PLANT, Raymond. Hegel. Sobre religião e filosofia

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PLANT, Raymond. Hegel. Sobre religião e filosofia. Tradução Oswaldo Giacóia. São Paulo: Editora
UNESP, 2000 (Coleção Grandes Filósofos).
Subsídios de Estudo – Professor Sandro Luiz Bazzanella
A IMPORTÂNCIA DE HEGEL
P. 11
Pensadores do
século
XIX e
XX
(...). Pensadores importantes do século XX, de várias tradições em filosofia, são
dificilmente compreensíveis sem que entenda a relação deles com Hegel. Isso é
verdade para Sartre, Heidegger, Merleau-Ponty, Kojève (...) Derrida, Lacan, Rorty,
Royce, Althusser, Charles Taylor, Adorno, Marcuse, Fromm (...). No século XIX,
F.C. Bauer, Feuerbach, Strauss, Marx, Kierkegaard, Nietzsche, T.H. Green (…).
P. 11
Cristão-burguês
(…) [De Hegel a Nietzsche: a revolução no pensamento do século XIX] Karl Lowith
descreveu Hegel como o filósofo do mundo cristão burguês.
P. 12
Marx, Nietzsche
Kierkegaard
(...). Marx, Kierkegaard e Nietzsche, de maneiras muito diversas, destruíram a idéia
de unidade entre Deus e a humanidade, que estivera no centro do pensamento de
Hegel.
P. 12
Teologia
De
Hegel
(...), Hegel tem tido uma influência profunda sobre dois dos maiores teólogos deste
século: Wolfhart Pannenberg (...) e Hans Küng, o teólogo de Tübingen, que escreveu
The Incarnation of God [A encarnação de Deus], que é dedicado a um exame da
teologia de Hegel.
P. 12
Hegel obra
totalidade
sistemática.
(...), um dos fatos desencorajadores acerca de Hegel é o de ele ter considerado sua
própria obra como uma totalidade sistemática, não sendo possível destacar a
significação e o impacto de seus pensamento religioso de todas as outras áreas de sua
obra em filosofia, teoria política, estética e história.
Vida e desenvolvimento
P. 15
(...) dividiu um quarto com o poeta Hölderlin e com o espirituoso Schelling.(...).
P. 15
Consciência
Da
Fragmentação.
(...). O mais importante para seu desenvolvimento posterior é que todos eles
partilhavam uma consciência da fragmentação e das divisões que, segundo
acreditavam, afligiam a cultura moderna. Em particular, preocupavam-se com a
divisão ou bifurcação entre Deus e homem, homem e natureza e homem e sociedade.
P. 16
Fenomenologia
do espírito.
(...) em Jena, escreveu A fenomenologia do espírito, que formaria uma introdução a
seu sistema de filosofia e é um dos mais importantes textos da moderna filosofia
ocidental.
P. 16
Revolução
Francesa
Napoleão.
(...), ele havia saudado a Revolução Francesa com seus amigos do Seminário de
Tübingen, mas desiludiu-se com o advento do Terror. Ele via Napoleão encarnando
os próprios princípios racionais e modernizantes da Revolução, e ao mesmo tempo
restringindo seus excessos.
P. 18
Acusações
(...). Acusações levantadas desde que Hegel se tornou, em algum sentido, o filósofo
oficial da Prússia têm de ser tratadas com algum cuidado.
P. 18
(...) nacionalismo prussiano. Hegel viu esse nacionalismo, particularmente nas obras
Crítica ao
Romantismo
Nacionalista
Princípios da
Filosofia
Do
Direito.
de Jacob Friedrich Fries, como uma forma de romantismo subjetivo ressurgente, do
qual ele era severamente crítico. Esse tipo de subjetivismo é criticado em Princípios
da filosofia do direito, publicado durante seu professorado em Berlim e que trata de
questões centrais da filosofia política: a natureza do direito, propriedade, moralidade,
o desenvolvimento da economia de mercado, o papel do casamento e da família na
sociedade civil, o papel das corporações, a função do Estado e o papel da monarquia
constitucional nele.
