Planejamento e Operação por Categoria de Produto Professor conteudista: Clesio L. Landini Jr. Sumário Planejamento e Operação por Categoria de Produto Unidade I 1 CONTROLE DE ESTOQUE VERSUS GESTÃO DE ESTOQUES ................................................................4 1.1 Estratégias de estoque ..........................................................................................................................6 1.2 Categorias de estoques .........................................................................................................................6 1.3 Classificação de material por categoria .........................................................................................8 1.4 ECR (Efficient Consumer Response) ............................................................................................. 10 1.5 Estrutura e níveis do canal ............................................................................................................... 12 1.6 Mix de produtos vesus gestão de estoques ............................................................................... 12 1.7 Gerenciamento por categorias ....................................................................................................... 15 1.8 Nível de estoque x categorias de produtos ............................................................................... 20 1.9 O objetivo básico da armazenagem.............................................................................................. 23 1.10 Classificação dos armazéns ........................................................................................................... 24 1.11 Processos de estocagem .................................................................................................................. 27 1.12 Locação no estoque .......................................................................................................................... 29 1.13 Case: gerenciamento de estoque na Amazon.com .............................................................. 32 Unidade II 2 PLANEJAMENTO E CONTROLE DE CAPITAL ........................................................................................... 35 2.1 Definindo os objetivos financeiros de mercadorias ............................................................... 35 2.2 O mix deve minimizar os estoques ............................................................................................... 36 2.3 Planejamento dos estoques ............................................................................................................. 37 2.4 Custo do estoque ................................................................................................................................. 38 2.5 Índices de atividade do estoque..................................................................................................... 41 2.6 Case – Distribuidora de medicamentos Santa Ifigênia ......................................................... 46 Unidade III 3 LAYOUT NO ARMAZÉM ................................................................................................................................. 49 3.1 Considerações sobre o layout do armazém ............................................................................... 49 3.2 Localização dos itens no estoque .................................................................................................. 53 3.3 Case – Gerenciamento de estoques do WalMart .................................................................... 55 4 OPERAÇÕES DE PICKING .............................................................................................................................. 57 4.1 Separação de pedidos ......................................................................................................................... 57 4.2 Métodos de separação de pedidos ................................................................................................ 61 4.3 O ciclo de atendimento nas operações de picking ................................................................. 68 Unidade IV 5 CADASTRO E CODIFICAÇÃO DE ITENS..................................................................................................... 72 5.1 Classificação e codificação de materiais..................................................................................... 72 5.2 Sistemas de codificação .................................................................................................................... 74 5.3 Cadastramento de materiais ........................................................................................................... 