presente estudo, a MMC agiu no local da aplicação e não afetou áreas com epitélio intacto, portanto, em casos cirúrgicos onde o epitélio da córnea será retirado, sugere-se aplicar a MMC antes do início da desepitelização(17;33,34). Atualmente a MMC está sendo utilizada em procedimentos cirúrgicos como a ceratectomia fotorrefrativa para correção da hipermetropia consecutiva à ceratotomia radial ou para a diminuição da incidência de haze no pós-operatório de cirurgias refrativas. O fato de esta droga agir unicamente no local da aplicação, e após desepitelização prévia da córnea, pode auxiliar como embasamento para estudos que visam avaliar a eficácia e segurança do uso de MMC durante cirurgias fotorrefrativas (35,36). O presente estudo, assim como os resultados obtidos por, Mattar et al.(33), Lacayo et al.(37), Mietz et al.(38) , Holzchuz et al.(39), Ando et al.(40), sugere que a MMC, por ser um agente antimitótico, pode interferir no processo de cicatrização celular. Sua aplicação, portanto, deve ser controlada, minimizando o contato com a córnea. A importância dos cuidados no manuseio e aplicação da droga, da escolha da técnica cirúrgica a ser utilizada, além da necessidade de determinação da concentração mínima suficiente para a inibição da proliferação celular, é fundamental para o êxito cirúrgico ou clínico e para a diminuição dos índices de complicações droga-relacionadas. CONCLUSÃO A mitomicina C na concentração de 0,02%, embebida em esponja de celulose, em aplicação única por 3 minutos na região episcleral temporal dos olhos de coelhos, nas avaliações realizadas no 4º, 15º e 45º dia de pós-operatório, nas condições deste estudo, sugere que as complicações clínicas observadas nos olhos dos animais durante o período não podem ser atribuídas à MMC. A presença de células diferenciadas em todos os tempos de pós-operatório avaliados sugere que a MMC não interfere no processo de maturação celular. A atuação da MMC permaneceu restrita ao local da aplicação e às células expostas após desepitelização e inibiu a proliferação celular da córnea na técnica de desepitelização parcial prévia. A irrigação com 100mL de SF após aplicação intraoperatória de MMC foi suficiente para impedir a inibição da proliferação celular de outras regiões da córnea de epitélio Influência da aplicação intraoperatória de mitomicina C tópica episcleral na proliferação e diferenciação de células epiteliais ... íntegro durante o emprego das duas técnicas cirúrgicas. A permanência do efeito da MMC no epitélio da córnea, na avaliação realizada no 45º dia após aplicação única, sugere que a droga tem um efeito prolongado e sinaliza para necessidade de estudos, objetivando melhor avaliar o potencial tóxico da droga. Agradecimentos Os autores agradecem aos integrantes do Núcleo de Medicina e Cirurgia Experimental pelo auxílio durante os procedimentos cirúrgicos e os cuidados com os animais, ao prof. dr. José Butori Lopes de Faria, chefe do laboratório de Nefrologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas por ceder o laboratório para a confecção das lâminas e ao prof. dr. José Vassalo, prof. livre-docente do Departamento de Anatomia Patológica pela orientação na confecção das lâminas direcionadas à análise da diferenciação celular. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. Tsai RJ, Sun TT, Tseng SC. Comparison of limbal and conjunctival autograft transplantation in corneal surface reconstruction in rabbits. Ophthalmology. 1990;97(4):446-55. Edgar B. Diversification of cell cycle controls in developing embryos. Curr Opin Cell Biol. 1995;7(6):815-24. Review. Neufeld TP, Edgar BA. Connections between growth and the cell cycle. Curr Opin Cell Biol. 1998;10(6):784-90. Review. Alves MR, Cardillo JA, Tranjan Neto A, Jose NK, Ambrosio LE, Serpa JF. [Topical effects of eye drops of 0,04 por cento mitomicin C applied before pterygium excision on corneal sensitivity, on precorneal tear film and on corneoconjunctival epithelium]. Arq Bras Oftal. 1995;58(2):112-140. Portuguese. Kunitomo N, Mori S. 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Ophthalmology, 1992; 99:1809-14. Autor correspondente: Marisa Braga Potério Rua Duque de Caxias, nº 780, Cj 91 – Centro Campinas (SP), Brasil E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 154-62 ARTIGO ORIGINAL 162 Indicações e perfil epidemiológico dos pacientes submetidos à ceratoplastia Indications and epidemiological profile of patients submitted Augusto Adam Netto1, Caio Augusto Schlindwein Botelho2, Lucas Costa Felicíssimo2 RESUMO Objetivo: Avaliar o perfil epidemiológico dos pacientes submetidos à ceratoplastia no estado de Santa Catarina e as principais indicações para este procedimento. Métodos: Foi realizado estudo observacional, descritivo e retrospectivo com dados de 1161 pacientes transplantados entre janeiro de 2008 e dezembro de 2010, de acordo com os prontuários obtidos na Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos de Santa Catarina. As variáveis registradas foram: idade, sexo, procedência, data do transplante, indicação e olho operado. Resultados: A média de idade foi de 45,51 anos e o sexo masculino foi mais prevalente (54,05%). O ceratocone foi a doença mais frequente (36,09%), seguido por falência do enxerto (15,89%), leucoma (11,92%), ceratopatia bolhosa (11,06%), distrofias (7,77%), úlcera (5,36%), perfuração corneana (5,27%), descemetocele (4,66%), ceratite herpética (1,12%) e ectasia corneana (0,86%). A região do estado com maior número de casos foi a Grande Florianópolis (23,75%), sendo o ceratocone a principal indicação (30,91%). Leucoma e perfuração foram as principais indicações em pacientes com idade inferior a 10 anos, ceratocone nos pacientes entre 11 e 50 anos, falência do enxerto entre 51 e 60 anos e ceratopatia bolhosa nos pacientes acima de 61 anos. Conclusão: O ceratocone é a principal indicação para ceratoplastia no estado de Santa Catarina, com a média de idade de 31 anos. A maioria dos pacientes é do sexo masculino e proveniente da Grande Florianópolis. Descritores: Córnea; Transplante de córnea; Ceratoplastia penetrante; Doenças da córnea; Ceratocone; Perfis de saúde ABSTRACT Purpose: To define the epidemiological aspects of the patients submitted to keratoplasty in the state of Santa Catarina, Brazil and the main indications for this procedure. Methods: We conducted an observational, descriptive and retrospective study with the data of 1161 patients submitted to cornea transplantation from january 2008 to december 2010, at the Transplantation Center of Santa Catarina. The analyzed data were: age, gender, origin, transplant date, indication and transplanted eye. Results: The mean age was 45.51 years and men were more commonly operated. Keratoconus was the most common disease (36.09%), followed by graft failure (15.89%), leukoma (11.92%), bullous keratopathy (11.06%), dystrophy (7.77%), ulcer (5.36%), corneal perforation (5.27%), descemetocel (4.66%), herpetic keratitis (1.12%) and corneal ectasia (0.86%). The region with the greater number of cases was the Great Florianopolis (23.75%), with keratoconus as the main indication (30.91%). Leukoma and perforation were the mainly indication in patients under 10 years old, keratoconus in patients between 11 and 50 years old, graft failure between 51 and 60 years old and bullous keratopathy in patients under 61 years old. Conclusion:Keratoconus is the main indication for keratoplasty in our state, with the mean age of 31 years. Most of the patients were men and from the Great Florianopolis. Keywords: Cornea, Corneal transplantation; Keratoplasty, penetrating; Corneal disease; Keratoconus; Health profile Professor Titular, Disciplina de Oftalmologia do Departamento de Cirurgia, Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC - Florianópolis, SC, Brasil; Acadêmico de Medicina da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC - Florianópolis, SC, Brasil. 1 2 Instituição: Universidade Federal de Santa Catarina Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago Departamento de Cirurgia da UFSC Os autores declaram não haver conflitos de interesses Recebido para publicação em 5/10/2012 - Aceito para publicação em 20/10/2013 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 162-6 Indicações e perfil epidemiológico dos pacientes submetidos à ceratoplastia 163 INTRODUÇÃO D urante anos o homem fez tentativas para repor córneas danificadas sem sucesso, até que em meados do século XIX cirurgiões, como Powers (1878), realizaram estudos que facilitaram a compreensão da fisiologia do tecido corneano e possibilitaram a Eduard Zirm o conhecimento e técnica necessários para, em 1905, executar o primeiro ceratoplastia penetrante bem-sucedida(1-4). Classifica-se o tipo de transplante de córnea em relação ao tipo biológico – autólogo, córnea doada e olho receptor do mesmo indivíduo; alógeno, córnea transplantada entre indivíduos da mesma espécie; xenógeno, indivíduos de espécies distintas –, técnica cirúrgica – lamelar, quando parte da espessura da córnea é substituída; penetrante, na substituição completa do tecido – e porção transplantada – parcial, quando há transferência de parte do diâmetro; total, quando todo diâmetro é utilizado(5,6). Hoje, a córnea é o principal tecido transplantado nos Estados Unidos, Europa(7) e, desde 1998, no Brasil(8,9), por razões ópticas, reconstrutivas, terapêuticas ou cosméticas (5,6). Isto se explica pela melhor organização dos Bancos de Olhos, melhor seleção do tecido doado e os avanços na farmacologia, imunologia e microcirurgias oculares, que permitem realização de transplantes em situações antes consideradas inoperáveis(6,10). O Sistema Nacional de Transplantes (SNT), através das Centrais Estaduais de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO), coordena o funcionamento dos Bancos de Tecidos Oculares Humanos, responsáveis pelo armazenamento e logística das córneas captadas, e pelo cadastramento dos doadores e receptores(11). Diversos estudos vêm sendo realizados no Brasil(2,3,5,6,8,9,1215) e no mundo (4,7,16-24) , no intuito de definir o caráter epidemiológico dos pacientes e as principais indicações ao transplante de córnea em diferentes regiões e serviços. Este estudo objetiva traçar o perfil clínico e social dos pacientes submetidos à ceratoplastia no estado de Santa Catarina e avaliar as principais indicações desses transplantes. MÉTODOS Trata-se de estudo observacional, descritivo, de coleta retrospectiva a partir de dados obtidos nos prontuários de pacientes submetidos à ceratoplastia, armazenados na Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos de Santa Catarina (CNCDO-SC), entidade responsável pela coordenação dos transplantes no estado, através do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) versão 5.0, no período de janeiro de 2008 a dezembro de 2010. Foram avaliados 1161 prontuários, sendo 3 excluídos devido a preenchimento incompleto. Durante a coleta, foram selecionadas as variáveis: idade, sexo, procedência, data do transplante, indicação e olho operado. Por não constar no banco de dados, o tipo de ceratoplastia realizada não foi considerado uma variável. As cidades de procedência foram agrupadas em regiões de acordo com a classificação do IBGE: mesorregião da Grande Florianópolis, mesorregião do Norte Catarinense, mesorregião do Oeste Catarinense, mesorregião Serrana, mesorregião do Sul Catarinense e mesorregião do Vale do Itajaí(25). As cidades não pertencentes à Santa Catarina entraram no grupo Outros Estados. As indicações ao transplante foram classificadas em: ceratite herpética, ceratocone, ceratopatia bolhosa, descemetocele, distrofias corneanas, ectasias corneanas, falência do enxerto, leucoma, perfuração corneana e úlcera corneana. Figura 1: Distribuição do número de transplantes realizados, no CNCDO-SC, entre 2008 e 2010 Foi utilizado o programa Microsoft Excel 2010®, para organização e análise dos dados. A análise dos dados obtidos é exposta neste trabalho através de médias, desvio padrão e porcentagens. Este estudo está registrado na Plataforma Brasil do Ministério da Saúde, sob o protocolo CAAE 01062812.3.0000.0121. RESULTADOS Dos 1158 transplantes realizados no período analisado, 652 pacientes eram do sexo masculino (56,30%) e 506 eram do sexo feminino (43,70%). A idade dos pacientes variou de 0 a 93 anos, sendo a média de 45,51 anos com desvio padrão (DP) de 19,75. Foram realizados 626 (54,05%) transplantes no olho direito e 532 (45,95%) no olho esquerdo. A distribuição temporal ocorreu da seguinte forma: 246 (21,24%) ceratoplastias em 2008; 409 (35.32%) em 2009 e 503 (43.44%) em 2010 (figura 1). Com relação às indicações o ceratocone foi responsável por 418 casos (36,09%) e apresentou média de idade 31 anos (DP 10,73); falência do enxerto, 184 casos (15,89%) e média de idade 52 anos (DP 17,62); leucoma, 138 casos (11,92%) e média de idade 47 anos (DP 18,50); ceratopatia bolhosa, 128 casos (11,06%) e média de idade 68 anos (DP 13,74); distrofias, 90 casos (7,77%) e média de idade 57 anos (DP 20,41); úlcera, 62 casos (5,36%) e média de idade 54 anos (DP 20,41); perfuração Tabela 1 Causas de indicação de transplante de córnea, no CNCDO-SC, entre 2008 e 2010 Indicações Ceratocone Falência do enxerto Leucoma Ceratopatia bolhosa Distrofias corneanas Úlcera corneana Perfuração corneana Descemetocele Ceratite herpética Ectasia corneana Total N % Média da idade ± DP (anos) 418 184 138 128 90 62 61 54 13 10 1158 36,09 15,89 11,92 11,06 7,77 5,36 5,27 4,66 1,12 0,86 100 31 ± 10,73 52 ± 17,62 47 ± 18,50 68 ± 13,74 57 ± 14,69 54 ± 20,41 50 ± 21,08 46 ± 21,38 40 ± 18,05 41 ± 7,77 45,5 ± 