TEMORES DE FRAGMENTAÇÃO
P. 19
Hegel
Hölderlin
Schelling
Fragmentação
Moderna
(...), Hegel, Hölderlin, Schelling estavam preocupados com o que julgavam ser
profundos problemas de divisão e fragmentação na vida moderna, em particular a
bifurcação entre homem e Deus, entre o homem e a sociedade, entre o homem e a
natureza e, é claro, a divisão interna do próprio indivíduo entre razão, imaginação e
sentimento, e deram a seu diagnóstico dessas formas de bifurcação e fragmentação
uma base religiosa.
P. 19
Importância
da Grécia
clássica
(...). No final do século XVIII, houve uma grande redescoberta da importância da
Grécia clássica na cultura alemã. Essa redescoberta cobria todos os aspectos da vida
grega e, em particularm a cultura da cidade-estado ou polis, em suas formas
religiosas, morais e artísticas e poéticas.
P. 20
Schiller
Religião
Cartas sobre a
educação
estética do
homem
(...), Schiller aponta quão estreitamente estavam entrelaçados os diferentes aspectos
da vida grega e quão crucial era uma religião comum para assegurar a vida em
comum e o senso de comunidade. Esses temas foram tratados de maneira ainda mais
completa em suas Cartas sobre a educação estética do homem. Nessa obra, a
unidade da vida e da experiência gregas é utilizada como um contraste para o
diagnóstico que Schiller afirmou ser a tendência quase oposta da moderna cultura
alemã.
P. 20
Divórcio entre
homem e Deus
no cristianismo
Convencional
(...) Hegel e Hölderlin (...). Segundo eles, havia o divórcio entre homem e Deus no
cristianismo convencional, no qual Deus, pela tradição judaico-cristã, é inteiramente
outro, universal e, portanto, indiferente em relação aos modos de vida das sociedades
particulares (como Rousseau havia apontado no contrato social, tornando o
cristianismo, por conseguinte, inimigo do espírito social e da unidade da sociedade).
P. 20
Gregos X
Cristãos
(...). Diversamente dos gregos, a pátria cristã não era desse mundo. Com efeito, o
impulso para a tradição judaico-cristã, iniciando-se com Abraão como pai da nação
judaica, foi um rompimento de todos os laços de família, sociedade e raízes locais.
P. 21
Peregrino
(...). Para Pedro, o cristão era como “um peregrino em uma terra estrangeira”, um
sentimento que não poderia ter ocorrido na religião grega.
P. 21
Espírito
individual e
espírito do povo
(...). O cristianismo era uma religião particular, ocupada com a salvação pessoal, não
com a unidade social e moral na comunidade, como ele afirma mais uma vez, no
mesmo ensaio: “A religião particular forma e moralidade do homem individual, mas
a religião do povo tanto quanto as circunstâncias políticas, forma o espírito do povo”.
P. 21
Religião cristã
Intelectualizada
(...). A religião cristã era altamente intelectualizada com teologia e doutrinas que, por
seu turno, dividiam os cristãos; porém o que é mais importante causavam
dissonância na vida religiosa, uma vez que – argumenta Hegel - a imaginação e o
Afastamento
entre homem e
natureza.
coração “eram despachados e vazios”. Era, pois, essencial ter o engajamento das
emoções e da imaginação em religião. O cristianismo conduziu, pois, a um
distanciamento entre homem e natureza.
P. 22
Religião e vida
Personalidade
Consciência
Infeliz
Desde muito jovem, portanto, Hegel estava profundamente ocupado com a questão
do relacionamento entre religião e vida em comum na sociedade, e com a
potencialidade da religião em assegurar uma integração da personalidade humana,
em superar o que em A fenomenologia do espírito ele denominou a “consciência
infeliz” e em recuperar um senso de “estar à vontade no mundo”.
P. 22
(...) o mundo moderno experimentara a ascensão do individualismo.
P. 23
Sociedade grega
Sociedade
moderna
(...). A sociedade grega tinha um senso daquilo que Hegel, segundo Schiller,
chamava de unidade imediata; todo senso de comunidade restaurado teria de tornarse uma forma de unidade mediatizada; isto significa que reconhece e pretende
reintegrar o senso moderno de individualismo.
