Documento na íntegra - Nescon

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS – UFMG
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ATENÇÃO BÁSICA EM
SAÚDE DA FAMÍLIA.
DANIELA APARECIDA PEREIRA
TRANSFORMAÇÕES E PERPECTIVAS DOS IDOSOS
FRENTE AO ENVELHECER
BOM SUCESSO
2010
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DANIELA APARECIDA PEREIRA
TRANSFORMAÇÕES E PERPECTIVAS DOS IDOSOS
FRENTE AO ENVELHECER
Monografia apresentada à Universidade
Federal de Minas Gerais UFMG como
Parte das exigências do curso de
Especialização em Atenção Básica em
Saúde da Família para obtenção do título
Orientador
Prof. Dr. Flávio Chaimowicz
BOM SUCESSO – MG
2010
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a DEUS, que me deu vida e inteligência, e que me dá força para
continuar a caminhada em busca dos meus objetivos.
Aos meus pais, Hilda e Antônio que me ensinaram a não temer desafios e a
superar os obstáculos com humildade.
Um especial agradecimento ao meu namorado Cleiton que, com muito carinho e
apoio, não mediu esforços para que eu chegasse até esta etapa de minha vida.
Às tutoras Érika de Fátima Silva e Marília Rezende da Silveira pela dedicação na
realização deste trabalho, que sem a importante ajuda não teria sido concretizado.
Ao professor Dr. Flávio Chaimowicz pelo incentivo e generosidade em
compartilhar seus conhecimentos para a realização desta monografia.
A todos da Equipe de Saúde da Família PSF Aparecida pelo incentivo e apoio
durante a realização deste trabalho.
E aos demais, que de alguma forma contribuíram na elaboração desta monografia.
3
“Começamos a envelhecer quando as lamentações
tomam o lugar dos sonhos!”
(John Barrymore)
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SUMÁRIO
Página
RESUMO
05
ABSTRACT
06
1. INTRODUÇÃO
07
2. JUSTIFICATIVA
09
3. OBJETIVOS
10
4. METODOLOGIA
11
5. REVISÃO DE LITERATURA
12
5.1 O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL
12
5.2 AUTONOMIA, TOMADA DE DECISÃO E ENVELHECIMENTO
15
5.3 TRANSFORMAÇÃO NA PESSOA IDOSA
17
5.4 A FAMÍLIA E A PESSOA IDOSA
18
5.5 PERSPECTIVAS DO IDOSO
19
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
25
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
27
5
RESUMO
O envelhecimento da população mundial é um fenômeno novo ao qual mesmo os
países mais ricos e poderosos ainda estão tentando se adaptar. Os países do chamado
Terceiro Mundo vêm apresentando, nas últimas décadas, um progressivo declínio
nas suas taxas de mortalidade e, mais recentemente, também nas suas taxas de
fecundidade por isso a tendência é haver transformações drásticas na estrutura etária
desses países, em tempo relativamente curto, sem que as conquistas sociais tenham
se processado devidamente para a maioria da população. Atualmente, não se pode
mais dizer que o Brasil seja um país jovem, já que a Organização Mundial de Saúde
(OMS) considera uma população envelhecida quando a proporção de pessoas com
60 anos ou mais atinge 7% com tendência a crescer. De acordo com o Censo
Populacional de 2000, os brasileiros com 60 anos ou mais já representava 8,6% da
população total. Uma das características marcantes da população que envelhece no
Brasil é a pobreza, aposentadorias e pensões constituem a principal fonte de
rendimentos da população idosa, em conseqüência do baixo valor dos benefícios,
1/3 dos brasileiros com 60 anos ou mais se mantinham em atividades produtivas em
1995. O retorno ou a permanência no mercado de trabalho, no entanto, se dá,
sobretudo no mercado informal, em atividades mal remuneradas e com jornadas de
trabalho extensas. Ao ser iniciado o processo de envelhecimento, as perdas se
intensificam. Cada indivíduo, de maneira muito específica, tem de enfrentá-las.
Muitas vezes o indivíduo perde o seu papel social, surgindo dificuldades financeiras,
doenças crônicas e isolamento e uma queda da auto-estima. Para alguns, a velhice
pode ser um período vazio, sem valor, enquanto que, para outros, pode ser um
período de aproveitamento, de crescimento, de realização pessoal, de oportunidade
de fazer aquilo que não fez quando jovem, porque o tempo era todo ocupado na
criação dos filhos, na busca de estabilidade profissional. Para perceber melhor as
perspectiva da população idosa realizo a presente revisão bibliográfica com o
objetivo de analisar as transformações do idoso dentro da sociedade atual, seus
desejos, frustrações e comportamentos.
Palavras-chave Idoso, envelhecimento, autonomia, família, transformações,
perspectivas.
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ABSTRACT
The aging of the world population is a new phenomenon to which even the richest
and powerful countries are still trying to adapt. The countries of the call Third
World are presenting, in the last decades, a progressive decline in their mortality
taxes and, more recently, also in their fecundity taxes for that the tendency is there
to be drastic transformations in the age structure of those countries, in time
relatively short, without the social conquests have if processed properly for most
of the population. Now, her more he/she cannot say than Brazil is a young country,
since the World Organization of Health (OMS) it considers an aged population
when the people's proportion with 60 years or more reaches 7% with tendency to
grow. In agreement with the Population Census of 2000, the Brazilians with 60
years or it already represented 8,6% of the total population. One of the outstanding
characteristics of the population that ages in Brazil is the poverty, retirements and
pensions constitute the main source of incomes of the senior population, as a
consequence of the low value of the benefits, 1/3 of the Brazilians with 60 years or
more they stayed in productive activities in 1995. The return or the permanence in
the job market, however, he/she feels above all at the informal market, in activities
badly remunerated and with extensive work days. To the initiate being the aging
process, the losses intensify. Each individual, in a very specific way, has to face
them. A lot of times the individual loses his/her social role, appearing financial
difficulties, chronic diseases and isolation and a fall of the self-esteem. For some,
the old age can be an empty period, without value, while, for other, it can be an
use period, of growth, of personal accomplishment, of opportunity to do that that
didn't do when young, because the time was all busy in the children's creation, in
the search of professional stability. To notice them better perspective of the senior
population I accomplish to present bibliographical revision with the objective of
analyzing the senior's transformations inside of the current society, their desires,
frustrations and behaviors.
word-key Senior, aging, autonomy, family, transformations, perspectives.