78 5.4 Case – Decisão acertada: BSH Continental Eletrodomésticos Ltda. ................................ 79 6 PREPARAÇÃO DA CARGA PARA DISTRIBUIÇÃO ................................................................................. 80 6.1 O sistema de distribuição de produtos ........................................................................................ 80 6.2 Case – Carrefour investe em distribuição centralizada ........................................................ 81 6.3 Seleção e montagem do pedido..................................................................................................... 83 6.4 Controle físico e segurança .............................................................................................................. 84 6.5 Intensidade da distribuição .............................................................................................................. 86 PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO Unidade I INTRODUÇÃO A gestão por categorias é um processo cooperativo entre o fabricante e os canais distribuidores com a finalidade de gerenciar categorias de produtos como se estas fossem unidades estratégicas de negócio. Esta disciplina tem como objetivo apresentar o conceito de gestão de estoques por categorias de produtos e mostrar sua vantagens em termos de: capital investido, layout, operações de picking, cadastro e codificação de itens e por fim preparação da carga para distribuição na indústria e 10 comércio. 5 O gerenciamento por categoria cria um elo entre fornecedores e distribuidores, tornam as empresas mais eficientes e lucrativas, oferece meios para melhorar a tomada de decisões e agregam valor ao consumidor. Uma breve história No início do desenvolvimento do comércio moderno, como as moedas não eram aceitas universalmente por ainda não terem credibilidade financeira, as mercadorias eram trocadas diretamente em postos de troca em um processo de escambo. Já na fase colonial americana, com o desenvolvimento do 20 Oeste e com a necessidade de inúmeras mercadorias para as atividades colonizadoras dos pioneiros, surgiram os armazéns gerais (general stores), que, segundo Novaes (2007), operavam seguindo as práticas: 15 1 Unidade I • de comercialização feita basicamente com dinheiro; • de extensa oferta de mercadorias (produtos alimentícios não perecíveis, ferramentas, roupas, sapatos etc.); 5 • em que o comerciante encomendava os itens que considerava interessantes aos clientes, as mercadorias permaneciam nas prateleiras até serem vendidas, em caso de encalhe, o produto não podia ser devolvido aos fornecedores, e não havia promoções especiais para liquidação de estoques; • em que não havia variedade de marcas. 10 A localização de tais armazéns gerais ficava em pontos estratégicos da rede de transportes (caminhos de caravanas e estações ferroviárias). A partir desses armazéns gerais, surgiram vilas e, posteriormente, cidades. Com o tempo, a operação dos armazéns gerais começou 15 a não atender mais as populações rurais que se desenvolviam economicamente, os consumidores queriam maior variedade, e o preço não foi decisivo para fazer os clientes buscarem outras fontes de comercialização. Na mesma época, o governo americano, com a intenção de fixar a população em seus pontos 20 de origem, incentivou o uso de sistema postal para remessa de encomendas. Isso abriu definitivamente um canal para comercialização de produtos por catálogos e encomendas. Em 1886, Richard Sears entrou no ramo de comercialização por catálogos e estabeleceu em alguns pontos do território 25 americano estoques centrais, o que representava um grande avanço em termos logísticos. No início do século XX, as lojas de departamentos (department stores) se tornaram populares nos Estados Unidos, o que também representou um grande passo em termos logísticos, por causa 30 do aumento no número de produtos comercializados, que exigiu reestruturação do serviço de entrega, melhor qualificação do 2 PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO pessoal, construção de depósitos especializados, utilização de veículos mais adequados com consequente melhora no nível de serviço ao consumidor. No Brasil, no final da década de 1950, com o objetivo 5 de reduzir o preço dos produtos de primeira necessidade em uma época de grandes dificuldades econômicas, alguns varejistas aproveitaram a disponibilidade de garagens e armazéns e dispuseram os produtos em caixas abertas, espalhadas pelo piso. Apenas uma pessoa, o proprietário, 10 geria o negócio. A inovação, com conceitos comerciais e logísticos revolucionários, atraiu outros comerciantes, favorecendo uma intensa competição. Com implantação da indústria automobilística e o uso crescente