19,76 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 162-6 164 Netto AA, Botelho CAS, Felicíssimo LC Tabela 2 Distribuição das causas de indicação de transplante de córnea no CNCDO-SC, segundo idade (2008 a 2010) Causas Ceratite herpética Ceratocone Ceratopatia bolhosa Descemetocele Distrofias Ectasia corneana Falência do enxerto Leucoma Perfuração corneana Úlcera Total Idade (anos) ≤ 10 11-20 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 71-80 > 80 n % n % n % n % n % n % n % n % n % n % 0 0 0 0 0 0 2 18,18 0 0 0 0 2 18,18 3 27,27 3 27,27 1 9,09 2 2,47 52 64,20 1 1,23 3 3,70 1 1,23 0 0 7 6,64 9 11,11 2 2,47 4 4,94 2 0,77 191 73,46 2 0,77 14 5,38 3 1,15 2 0,77 16 6,15 18 6,92 8 3,08 4 1,54 3 1,77 97 57,40 3 1,77 4 2,37 7 4,14 2 1,18 24 14,2 15 8,87 6 3,55 8 4,73 3 1,81 51 30,72 7 4,22 6 3,61 17 10,24 5 3,01 30 18,01 27 16,26 12 7,23 8 4,82 1 0,60 22 1,25 17 10,24 7 4,22 19 11,44 1 0,60 46 27,71 34 20,48 7 4,22 12 7,23 1 0,73 5 3,68 33 24,26 10 7,35 24 17,65 0 0 27 19,85 18 13,23 10 7,35 8 5,88 1 0,77 0 0 48 36,92 5 3,85 18 13,85 0 0 26 20,00 11 8,46 9 6,92 12 9,23 0 0 0 0 17 43,59 3 7,69 1 2,56 0 0 6 15,38 3 7,69 4 10,26 5 12,82 n % 11 100 81 100 260 100 169 100 166 100 166 100 136 100 130 100 39 100 Tabela 3 Procedência dos pacientes submetidos à ceratoplastia (CNCDO-SC), de acordo com classificação das mesorregiões de Santa Catarina pelo IBGE, entre 2008 e 2009 Procedência N % Grande Florianópolis Oeste Catarinense Vale do Itajaí Norte Catarinense Sul Catarinense Serrana Outros Estados* 275 258 227 207 112 61 16 23,75 22,28 19,60 18,05 9,67 5,27 1,38 Total 1158 100 (*) Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul Figura 2: Distribuição de ceratocone como principal indicação à ceratoplastia, de acordo com a região de procedência do paciente, no CNCDO-SC, entre 2008 e 2010 corneana, 61 casos (5,27%) e média de idade 50 (DP 21,08); descemetocele, 54 casos (4,66%) e média de idade 46 anos (DP 21,38); ceratite herpética, 13 casos (1,12%) e média de idade 40 (DP 18,05); e ectasia corneana, 10 casos (0,86%) e média de idade 41 anos (DP 7,77) (tabela 1). Segundo a faixa etária as indicações mais frequentes foram: de 0-10 anos, leucoma e perfuração corneana com 3 casos cada (27,27% cada); de 11-20 anos, ceratocone com 52 casos (64,20%); de 21-30 anos, ceratocone com 191 casos (73,46%); de 31-40 anos, ceratocone com 97 casos (57,40%); de 41-50 anos, ceratocone com 51 casos (30,72%); de 51-60 anos, falência do enxerto com 46 casos (27,71%); de 61-70 anos, ceratopatia bolhosa com 33 casos (24,26%); de 71-80, ceratopatia bolhosa com 48 casos (36,92%); e acima de 81 anos, ceratopatia bolhosa com 17 casos (43,59%) (Tabela 2). De acordo com a região de procedência: mesorregião da Grande Florianópolis com 275 casos (23,75%); mesorregião do Oeste Catarinense, 258 casos (22,28%); mesorregião do Vale do Itajaí, 227 casos (19,60%); mesorregião do Norte Catarinense, 207 casos (18,05%), mesorregião do Sul Catarinense, 112 casos (9,67%); mesorregião Serrana, 61 casos (5,27%); e outros Estados, 16 casos (1,38%) (Tabela 3). Em todas as regiões do estado de Santa Catarina, o ceratocone foi a principal indicação ao transplante de córnea, sendo: na Grande Florianópolis, 85 casos (30,91%); no Norte Catarinense, 94 casos (44,98%); no Oeste Catarinense, 112 ca- Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 162-6 Indicações e perfil epidemiológico dos pacientes submetidos à ceratoplastia 165 Tabela 4 Distribuição das causas de indicação de transplante de córnea no CNCDO-SC, segundo a região de procedência (2008 a 2010) Indicação Ceratite herpética Ceratocone Ceratopatia bolhosa Descemetocele Distrofias Ectasia corneana Falência do enxerto Leucoma Perfuração corneana Úlcera corneana Total Grande Florianópolis N(%) Norte Catarinense N(%) Oeste Catarinense N(%) Região Serrana N(%) Sul Catarinense N(%) Vale do Itajaí N(%) Outros Estados N(%) 1(0,36) 85 (30,9) 25 (9,09) 14 (5,09) 46 (16,73) 2(0,73) 61 (22,18) 21 (7,64) 6 (2,18) 14 (5,09) 275 (100) 3 (1,43) 94 (44,98) 30 (14,35) 3 (1,43) 20 (9,57) 3 (1,43) 19 (9,09) 20 (9,57) 7 (3,35) 10 (4,78) 209 (100) 6 (2,32) 112 (43,41) 14 (5,43) 11 (4,26) 6 (2,32) 1 (0,39) 46 (17,83) 38 (14,73) 11 (4,26) 13 (5,04) 258 (100) 0 (0,00) 22 (36,06) 5 (8,20) 5 (8,20) 1 (1,64) 1 (1,64) 12 (19,67) 12 (19,67) 2 (3,28) 1 (1,64) 61 (100) 3 (2,68) 25 (22,32) 17 (15,18) 7 (6,25) 2 (1,78) 1 (0,89) 19 (16,96) 14 (12,5) 15 (13,39) 9 (8,03) 112 (100) 0 (0,00) 73 (35,16) 36 (15,86) 12 (5,29) 15 (6,61) 2 (0,88) 24 (10,57) 31 (13,66) 20 (8,81) 14 (6,17) 227 (100) 0 (0,00) 7 (43,74) 1 (6,25) 2 (12,5) 0 (0,00) 0 (0,00) 3 (18,75) 2 (12,5) 0 (0,00) 1 (6,25) 16 (100) sos (43,41%); na região Serrana, 22 casos (36,06%); no Sul Catarinense, 25 casos (22,32%) e no Vale do Itajaí, 73 casos (32,16%). Dos pacientes provenientes de outros estados, o ceratocone também configurou a principal indicação à ceratoplastia, com 7 casos (43,75%) (figura 2). Os dados completos da prevalência, de acordo com a procedência, podem ser conferidos na tabela 4. DISCUSSÃO Em nosso estudo avaliamos 1158 prontuários de forma retrospectiva e descritiva, obtidos na CNCDO-SC, através do SNT, referentes aos transplantes de córnea realizados entre janeiro de 2008 e dezembro de 2010. Nota-se a cada ano um aumento praticamente linear do número de transplantes, assim como descrito por Maeno et al.(17), provavelmente pelo aumento do número de doadores, melhor organização entre os Bancos de Olhos e a CNCDO-SC e evolução da técnica cirúrgica(16). Desse total coletado, encontramos predomínio de pacientes do sexo masculino (56,30%), estando de acordo com a maioria dos trabalhos(2-5,7,8,12,15,19,21,22,). Poucos estudos analisados demonstraram predomínio do sexo feminino(6,16). A média de idade dos pacientes da amostra foi de 45,51 anos, o que também está de acordo com várias pesquisas da literatura consultada(2-6,8,13,23). Ceratocone foi a principal indicação de transplante de córnea neste estudo (36,09%), dado semelhante ao obtido por estudo anteriormente realizado na cidade de Florianópolis, onde 28,7% dos transplantes tiveram esta indicação(5). O ceratocone é uma ectasia corneana bilateral com incidência tipicamente no final da adolescência e no adulto jovem(26), o que corresponde a média de idade para esta doença apresentada em nosso estudo (31 ± 10,73 anos), semelhante aos resultados de Garcia et al. (27,2 anos)(5), Al-Yousuf et al. (32,5 ± 11,70 anos)(7), Maeno et al. (34,43 anos)(17) e Edwards et al. (31,8 anos)(21). A maior incidência das falhas de enxerto, com consequente retransplante, quando comparamos nossa pesquisa (22,18% dos casos da Grande Florianópolis) com os resultados de Garcia et al.(5) (8,3% dos casos), contradiz em parte a análise feita por Kanavi et al.(22) de que o número de retransplantes tenderá a diminuir no futuro. Dobbins et al.(16) afirma que o aprimoramento da tecnologia e das habilidades cirúrgicas leva a um aumento na quantidade de transplantes realizados, resultando em maior número de pacientes com potencial para desenvolver falência do tecido enxertado. Além disso, com o aumento da incidência do retransplante, este grupo irá se retroalimentar e crescer cada vez mais, uma vez que sucessivos transplantes diminuem o prognóstico de sobrevivência do enxerto a cada nova reoperação(18). Estas afirmações podem justificar a falência de enxerto como segunda colocação (15,89%) nas indicações em nossa população. O leucoma, que figurou como terceira indicação na amostra analisada (11,92%), apresenta incidência variável entre as pesquisas de referência(8,9,12-15,22,23). A dificuldade em definir a etiologia do leucoma, sendo este um sinal e não um diagnóstico, pode interferir na obtenção da real incidência desta condição, acarretando em eventuais erros de preenchimento do prontuário médico(15). A ceratopatia bolhosa, principal indicação em algumas das referências adotadas(15,16,18,19), ocupou a quarta colocação em nosso estudo (11,06%), sendo de alta frequência em pacientes com idade superior a 60 anos (31,13% dos transplantes acima desta idade e média de idade de 68 ±13,74 anos). Isto pode ser explicado pelo fato de a ceratopatia bolhosa ser a principal complicação da facoemulsificação e dos implantes intraoculares, procedimentos cada vez mais populares desde a década de 80(3,4). Entretanto, se compararmos com os dados obtidos por Garcia et al.(5), que apresentou a ceratopatia bolhosa como terceira indicação mais frequente em Florianópolis, podemos supor que o aperfeiçoamento e melhor aprendizado da técnica cirúrgica, além dos avanços na qualidade das lentes intraoculares e maior uso de substâncias viscoelásticas protetoras do endotélio corneano, tenham influenciado numa alteração da incidência desta complicação pós-operatória na população(13,16,24). Achamos importante ressaltar que a classificação das indicações utilizada pelo SNT é definida a partir de diagnósticos descritos pelos profissionais envolvidos nos transplantes, não seguindo um protocolo rígido. Isto gerou dificuldades de aglutinação dos diagnósticos das patologias que levaram as indicações para a realização das ceratoplastias. A distribuição das indicações de acordo com a idade pode ser conferida na tabela 2. Para pacientes em idade inferior a 10 anos, leucoma e perfuração corneana dividiram a primeira colocação (27,27% cada), dado semelhante ao obtido por Pimentel et Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 162-6 166 Netto AA, Botelho CAS, Felicíssimo LC al.(27). Nossos resultados demonstraram que na faixa etária entre 11 e 50 anos, o ceratocone foi a principal causa de indicação ao transplante, assim como um estudo realizado na UNICAMP por Flores et al.(3) em 2007. Os estudos coincidiram ainda no intervalo de 71-80 anos, com a ceratoplastia bolhosa em destaque neste grupo, principalmente pelo elevado número de facoemulsificações realizadas nesta faixa etária. As demais faixas etárias apresentaram diferenças entre as diversas pesquisas. As limitações temporais e estatísticas do presente estudo são um incentivo para a realização de novas pesquisas, a fim de verificar a manutenção ou não das tendências obtidas. CONCLUSÃO Em Santa Catarina, a média de idade dos pacientes submetidos a ceratoplastia foi de 45,51 anos e com predomínio do sexo masculino, sendo o olho direito o mais operado. O ceratocone foi a principal indicação, inclusive quando avaliadas as diversas regiões do estado isoladamente. As demais indicações, em ordem decrescente foram retransplante, leucoma, ceratopatia bolhosa, distrofias úlcera, perfuração corneana, descemetocele , ceratite herpética e ectasia corneana . REFERÊNCIAS 1. Moffatt SL, Cartwright VA, Stumpf TH. Centennial review of corneal transplantation. Clin Experiment Ophthalmol. 2005;33(6):642-57. Comment in Clin Experiment Ophthalmol. 2006;34(4):387-8. 2. Fabris C, Corrêa ZM, Marcon AS, Castro TN, Marcon IM, Pawlowski C. Estudo retrospectivo dos transplantes penetrantes de córnea da Santa Casa de Porto Alegre. Arq Bras Oftalmol. 2001;64(5):449-53. 3. Flores VG, Dias HL, Castro RS. Indicações para ceratoplastia penetrante no Hospital das Clínicas - UNICAMP. 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Autor correspondente: Caio Augusto Schlindwein Botelho Rua Nicola Fassina, 253 - Jardim Botânico CEP 13106-202 - Campinas - SP E-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL167 Achados epidemiológicos e alterações oftalmológicas em diabéticos atendidos em hospital geral secundário Epidemiological and ophthalmological findings in diabetic patients examined in a general hospital Mariluce Silveira Vergara1, André Simoni de Jesus1, Lucia Campos Pellanda2, Manuel A P Vilela2,3 RESUMO Objetivo: Avaliar a associação entre alterações no exame oftalmológico, características epidemiológicas e controle metabólico em pacientes diabéticos. Métodos: Estudo transversal. Foram selecionados consecutivamante os diabéticos atendidos durante 2011 em um hospital secundário. Todos os pacientes responderam questionário e foram submetidos a exame oftalmológico. Resultados: Foram estudados 103 pacientes, dos quais 72 (69,9%) eram do sexo feminino e 66 (64%) da cor branca. A média de idade foi de 59 (+/- 9,21) anos. Sessenta e quatro por cento dos participantes referiram renda aproximada de até 1 salário mínimo, 58,2% tinham ensino fundamental incompleto, 75,7% com história de diabetes familiar, 45,6% informaram realizar controle metabólico regular, 54,3% não observavam cuidados nutricionais, 28% usavam insulina, 99% eram diabéticos do tipo-2. Ao exame, 72,8% apresentaram acuidade visual corrigida de 20/40. Foram estatisticamente significativas as relações entre complicações retinianas e o uso de insulina (OR=8,3; p=0,003) e da baixa acuidade visual com o uso de insulina (OR=5,48, p=0,021) e a idade (OR=11,8; p=0,003). Também foi observada relação entre a baixa de visão com escolaridade, idade e baixa renda Conclusão: Na população analisada, predominantemente de baixa renda e escolaridade, a condução inadequada da doença foi expressiva, o que se associou com a presença de complicações retinianas, reforçando a necessidade de adoção de medidas mais amplas para melhorar as estratégias de controle e prevenção do diabete mellitus. Descritores: Diabetes mellitus; Retinopatia diabética; Cegueira ABSTRACT Objective: To evaluate the association between epidemiological and ophtalmological findings in diabetic patients. Methods: Crosssectional study. We selected consecutively diabetic patients examined during 2011 which responded to a questionnaire and examination. Results: The sample comprised 103 patients, of whom 72 (69.9%) were female, 66 (64%) were Caucasian, average age 59 (+/- 9,21) years, 64% reported minimum wages, 58.2% did not finish elementary school, 75.7% reported family history of diabetes, 45.6% reported regularly perform metabolic control, 54.3% did not receive special nutritional care. On examination, 72.8% had visual acuity of 20/40. There was a significant association between retinal complications and insulin usage (OR=8,3; p=0,003), and between low visual acuity and age (OR=11,8; p=0,003) and insulin (OR=5,48, p=0,021), as well with lower education and income. Conclusion: In this low-income and low-education population, glycemic control was poor, and related to the development of diabetic retinopathy and the consequent low vision. These findings emphasize the need to adopt broader strategies to improve control and prevention of diabetes mellitus. Keywords: Diabetes mellitus; Diabetic retinopathy; Blindness Curso de Especialização em Oftalmologia “Prof. Ivo Corrêa-Meyer”, Porto Alegre (RS) - Brasil; Programa de Pós-Graduação, Instituto de Cardiologia, Fundação Universitária de Cardiologia, RS; Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre - UFCSPA - Porto Alegre (RS) - Brasil; 3 Universidade Federal de Pelotas - Pelotas (RS), Brasil. 