UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS – UFMG CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE DA FAMÍLIA. DANIELA APARECIDA PEREIRA TRANSFORMAÇÕES E PERPECTIVAS DOS IDOSOS FRENTE AO ENVELHECER BOM SUCESSO 2010 1 DANIELA APARECIDA PEREIRA TRANSFORMAÇÕES E PERPECTIVAS DOS IDOSOS FRENTE AO ENVELHECER Monografia apresentada à Universidade Federal de Minas Gerais UFMG como Parte das exigências do curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família para obtenção do título Orientador Prof. Dr. Flávio Chaimowicz BOM SUCESSO – MG 2010 2 AGRADECIMENTOS Agradeço a DEUS, que me deu vida e inteligência, e que me dá força para continuar a caminhada em busca dos meus objetivos. Aos meus pais, Hilda e Antônio que me ensinaram a não temer desafios e a superar os obstáculos com humildade. Um especial agradecimento ao meu namorado Cleiton que, com muito carinho e apoio, não mediu esforços para que eu chegasse até esta etapa de minha vida. Às tutoras Érika de Fátima Silva e Marília Rezende da Silveira pela dedicação na realização deste trabalho, que sem a importante ajuda não teria sido concretizado. Ao professor Dr. Flávio Chaimowicz pelo incentivo e generosidade em compartilhar seus conhecimentos para a realização desta monografia. A todos da Equipe de Saúde da Família PSF Aparecida pelo incentivo e apoio durante a realização deste trabalho. E aos demais, que de alguma forma contribuíram na elaboração desta monografia. 3 “Começamos a envelhecer quando as lamentações tomam o lugar dos sonhos!” (John Barrymore) 4 SUMÁRIO Página RESUMO 05 ABSTRACT 06 1. INTRODUÇÃO 07 2. JUSTIFICATIVA 09 3. OBJETIVOS 10 4. METODOLOGIA 11 5. REVISÃO DE LITERATURA 12 5.1 O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL 12 5.2 AUTONOMIA, TOMADA DE DECISÃO E ENVELHECIMENTO 15 5.3 TRANSFORMAÇÃO NA PESSOA IDOSA 17 5.4 A FAMÍLIA E A PESSOA IDOSA 18 5.5 PERSPECTIVAS DO IDOSO 19 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 25 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 27 5 RESUMO O envelhecimento da população mundial é um fenômeno novo ao qual mesmo os países mais ricos e poderosos ainda estão tentando se adaptar. Os países do chamado Terceiro Mundo vêm apresentando, nas últimas décadas, um progressivo declínio nas suas taxas de mortalidade e, mais recentemente, também nas suas taxas de fecundidade por isso a tendência é haver transformações drásticas na estrutura etária desses países, em tempo relativamente curto, sem que as conquistas sociais tenham se processado devidamente para a maioria da população. Atualmente, não se pode mais dizer que o Brasil seja um país jovem, já que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera uma população envelhecida quando a proporção de pessoas com 60 anos ou mais atinge 7% com tendência a crescer. De acordo com o Censo Populacional de 2000, os brasileiros com 60 anos ou mais já representava 8,6% da população total. Uma das características marcantes da população que envelhece no Brasil é a pobreza, aposentadorias e pensões constituem a principal fonte de rendimentos da população idosa, em conseqüência do baixo valor dos benefícios, 1/3 dos brasileiros com 60 anos ou mais se mantinham em atividades produtivas em 1995. O retorno ou a permanência no mercado de trabalho, no entanto, se dá, sobretudo no mercado informal, em atividades mal remuneradas e com jornadas de trabalho extensas. Ao ser iniciado o processo de envelhecimento, as perdas se intensificam. Cada indivíduo, de maneira muito específica, tem de enfrentá-las. Muitas vezes o indivíduo perde o seu papel social, surgindo dificuldades financeiras, doenças crônicas e isolamento e uma queda da auto-estima. Para alguns, a velhice pode ser um período vazio, sem valor, enquanto que, para outros, pode ser um período de aproveitamento, de crescimento, de realização pessoal, de oportunidade de fazer aquilo que não fez quando jovem, porque o tempo era todo ocupado na criação dos filhos, na busca de estabilidade profissional. Para perceber melhor as perspectiva da população idosa realizo a presente revisão bibliográfica com o objetivo de analisar as transformações do idoso dentro da sociedade atual, seus desejos, frustrações e comportamentos. Palavras-chave Idoso, envelhecimento, autonomia, família, transformações, perspectivas. 6 ABSTRACT The aging of the world population is a new phenomenon to which even the richest and powerful countries are still trying to adapt. The countries of the call Third World are presenting, in the last decades, a progressive decline in their mortality taxes and, more recently, also in their fecundity taxes for that the tendency is there to be drastic transformations in the age structure of those countries, in time relatively short, without the social conquests have if processed properly for most of the population. Now, her more he/she cannot say than Brazil is a young country, since the World Organization of Health (OMS) it considers an aged population when the people's proportion with 60 years or more reaches 7% with tendency to grow. In agreement with the Population Census of 2000, the Brazilians with 60 years or it already represented 8,6% of the total population. One of the outstanding characteristics of the population that ages in Brazil is the poverty, retirements and pensions constitute the main source of incomes of the senior population, as a consequence of the low value of the benefits, 1/3 of the Brazilians with 60 years or more they stayed in productive activities in 1995. The return or the permanence in the job market, however, he/she feels above all at the informal market, in activities badly remunerated and with