PLANT, Raymond. Hegel. Sobre religião e filosofia. Tradução Oswaldo Giacóia. São Paulo: Editora UNESP, 2000 (Coleção Grandes Filósofos). Subsídios de Estudo – Professor Sandro Luiz Bazzanella A IMPORTÂNCIA DE HEGEL P. 11 Pensadores do século XIX e XX (...). Pensadores importantes do século XX, de várias tradições em filosofia, são dificilmente compreensíveis sem que entenda a relação deles com Hegel. Isso é verdade para Sartre, Heidegger, Merleau-Ponty, Kojève (...) Derrida, Lacan, Rorty, Royce, Althusser, Charles Taylor, Adorno, Marcuse, Fromm (...). No século XIX, F.C. Bauer, Feuerbach, Strauss, Marx, Kierkegaard, Nietzsche, T.H. Green (…). P. 11 Cristão-burguês (…) [De Hegel a Nietzsche: a revolução no pensamento do século XIX] Karl Lowith descreveu Hegel como o filósofo do mundo cristão burguês. P. 12 Marx, Nietzsche Kierkegaard (...). Marx, Kierkegaard e Nietzsche, de maneiras muito diversas, destruíram a idéia de unidade entre Deus e a humanidade, que estivera no centro do pensamento de Hegel. P. 12 Teologia De Hegel (...), Hegel tem tido uma influência profunda sobre dois dos maiores teólogos deste século: Wolfhart Pannenberg (...) e Hans Küng, o teólogo de Tübingen, que escreveu The Incarnation of God [A encarnação de Deus], que é dedicado a um exame da teologia de Hegel. P. 12 Hegel obra totalidade sistemática. (...), um dos fatos desencorajadores acerca de Hegel é o de ele ter considerado sua própria obra como uma totalidade sistemática, não sendo possível destacar a significação e o impacto de seus pensamento religioso de todas as outras áreas de sua obra em filosofia, teoria política, estética e história. Vida e desenvolvimento P. 15 (...) dividiu um quarto com o poeta Hölderlin e com o espirituoso Schelling.(...). P. 15 Consciência Da Fragmentação. (...). O mais importante para seu desenvolvimento posterior é que todos eles partilhavam uma consciência da fragmentação e das divisões que, segundo acreditavam, afligiam a cultura moderna. Em particular, preocupavam-se com a divisão ou bifurcação entre Deus e homem, homem e natureza e homem e sociedade. P. 16 Fenomenologia do espírito. (...) em Jena, escreveu A fenomenologia do espírito, que formaria uma introdução a seu sistema de filosofia e é um dos mais importantes textos da moderna filosofia ocidental. P. 16 Revolução Francesa Napoleão. (...), ele havia saudado a Revolução Francesa com seus amigos do Seminário de Tübingen, mas desiludiu-se com o advento do Terror. Ele via Napoleão encarnando os próprios princípios racionais e modernizantes da Revolução, e ao mesmo tempo restringindo seus excessos. P. 18 Acusações (...). Acusações levantadas desde que Hegel se tornou, em algum sentido, o filósofo oficial da Prússia têm de ser tratadas com algum cuidado. P. 18 (...) nacionalismo prussiano. Hegel viu esse nacionalismo, particularmente nas obras Crítica ao Romantismo Nacionalista Princípios da Filosofia Do Direito. de Jacob Friedrich Fries, como uma forma de romantismo subjetivo ressurgente, do qual ele era severamente crítico. Esse tipo de subjetivismo é criticado em Princípios da filosofia do direito, publicado durante seu professorado em Berlim e que trata de questões centrais da filosofia política: a natureza do direito, propriedade, moralidade, o desenvolvimento da economia de mercado, o papel do casamento e da família na sociedade civil, o papel das corporações, a função do Estado e o papel da monarquia constitucional nele. TEMORES DE FRAGMENTAÇÃO P. 19 Hegel Hölderlin Schelling Fragmentação Moderna (...), Hegel, Hölderlin, Schelling estavam preocupados com o que julgavam ser profundos problemas de divisão e fragmentação na vida moderna, em particular a bifurcação entre homem e Deus, entre o homem e a sociedade, entre o homem e a natureza e, é claro, a divisão interna do próprio indivíduo entre razão, imaginação e sentimento, e deram a seu diagnóstico dessas formas de bifurcação e fragmentação uma base religiosa. P. 19 Importância da