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Manuel Mucheta Cureva
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A Cognitologia como Ciência Filosófica
Prof. Doutor Manuel Mucheta Cureva1
Faculdade de Filosofia; Universidade Eduardo Mondlane; Moçambique
1 Introdução
É do domínio público, quer dizer das comunidades científicas, que na história da
civilização humana houve dois períodos ou movimentos de evolução da humanidade quanto
ao domínio e utilização do conhecimento. Da ignorância para o conhecimento e do
conhecimento para a ciência.
Na história da teoria do conhecimento (Gnoseologia e epistemologia) houve três
períodos, nomeadamente o período da elaboração dos primeiros programas científicos, o
período metodológico e o período da ética do conhecimento científico.
As características principais do conhecimento comuns a todos os períodos
gnoseológicos indicados consistem na diferenciação do conhecimento, na sua especialização
em diferentes ramos.
Esta diferenciação, em nosso entender deve-se ao facto de o conhecimento ter
concentrado ou focalizado como principal seu objecto os fenómenos, ou seja a
fenomenologia. Porém, o estudo da essência, objecto inicial do conhecimento, ficou
secundarizado, ou seja, o conhecimento deixou em grande medida de se dirigir á essência,
isto é, ficou fragilizada a “Essenciologia”.
A unicidade do conhecimento, característica inicial do mesmo a quando do seu
surgimento ficou seriamente danificada pela complexidade dos fenómenos. Urge voltar a
“Essenciologia”.
A ciência que é produto da filosofia tenta estudar os fenómenos e em nossa opinião ela
é arrogante ao tentar reduzir o conhecimento á empíria, mas esta perspectiva é insegura,
conforme mostra a situação do homem no mundo contemporânea, claramente desfavorável a
si mesmo devido ao uso desmedido dos resultados da ciência empírica, ou seja, o
conhecimento empírico pode conduzir á destruição da própria espécie humana se o uso dos
seus resultados não for controlado. Trata-se da necessidade de observância de princípios
éticos. A observância de princípios éticos na aplicação dos conhecimentos científicos não
poderá ser garantida, em nosso ponto de vista, se o sujeito “cognoscente”, sujeito do
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Prof. de Lógica, Retórica e Filosofia da Ciência na Faculdade de Filosofia da Universidade Eduardo Mondlane
em Moçambique. E-mail: [email protected]
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conhecimento continuar apego a fenomenologia. É necessário reduzir o conhecimento á
“Essenciologia”. Esta redução alcança-se, em nosso entender, mediante o regresso á unicidade
do conhecimento (sem fragmentação do seu objecto), através da criação de um domínio do
saber, a “Cognitologia” no contexto da filosofia, a qual irá tratar da “Essenciologia” e não da
fenomenologia habitual.
A importância da “Essenciologia” pode ter sido antecipada e bem descrita por alguns
autores, como Peter J. King (2005, p. 7) “[…] a ciência é um esforço determinado para
ultrapassar a subjectividade humana na investigação dos aspectos empíricos do mundo,
também a filosofia é o esforço para fazer a mesma coisa na investigação dos aspectos nãoempíricos[…]”.
O objectivo do presente artigo consiste em propor e esclarecer a necessidade de
introdução nas ciências filosóficas de uma nova disciplina ou ramo do conhecimento
filosófico com a designação de “Cognitologia”, que possa explicar as leis de funcionamento
ou regularidades do conhecimento integrado cujo objecto seja o que entendemos chamar de
“Essenciologia” em oposição a fenomenologia.
A nossa ideia apoia-se também nos resultados da X Conferência científica sobre a
Lógica, Metodologia e Filosofia da Ciência havida na cidade de Minsk em 1999 e em
particular também nos trabalhos de Geroimenko V.A.e Openkov M.yo e outros.
No contexto do presente artigo não pretendemos esgotar os conteúdos do tema sobre o
qual versamos, nem elaborar uma língua ou dicionário completos em que a Cognitologia se
pode apresentar e exprimir, mas sim fornecermos uma nossa primeira abordagem com vista a
desenvolvê-la noutros trabalhos destinados ao tema.
2 Conceitos-chave
Os conceitos-chave em torno dos quais se desenvolve o Artigo são:
“Cognitologia”. Este é um novo termo ou novo conceito que tentamos introduzir
como inovação nossa na literatura filosófico-científica, com o qual pretendemos designar,
referir ou significar estudo sistematizado da “Unicidade do conhecimento”, “Conhecimento
como um Todo, em oposição a fragmentação do conhecimento. A etimologia da palavra
“cognitologia é: cognito-conhecido, cognoscível, conhecimento; A palavra derivada da
“cognitologia”, “Cognoscente”, que igualmente introduzimos para designar a quem realiza o
acto de “cognitar”, como verbo que introduzimos para referir ao acto de conhecer. A palavra
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derivada de “Cognitologia”, “Cognitólogo” que igualmente introduzimos para designar ou
referir ao estudioso da “Cognitologi”.
