A DISCIPLINA DE FILOSOFIA NO ENSINO MEDIO E

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A DISCIPLINA DE FILOSOFIA NO ENSINO MEDIO E FUNDAMENTAL.
Leoni Maria Padilha Henning. UEL.
* Texto completo publicado em: DA SILVEIRA, R. A. T.; GHIRALDELLI JR, P.
Humanidades. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.
I. Introdução. II. O lugar do conhecimento numa educação filosófica ou numa filosofia educacional. III.
A educação que temos. IV. “O que a criança realmente pode ou precisa aprender” - uma questão a ser
pensada. V. Em defesa de uma filosofia escolar. VI. A aplicabilidade efetiva do ensino de filosofia nos
termos propostos. VII. Bibliografia.
Introdução - O tema “ensino de filosofia” no nível médio e superior não se constituiu,
em si mesmo, grosso modo, num problema educacional de atenção especial ao longo
dos tempos, com exceção às questões relativas a sua vinculação aos motivos políticos,
ideológicos ou religiosos em que as propostas filosóficas de ensino estiveram
envolvidas. Uma abordagem sistemática sobre o ensino de filosofia considerando-se as
questões decorrentes desta discussão relativas à adequação às idades dos educandos, à
pertinência dos conteúdos filosóficos aos interesses dos alunos ou ainda, à defesa da
importância da filosofia para a formação, também da criança desde o início de sua vida
escolar, nos parece um problema recente.
Desde o final da última década de sessenta e início da seguinte, o ensino de
filosofia para crianças ainda em escolaridade fundamental passou a chamar a atenção
principalmente dos filósofos, educadores, psicólogos e pais interessados com a
formação equilibrada e saudável da criança diante dos rumores e do turbilhão dos
movimentos políticos e sociais que agitavam o mundo da época. Para muitos deles,
ensinar filosofia desde a educação infantil poderia se constituir numa saída eficaz.
E, sem exageros, podemos adiantar que a concretização desta alternativa esbarra
em questões de caráter político-ideológicos e filosófico-pedagógicos, uma vez que tal
discussão força os limites em que a educação tem sido adstrita segundo os cânones
conceituais estabelecidos e consolidados no contexto científico e curricular da
escolaridade formal. Daí podendo resultar uma expansão das relações da sala de aula
com a instituição como um todo e desta com a sociedade, através da fomentação da
criticidade que se pretende semear no caráter infantil e do incentivo a um estilo mais
ativo de pensamento, possibilitando a integração da criança com uma sociedade
possivelmente mais aberta e democrática.
Especula-se, portanto, a respeito do aperfeiçoamento da democracia onde todos
possam estar igualmente preparados à luz da investigação não somente científica, mas
filosófica, ampliando o espectro de ação criativa, crítica e razoável a todos, incluindo a
criança. Esta, passa a ser então, não mais deixada à espera de uma idade ideal para
poder aprender filosofia ou de ser colocada à mercê de mecanismos cautelosos imbuídos
da crença, já estabelecida, numa preparação controlada em vista de um futuro distante.
Contrariamente, evoca-se o espírito infantil na vivência mesma de suas próprias
experiências e capacidades. Surge a partir daí a necessidade de uma problematização e
compreensão da infância diferentemente de outrora e, em conseqüência disso, amplia-se
o entendimento do próprio homem, de suas representações e relações com a sociedade
em seu conjunto.
Nota-se, assim, que tal perspectiva não somente abala os conceitos acerca da
educação filosófica como também, interfere nas suas relações com as demais áreas que
se dedicam à formação humana, cujo paradigma pedagógico entretanto, vem tentando
acomodar, sem maiores dificuldades, as mais diversas inovações teóricas nesses últimos
anos. O racionalismo, constituído como uma linha mestra do pensamento ocidental
desde os gregos, não eximiu a pedagogia do poder dos seus envolventes tentáculos, os
quais têm aquietado os ânimos imperscrutáveis da alma humana, somente revelados na
sensibilidade emocional e nas paixões por vezes apontadas como reveladoras dos
delírios e fantasias humanas. A respeito disto, o sociólogo brasileiro Pedro Demo
adverte: "Aparece aí algo que o racionalismo detesta: perder o controle da razão".
(Demo, 2000, p. 33).
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