P. 23
Reconhecimento
do divino no
interior d vida e
do mundo social
Jesus
Tangível
Socialmente
(...). O que é necessário para assegurar essa transformação do cristianismo é o
reconhecimento do divino no interior da vida e do mundo social. (...). Para Hegel, em
A vida de Jesus, é perfeitamente possível interpretar a mensagem de Cristo desta
maneira. Ele aponta a inadequação da concepção de Deus dos Judeus, que levou à
experiência do exílio e da alienação. Sua divindade era-lhes exterior, “não vista e não
sentida”, ao passo que a vida Jesus articula num caso particular aquele visível,
tangível relacionamento com Deus que tem de existir se uma harmoniosa
comunidade de crentes deve ser estabelecida.
P. 24
Encarnação
Síntese entre
humano/divino
(...). Esse é o impacto da Encarnação, que é absolutamente fundamental para Hegel:
“se o divino tem de aparecer, o espírito invisível tem de ser unido com algo visível,
de como que o todo possa ser unificado... de modo que possa haver uma síntese
completa, uma perfeita harmonia”.
P. 24
Encarnação
(...); na Encarnação, o divino está unido com a vida humana, com a forma humana,
com a história e a natureza.
P. 24
Judeus X
Jesus humano e
divino
(...) os discípulos, que eram judeus, compreenderam a natureza de Deus e homem em
Jesus ainda no contexto das idéias judaicas. Em vez de seguir Jesus, ensinando uma
mensagem geral sobre a reconciliação entre o divino e o humano em toda a vida,
essa reconciliação foi entendida como tendo se completado somente em Jesus.
P. 25
Escritos
teológicos
Juvenis
(...) esses escritos teológicos juvenis são de grande importância para a compreensão
do enfoque hegeliano maduro da filosofia da religião. A unidade entre o divino e o
mundo era, nesse estágio, uma intuição religiosa que ele procurava expressar de um
modo que a tornasse a base de uma vida em comum e uma humanidade restaurada.
Em direção à Filosofia
P. 27
Uma nova
mitologia
Estética das
idéias
(...) temos de ter uma nova mitologia, mas essa mitologia tem de estar a serviço das
Idéias, ela tem de ser uma mitologia da Razão. Enquanto não expressarmos as Idéias
esteticamente, isto é, mitologicamente, elas não têm interesse para o povo, e, ao
contrário, enquanto a mitologia não é racional, o filósofo tem de envergonhar-se
dela.
P. 28
Espírito superior
(...). Um espírito superior, enviado dos céus, tem de fundar essa nova religião entre
nós. Ela será a última e a maior obra da humanidade.
P. 29
Filosofia e sua
amplitude
(...) a filosofia (...) ter de ser ampla e sistemática. Tem de ser ampla, pois deve tratar
com todas as mais importantes formas da experiência e atividade humanas e com as
estruturas psicológicas básicas dos si-mesmos [selves] engajados em tais atividades.
P. 29
Desenvolvim.
do sentido de
individuação
em relação
Seres humanos só desenvolvem um rico senso de ipseidade (princípios de
individuação) em relação com atividades comuns. Nelas, e no engajamento com o
mundo natural e social eles alcançam reconhecimento dos outros. Uma teoria tão
unificada da mente tem de relacionar um tratamento das estruturas básicas da
mentalidade com os tipos de atividade em que as pessoas se engajam.
P. 30
Mente e modos
de sua
Realização
Essa ligação necessária entre um tratamento da mente e os modos de sua realização
irá satisfazer uma das exigências de Hegel para a filosofia estar mais próxima da
experiência efetiva nos diferentes modos de vida social: religioso, familiar, social,
econômico, político e artístico.
P. 30
Sistemática
(...) segunda exigência é que a filosofia deveria ser sistemática. Ela tem de fornecer
uma explicação de todos os modos básicos de vida social e sua desconexão.
P. 30
Conexões que
podem ser
objetivadas
(...). É firme visão de Hegel, em seus escritos de maturidade, que debaixo das
diferenças superficiais entre as várias atividades em que os seres humanos estão
engajados existe uma conexão subjacente que pode ser trazida à superfície pela
filosofia, de uma maneira sistemática, conceitual.
P. 31
Lyotard
Pós-modernid.
Anti
Hegelianismo
(...) Lyotard (...), não há, nem pode haver “metanarrativa” filosófica que forneça uma
interpretação de todas as formas de experiência humana e as insira em seu lugar
apropriado no desenvolvimento das forças humanas. Neste sentido, o enfoque de
pensadores pósmodernos que enfatizam, e de fato celebram, a fragmentação da vida
humana e do pensamento é profundamente anti-hegeliano.