extensive work days. To the initiate being the aging process, the losses intensify. Each individual, in a very specific way, has to face them. A lot of times the individual loses his/her social role, appearing financial difficulties, chronic diseases and isolation and a fall of the self-esteem. For some, the old age can be an empty period, without value, while, for other, it can be an use period, of growth, of personal accomplishment, of opportunity to do that that didn't do when young, because the time was all busy in the children's creation, in the search of professional stability. To notice them better perspective of the senior population I accomplish to present bibliographical revision with the objective of analyzing the senior's transformations inside of the current society, their desires, frustrations and behaviors. word-key Senior, aging, autonomy, family, transformations, perspectives. 7 1. INTRODUÇÃO O envelhecimento proporciona limites maiores ao indivíduo, mas isso não significa que o idoso tenha que se abster de tudo, trabalho, sexo, vida social, lazer. A adaptação frente a uma fase nova da vida é a maior dificuldade encontrada pelos idosos. A idéia de que, a partir de determinada idade, certas atividades não devem ser desfrutadas, é uma concepção que tende a ser superada em relação às constantes modificações sociais, uma vez que, a expectativa de vida ativa das pessoas, atualmente, tem aumentado muito, aumentando, com isso, a necessidade de se repensar as questões que envolvem a qualidade de usufruto do tempo livre. Meinel e Schnabel (1984) fazem uma classificação dos indivíduos quanto à idade, segundo o rendimento motor, enquadrando o indivíduo idoso, como estando na quarta idade adulta (+ 60/70 anos em diante). Segundo os mesmos autores, quanto ao envelhecimento biológico a faixa etária relativa ao idoso é a de 60 a 74 anos. A literatura traz a classificação de envelhecimento em várias ordens, criando várias divergências, mas existe um consenso de que, acima dos 45 anos, o indivíduo está sujeito ao início de várias limitações negativas, tanto biológicas quanto psicológicas e sociais. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS, apud Weineck, 1991) o indivíduo idoso classifica-se na faixa etária do homem mais velho, estando entre 61 a 75 anos. Com o envelhecimento, acontece um fenômeno que se torna um círculo vicioso, pois, à medida que a idade aumenta, o indivíduo torna-se menos ativo, suas capacidades físicas diminuem, começa a aparecer o sentimento da velhice, o qual, por sua vez, pode causar estresse, depressão e levar a uma diminuição da atividade física e, conseqüentemente, à aparição de doenças crônicas, por si só contribuindo para o envelhecimento (Matsudo, 1997). Contudo, é bom lembrar que a condição física do envelhecimento depende da interação de vários fatores: condição psicológica, estilo de vida, constituição genética e os elementos do meio em que se vive. Considerando os aspectos biológicos, Weineck (1991) aponta inúmeros sinais óbvios do envelhecimento, como a diminuição da altura causada pela diminuição dos discos vertebrais; o aumento da curvatura vertebral (cifose da velhice) e uma diminuição do ângulo colodiafisiário do fêmur; o aumento do tecido conjuntivo e adiposo; alterações 8 da pele; esbranquiçamento e queda dos cabelos, entre outros. Além das mudanças biológicas e das transformações psicológicas que ocorrem no íntimo de cada um, o envelhecimento transforma, também, as relações do indivíduo com o meio social. De acordo com Rosa (1983), com o envelhecer, as funções sociais do homem se tornam mais reduzidas, quer por escolha pessoal ditada por suas próprias limitações físicas, quer sobre tudo por pressões da própria sociedade. A pessoa idosa, talvez na maioria dos casos, começa a formar de si mesma uma imagem negativa, resultante de um conjunto de idéias e atividades vindas da sociedade. Assim, a certa altura da vida, o indivíduo começa a sentir-se velho, significando que ele já não é mais o que costumava ser e para piorar, juntamente com as várias limitações impostas pelo envelhecimento, vem paralelamente à aposentadoria, que atrapalha financeira, psicológica e socialmente a estrutura do idoso. Muitos chegam a pensar que a velhice é sinônima de doença e fraqueza, e que tanto o vigor físico como a saúde jamais estará à sua disposição. Para Motta (1989), os possíveis indicadores do envelhecimento social são a progressiva diminuição dos contatos sociais; o distanciamento social; a progressiva perda de poder de discussão; o progressivo esvaziamento dos papéis sociais; a gradativa perda de autonomia e independência, alterações nos processos de comunicação, entre outros. O equilíbrio psicológico também se torna mais difícil na velhice, pois a longa história da vida acentua as diferenças individuais. Devido ao isolamento social, idosos, desenvolvem ansiedade, depressão e insônia, que podem levar ao enfarte, além de alterações de valores e atitudes, aumento do entusiasmo e diminuição da motivação (Rauchback, 1990). A diminuição do prestígio social, a angústia e o temor da morte, além do sentimento de inutilidade, de medo de converterem-se numa carga para a família e para a sociedade, as modificações fisiológicas, são fatores que aceleram o processo de envelhecimento, levando as pessoas a entregarem ao abandono de si próprias (Silva, 1984). O idoso deve ser mais bem compreendido pela sociedade, sem pré-julgamentos ou preconceitos, encarando a terceira idade como fase da vida em que a necessidade de ser independente, de amar e de ser amado, de ser respeitado como indivíduo e de viver novas experiências é a mesma de qualquer outra. 