A GEOGRAFIA DO COMERCIO ATACADISTA NA CIDADE DO RIO

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A GEOGRAFIA DO COMERCIO ATACADISTA NA CIDADE DO RIO DE
JANEIRO (1850-1915)
Vitor de Araujo Alves
[email protected]
INTRODUÇÃO
O período compreendido entre a segunda metade do século XIX e o início do século
XX tem profunda relevância para os que se interessam pela evolução urbana da cidade do
Rio de Janeiro. É ao longo destas décadas que começa a se desenrolar o processo de
separação entre os usos do solo, eixo norteador da presente dissertação. Em sentido amplo,
o estudo sobre esse processo considera as funções residencial, manufatureira/industrial e
comercial. Este trabalho, todavia, está restrito a esta última e tem como objetivo
analisar os padrões espaciais de um setor específico: o comércio atacadista. Isso não
significa alijar da análise as outras funções urbanas e o outro ramo do setor comercial
(varejista). Há sabidamente a necessidade de se buscar um referencial empírico que
contemple, isoladamente ou em conjunto, as tendências de outras atividades urbanas.
A mistura nos usos do solo da cidade do Rio de Janeiro, característica do espaço
urbano carioca no período colonial, precisa ser relativizada quando pensamos a segunda
metade do século XIX – conforme têm mostrado algumas pesquisas no campo da geografia
histórica. Em uma cidade que conhece um franco crescimento físico e demográfico e um
processo de modernização condizente com seu status de capital, a lógica capitalista ganha
intensidade e o espaço urbano, em seu caráter de reflexo social, passa a apresentar
tendências mais visíveis de fragmentação. Já aparecem, por exemplo, algumas áreas
especializadas em determinados usos, em contraste com um aglomerado que, espremido entre
a orla paralela à Rua Direita e o campo de Santana, concentrava desorganizadamente as
diversas funções urbanas.
Mas qual foi o papel que o setor de distribuição atacadista desempenhou ao
longo do processo de separação dos usos do solo na cidade do Rio de Janeiro? A
tentativa de responder a esta questão coloca a espacialização dos fixos ligados à atividade
por atacado como etapa indispensável.
É importante esclarecer que partimos da premissa que os atacadistas, mais do que
meros comerciantes de produtos em grandes quantidades, cumprem um papel de
intermediação entre as escalas espaciais da produção e do consumo. Isso significa que sua
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estrutura interna de organização é muito mais ampla e complexa do que normalmente se
supõe; este tipo de comerciante articula uma série de serviços ligados ao transporte de
mercadorias, ao armazenamento e beneficiamento (em caso de produtos agrícolas) e mesmo
às negociações comerciais, em diversos casos através de consignatários, corretores e firmas
de exportação e importação. É através deles que a cidade do Rio de Janeiro se conecta à
região cafeeira fluminense, escoando pelo porto a produção cafeeira que vai em direção aos
mercados estrangeiros; do mesmo modo, com outro exemplo, é a partir deles que máquinas
têxteis produzidas no exterior chegam aos consumidores finais na capital federal.
As dúvidas surgem a respeito das articulações espaciais que possibilitam o comércio
por atacado em nível intra-urbano. Essas trajetórias, ainda pouco conhecidas, apontam a
necessidade de reconstruir os mecanismos de mediação comercial de cada um dos gêneros
selecionados, tomando como sub-questão a pergunta:

Que diferenças e similaridades, em termos de agentes sociais e localização,
existem no interior das diversas cadeias comerciais do vasto setor atacadista
carioca?
Os gêneros a serem espacializados serão agrupados em duas grandes categorias:
comércio de exportação e comércio de importação. A primeira será subdividida em outras
duas (embora ainda haja dúvida sobre isso); são elas: a) gêneros agropecuários; b) gêneros
minerais. Esta escolha se fez baseada na observação de documentos da alfândega carioca
entre 1855 e 1915, que evidenciaram uma pauta muito pouco diversificada de exportações.