1 2 Trabalho realizado no Instituto de Cardiologia-Hospital de Viamão-RS e Universidade Federal de Pelotas, RS. Os autores declaram não haver conflitos de interesses Recebido para publicação em 18/10/2012 - Aceito para publicação em 23/6/2014 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 167-70 168 Vergara MS, Jesus AS, Pellanda LC, Vilela MAP INTRODUÇÃO O diabetes mellitus (DM) acomete, atualmente, aproximadamente 171 milhões de pessoas no mundo, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde(1). Destes, provavelmente, 10 a 20% tem alguma forma de retinopatia e cerca de 1,78 milhões são cegos. Até 2030 projetase que 7,7% da população entre 20-70 anos (439 milhões) terá a doença, e destes, 70% ou mais estarão concentrados nos países em desenvolvimento(2). Esta diferença baseia-se em fatores como o crescimento populacional, envelhecimento, dietas inadequadas, obesidade e sedentarismo, além da redução nos valores da glicemia de jejum atualmente adotados para o diagnóstico de DM (1-5). No Brasil, segundo dados da Sociedade Brasileira de Diabetes(3), a prevalência de DM em indivíduos com idade entre 30 e 69 anos é de 7,6%, sendo São Paulo, Porto Alegre e João Pessoa as capitais com as maiores prevalências. A maioria dos diabéticos, com raras exceções(4), não faz exames oftalmológicos preventivos numa periodicidade ideal, desconhecendo as conseqüências da doença e a importância de sua prevenção (5-13). O mais eficiente método de avaliação populacional utiliza as câmeras não midriáticas e centros especializados para o envio das imagens(14-33). O presente estudo tem por objetivo investigar o estado oftalmológico dos pacientes diabéticos provenientes de uma população do Sistema Único de Saúde (SUS) na cidade de Viamão, um município limítrofe com Porto Alegre, Rio Grande do Sul. MÉTODOS Trata-se de um estudo observacional com delineamento transversal. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Instituto de Cardiologia-Hospital de Viamão. Os critérios de inclusão foram: pacientes diabéticos atendidos em 2011 no ambulatório de oftalmologia do Instituto de Cardiologia-Hospital de Viamão, oriundos do SUS. Todos os pacientes diabéticos atendidos foram consecutivamente convidados a participar do estudo, e, após esclarecidos sobre o mesmo, assinaram termo de consentimento, responderam questionário e realizaram exame oftalmológico completo. O questionário foi elaborado para coletar informações sobre sexo, idade, cor, renda, escolaridade, histórico familiar de diabetes, presença de outras doenças sistêmicas, autoavaliação do controle realizado (boa, quando cumpriam todas as orientações rotineiramente; regular, traduzindo aderência parcial; ruim, quando não cumpriam o determinado), dieta (aderência, supervisão de nutricionista), frequência das revisões clínicas, conhecimento sobre sequelas potenciais do diabetes, periodicidade das glicemias de jejum (incluindo testes com glucômetros pessoais). Nos registros hospitalares foram levantadas informações sobre a hemoglobina glicosilada (último resultado disponível), e registros referentes a outras complicações não oculares associadas ao diabetes. Todos foram submetidos à medida da acuidade visual (tabela logMAR) com a melhor correção, avaliação das motricidade intrínseca e extrínseca, tonometria de aplanação (Perkins), biomicroscopia anterior e oftalmoscopia binocular indireta sob midríase. Foram excluídos aqueles casos com preenchimento in- Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 167-70 Tabela 1 Características epidemológicas da população estudada Variável (%) Sexo Cor Feminino (69,9) Brancos (64) Negros (26) Mistos (10) Renda mensal familiar Até 1 salário (64) >1 < 3 salários (30) > 3 salários (6) Escolaridade Analfabetos (18,5) Fundamental incompleta (58) Fundamental completo (18,5) Segundo grau ou mais (5) Histórico familiar de DM presente (76) Tipo de diabetes tipo 2 (99) Doenças associadas HAS (51) Cardiopatia isquêmica (7) IAM (9) AVC (7) Insuficiência renal (2) Controle metabólico Bom (39) Regular (46) Ruim (15) Dieta Adesão irregular (72) Suporte nutricionista Nenhum (72) Periodicidade consultas Semestral (48) Trimestral (35) Anual (17) Periodicidade glicemias 1x/semana (25,5) capilares 1x/mês (36,5) 1x/trimestre (31,5) Nunca (6,5) Hemoglobina glicosilada média (8,3) Tratamento Hipoglicemiante oral (71) Hipoglicemiante oral + insulina (28) Insulina (1) Tabela 2 Resultado da regressão logística entre perda de acuidade e demais variáveis Perda de Visão Odds ratio Erro padrão Valor p [95% IC] Sexo Cor Renda Escolaridade História familiar Controle Complicações gerais Glicemia Insulina Faixa etária Hemoglogina glicada Dieta 0,71 2,03 0,62 0,51 0,40 0,74 0,63 1,84 5,48 11,8 1,23 1,3 0,52 1,06 0,49 0,30 0,30 0,32 0,20 0,62 4,03 9,94 1,01 1,22 0,65 0,17 0,55 0,25 0,23 0,5 0,16 0,07 0,02 0,003 0,8 0,79 0,17-3,01 0,72-5,67 0,13-2,96 0,16-1,62 0,92-1,77 0,31-1,75 0,32-1,20 0,94-3,58 1,3-23,2 2,26-61,5 0,24-6,16 0,20-8,3 [IC 95% = intervalo de confiança 95%] Achados epidemiológicos e alterações oftalmológicas em diabéticos atendidos em hospital geral secundário completo do consentimento, questionário, ou do exame oftalmológico. Naqueles indivíduos que estavam em jejum superior a 2 h foi realizado o teste da glicemia capilar (glucômetro Accu-Chek Performa, Roche, Germany). Todas as informações coletadas foram armazenados em banco de dados no programa Microsoft OfficeExcel 2003 e analisadas através do programa Stata 12.1. A análise estatística incluiu descrição através de médias e desvios padrão ou proporções, correlações bivariadas de Pearson ou Spearman e análise multivariada (regressão logística). Foi considerado significativo um p alfa <0,05. RESULTADOS A amostra foi composta por 103 pacientes atendidos no período de março a dezembro de 2011. A média de idade dos entrevistados foi de 59, 6 (41-85) anos. Observou-se predomínio da cor branca (64%), sendo 26% negros e 10% mistos. Os dados completos encontram-se na tabela 1 . Ao exame oftalmológico, a acuidade igual ou superior a 20/40 foi observada em 73%, entre 20/50 e ausência de percepção luminosa, em 27%. Exame fundoscopico normal em 53%, 32% com RD não proliferativa sem edema macular, 8% RD não proliferativa com edema macular, 6% RD proliferativa de alto risco. O teste do glucômetro foi obtido em 60% da amostra, tendo os seguintes resultados: 31% até 200 mg/dl; 18%, entre 201 a 300 mg/dl; 9% de 301 a 400 mg/dl; 1% entre 401 a 500 mg/dl e 1% acima de 501 mg/dl (59% estavam com mais de 6h de jejum). Foram estatisticamente significativas na regressão logística, controlando-se entre si as variáveis, as relações entre complicações retinianas e o uso de insulina (OR=8,3; p=0,003) e da baixa acuidade visual com o uso de insulina (OR=5,48, p=0,021) e a idade (OR=11,8; p=0,003) (tabela 2). DISCUSSÃO No presente estudo, o perfil mais prevalente é o de um indivíduo adulto, diabético-2, de baixa renda e escolaridade, usando hipoglicemiante oral, e em quase metade dos casos, com retinopatia. Observa-se que a maioria refere ter acesso ao atendimento médico de forma trimestral ou semestral, mas desconhece as doenças sistêmicas associadas e não segue, de forma adequada, as recomendações recebidas. Os valores obtidos na testagem da glicemia capilar foram elevados em sua maioria, e considerados fidedignos neste propósito(34-36), indo de encontro aos resultados encontrados na hemoglobina glicosilada. Por estes dados verifica-se que o controle metabólico encontrado foi precário, ainda que estes doentes tenham acesso a atendimento especializado. Relações estatísticas significantes foram detectadas, controlando-se as variáveis entre si, com o uso de insulina e a presença de retinopatia e da baixa de acuidade visual com a idade e a necessidade de insulinoterapia. Estes achados reproduzem as condições dos pacientes no SUS em nossa região(6,7) e convergem com a maioria dos estudos publicados em diferentes locais(5-13,24-29), onde se observa que quanto maior o tempo de doença, ou maiores as dificuldades de controle - exigindo o uso associado de insulina - piores as reper- 169 cussões oculares. Na média entre 50-90% dos diabéticos não são avaliados sob condições ideiais(1,2). Exceção deste fato encontra-se em Peto e Tadros(4), onde 78% da população de diabéticos do Reino Unido com mais de 15 anos de idade tiveram suas retinas registradas e analisadas com cameras não midriáticas. O maior acesso ao atendimento não significa necessariamente que exista disponibilização de todas as formas de tratamento(37). Este aspecto tem mostrado que é capaz de modular os resultados relacionados ao controle da doença(30-33). Em nosso meio, Guedes et al.(38) em levantamento feito num Programa de Saúde de Família, convergiram na constatação que se precisa mais insistência na disponibilização dos tratamentos e na educação dos diabéticos, ainda que numa amostra pequena e com elevado número de perdas. A redução dos casos de cegueira e de seus custos passa pelo diagnóstico precoce, tratamento preventivo multidisciplinar rigoroso, universalizado e especializado30-33. Os principais fatores de risco para o desenvolvimento da RD são o tempo de evolução da doença, o controle metabólico, o tipo de diabetes e o tratamento (menor risco de RD em pacientes tratados com dieta e maior em usuários de insulina), além de outros fatores (genéticos, hipertensão arterial sistêmica (HAS), tabagismo, gravidez e nefropatia) (24-29). Considerando-se que o tempo de doença e o tipo de diabetes relacionam-se com a presença de RD(26-29), e que, em nosso sistema público de saúde prevalecem aqueles perfis de maior risco, a inclusão de programas educacionais direcionados e de sistemas digitalizados não midriáticos para a aquisição de imagens retinográficas com telemedicina precisam ser adotados visando reduzir as estimativas de cegueira. CONCLUSÃO O presente levantamento persiste demonstrando que as condições essenciais no manejo da RD nos pacientes de nosso Sistema de Saúde, como o autoconhecimento da doença, periodicidade dos controles, suporte nutricional e adesão ao tratamento clínico, seguem completamente distantes do necessário. Pacientes com maior tempo de doença ou necessitando de maior quantidade de medicações mostram chances muito elevadas de perda funcional e dano retiniano severo. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. World Health Organization. Media centre. Diabetes. Fact sheet Nº 312. Updated March 2013. 