Grécia clássica (...). No final do século XVIII, houve uma grande redescoberta da importância da Grécia clássica na cultura alemã. Essa redescoberta cobria todos os aspectos da vida grega e, em particularm a cultura da cidade-estado ou polis, em suas formas religiosas, morais e artísticas e poéticas. P. 20 Schiller Religião Cartas sobre a educação estética do homem (...), Schiller aponta quão estreitamente estavam entrelaçados os diferentes aspectos da vida grega e quão crucial era uma religião comum para assegurar a vida em comum e o senso de comunidade. Esses temas foram tratados de maneira ainda mais completa em suas Cartas sobre a educação estética do homem. Nessa obra, a unidade da vida e da experiência gregas é utilizada como um contraste para o diagnóstico que Schiller afirmou ser a tendência quase oposta da moderna cultura alemã. P. 20 Divórcio entre homem e Deus no cristianismo Convencional (...) Hegel e Hölderlin (...). Segundo eles, havia o divórcio entre homem e Deus no cristianismo convencional, no qual Deus, pela tradição judaico-cristã, é inteiramente outro, universal e, portanto, indiferente em relação aos modos de vida das sociedades particulares (como Rousseau havia apontado no contrato social, tornando o cristianismo, por conseguinte, inimigo do espírito social e da unidade da sociedade). P. 20 Gregos X Cristãos (...). Diversamente dos gregos, a pátria cristã não era desse mundo. Com efeito, o impulso para a tradição judaico-cristã, iniciando-se com Abraão como pai da nação judaica, foi um rompimento de todos os laços de família, sociedade e raízes locais. P. 21 Peregrino (...). Para Pedro, o cristão era como “um peregrino em uma terra estrangeira”, um sentimento que não poderia ter ocorrido na religião grega. P. 21 Espírito individual e espírito do povo (...). O cristianismo era uma religião particular, ocupada com a salvação pessoal, não com a unidade social e moral na comunidade, como ele afirma mais uma vez, no mesmo ensaio: “A religião particular forma e moralidade do homem individual, mas a religião do povo tanto quanto as circunstâncias políticas, forma o espírito do povo”. P. 21 Religião cristã Intelectualizada (...). A religião cristã era altamente intelectualizada com teologia e doutrinas que, por seu turno, dividiam os cristãos; porém o que é mais importante causavam dissonância na vida religiosa, uma vez que – argumenta Hegel - a imaginação e o Afastamento entre homem e natureza. coração “eram despachados e vazios”. Era, pois, essencial ter o engajamento das emoções e da imaginação em religião. O cristianismo conduziu, pois, a um distanciamento entre homem e natureza. P. 22 Religião e vida Personalidade Consciência Infeliz Desde muito jovem, portanto, Hegel estava profundamente ocupado com a questão do relacionamento entre religião e vida em comum na sociedade, e com a potencialidade da religião em assegurar uma integração da personalidade humana, em superar o que em A fenomenologia do espírito ele denominou a “consciência infeliz” e em recuperar um senso de “estar à vontade no mundo”. P. 22 (...) o mundo moderno experimentara a ascensão do individualismo. P. 23 Sociedade grega Sociedade moderna (...). A sociedade grega tinha um senso daquilo que Hegel, segundo Schiller, chamava de unidade imediata; todo senso de comunidade restaurado teria de tornarse uma forma de unidade mediatizada; isto significa que reconhece e pretende reintegrar o senso moderno de individualismo. P. 23 Reconhecimento do divino no interior d vida e do mundo social Jesus Tangível Socialmente (...). O que é necessário para assegurar essa transformação do cristianismo é o reconhecimento do divino no interior da vida e do mundo social. (...). Para Hegel, em A vida de Jesus, é perfeitamente possível interpretar a mensagem de Cristo desta maneira. Ele aponta a inadequação da concepção de Deus dos Judeus, que levou à experiência do exílio e da alienação. Sua divindade era-lhes exterior, “não vista e não