Resumos de Artigos: Insuficiência Renal Aguda Elisa Mieko Suemitsu Higa Role of endothelin in acute renal failure due to rhabdomyolysis in rats. Karam H, Bruneval P, Clozel J-P, Loffier B-M, Bariét J, Clozel M. J Pharmacol Exp Ther. 1995; 274 (1): 481- 486 Objetivo Determinar o papel da endotelina (ET1) na patogênese da nefropatia mioglobinúrica. Métodos A. Modelo - Insuficiência Renal Aguda (IRA) induzida por injeção de glicerol, em ratos Wistar machos. Grupo IA: tratados com glicerol 50% (8ml/Kg peso, IM); Grupo IB: tratados com glicerol + Bosentan (Ro 47-0203), antagonista específico dos receptores de ETA e ETB (100 mg/Kg VO, 2h antes + 30 mg/Kg pela veia de cauda, 20 mm antes do glicerol); Grupo II: tratados com goma arábica 5%, veículo do bosentan; Grupo III: tratados com salina (no lugar do glicerol) + veículo do bosentan 24 e 48h. Após o tratamento, foram coletados urina (gaiola metabólica), para a determinação de uréia, creatinina, proteína, mioglobina, e plasma para a determinação de uréia, creatinina e ET1. Após a coleta, os animais foram sacrificados e os rins foram removidos para análise histológica. B. Cultura de células - Células mesangiais de ratos foram cultivadas segundo técnicas bem estabelecidas. Entre a 10ª e 20ª passagens, foram incubadas com mioglobina, 10-9 M, e a concentração de ET1 foi determinada no meio de cultura. Resultados Mioglobina: 24h após o glicerol, a mioglobina urinária aumentou significativamente, tanto nos ratos tratados como nos não tratados com bosentan indicando rabdomiólise, normalizando após 48h. Função renal: O glicerol causou IRA, detectada por elevação da creatininemia, redução do clearance de creatinina e proteinúria, 24 e 48h após sua administração. Estes efeitos foram quase completamente bloqueados pelo bosentan. Esta droga, isoladamente, não causou nenhuma destas alterações observadas após o uso do glicerol. Níveis de ET: Tanto a concentração plasmática de ET como a sua excreção urinária se elevaram de modo significante após 24h, mas não eram diferentes do controle, após 48h. Após 24h, o bosentan aumentou as concentrações plasmáticas de ET1. Histologia: O glicerol causou necrose tubular predominante na região cortical, sem lesão aparente dos glomérulos ou vasos, O bosentan preveniu drasticamente a necrose tubular. Cultura de células: A adição de mioglobina causou aumento de 50% na liberação de ET1 pelas células mesangiais. Conclusão Os resultados sugerem fortemente o papel da ET na fisiopatologia da IRA secundária à rabdomiólise Comentários A rabdomiólise, destruição aguda e maciça da musculatura esquelética, geralmente cursa com IRA, diagnosticada pela presença de mioglobina na urina e níveis plasmáticos elevados de creatinofosfoquinase. 2 Esta entidade, que foi inicialmente descrita, associada aos casos de síndrome de esmagamento, 3 é também encontrada em outras situações em que ocorre hemólise ou destruição tecidual, como nas reações pós-transfusionais, queimaduras, coma prolongado, tendo sido também descrita em associação com a cetoacidose diabética e o coma hiperosmolar, sendo bastante elevada a sua incidência, principalmente nos serviços especializados em atendimento de pacientes politraumatizados.4 Neste artigo, os autores, utilizando modelo experimental de IRA por rabdomiólise (injeção de glicerol) em ratos, obtiveram evidências de que a ET tem um papel importante na sua fisiopatologia, inclusive podendo ter sua liberação aumentada nas células mesangiais, por efeito da mioglobina. Os autores mostram também que a inibição da ET, através do antagonista específico bosentan é capaz de prevenir tanto as alterações funcionais como as histológicas causadas pelo glicerol ao nível do rim, sugerindo esta droga como poderosa arma na prevenção da IRA consequente à rabdomiólise. Referências 1. Clozel M, Breu V, Gray GA, Kalina B, Loffler B-M, Burri K, Cassal J-M, Hirth G, Muller M, Neidhart W, Ramuz H. Pharmacological characterization of bosentan, a new potent orally active nonpeptide endothelin receptor antagonist. J Pharmacol Exp Ther. 1994; 270: 228-235 2. Feinfeld DA, Cheng JT, Beysolow TD, Briscoe AM. A prospective study of urine and serum myoglobin leveis in patients with acute rhabdomyolysis. CIin Nephrol. 