9 2. JUSTIFICATIVA Entende-se como envelhecimento uma série de alterações que vão ocorrendo no organismo ao longo do tempo vivido. A terceira idade é uma nova realidade que não deve estar associada à doença e a morte, na verdade é um período em que devemos aproveitar a liberdade e a sabedoria adquiridas com o tempo. É importante distinguir os efeitos da idade de patologia. Algumas pessoas mostram declínio no estado de saúde e nas competências cognitivas precoces, enquanto outras vivem saudáveis até aos 80 anos e mesmo 90 anos. Começa a ser aceito que qualquer declínio precoce provavelmente reflete patologia e não os efeitos da idade. É nítido que a maioria das pessoas tem medo de envelhecer, rugas, cabelos brancos, idéias antiquadas são grandes fantasmas de nossa era. Num mundo onde juventude se traduz em beleza, energia, prazer e sedução, o passar dos anos é motivo de ansiedade e aflição, e é por isso que as pessoas permanecem constantemente inquietas em tentar conter os efeitos do tempo. Nossa sociedade não foi ensinada a valorizar o idoso e a conviver com eles de forma que tudo o que está relacionado à velhice está estereotipado como sem valor. E é assim que o idoso, considerado um peso social, frustra-se com a subtração de seu espaço existencial, anteriormente vivido com plenitude e sucesso. Experimenta uma profunda reação de perda sem nada a substituir o objeto perdido: o seu valor como pessoa. Desta forma, mesmo indivíduos relativamente equilibrados emocionalmente durante a vida pregressa, com a velhice tendem a descompensar. Considerando o envelhecimento uma questão significativa, inerente à existência humana e merecedora de olhar de natureza compreensiva, realizo este estudo como forma de verificar como estão as transformações e perspectivas do idoso frente ao envelhecer. 10 3. OBJETIVOS Realizar uma revisão narrativa sobre as transformações e perspectiva dos idosos frente ao envelhecer. Analisar as perspectivas do idoso dentro da sociedade atual, seus desejos, frustrações e comportamentos. Conhecer a realidade da população idosa para que a assistência das equipes de Saúde da Família seja de forma integral em todos os níveis de suas necessidades. 11 4. METODOLOGIA Para a presente revisão bibliográfica foi utilizada a pesquisa na Biblioteca Virtual de Saúde, na Wikipédia e em publicações do CEABSF, registros em Portfólio, informações bibliográficas ou eletrônicas de outros autores, livros e revistas científicas disponíveis na Internet, incluindo aquelas disponíveis nas bases de dados Scielo e LILACS, com a utilização dos seguintes descritores: “ idoso, envelhecimento, autonomia, família, transformações, perspectivas”. 12 5. REVISÃO DE LITERATURA 5.1. O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL O envelhecimento da população mundial é um fenômeno novo ao qual mesmo os países mais ricos e poderosos ainda estão tentando se adaptar. O que era no passado privilégio de alguns poucos passou a ser uma experiência de um número crescente de pessoas em todo o mundo. Envelhecer no final deste século já não é proeza reservada a uma pequena parcela da população. No entanto, no que se refere ao envelhecimento populacional, os países desenvolvidos diferem substancialmente dos subdesenvolvidos, já que os mecanismos que levam a tal envelhecimento são distintos. Os países do chamado Terceiro Mundo vêm apresentando, nas últimas décadas, um progressivo declínio nas suas taxas de mortalidade e, mais recentemente, também nas suas taxas de fecundidade. Esses dois fatores associados promovem a base demográfica para um envelhecimento real dessas populações, à semelhança do processo que continua ocorrendo, ainda que em escala menos acentuada, nos países desenvolvidos. As características principais desse processo de envelhecimento experimentado pelos países do Terceiro Mundo são, de um lado, de o fato do envelhecimento populacional estar se dando sem que tenha havido uma real melhoria das condições de vida de uma grande parcela dessas populações, e de outro lado, a rapidez com que esse envelhecimento está ocorrendo. Na verdade, nos países menos desenvolvidos, o contingente de pessoas prestes a envelhecer, dadas as reduções nas taxas de mortalidade, é proporcionalmente bastante expressivo quando comparado com o contingente disponível no início do século nos países desenvolvidos. Com a baixa real da fecundidade, a tendência é haver transformações drásticas na estrutura etária desses países, em tempo relativamente curto, sem que as conquistas sociais tenham se processado devidamente para a maioria da população. Atualmente, não se pode mais dizer que o Brasil seja um país jovem, já que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera uma população envelhecida quando a proporção de pessoas com 60 anos ou mais atinge 7% com tendência a crescer. De acordo com o Censo Populacional de 2000, os brasileiros com 60 anos ou mais já somam 13 14.536.029 indivíduos, representando 8,6% da população total. De acordo com as projeções da OMS, entre 1950 e 2025, a população de idosos no país crescerá dezesseis vezes contra cinco vezes a população total, o que nos colocará, em termos absolutos, como a sexta população de idosos do mundo (KELLER et al., 2002, p. 1513-1520). GRÁFICO 1 – Porcentagem de idosos na população brasileira de 1940 a 2000 e previsão para 2025. Fonte: IBGE, 2002. A transição demográfica no Brasil, assim como na maioria dos países em desenvolvimento, vem ocorrendo de maneira um pouco diferente da que aconteceu nos países desenvolvidos e, sobretudo, muito mais rapidamente. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa média de vida ao nascer do brasileiro aumentou de 66 para 68,6 anos na última década, o que os países europeus levaram aproximadamente um século para fazer, o Brasil fará em trinta anos, dobrar a proporção de idosos de sua população de 7% para 14% (KELLER et al., 2002, p.15131520). Para que ocorresse o envelhecimento da população não bastou apenas aumentar a expectativa de vida. A partir dos anos sessenta, com o advento de métodos contraceptivos mais eficazes, as taxas de fecundidade caíram vertiginosamente, no Brasil, a taxa de fecundidade total diminuiu de 5,8 filhos por mulher em 1970 para de 2,3 filhos, em 2000 (KALACHE, 1998). Em 1980, existiam cerca de 16 idosos para cada 100 crianças, vinte anos depois essa relação praticamente dobra, passando para quase 30 idosos para cada 100 crianças (KALACHE, 1998). Famílias menores em um contexto de aumento do número de pessoas idosas com maior risco de adquirirem doenças incapacitantes, poderá 14 comprometer o cuidado dessas pessoas, fazendo crescer a necessidade de instituições para cuidados de longo prazo, como os asilos (CHAIMOVICZ, 1997). Convém ressaltar que, embora a fecundidade seja o principal componente da dinâmica demográfica brasileira, em relação à população idosa, é a longevidade que vem progressivamente definindo sua evolução. No Brasil, também começa a acontecer outro fenômeno observado mundialmente, que é o maior crescimento proporcional dos grupos etários mais elevados (maiores de 75 anos). De 1991 a 2000, observou-se que a população total de idosos cresceu 36.5%, enquanto que o grupo de 75 ou mais anos, 49,3%. No Censo Demográfico de 1991, foram contadas aproximadamente 13 mil pessoas com cem ou mais anos e no Censo de 2000, cerca de 24 mil (KALACHE, 1998). Como menciona Litvak48, “os problemas sociais, econômicos e de saúde dos idosos são, em grande parte, os das mulheres idosas”, que vivem mais que os homens, ao se tornarem viúvas têm maior dificuldade para casar novamente, são mais sozinhas, apresentam menores níveis de instrução e renda e maior freqüência de queixas de saúde. No Brasil, em 1995, para cada 100 mulheres com 60 anos ou mais existiam 81 homens da mesma idade. A proporção de idosas que vivem sozinhas vem aumentando nas últimas décadas e alcançou 14,9% em 1989 (17,6% dentre as maiores de 70 anos). Daquelas, 60% possuíam renda inferior ou igual a um salário-mínimo. Uma das características marcantes da população que envelhece no Brasil é a pobreza. Aposentadorias e pensões constituem a principal fonte de rendimentos da população idosa. Em 1988, quase 90% dos idosos aposentados no Brasil recebiam contribuições de até 2,5 salários-mínimos. Em conseqüência do baixo valor dos benefícios, 1/3 dos brasileiros com 60 anos ou mais se mantinham em atividades produtivas em 1995. O retorno ou a permanência no mercado de trabalho, no entanto, se dá sobretudo no mercado informal, em atividades mal remuneradas e com jornadas de trabalho extensas. Em 1993, 46,9% dos trabalhadores com 60 anos ou mais não possuíam carteira assinada (e garantias trabalhistas). A valorização profissional torna-se difícil em parte devido às condições de alfabetização dessa população; em 1991, 44,2% dos maiores de 59 anos não sabiam ler e escrever. 15 5.2 AUTONOMIA, TOMADA DE DECISÃO E ENVELHECIMENTO. Os idosos devem ter preservada a garantia do reconhecimento à sua autonomia. Às convicções pessoais do idoso merecem ser respeitadas. O importante é avaliar o grau de capacidade que a pessoa tem para tomar suas decisões. A sua participação ativa no processo de tomada de decisões é restringida, muitas vezes, pela própria família ou pelas instituições. Sabemos que muitas doenças crônicas, assim como o próprio envelhecimento, alteram o funcionamento dos órgãos que servem para a comunicação, afetando também a necessidade de comunicar. Os processos mentais ligados ao pensamento, à memória, à compreensão e ao raciocínio são essenciais no processo da comunicação. A forma de se comunicar é influenciada, por sua vez, a partir de como reagimos afetivamente a uma pessoa ou a uma situação. É importante destacar aqui é que o idoso, embora restrinja suas relações sociais, não encara o fato como é prejudicial, uma vez que ele já não está mais preocupado com as relações que lhe possam trazer informações, mas sim com as que proporcionem bemestar. O convívio com a família - filhos e netos e com a sua rede social é o que vai dizer da sua saúde emocional (Goldstein, 1995). Ao ser iniciado o processo de envelhecimento, as perdas se intensificam. Cada indivíduo, de maneira muito específica, tem de enfrentá-las. Essas perdas aumentam quando chega a aposentadoria, haja visto o indivíduo perder o seu papel social, surgindo daí dificuldades financeiras, doenças crônicas e isolamento, dando margem a uma queda da auto-estima. Aceitar essas mudanças não é fácil. Tanto assim que é justamente nessa etapa da vida, em que o tempo livre é ampliado, que as pessoas procuram buscar o autoconhecimento e a paz interior. Buscar Deus, então, é o grande objetivo da maioria dos idosos. A atividade religiosa exerce uma função importante para o idoso, até porque nesse ambiente, o contato não é só com Deus, servindo também de oportunidade para rever os amigos, colocar em dia os assuntos de interesse comum. Preencher o tempo livre tem ainda um lado positivo, porquanto o indivíduo não se sentirá inútil, incapacitado, já que precisa continuar vivendo, lutando crescendo. Na prática da psicologia, os autores mais eminentes reconhecem a importância da religião na vida do homem. Na vida adulta e na 16 velhice a religiosidade passa a ser então, importante referencial para as pessoas (Goldstein e Neri, 1993). Em pesquisa