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Descritores: Edema macular/etiologia; Ceratomileuse assistida por excimer laser in situ; Inibidores da angiogênese; Relatos de casos ABSTRACT The authors report the case of a patient who developed cystoid macular edema after surgery for myopia by LASIK method. She was treated with intravitreal injections of ranibizumab and presented satisfactory visual result. Keywords: Macular edema/etiology; Keratomileusis, laser in situ; Angiogenesis inhibitors; Case repors Hospital de Olhos Santa Luzia, Recife (PE), Brasil; Programa de pós-graduação em Ciência da Saúde, Universidade Federal de Goiás – Goiânia (GO), Brasil; 2 Programa de Residência em Oftalmologia, Hospital de Olhos Santa Luzia, Recife (PE), Brasil; 3 Universidade Federal de Goiás – Goiânia, (GO), Brasil; Centro de Referência em Oftalmologia, Goiânia, (GO), Brasil. I Instituição: Hospital de Olhos Santa Luzia – Recife (PE), Brasil Os autores declaram não haver conflitos de interesses Recebido para publicação em 19/9/2013 - Aceito para publicação em 23/2/2014 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 171-3 172 Freitas LGA, Mesquita NS, Zorrilla JAT, Ávila MP INTRODUÇÃO RELATO DO CASO aser in situ Keratomileusis (LASIK - Laser in situkeratomileusis) é o procedimento cirúrgico para corrigir erros refrativos que tem apresentado elevada taxa de segurança e eficácia(1,2). A maioria das complicações pósLASIK está relacionada ao resultado refracional ou às injúrias da córnea e segmento anterior. O segmento posterior raramente é comprometido(3). O estresse mecânico excessivo é sugerido como etiologia das patologias vítreorretinianas durante ou após LASIK. As alterações ocorrem durante a aplicação do anel de sucção para fixar o globo no momento da criação do flap corneano(4). Esse procedimento induz sobre o seguimento posterior uma força vetorial anterior no corpo vítreo onde a hialoide anterior é aderida à cápsula posterior do cristalino. A tração induzida pode atuar em áreas de alta aderência vitreorretiniana (base vítrea e mácula) e produzir rotura retiniana e buraco macular. Em áreas de baixa adesão vítreorretiniana, o vetor poderia produzir descolamento vítreo(5-7). Outra variável é o tempo necessário para criação do flap. O tempo de sucção prolongado pode estar associado à alta incidência de complicações, incluindo eventos isquêmicos do segmento posterior consequentes ao aumento da pressão intraocular. Na técnica do LASIK, a aplicação do microcerátomo é o principal fator no desenvolvimento de complicações do segmento posterior, e não o uso do excimer laser em si. Descolamento do vítreo posterior, descolamento de retina regmatogênico e neovascularização coroidal com hemorragia macular estão associados ao LASIK, tendo como o principal fator de risco alta miopia(6,8,9). Buraco macular e edema macular cistoide ocorrem nos 6 primeiros meses de pós-operatório e preferencialmente no sexo feminino(10,11). Doenças do nervo óptico, defeitos de campo visual e eventos vasculares estão associados à elevação da PIO durante o corte com o microcerátomo(12). Outros eventos associados ao LASIK incluem síndrome de efusão uveal, descolamento seroso da mácula, coriorretinopatia serosa central, infarto coroidal bilateral e reativação de toxoplasmose ocular(13-16). Apesar do grande número de cirurgias refrativas realizadas e da existência de mecanismos responsáveis pelas complicações do segmento posterior pós-LASIK, a incidência de tais eventos é pequena. Candidatos ao procedimento devem ter conhecimento da possibilidade eventual de tais complicações e serem submetidos à avaliação de fundo-de-olho antes e após a cirurgia. Paciente do sexo feminino, 52 anos, foi submetida à cirurgia refrativa, pelo método LASIK, nos dois olhos (AO), em fevereiro de 2011. Antes do procedimento cirúrgico, era portadora de miopia em ambos os olhos. Após 2 meses da cirurgia, apresentou quadro de baixa visual (BAV) em OD. Quando procurou o nosso departamento de retina e vítreo para avaliação do caso, já foi após um ano da cirurgia. Relatou que foi realizado tratamento logo após o início dos sintomas do OD. A terapia foi com cetorolaco de trometamina (Acular LS - Allergan) 4 vezes ao dia, durante 3 meses e não apresentou melhora da visão. Ao exame oftalmológico, apresentou acuidade visual com melhor correção em OD de 20/40 difícil e em OE de 20/20. À biomicroscopia não apresentou alterações que justificassem BAV. Ao exame de mapeamento de retina, foi visualizado em OD diminuição do brilho macular e rarefação do EPR em fóvea. Em OE não apresentou alterações relacionadas à mácula. A angiografia fluoresceínica revelou hiperfluorescência em mácula do OD. A tomografia de coerência óptica (OCT) apresentou presença de espaço cistoide com fluido em região macular de OD, caracterizando edema cistoide de mácula (ECM) (figura 1). Como tratamento, foi indicado injeção intravítrea do ranibizumabe. Primeira aplicação foi realizada em fevereiro de 2012. Ao exame de OCT, 58 dias após a injeção, já evidenciou depressão foveal plana e presença de pequenos espaços cistoides (figura 2). Optou-se por nova injeção intravítrea de ranibizumabe em OD. Após um mês da segunda injeção, referiu piora da acuidade visual. Foi realizado novo OCT, que revelou recidiva do ECM. Então, foram indicadas 3 (três) novas aplicações de ranibizumabe mensais. Após a segunda injeção (quarta no total), observou-se redução importante do cisto, sem descontinuidade da MLI (figura 3). Após 5ª e última aplicação, paciente apresentou melhora de acuidade visual, atingindo em OD 20/25 e o OCT evidenciou depressão foveal normal. Dessa forma, optou-se pelo acompanhamento semestral da paciente (figura 3). Ao exame, 6 meses após a última aplicação de ranibizumabe, a paciente permanecia com acuidade visual de 20/25 em OD e 20/20 em OE. Ao exame de OCT, mácula sem alterações anatômicas (figura 3). L Figura 1: Retinografia, angiografia fluoresceínica e OCT, demosntrando edema cistoide de mácula antes do tratamento Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 171-3 Figura 2: Resolução parcial do edema cistoide de mácula após primeira aplicação e imagem do ECM recidivado Figura 3: Evolução do tratamento e resultado final Edema cistoide de mácula pós-LASIK tratado com ranibizumabe 173 DISCUSSÃO 4. As cirurgias para correção de erros refracionais têm se tornado cada vez mais comuns. Os procedimentos realizados por LASIK são considerados bastantes seguros, mas não estão isentos de complicações pós-cirúrgicas(3). Um caso de edema macular cistoide bilateral foi relatado em 2005 por Lin e colaboradores(17). O tratamento realizado nesse caso foi o uso de corticoide via oral. No presente caso, não optamos pelo uso do corticoide por saber que a resposta ao uso do ranibizumabe em ECM tem sido favorável, além do que, o uso do corticoide poderia causar determinados efeitos adversos não desejados, tais como aumento da pressão intraocular e catarata. Inicialmente, pensou-se que a paciente apresentasse um micro buraco macular no qual poderia justificar a recidiva do fluido macular. Foi realizado uma OCT com alto número de cortes em 3D para estudar essa possibilidade. Esse diagnóstico diferencial teria que ser descartado, pois a fisiopatologia do edema e o tratamento seriam completamente diferentes e o uso do ranibizumabe de nada resolveria. A existência de um micro buraco foi descartada e optamos por insistir no tratamento com anti-VEGF. Após aplicações consecutivas, a paciente respondeu bem com resolução total do edema e após 6 meses da última aplicação permaneceu com anatomia macular normal. O resultado obtido nesse caso sugere que o tratamento com injeção intravítrea de ranibizumabe pode ser uma boa forma de tratamento em pacientes portadores de ECM pós-LASIK. 5. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. Kohnen T, Steinkamp GW, Schnitzler EM, Baumeister M, Wellermann G, Bühren J, et al. [LASIK with a superior hinge and scanning spot excimer laser ablation for correction of myopia and myopic astigmatism. Results of a prospective study on 100 eyes with a 1-year follow-up]. Ophthalmologe. 2001;98(11):104454. German. Sobha S, Rajan MS, Jackson H. 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Autor correspondente: Luiz Guilherme Freitas Estrada do Encanamento, nº 909 – Casa Forte CEP 52070-010 – Recife – (PE), Brasil Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 171-3 RELATO DE CASO 174 Parinaud’s oculoglandular syndrome and possibly causing cortical cataract Síndrome oculoglandular de Parinaud como possível causa de catarata cortical Mariana Heid Rocha Hemerly1, Marcelo Berno Mattos1, Fábio Petersen Saraiva1, Fellipe Berno Mattos1 ABSTRACT According to the World Health Organization, cataract is the leading cause of blindness and visual impairment throughout the world. However, the etiology of cataracts often remains unknown. This report describes the development of cortical cataract in a patient after Parinaud’s oculoglandular syndrome caused by the fungus Sporothrix schenckii. Keywords: Conjunctivitis; Cataract/etiology; Sporothrix; Ocular motility disorders/complications; Case reports RESUMO De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a catarata é a principal causa de cegueira e deficiência visual em todo o mundo. No entanto, a etiologia das cataratas frequentemente permanece desconhecida. Este relato descreve o desenvolvimento de catarata cortical em um paciente após Síndrome oculoglandular de Parinaud causada pelo fungo Sporothrix schenckii. Descritores: Conjuntivite; Catarata/etiologia; Sporothrix; Transtornos da motilidade ocular/complicações; Relatos de casos Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam), School of Medicine, Vitória – Espírito Santo (ES), Brazil. 1 The authors declare no conflict of interest. Received for publication 23/7/2013 - Accepted for publication 30/9/2013 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 174-7 Parinaud’s oculoglandular syndrome and possibly causing cortical cataract 175 INTRODUCTION A ccording to the World Health Organization, cataract is the leading cause of blindness and visual impairment throughout the world(1). It is often associated with aging, but may be caused by endocrinological disease, trauma, drug therapy or infections, or be of idiopathic etiology(1). Infectionrelated lens opacification may be due to the microorganism itself or, most commonly, secondary to ocular immune inflammatory response or corticotheraphy side effects(1). Cataract following virus aggression is well established in the literature(1). However, this is to our knowledge the first report of cataract probably caused by conjuntival Sporothrix schenckii infection. In this study, we report the clinical aspects of the first documented case of cortical cataract following Parinaud’s oculoglandular syndrome secondary to infection with S. schenckii. The epidemiological aspects, diagnostic methods and drug therapy of this rare disease are also discussed. Case report MSG, 59, diabetic, born and raised in Rio de Janeiro, RJ, was seen at Hospital das Clínicas in Vitória (a state capital of Southeastern Brazil) in december 2009 due to conjunctival hyperemia in the left eye (OS) with 20 days of evolution. The patient reported previous onset of painless nodule-postular lesions in both upper limbs: five lesions along the lymphatic chain on the left side and one on the right side. On occasion of the first examination at our service, one of the lesions on the left side was still perceptible but the others had scarred. Painful preauricular, cervical and supraclavicular lymphadenopathy was also observed ipsilaterally to the ocular conjunctivitis. When questioned, the patient reported having suffered scratches and bites from a stray cat adopted a few weeks earlier. The animal, according to the patient, appeared sick and had multiple skin tumors. The patient also mentioned being treated by four different ophthalmologists over the course of the disease. Each one prescribed seven-day courses of one of these drugs: amoxicillin, erythromycin, vigamox® (0.5% moxifloxacin) or fenidex® (0.05mg dexamethasone + 5mg chloramphenicol + 0.25mg tetrahydrozoline). However, no clinical improvement was observed. The best-corrected visual acuity (VA) was 20/20 in the right eye (OD) and 20/50 in the OS. The examination was hampered by constant epiphora. The OD was normal on biomicroscopy. The OS presented mucopurulent discharge and intense chemosis associated with the presence of diffuse yellow-white granules in the bulbar conjunctiva (figures 1 and 2). There were no corneal or lens findings and no anterior chamber reaction. The intraocular pressure was 10mmHg in both eyes. The diagnosis of S. schenckii was established based on a conjunctival swab collected from the affected eye and submitted to histopathological analysis and growth in specific culture. It was then introduced specific therapy with administration of 6mL 25% potassium iodide solution every 12 hours at the Department of Infectious Diseases, but turned out to be allergic to iodine. As a result, the patient was prescribed itraconazole at 100mg/day for 60 days. This was extended for another 30 days in order to achieve a satisfactory therapeutic response, with complete resolution of the eye infection (figure 3) and of the lesions in the upper limbs. Figure 1: Left eye with intense chemosis and diffuse yellow-white granules in the bulbar conjunctiva; note the presence of secretion in the conjunctival fornixand the absence of cataract Figure 2: Details of yellow-white granules at higher magnifications Figure 3: Aspect of the left eye after the treatment Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 174-7 176 Hemerly MHR, Mattos MB, Saraiva FP, Mattos FB After 3 months of follow-up and coinciding with the end of therapy, the patient complained of reduced VA in the OS. Upon examination, a small anterior cortical cataract was observed, with loss of contrast and a best-corrected VA of 20/50. In 2011, the patient reported an even greater loss of VA in the OS, with more intense and diffuse cortical cataracts. However, for family reasons, the patient decided to postpone surgery. A year later, the patient returned and requested surgical treatment of the affected eye. The best-corrected VA was 20/25 in the OD and 20/70 in the OS. Incipient nuclear sclerosis was seen in the OD on biomicroscopy, while the OS presented a diffuse cortical cataract (nuclear 2+/ 4+ and posterior subcapsular 1-2+/4+). Up to this point, no anterior chamber reaction or any other inflammatory sign had been observed in the OS. The patient then underwent phacoemulsification with intraocular lens implantation without complications.Theanterior capsule and lens fragments extracted were submitted to histopathological analysis. Despite thorough analysis, no traces of fungus were found in the sample. DISCUSSION Sporotrichosis is caused by the dimorphic fungus S. schenckii. Though distributed worldwide, is considered endemic in many tropical and subtropical regions (2,3) and is the most common subcutaneous mycosis in Latin America (4,5). Once considered a rural disease, itis increasingly common in cities, largely due to feline epizootics(4,6). The infection is usually acquired through inoculation of the fungus following skin trauma by contaminated plants(7). However, a zoonotic form has been spreading in recent decades, transmitted mostly by cats. Thus, since the late 1990s, over 2000 cases in humans and 3000 cases in