Já a documentação do comércio por importação nos sugere que dividamos esta categoria em
outras três: a) matérias-primas e artigos destinados à indústria; b) gêneros manufaturados; c)
gêneros destinados à alimentação. Tendo em vista a enorme variedade da pauta de
importações na cidade do Rio de Janeiro, há desde já a ciência de que estes dados
precisarão ser bastante agregados.
Nossa última sub-questão advém da necessidade de pensar as relações comerciais
geograficamente. Visto em sua relação com outras partes da cidade do Rio de Janeiro, o
setor atacadista é elemento importante no processo de fortalecimento de lógicas capitalistas –
baseadas sobretudo, no comércio. Pensando no nível de integração entre as partes que
compõe o setor atacadista, cabe perguntar:
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 Já existe uma divisão territorial do trabalho que nos permita identificar
algum tipo de especialização funcional dos atacadistas no nível de análise
intra-urbano?
Este conjunto de questionamentos fornece a possibilidade de um diálogo entre a
geografia e a história econômica do Rio de Janeiro, certamente um novo olhar sobre a cidade
entre a segunda metade do século XIX e o início do século XX. Ao tentar respondê-los, nos
inserimos em discussões que interessam a geógrafos e historiadores, como a evolução da
atividade portuária no Rio de Janeiro e a consolidação desta cidade como centro de
distribuição para o mercado interno e polarizador de produtos para exportação. Ademais,
contribuímos com a reflexão sobre um objeto que vem, há muito tempo, sendo pouco notado
na academia.
Poucos têm pensado o comércio por atacado e pode-se mesmo dizer que, de uma
maneira geral, há certa negligência com o tema; isto parece estranho quando admitimos que
esse se constitui em um dos pilares fundamentais do capitalismo comercial e industrial,
possibilitando uma circulação de mercadorias cada vez maior em âmbito local, regional e
global. Assim, a discussão segue sub-explorada em campos como a história e a economia.
Na geografia, como notificam os trabalhos de CORRÊA (2000) e VANCE JR. (1970), a
produção sobre os atacadistas não acompanha a enormidade de trabalhos teóricos e
empíricos que, na literatura brasileira e internacional, privilegiam o comércio varejista.
Lembremos que uma das mais consagradas teorias em geografia – a das localidades centrais,
de Walter Christaller (1933) – ignora por completo a localização do comércio por atacado,
um problema que derivou da ausência quase total de uma literatura geográfica específica. O
passar das décadas, todavia, não foi capaz de impedir o silêncio, também verificado na
geografia brasileira. Para Roberto Lobato Corrêa (2000:06) ainda há uma geografia histórica
brasileira do comércio atacadista a ser feita, especialmente se considerarmos que em muitas
regiões a gênese dessas atividades se fez em diversos momentos do passado distante e
recente.
Para a cidade do Rio de Janeiro, a preferência pelo estudo de padrões comerciais
varejistas em nível intra-urbano também é esmagadora. O único trabalho encontrado tratando
especificamente dos padrões comerciais atacadistas foi o breve artigo de Aluízio Capdeville
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Duarte (1967). Entretanto, ele nos ajuda muito pouco já que o recorte temporal trata de um
passado muito recente (a segunda metade do século XX) e há ausência de uma base teórica
mais detalhada. Outras obras trataram indiretamente do setor atacadista carioca, como as de
Elisa Almeida & Dulce Pinto (1967) e Marcelo Paiva da Motta (2001). Nestes casos, o
problema é outro: há excessiva agregação das informações sobre os atacadistas e, de fato, é
nítida a maior importância dada aos padrões de comércio varejista, de serviços e de
manufaturas/indústrias. Este trabalho se propõe a ajudar a preencher, mesmo que em parte,
esta antiga lacuna da geografia comercial.