realizada pelas autoras, os dados demonstraram que o aumento do crescimento pessoal, é atribuído à religiosidade, como algo significante para facilitar o convívio com a solidão e a dependência, propiciando sentimentos positivos em relação a esse estágio de vida. Para alguns, a velhice pode ser um período vazio, sem valor, inútil, sem sentido, enquanto que, para outros, pode ser um período de aproveitamento, de crescimento, de realização pessoal, de oportunidade de fazer aquilo que não fez quando jovem, porque o tempo era todo ocupado na criação dos filhos, na busca de estabilidade profissional, etc. São vários os estudos que enfatizam e reconhecem o “fazer” como uma necessidade do ser humano. O fazer inclui atividades que vão desde os cuidados pessoais (higiene), às atividades de vida diária (AVD) comer, vestir locomover-se, comunicar-se etc, passando pelas atividades de vida prática (AVP) telefonar, fazer compras, pagar contas etc, além de outras que incluem o trabalho, o lazer e a manutenção dos direitos e papeis sociais (Moragas, 1997; Veras, 1994; Maria, 1999). A questão do envelhecer está relacionada à autonomia, ou seja, a capacidade de determinar e executar seus próprios objetivos. Qualquer indivíduo chegando aos oitenta anos de idade capaz de administrar sua própria vida e determinar quando, onde e como se darão suas as atividades de lazer, convívio social e trabalho, certamente será considerado saudável. Importa pouco saber que esse mesmo indivíduo é hipertenso, diabético, cardíaco e toma remédio para depressão infelizmente uma combinação bastante freqüente nessa idade. O importante é que, como resultante de um tratamento bem-sucedido, ele mantém sua autonomia, é feliz, integrado socialmente e, para todos os efeitos, um idoso saudável. O foco central da Política Nacional do Idoso é a promoção de um envelhecimento saudável, através da manutenção da capacidade funcional, ou seja, valorizando a autonomia e preservando a independência física e mental do idoso. As doenças físicas e mentais levam à dependência e, conseqüentemente, à perda da capacidade funcional, assim entendido como a capacidade que tem o indivíduo de manter habilidades físicas e mentais necessárias a uma vida independente e autônoma (Brasil-MS, 1999). 17 5.3 TRANSFORMAÇÕES NA PESSOA IDOSA Na velhice o ser humano fica mais sujeito às perdas evolutivas em vários domínios, em virtude de sua programação genética, de eventos biológicos, psicológicos e sociais característicos de sua história individual, e daqueles que ocorrem ao longo do curso da história de cada sociedade. No entanto, dizer que na velhice ocorrem mais perdas do que ganho evolutivo não significa dizer que velhice é sinônimo de doença, e nem que as pessoas ficam impedidas de funcionar. Viver significa adaptação ou possibilidade de constante auto-regulação, tanto em termos biológicos, quanto em termos psicológicos e sociais. Todas as modificações que surgem com o envelhecimento podem desencadear no indivíduo a necessidade de transformações, que estarão relacionadas à aceitação ou não deste processo por parte de cada um, e, também, aos valores e interesses assimilados ao longo da vida. Envelhecer bem depende do equilíbrio entre as limitações e as potencialidades do indivíduo, para enfrentar as perdas ocorridas com o envelhecimento. Alguns pesquisadores abordam as modificações anatômicas, fisiológicas e psicossociais ocorridas com o indivíduo e seu processo de envelhecimento. Sob esses aspectos, o envelhecer constitui-se de vivências singulares que repercutem no cotidiano dos idosos. Mesmo sabendo que envelhecer e adoecer não sejam são sinônimos, não se pode deixar de lado que algumas doenças são próprias do envelhecimento, e que, com o decorrer do tempo, elas provocam mudanças corporais. Quando se fala em transformações do corpo, observa-se que os cabelos embranquecem e tornam-se mais ralos. Os pêlos embranquecem, embora proliferem em certos lugares. A pele se enruga. As orelhas alongadas estão entre as manifestações mais óbvias da perda de elasticidade do tecido no corpo. A espessura dos sulcos da pele é significativamente reduzida no antebraço e dorso das mãos. Esse processo é biologicamente normal e evolui, progressivamente, não se dá, necessariamente, em paralelo ao avanço da idade cronológica. Pode ocorrer variação individual e prevalência sobre o envelhecimento cronológico. Com isso, o idoso tende a modificar seus hábitos de vida e rotinas diárias passando a ocupar-se de atividades pouco ativas e, assim, reduzir seu desempenho físico, suas habilidades motoras, sua capacidade de concentração, de reação e de coordenação. Esses efeitos da diminuição do desempenho físico acabam dificultando a realização das atividades diárias e a manutenção de um estilo 18 de vida saudável, gera apatia, auto desvalorização, insegurança e, conseqüentemente, leva o idoso ao isolamento social e à solidão. 