animals have been diagnosed in the state of Rio de Janeiro alone(6). Although patients with sporotrichosis often present significant skin changes, the disease usually follows a relatively mild course without affecting organs other than the skin, the mucosa and subcutaneous tissue(6). The lymphocutaneous form is the most common presentation(3,8,9). It begins with a nodular or ulcerated lesion at the site of inoculation of the fungus and then may follow a trajectory characterized by regional lymphatic infarcts subsequent to the lymph nodes, marked clinically by nodular lesions which ulcerate and drain. This spectrum is known as ascending lymphangitis(3,8). The disease is not a difficult to treat, but is associated with indirect social costs due to work absenteeism, distress during the active stage and the unsightly appearance of the scars. In rare cases, the fungus may have the conjunctiva as the main site of attack (3), causing a unilateral granulomatous conjunctivitis with ipsilateral cervical lymphadenopathy, known as Parinaud’s oculoglandular syndrome (POS) (10). Most eye infections caused by sporotrichosis involve both the conjunctiva and the periorbital tissues(3,11), such as orbital and palpebral abscess. However, suppurative chronic dacryocystitis, scleritis, iridocyclitis, retinochoroiditis and even endophthalmitishave been described(9). Disseminated infection and local trauma are believed to contribute to eye infection(3,12,13). Conjunctival disease is characterized by nodular lesions which are occasionally ulcerated and accompanied by ipsilateral preauricular, submandibular or cervical satellite lymphadenopathy. In addition, fever, purulent discharge and follicular conjunctival reaction may be present(10,14). The disease progresses with ocular manifestations ranging from mild to very Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 174-7 severe(10). Conjunctival involvement is rarely bilateral(10). POS may have several etiologies, but the most common is bartonellosis (cat scratch disease) caused by the bacterium Bartonellahanselae(14). As the name suggests, the disease occurs after a cat bite or scratch and is characterized by fever and lymphadenopathy(14). Considering the epidemiological profile of our patient, a differential diagnosis was imperative. The diagnosis was confirmed by the detection of S. schenckii in material from the conjunctiva submitted to histopathological analysis and grown in specific culture following standard procedures(6). The appearance of unilateral cortical cataract shortly after the occurrence of POS in an eye with previouslytransparent crystalline raises the hypothesis of a causal relationship with the fungus S. schenckii. Changes in the crystalline occur in cases of chronic uveitis or associated with steroid therapy. However, these factors were not observed in our case since the period of use of corticosteroid usewas short andno anterior chamber reaction was detected throughout the entire period of observation. If uveitis occurred at some point between consultations, it must have been short-lived and mild. It should be mentioned that uveitis secondary to ocular sporotrichosis, although rare, has been associated with exuberant iridocyclitis and unfavorable outcomes, including endophthalmitis and eye loss(9,11). It commonly occurs after hematogenous spread from systemic or ocular trauma injuries(11). Since the opacification of the crystalline occurred only in the previously infected eye and it could not be explained by any inflammatory process, fungal aggression is a plausible etiology. This is supported by the finding by Vieira-Dias et al.(3) of S. schenckii in the aqueous humor of a 12-year old girl with signs of ocular and cutaneous sporotrichosis. Likewise, Benz et al.(15) isolated the microsporidian Encephalitozoon cuniculi from samples of aqueous humor and crystalline after their extraction, implicating it as the agent responsible for the development of cortical or mature cataracts in cats. The absence of previous uveitis in 5 of the 19 eyes in their study strengthens the hypothesis of direct fungal aggression and supports our findings. According to a paper published in 2004 by Vasavada et al.(16) the etiology of cataract is predominantly idiopathic. Atopy is the most common comorbidity or risk factor. The lack of knowledge of etiologic factors has important implications for the prevalence of both senile and congenital/infantile cataracts and, consequently, for public health care. CONCLUSION Research efforts should concentrate on the search for the causal factors of cataracts and on the development of preventive strategies and targeted therapeutic approaches. In our study is not possible to ascertain the causal relationship between the development of cataracts and the Parinaud’s Oculoglandular Syndrome, but it is tempting to speculate this association considering the clinical evolution of our case. Cataracts classified as idiopathic may be caused by a misdiagnosed infection. REFERENCES 1. World Health Organization. Prevention of blindness and visual impairment [Internet]. Genebra:WHO; c2013. [cited 2013 Sep 21]. Available from: http://www.who.int/en/ 177 Parinaud’s oculoglandular syndrome and possibly causing cortical cataract 2. Conti-Diaz IA. 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Marechal Campos s/nº - Maruípe Zip Code: 05409-011 – Vitória (ES) Brazil Phone: 55 (27) 3335-7303; Fax: 55 (27) 3335-7100 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 174-7 RELATO DE CASO 178 Melanoma conjuntival multifocal recidivado originado de nevus pigmentado preexistente Recurrent multifocal conjunctival melanoma originated from preexisting pigmented nevus Marcos Leandro Pereira1, Dulcídio de Barros Moreira Júnior2 RESUMO O melanoma conjuntival multifocal recidivado originado de nevus preexistente é extremamente raro, ocorrendo em uma pessoa para cinco milhões de habitantes. Seu estudo é de extrema relevância, devido sua potencial letalidade.Este estudo objetiva descrever um caso de melanoma conjuntival multifocal recidivado proveniente de nevus pigmentado preexistente ocorrido em Patos de Minas, MG. Este é um estudo de caso com revisão de literatura. O diagnóstico histopatológico e o estadiamento precoce da lesão conjuntival é de fundamental importância para designar a conduta frente ao paciente. O procedimento terapêutico mais utilizado nos dias atuais é a excisão cirúrgica com crioterapia adjuvante associada à mitomicina C. O prognóstico do melanoma conjuntival multifocal recidivado originado de nevus preexistente é o pior dentre todos os melanomas oculares, apresentando alta taxa de mortalidade, 12% a 20% em 5 anos e 30% em 10 anos de desenvolvimento patológico. Descritores: Melanoma; Neoplasias da conjuntiva; Nevo melanocítico; Recidiva; Membrana amniótica; Relatos de casos ABSTRACT Recurrent multifocal conjunctival melanoma originated from preexisting nevus is extremely rare: it occurs in one out of five million individuals. The investigation of this disease is extremely important due to its potential lethality. Thus, this study aims to describe a case of recurrent multifocal conjunctival melanoma originated from preexisting pigmented nevus, which occurred in the city of Patos de Minas, state of Minas Gerais. This is a case study and literature review. Histopathological diagnosis and early staging of the conjunctival lesion is a key element on how to approach the patient. The treatment procedure most commonly used today is surgical excision with adjuvant cryotherapy and mitomycin C. The prognosis of recurrent multifocal conjunctival melanoma originated from preexisting nevus is the worst of all ocular melanomas, with high mortality rate: 12% to 20% within 5 years and 30% within 10 years of pathological development. Keywords: Melanoma; Conjunctival neoplasms; Melanocytic nevus; Recurrence; Amniotic membrane; Case reports Biólogo, Especialista em Saúde Pública e da Família, Curso de Medicina do Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM) – Patos de Minas (MG), Brasil; 2 Cirurgião Geral do Hospital Regional Antônio Dias da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais; Professor assistente de Técnica Operatória e Cirurgia I e II do Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM) – Patos de Minas (MG), Brasil. 1 Os autores declaram não haver conflitos de interesses Recebido para publicação em 2/8/2012 - Aceito para publicação em 21/1/2013 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 178-81 Melanoma conjuntival multifocal recidivado originado de nevus pigmentado preexistente INTRODUÇÃO A s neoplasias da conjuntiva representam um amplo es pectro de lesões benignas e malignas algumas capazes de diminuir a acuidade visual e outras de agressiva malignização, podendo até mesmo, ou, raramente levar ao óbito (1,2). Existe uma grande variedade de neoplasias e lesões pseudoneoplásicas originadas a partir do sistema melanógeno. Cumpre-se dizer que o melanoma conjuntival, tumor maligno agressivo, embora raro, se desenvolve a partir de uma melanose primária adquirida, um nevo melanocítico, tecido normal ou conjuntiva palpebral(3,4), podendo ser congênito ou surgir nas primeiras décadas de vida. Tem sido associado a condições sistêmicas, tais como síndrome FAM-M, xeroderma pigmentoso e neurofibromatose, e ainda, a exposição à radiação solar é considerado um importante fator de risco(5). Os nevus conjuntivais podem ser pigmentados ou apigmentados. Eles representam melanócitos que migram para a esclera, a episclera ou asubstância própria, mas não atingem o epitélio. Esse tipo de lesão é, geralmente, multifocal e foi demonstrado que recorrem quando excisado(6). A incidência de melanoma conjuntival é baixa, uma estimativa de 0,2 a 0,5: 1.000.000 na população caucasiana, sendo responsável por 2% dos tumores oculares(7). Em uma amostra norte-americana de 4836 melanomas, apenas 5,2% do total comprometia estruturas oculares, deles 85% comprometia a úvea e 4,8% a conjuntiva. Observa-se, portanto, nos últimos anos, um aumento significativo da incidência na população masculina, enquanto permanece estável na população feminina (8). Indubitavelmente, o diagnóstico correto é crucial para a excisão precoce, o que está associado com um menor risco de doença metastática e a mortalidade associada ao tumor. O melhor método de diagnóstico utilizado para detecção de melanoma conjuntival é a biópsia excisional com análise histopatológica (9). Notou-se, portanto, em estudos prévios, que nos casos em que a excisão é insuficiente para se evitar recidivas, terapias adjuvantes como crioterapia, braquiterapia, quimioterapia e radioterapia podem ser utilizadas(10). Além disso, verificou-se que a utilização da membrana amniótica tem alto valor na cicatrização das superfícies oculares após a exérese, uma vez que ajuda a reepitelização conjuntival, diminui a inflamação local pós-operatória, fornece substrato para repovoamento limbal em células estaminais e diminui cicatrizes(11). Em 5 anos, o melanoma pode recidivar em 30% a 50% dos casos, em 10 anos a recidiva é de 38% a 51% e 65% após 15 anos, conforme o tipo de tratamento empregado. A excisão sem tratamento adicional está ligada a maiores índices de recorrência. Avaliar corretamente as margens cirúrgicas, o tipo de célula e a espessura é essencial, pois estes são importantes indicadores de prognóstico(12,13). A taxa de mortalidade é de 12% a 20% em 5 anos e 30% em 10 anos(11). Este estudo objetiva descrever um relato de caso de melanoma conjuntival multifocal recidivado proveniente de nevus pigmentado preexistente ocorrido no município de Patos de Minas, MG. Trata-se de um relato de caso com revisão de literatura. Utilizaram-se artigos das bases de dados da BIREME, PUBMED e MEDLINE pesquisados pelos descritores: melanoma, neoplasias da conjuntiva, nevo melanocítico, recidiva e membrana amniótica. 