da geladeira no ambiente doméstico, surgiram condições para a criação dos 15 supermercados com o conceito de autosserviço. Desde então as empresas buscam cada vez mais garantir uma determinada disponibilidade de produto com o menor nível de estoque possível. Wanke (2003) diz que a redução de estoques para o menor 20 nível possível é motivada principalmente por: • variedade crescente de produtos, tornando mais complexa e trabalhosa a determinação dos tamanhos de lote, dos pontos de pedido e dos estoques de segurança; 25 • elevado custo de oportunidade do capital, reflexo das proibitivas taxas de juros brasileiras, que tem tornado a posse e a manutenção dos estoques cada vez mais caros. Por outro lado, algumas transformações têm influenciado a gestão de estoques por meio do aumento da eficiência nas operações de produção e de distribuição. Esse aumento da 30 eficiência significa muitas vezes reduzir o tempo de resposta, “variando” os custos fixos, permitindo operar-se com tamanhos 3 Unidade I de lotes menores sem afetar a disponibilidade de produto ou incorrer em aumentos nos custos totais. Nesses mais de sessenta anos decorridos desde a Segunda Guerra Mundial, a logística apresentou uma evolução 5 continuada, sendo hoje considerada um dos elementoschave na estratégia competitiva das empresas. No início, era confundida com transporte e armazenagem de produtos; hoje, é o ponto nevrálgico da cadeia produtiva integrada, procurando atuar de acordo com o moderno conceito de SCM (Supply Chain 10 Management). 1 CONTROLE DE ESTOQUE VERSUS GESTÃO DE ESTOQUES Segundo Ching (2007), a visão tradicional é de que os produtos devem ser mantidos em estoque por diversas razões. Seja para acomodar variação nas demandas, seja para produzir lotes econômicos em volumes substancialmente superiores aos 15 necessários, seja para não perder vendas. No entanto, essa visão acarreta para as empresas: • custos mais altos de manutenção de estoques; • falta de tempo na resposta ao mercado; • risco de o inventário tornar-se obsoleto. 20 Os estoques absorvem capital que poderia ser investido de outras maneiras, desviam fundos de outros usos potenciais e têm o mesmo custo de capital que qualquer outro projeto de investimento da empresa, portanto o controle do estoque pode exercer grande influência na rentabilidade da empresa. De acordo com Slacks, Chambers, Harland et al. (1997), o 25 controle de estoque evoluiu para gestão de estoque. Esse conceito originou-se na função de compras em empresas que 4 O controle do estoque pode exercer grande influência na rentabilidade da empresa. PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO compreenderam a importância de integrar o fluxo de materiais às suas funções de suporte, tanto por meio do negócio, como por meio do fornecimento aos clientes imediatos. Além da gestão de estoque, inclui-se também a função de compras, planejamento 5 e controle de produção e gestão de distribuição física. A figura 1 ilustra a abrangência do conceito de gestão de estoque em seus diversos estágios. Gestão de estoque Saída de caixa $ Compras Fornecedores Processamento de materiais Estoque de matéria-prima Entrada de caixa Submontagem Estoque em processo Montagem Estoque em processo Fluxos $ Estoque Distribuição Clientes de produtos física finais Materiais e serviços Figura 1 – Abrangência do conceito de gestão de estoque em seus diversos estágios. Fonte: Ching, 2007. Dentro do conceito de gestão de estoques, é interessante notar que Viana (2000) consegue ilustrar a amplitude com suas 10 principais atividades, conforme figura 2. Comportamento da demanda Classificação ABC Custo Parâmetros de ressuprimento Inventário físico Gestão de estoques Saneamento Contabilização Reposição Indicadores gerenciais Métodos de controle Figura 2 – Principais atividades de gestão de estoques. Adaptada de Viana, 2000. 5 Unidade I 1.1 Estratégias de estoque Dada a amplitude que a gestão de estoque alcançou, é necessário estabelecer estratégias de estoque. Do ponto de vista da logística, com relação a estratégias de estoque, Bowersox (2001) mostra que decisões que envolvem estoques são de alto 5 risco e de alto impacto. 10 15 20 O comprometimento com determinado nível de estoque e a subsequente expedição de produtos para mercados, em antecipação a vendas futuras, acarretam várias atividades logísticas. Sem um estoque adequado, a atividade de marketing poderá detectar perdas de vendas e declínio da satisfação dos clientes. Por outro lado, o planejamento de estoque também tem papel crítico para a produção. Falta de matérias-primas podem parar linhas de produção ou alterar programações da produção, o que, por sua vez, aumenta os custos e a possibilidade de falta de produto acabado. Além da falta, que pode prejudicar tanto o planejamento de marketing quanto as operações de produção, o estoque excessivo também gera problemas: aumenta custos e reduz a lucratividade, em razão de armazenagem mais longa, imobilização de capital de giro, deterioração, custos de seguro e obsolescência. 