5.4 A FAMÍLIA E A PESSOA IDOSA É, extremamente, importante propiciar situações em que o idoso aprenda a lidar com as transformações que ocorrem no seu corpo, tirando proveito da sua condição, conquistando sua autonomia, sentindo-se sujeito da sua própria história. No entanto, nem sempre a família está preparada ou em condições de desencadear esse processo, tendo em vista que as obrigações diárias, às vezes, dificultam uma dedicação especial ao idoso. Assim, há a possibilidade da família recorrer a profissionais especializados para desenvolverem projetos direcionados ao idoso, buscando garantir ao mesmo o direito à qualidade de vida almejada e merecida. A família é definida como um grupo enraizado numa sociedade e tem uma trajetória que lhe delega responsabilidades sociais. Especialmente perante o idoso, a família vem assumindo um papel importante e inovador, na medida em que o envelhecimento acelerado da população que estamos constatando é um processo recente e ainda pouco estudado pelas ciências sociais. A Constituição Federal de 1988, apresenta a família como base da sociedade e coloca como dever da família, da sociedade e do Estado “amparar as pessoas idosas assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem estar e garantindo-lhes o direito à vida”. Neste sentido, cabe aos membros da família entender essa pessoa em seu processo de vida, de transformações, conhecer suas fragilidades, modificando sua visão e atitude sobre a velhice e colaborar para que o idoso mantenha sua posição junto ao grupo familiar e a sociedade. Aqui cabe uma primeira indagação: Como os filhos, de uma maneira geral acostumados a serem cuidados e dependentes dos pais por bons anos de suas vidas, num dado momento passam a experimentar uma inversão nessas relações quando os pais começam a necessitar de atenção e ajuda? Com as fragilidades que muitas vezes acompanham o processo de envelhecimento é comum surgirem conflitos entre os filhos quando a situação dos pais passa a lhes exigir novas responsabilidades e cuidados. Na 19 realidade, a família precisa de um período de adaptação para aceitar e administrar com serenidade a nova situação, de forma a respeitar as necessidades dos pais e evitar que se sintam um encargo para os filhos. Daí a importância do idoso concentrar esforços para, nos mais diversos sentidos, não se entregar à inatividade evitando o mais possível o sentimento de dependência da família que tanto aflige o idoso. A família brasileira do terceiro milênio está cada vez mais distanciada do modelo tradicional, no qual o idoso ocupava lugar de destaque. Estamos vivendo um importante período de transição e mudanças, no qual se faz necessário o entendimento das transformações sociais e culturais que vem se processando nas últimas décadas, para enfrentarmos o nosso próprio processo de envelhecimento dentro de expectativas condizentes com as novas formas de organização familiar. No entanto, qualquer que seja a estrutura na qual se organizará a família do futuro, há a necessidade de se manterem os vínculos afetivos entre seus membros e os idosos. Nesta fase da vida, o que o idoso necessita é sentir-se valorizado, viver com dignidade, tranqüilidade e receber a atenção e o carinho da família. A família deve ser o ponto de apoio do idoso em todos os momentos e circunstâncias. É apontada por estudiosos do envelhecimento como o elemento mais freqüentemente mencionado por idosos como importante ao próprio bem-estar pelos idosos. 5.5 PERSPECTIVAS DO IDOSO O envelhecimento proporciona limites maiores ao indivíduo, mas isso não significa que o idoso tenha que se abster de tudo, lazer, trabalho, sexo, vida social. A adaptação frente a uma fase nova da vida é a maior dificuldade encontrada pelos idosos. A idéia de que, a partir de determinada idade, certas atividades não devem ser desfrutadas, é uma concepção que tende a ser superada em relação às constantes modificações sociais. 20 Os idosos, em geral, parecem não aceitar o fato de o lazer ser um aspecto de grande importância em suas vidas e que, quando não vivenciado, é devido à falta de condições e oportunidades. Mas, é através de atividades espontâneas e naturais das pessoas que podemos perceber a sua relação com o lazer e a influência que este exibe na vida dos homens, em suas diversas etapas, em especial, na velhice. Nessa etapa da vida existem, devido à maior disponibilidade de tempo, grandes possibilidades para estas pessoas optarem por atividades que lhes tragam auto-realização e melhoria da qualidade de vida. É dever do poder público, preocupar-se com uma política que priorize ações que estimule e beneficie o idoso, nos segmentos da cultura, lazer, esporte e educação, tendo como meta a promoção da cidadania na terceira idade, preparando-os para uma maturidade e vida felizes, e ainda, proporcionar uma maior integração entre os idosos, oferecendo oportunidades do descobrimento de mais fontes de satisfação de vida, através do entretenimento e do lazer, motivando-os ao convívio social, descobrindo valores e estimulando-os a uma melhor qualidade de vida, pois é necessário não sentir a presença da velhice como uma decadência. Pode-se permanecer jovem física e intelectualmente, através de vários meios, cuja eficácia é conhecida: vigiando a saúde, alimentação adequada, exercícios físicos, manutenção das faculdades intelectuais. Enfim, conservar um pensamento atento, positivo e otimista é escolher permanecer jovem na velhice. A elaboração de projetos para a terceira idade, criando condições para promover sua autonomia, sua integração e sua participação efetiva na sociedade, asseguraria ao idoso o direito de exercer sua cidadania. Pikunas (1979) salienta a necessidade de que, nesta fase, se deve manter interesses ocupacionais e aumentar as atividades recreativas, ocupando totalmente o tempo e tornando estes anos tardios da vida, satisfatórios e produtivos. Segundo Dumazedier (1973), fazendo um inventário das atividades de lazer praticadas pelas pessoas, observa-se que elas recobrem o conjunto das atividades culturais do lazer, classificadas em cinco grandes categorias, estabelecidas segundo os critérios de necessidade de realização do corpo e do espírito dos indivíduos, que seriam: físicos, manuais, artísticos, intelectuais e sociais. 