179 Relato de caso G. F. M., 40 anos, sexo masculino, casado, profissional da construção civil, natural da zona rural de Presidente Olegário, MG, procedente do município de Patos de Minas, MG. Paciente previamente hígido, sem antecedentes pessoais e familiares para neoplasias oculares, procurou os serviços de oftalmologia pela primeira vez em 2001 queixando de irritação ocular devido a processo reacional no olho esquerdo (OE). Relata mácula hipocrômica em olho esquerdo desde o nascimento sem alteração até o momento. Observou crescimento da mácula em limbo do OE e alteração da coloração. Desta forma, devido à primeira hipótese de um melanoma conjuntival foi encaminhado para o Hospital das Clínicas de Uberlândia, MG para nova avaliação da equipe da oftalmologia. Realizou-se biópsia diagnóstica, identificando em análise anatomopatológica um melanoma multifocal conjuntival. Na ocasião foram efetuadas cinco exéreses para extração de neoplasia. Não foi submetido à quimioterapia nem à radioterapia, sendo solicitado apenas acompanhamento clínico, haja vista não haver alterações das sensações visuais. Retornou aos serviços de oftalmologia para reavaliação das estruturas oculares em 2005. No episódio foi encontrado lesão de limbo em olho esquerdo (OE), pigmentada, com neovasos atingindo córnea com pigmentos planos difusos (figura 1). Realizou-se exérese de tecido de formato irregular medindo em conjunto 0,7x0,5x0,3 cm de cor castanha (figura 2), de consistência elástica que foi encaminhado para estudo anatomopatológico (figura 3), sendo diagnosticado melanoma maligno multifocal recidivado medindo 2 mm em extensão e 0,5mm de espessura no foco maior, infiltrando o córion e comprometendo margem profunda, estadiou-se pT2 pNx pMx. Em 2008, foram observadas metástases por contiguidade em estruturas pericorneais, quando então foi submetido aos exames de cintilografia óssea, USG de abdome, RX de tórax, exames laboratoriais complementares, estes sem alterações. Foi realizada outra biopsia conjuntival com retalho de tegumento que Figura 1: Retinografia digital (A) Olho direito (OD) – conjuntiva, esclera, córnea e úvea sem alterações;(B) Olho esquerdo (OE) – lesão pigmentada em limbo com presença de neovasos, acometendo córnea com pigmentados planos difusos Figura 2: Lesão retirada por exérese em OE (macroscopia) Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 178-81 180 Pereira ML, Moreira Júnior DB Figura 5 – Estrutura ovóide retirada em exérese no olho esquerdo. (Macroscopia). Figura 3: Estudo histopatológico de lesão após excisão – Mucosa revestida por epitélio escamoso estratificado não queratinizado (1); com ninhos grandes expandidos (2); de células de núcleos volumosos, vesiculosos, nucléolos proeminentes (3); cariotecas lisas e citoplasmas pouco amplos com abundante pigmento de melanina (4); Há raras figuras e mitose (5); Os ninhos possuem aspecto infiltrativo e estendendo para camadas superiores do epitélio (6) e para a margem profunda Figura 6 :Estudo histopatológico de terceira lesão – Neoplasia maligna constituída por ninhos de células poligonais que apresentam núcleos volumosos, vesiculosos, com nucléolos proeminentes e citoplasmas eosinófilos, pouco amplos, de limites indistintos; os blocos apresentam limites infiltrativos adjacentes e tecido conjuntivo frouxo. DISCUSSÃO Figura 4 : Estudo histopatológico de nova excisão – Mucosa de epitélio escamoso, sem proliferação juncional de melanócitos (1); no estroma presença de dois focos de proliferação melanocítica (2); Os melanócitos apresentam citoplasmas repletos de pigmento negro com aspectos de melanoma (3); As células neoplásicas apresentam dimensões variadas e com moderada alteração de volume com citoplasmas pouco abundantes e basofílicos e com núcleos vesiculosos com grandes nucléolos (4 e 5); no foco maior de melanoma encontra-se neoplasia na luz de vaso que passa ao seu lado com aspecto de capilar sanguíneo mede 0,4x0,2x01 cm com mancha leve hipercrítica que mede 2 mm e que parece comprometer uma das margens laterais de ressecção. Ao anatomopatológico apresentou mucosa do fundo de saco conjuntival esquerdo com proliferação melanocítica atípica (figura 4). Em 2011, apresentou lesão no fundo de saco conjuntival em olho esquerdo. Submeteu-se a outra exérese, sendo retirado fragmento ovóide, castanho amarelada, brilhante, de consistência elástica, aos cortes apresenta tecido macio, branco-acizentado de 0,6x0,4x0,3 cm (figura 5). Em exame anatomopatológico, melanoma maligno (recidivado clinicamente), tipo propagação superficial, comprometendo as margens de excisão cirúrgica (figura 6). O paciente está em acompanhamento dos serviços de oftalmologia até os dias atuais. Realizou reconstrução da superfície ocular com membrana amniótica. Nos últimos dias relata perda de visão e diplopia, está em processo de reabilitação, foi prescrito lentes de correção visual com 4 graus de dioptria e aguarda avaliação clínica periódica. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 178-81 O melanoma ocular é o tipo mais frequente depois do melanoma cutâneo. O melanoma ocular acomete o trato uveal e a conjuntiva(3). Cada tipo de melanócito pode originar inúmeras lesões pigmentadas. Dentre as derivadas dos melanócitos dendríticos estão a melanose pigmentada benigna, melanose secundária adquirida da conjuntiva e melanose primária adquirida. Das lesões oriundas dos melanócitos fusiformes estão presentes os nevus de Ota, os nevus conjuntivais e derivados de células névicas(14). O melanoma é uma neoplasia maligna que se apresenta sob três formas clínicas distintas: 1) melanoma com melanose primária adquirida; 2) melanoma sem melanose primária adquirida e 3) melanoma derivado de nevus preexistente, sendo esse muito raro(12), e foco deste estudo. Os melanomas conjuntivais, geralmente, surgem a partir da quinta década de vida, se observa de forma excepcional em menores de 20 anos, a maioria dos pacientes são de etnia branca, nesta condição o paciente apresentava 28 anos quando o melanoma teve seu início, o que amplia a raridade desta patologia. Os tumores podem se recidivar a partir de um nevo preexistente, sendo mais comum de uma melanose primária adquirida. A metástase ocorre por contiguidade, como descrito neste caso, ou por disseminação através da via linfática(11). O exame histopatológico da conjuntiva se mostrou um procedimento simples, que forneceu informações valiosas no estudo das lesões oculares externas. Nesse sentido, o método pode ser considerado eficaz, confiável e de fácil execução. É por meio da imunohistoquímica que se identificam os tipos celulares encontrados em cada lesão (15), indicando células do sistema melanocítico na lesão. No histopatológico realizado foram encontradas células poliédricas associadas às células globosas (figuras 3, 4 e 5). No Melanoma conjuntival multifocal recidivado originado de nevus pigmentado preexistente melanoma conjuntival são identificados quatros tipos celulares distintos: células epitelióides grandes, células epitelióides poliédricas, células em eixo e células globosas. É frequente visualizar a combinação entre os tipos celulares em um mesmo melanoma(14). As células melanocíticas são altamente invasíveis e podem comprometer a esclera, a episclera e se estender intraocularmente, como mostrado na figura 6. O estadiamento inicial do caso apresentado foi pT2 pNx pMx.Assim, é um tumor de conjuntiva bulbar, ocupando mais do que um quadrante e 2 mm ou menos de espessura com linfonodos regionais não palpáveis, sem metástase. Esta definição aponta que a excisão foi retirada de uma lesão jovem, que não acometeu linfonodos regionais sem disseminação para outros tecidos(16). Não foi realizado tratamento quimioterápico ou radioterápico, uma vez que os mesmos não oferecem benefícios durante o tratamento. Entretanto, foi associado à exérese o uso de adjuvantes (Mitomincina C). Atualmente, a excisão local associada à crioterapia e, mais recentemente, mitomicina C é amplamente aceita como evidência de tratamento primário(17,18). Após a análise de inúmeras técnicas, que tem por prioridade a melhoria da interface conjuntiva-córnea, verifica-se, portanto, o uso de mucosa oral(19), transplante conjuntival autólogo, membrana amniótica(20,21), transplante conjuntival associado ao transplante de limbo, transplante lamelar e aplicação de mitomicina C(22). O grande objetivo da reparação conjuntival, além do processo cicatricial, é de que haja a recuperação da funcionalidade do tecido ocular, mantendo a homeostasia. A membrana amniótica é constituída por uma camada espessa de colágeno, membrana basal de laminina e colágeno tipo IV(23). Esta composição promove a cicatrização nos defeitos epiteliais persistentes por facilitar a adesão e migração de células epiteliais basais. Acrescenta, ainda, que apresenta excelente ação angiogênica, cicatricial, anti-inflamatória e antimicrobiana. Os autores citados anteriormente conjecturam que a membrana amniótica não induz rejeição imunológica, por não expressar antígenos de histocompatibilidade (HLA - A, B ou DR)(24). A taxa de recidiva em 5 anos foi descrita de diferentes maneiras conforme os trabalhos realizados previamente, sendo identificadas recidivas em 26%(13), 52%(18) e 60,7%(8), esta diferença pode ser explicada pelo percentual de tumores tratados com adjuvante terapia nos distintos estudos. O prognóstico do melanoma conjuntival multifocal recidivado originado de nevus preexistente é o pior dentre todos os melanomas oculares, apresentando alta taxa de mortalidade, 12% a 20% em 5 anos e 30% em 10 anos de desenvolvimento patológico(20). Portanto, cumpre-se ressaltar que o melanoma conjuntival multifocal recidivado originado de nevus preexistente é extremamente raro, já que ocorre em uma pessoa para cinco milhões de habitantes, sendo um estudo de extrema relevância, devido à sua potencial letalidade. O diagnóstico histopatológico e o estadiamento precoce da lesão conjuntival é de extrema importância para designar a melhor propedêutica, com os melhores prognósticos. 3. REFERÊNCIAS 23. 1. 2. Kato ET, Macruz E, Morais L, Sabrosa NA, Holzchuh N, Alves MR, et al. Tumores conjuntivais: ocorrência na clínica oftalmológica da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Rev Bras Oftalmol. 1996;55(12):921-5. Santo RM.Tumores conjuntivais. In:Alves MR, Kara-José N. Conjuntiva cirúrgica. São Paulo: Roca; 1999. p.125-7. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 24. 181 Shields CL. Conjunctival melanoma: risk factors for recurrence, exenteration, metastasis, and death in 150 consecutive patients. Trans Am Ophthalmol Soc. 2000;98:471-92. Shields JA, Shields CL, DePotter P. Surgical management of conjunctival tumors.The 1994 Lynn B. McMahan Lecture. Arch Ophthalmol. 1999;115(6):808-15.Comment in Arch Ophthalmol. 1999;117(8):1098-9. Cohen V, Papastefanou VP, Tsimpida M. 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Outras causas incluem alterações pró-trombóticas, anemia e trauma. Os sinais e sintomas são extremamente variados e inespecíficos, sendo o seu diagnóstico efetuado através de ressonância magnética nuclear (RMN). Os autores apresentam um caso clínico de uma doente com 75 anos de idade, que recorre ao serviço de urgência devido à dor em olho direito vermelho associado à cefaléias frontais com quatro dias de evolução. Ao exame oftalmológico observou-se defeito pupilar aferente relativo no olho direito (OD); na biomicroscopia vasos episclerais dilatados, catarata nuclear e à fundoscopia um edema discreto da papila com apagamento do rebordo nasal, hemorragias punctiformes dispersas e tortuosidade vascular em OD. A realização de angio-RMN confirmou o diagnóstico tendo a doente sido tratada com enoxaparina. Apesar do tratamento da TSC ser um tratamento etiológico, foi demonstrado que a anticoagulação está associada à diminuição da taxa de mortalidade. Desctritores: Trombose dos seios intracranianos; Anticoagulação; Imagem por Ressonância magnética; Relatos de casos ABSTRACT Cavernous sinus thrombosis (CST) is a rare condition, usually results from a late complication of an infection of the paranasal sinuses. Other causes include prothrombotic disorders, anemia and trauma.The signs and symptoms are extremely varied and nonspecific, being the diagnosis made through magnetic resonance imaging (MRI). The authors present a 75-year-old woman, admitted in the emergency room complaining of ocular pain in the right eye (RE), red eye and frontal headache. She presented on ophthalmic examination of the RE: dilated episcleral vessels, nuclear cataract and a relative afferent pupillary defect. Fundoscopy examination of the RE revealed disc edema with nasal disc margin blurred, small dot hemorrhages and vascular tortuosity. The MRI angiography confirmed the diagnosis and the patient was treated with low molecular weight heparin. Despite treatment of CST is directed to the causal situation, being shown that anticoagulation is associated with reduction in mortality. Keywords: Sinus thrombosis, intracranial; Anticoagulation; Magnetic resonance imaging; Case reports Centro Hospitalar de Coimbra (CHC) – Portugal 1,2,3,4 Os autores declaram não haver conflitos de interesses Recebido para publicação em 29/8/2011 - Aceito para publicação em 24/4/2012 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 182-4 Trombose parcial do seio cavernoso 183 INTRODUÇÃO A trombose do seio cavernoso (TSC) é uma situação clínica rara havendo poucos casos descritos na literatura(1). Esta pode ser classificada etiologicamente de duas formas: séptica e asséptica. A forma séptica é a mais frequente estando normalmente associada a processos infecciosos dos seios paranasais, face e ouvidos(2). A forma asséptica está associada a trauma, fenômenos tromboembólicos (aumento do factor VIII, défice fator V Leiden, proteína C e S, desidratação, anemia, entre outros(3,4). A apresentação clínica é inespecífica, variando desde oftalmoplegia, olho vermelho, cefaléia, coma e até morte(5). A taxa de mortalidade baixou de, praticamente, 100% antes do advento da antibioticoterapia para menos de 30%(2) na atualidade. O diagnóstico deve ser efetuado através de exames de imagem como a angio-RMN(6). Os autores apresentam um caso clínico de trombose parcial do seio cavernoso direito. Caso clínico Doente do sexo feminino de 75 anos de idade, recorre ao serviço de urgência (SU) devido a dor ocular, olho vermelho no OD e cefaléia frontal com cerca de quatro dias de evolução. Havia sido observada previamente e medicada com norfloxacina colírio. Apresentava como antecedentes pessoais obesidade. Ao exame oftalmológico apresentava melhor acuidade visual corrigida Figura 1A: Congestão vasos episclerais Figura 2A: Corte axial RMN inicial com contraste (MAVC) OD: 6/10 e olho esquerdo (OE) 7/10; Biomicroscopia OD: dilatação e congestão dos vasos episclerais, sobretudo no quadrante nasal, catarata nuclear (figura 1A); fundoscopia OD apresentava edema da papila com apagamento rebordo nasal, hemorragias punctiformes dispersas e tortuosidade vascular. A pressão ocular OD/OE - 13mmHg. Ao exame oftalmológico em OE indicava sem alterações relevantes. Ao exame neurológico e o restante do exame físico sem alterações relevantes. Foi realizada tomografia computorizada (TC), com administração de contraste que demonstrou discreta heterogeneidade espontânea do seio cavernoso à direita, com sugestão de defeito de preenchimento do mesmo após administração de contraste (figura 1B). Posteriormente foi realizada uma angio-RMN que constatou assimetria dos seios cavernosos, com abaulamento da parede do seio cavernoso direito após administração de contraste. Pode-se observar defeito de preenchimento (figura 2A) e aumento do calibre da veia oftálmica superior direita na RMN, com ponderação em T1 (figura 2B). A paciente ficou internada no Serviço de Neurologia e realizou hemograma, bioquímica, microbiologia, sorologias, estudo dos fatores protrombóticos, autoimunidade e imunoquímica. Todos os exames resultaram sem alterações. Foi medicada com fluorometolona tópica, 1 gota 3 x dia, enoxaparina 60 mg sódica durante 10 dias, e posteriormente, varfarina 5mg/dia. À data da alta encontrava-se assintomática e foi prescrita varfarina 5mg (1 comprimido alternado com ½ cp) para cumprir em ambulatório. Após 3 meses de follow up apresentava-se assintomática, com diminuição da congestão em OD e observação fundoscópica Figura 1B: Corte axial angio-TC com sugestão de defeito de preenchimento após administração de contraste Figura 2B: Corte axial RMN inicial dilatação da veia oftálmica superior data Figura 2C: Corte axial RMN após 3 meses, sem sugestão de defeito preenchimento Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 182-4 184 Mira F, Costa B, Paiva C, Andrês R, António Loureiro A semelhante. A angio-RMN de controle relatava não se observarem, agora, defeitos de preenchimento do seio cavernoso direito (figura 2C). DISCUSSÃO O diagnóstico da TSC é desafiante devido à apresentação clínica discreta e inespecífica. Esta manifesta-se através de febre, proptose, paralisias nervos cranianos em cerca de 80-100%, diminuição da acuidade visual, diplopia em cerca de 50-80%, hemiparésia e convulsões em menos de 20% dos casos segundo estudo de Southwick et al.