“Essenciologia”. Este é um novo termo ou conceito que tentamos introduzir como
inovação nossa na Literatura filosófico-científica, com o qual pretendemos designar ou
significar o estudo sobre a essência do conhecimento em oposição a fenomenologia como
estudo sobre os fenómenos ou manifestações isoladas das propriedades dos objectos; A
etimologia da palavra “essenciologia” é: essentia, essência. A palavra derivada da
“Essenciologia”, “Essentiar” que igualmente introduzimos como verbo para referir ao acto
de achar a “essência”.
“Cienciologia”. Este é um novo termo ou conceito que tentamos introduzir como
inovação nossa na Literatura filosófico-científica, com o qual pretendemos designar ou
significar o estudo sistematizado do conhecimento em geral e do conhecimento científico em
particular. A etimologia da palavra “Cienciologia” é: ciência. A palavra derivada da
“Cienciologia”, “Cienciólogo” que igualmente introduzimos quer significar o estudioso do
conhecimento em geral e do conhecimento científico em particular. A outra palavra derivada
de “Cienciologia”, “Cienciologar” que igualmente introduzimos como verbo para referir ao
acto de achar ou buscar o conhecimento em geral e o conhecimento científico em particular.
Gnoseologia, Epistemologia, termos ou conceitos tradicionais da filosofia.
Para qualquer ciência que se encontre em desenvolvimento intensivo, é característica a
formação, no contexto paradigmático cognitivo em que ela se insere, de novos ramos
problemáticos, disciplinas científicas e aparatos conceptuais e terminológicos específicos.
Trata-se de um fenómeno regular. Mas a tomada de consciência e a fundamentação da
necessidade de constituição de qualquer nova disciplina científica exige investigações
especiais que nos seus primeiros momentos se caracterizam pela colocação do objecto
específico da nova área disciplinar, sendo assim um assunto polémico que habitualmente
divide comunidades científicas.
No presente artigo nós tentaremos em linhas gerais propor e examinar o objecto de
estudo e problemas científicos da “Cognitologia” filosófica como uma disciplina científica do
ramo filosófico em formação, a sua relação com o complexo das ciências cognitivas e em
particular com a chamada engenharia do conhecimento.
Sob o ponto de vista puramente lógico-formal a relação entre as três áreas do saber
anteriormente referidas, nomeadamente a cognitologia filosófica, as ciências cognitivas e a
engenharia do conhecimento consiste em que na literatura científica contemporânea, tanto a
referente ás humanidades como ás naturais, pode-se encontrar a sua representação por meio
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de um e o mesmo termo “cognitologia”.Assim, este termo muitas vezes usa-se para designar
ou expressar “ciências cognitivas”, as quais são o referente ou significante do termo
“cognitologia”. Neste sentido o termo “cognitologia” é apenas o sinónimo do complexo
conjunto de ciências “soberanas” ou seus fragmentos, ligadas entre si através do enfoque
cognitivo na abordagem aos seus problemas específicos. Julgamos que há necessidade e
possibilidade de integrar a variedade complexa das ciências cognitivas numa disciplina única
com a denominação de “Cognitologia”. Esta consideração facilitaria a abordagem do
conhecimento como uma “unidade estrutural e funcional do espírito humano”, tendo única
origem e fim o Homem.
É constatável na literatura científica que a cognitologia é igualmente tratada como uma
das ciências cognitivas e engenharia do conhecimento como uma nova área da ciência e
actividade profissional, em que se resolvem problemas de tratamento dos conhecimentos
humanos e sua representação nos sistemas computorizados e outros autómatos. Este
tratamento do termo cognitologia é aceitável na medida em que é fundamentado nas interconexões estruturais e funcionais da fonte primária do conhecimento, o Homem.
O conteúdo do termo “cognitologia” manifesta-se claramente quando se trata da
relação entre a metodologia filosófica e ciências cognitivas. É que o desenvolvimento
vitorioso das ciências cognitivas exige não só atenção particular para as questões filosóficas
de cada uma delas, mas uma base conceptual e metodológica geral formulada e elaborada em
detalhe por uma ciência filosófica particular sobre o conhecimento humano, a qual não existe
até ao momento. É exactamente, em nosso ponto de vista, este lugar vazio que deve ser
ocupado pela “Cognitologia Filosófica”, cujo objecto específico será o conhecimento humano
ou espiritual como um fenómeno complexamente estruturado e dinâmico, prescindindo-se das
suas manifestações aparentes, ou seja, considerar apenas a sua essência. A tarefa principal da
cognitologia filosófica será a construção ou elaboração dos modelos metodológicos
produtivos e reprodutivos através de um aparato categorial próprio.
A Cognitologia como ciência filosófica será diferente da epistemologia, informática e
outras disciplinas próximas dela. A grande diferença consiste em que se trata de uma ciência
sobre o conhecimento humano nas suas mais diversas formas conceptualmente exprimíveis ou
representáveis por fórmulas ou esquemas independentemente do fragmento da realidade,
natural, espiritual ou humana e social que trate.