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1. INTRODUÇÃO
O envelhecimento proporciona limites maiores ao indivíduo, mas isso não
significa que o idoso tenha que se abster de tudo, trabalho, sexo, vida social, lazer. A
adaptação frente a uma fase nova da vida é a maior dificuldade encontrada pelos idosos.
A idéia de que, a partir de determinada idade, certas atividades não devem ser
desfrutadas, é uma concepção que tende a ser superada em relação às constantes
modificações sociais, uma vez que, a expectativa de vida ativa das pessoas, atualmente,
tem aumentado muito, aumentando, com isso, a necessidade de se repensar as questões
que envolvem a qualidade de usufruto do tempo livre.
Meinel e Schnabel (1984) fazem uma classificação dos indivíduos quanto à idade,
segundo o rendimento motor, enquadrando o indivíduo idoso, como estando na quarta
idade adulta (+ 60/70 anos em diante). Segundo os mesmos autores, quanto ao
envelhecimento biológico a faixa etária relativa ao idoso é a de 60 a 74 anos.
A literatura traz a classificação de envelhecimento em várias ordens, criando
várias divergências, mas existe um consenso de que, acima dos 45 anos, o indivíduo está
sujeito ao início de várias limitações negativas, tanto biológicas quanto psicológicas e
sociais.
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS, apud Weineck, 1991) o indivíduo
idoso classifica-se na faixa etária do homem mais velho, estando entre 61 a 75 anos.
Com o envelhecimento, acontece um fenômeno que se torna um círculo vicioso,
pois, à medida que a idade aumenta, o indivíduo torna-se menos ativo, suas capacidades
físicas diminuem, começa a aparecer o sentimento da velhice, o qual, por sua vez, pode
causar estresse, depressão e levar a uma diminuição da atividade física e,
conseqüentemente, à aparição de doenças crônicas, por si só contribuindo para o
envelhecimento (Matsudo, 1997). Contudo, é bom lembrar que a condição física do
envelhecimento depende da interação de vários fatores: condição psicológica, estilo de
vida, constituição genética e os elementos do meio em que se vive.
Considerando os aspectos biológicos, Weineck (1991) aponta inúmeros sinais
óbvios do envelhecimento, como a diminuição da altura causada pela diminuição dos
discos vertebrais; o aumento da curvatura vertebral (cifose da velhice) e uma diminuição
do ângulo colodiafisiário do fêmur; o aumento do tecido conjuntivo e adiposo; alterações
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da pele; esbranquiçamento e queda dos cabelos, entre outros.
Além
das
mudanças
biológicas e das transformações psicológicas que ocorrem no íntimo de cada um, o
envelhecimento transforma, também, as relações do indivíduo com o meio social.
De acordo com Rosa (1983), com o envelhecer, as funções sociais do homem se
tornam mais reduzidas, quer por escolha pessoal ditada por suas próprias limitações
físicas, quer sobre tudo por pressões da própria sociedade. A pessoa idosa, talvez na
maioria dos casos, começa a formar de si mesma uma imagem negativa, resultante de um
conjunto de idéias e atividades vindas da sociedade. Assim, a certa altura da vida, o
indivíduo começa a sentir-se velho, significando que ele já não é mais o que costumava
ser e para piorar, juntamente com as várias limitações impostas pelo envelhecimento, vem
paralelamente à aposentadoria, que atrapalha financeira, psicológica e socialmente a
estrutura do idoso. Muitos chegam a pensar que a velhice é sinônima de doença e
fraqueza, e que tanto o vigor físico como a saúde jamais estará à sua disposição.
Para Motta (1989), os possíveis indicadores do envelhecimento social são a
progressiva diminuição dos contatos sociais; o distanciamento social; a progressiva perda
de poder de discussão; o progressivo esvaziamento dos papéis sociais; a gradativa perda
de autonomia e independência, alterações nos processos de comunicação, entre outros.
O equilíbrio psicológico também se torna mais difícil na velhice, pois a longa
história da vida acentua as diferenças individuais. Devido ao isolamento social, idosos,
desenvolvem ansiedade, depressão e insônia, que podem levar ao enfarte, além de
alterações de valores e atitudes, aumento do entusiasmo e diminuição da motivação
(Rauchback, 1990).
A diminuição do prestígio social, a angústia e o temor da morte, além do
sentimento de inutilidade, de medo de converterem-se numa carga para a família e para a
sociedade, as modificações fisiológicas, são fatores que aceleram o processo de
envelhecimento, levando as pessoas a entregarem ao abandono de si próprias (Silva,
1984).
O idoso deve ser mais bem compreendido pela sociedade, sem pré-julgamentos ou
preconceitos, encarando a terceira idade como fase da vida em que a necessidade de ser
independente, de amar e de ser amado, de ser respeitado como indivíduo e de viver novas
experiências é a mesma de qualquer outra.