P. 31
Visão
sistemática de
Hegel
confrontada com
os filósofos da
Linguagem
Wittgenstein.
Adotando essa visão sistemática, Hegel igualmente coloca um importante desafio
para aqueles filósofos de tradição analítica nutridos em Wittgenstein. Eles
argumentam que somos confrontados com uma vastidão de diferentes jogos de
linguagem, cada um com sua própria lógica e cada um incorporando diferentes
interesses humanos. Esses jogos de linguagem são incomensuráveis. Não há
nenhuma concepção supra-abrangente de razão, uma vez que o que e racional e
irracional e interno a específicos jogos de linguagem e específicos interesses
humanos que eles incorporam.
P. 31
Filosofia tem
que ser
Histórica
Para Hegel, filosofia tem de ser histórica. Dado que a natureza da mente humana e
seu desenvolvimento tem de ser considerados em relação com modos de existência
social, esses modos não podem ser tomados como dados. Seu desenvolvimento tem
de ser entendido em paralelo a evolução das forcas da mente.
P. 31
Desenvolvim.
Histórico e
Teleológico
Esse desenvolvimento histórico é teleológico - isso significa dizer, ele é um processo
raciona em direção a um fim sobreabrangente, que é a consecução do que
denominamos Conhecimento Absoluto. Esse e estado atingido quando todas as
figuras da vida humana, em seu desenvolvimento histórico e sua interconexão, são
Em direção
P. 32
O conhecimento
Absoluto
plenamente entendidas.
A meta, o Conhecimento Absoluto, ou o espírito que conhece a si mesmo como
Espírito tem por sua senda o recolhimento dos Espíritos [isto é, as diferentes formas
da experiência humana na história e seus princípios organizadores ou ethos,(...).
P. 32
Conh. Absoluto
Quando entendemos essa história dos modos básicos da experiência humana,
alcançamos o nível do Conhecimento Absoluto (...).
P. 32
História e
dialética
História, para Hegel, como fica óbvio acima, não é "uma coisa maldita depois da
outra", uma série de descontínuos eventos contingentes. Há uma estrutura para esse
desenvolvimento. Parte dessa estrutura e dada pela idéia de dialética.
P. 33
Dialética
Processo
Desenvolvim.
Do mundo.
(...) dialética é o processo no qual está incorporada uma explicação de como as
formas de vida se desenvolvem. Formas de vida social - religiosa, política, artísticas
ou social - tem princípios organizadores, ou formas de ethos. O processo de
desenvolvimento dialético mostra como na história humana uma forma se converte
em outra, porque contradições são reveladas nas formas previas.
P. 33
A dialética se
realiza no nível
da razão
Completa
apreensão
conceitual
Das coisas e
suas relações
história e
experiência
Esse processo não é acidental ou contingente, mas pode ser entendido e apreendido
filosoficamente. Freqüentemente não empreendemos isso porque permanecemos
encalhados no nível do que Hegel denomina a "Representação", no qual as coisas são
consideradas pelo que são nelas mesmas, e não em seu relacionamento mútuo. O
nível da Representação (Understanding/Vorstellung) é indispensável, mas tem de ser
transcendido para se alcançar o nível da razão, em que há uma completa apreensão
conceitual (Be-griff) das coisas em sua inter-relacao. Recordando o desenvolvimento
interno das formas de vida de uma para a outra, a dialética é também, portanto, a
passagem da Representação para a razão; retornando-se, porém, as primeiras
censuras de Hegel acerca do papel da razão, porque esta incorpora história e
experiência, não é uma espécie de abstração universalista.
P. 33
Experiência
histórica
racionalidade
O segundo ponto filosoficamente importante sobre o desenvolvimento da experiência
histórica é que ele não é acidental. Existe, ao invés disso, uma profunda
racionalidade atuando, que o filósofo descobre ao longo da via do Conhecimento
Absoluto.
P. 34
Idéia absoluta
Princípio
organizador
Espírito
Absoluto
(...) a Idéia Absoluta, quer dizer, o princípio organizador da existência humana; que
se torna concreto no mundo da natureza, no mundo da história e da sociedade
humanas, na arte, religião e filosofia. Como a Idéia Absoluta esta encarnada em
diversas formas de experiência humana, embora conectadas de modo compreensível,
ela se torna Espírito. Quando: compreendida filosoficamente de modo pleno, ela e
Espírito, Absoluto.
