Unidade 6 - Obstetrícia Cardiopatia CAPÍTULO 4 CARDIOPATIA 1. EpIDEMIOLOGIA » 1% a 3% das gestantes são cardiopatas; » Cardiopatia reumática é responsável por 90% nos países subdesenvolvidos; » Outras causas: cardiopatia congênita, patologia isquêmica 2. ALTERAçÕES HEMODINâMICAS DA GRAvIDEz » Débito cardíaco (consumo de oxigênio ); » Frequência cardíaca ; » Resistência vascular • Sistêmica • Pulmonar » PAD e PAS ; » Contratilidade miocárdica ; » Pressão coloidosmótica . 3. INDICADORES CLÍNICOS DE DOENçA CARDÍACA DURANTE A GRAvIDEz » SINTOMAS • • • • Dispnéia severa e progressiva Ortopnéia progressiva Dispnéia paroxística noturna Hemoptise 523 Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas Maternidade Escola Assis Chateaubriand • Síncope aos esforços • Dor torácica relacionada ao esforço ou emoção » Achados Clínicos • • • • • • • • • Cianose Baqueteamento digital Turgência jugular persistente Sopro sistólico ≥ 3+/6+ Sopro diastólico Cardiomegalia Arritmia sustentada Desdobramento persistente da 2º bulha Critérios para hipertensão pulmonar 4. CLASSIfICAçãO fUNCIONAL DAS CARDIOpATIAS (NyHA) » Classe I: Assintomática, sem limitação física. » Classe II: Leve limitação da atividade física ordinária. » Classe III: Confortável ao repouso, mas sintomática aos leves esforços (dispneia, fadiga, palpitação ou dor precordial). » Classe IV: Sintomática mesmo no repouso. 5. RISCO DE MORTALIDADE MATERNA NA GRÁvIDA CARDIOpATA » Alto risco* – Mortalidade 15% a 50% - OMS classe de risco 4 • • • • • 524 Estenose aórtica grave com área valvar < 1 cm²; Hipertensão arterial pulmonar de qualquer etiologia; Sindrome de Marfan com diâmetro de raiz de aorta > 40 mm; Miocardiopatia periparto prévia com disfunção ventricular residual; Disfunção ventricular grave (CF NYHA III ou IV ou FE < 30%); Unidade 6 - Obstetrícia Cardiopatia » Risco intermediário – Mortalidade 5% a 15% - OMS classe de risco 2 ou 3 • • • • • • • • • Próteses valvares cardíacas mecânicas Estenose mitral e aórtica Cardiopatias congênitas cianóticas Cardiopatias congênitas complexas pós-cirurgia de Mustard ou de Fontan Coarctação de aorta não corrigida Disfunção ventricular leve a moderada Estenose pulmonar grave Miocardiopatia periparto prévia sem disfunção ventricular residual Necessidade de uso contínuo de anticoagulante BAIxO RISCO – MORTALIDADE < 1% - OMS CLASSE DE RISCO 1 • • • • • • • Miocardiopatia hipertróica não complicada Valvulopatias com lesões leves, próteses biológicas Síndrome de Marfan sem dilatação de aorta Coarctação de aorta corrigida, sem hipertensão ou aneurisma Mulheres pós-transplante cardíaco Disfunção leve de ventrículo esquerdo Cardiopatia congênita corrigida e sem sequela Observação: Discutir abortamento terapêutico (<20 semanas) com a paciente. Aguardar vitalidade fetal se > 20 semanas 6. COMpLICAçÕES CARDIOvASCULARES MAIS fREQUENTES » » » » » » Insuiciência cardíaca Arritmias Tromboembolismo Angina Hipoxemia Endocardite infecciosa 525 Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas Maternidade Escola Assis Chateaubriand 7. pREDITORES DE RISCO DAS COMpLICAçÕES NA GESTAçãO » Presença de cianose (saturação de oxigênio < 90%); » Classe funcional > II segundo a classiicação da New York Heart Association (NYHA); » Fração de ejeção do ventrículo esquerdo < 40%; » Evento cardiovascular prévio (arritmia, edema pulmonar, acidente vascular cerebral, ictus isquêmico transitório). » A presença de um desses fatores de risco representa um risco adicional de evento cardíaco de 27% durante a gestação e na presença de dois ou mais o acréscimo é de 75% 8. ASSISTÊNCIA pRé –NATAL » Acompanhamento multidisciplinar e consultas de pré-natal de 15/15 dias. » Evitar, rastrear e tratar fatores que precipitam as complicações cardiovasculares: anemia, infecção, hipertireoidismo e distúrbio eletrolítico. » Nas pacientes com indicação, lembrar da proilaxia para endocardite infecciosa e febre reumática. » ATENÇÃO para esquema anticoagulação. 