Nosso estudo sobre o comércio atacadista carioca será realizado a partir de cinco
recortes temporais sincrônicos (1855, 1870, 1885, 1900 e 1914). A discussão sobre o tipo
de análise temporal será tratada no primeiro capítulo. Já a escolha final dos gêneros a serem
analisados ainda depende de um trabalho mais detalhado junto à documentação, embora já
tenhamos a certeza de que alguns gêneros aparecerão. Algumas dúvidas, entretanto, precisam
ainda precisam ser solucionadas. A principal delas diz respeito à importância que deve ser
atribuída às categorias valor e volume ou, melhor, à relação entre elas. O ouro, por exemplo,
aparece sempre como um gênero importantíssimo se considerarmos os valores que representa
na pauta de exportações; entretanto, o consumo de espaço das casas comerciais auríferas é
muito pequeno frente à outras atividades (como o café, que além de mais volume, envolve
diversas etapas). O mais apropriado talvez seja pensar todos os gêneros a partir das duas
categorias.
1- UMA GEOGRAFIA HISTÓRICA DO COMÉRCIO ATACADISTA CARIOCA
(1855-1915)
Este trabalho analisa o espaço produzido pelos comerciantes atacadistas e busca o
reconhecimento de seus padrões espaciais. Como aponta Roberto Lobato Corrêa (2000:9) a
identificação de padrões é uma tradição na geografia econômica e urbana que possibilitam
aos geógrafos um primeiro momento de inteligibilidade a respeito da produção do espaço. Em
nível mais amplo, que considera a relação entre os diversos setores urbanos, o conceito
considerado central é o de espaço urbano. Dentre as características apontadas CORRÊA
(1996[1979]), dois pares interessam mais diretamente. Primeiramente, consideramos o
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espaço dialeticamente, como reflexo e condição social. Em segundo, nos interessa seu caráter
fragmentado e articulado. A fragmentação, decorrente da ação dos agentes modeladores do
espaço urbano, tende a produzir os setores urbanos que compõe um mosaico diferenciado
internamente pelos usos da terra. A articulação, complementar a essa última, pressupõe que
as partes da cidade mantêm relações entre si e, através dela, o espaço urbano ganha unidade.
A identificação dos padrões será feita a partir de cinco momentos de apreensão. Os
sucessivos cortes espaço-temporais que reconstituem a localização dos comerciantes
atacadistas serão analisados a partir da visão conhecida como sincrônico-diacrônica. A
base teórica para organização do tempo em geografia histórica é de Lawrence Estaville Jr., de
acordo com o artigo “Organizing time in historical geography”, de 1991. Para o autor
(p.310), os geógrafos desenvolveram uma série de estratégias de organização
espaço-temporais para a investigação de padrões e processos espaciais no passado:
1) o corte temporal transversal (the temporal cross section);
2) os cortes transversais sincrônicos (synchronic cross sections);
3) a subseção ou as subseções diacrônicas (diachronic subsection(s));
4) a integração de duas ou mais dessas estratégias.
É esta última a alternativa deste trabalho; antes de explorá-la, tratemos rapidamente
dos outros tipos. O corte temporal transversal pode ser subdividido em outros dois.
Primeiramente, a seleção de uma seção de tempo no passado (cross section – past) é
normalmente feita pela disponibilidade de fontes materiais espaciais e serve à recriação do
“presente de então” (historic present). É também conhecido como fatiamento do tempo ou
método horizontal. O segundo tipo, o método retrospectivo ou refletivo (cross-section –
relic), é usado para recriar geografias do passado de acordo com os vestígios encontrados na
paisagem atual. A obsolescência funcional é o critério mais importante na definição das
relíquias.