21 Segundo Salgado (1982), apesar do declínio de capacidade, os idosos, em sua maioria, demonstram alto grau de interesse pelas artes, ciências, filosofia, religião, direito e política. Suas metas são restritas, embora haja os que se atualizam por meio de leitura, noticiários de televisão ou qualquer meio pelo qual acompanha o desenrolar dos acontecimentos. Entretanto é fácil deduzir a precariedade das ofertas de lazer para os idosos, quando essas já não são suficientes para o atendimento das populações jovens, que por natureza se mostram prioritárias para o consumo e provocam certa pressão nos poderes públicos. Observa-se em todas as regiões do país, a pouca participação dos idosos em programações comunitárias de lazer (Salgado, 1982). Em relação ao mercado de trabalho, Bianca (2005) afirma que, para quem sempre trabalhou e gosta da sua profissão, aposentar-se pode ser uma fase muito dolorosa. Mais ainda quando se trata de um idoso, a possibilidade de se conseguir um novo emprego é cada vez mais difícil. No entanto, essa idade tem uma variação diferenciada, onde algumas pessoas conseguem permanecer no mercado de trabalho por muito mais tempo, ainda que aposentadas. Para ela, as maiores dificuldades, porém, são enfrentadas por aqueles que se tornam inaptos, física ou psicologicamente, na visão mercadológica, e não conseguem aceitar o fato de não poderem mais realizar as mesmas atividades como antes. A crescente participação do idoso no mercado de trabalho por motivos comportamentais ou puramente econômicos já provoca mudanças profundas na vida da população idosa. Muitas vezes por necessidade o idoso sai à procura de emprego seja para complementar sua renda juntamente a sua aposentadoria ou até mesmo para buscar uma nova renda. Mas tem o idoso que trabalha por opção como um passatempo ou uma realização do passado. Segundo o IBGE, nos últimos anos, os idosos têm retornado ao mercado de trabalho. O fato é que há muitas pessoas no mercado, para poucas vagas. Como as empresas buscam profissionais qualificados, muitas vezes preferem empregar pessoas mais experientes. Em relação à sexualidade muitas pessoas, na oitava década de vida, continuam sendo sexualmente ativas, e mais da metade dos homens maiores de 90 anos, referem 22 manter interesse sexual. Mas apenas menos de 15% deles podem ser considerados sexualmente ativos (Schiavi, 1995). A crença de que o avançar da idade e o declinar da atividade sexual estejam inexoravelmente ligados, tem sido responsável para que não se prestasse atenção suficiente a uma das atividades mais fortemente associadas à qualidade de vida, como é a sexualidade. A sexualidade na velhice é um tema comumente negligenciado pela medicina, pouco conhecido e menos entendido pela sociedade, pelos próprios idosos e pelos profissionais da saúde (Steinke, 1997). A atividade sexual humana depende das características físicas, psicológicas e biográficas do indivíduo, da existência de uma companheira e de suas características, depende também do contexto sócio-cultural onde se insere o idoso. Em linhas gerais, a relação sexual tem sido considerada uma atividade própria, e quase monopólio, das pessoas jovens, das pessoas com boa saúde e fisicamente atraentes. A idéia de que as pessoas de idade avançada também possam manter relações sexuais não é culturalmente muito aceita, preferindo-se ignorar e fazer desaparecer do imaginário coletivo a sexualidade da pessoa idosa. Apesar desses tópicos culturais, a velhice conserva a necessidade psicológica de uma atividade sexual continuada, não havendo, pois, idade na qual a atividade sexual, os pensamentos sobre sexo ou o desejo acabem. Devido ao desconhecimento e à pressão cultural, numerosas pessoas de idade avançada, nas quais ainda é intenso o desejo sexual, experimentam um sentimento de culpa e de vergonha, chegando a crer-se anormais pelo simples ato de se perceberem com vontade do prazer. Os idosos se distanciam e esquecem de seu próprio corpo e, tanto quanto ou mais que na infância, a sociedade impõe que a sexualidade deva ser totalmente ignorada na velhice (Limentani, 1995). Ainda existe o problema da literatura médica, repleta de estudos sobre atividade sexual, considerar a sexualidade exclusivamente calcada no coito, não compreendendo ou concebendo outras atitudes, condutas e práticas igualmente prazerosas. A atividade sexual nos idosos tem sido considerada inapropriada por largos segmentos de nossa sociedade, desde a família até a mídia. Alguns entendem a atividade 23 sexual nos idosos até mesmo como imoral ou bizarra. Nossa cultura aceita mal a existência de sexualidade nos idosos, e quando eles apresentam qualquer manifestação de interesse sexual, são freqüentemente discriminados. De modo geral, não se considera correto falar disso, nem pleitear a existência de problemas relacionados com a sexualidade do idoso. Mas, na última década, alguma mudança com respeito à sexualidade tem permitido um aumento do número de idosos que buscam conselho e tratamento para suas eventuais disfunções sexuais (Schiavi, 1995). Nos idosos a função sexual está comprometida, em primeiro lugar, pelas mudanças fisiológicas e anatômicas do organismo produzidas pelo envelhecimento. São mudanças fisiológicas que devemos distinguir das alterações patológicas na atividade sexual causadas pelas diferentes doenças e/ou por seus tratamentos. Os estudos médicos demonstram que a maior parte das pessoas de idade avançada é perfeitamente capaz de ter relações sexuais e de sentir prazer nas mesmas atividades que se entregam as pessoas mais jovens. A terceira idade não deve ser encarada como um problema e sim como um espaço muito característico de nossas vidas, que deve ser entendido com objetividade. Na sociedade moderna a terceira idade deve estar associada com felicidade, experiência e