1.2 Categorias de estoques 25 30 6 Considerando-se uma indústria, o fluxo de material e a forma em que pode ser encontrado nas diferentes etapas do processo definem as categorias de estoque da seguinte maneira: • Matéria-prima – são itens comprados ou extraídos que sofrem transformação durante o processo produtivo. (Exemplos: óleo vegetal é matéria-prima para a produção PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO de margarina; tomate é matéria-prima para o extrato de tomate; leite é matéria-prima para queijos; madeira é matéria-prima para móveis; aço é matéria-prima para automóveis e assim por diante.) 5 10 15 20 • Produto em processo – são os produtos em seus diferentes estágios nos processos de fabricação. (Dica: um produto acabado esperando liberação de qualidade é considerado um produto em processo.) • Produtos semiacabados – são aqueles que ficam armazenados, aguardando operações adicionais que os adaptem para diferentes usos, por exemplo: um motor de relógio pode ser utilizado para diferentes modelos de mesmo motor. • Produtos customizáveis – são aqueles que podem sofrer um grau de personalização e sofisticação exigidos pelo cliente. • Produto acabado – são os produtos finalizados, incluindo os testes finais e a respectiva aprovação pelo controle de qualidade. Ficam disponíveis para serem transportados para o cliente como produto final de consumo ou peça de reparo em caso de itens de manutenção. • Estoque de distribuição – são produtos acabados transferidos ao centro de distribuição por necessidades logísticas. 25 • Estoque em consignação – são produtos acabados ou peças de reposição de manutenção que permanecem no cliente sob a sua guarda, mas continua sendo, por meio de acordos mútuos, de propriedade do fornecedor até que seja consumido. 30 • MRO (materiais para manutenção, reparos e operações) – são os itens de apoio operacional. Normalmente vinculado aos itens de reposição para manutenção de 7 Unidade I 5 veículos de frota ou equipamentos de manufatura. (Exemplos: ferramentas e materiais auxiliares usados na organização. Tudo que de certa forma é consumido ou usado nas operações de processo e que compõe o produto final está associado ao conceito MRO, incluindo sistemas de manufatura.) A figura 3 ilustra algumas categorias de estoque ao longo das etapas de um processo produtivo. Gestão de estoque Compras Processamento de materiais Estoque de matéria-prima Submontagem Estoque em processo Montagem Estoque em processo Estoque de produtos finais Figura 3 – Categoria de estoque ao longo das etapas de um processo produtivo. 1.3 Classificação de material por categoria Além das categorias definidas anteriormente em função do fluxo de material, Viana (2000) diz que para atender às 10 necessidades de cada empresa, é necessária uma divisão que norteie as várias formas de classificação. A classificação deve ser analisada no todo, visando propiciar decisões e resultados que contribuam para atenuar o risco de falta de 15 materiais. Dessa forma, pode-se conceituar a classificação por categorias como um processo de aglutinação de materiais por características semelhantes. Vários fatores contribuem para o sucesso na gestão de 20 estoques, mas fundamentalmente uma boa classificação de materiais contribui mais fortemente para isso. Assim, o sistema classificatório, dependendo da situação, pode auxiliar a identificar e a decidir prioridades. 8 Classificação por categorias é um processo de aglutinação de materiais por características semelhantes. PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO Das infinitas formas de classificação, podem-se ter como ponto de partida, que poderá ser adaptado às necessidades de cada empresa, os seguintes atributos de uma boa classificação quanto à: 5 • abrangência – deve tratar de uma gama de características em vez de reunir apenas materiais para serem classificados; • flexibilidade – deve permitir interfaces entre os diversos tipos de classificação, de modo que se obtenha ampla visão do gerenciamento de estoques; 10 • praticidade – a classificação deve ser direta e simples. Viana (2000) ainda classifica os itens de estoque também por tipos. São eles: • Conforme demanda 20 – Materiais de estoque – são materiais que devem existir em estoque e para os quais são determinados critérios e parâmetros de ressuprimento automático, com base na demanda prevista e na importância para a empresa. Os critérios de ressuprimento fixados para esses materiais possibilitam a renovação do estoque sem a participação do usuário. 