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2. JUSTIFICATIVA
Entende-se como envelhecimento uma série de alterações que vão ocorrendo no
organismo ao longo do tempo vivido.
A terceira idade é uma nova realidade que não deve estar associada à doença e a
morte, na verdade é um período em que devemos aproveitar a liberdade e a sabedoria
adquiridas com o tempo. É importante distinguir os efeitos da idade de patologia.
Algumas pessoas mostram declínio no estado de saúde e nas competências cognitivas
precoces, enquanto outras vivem saudáveis até aos 80 anos e mesmo 90 anos. Começa a
ser aceito que qualquer declínio precoce provavelmente reflete patologia e não os efeitos
da idade. É nítido que a maioria das pessoas tem medo de envelhecer, rugas, cabelos
brancos, idéias antiquadas são grandes fantasmas de nossa era. Num mundo onde
juventude se traduz em beleza, energia, prazer e sedução, o passar dos anos é motivo de
ansiedade e aflição, e é por isso que as pessoas permanecem constantemente inquietas em
tentar conter os efeitos do tempo.
Nossa sociedade não foi ensinada a valorizar o idoso e a conviver com eles de
forma que tudo o que está relacionado à velhice está estereotipado como sem valor. E é
assim que o idoso, considerado um peso social, frustra-se com a subtração de seu espaço
existencial, anteriormente vivido com plenitude e sucesso. Experimenta uma profunda
reação de perda sem nada a substituir o objeto perdido: o seu valor como pessoa. Desta
forma, mesmo indivíduos relativamente equilibrados emocionalmente durante a vida
pregressa, com a velhice tendem a descompensar.
Considerando o envelhecimento uma questão significativa, inerente à existência
humana e merecedora de olhar de natureza compreensiva, realizo este estudo como forma
de verificar como estão as transformações e perspectivas do idoso frente ao envelhecer.
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3. OBJETIVOS

Realizar uma revisão narrativa sobre as transformações e perspectiva dos
idosos frente ao envelhecer.

Analisar as perspectivas do idoso dentro da sociedade atual, seus desejos,
frustrações e comportamentos.

Conhecer a realidade da população idosa para que a assistência das equipes
de Saúde da Família seja de forma integral em todos os níveis de suas necessidades.
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4. METODOLOGIA
Para a presente revisão bibliográfica foi utilizada a pesquisa na Biblioteca Virtual
de Saúde, na Wikipédia e em publicações do CEABSF,
registros em Portfólio,
informações bibliográficas ou eletrônicas de outros autores, livros e revistas científicas
disponíveis na Internet, incluindo aquelas disponíveis nas bases de dados Scielo e
LILACS, com a utilização dos seguintes descritores: “ idoso, envelhecimento, autonomia,
família, transformações, perspectivas”.
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5. REVISÃO DE LITERATURA
5.1. O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL
O envelhecimento da população mundial é um fenômeno novo ao qual mesmo os
países mais ricos e poderosos ainda estão tentando se adaptar. O que era no passado
privilégio de alguns poucos passou a ser uma experiência de um número crescente de
pessoas em todo o mundo. Envelhecer no final deste século já não é proeza reservada a
uma pequena parcela da população. No entanto, no que se refere ao envelhecimento
populacional, os países desenvolvidos diferem substancialmente dos subdesenvolvidos, já
que os mecanismos que levam a tal envelhecimento são distintos. Os países do chamado
Terceiro Mundo vêm apresentando, nas últimas décadas, um progressivo declínio nas suas
taxas de mortalidade e, mais recentemente, também nas suas taxas de fecundidade. Esses
dois fatores associados promovem a base demográfica para um envelhecimento real
dessas populações, à semelhança do processo que continua ocorrendo, ainda que em
escala menos acentuada, nos países desenvolvidos. As características principais desse
processo de envelhecimento experimentado pelos países do Terceiro Mundo são, de um
lado, de o fato do envelhecimento populacional estar se dando sem que tenha havido uma
real melhoria das condições de vida de uma grande parcela dessas populações, e de outro
lado, a rapidez com que esse envelhecimento está ocorrendo. Na verdade, nos países
menos desenvolvidos, o contingente de pessoas prestes a envelhecer, dadas as reduções
nas taxas de mortalidade, é proporcionalmente bastante expressivo quando comparado
com o contingente disponível no início do século nos países desenvolvidos. Com a baixa
real da fecundidade, a tendência é haver transformações drásticas na estrutura etária
desses países, em tempo relativamente curto, sem que as conquistas sociais tenham se
processado devidamente para a maioria da população.
Atualmente, não se pode mais dizer que o Brasil seja um país jovem, já que a
Organização Mundial de Saúde (OMS) considera uma população envelhecida quando a
proporção de pessoas com 60 anos ou mais atinge 7% com tendência a crescer. De acordo
com o Censo Populacional de 2000, os brasileiros com 60 anos ou mais já somam
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14.536.029 indivíduos, representando 8,6% da população total. De acordo com as
projeções da OMS, entre 1950 e 2025, a população de idosos no país crescerá dezesseis
vezes contra cinco vezes a população total, o que nos colocará, em termos absolutos,
como a sexta população de idosos do mundo (KELLER et al., 2002, p. 1513-1520).
GRÁFICO 1 – Porcentagem de idosos na população brasileira de 1940 a 2000 e previsão
para 2025. Fonte: IBGE, 2002.