(7). Em termos etiológicos sabe-se que a forma mais frequente é a séptica, mas em cerca de 4,8% a 12,5 % dos casos permanece desconhecida(7,8). No presente caso clínico foi efetuado um estudo exaustivo das causas infecciosas (dentro as quais se destaca vírus da hepatite B, Epstein-Barr vírus, vírus da imunodeficiência humana, citomegalovírus, herpes simplex, toxoplasmose, sífilis), bem como a pesquisa de alteração da autoimunidade e de fatores protrombóticos (deficiência de proteína C, S, fator V de Leiden, aumento do fator VIII), cujos resultados foram negativos. Realizou-se ecocardiograma e ecodoppler carotídeo bilateral, ambos sem alterações relevantes. Perante os resultados dos exames auxiliares de diagnóstico realizados concluiu-se tratar-se de uma situação idiopática, tendo-se preconizado tratamento com enoxaparina 60 mg sódica. Está demonstrado que a utilização de enoxaparina diminui a taxa de mortalidade e está associada a um aumento da taxa de recuperação(9-11). O diagnóstico de TSC implica uma grande suspeição clínica inicial sendo que a angio-RMN(6) é o método gold standard para a identificação do défice de preenchimento do seio cavernoso, tal como se verificou no caso clínico enunciado. O diagnóstico diferencial deve ser equacionado com a Celulite Orbitária, Síndrome do Ápex Orbitário, Fístula CarótidaCavernosa, entre outros(12). No presente caso clínico houve repermeabilização do seio cavernoso, estando de acordo com a literatura que descreve um aumento desta com a anticoagulação. Stols et al. verificaram uma taxa de repermeabilização de 60% em casos de trombose do seio dural(13). Em termos de prognóstico, atualmente este é mais favorável, apresentando uma taxa de mortalidade de aproximadamente 30%(2), podendo no entanto haver outras complicações como meningite, êmbolos sépticos, cegueira e sépsis, determinando habitualmente sequelas permanentes(14) nos sobreviventes. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 182-4 REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. Yanoff M, Duker JS, Augsburger JJ, editors. Ophthalmology. 3rd ed. Edinburgh: Mosby; 2009. p. 1076-80. King MD, Day RE, Oliver JS, Lush M, Watson JM. Solvent encephalopathy. Br Med J (Clin Res Ed).1981;283(6292):663-5. Boniuk M. The ocular manifestations of ophthalmic vein and aseptic cavernous sinus thrombosis. Trans Am Acad Ophthalmol Otolaryngol. 1972;76(6):1519-34. Melamed E, Rachmilewitz EA, Reches A, Lavy S. Aseptic cavernous sinus thrombosis after internal carotid arterial occlusion in polycythaemia vera. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 1976;39(4):320-4. Seow VK, Chong CF,Wang TL, Lin CM, Lin IY. Cavernous sinus thrombophlebitis masquerading as ischaemic stroke: a catastrophic pitfall in any emergency department. Emerg Med J. 2007;24(6):440. Uzan M, Ciplak N, Dashti SG, Bozkus H, Erdincler P, Akman C. 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A radiação beta emitida pelo iodo radioativo são partículas que irão se armazenar no tecido da tireóide destruindo as células cancerígenas que ainda restaram após a cirurgia (tireoidectomia). É importante enfatizar este possível efeito deletério da terapêutica, a qual afeta a mucosa da via lacrimal, sendo o resultado do processo de inflamação e cicatrização vascular, produzindo transtornos hipovasculares, hipocelulares e hipóxicos. Descritores: Obstrução dos ductos lacrimais/etiologia; Dacriocistite; Radioisótopos do iodo/efeitos adversos; Relatos de casos ABSTRACT Iodotherapy represents the radioactive iodine therapy. The beta radiation emitted by radioactive iodine are particles that will be stored in the thyroid tissue destroying cancer cells that were left after surgery (thyroidectomy). It is important to emphasize a possible deleterious effect of therapy which affects the mucosa of the lacrimal system which results in a process of vascular inflammation and scarring producing disorders hypovascular, hypocellular and hypoxic. Keywords: Lacrimal duct obstruction/etiology; Dacryocystitis; Iodine radioisotopes/adverse effects; Case reports 1,2 Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) – São Paulo (SP), Brasil Trabalho realizado no Setor de Vias Lacrimais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) – São Paulo (SP), Brasil. Os autores declaram não haver conflitos de interesses Recebido para publicação em 14/10/2013 - Aceito para publicação em 1/2/2012 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 185-7 186 Lorena SHT, Silva JAF INTRODUÇÃO A obstrução da via lacrimal do adulto(1-3) pode ser classificada em primária (apresenta um infiltrado linfoplasmocitário culminando com processo cicatricial) e secundária (devido a diversas situações como pós-irradiação terapêutica de carcinoma nasofaríngeo e basocelular de canto interno, radioiodoterapia para carcinoma de tireóide, fraturas mediofaciais, leucemia, sarcoidose, tuberculose, tracoma, Síndrome de Down, Síndrome de Steven-Johnson, leishmaniose, lepra, linfoma, migração de plugs e iatrogenias). As manifestações clínicas da obstrução do ducto nasolacrimal cursam com epífora seguida por processo inflamatório e infeccioso, levando ao quadro de dacriocistite crônica ou aguda. O diagnóstico diferencial da dacriocistite se faz com abscessos cutâneos, etmoidite anterior aguda, dermóides, hemangioma, cavernoso, fibromas, dacriolitíase. A mucocele do saco lacrimal é uma dacriocistite crônica, na qual o saco vai aumentando e não existiria sem a dacriocistite(1-3). A incidência da dacriocistite crônica é de 2% a 3% em relação aos outros tipos de obstrução da via lacrimal de drenagem(1-3). Segundo dados da literatura, as causas mais frequentes de obstrução da via lacrimal foram a idiopática (59,2%), a congênita (29,6%), a iatrogênica (4,5%) e após a radioterapia (3,7%) (4). A obstrução de via lacrimal após radioiodoterapia se deve à detecção de transportadores de sódio-iodo na mucosa do saco lacrimal e do ducto nasolacrimal, correspondendo às áreas de obstrução anatômica. A presença desse receptor explicaria a fibrose que substitui as células epiteliais do saco lacrimal após a terapia com radioiodo(5,6). Iodoterapia representa a terapia com iodo radioativo. O iodo radioativo é usado na terapia do controle dos carcinomas diferenciados da glândula tireóide. O objetivo deste tratamento é destruir através da radiação emitida pelo iodo, as funções destas células cancerígenas que ainda restaram após a cirurgia (tireoidectomia). Para este tipo de terapia é necessária a internação para controle clínico e permite que se aguarde a eliminação e a diminuição da radiação emitida pelo iodo ingerido O iodo é um elemento presente no sal iodado que encontramos em nossa alimentação. O iodo contido no sal de cozinha é de muita importância, pois ele é a essencial fonte de nutrição para a glândula tireóide. Esta glândula encontra-se na parte anterior do pescoço e, é responsável pela secreção de hormônios essenciais para o metabolismo humano, como o T3 (tiriodotinosina) e T4(tetraiodotirosina)(7-10). O iodo radioativo na forma de iodeto de sódio é produzido por processos físicos a partir do iodo encontrado na natureza. Por apresentar as mesmas características que o iodo, o iodo radioativo será também captado pela glândula tireóide, para fazer parte do metabolismo da glândula. Este iodo é dito radioativo por emitir radiações de duas maneiras: radiação gama (semelhante aos raios X) e radiação beta, empregadas na terapia de combate às células cancerígenas ainda presentes na glândula tireóide. A radiação beta, emitida pelo iodo radioativo, são partículas que irão se armazenar no tecido da tireóide destruindo as células cancerígenas(11,12). Efeitos colaterais sistêmicos têm sido relatados com o uso de altas doses. Relatos de obstrução das vias lacrimais em pacientes submetidos à radioiodoterapia têm direcionado a atenção a esse possível efeito deletério da terapêutica. Relato de caso Relatamos um caso de obstrução da via lacrimal bilateral em uma paciente de 42 anos, sexo feminino, branca, casada, do lar, procedente de São Paulo e natural de Garanhões (Piauí), foi submetida à tireoidectomia total por apresentar carcinoma Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 185-7 Figura 1: Ectoscopia de parte parcial da face Figura 2: Teste de Milder com resultado de 2 cruzes em ambos os olhos Figura 3: Dacriocistografia em ambos os olhos papilífero de tireóide. Foi submetida à radio-iodoterapia e após 2 anos apresentou epífora em ambos os olhos. Ao exame apresentava visão igual a 1,0 em ambos os olhos, ausência de proptose ocular (figura 1), musculatura extraocular preservada. Na biomicroscopia apresentava ausência de hiperemia em conjuntiva bulbar, ausência de reação em câmara anterior, presença de refluxo de secreção mucopurulenta em ambos os olhos, após compressão da região medial da órbita. Teste de Milder:OD:+2;OE:+2 (figura 2). A dacriocistografia com subtração óssea revelou obstrução bilateral completa ao nível da válvula de Krause em ambos os olhos (figura 3). A paciente será submetida à dacriocistorrinostomia externa bilateralmente. DISCUSSÃO No ser humano os ductos lacrimais são partes integrantes do sistema lacrimal e estão envolvidos com o transporte da lá- Obstrução da via lacrimal após radioiodoterapia: relato de caso e conduta grima da superfície ocular ao meato nasal inferior . O bom funcionamento do saco lacrimal e ducto nasolacrimal é dependente da mucosa e da camada muscular subjacente de ambas as estruturas. O fluxo lacrimal através do saco lacrimal e do ducto nasolacrimal é altamente dependente das interações entre mucinas da mucosa, microvilosidades e o fluido lacrimal(13-15). O saco lacrimal e o ducto nasolacrimal possuem um diferente padrão de expressão de genes de mucina em comparação com a superfície ocular. Conforme a imuno-histoquímica, o epitélio do saco lacrimal e do ducto nasolacrimal produzem MUC5B e -7 e, em menor grau, MUC5AC e -2. Parece haver uma alteração no padrão de mucina do epitélio à medida que avançamos da superfície ocular para o saco lacrimal. Produção e presença de MUC5B foram encontrados no epitélio do ducto nasolacrimal(13-15). A diversidade de mucinas no saco lacrimal e no ducto nasolacrimal pode estar relacionada ao melhor transporte de lágrima e defesa antimicrobiana. Redução dos níveis de mRNA de mucinas secretoras na dacrioestenose funcional reforça a suposição de que mucinas facilitam o fluxo da lágrima pelo ducto lácrimonasal(13-15). A NIS (Na + / I-symporter) é uma glicoproteína que auxilia na captação de iodeto na glândula tireóide e em vários tecidos extratireoidianos. A obstrução do canal nasolacrimal tem sido relatada como uma complicação associada à radioiodoterapia (I-131) para tratamento do carcinoma de tireóide. As células que produzem a NIS estavam ausentes e fibrose foi observada nos ductos nasolacrimais em pacientes tratados com I-131, sugerindo que a captação ativa de iodo mediada pela NIS pode ser responsável pela lesão do ducto nasolacrimal(16-18). O encontro da proteína NIS em células epiteliais colunares do saco lacrimal e ducto nasolacrimal, localidades anatômicas de obstrução em pacientes tratados com radioiodoterapia, sugere que a NIS pode estar envolvida na mediação da captação de iodo ativo nesses tecidos e na patogênese da obstrução da via lacrimal(18). Enquanto o uso de altas doses terapêuticas de radioiodoterapia para ablação de câncer de tireóide é geralmente bem tolerado, há alguns efeitos adversos associados a este tratamento. Complicações oftalmológicas da terapia incluem conjuntivite, olho seco e epífora(18-26). A necrose e a infecção secundária dos tecidos previamente irradiados são uma complicação grave. Os efeitos agudos afetam normalmente a mucosa oral. Os efeitos crônicos afetam os ossos e outras mucosas, incluindo a mucosa do saco lacrimal e ducto nasolacrimal, sendo o resultado do processo de inflamação e cicatrização, produzindo transtornos hipovasculares, hipocelulares e hipóxicos(27). REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. Linberg JV. Pathology of nasolacrimal duct obstruction. In: Linberg JV. Lacrimal surgery. New York: Churchill Livingstone; 1988. p. 169-200. Tucker N, Chow D, Stockl F, Codère F, Burnier M. Clinically suspected primary acquired nasolacrimal duct obstruction: clinicopathologic review of 150 patients. Ophthalmology. 