P. 34
Conhecimento
Absoluto
Unidade
entre
vida
humana
e
experiência
(...). O nível do Conhecimento Absoluto é a transcrição filosófica da doutrina do
Espírito Santo mediatizando, em termos religiosos, entre o Pai e o Filho. No nível do
Conhecimento Absoluto, isso é interpretado em termos conceituais como trazendo
para o nosso meio, de maneira pública e racionalmente defensável, um entendimento
da profunda unidade entre vida humana e experiência. Para colocá-lo de maneira
simples: Deus, como ele é em si mesmo antes da fundação do mundo, e
transformado por Hegel em Idéia Absoluta. O entendimento filosófico da
racionalidade da experiência e da historia humana é equivalente a vida encarnada de
Deus, ou corporificação da Idéia Absoluta, unindo o divino ao humano na vida e
P. 35
Rel. e Filos
Sistema
racional
experiência de todo dia.
Hegel (...) insere a religião no contexto de uma completa explicação da vida e da
existência humanas e, assim fazendo, transcende a religião pela filosofia. (...) um
sistema racional de entendimento da existência humana que, porque é racional, e
aberto a todo entendimento e depende de razão e não de fé.
P. 35
Filosofia
(...) a filosofia esta enraizada nas crenças largamente sustentadas na sociedade, no
nível de entendimento de senso comum, mas as transcende.
P. 36
Filosofia
(...). A filosofia em certo sentido, não nos conta nada de novo. Antes, ela fornece
uma profunda explicação das formas de experiência e das instituições que habitamos.
Religião
O conceito de Deus
P. 37
Natureza de
Deus
(...) Hegel rejeita a idéia de que é impossível dizer algo determinado e verdadeiro
sobre a natureza de Deus por causa de nossa própria finitude e da infinitude de Deus
(...) criticando Kant, Jacobi e seu colega berlinense Schleiermacher.
P. 37
Teologia
racional
Razão.
(...). Tal é o mais abrangente resultado da teologia racional, a tendência geralmente
negativa em direção a qualquer conteúdo em relação à natureza de Deus. A “razão”
dessa espécie de teologia não foi, de fato, nada mais que entendimento abstrato
mascarado sob o nome de razão (...).
P. 38
“Deus é”
Existência
meramente
vazia
Abstrato
sem
conteúdo
(...). O resultado é que só se conhece em geral que Deus é: porém, de outra maneira,
este ente supremo é interiormente vazio e morto.
(...), quando a teologia moderna afirma que não podemos ter cognição de Deus, ou
que Deus não tem ulteriores determinações em si mesmo, ela conhece apenas que
Deus é como algo abstrato sem conteúdo; e dessa maneira Deus é reduzido a essa
abstração vazia. (...) Conhecer Deus significa ter um conceito definido, concreto de
Deus. Como tendo meramente existência, Deus é algo abstrato; no entanto, quando
[Deus é] conhecido, temos uma representação com um conteúdo.
P. 39
Natureza de
Deus
Como Hegel o vê, o argumento dos críticos é que nada mais podemos dizer sobre a
natureza de Deus, além de que ele é, e que esse sentido da existência de Deus é
imediatamente presente para a consciência.
P. 39
Consciência
envolve
confronto com
A alteridade
(...), para Hegel consciência envolve confronto com a alteridade; isto significa dizer
engajamento com e reconhecimento por aquilo que não somos. De modo que Deus,
como um ente consciente, tem essa necessidade interior, como a têm todos os seres
conscientes, de se externalizar a si mesmo em natureza e vida humana – ou seja, na
alteridade –e, por meio desse processo de externalização chegar à plena consciência.
P. 39
Deus criou
o
espírito
Manifestação
absoluta
Pois Deus ou espírito é esse juízo [ou divisão primal]; expresso concretamente, esta é
a criação do mundo e do espírito subjetivo para quem Deus é objeto. Espírito é uma
manifestação absoluta. Sua manifestação é uma posição da determinação e um ser
para outro. “manifestar-se” significa “criar um outro”, e de fato criar o espírito
subjetivo para quem o absoluto é. A constituição do mundo é automanifestação de
Deus, auto-revelação.