A transição demográfica no Brasil, assim como na maioria dos países em
desenvolvimento, vem ocorrendo de maneira um pouco diferente da que aconteceu nos
países desenvolvidos e, sobretudo, muito mais rapidamente. Segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa média de vida ao nascer do
brasileiro aumentou de 66 para 68,6 anos na última década, o que os países europeus
levaram aproximadamente um século para fazer, o Brasil fará em trinta anos, dobrar a
proporção de idosos de sua população de 7% para 14% (KELLER et al., 2002, p.15131520).
Para que ocorresse o envelhecimento da população não bastou apenas aumentar a
expectativa de vida. A partir dos anos sessenta, com o advento de métodos contraceptivos
mais eficazes, as taxas de fecundidade caíram vertiginosamente, no Brasil, a taxa de
fecundidade total diminuiu de 5,8 filhos por mulher em 1970 para de 2,3 filhos, em 2000
(KALACHE, 1998). Em 1980, existiam cerca de 16 idosos para cada 100 crianças, vinte
anos depois essa relação praticamente dobra, passando para quase 30 idosos para cada 100
crianças (KALACHE, 1998). Famílias menores em um contexto de aumento do número
de pessoas idosas com maior risco de adquirirem doenças incapacitantes, poderá
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comprometer o cuidado dessas pessoas, fazendo crescer a necessidade de instituições para
cuidados de longo prazo, como os asilos (CHAIMOVICZ, 1997).
Convém ressaltar que, embora a fecundidade seja o principal componente da
dinâmica demográfica brasileira, em relação à população idosa, é a longevidade que vem
progressivamente definindo sua evolução. No Brasil, também começa a acontecer outro
fenômeno observado mundialmente, que é o maior crescimento proporcional dos grupos
etários mais elevados (maiores de 75 anos). De 1991 a 2000, observou-se que a população
total de idosos cresceu 36.5%, enquanto que o grupo de 75 ou mais anos, 49,3%. No
Censo Demográfico de 1991, foram contadas aproximadamente 13 mil pessoas com cem
ou mais anos e no Censo de 2000, cerca de 24 mil (KALACHE, 1998).
Como menciona Litvak48, “os problemas sociais, econômicos e de saúde dos
idosos são, em grande parte, os das mulheres idosas”, que vivem mais que os homens, ao
se tornarem viúvas têm maior dificuldade para casar novamente, são mais sozinhas,
apresentam menores níveis de instrução e renda e maior freqüência de queixas de saúde.
No Brasil, em 1995, para cada 100 mulheres com 60 anos ou mais existiam 81 homens da
mesma idade. A proporção de idosas que vivem sozinhas vem aumentando nas últimas
décadas e alcançou 14,9% em 1989 (17,6% dentre as maiores de 70 anos). Daquelas, 60%
possuíam renda inferior ou igual a um salário-mínimo. Uma das características marcantes
da população que envelhece no Brasil é a pobreza. Aposentadorias e pensões constituem a
principal fonte de rendimentos da população idosa. Em 1988, quase 90% dos idosos
aposentados no Brasil recebiam contribuições de até 2,5 salários-mínimos. Em
conseqüência do baixo valor dos benefícios, 1/3 dos brasileiros com 60 anos ou mais se
mantinham em atividades produtivas em 1995. O retorno ou a permanência no mercado
de trabalho, no entanto, se dá sobretudo no mercado informal, em atividades mal
remuneradas e com jornadas de trabalho extensas. Em 1993, 46,9% dos trabalhadores
com 60 anos ou mais não possuíam carteira assinada (e garantias trabalhistas). A
valorização profissional torna-se difícil em parte devido às condições de alfabetização
dessa população; em 1991, 44,2% dos maiores de 59 anos não sabiam ler e escrever.
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5.2 AUTONOMIA, TOMADA DE DECISÃO E ENVELHECIMENTO.
Os idosos devem ter preservada a garantia do reconhecimento à sua autonomia. Às
convicções pessoais do idoso merecem ser respeitadas. O importante é avaliar o grau de
capacidade que a pessoa tem para tomar suas decisões. A sua participação ativa no
processo de tomada de decisões é restringida, muitas vezes, pela própria família ou pelas
instituições.
Sabemos que muitas doenças crônicas, assim como o próprio envelhecimento,
alteram o funcionamento dos órgãos que servem para a comunicação, afetando também a
necessidade de comunicar. Os processos mentais ligados ao pensamento, à memória, à
compreensão e ao raciocínio são essenciais no processo da comunicação. A forma de se
comunicar é influenciada, por sua vez, a partir de como reagimos afetivamente a uma
pessoa ou a uma situação.
É importante destacar aqui é que o idoso, embora restrinja suas relações sociais,
não encara o fato como é prejudicial, uma vez que ele já não está mais preocupado com as
relações que lhe possam trazer informações, mas sim com as que proporcionem bemestar. O convívio com a família - filhos e netos e com a sua rede social é o que vai dizer
da sua saúde emocional (Goldstein, 1995).
Ao ser iniciado o processo de envelhecimento, as perdas se intensificam. Cada indivíduo,
de maneira muito específica, tem de enfrentá-las. Essas perdas aumentam quando chega a
aposentadoria, haja visto o indivíduo perder o seu papel social, surgindo daí dificuldades
financeiras, doenças crônicas e isolamento, dando margem a uma queda da auto-estima.
Aceitar essas mudanças não é fácil. Tanto assim que é justamente nessa etapa da vida, em
que o tempo livre é ampliado, que as pessoas procuram buscar o autoconhecimento e a
paz interior. Buscar Deus, então, é o grande objetivo da maioria dos idosos.