1997;104(11):1882-6. Bernardini FP, Moin H, Kersten RC, Reeves D, Kulwin DR. Routine histopathologic evaluation of the lacrimal sac during dacryocystorhinostomy: how useful is it? Ophthalmology. 2002;109(7):1214-7; discussion 1217-8. Comment in Ophthalmology. 2003;110(12):2434-5; author reply 2435-6. Santos FP, Souza TV, Abreu CB, Silva MLS, Balieiro FO, Pignatari SSN, Stamm AC. 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Autor correspondente: Silvia Helena Tavares Lorena Rua Flórida, nº 1404 – Brooklin CEP 04561-030 – São Paulo (SP), Brasil E-mail:[email protected] Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 185-7 188 Instruções aos autores A Revista Brasileira de Oftalmologia (Rev Bras Oftalmol.) - ISSN 0034-7280, publicação científica da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, se propõe a divulgar artigos que contribuam para o aperfeiçoamento e o desenvolvimento da prática, da pesquisa e do ensino da Oftalmologia e de especialidades afins. Todos os manuscritos, após aprovação pelos Editores, serão avaliados por dois ou três revisores qualificados (peer review), sendo o anonimato garantido em todo o processo de julgamento. Os comentários dos revisores serão devolvidos aos autores para modificações no texto ou justificativa de sua conservação. Somente após aprovações finais dos revisores e editores, os manuscritos serão encaminhados para publicação. O manuscrito aceito para publicação passará a ser propriedade da Revista e não poderá ser editado, total ou parcialmente, por qualquer outro meio de divulgação, sem a prévia autorização por escrito emitida pelo Editor Chefe. Os artigos que não apresentarem mérito, que contenham erros significativos de metodologia, ou não se enquadrem na política editorial da revista, serão rejeitados não cabendo recurso. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Oftalmologia seguem os requisitos uniformes proposto pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas, atualizado em fevereiro de 2006 e disponível no endereço eletrônico http://www.icmje.org Artigo de Revisão: Tem como finalidade examinar a bibliografia publicada sobre um determinado assunto, fazendo uma avaliação crítica e sistematizada da literatura sobre um determinado tema e apresentar as conclusões importantes, baseadas nessa literatura. Somente serão aceitos para publicação quando solicitado pelos Editores. Deve ter: Texto, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract, Keywords e Referências. Artigo de Atualização: Revisões do estado-da-arte sobre determinado tema, escrito por especialista a convite dos Editores. Deve ter: Texto, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract, Keywords e Referências. Relato de Caso: Deve ser informativo e não deve conter detalhes irrelevantes. Só serão aceitos os relatos de casos clínicos de relevada importância, quer pela raridade como entidade nosológica, quer pela não usual forma de apresentação. Deve ter: Introdução, Descrição objetiva do caso, Discussão, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract e Keywords e Referências. Cartas ao Editor: Têm por objetivo comentar ou discutir trabalhos publicados na revista ou relatar pesquisas originais em andamento. Serão publicadas a critério dos Editores, com a respectiva réplica quando pertinente. 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Os manuscritos deverão obedecer as seguintes estruturas: Artigo Original: Descreve pesquisa experimental ou investigação clínica - prospectiva ou retrospectiva, randomizada ou duplo cego. Deve ter: Título em português e inglês, Resumo estruturado, Descritores; Abstract, Keywords, Introdução, Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão e Referências. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 188-90 B) Segunda folha Resumo e Descritores: Resumo, em português e inglês, com no máximo 250 palavras. Para os artigos originais, deverá ser estruturado (Objetivo, Métodos, Resultados, Conclusão), ressaltando os dados mais significativos do trabalho. Para Relatos de Caso, Revisões ou Atualizações, o resumo não deverá ser estruturado. Abaixo do resumo, especificar no mínimo cinco e no máximo dez descritores (Keywords) que definam o assunto do trabalho. Os descritores deverão ser baseados no DeCS Descritores em Ciências da Saúde - disponível no endereço eletrônico http://decs.bvs.br/ Abaixo do Resumo, indicar, para os Ensaios Clínicos, o número de registro na base de Ensaios Clínicos (http://clinicaltrials.gov)* C) Texto Deverá obedecer rigorosamente a estrutura para cada categoria de manuscrito. Em todas as categorias de manuscrito, a citação dos autores no texto deverá ser numérica e sequencial, utilizando algarismos arábicos entre parênteses e sobrescritos. As citações no texto deverão ser numeradas sequencialmente em números arábicos sobrepostos, devendo evitar a citação nominal dos autores. Introdução: Deve ser breve, conter e explicar os objetivos e o motivo do trabalho. 189 Métodos: Deve conter informação suficiente para saber-se o que foi feito e como foi feito. A descrição deve ser clara e suficiente para que outro pesquisador possa reproduzir ou dar continuidade ao estudo. Descrever a metodologia estatística empregada com detalhes suficientes para permitir que qualquer leitor com razoável conhecimento sobre o tema e o acesso aos dados originais possa verificar os resultados apresentados. Evitar o uso de termos imprecisos tais como: aleatório, normal, significativo, importante, aceitável, sem defini-los. Os resultados da pesquisa devem ser relatados neste capítulo em seqüência lógica e de maneira concisa. Informação sobre o manejo da dor pós-operatório, tanto em humanos como em animais, deve ser relatada no texto (Resolução nº 196/96, do Ministério da Saúde e Normas Internacionais de Proteção aos Animais). Resultados: Sempre que possível devem ser apresentados em Tabelas, Gráficos ou Figuras. Discussão: Todos os resultados do trabalho devem ser discutidos e comparados com a literatura pertinente. Conclusão: Devem ser baseadas nos resultados obtidos. Agradecimentos: Devem ser incluídos colaborações de pessoas, instituições ou agradecimento por apoio financeiro, auxílios técnicos, que mereçam reconhecimento, mas não justificam a inclusão como autor. Referências: Devem ser atualizadas contendo, preferencialmente, os trabalhos mais relevantes publicados, nos últimos cinco anos, sobre o tema. Não deve conter trabalhos não referidos no texto. Quando pertinente, é recomendável incluir trabalhos publicados na RBO. As referências deverão ser numeradas consecutivamente, na ordem em que são mencionadas no texto e identificadas com algarismos arábicos. A apresentação deverá seguir o formato denominado “Vancouver Style”, conforme modelos abaixo. Os títulos dos periódicos deverão ser abreviados de acordo com o estilo apresentado pela National Library of Medicine, disponível, na “List of Journal Indexed in Index medicus” no endereço eletrônico: http:// www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?db=journals. Para todas as referências, citar todos os autores até seis. Quando em número maior, citar os seis primeiros autores seguidos da expressão et al. Artigos de Periódicos: Dahle N, Werner L, Fry L, Mamalis N. Localized, central optic snowflake degeneration of a polymethyl methacrylate intraocular lens: clinical report with pathological correlation. Arch Ophthalmol. 2006;124(9):1350-3. Arnarsson A, Sverrisson T, Stefansson E, Sigurdsson H, Sasaki H, Sasaki K, et al. Risk factors for five-year incident age-related macular degeneration: the Reykjavik Eye Study. Am J Ophthalmol. 2006;142(3):419-28. Livros: Yamane R. Semiologia ocular. 2a ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Capítulos de Livro: Oréfice F, Boratto LM. Biomicroscopia. In: Yamane R. Semiologia ocular. 2ª ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Dissertações e Teses: Cronemberger S. Contribuição para o estudo de alguns aspectos da aniridia [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 1990. Publicações eletrônicas: Herzog Neto G, Curi RLN. Características anatômicas das vias lacrimais excretoras nos bloqueios funcionais ou síndrome de Milder. Rev Bras Oftalmol [periódico na Internet]. 2003 [citado 2006 jul 22];62(1):[cerca de 5p.]. Disponível em: www.sboportal.org.br Tabelas e Figuras: A apresentação desse material deve ser em preto e branco, em folhas separadas, com legendas e respectivas numerações impressas ao pé de cada ilustração. No verso de cada figura e tabela deve estar anotado o nome do manuscrito e dos autores. Todas as tabelas e figuras também devem ser enviadas em arquivo digital, as primeiras preferencialmente em arquivos Microsoft Word (r) e as demais em arquivos Microsoft Excel (r), Tiff ou JPG. As grandezas, unidades e símbolos utilizados nas tabelas devem obedecer a nomenclatura nacional. Fotografias de cirurgia e de biópsias onde foram utilizadas colorações e técnicas especiais serão consideradas para impressão colorida, sendo o custo adicional de responsabilidade dos autores. Legendas: Imprimir as legendas usando espaço duplo, acompanhando as respectivas figuras (gráficos, fotografias e ilustrações) e tabelas. Cada legenda deve ser numerada em algarismos arábicos, correspondendo as suas citações no texto. Abreviaturas e Siglas: Devem ser precedidas do nome completo quando citadas pela primeira vez no texto ou nas legendas das tabelas e figuras. Se as ilustrações já tiverem sido publicadas, deverão vir acompanhadas de autorização por escrito do autor ou editor, constando a fonte de referência onde foi publicada. O texto deve ser impresso em computador, em espaço duplo, papel branco, no formato 210mm x 297mm ou A4, em páginas separadas e numeradas, com margens de 3cm e com letras de tamanho que facilite a leitura (recomendamos as de nº 14). O original deve ser encaminhado em uma via, acompanhado de CD, com versão do manuscrito, com respectivas ilustrações, digitado no programa “Word for Windows 6.0. A Revista Brasileira de Oftalmologia reserva o direito de não aceitar para avaliação os artigos que não preencham os critérios acima formulados. Versão português-inglês: Seguindo os padrões dos principais periódicos mundiais, a Revista Brasileira de Oftalmologia contará com uma versão eletrônica em inglês de todas as edições. Desta forma a revista impressa continuará a ser em português e a versão eletrônica será em inglês. A Sociedade Brasileira de Oftalmologia, Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares e Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa, se comprometem a custear a tradução dos artigos para língua inglesa, porém seus autores uma vez que tenham aprovado seus artigos se disponham a traduzir a versão final para o inglês, está será publicada na versão eletrônica antecipadamente a publicação impressa (ahead of print). * Nota importante: A “Revista Brasileira de Oftalmologia” em apoio às políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Intemational Committee of Medical Joumal Editors (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso somente aceitará para publicação, a partir de 2008, os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE, disponível no endereço: http:/ /clinicaltrials.gov ou no site do Pubmed, no item <ClinicalTrials.gov>. O número de identificação deverá ser registrado abaixo do resumo. Os trabalhos poderão ser submetidos pela Internet no site rbo.emnuvens.com.br Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 188-90 190 Revista Brasileira de Oftalmologia Declaração dos Autores (é necessária a assinatura de todos os autores) Em consideração ao fato de que a Sociedade Brasileira de Oftalmologia está interessada em editar o manuscrito a ela encaminhado pelo(s) o(s) autor(es) abaixo subscrito(s), transfere(m) a partir da presente data todos os direitos autorais para a Sociedade Brasileira de Oftalmologia em caso de publicação pela Revista Brasileira de Oftalmologia do manuscrito............................................................. . Os direitos autorais compreendem qualquer e todas as formas de publicação, tais como na mídia eletrônica, por exemplo. O(s) autor (es) declara (m) que o manuscrito não contém, até onde é de conhecimento do(s) mesmo(s), nenhum material difamatório ou ilegal, que infrinja a legislação brasileira de direitos autorais. Certificam que, dentro da área de especialidade, participaram cientemente deste estudo para assumir a responsabilidade por ele e aceitar suas conclusões. Certificam que, com a presente carta, descartam qualquer possível conflito financeiro ou de interesse que possa ter com o assunto tratado nesse manuscrito. Título do Manuscrito___________________________________________________________________________ Nome dos Autores_______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ Minha assinatura abaixo indica minha total concordância com as três declarações acima. Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (3): 188-90