25 – Materiais que não são de estoque – são materiais sem previsibilidade de demanda e que não têm parâmetros de ressuprimento automático definidos, dessa forma, sua aquisição é feita diretamente pelo usuário na medida de sua necessidade. 15 30 • Materiais críticos – são materiais de reposição específica pertinentes a empresas industriais para um equipamento ou grupo de equipamentos iguais, cuja demanda não é previsível e a decisão de estocar é baseada no risco que a operação pode sofrer se o material não estiver disponível quando for necessário. 9 Unidade I • Materiais perecíveis – são materiais com data limite para sua utilização, após essa data, sofrem alterações de suas propriedades físico-químicas. 5 • Materiais perigosos – são materiais que por sua natureza físico-química oferecem risco à segurança. Além dos modos de classificação vistos até aqui, tipicamente para a indústria, o interessante é que os itens podem ser classificados considerando a ferramenta de gestão chamada ECR (Efficient Consumer Response). 1.4 ECR (Efficient Consumer Response) Segundo Martins e Domingues (2009), as mudanças econômicas dos últimos anos trouxeram alterações significativas na forma de pensar da cadeia de abastecimento que, segundo Terra (2001), passou do push para o pull, ou seja, “passou a ser acionada pela ponta da demanda, e não 15 mais pela oferta”. 10 Ponta da demanda Fluxo de demanda Fornecedor Ponta da oferta Distribuidor Varejista Consumidor Fluxo de produtos Figura 4 – Representação da cadeia de distribuição Pull Isso fez com que os empresários buscassem novas ferramentas de gestão, entre as quais se destaca o ECR (Efficiente Consumer Response). O ECR surgiu nos Estados Unidos no início da década de 1990 20 por iniciativa das empresas WalMart e Procter&Gamble. No Brasil, a ACNielsen e a Associação Brasileira dos Supermercados 10 PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO vêm desenvolvendo e disseminando o conhecimento e a aplicação desses novos instrumentos de gestão junto aos seus afiliados. Segundo Terra (2001), o comitê ECR-Brasil define ECR como: 5 10 Um conjunto de estratégias de produção, comercialização e distribuição de produtos que, com a participação estreita de toda a cadeia de suprimentos, envolvendo, portanto, a indústria, o atacado e o varejo, tem como objetivo racionalizar custos e processos, por meio de uma série de instrumentos técnicos, tendo como objetivo principal transferir valor ao consumidor final. Batalha e Milaneze (2003), em seu artigo científico, afirmam que no Brasil as iniciativas de aplicação do ECR estão 15 concentradas em indústrias, atacadistas e varejistas, ligadas ao setor de autosserviço, mas sua aplicabilidade é muito mais abrangente, podendo ser utilizado em inúmeros outros setores. A estratégia de reposição eficiente não é diferente em uma indústria manufatureira. Ela é a ligação de toda a cadeia de 20 distribuição ECR em um único fluxo por meio dos seguintes elementos: recebimento eletrônico na loja, sistema de inventário perpétuo, leitura por código de barras no ponto de venda e pedido emitido por computador. Dessa forma, todos os elementos de uma cadeia logística 25 podem se beneficiar com o uso de tal ferramenta. O ECR se apoia em quatro estratégias principais (ECR Brasil, 2007): 30 • reposição eficiente: busca a automação do controle de estoque, otimização do tempo e do custo do sistema de reposição e dinamização do fluxo da logística; 11 Unidade I • sortimento eficiente de loja: pretende a otimização do mix de produtos, aumento da produtividade dos estoques e do espaço da loja na interface com o consumidor, incremento das vendas; 5 10 • promoção eficiente: visa à maximização da eficiência de todo o sistema de promoção para o cliente e o consumidor, melhorando as condições de compra e abastecimento; • introdução eficiente de produtos: objetiva a redução do insucesso no lançamento de novos produtos, visando agregar valor aos produtos. 1.5 Estrutura e níveis do canal Entre o fabricante e o consumidor existem estruturas com diferentes níveis intermediários, conforme ilustrado na figura 5, e as quatro estratégias vistas anteriormente podem beneficiar todos os membros do canal. Nível dois Nível três Nível quatro Nível cinco Fabricante Fabricante Fabricante Fabricante Agente Atacadista Atacadista Varejista Consumidor Consumidor Varejista Varejista Consumidor Consumidor Figura 5 – Esquema típico de estrutura de canal para bens de consumo. Fonte: Parente, 2000. 