A atividade religiosa exerce uma função importante para o idoso, até porque nesse
ambiente, o contato não é só com Deus, servindo também de oportunidade para rever os
amigos, colocar em dia os assuntos de interesse comum. Preencher o tempo livre tem
ainda um lado positivo, porquanto o indivíduo não se sentirá inútil, incapacitado, já que
precisa continuar vivendo, lutando crescendo. Na prática da psicologia, os autores mais
eminentes reconhecem a importância da religião na vida do homem. Na vida adulta e na
16
velhice a religiosidade passa a ser então, importante referencial para as pessoas (Goldstein
e Neri, 1993). Em pesquisa realizada pelas autoras, os dados demonstraram que o
aumento do crescimento pessoal, é atribuído à religiosidade, como algo significante para
facilitar o convívio com a solidão e a dependência, propiciando sentimentos positivos em
relação a esse estágio de vida.
Para alguns, a velhice pode ser um período vazio, sem valor, inútil, sem sentido,
enquanto que, para outros, pode ser um período de aproveitamento, de crescimento, de
realização pessoal, de oportunidade de fazer aquilo que não fez quando jovem, porque o
tempo era todo ocupado na criação dos filhos, na busca de estabilidade profissional, etc.
São vários os estudos que enfatizam e reconhecem o “fazer” como uma necessidade do
ser humano. O fazer inclui atividades que vão desde os cuidados pessoais (higiene), às
atividades de vida diária (AVD) comer, vestir locomover-se, comunicar-se etc, passando
pelas atividades de vida prática (AVP) telefonar, fazer compras, pagar contas etc, além de
outras que incluem o trabalho, o lazer e a manutenção dos direitos e papeis sociais
(Moragas, 1997; Veras, 1994; Maria, 1999).
A questão do envelhecer está relacionada à autonomia, ou seja, a capacidade de
determinar e executar seus próprios objetivos. Qualquer indivíduo chegando aos oitenta
anos de idade capaz de administrar sua própria vida e determinar quando, onde e como se
darão suas as atividades de lazer, convívio social e trabalho, certamente será considerado
saudável. Importa pouco saber que esse mesmo indivíduo é hipertenso, diabético, cardíaco
e toma remédio para depressão infelizmente uma combinação bastante freqüente nessa
idade. O importante é que, como resultante de um tratamento bem-sucedido, ele mantém
sua autonomia, é feliz, integrado socialmente e, para todos os efeitos, um idoso saudável.
O foco central da Política Nacional do Idoso é a promoção de um envelhecimento
saudável, através da manutenção da capacidade funcional, ou seja, valorizando a
autonomia e preservando a independência física e mental do idoso. As doenças físicas e
mentais levam à dependência e, conseqüentemente, à perda da capacidade funcional,
assim entendido como a capacidade que tem o indivíduo de manter habilidades físicas e
mentais necessárias a uma vida independente e autônoma (Brasil-MS, 1999).
17
5.3 TRANSFORMAÇÕES NA PESSOA IDOSA
Na velhice o ser humano fica mais sujeito às perdas evolutivas em vários
domínios, em virtude de sua programação genética, de eventos biológicos, psicológicos e
sociais característicos de sua história individual, e daqueles que ocorrem ao longo do
curso da história de cada sociedade. No entanto, dizer que na velhice ocorrem mais perdas
do que ganho evolutivo não significa dizer que velhice é sinônimo de doença, e nem que
as pessoas ficam impedidas de funcionar. Viver significa adaptação ou possibilidade de
constante auto-regulação, tanto em termos biológicos, quanto em termos psicológicos e
sociais. Todas as modificações que surgem com o envelhecimento podem desencadear no
indivíduo a necessidade de transformações, que estarão relacionadas à aceitação ou não
deste processo por parte de cada um, e, também, aos valores e interesses assimilados ao
longo da vida. Envelhecer bem depende do equilíbrio entre as limitações e as
potencialidades do indivíduo, para enfrentar as perdas ocorridas com o envelhecimento.
Alguns pesquisadores abordam as modificações anatômicas, fisiológicas e
psicossociais ocorridas com o indivíduo e seu processo de envelhecimento. Sob esses
aspectos, o envelhecer constitui-se de vivências singulares que repercutem no cotidiano
dos idosos. Mesmo sabendo que envelhecer e adoecer não sejam são sinônimos, não se
pode deixar de lado que algumas doenças são próprias do envelhecimento, e que, com o
decorrer do tempo, elas provocam mudanças corporais. Quando se fala em transformações
do corpo, observa-se que os cabelos embranquecem e tornam-se mais ralos. Os pêlos
embranquecem, embora proliferem em certos lugares. A pele se enruga. As orelhas
alongadas estão entre as manifestações mais óbvias da perda de elasticidade do tecido no
corpo. A espessura dos sulcos da pele é significativamente reduzida no antebraço e dorso
das mãos.
Esse processo é biologicamente normal e evolui, progressivamente, não se dá,
necessariamente, em paralelo ao avanço da idade cronológica. Pode ocorrer variação
individual e prevalência sobre o envelhecimento cronológico. Com isso, o idoso tende a
modificar seus hábitos de vida e rotinas diárias passando a ocupar-se de atividades pouco
ativas e, assim, reduzir seu desempenho físico, suas habilidades motoras, sua capacidade
de concentração, de reação e de coordenação. Esses efeitos da diminuição do desempenho
físico acabam dificultando a realização das atividades diárias e a manutenção de um estilo
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de vida saudável, gera apatia, auto desvalorização, insegurança e, conseqüentemente, leva
o idoso ao isolamento social e à solidão.
5.4 A FAMÍLIA E A PESSOA IDOSA
É, extremamente, importante propiciar situações em que o idoso aprenda a lidar
com as transformações que ocorrem no seu corpo, tirando proveito da sua condição,
conquistando sua autonomia, sentindo-se sujeito da sua própria história. No entanto, nem
sempre a família está preparada ou em condições de desencadear esse processo, tendo em
vista que as obrigações diárias, às vezes, dificultam uma dedicação especial ao idoso.