1º TRIMESTRE: Identiicação da classe funcional; Rotina pré-natal; Ecocardiograia materna (Avaliação da função cardíaca); US obstétrico transvaginal: conirmação da IG, medida da translucência nucal e ducto venoso; » Rastrear infecção materna (SU, urinocultura, CO); » Orientações gerais: • Dieta rica em proteína e pobre em sal (2g/d); • Evitar atividade física intensa. » » » » 2º TRIMESTRE: » Rastreamento de infecção urinária (Urinocultura); 526 Unidade 6 - Obstetrícia Cardiopatia » Manutenção de níveis hematimétricos (Hb> 10g/%, Ht>30%); » US morfológico; » Ecocardiograia fetal (20 - 26 sem) nas mães com cardiopatias congênitas ou com outras indicações de ecocardiograia. 3º trimestre: » Hematimetria materna (rastrear anemia); » Rastreio de infecção; » US (bem estar fetal) + Doppler; » CTG a partir de 34 sem; » Evitar posição supina horizontal. 9. CONDUTA NO TRABALHO DE pARTO: Deixar que paciente entre em trabalho de parto espontâneo ou realizar a indução do parto (Misoprostol 25mcg) entre 38-39 sem, se condição materna e fetal permitir. Suspender anticoagulação. Via de parto: » Parto vaginal: opção mais segura • Monitorização e oxigênio sob cateter nasal • Manter paciente com tronco elevado • Bloqueio peridural contínuo • Evitar hiper-hidratação e sangramento excessivo • Uso de ocitócitos nas distócias funcionais • Aminiotomia o mais tardio • Fórcipe de alívio. » Cesariana: Indicação obstétrica lesão cardíaca e condição materna global • Síndrome de Marfan • Hipertensão pulmonar grave • Aneurisma dissecante da aorta • Insuiciência cardíaca congestiva classe funcionais III e I↑. 527 Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas Maternidade Escola Assis Chateaubriand 10. pUERpéRIO » Manter internada por 05 dias sendo as primeiras 12h em UTI. » Evitar: hiper-hidratação, hipotonia uterina, infecções e fenômenos tromboembólicos. » Retorno e troca do anticoagulante quando indicado. » Contracepção: • ACO e injetáveis evitar nas classes III e IV (OMS 3 e 4); • DIU risco de infecção e reação vagal na inserção em até 5% dos casos • Progestágenos boa opção na amamentação. Evitar nas classes III e IV (OMS 3 e 4); • LT nos casos graves 11. ANTICOAGULAçãO: » Principais indicações cardíacas de anticoagulação na gravidez: • • • • • • • Prótese valvar mecânica Fibrilação atrial permanente Antecedente tromboembólico Cardiomiopatia dilatada Insuiciência cardíaca congestiva Cardiopatias congênitas cianóticas Trombo intracavitário » Agentes proiláticos: • Varfarina: ▪ É segura no puerpério e no aleitamento. ▪ Tem maior risco de hemorragia pós-parto e hematomas perineais do que a HBPM. » Heparina não fraccionada (HNF): • Meia-vida mais curta do que a HBPM • Facilmente revertida com sulfato de protamina • Risco de 5% de trombocitopenia (pedir contagem de plaquetas) 528 Unidade 6 - Obstetrícia Cardiopatia » Heparina de baixo peso molecular (HBPM): • Não atravessa a placenta; não é teratogênica; não é excretada no leite • Baixo risco de trombocitopenia (não é necessário pedir contagem de plaquetas antes de iniciar terapêutica) » Época de início e troca: Trocar vartarina por heparina quando conirmada a gestação ou preferencialmente antes da gestação. Até 