1.6 Mix de produtos vesus gestão de estoques 15 12 Considerando que a cadeia de abastecimento passou a ser acionada pela ponta da demanda, em que a principal motivação PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO dos consumidores é obter produtos que satisfaçam suas necessidades, as decisões sobre o mix de produtos consiste em uma das decisões mais fundamentais que contribuem com essa motivação. Essas decisões acabam se traduzindo na gestão dos 5 estoques por categorias dos produtos como consequência do mix de produtos. Mix de produtos é a linha de produtos com que a empresa trabalha e suas divisões. Exemplo de divisões e linhas: 10 Moda feminina jovem: blusas de alça e calça Oxford. Moda feminina senhoras: blusas de linha e saias. Moda masculina: camisas esportivas, camisetas e bermudas. Segundo Parente (2000), de todas as variáveis do mix de produtos, sua composição é a mais importante variável, quando 15 se classifica e define os diferentes tipos de varejistas, tais como supermercado, loja de departamento, hipermercado, farmácia, joalheria, livraria. No caso do ramo ou setor varejista, o mix de produtos é determinado pela composição de produtos que a loja oferece e 20 atende o consumidor final por meio de atividades que englobam o processo de venda de produtos e serviços. Subdividir a linha de produtos é um importante processo de refinamento que ajuda a simplificar os procedimentos de gestão justamente pelo elevado número de itens 25 comercializados por diferentes tipos e ramos. Existem lojas, como hipermercados, que comercializam de 30 a 50 mil itens (ou SKU – Stock Keeping Unit), já em um supermercado de porte médio, encontra-se cerca de 5 a 10 mil itens, enquanto esse número cai para mil itens em uma loja de 30 conveniência. 13 Unidade I Independentemente da extensão da variedade, os itens precisam ser classificados em diferentes níveis hierárquicos de agrupamento. Cada empresa varejista utiliza diferentes nomes para 5 denominar os diferentes níveis de classificação, tais como departamentos, seções, famílias, grupos, linhas, categorias. Apesar de não existir um consenso sobre o número de níveis de classificação de produtos, com a disseminação dos conceitos de gerenciamento de categorias, ou gerenciamento 10 por categorias, começa a surgir uma padronização sobre como denominar as subdivisões da categoria. Com algumas variações, a figura 6 retrata o tipo de hierarquia de classificação de produtos que costuma ser adotado em empresas varejistas. Varejista Departamento Seções Família Seções Família Grupos Linhas Grupos Linhas Categoria Categoria Figura 6 – Diagrama da estrutura do mix de produtos de um varejista 14 PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO Uma ferramenta que auxilia na criação da estrutura de mercadorias por categorias é a utilização do que se chama de árvore de decisão. A árvore de decisão nada mais é do que uma representação 5 dos critérios de escolha do cliente. Por meio dela, é possível criar a estrutura de mercadorias e definir como será utilizada para a categoria. DESODORANTE DEO CORPO DEO PÉS Spray Roll-on Stick Ge Creme Aerosol Marca Marca Marca Marca Marca Masc. Fem. Masc. Fem. Masc. Fem. Masc. Fem. Masc. Fem. Talco Aerosol Figura 7 – Árvore de decisão do desodorante. Fonte: Manual ECR (2007, p. 28). 1.7 Gerenciamento por categorias Gerenciar por categorias, conforme definido por Parente (2000), consiste no processo de administrar categorias como 10 unidades estratégicas de negócio, visando não só obter melhor satisfação do consumidor, mas também melhores indicadores de desempenho e lucratividade. Do manual ECR (2007) pode-se extrair que o gerenciamento por categorias é uma ferramenta de gestão cujos benefícios são 15 reconhecidos por varejistas, fabricantes e consumidores em todo mundo. Na última década, ele foi responsável por significativas mudanças nos pontos de venda de lojas dos mais variados formatos. Gerenciamento por categorias é uma ferramenta de gestão. 15 Unidade I A gestão de estoques por categoria de produtos dá suporte às estratégias do ECR Essencialmente, o gerenciamento por categoria busca oferecer soluções para as necessidades do consumidor 5 agrupando os produtos por afinidade de uso ou categoria. Por exemplo: os produtos de uso na lavanderia podem ser agrupados em uma categoria denominada “cuidados com as roupas”. Assim, em um mesmo espaço de venda, estarão todos os produtos para lavar (sabão em barra, sabão em pó, amaciante, baldes, escovas 10 etc.); dessa forma, os processos de gestão de estoque podem se beneficiar com o gerenciamento de categoria. É evidente que a definição de categoria, ou seja, a definição de um grupo de produtos que os consumidores percebem como inter-relacionados e/ou substituíveis entre si na satisfação de 15 suas necessidades, resulta no grupo de produtos que deverão compor esse espaço de venda. É importante salientar que essa definição baseia-se no gosto e na necessidade do cliente. O sortimento da loja, portanto, depende de seu tamanho e formato, das soluções (categorias) que pretende oferecer e do 20 papel da categoria na loja. Em um supermercado, por exemplo, pode-se identificar cerca de cem ou mais categorias. A tabela 1 ilustra alguns departamentos e suas categorias. Departamento Padaria Carnes Vestuário Categorias Salgados Doces Bebidas Bovinos Peixes Frangos Roupas Calçados Acessórios Tabela 1 – Quadro de departamentos e categorias. Adaptado de Parente, 2000. 