Assim, há a possibilidade da família recorrer a profissionais especializados para
desenvolverem projetos direcionados ao idoso, buscando garantir ao mesmo o direito à
qualidade de vida almejada e merecida.
A família é definida como um grupo enraizado numa sociedade e tem uma
trajetória que lhe delega responsabilidades sociais. Especialmente perante o idoso, a
família vem assumindo um papel importante e inovador, na medida em que o
envelhecimento acelerado da população que estamos constatando é um processo recente e
ainda pouco estudado pelas ciências sociais. A Constituição Federal de 1988, apresenta a
família como base da sociedade e coloca como dever da família, da sociedade e do Estado
“amparar as pessoas idosas assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua
dignidade e bem estar e garantindo-lhes o direito à vida”. Neste sentido, cabe aos
membros da família entender essa pessoa em seu processo de vida, de transformações,
conhecer suas fragilidades, modificando sua visão e atitude sobre a velhice e colaborar
para que o idoso mantenha sua posição junto ao grupo familiar e a sociedade.
Aqui cabe uma primeira indagação: Como os filhos, de uma maneira geral
acostumados a serem cuidados e dependentes dos pais por bons anos de suas vidas, num
dado momento passam a experimentar uma inversão nessas relações quando os pais
começam a necessitar de atenção e ajuda?
Com as fragilidades que muitas vezes
acompanham o processo de envelhecimento é comum surgirem conflitos entre os filhos
quando a situação dos pais passa a lhes exigir novas responsabilidades e cuidados. Na
19
realidade, a família precisa de um período de adaptação para aceitar e administrar com
serenidade a nova situação, de forma a respeitar as necessidades dos pais e evitar que se
sintam um encargo para os filhos. Daí a importância do idoso concentrar esforços para,
nos mais diversos sentidos, não se entregar à inatividade evitando o mais possível o
sentimento de dependência da família que tanto aflige o idoso.
A família brasileira do terceiro milênio está cada vez mais distanciada do modelo
tradicional, no qual o idoso ocupava lugar de destaque. Estamos vivendo um importante
período de transição e mudanças, no qual se faz necessário o entendimento das
transformações sociais e culturais que vem se processando nas últimas décadas, para
enfrentarmos o nosso próprio processo de envelhecimento dentro de expectativas
condizentes com as novas formas de organização familiar. No entanto, qualquer que seja a
estrutura na qual se organizará a família do futuro, há a necessidade de se manterem os
vínculos afetivos entre seus membros e os idosos. Nesta fase da vida, o que o idoso
necessita é sentir-se valorizado, viver com dignidade, tranqüilidade e receber a atenção e
o carinho da família.
A família deve ser o ponto de apoio do idoso em todos os momentos e
circunstâncias. É apontada por estudiosos do envelhecimento como o elemento mais
freqüentemente mencionado por idosos como importante ao próprio bem-estar pelos
idosos.
5.5 PERSPECTIVAS DO IDOSO
O envelhecimento proporciona limites maiores ao indivíduo, mas isso não
significa que o idoso tenha que se abster de tudo, lazer, trabalho, sexo, vida social. A
adaptação frente a uma fase nova da vida é a maior dificuldade encontrada pelos idosos.
A idéia de que, a partir de determinada idade, certas atividades não devem ser
desfrutadas, é uma concepção que tende a ser superada em relação às constantes
modificações sociais.
20
Os idosos, em geral, parecem não aceitar o fato de o lazer ser um aspecto de
grande importância em suas vidas e que, quando não vivenciado, é devido à falta de
condições e oportunidades. Mas, é através de atividades espontâneas e naturais das
pessoas que podemos perceber a sua relação com o lazer e a influência que este exibe na
vida dos homens, em suas diversas etapas, em especial, na velhice. Nessa etapa da vida
existem, devido à maior disponibilidade de tempo, grandes possibilidades para estas
pessoas optarem por atividades que lhes tragam auto-realização e melhoria da qualidade
de vida.
É dever do poder público, preocupar-se com uma política que priorize ações que
estimule e beneficie o idoso, nos segmentos da cultura, lazer, esporte e educação, tendo
como meta a promoção da cidadania na terceira idade, preparando-os para uma
maturidade e vida felizes, e ainda, proporcionar uma maior integração entre os idosos,
oferecendo oportunidades do descobrimento de mais fontes de satisfação de vida, através
do entretenimento e do lazer, motivando-os ao convívio social, descobrindo valores e
estimulando-os a uma melhor qualidade de vida, pois é necessário não sentir a presença
da velhice como uma decadência. Pode-se permanecer jovem física e intelectualmente,
através de vários meios, cuja eficácia é conhecida: vigiando a saúde, alimentação
adequada, exercícios físicos, manutenção das faculdades intelectuais. Enfim, conservar
um pensamento atento, positivo e otimista é escolher permanecer jovem na velhice.
A elaboração de projetos para a terceira idade, criando condições para promover
sua autonomia, sua integração e sua participação efetiva na sociedade, asseguraria ao
idoso o direito de exercer sua cidadania.
Pikunas (1979) salienta a necessidade de que, nesta fase, se deve manter interesses
ocupacionais e aumentar as atividades recreativas, ocupando totalmente o tempo e
tornando estes anos tardios da vida, satisfatórios e produtivos.