sentida”, ao passo que a vida Jesus articula num caso particular aquele visível, tangível relacionamento com Deus que tem de existir se uma harmoniosa comunidade de crentes deve ser estabelecida. P. 24 Encarnação Síntese entre humano/divino (...). Esse é o impacto da Encarnação, que é absolutamente fundamental para Hegel: “se o divino tem de aparecer, o espírito invisível tem de ser unido com algo visível, de como que o todo possa ser unificado... de modo que possa haver uma síntese completa, uma perfeita harmonia”. P. 24 Encarnação (...); na Encarnação, o divino está unido com a vida humana, com a forma humana, com a história e a natureza. P. 24 Judeus X Jesus humano e divino (...) os discípulos, que eram judeus, compreenderam a natureza de Deus e homem em Jesus ainda no contexto das idéias judaicas. Em vez de seguir Jesus, ensinando uma mensagem geral sobre a reconciliação entre o divino e o humano em toda a vida, essa reconciliação foi entendida como tendo se completado somente em Jesus. P. 25 Escritos teológicos Juvenis (...) esses escritos teológicos juvenis são de grande importância para a compreensão do enfoque hegeliano maduro da filosofia da religião. A unidade entre o divino e o mundo era, nesse estágio, uma intuição religiosa que ele procurava expressar de um modo que a tornasse a base de uma vida em comum e uma humanidade restaurada. Em direção à Filosofia P. 27 Uma nova mitologia Estética das idéias (...) temos de ter uma nova mitologia, mas essa mitologia tem de estar a serviço das Idéias, ela tem de ser uma mitologia da Razão. Enquanto não expressarmos as Idéias esteticamente, isto é, mitologicamente, elas não têm interesse para o povo, e, ao contrário, enquanto a mitologia não é racional, o filósofo tem de envergonhar-se dela. P. 28 Espírito superior (...). Um espírito superior, enviado dos céus, tem de fundar essa nova religião entre nós. Ela será a última e a maior obra da humanidade. P. 29 Filosofia e sua amplitude (...) a filosofia (...) ter de ser ampla e sistemática. Tem de ser ampla, pois deve tratar com todas as mais importantes formas da experiência e atividade humanas e com as estruturas psicológicas básicas dos si-mesmos [selves] engajados em tais atividades. P. 29 Desenvolvim. do sentido de individuação em relação Seres humanos só desenvolvem um rico senso de ipseidade (princípios de individuação) em relação com atividades comuns. Nelas, e no engajamento com o mundo natural e social eles alcançam reconhecimento dos outros. Uma teoria tão unificada da mente tem de relacionar um tratamento das estruturas básicas da mentalidade com os tipos de atividade em que as pessoas se engajam. P. 30 Mente e modos de sua Realização Essa ligação necessária entre um tratamento da mente e os modos de sua realização irá satisfazer uma das exigências de Hegel para a filosofia estar mais próxima da experiência efetiva nos diferentes modos de vida social: religioso, familiar, social, econômico, político e artístico. P. 30 Sistemática (...) segunda exigência é que a filosofia deveria ser sistemática. Ela tem de fornecer uma explicação de todos os modos básicos de vida social e sua desconexão. P. 30 Conexões que podem ser objetivadas (...). É firme visão de Hegel, em seus escritos de maturidade, que debaixo das diferenças superficiais entre as várias atividades em que os seres humanos estão engajados existe uma conexão subjacente que pode ser trazida à superfície pela filosofia, de uma maneira sistemática, conceitual. P. 31 Lyotard Pós-modernid. Anti Hegelianismo (...) Lyotard (...), não há, nem pode haver “metanarrativa” filosófica que forneça uma interpretação de todas as formas de experiência humana e as insira em seu lugar apropriado no desenvolvimento das forças humanas. Neste sentido, o enfoque de pensadores pósmodernos que enfatizam, e de fato celebram, a fragmentação da vida humana e do pensamento é profundamente anti-hegeliano. P. 31 Visão sistemática de Hegel confrontada com os filósofos da