Por sua vez, os cortes sincrônicos ou seções transversais sucessivos (Figura 1a) – são
uma extensão do corte temporal horizontal e podem ser feitos do passado para o presente
(progressivamente) ou o contrário (retrogressivamente). Para Estaville Jr, a maior vantagem é
a análise das mudanças de um instante a outro; a maior desvantagem, por outro lado, é a
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restrição do entendimento do processo em caso de um número reduzido de recortes. Já as
subseções diacrônicas ou longitudinais (Figura 1b) são utilizadas quando se pretende isolar
relações espaciais de um fenômeno particular a partir de um fluxo contínuo de tempo e, assim
como os cortes sincrônicos, podem ser organizados progressivamente ou retrogressivamente.
Sua maior vantagem é proporcionar uma análise rica em termos de processo, como em um
filme contínuo; uma das desvantagens é que o número de fenômenos observados costuma ser
pequeno.
Figura 1: Mé todo sincrônico e mé todo diacrônico
(Estaville Jr., 1991:314-316)
Inserimos este estudo em um dos tipos de união entre essas duas últimas perspectivas
(Figura 2: cross sections diachronically linked). De um lado, isolamos a categoria comércio
atacadista, vista entre o período de 1855 e 1915; esta análise une diacronicamente os cinco
recortes temporais sincrônicos. São eles: 1855, 1870, 1885, 1890 e 1915. A escolha por
esses anos se baseou na tentativa de fatiar toda a segunda metade do século XIX: assim,
optou-se por um grande número de recortes que, com intervalos de quinze anos, nos dão
vantagens na análise da evolução espacial dos comerciantes atacadistas.
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Figura 2: Corte s horizontais diacronicame nte ligados
(Estaville Jr., 1991:320)
A escolha pelo primeiro mapeamento no ano de 1855 se deu, primeiramente, pela
importância da década de 1850 no fortalecimento do capitalismo carioca, como aponta a
bibliografia. Em segundo lugar, a idéia era analisar o período imediatamente anterior à
chegada de uma importante inovação no sistema técnico, a Estrada de Ferro Dom Pedro II
(1858), elemento modernizante da exportação cafeeira. O final da análise, no ano de 1915,
permite que analisemos a passagem para um interessante momento de nossa história
comercial, a Primeira Guerra Mundial. Este período histórico (1855-1915) será visto a partir
de uma narrativa, sendo esse o sentido histórico deste trabalho. Esta narrativa, por sua vez,
pressupõe a evolução espacial do comércio por atacado na cidade do Rio de Janeiro, se
constituindo em uma narrativa geográfica dos fixos produzidos por estes agentes
sócio-espaciais.
A busca pela base documental envolve a pesquisa no arquivo do Ministério da
Fazenda e nos interessam documentos alfandegários e portuários dos séculos XIX e XX. Já a
elaboração dos mapas pressupõe duas etapas: a pesquisa de dados no Almanak Laemmert
(uma espécie de catálogo da época que nos dará as localizações dos fixos atacadistas) e a
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confecção cartográfica em si. Esta última compreende o trabalho com plantas do passado –
para plotagem dos dados – e a utilização de programas gráficos para a apresentação final.
Passemos a uma tentativa de definição da natureza do comércio atacadista em vias de
delimitar, com a maior clareza possível, o que esta categoria significa no âmbito deste
trabalho.
2- A NATUREZA DO COMÉRCIO ATACADISTA
A já citada obra de James Vance Jr. (1970) nos indica boas possibilidades de
reflexão sobre a natureza do comércio atacadista através de uma rápida, mas interessante
discussão teórica. Já o estudo empírico do caso norte-americano, que deu origem a uma série
de mapas, não nos interessa tão de perto. Passemos aos pontos pertinentes.
Para Vance Jr., há concordância que o comércio por atacado é diferente do comércio
por varejo. Esta distinção, entretanto, remove apenas os extremos da dúvida sobre o que, de
fato, é o comércio atacadista. Buscando uma definição mais clara, resgata alguns pontos
considerados centrais na história do comércio. Primeiramente, é importante reconhecer que o
comércio externo só pôde surgir com o desaparecimento das localidades auto-suficientes.