sabedoria. O objetivo primeiro de uma sociedade moderna é a qualidade de vida e o reconhecimento da importância da terceira idade é um índice de qualidade. A sociedade sem cultura, mal informada, jamais atingirá este objetivo. As pessoas informadas devem exercer influencia no sentido de reverter à situação atual. Neste processo o idoso deve ter participação ativa, através de associações, da mídia e todos os meios possíveis. A política de Prevenção é fundamental neste processo. Não interessa a ninguém colocar o idoso doente simplesmente num leito hospitalar à espera da morte, solução indesejável, tanto para o idoso e para a sua família como para o Estado. Ou isolar o idoso sadio em asilos, segregando-o de maneira perversa, sem tratá-lo com dignidade e respeito. A prevenção de doenças, de acidentes, e de todas as circunstâncias que agridam o idoso deve nortear toda e qualquer política com relação à Terceira Idade. A Sociedade deve 24 estar preparada para modificar o seu comportamento com relação ao idoso demonstrando o seu respeito, valorizando-o, e criando soluções objetivas para os seus problemas. O Idoso deve adotar um comportamento ativo, atuando individualmente ou em grupos, tornando claras suas reivindicações e fazendo pressão sobre a sociedade no sentido da valorização de sua situação. Não resta dúvida que a sociedade deve estar sensibilizada com seu processo de envelhecimento, que afinal não é próprio só de países ricos e sim um fenômeno universal. Ao criarem planos e viabilizar políticas que cuide da infância, da mulher, etc, a sociedade deve também destacar seus cuidados com a terceira idade. A doença, a fragilidade, a inatividade, a dependência e a solidão são imagens que devem ser afastadas da terceira idade. A terceira idade deve ser considerada uma fase feliz da existência, um momento de transmissão de experiência e sabedoria e o envelhecimento devem ocorrer com dignidade. Para que tal ocorra toda sociedade deve participar ativamente. 25 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS O envelhecimento da população é um dos maiores triunfos da humanidade. É também um dos nossos maiores desafios. Ao entrarmos no século XXI, o envelhecimento global causará um aumento das demandas sociais e econômicas em todo o mundo. No entanto, as pessoas da 3a idade são, geralmente, ignoradas como recurso quando, na verdade, constituem recurso importante para a estrutura das nossas sociedades. Se queremos que o envelhecimento seja uma experiência positiva, uma vida mais longa deve ser acompanhada de oportunidades contínuas para a saúde e a participação. Manter a autonomia e a independência durante o processo de envelhecimento é um objetivo chave para indivíduos e governantes. Além disto, o envelhecimento ocorre dentro de um contexto que envolve outras pessoas – amigos, colegas de trabalho, vizinhos e membros da família. Esta é a razão pela qual interdependência e solidariedade entre gerações são princípios relevantes para o envelhecimento ativo. Os desafios de uma população em processo de envelhecimento são globais, nacionais e locais. Superar esses desafios requer um planejamento inovador e reformas políticas substanciais tanto em países desenvolvidos como em países em transição. Países em desenvolvimento, muitos dos quais ainda não possuem políticas abrangentes para o envelhecimento, enfrentam os maiores desafios. O processo de envelhecimento varia de pessoa para pessoa e pode ser influenciado tanto por fatores genéticos como pelo estilo de vida. Ele gera alterações no organismo, como a diminuição da capacidade respiratória e cardiovascular, o aumento da pressão arterial, a perda da massa óssea e das sensações com a diminuição da sensibilidade dos sentidos e das funções motoras. As profundas transformações no âmbito político-social, geradas pela mudança no perfil etário da nossa população, trazem muitos desafios para a sociedade, onde tudo deve ser repensado, com a perspectiva de uma revisão do papel social e da imagem do idoso, criando condições para libertá-lo do preconceito e da marginalização resgatando sua dignidade, propiciando-lhe boa qualidade de vida e convertendo as suas reivindicações em conquistas que possam preparar o caminho para um futuro melhor para todas as idades. Envelhecer bem, ter uma boa velhice, prolongar a juventude e retardar a morte têm sido ideais permanentes do ser humano. Ao longo dos séculos, filósofos, teólogos e 26 cientistas vêm empreendendo explorações intelectuais sobre qual é a essência do segredo da manutenção da juventude, de uma boa e longa velhice e de morte tardia, feliz e indolor. Durante o curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família, pude refletir melhor sobre alguns aspectos do meu dia-a-dia profissional, perceber como os profissionais de saúde têm uma grande importância na vida das pessoas de nossa área de abrangência e que se trabalharmos com dedicação faremos muita diferença nas comunidades em que atuamos, suprindo assim as necessidades de nossos clientes em todos os ciclos de vida, em especial a pessoa idosa que deve sair da imagem de pessoa que atrapalha para aquela que tem experiência de vida e que pode nos ensinar muito, para podermos aprender que se vivermos uma vida saudável teremos um bom envelhecimento e assim ajudaremos em uma mudança constante da nossa sociedade. 27 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, Portaria 1395 de 09/12/99. Aprova a Política Nacional do Idoso e determina competências. D.O 237-E de 13/12/99. CHAIMOWICZ, F. A Saúde dos Idosos Brasileiros às Vésperas do Século XXI: Problemas, Projeções e Alternativas. 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