Linguagem Wittgenstein. Adotando essa visão sistemática, Hegel igualmente coloca um importante desafio para aqueles filósofos de tradição analítica nutridos em Wittgenstein. Eles argumentam que somos confrontados com uma vastidão de diferentes jogos de linguagem, cada um com sua própria lógica e cada um incorporando diferentes interesses humanos. Esses jogos de linguagem são incomensuráveis. Não há nenhuma concepção supra-abrangente de razão, uma vez que o que e racional e irracional e interno a específicos jogos de linguagem e específicos interesses humanos que eles incorporam. P. 31 Filosofia tem que ser Histórica Para Hegel, filosofia tem de ser histórica. Dado que a natureza da mente humana e seu desenvolvimento tem de ser considerados em relação com modos de existência social, esses modos não podem ser tomados como dados. Seu desenvolvimento tem de ser entendido em paralelo a evolução das forcas da mente. P. 31 Desenvolvim. Histórico e Teleológico Esse desenvolvimento histórico é teleológico - isso significa dizer, ele é um processo raciona em direção a um fim sobreabrangente, que é a consecução do que denominamos Conhecimento Absoluto. Esse e estado atingido quando todas as figuras da vida humana, em seu desenvolvimento histórico e sua interconexão, são Em direção P. 32 O conhecimento Absoluto plenamente entendidas. A meta, o Conhecimento Absoluto, ou o espírito que conhece a si mesmo como Espírito tem por sua senda o recolhimento dos Espíritos [isto é, as diferentes formas da experiência humana na história e seus princípios organizadores ou ethos,(...). P. 32 Conh. Absoluto Quando entendemos essa história dos modos básicos da experiência humana, alcançamos o nível do Conhecimento Absoluto (...). P. 32 História e dialética História, para Hegel, como fica óbvio acima, não é "uma coisa maldita depois da outra", uma série de descontínuos eventos contingentes. Há uma estrutura para esse desenvolvimento. Parte dessa estrutura e dada pela idéia de dialética. P. 33 Dialética Processo Desenvolvim. Do mundo. (...) dialética é o processo no qual está incorporada uma explicação de como as formas de vida se desenvolvem. Formas de vida social - religiosa, política, artísticas ou social - tem princípios organizadores, ou formas de ethos. O processo de desenvolvimento dialético mostra como na história humana uma forma se converte em outra, porque contradições são reveladas nas formas previas. P. 33 A dialética se realiza no nível da razão Completa apreensão conceitual Das coisas e suas relações história e experiência Esse processo não é acidental ou contingente, mas pode ser entendido e apreendido filosoficamente. Freqüentemente não empreendemos isso porque permanecemos encalhados no nível do que Hegel denomina a "Representação", no qual as coisas são consideradas pelo que são nelas mesmas, e não em seu relacionamento mútuo. O nível da Representação (Understanding/Vorstellung) é indispensável, mas tem de ser transcendido para se alcançar o nível da razão, em que há uma completa apreensão conceitual (Be-griff) das coisas em sua inter-relacao. Recordando o desenvolvimento interno das formas de vida de uma para a outra, a dialética é também, portanto, a passagem da Representação para a razão; retornando-se, porém, as primeiras censuras de Hegel acerca do papel da razão, porque esta incorpora história e experiência, não é uma espécie de abstração universalista. P. 33 Experiência histórica racionalidade O segundo ponto filosoficamente importante sobre o desenvolvimento da experiência histórica é que ele não é acidental. Existe, ao invés disso, uma profunda racionalidade atuando, que o filósofo descobre ao longo da via do Conhecimento Absoluto. P. 34 Idéia absoluta Princípio organizador Espírito Absoluto (...) a Idéia Absoluta, quer dizer, o princípio organizador da existência humana; que se torna concreto no mundo da natureza, no mundo da história e da sociedade humanas, na arte, religião e filosofia. Como a Idéia