Assim, com o advento de uma estrutura comercial externa (onde se pressupõe um sistema
aberto), surge a questão de como realizar tais transações, ou seja, de como manter um
sistema onde vendedores e compradores não se encontram fisicamente. A solução para este
problema está calcada na criação de um novo componente na estrutura comercial: o agente
de comércio (VANCE JR, 1970: 05-06). Este elemento aparecerá com freqüência daqui
para frente, mesmo nos trabalhos de não-geógrafos;
Em suma, é apenas quando há separação geográfica entre a produção e o consumidor
final que o atacadista precisa intervir. Essa intervenção torna-se ainda mais importante se
considerarmos, baseado em Vance Jr., que a fonte do sistema estrutural fundamental da vida
econômica ocidental é largamente, senão totalmente, aquela do comércio atacadista
(idem:12); a introdução do agente como um terceiro elemento (onde antes só haviam
produtores e compradores) é considerada pelo autor uma das mudanças críticas na geografia
econômica: é a partir disso que a economia local se torna parte de uma economia regional
mais ampla, não se devendo negligenciar o caráter de pioneirismo proporcionado por essa
expansão de horizontes.
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O agente de comércio associa produtores/vendedores com os consumidores e
assegura a troca das informações sobre possíveis produtos e mercados, garantindo ainda a
possibilidade de modelagem das condições locais pelas externas. A impossibilidade de acesso
direto do produtor ao comprador é impossível tanto pelo grande número de envolvidos
quanto pela distância que normalmente os separa. Assim, necessariamente há de haver
ligações entre esses dois grupos para:
(1) prover o produtor de um mercado e do conhecimento sobre ele;
(2) assegurar ao consumidor o acesso aos produtos de um determinado tipo em um
tempo específico.
Nesta conexão comercial entre um grande número de produtores e um número ainda
maior de consumidores, o ponto mais importante não diz respeito a quem faz a ponte entre as
partes, mas à própria ligação ou acordo. A natureza desta troca nos ajuda a diferenciar o
comércio atacadista do varejista, distinção importante no âmbito deste trabalho. Esta
preocupação está expressa na obra de Theodore Beckman e Nathanael Engle (1937), que
James Vance Jr. aponta como a primeira investigação de fôlego sobre o comércio atacadista.
Três critérios básicos são utilizados pelos autores para distinguir o comércio atacadista do
varejista:
(1) a condição ou o motivo do comprador em fazer a compra;
(2) a quantidade de bens envolvidos na transação;
(3) o método de operação do negócio.
Assim, uma possível distinção pode ser determinada pela natureza da compra do
freguês: o atacadista deve ter fregueses que são antes empresários do que meros
consumidores e o propósito da compra passa, neste sentido, a ser mais importante que a
quantidade em si. Isto contradiz uma das visões mais comuns sobre o comércio atacadista,
associado meramente a um tipo de comerciante que vende grandes quantidades. A definição
do verbete ‘atacadista’, no dicionário Michaelis, é ilustrativa: “negociante que compra em
grosso artigos de sua especialidade e os revende em grandes partidas”. Com efeito, não há
dúvida que boa parte dos problemas para se definir o comércio atacadista vem da amplitude
dos usos que este termo pode ter; mesmo a definição simples de que o atacadista conecta o
produtor aos comerciantes varejistas é mais precisa do que se pode supor. Por último, Vance
Jr. enumera alguns tipos de atacadistas. São eles: o comerciante atacadista, o agente
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fabricante, o intermediário e os agentes de exportação-importação. Não há mais tempo para
a continuação desta discussão; o mais importante, todavia, é perceber que este conceito de
comércio atacadista abr uma nova linha de possibilidades, ampliando as discussões a respeito
de tema tão esquecido. A expectativa é que a Dissertação de Mestrado, que dá origem a este
artigo, consiga explorar com profundidade o comércio atacadista na cidade do Rio de Janeiro
a partir da segunda metade do século XIX.
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