P. 40
Si-mesmo
(...) Deus é manifestação de seu próprio si-mesmo, que deus é para si mesmo – o
outro (...), o Filho de Deus ou o ente humano sendo conforme à divina imagem.
P. 40
Revelar-se
(...) Deus pode ser sabido ou conhecido, pois é da natureza de Deus revelar-se a si
mesmo, ser manifesto.
P. 40
Rel. Revelada
(...) a religião cristã é chamada a religião revelada. Seu conteúdo é que Deus está
revelado para os seres humanos, que eles sabem o que Deus é.
P. 40]
O Espírito
automanifesta..
Como diz Hegel: “Deus não deve ser considerado isoladamente, pois isso não é
possível. Somente conhecemos de Deus em conexão com a consciência” (...), o
espírito é “automanifestação”
Criação
P. 41
Idéia divina
Autoliberação
Subjetividade e
espírito
(...). A Idéia divina é precisamente esta autoliberação, a expulsão desse outro para
fora dela própria e sua reaceitação novamente, como o fito de constituir
subjetividade e espírito. A própria filosofia da natureza pertencente a esse caminho
de retorno, pois é esta filosofia que supera a divisão entre natureza e espírito e
proporciona ao espírito reconhecimento de sua essência na natureza. Î Nota do
próprio Hegel.
P. 41
Deus – universal
Partícular
Singular
(...), Deus dispõe, ainda que permanecendo igual a Si mesmo; cada um desses
momentos é ele mesmo a Idéia inteira, e tem de ser posto como a divina totalidade.
Distinção pode ser apreendida entre três formas: o universal, o particular e o
singular; Î Nota do próprio Hegel.
P. 42
Mundo e
Deus
O mundo, que é parte do autodesprendimento do amor de Deus, é também, para
Hegel, encarnação da liberdade. Deus é livre e aquilo que ele próprio coloca, a saber,
o mundo da história, é também livre.
P. 42
Doutrina da
criação
(...). A doutrina da criação como a auto-revelação de Deus na alteridade está ligada,
em Hegel, com a Encarnação, como o enfatiza a seguinte passagem de sua
Naturalphilosophie:
P. 42
Deus
Natureza e
espírito
Deus tem duas revelações, como natureza e como espírito, e ambas as manifestações
são templos que Ele ocupa e nos quais Ele está presente. Deus, como uma abstração,
não é o verdadeiro Deus; Sua verdade é a colocação de Seu outro, o processo vivo, o
mundo, que é Seu Filho, quando é compreendido em sua forma divina. Î Nota do
próprio Hegel
P. 42/43
Espírito e
natureza
Unidade com
seu outro
(...). Deus é sujeito somente em unidade com Seu outro em espírito. A determinação
e o propósito da filosofia da natureza é, portanto, que o espírito deva encontrar sua
própria essência, sua contraparte, isto é, o Conceito de Natureza. O estudo da
natureza é pois, a liberação do que pertence ao espírito na natureza (...).Î Nota do
próprio Hegel
P. 43
Razão/natureza
(...) a liberação da natureza, que é em si mesma razão; é, contudo, unicamente por
meio do espírito que a razão como tal emerge da natureza da existência. Î Nota do
próprio Hegel
P. 43
Cristo
necessidade de
Deus.
Encarnação.
(...). Hegel (...) sobre a natureza de Deus como consciência e subjetividade. A
encarnação de Deus em Cristo é, para Hegel, uma representação histórica e
experimental da necessidade , para Deus, de ser externalizado na alteridade em
forma humana, com um corpo e uma história (...).
P. 44
Necessidade
humano-divino
Certeza
Humana
(...). A necessidade [que a unidade divino-humana deva aparecer] não é apreendida
primeiramente por meio do pensamento; ela é, antes, uma certeza para humanidade.
Em outras palavras, este conteúdo – a unidade da natureza divina e humana – adquire
certeza, obtendo a forma da intuição sensível imediata e existência externa para a
humanidade, de modo que ela aparece como algo visto no mundo, experienciado. Î
Nota do próprio Hegel
P. 45
Natureza/Deus
(...). A encarnação é, antes, uma representação de como o mundo e a história humana
são parte da natureza de Deus.