Absoluta esta encarnada em diversas formas de experiência humana, embora conectadas de modo compreensível, ela se torna Espírito. Quando: compreendida filosoficamente de modo pleno, ela e Espírito, Absoluto. P. 34 Conhecimento Absoluto Unidade entre vida humana e experiência (...). O nível do Conhecimento Absoluto é a transcrição filosófica da doutrina do Espírito Santo mediatizando, em termos religiosos, entre o Pai e o Filho. No nível do Conhecimento Absoluto, isso é interpretado em termos conceituais como trazendo para o nosso meio, de maneira pública e racionalmente defensável, um entendimento da profunda unidade entre vida humana e experiência. Para colocá-lo de maneira simples: Deus, como ele é em si mesmo antes da fundação do mundo, e transformado por Hegel em Idéia Absoluta. O entendimento filosófico da racionalidade da experiência e da historia humana é equivalente a vida encarnada de Deus, ou corporificação da Idéia Absoluta, unindo o divino ao humano na vida e P. 35 Rel. e Filos Sistema racional experiência de todo dia. Hegel (...) insere a religião no contexto de uma completa explicação da vida e da existência humanas e, assim fazendo, transcende a religião pela filosofia. (...) um sistema racional de entendimento da existência humana que, porque é racional, e aberto a todo entendimento e depende de razão e não de fé. P. 35 Filosofia (...) a filosofia esta enraizada nas crenças largamente sustentadas na sociedade, no nível de entendimento de senso comum, mas as transcende. P. 36 Filosofia (...). A filosofia em certo sentido, não nos conta nada de novo. Antes, ela fornece uma profunda explicação das formas de experiência e das instituições que habitamos. Religião O conceito de Deus P. 37 Natureza de Deus (...) Hegel rejeita a idéia de que é impossível dizer algo determinado e verdadeiro sobre a natureza de Deus por causa de nossa própria finitude e da infinitude de Deus (...) criticando Kant, Jacobi e seu colega berlinense Schleiermacher. P. 37 Teologia racional Razão. (...). Tal é o mais abrangente resultado da teologia racional, a tendência geralmente negativa em direção a qualquer conteúdo em relação à natureza de Deus. A “razão” dessa espécie de teologia não foi, de fato, nada mais que entendimento abstrato mascarado sob o nome de razão (...). P. 38 “Deus é” Existência meramente vazia Abstrato sem conteúdo (...). O resultado é que só se conhece em geral que Deus é: porém, de outra maneira, este ente supremo é interiormente vazio e morto. (...), quando a teologia moderna afirma que não podemos ter cognição de Deus, ou que Deus não tem ulteriores determinações em si mesmo, ela conhece apenas que Deus é como algo abstrato sem conteúdo; e dessa maneira Deus é reduzido a essa abstração vazia. (...) Conhecer Deus significa ter um conceito definido, concreto de Deus. Como tendo meramente existência, Deus é algo abstrato; no entanto, quando [Deus é] conhecido, temos uma representação com um conteúdo. P. 39 Natureza de Deus Como Hegel o vê, o argumento dos críticos é que nada mais podemos dizer sobre a natureza de Deus, além de que ele é, e que esse sentido da existência de Deus é imediatamente presente para a consciência. P. 39 Consciência envolve confronto com A alteridade (...), para Hegel consciência envolve confronto com a alteridade; isto significa dizer engajamento com e reconhecimento por aquilo que não somos. De modo que Deus, como um ente consciente, tem essa necessidade interior, como a têm todos os seres conscientes, de se externalizar a si mesmo em natureza e vida humana – ou seja, na alteridade –e, por meio desse processo de externalização chegar à plena consciência. P. 39 Deus criou o espírito Manifestação absoluta Pois Deus ou espírito é esse juízo [ou divisão primal]; expresso concretamente, esta é a criação do mundo e do espírito subjetivo para quem Deus é objeto. Espírito é uma manifestação absoluta. Sua manifestação é uma posição da determinação e um ser para outro. “manifestar-se” significa “criar um outro”, e de fato criar o espírito subjetivo para quem o absoluto é. A constituição do mundo é automanifestação de Deus, auto-revelação. P. 40 Si-mesmo (...) Deus é manifestação de seu próprio si-mesmo, que deus é para si mesmo – o outro (...), o Filho de Deus ou o ente humano sendo conforme à divina imagem. P. 40 Revelar-se (...) Deus pode ser sabido ou conhecido, pois é da natureza de Deus revelar-se a si mesmo, ser manifesto. P. 40 Rel. Revelada (...) a religião cristã é chamada a religião revelada. Seu conteúdo é que Deus está revelado para os seres humanos, que eles sabem o que Deus é. P. 40] O Espírito automanifesta.. Como diz Hegel: “Deus não deve ser considerado isoladamente, pois isso não é possível. Somente conhecemos de Deus em conexão com a consciência” (...), o espírito é “automanifestação” Criação P. 41 Idéia divina Autoliberação Subjetividade e espírito (...). A Idéia divina é precisamente esta autoliberação, a expulsão desse outro para fora dela própria e sua reaceitação novamente, como o fito de constituir subjetividade e espírito. A própria filosofia da natureza pertencente a esse caminho de retorno, pois é esta filosofia que supera a divisão entre natureza e espírito e proporciona ao espírito reconhecimento de sua essência na natureza. Î Nota do próprio Hegel. P. 41 Deus – universal Partícular Singular (...), Deus dispõe, ainda que permanecendo igual a Si mesmo; cada um desses momentos é ele mesmo a Idéia inteira, e tem de ser posto como a divina totalidade. Distinção pode ser apreendida entre três formas: o universal, o particular e o singular; Î Nota do próprio Hegel. P. 42 Mundo e Deus O mundo, que é parte do autodesprendimento do amor de Deus, é também, para Hegel, encarnação da liberdade. Deus é livre e aquilo que ele próprio coloca, a saber, o mundo da história, é também livre. P. 42 Doutrina da criação (...). A doutrina da criação como a auto-revelação de Deus na alteridade está ligada, em Hegel, com a Encarnação, como o enfatiza a seguinte passagem de sua Naturalphilosophie: P. 42 Deus Natureza e espírito Deus tem duas revelações, como natureza e como espírito, e ambas as manifestações são templos que Ele ocupa e nos quais Ele está presente. Deus, como uma abstração, não é o verdadeiro Deus; Sua verdade é a colocação de Seu outro, o processo vivo, o mundo, que é Seu Filho, quando é compreendido em sua forma divina. Î Nota do próprio Hegel P. 42/43 Espírito e natureza Unidade com seu outro (...). Deus é sujeito somente em unidade com Seu outro em espírito. A determinação e o propósito da filosofia da natureza é, portanto, que o espírito deva encontrar sua própria essência, sua contraparte, isto é, o Conceito de Natureza. O estudo da natureza é pois, a liberação do que pertence ao espírito na natureza (...).Î Nota do próprio Hegel P. 43 Razão/natureza (...) a liberação da natureza, que é em si mesma razão; é, contudo, unicamente por meio do espírito que a razão como tal emerge da natureza da existência. Î Nota do próprio Hegel P. 43 Cristo necessidade de Deus. Encarnação. (...). Hegel (...) sobre a natureza de Deus como consciência e subjetividade. A encarnação de Deus em Cristo é, para Hegel, uma representação histórica e experimental da necessidade , para Deus, de ser externalizado na alteridade em forma humana, com um corpo e uma história (...). P. 44 Necessidade humano-divino Certeza Humana (...). A necessidade [que a unidade divino-humana deva aparecer] não é apreendida primeiramente por meio do pensamento; ela é, antes, uma certeza para humanidade. Em outras palavras, este conteúdo – a unidade da natureza divina e humana – adquire certeza, obtendo a forma da intuição sensível imediata e existência externa para a humanidade, de modo que ela aparece como algo visto no mundo, experienciado. Î Nota do próprio Hegel P. 45 Natureza/Deus (...). A encarnação é, antes, uma representação de como o mundo e a história humana são parte da natureza de Deus. P. 