13 semanas HBPM* 1 mg/Kg 12/12h ou HNF 5000 unidades internacionais, SC, 12/12h (OBS: o primeiro esquema é em dose terapêutico, o segundo é em dose proilática) 13 a 36 semanas Varfarina 5 mg/dia, VO 36 sem a 6-24h antes do parto HBPM 1 mg/Kg 12/12h até 24h antes da indução do parto ou da cesariana eletiva ou; HNF 5000 unidades internacionais, SC, 12/12h até 12h antes da resolução da gestação. Reiniciar 6h após o parto. *Heparina de escolha para proilaxia » Dose ajustada: • HNF: TTPa, 1,5 a 2,5 vezes o controle; • HBPM: Não necessita de monitorização; • Varfarina: TAP, 1,5 a 2,5 vezes o controle ou INR 1,5-2,5. » Durante o puerpério: • Mulheres tratadas com varfarina antes da gravidez podem reiniciar o tratamento (5 a 7,5 mg/d) entre o 5 e o 7º dia pós-parto. A HBPM deve ser mantida até se obterem dois valores de INR entre 2-3. • ALTO RISCO = Antecedentes de TEV ou Medicação antenatal com HBPM Proilaxia com HBPM até 6ª semana pós-parto • RISCO INTERMEDIÁRIO = Cesariana intraparto, Tromboilias (congênitas e adquiridas), IMC>40Kg/m2, internamento hospitalar prévio com imobilização, doenças médicas Proilaxia com HBPM até 6ª semana pós-parto 529 Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas Maternidade Escola Assis Chateaubriand » Cuidados com o RN: • 1º trimestre: defeitos de septo nasal, alteração na implantação do pavilhão auditivo, pontilhamento do calcâneo. Obs: Se parto prematuro (2º trimestre) com mãe em uso de warfarin monitorizar TAP do RN (risco de sangramento). 12. pROfILAxIA pARA ENDOCARDITE » Indicações: • Alto risco: ▪ Prótese valvar cardíaca (a mortalidade por endocardite infeciosa é ≥ 20%); ▪ Endocardite infeciosa prévia; ▪ Cardiopatias congênitas: - cardiopatias congênitas cianóticas não corrigidas ou com procedimentos paliativos (shunts, derivações); - cardiopatias congênitas corrigidas com enxertos de materiais protéticos. A proilaxia está indicada em procedimentos de risco durante o período da endotelização (6 meses); - cardiopatias congênitas corrigida com permanência de defeito residual ao lado de enxerto com material protético (a permanência do defeito inibe a endotelização); - Pacientes transplantadas que desenvolvem valvopatia. • Risco Moderado: valvulopatias adquiridas, cardiopatias congênitas acianóticas e cardiomiopatia hipertróica. » Esquema proilático: • Alto risco: ▪ Ampicilina ou amoxicilina 2,0 g IV, mais gentamicina 1,5 mg/ kg EV (não exceder 120 mg) 30 minutos antes do parto; e 6 horas após, ampicilina ou amoxicilina 1,0 g EV ou VO. 530 Unidade 6 - Obstetrícia Cardiopatia ▪ Paciente alérgica à penicilina: Vancomicina 1,0 g EV, em infusão por até duas horas, (mínimo 60 minutos) mais gentamicina 1,5 mg/kg EV (não exceder 120 mg) 30 minutos antes do parto. Risco moderado: • Amoxicilina: 2,0 g VO uma hora antes do parto ou ampicilina 2 g IM ou EV 30 minutos antes do parto. • Quando alérgicas à penicilina: Vancomicina 1,0 g EV em infusão por até duas horas (mínimo 60 minutos) 30 minutos antes do parto. 13. pROfILAxIA SECUNDÁRIA DA fEBRE REUMÁTICA Deve ser continuada durante a gestação, conforme os seguintes critérios: • Febre reumática com história de cardite e/ou lesão valvular: até os 40 anos • Febre reumática FR com história de cardite e sem lesão valvular: até 10 anos após o surto. • Febre reumática sem história de cardite e sem lesão valvular: por cinco anos após o surto reumático ou até os 21 anos de idade Esquema proilático: - Penicilina benzatina 1.200.000 unidades internacionais, via IM 21/21dias. - Alergia à penicilina: Estearato de Eritromicina 250 mg VO de 12/12h. 531