Neste sentido o sujeito “cognoscente” deverá “cognitar”, isto é procurar a essência do
conhecimento com objectos diferentes e reduzi-los á essência.
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A Cognitologia não se vai limitar aos tradicionais modelos de conhecimentos lógicoformais, gnoseológico-abstratos e impessoais, assim como a representação conceptual de seus
tipos particulares. No campo da Cognitologia filosófica serão discutidos e resolvidos os
diferentes problemas do conhecimento, tais como: natureza e especificidade do conhecimento
humano, incluindo as manifestações não tradicionais do conhecimento, por exemplo “magia
negra”, conhecimento não evidente, conhecimento associativo, conhecimento inconsciente, e
outras formas cognitivas que não assumem padrões logicamente esquematizáveis segundo os
modelos racionais habituais.
Os problemas cognitológicos compreendem também os métodos e meios de
elaboração de uma metodologia integral de modelo do conhecimento humano que possa
dialecticamente sintetizar os resultados mais essenciais das ciências cognitivas; a organização
interna do conhecimento pessoal e a possibilidade da sua reconstrução racional a partir dos
métodos habituais da teoria científica; as regularidades do funcionamento do conhecimento
pessoal que permitem a transição deste para a sua integração paradigmática e ao
conhecimento objectivo.
Tal como consideram alguns outros autores, não é tarefa fácil e acabada mencionar os
vários problemas que devem ser discutidos e resolvidos pela Cognitologia filosófica, no
entendimento do seu objecto que acabamos de mostrar, pois a Cognitologia filosófica
pretende ser uma ciência filosófica sobre o conhecimento. O conhecimento como objecto de
investigação da Cognitologia filosófica é muito complexo, apresentando-se em diferentes
formas que dão possibilidades diferentes de construção da própria ciência. Este facto faz com
que no seu conteúdo a Cognitologia filosófica, as ciências cognitivas em geral e a chamada
“engenharia do conhecimento” estejam intrinsecamente ligadas entre si. Assim, sem modelos
metodológicos integrais do conhecimento humano, o desenvolvimento das ciências cognitivas
estará sobremaneira dificultado.
O mesmo acontecendo com a Cognitologia filosófica que deverá ser uma reflexão
última sobre as ciências cognitivas para que, sempre que seja necessário, proporcionar-lhes
orientações metodológicas pertinentes. Julgamos que a engenharia do conhecimento,
nascendo a partir da investigação sobre o intelecto artificial, poderá ser uma das direcções
mais contemporâneas na elaboração da Cognitologia filosófica, ciência cujos fundamentos
devem interessar os filósofos, metodólogos e representantes das ciências cognitivas.
Com o nascimento da “Cognitologia” Filosófica haverá uma nova abordagem do
conhecimento pelos “Cienciólogos”, considerando e valorizando a integridade do
conhecimento de todas as formas do saber e nosso ponto de vista haverá assim uma
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consciência ética qualificada no seio das comunidades científicas e formação de um novo
paradigma na aplicação pelo homem dos resultados do conhecimento, sobretudo do
conhecimento científico na era contemporânea.
Considerações finais
O artigo versa sobre a necessidade de elaboração de uma nova disciplina filosófica
com o nome de “cognitologia filosófica”.
No artigo foi discutido e proposto que o objecto da nova disciplina filosófica seja o
conhecimento humano ou espiritual como um uma entidade ou construção complexamente
estruturada e dinâmica. A tarefa principal da cognitologia filosófica será a construção ou
elaboração dos modelos metodológicos produtivos e reprodutivos representáveis por fórmulas
ou esquemas válidas expressar a essência de um conhecimento de qualquer natureza
independentemente do fragmento da realidade que trate.
No artigo consideramos que há necessidade e possibilidade de integrar a variedade
complexa das ciências cognitivas numa disciplina única com a denominação de
“Cognitologia”. Esta abordagem facilitaria a abordagem do conhecimento como uma
“unidade estrutural e funcional do espírito humano”, tendo única origem e fim o Homem,
valorizando as formas de conhecimento não tradicionais, que não se enquadram até ao
momento nos modelos lógico-epistemológicos aprovados nos actuais paradigmas, o que
poderá concorrer para uma ética da ciência no mundo contemporâneo.
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Referências
GEROIMENKO, V.A. Materiais da X Conferência da URSS sobre Lógica, Metodologia e
Filosofia da Ciência. Minsk, 1999.
OPENKOV, M.yo. Materiais da X Conferência da URSS sobre Lógica, Metodologia e
Filosofia da Ciencia. Minsk, 1999.
KING, Peter J. Filósofos: um guia dos 100 pensadores mais importantes do mundo. Tradução
de Fernanda Semedo. Editorial Estampa. Impresso e Acabado na China. Junho de 2005.
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