45 Deuses Pagãos. (...). Os deuses bem-aventurados dos pagãos foram representados como um mundo além; através de Cristo, o ordinário mundo efetivo, essa baixeza que não é abjeta, é ela mesma santificada. P. 46 Deus Subjetividade e consciência Encarnação. (...) Deus desenvolve subjetividade e consciência por meio da Encarnação na alteridade em geral, não apenas em Cristo, e que esse discernimento, quando é entendido e compreendido em todo seu detalhamento natural e histórico, em filosofia conduz ao Conhecimento Absoluto ou Espírito Absoluto que, em termos religiosos, é representado uma vez mais na doutrina do Espírito Santo. P. 47 Deus/Espírito (...) – Deus como o Espírito. O Espírito enquanto existindo e se realizando a si mesmo na comunidade. A Queda P. 48 Paraíso (...). A humanidade viva no Paraíso; podemos chamá-lo um jardim zoológico. Essa vida é denominada o estado de inocência. Î Nota do próprio Hegel P. 48 Conhecimento do bem e do mal consciência tomada de si (...). O que realmente tem significado é que a humanidade se elevou a si própria ao conhecimento do bem e do mal; e essa cognição, essa distinção, é a fonte do mal, é o próprio mal. Ser mal está alocado no ato de cognição, na consciência (...); cognição é a fonte do mal. Pois cognição ou consciência significa em geral um julgamento ou divisão, uma autodiferenciação dentre de si mesmo. (...) o bem e o mal devem primeiramente ser encontrados na consciência. Î Nota do próprio Hegel P. 49 Humano consciente (...). O ser humano enquanto tal é ser consciente; é precisamente por esta razão que a humanidade ingressa nessa clivagem, na consciência que, quando ulteriormente especificada, é cognição. Î Nota do próprio Hegel P. 49 Jardim do Éden e a ingenuidade humana Busca de uma unidade A história do Jardim do éden representa a inocência da humanidade numa espécie de unidade imediata com a natureza e com a natureza divina, mas a humanidade em tais circunstância não é consciente de sua própria subjetividade e espírito. Comer da árvore do conhecimento dá ao homem conhecimento do bem e do mal, dá a ele um senso de que, para o bom ou para o ruim, ele pode seguir sua própria senda. É o nascimento do individualismo e da responsabilidade pessoal. P. 50 Experiência histórica (...) a reintegração da humanidade é possível, porém apenas no esforço contido na compreensão filosófica de totalidade de nossa experiência histórica como seres humanos. P. 50 Consciência individual Capacidade para o certo e errado Para Hegel, portanto, a consciência individual leva à capacidade para o certo e o errado, mas porque a consciência tem também o desejo primordial de unidade, como Hegel sustentou ao longo de sua obra, a possibilidade de superação da Queda e a dirupção que ela causa podem ser conquistadas pela própria consciência e, portanto, em sua linguagem, “essa clivagem é suprimida”. P. 50 Queda A redenção ocorre por meio da apreensão filosófica da totalidade da experiência humana, que não teria sido possível sem a Queda. Religião e Filosofia P. 51 Filosofia e religião Algo em comum (...). Porém, ao contrário, deve ser dito que o conteúdo da filosofia, sua necessidade e interesse, estão inteiramente em comum com aqueles da religião. O objeto da religião, como aquele da filosofia, é a verdade eterna, Deus e nada senão Deus e a explicação de Deus. A filosofia somente explica a si mesma, quando explica a religião, e quando ela explica ela mesma, está explicando a religião. Î Nota do próprio Hegel P. 52 Espírito do mundo (...). A filosofia tem o mesmo conteúdo, a verdade; ela é o espírito do mundo geral, e não o espírito particular. A filosofia não faz senão transformar nossas representações em conceitos. O conteúdo permanece sempre o mesmo. Î Nota do próprio Hegel P. 52 Filosofia é transcrição da vida A filosofia é, como Hegel diz em sua (...) [Preleções sobre a filosofia da religião], (...) culto a Deus. A transcrição da vida e da experiência humanas em conceitos