P. 45
Deuses
Pagãos.
(...). Os deuses bem-aventurados dos pagãos foram representados como um mundo
além; através de Cristo, o ordinário mundo efetivo, essa baixeza que não é abjeta, é
ela mesma santificada.
P. 46
Deus
Subjetividade e
consciência
Encarnação.
(...) Deus desenvolve subjetividade e consciência por meio da Encarnação na
alteridade em geral, não apenas em Cristo, e que esse discernimento, quando é
entendido e compreendido em todo seu detalhamento natural e histórico, em filosofia
conduz ao Conhecimento Absoluto ou Espírito Absoluto que, em termos religiosos, é
representado uma vez mais na doutrina do Espírito Santo.
P. 47
Deus/Espírito
(...) – Deus como o Espírito. O Espírito enquanto existindo e se realizando a si
mesmo na comunidade.
A Queda
P. 48
Paraíso
(...). A humanidade viva no Paraíso; podemos chamá-lo um jardim zoológico. Essa
vida é denominada o estado de inocência. Î Nota do próprio Hegel
P. 48
Conhecimento
do bem e
do mal
consciência
tomada de si
(...). O que realmente tem significado é que a humanidade se elevou a si própria ao
conhecimento do bem e do mal; e essa cognição, essa distinção, é a fonte do mal, é o
próprio mal. Ser mal está alocado no ato de cognição, na consciência (...); cognição é
a fonte do mal. Pois cognição ou consciência significa em geral um julgamento ou
divisão, uma autodiferenciação dentre de si mesmo. (...) o bem e o mal devem
primeiramente ser encontrados na consciência. Î Nota do próprio Hegel
P. 49
Humano
consciente
(...). O ser humano enquanto tal é ser consciente; é precisamente por esta razão que a
humanidade ingressa nessa clivagem, na consciência que, quando ulteriormente
especificada, é cognição. Î Nota do próprio Hegel
P. 49
Jardim do Éden
e a ingenuidade
humana
Busca de uma
unidade
A história do Jardim do éden representa a inocência da humanidade numa espécie de
unidade imediata com a natureza e com a natureza divina, mas a humanidade em
tais circunstância não é consciente de sua própria subjetividade e espírito. Comer da
árvore do conhecimento dá ao homem conhecimento do bem e do mal, dá a ele um
senso de que, para o bom ou para o ruim, ele pode seguir sua própria senda. É o
nascimento do individualismo e da responsabilidade pessoal.
P. 50
Experiência
histórica
(...) a reintegração da humanidade é possível, porém apenas no esforço contido na
compreensão filosófica de totalidade de nossa experiência histórica como seres
humanos.
P. 50
Consciência
individual
Capacidade para
o certo e errado
Para Hegel, portanto, a consciência individual leva à capacidade para o certo e o
errado, mas porque a consciência tem também o desejo primordial de unidade, como
Hegel sustentou ao longo de sua obra, a possibilidade de superação da Queda e a
dirupção que ela causa podem ser conquistadas pela própria consciência e, portanto,
em sua linguagem, “essa clivagem é suprimida”.
P. 50
Queda
A redenção ocorre por meio da apreensão filosófica da totalidade da experiência
humana, que não teria sido possível sem a Queda.
Religião e Filosofia
P. 51
Filosofia e
religião
Algo
em
comum
(...). Porém, ao contrário, deve ser dito que o conteúdo da filosofia, sua necessidade e
interesse, estão inteiramente em comum com aqueles da religião. O objeto da
religião, como aquele da filosofia, é a verdade eterna, Deus e nada senão Deus e a
explicação de Deus. A filosofia somente explica a si mesma, quando explica a
religião, e quando ela explica ela mesma, está explicando a religião. Î Nota do
próprio Hegel
P. 52
Espírito do
mundo
(...). A filosofia tem o mesmo conteúdo, a verdade; ela é o espírito do mundo geral, e
não o espírito particular. A filosofia não faz senão transformar nossas representações
em conceitos. O conteúdo permanece sempre o mesmo. Î Nota do próprio Hegel
P. 52
Filosofia é
transcrição da
vida
A filosofia é, como Hegel diz em sua (...) [Preleções sobre a filosofia da religião],
(...) culto a Deus. A transcrição da vida e da experiência humanas em conceitos
filosóficos, inserida numa explicação total que é Conhecimento Absoluto, é uma
transcrição da natureza e da história de Deus.