Segundo Dumazedier (1973), fazendo um inventário das atividades de lazer
praticadas pelas pessoas, observa-se que elas recobrem o conjunto das atividades culturais
do lazer, classificadas em cinco grandes categorias, estabelecidas segundo os critérios de
necessidade de realização do corpo e do espírito dos indivíduos, que seriam: físicos,
manuais, artísticos, intelectuais e sociais.
21
Segundo Salgado (1982), apesar do declínio de capacidade, os idosos, em sua
maioria, demonstram alto grau de interesse pelas artes, ciências, filosofia, religião, direito
e política. Suas metas são restritas, embora haja os que se atualizam por meio de leitura,
noticiários de televisão ou qualquer meio pelo qual acompanha o desenrolar dos
acontecimentos.
Entretanto é fácil deduzir a precariedade das ofertas de lazer para os idosos,
quando essas já não são suficientes para o atendimento das populações jovens, que por
natureza se mostram prioritárias para o consumo e provocam certa pressão nos poderes
públicos. Observa-se em todas as regiões do país, a pouca participação dos idosos em
programações comunitárias de lazer (Salgado, 1982).
Em relação ao mercado de trabalho, Bianca (2005) afirma que, para quem sempre
trabalhou e gosta da sua profissão, aposentar-se pode ser uma fase muito dolorosa. Mais
ainda quando se trata de um idoso, a possibilidade de se conseguir um novo emprego é
cada vez mais difícil. No entanto, essa idade tem uma variação diferenciada, onde
algumas pessoas conseguem permanecer no mercado de trabalho por muito mais tempo,
ainda que aposentadas. Para ela, as maiores dificuldades, porém, são enfrentadas por
aqueles que se tornam inaptos, física ou psicologicamente, na visão mercadológica, e não
conseguem aceitar o fato de não poderem mais realizar as mesmas atividades como antes.
A crescente participação do idoso no mercado de trabalho por motivos
comportamentais ou puramente econômicos já provoca mudanças profundas na vida da
população idosa. Muitas vezes por necessidade o idoso sai à procura de emprego seja para
complementar sua renda juntamente a sua aposentadoria ou até mesmo para buscar uma
nova renda. Mas tem o idoso que trabalha por opção como um passatempo ou uma
realização do passado.
Segundo o IBGE, nos últimos anos, os idosos têm retornado ao mercado de
trabalho. O fato é que há muitas pessoas no mercado, para poucas vagas. Como as
empresas buscam profissionais qualificados, muitas vezes preferem empregar pessoas
mais experientes.
Em relação à sexualidade muitas pessoas, na oitava década de vida, continuam
sendo sexualmente ativas, e mais da metade dos homens maiores de 90 anos, referem
22
manter interesse sexual. Mas apenas menos de 15% deles podem ser considerados
sexualmente ativos (Schiavi, 1995).
A crença de que o avançar da idade e o declinar da atividade sexual estejam
inexoravelmente ligados, tem sido responsável para que não se prestasse atenção
suficiente a uma das atividades mais fortemente associadas à qualidade de vida, como é a
sexualidade.
A sexualidade na velhice é um tema comumente negligenciado pela medicina,
pouco conhecido e menos entendido pela sociedade, pelos próprios idosos e pelos
profissionais da saúde (Steinke, 1997). A atividade sexual humana depende das
características físicas, psicológicas e biográficas do indivíduo, da existência de uma
companheira e de suas características, depende também do contexto sócio-cultural onde se
insere o idoso.
Em linhas gerais, a relação sexual tem sido considerada uma atividade própria, e
quase monopólio, das pessoas jovens, das pessoas com boa saúde e fisicamente atraentes.
A idéia de que as pessoas de idade avançada também possam manter relações sexuais não
é culturalmente muito aceita, preferindo-se ignorar e fazer desaparecer do imaginário
coletivo a sexualidade da pessoa idosa. Apesar desses tópicos culturais, a velhice conserva
a necessidade psicológica de uma atividade sexual continuada, não havendo, pois, idade
na qual a atividade sexual, os pensamentos sobre sexo ou o desejo acabem.
Devido ao desconhecimento e à pressão cultural, numerosas pessoas de idade
avançada, nas quais ainda é intenso o desejo sexual, experimentam um sentimento de
culpa e de vergonha, chegando a crer-se anormais pelo simples ato de se perceberem com
vontade do prazer. Os idosos se distanciam e esquecem de seu próprio corpo e, tanto
quanto ou mais que na infância, a sociedade impõe que a sexualidade deva ser totalmente
ignorada na velhice (Limentani, 1995). Ainda existe o problema da literatura médica,
repleta de estudos sobre atividade sexual, considerar a sexualidade exclusivamente
calcada no coito, não compreendendo ou concebendo outras atitudes, condutas e práticas
igualmente prazerosas.
A atividade sexual nos idosos tem sido considerada inapropriada por largos
segmentos de nossa sociedade, desde a família até a mídia. Alguns entendem a atividade
23
sexual nos idosos até mesmo como imoral ou bizarra. Nossa cultura aceita mal a
existência de sexualidade nos idosos, e quando eles apresentam qualquer manifestação de
interesse sexual, são freqüentemente discriminados. De modo geral, não se considera
correto falar disso, nem pleitear a existência de problemas relacionados com a sexualidade
do idoso.
Mas, na última década, alguma mudança com respeito à sexualidade tem permitido
um aumento do número de idosos que buscam conselho e tratamento para suas eventuais
disfunções sexuais (Schiavi, 1995). Nos idosos a função sexual está comprometida, em
primeiro lugar, pelas mudanças fisiológicas e anatômicas do organismo produzidas pelo
envelhecimento. São mudanças fisiológicas que devemos distinguir das alterações
patológicas na atividade sexual causadas pelas diferentes doenças e/ou por seus
tratamentos. Os estudos médicos demonstram que a maior parte das pessoas de idade
avançada é perfeitamente capaz de ter relações sexuais e de sentir prazer nas mesmas
atividades que se entregam as pessoas mais jovens.