filosóficos, inserida numa explicação total que é Conhecimento Absoluto, é uma transcrição da natureza e da história de Deus. P. 53 Filosofia é teologia Deus e Natureza A reconciliação é filosofia. A filosofia é, nessa medida, teologia. Ela representa a reconciliação de Deus consigo mesmo e com a natureza, mostrando que a natureza, a alteridade, é implicitamente divina, e que a elevação de si mesmo em direção à reconciliação é, por um lado, o que é implicitamente o espírito finito, enquanto ele, por outro lado, alcança essa reconciliação, ou a realiza, na história do mundo. Conclusão P. 55 Religião crista Explicação da existência Para Hegel (...). A religião cristã, entendida corretamente, nos fornece uma explicação integrada da existência humana, historicamente e no mundo moderno. Quando filosoficamente transcrita e compreendida, ela é, para Hegel, a base para uma nova humanidade. P. 55 Tarefa da filosofia Experiência (...). Para Hegel, então a tarefa da filosofia não é precisamente a elaboração de um conjunto de princípios gerais, mas está enraizada em nossa experiência pessoal, social e cultural, fornecendo uma interpretação do que ela é e, por meio dessa interpretação , transformando-a e transfigurando-a. P. 55 A teologia de Hegle é mais bem caracterizada pelo termo “panenteísmo”, que Panenteismo P. 56 Deísmo panteismo diferencia proveitosamente sua concepção do deísmo, panteísmo e teísmo ortodoxo. (...) o deísmo da Ilustração, em que Deus cria o universo, mas não tem mais papel ulterior nele. Ele é diferente do panteísmo de Espinosa, em cuja obra Deus é identificado com o mundo como um todo. P. 56 Auto-revelação (...). O mundo natural, pessoal, social, político e cultural é transfigurado pela autorevelação de Deus nele. P. 56 Deus é em si mesmo e para si mesmo Deus é imanente ao mundo + do que a soma Das partes (...). Para Hegel, todavia, Deus não é apenas “em si mesmo”, mas também “para si mesmo”, como encarnado no mundo. Desse modo, panenteísmo, que foi o termo cunhado por Krause, um contemporâneo filosófico de Hegel, parece será melhor maneira de caracterizar a compreensão da religião de Hegel. Panenteísmo é constituído por três termos gregos: pan, significando todos ou tudo; em, significando em; theos, significando Deus, e é apropriado para transmitir precisamente o que Hegel quer significar: que Deus é imanente ao mundo, porém é mais do que a soma das partes do mundo. P.58 Whitehead (...) os teólogos do Processo, que seguem as pegadas de A. N Whitehead e C. Hatshorne. P. 58 Desafio ao pensamento religioso contemporâneo (...) Hegel coloca, pois, um desafio geral para o pensamento religioso contemporâneo, no sentido de que: se alguém é cristão e sustenta que o cristianismo, como uma religião da Encadernação, fornece algumas verdades gerais e universais sobre a existência humana, como devem ser entendidas em detalhe tais verdades em relação com o mundo, tal como ele é mostrado pela ciência natural, social e pela história? P. 59 Pós-moderno Ceticismo Razão Metafísica (...). A teologia narrativa partilha com boa parte da filosofia pós-moderna um ceticismo a respeito do papel da razão e da metafísica na religião. Não existe uma forma geral de razão que possa respaldar o sistema compreensivo que o pensamento de Hegel corporifica. A razão é interna a comunidades específicas, que são formadas por narrativas, interesses comuns e tradições. P. 60 Hegel a busca de um sistema que conferisse sentido e finalidade à vida (...). Se não existe uma explicação geral da natureza da vida e da finalidade humana, nenhuma metanarrativa, apenas narrativas específicas baseadas em fé e mandamento, então corremos o risco de um mundo muito polarizado, no qual as pessoas pertencem às respectivas comunidades particulares narrativamente formadas, sem um senso de finalidades comuns e vida em comum. Toda a obra de Hegel foi devotada a mostrar o perigo de tal abordagem, mostrando, por meio da sua filosofia que ela não era necessária. FIM