P. 53
Filosofia é
teologia
Deus e
Natureza
A reconciliação é filosofia. A filosofia é, nessa medida, teologia. Ela representa a
reconciliação de Deus consigo mesmo e com a natureza, mostrando que a natureza, a
alteridade, é implicitamente divina, e que a elevação de si mesmo em direção à
reconciliação é, por um lado, o que é implicitamente o espírito finito, enquanto ele,
por outro lado, alcança essa reconciliação, ou a realiza, na história do mundo.
Conclusão
P. 55
Religião crista
Explicação da
existência
Para Hegel (...). A religião cristã, entendida corretamente, nos fornece uma
explicação integrada da existência humana, historicamente e no mundo moderno.
Quando filosoficamente transcrita e compreendida, ela é, para Hegel, a base para
uma nova humanidade.
P. 55
Tarefa da
filosofia
Experiência
(...). Para Hegel, então a tarefa da filosofia não é precisamente a elaboração de um
conjunto de princípios gerais, mas está enraizada em nossa experiência pessoal,
social e cultural, fornecendo uma interpretação do que ela é e, por meio dessa
interpretação , transformando-a e transfigurando-a.
P. 55
A teologia de Hegle é mais bem caracterizada pelo termo “panenteísmo”, que
Panenteismo
P. 56
Deísmo
panteismo
diferencia proveitosamente sua concepção do deísmo, panteísmo e teísmo ortodoxo.
(...) o deísmo da Ilustração, em que Deus cria o universo, mas não tem mais papel
ulterior nele. Ele é diferente do panteísmo de Espinosa, em cuja obra Deus é
identificado com o mundo como um todo.
P. 56
Auto-revelação
(...). O mundo natural, pessoal, social, político e cultural é transfigurado pela autorevelação de Deus nele.
P. 56
Deus é em si
mesmo
e para si mesmo
Deus é imanente
ao mundo
+ do que a soma
Das partes
(...). Para Hegel, todavia, Deus não é apenas “em si mesmo”, mas também “para si
mesmo”, como encarnado no mundo. Desse modo, panenteísmo, que foi o termo
cunhado por Krause, um contemporâneo filosófico de Hegel, parece será melhor
maneira de caracterizar a compreensão da religião de Hegel. Panenteísmo é
constituído por três termos gregos: pan, significando todos ou tudo; em, significando
em; theos, significando Deus, e é apropriado para transmitir precisamente o que
Hegel quer significar: que Deus é imanente ao mundo, porém é mais do que a soma
das partes do mundo.
P.58
Whitehead
(...) os teólogos do Processo, que seguem as pegadas de A. N Whitehead e C.
Hatshorne.
P. 58
Desafio
ao
pensamento
religioso
contemporâneo
(...) Hegel coloca, pois, um desafio geral para o pensamento religioso
contemporâneo, no sentido de que: se alguém é cristão e sustenta que o cristianismo,
como uma religião da Encadernação, fornece algumas verdades gerais e universais
sobre a existência humana, como devem ser entendidas em detalhe tais verdades em
relação com o mundo, tal como ele é mostrado pela ciência natural, social e pela
história?
P. 59
Pós-moderno
Ceticismo
Razão
Metafísica
(...). A teologia narrativa partilha com boa parte da filosofia pós-moderna um
ceticismo a respeito do papel da razão e da metafísica na religião. Não existe uma
forma geral de razão que possa respaldar o sistema compreensivo que o pensamento
de Hegel corporifica. A razão é interna a comunidades específicas, que são formadas
por narrativas, interesses comuns e tradições.
P. 60
Hegel a busca
de um sistema
que conferisse
sentido e
finalidade à
vida
(...). Se não existe uma explicação geral da natureza da vida e da finalidade humana,
nenhuma metanarrativa, apenas narrativas específicas baseadas em fé e mandamento,
então corremos o risco de um mundo muito polarizado, no qual as pessoas pertencem
às respectivas comunidades particulares narrativamente formadas, sem um senso de
finalidades comuns e vida em comum. Toda a obra de Hegel foi devotada a mostrar
o perigo de tal abordagem, mostrando, por meio da sua filosofia que ela não era
necessária.
FIM
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