A terceira idade não deve ser encarada como um problema e sim como um espaço
muito característico de nossas vidas, que deve ser entendido com objetividade. Na
sociedade moderna a terceira idade deve estar associada com felicidade, experiência e
sabedoria.
O objetivo primeiro de uma sociedade moderna é a qualidade de vida e o
reconhecimento da importância da terceira idade é um índice de qualidade. A sociedade
sem cultura, mal informada, jamais atingirá este objetivo. As pessoas informadas devem
exercer influencia no sentido de reverter à situação atual. Neste processo o idoso deve ter
participação ativa, através de associações, da mídia e todos os meios possíveis.
A política de Prevenção é fundamental neste processo. Não interessa a ninguém
colocar o idoso doente simplesmente num leito hospitalar à espera da morte, solução
indesejável, tanto para o idoso e para a sua família como para o Estado. Ou isolar o idoso
sadio em asilos, segregando-o de maneira perversa, sem tratá-lo com dignidade e respeito.
A prevenção de doenças, de acidentes, e de todas as circunstâncias que agridam o idoso
deve nortear toda e qualquer política com relação à Terceira Idade. A Sociedade deve
24
estar preparada para modificar o seu comportamento com relação ao idoso demonstrando
o seu respeito, valorizando-o, e criando soluções objetivas para os seus problemas.
O Idoso deve adotar um comportamento ativo, atuando individualmente ou em
grupos, tornando claras suas reivindicações e fazendo pressão sobre a sociedade no
sentido
da
valorização
de
sua
situação.
Não resta dúvida que a sociedade deve estar sensibilizada com seu processo de
envelhecimento, que afinal não é próprio só de países ricos e sim um fenômeno universal.
Ao criarem planos e viabilizar políticas que cuide da infância, da mulher, etc, a sociedade
deve
também
destacar
seus
cuidados
com
a
terceira
idade.
A doença, a fragilidade, a inatividade, a dependência e a solidão são imagens que devem
ser afastadas da terceira idade. A terceira idade deve ser considerada uma fase feliz da
existência, um momento de transmissão de experiência e sabedoria e o envelhecimento
devem ocorrer com dignidade. Para que tal ocorra toda sociedade deve participar
ativamente.
25
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O envelhecimento da população é um dos maiores triunfos da humanidade. É
também um dos nossos maiores desafios. Ao entrarmos no século XXI, o envelhecimento
global causará um aumento das demandas sociais e econômicas em todo o mundo. No
entanto, as pessoas da 3a idade são, geralmente, ignoradas como recurso quando, na
verdade, constituem recurso importante para a estrutura das nossas sociedades. Se
queremos que o envelhecimento seja uma experiência positiva, uma vida mais longa deve
ser acompanhada de oportunidades contínuas para a saúde e a participação. Manter a
autonomia e a independência durante o processo de envelhecimento é um objetivo chave
para indivíduos e governantes. Além disto, o envelhecimento ocorre dentro de um
contexto que envolve outras pessoas – amigos, colegas de trabalho, vizinhos e membros
da família. Esta é a razão pela qual interdependência e solidariedade entre gerações são
princípios relevantes para o envelhecimento ativo.
Os desafios de uma população em processo de envelhecimento são globais,
nacionais e locais. Superar esses desafios requer um planejamento inovador e reformas
políticas substanciais tanto em países desenvolvidos como em países em transição. Países
em desenvolvimento, muitos dos quais ainda não possuem políticas abrangentes para o
envelhecimento, enfrentam os maiores desafios.
O processo de envelhecimento varia de pessoa para pessoa e pode ser influenciado
tanto por fatores genéticos como pelo estilo de vida. Ele gera alterações no organismo,
como a diminuição da capacidade respiratória e cardiovascular, o aumento da pressão
arterial, a perda da massa óssea e das sensações com a diminuição da sensibilidade dos
sentidos e das funções motoras.
As profundas transformações no âmbito político-social, geradas pela mudança no
perfil etário da nossa população, trazem muitos desafios para a sociedade, onde tudo deve
ser repensado, com a perspectiva de uma revisão do papel social e da imagem do idoso,
criando condições para libertá-lo do preconceito e da marginalização resgatando sua
dignidade, propiciando-lhe boa qualidade de vida e convertendo as suas reivindicações em
conquistas que possam preparar o caminho para um futuro melhor para todas as idades.
Envelhecer bem, ter uma boa velhice, prolongar a juventude e retardar a morte têm
sido ideais permanentes do ser humano. Ao longo dos séculos, filósofos, teólogos e
26
cientistas vêm empreendendo explorações intelectuais sobre qual é a essência do segredo
da manutenção da juventude, de uma boa e longa velhice e de morte tardia, feliz e
indolor.
Durante o curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família, pude
refletir melhor sobre alguns aspectos do meu dia-a-dia profissional, perceber como os
profissionais de saúde têm uma grande importância na vida das pessoas de nossa área de
abrangência e que se trabalharmos com dedicação faremos muita diferença nas
comunidades em que atuamos, suprindo assim as necessidades de nossos clientes em
todos os ciclos de vida, em especial a pessoa idosa que deve sair da imagem de pessoa que
atrapalha para aquela que tem experiência de vida e que pode nos ensinar muito, para
podermos aprender que se vivermos uma vida saudável teremos um bom envelhecimento
e assim ajudaremos em uma mudança constante da nossa sociedade.
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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