1992; 38(4): 193-195 3. Bywaters EGL, Beall D. Crush injuries with impairment of renal function. Br Med J. 1941; 1: 427-432 4. Gabow PA, Kaehny WD, Kelleher SP. The spectrum of rhabdomyolysis. Medicine (Baltimore). 1982; 61: 141 Effect of postoperative low-dose dopamine on renal function after elective major vascular surgery Baldwirn L, Henderson A, Hickman P. Ann Intern Med. 1994; 120: 744-747 Objetivo Determinar o efeito da dopamina pós-operatória, em baixa-dose, em pacientes após cirurgia vascular abdominal de grande porte. Tipo de Estudo Randomizado, duplo-cego. Local de Estudo Unidade de Terapia Intensiva. Pacientes 37 pacientes submetidos à cirurgia eletiva reparadora de aneurisma de aorta abdominal ou a enxerto aortobifemoral; 18 receberam dopamina e 19, placebo. 2 pacientes foram excluídos devido a óbito no início do estudo. Intervenção Os pacientes receberam cristalóide para manter a diurese em torno de 1 ml/Kg/h durante as primeiras 24h pós-operatórias. Ao acaso, receberam placebo ou infusão de dopamina em baixa-dose (3μ.ig/Kg/min). Creatinina e uréia plasmáticas e clearance de creatinina foram determinados no pré e pós-operatório (após 24h e 5 dias). Foram monitorizados a diurese e o volume de cristalóides infundido nas primeiras 24h. Resultados 2 óbitos pós-operatórios ocorreram no grupo dopamina (de insuficiência renal e de infarto do miocárdio). 4 pacientes tiveram infarto, sendo que 3 deles receberam dopamina. Os níveis plasmáticos de creatinina não se modificaram em nenhum dos grupos. Os níveis plasmáticos de uréia, após 24h, diminuíram no grupo dopamina em relação ao grupo placebo. Os clearances de creatinina, após 24h, se elevaram nos 2 grupos, e a diurese foi maior no grupo dopamina, mas nenhuma destas foi clínica ou estatisticamente significante. Conclusão A dopamina usada em baixas doses não oferece vantagens em pacientes euvolêmicos submetidos a cirurgia eletiva de aorta abdominal. Comentários Clampeamento prolongado da aorta, hipotensão, transfusão sanguínea maciça são fatores de risco importantes na instalação de insuficiência renal pós-operatória, após cirurgia vascular de grande porte. A dopamina (uma catecolamina endógena), tem sido utilizada no sentido de preservar a função renal em pacientes com risco de desenvolver IRA. Em baixas doses (0,5 a 3,0 μg/Kg/min), a dopamina estimula os receptores tipo 1 e 2, 2 que são amplamente distribuídos na vasculatura renal e, quando estimulados, produzem vasodilatação renal, aumento do fluxo sanguíneo renal e filtração glomerular, com natriurese e diurese.3 Embora largamente utilizada nas Unidades de Terapia Intensiva como protetora da função renal, não existem evidências de que a dopamina diminua a incidência de IRA ou a mortalidade. 4,5 Neste estudo, os autores mostram que uma reposição hídrica adequada é tão eficaz quanto a utilização de dopamina em baixa-dose, na manutenção da função renal. Eles alertam também quanto aos efeitos adversos da dopamina (arritmias, depressão respiratória, aumento do “shunt” intrapulmonar, isquemia miocárdica em pacientes com doença obstrutiva coronariana). Referências 1. Berisa F, Beaman M, Adu D, McGonigle RJ, Michael J, Doxvning R, et al. Prognostic factors in acute renal failure following aortic aneurysm surgery. Q J Med. 1990; 76: 689-698 2. Schwartz LB, Gewertz BL. The renal response to low-dose dopamine. J Surg Res. 1988; 45: 574-588 3. Parker S, Carlton GC, Isaacs M, Howland WS. Kahn RC. Dopamine administration in oliguria and oliguric acute renal failure. Crit Care Med. 1981; 9: 630-632 4. Linder A. Synergism of dopamine and furosemide in diuretic resistant oliguric acute renal failure. Nephron. 1983: 33: 121-126 5. Graziani G, Cantaluppi A, Casati S, Citterio A, Scalarnogna A, Aroldi A, et al. Dopamine and furosemide in oliguric acute renal failure. Nephron. 1984; 37: 39-42 Elisa Mieko Suemitsu Higa Disciplina de Nefrologia Escola Paulista de Medicina - UNIFESP