16 Os processos da gestão de estoque podem se beneficiar com o gerenciamento por categoria. PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO Partindo-se das categorias, podem ser criadas várias outras subdivisões, conforme descritas a seguir. Subcategorias As categorias estão divididas em subcategorias. As 5 subcategorias são agrupamentos formados por produtos com alto grau de substitubilidade que concorrem entre si. Dentro, por exemplo, do departamento de bebidas, na categoria refrigerantes, podem-se identificar várias subcategorias, com base no sabor do produto, tais como: guaraná, cola, laranja, limão, uva etc. É no 10 nível da subcategoria que as marcas dos diferentes fabricantes travam suas maiores batalhas para a conquista da preferência do consumidor (exemplos: hambúrguer congelado sadia x perdigão; liquidificador Arno x Walita; sabão em pó Omo x Ariel; telefone celular Motorola x Nokia). 15 Segmentos As subcategorias podem ser divididas em agrupamentos menores, denominados segmentos, por refletir produtos que atendem preferências específicas de diferentes segmentos ou preferências de consumidores. Assim, por exemplo, dentro da 20 subcategoria guaraná, podem-se identificar três segmentos, com base no tipo de embalagem do produto, tais como: guaraná em garrafa PET de 2 litros, guaraná em garrafa PET de 600 ml e guaraná em lata. Subsegmentos Em alguns casos, pode-se ainda procurar subdividir os segmentos em subsegmentos, em que são agrupados produtos com semelhanças ainda mais específicas, com base em alguma dimensão ou atributo que possa estabelecer uma diferenciação entre os produtos do mesmo segmento, 30 guaraná PET de 2 litros poderia ainda ser subdividido nos subsegmentos normal e diet. 25 17 Unidade I A figura 8 apresenta outra forma de ilustrar a relação entre os diferentes níveis hierárquicos da classificação de produtos. Um item faz parte de certo subsegmento, o qual faz parte de um segmento que compõe uma subcategoria, que faz parte de uma 5 categoria incluída em um departamento, que faz parte do mix de produtos de determinada loja. Subsegmento: item específico Guaraná lata diet Antártica Segmento: Guaraná lata diet Subcategoria: Guaraná Categoria: Refrigerante Departamento: Bebidas Zoom em diferentes níveis de análise Figura 8 – Estrutura zoom do mix de produtos. Adaptado de Parente, 2000, p. 187. Diferentes hierarquias para diferentes tipos de varejo A definição sobre como dividir hierarquicamente a linha de produtos em departamentos varia de acordo com o grau 10 de especialização e com a linha de produtos de cada tipo de varejista. Dessa forma, para um hipermercado, produtos para animais poderão ser considerados um departamento, formado por categorias, como produtos para cães, subdivididas em 15 subcategorias, como acessórios para cães. Uma pet shop, por exemplo, pode possuir três departamentos: 1. Veterinário; 2. Tosa e banho; 3. Produtos para animais. Dentro do departamento Produto para animais temos como categoria 18 PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO Produto para cães, como subcategoria Acessórios para cães e como segmento Roupas. Nos quadros 9, 10 e 11 são apresentados alguns exemplos de diferentes níveis de hierarquia de classificação de produtos, 5 extraídos do varejo de alimentos (ex.: supermercados) e do varejo de não alimentos (ex.: loja de confecções). Estrutura e nível hirárquico Exemplos Supermercados • Frios e laticínios Departamento • Mercearia Categoria Subcategoria Segmento Varejo de confecções • Confecção infantil • Confecção masculina • Limpeza • Confecção feminina • Iogurtes • Camisola meninas • Sorvetes • Calça meninos • Margarinas • Vestido meninas • Iogurte líquido • Camisola manga longa • Iogurte polpa • Camisola manga curta • Iogurte com pedaços de fruta • Pijama manga longa • Iogurte líq. grande (1 litro) • Camisola M. longa seda • Iogurte líq. pequeno • Camisola M. longa poliéster • Iogurte líq. grande diet • Camisola M. longa malha Figura 9 – Exemplos dos níveis de hierarquia de classificação de produtos. Fonte: Parente, 2000, p. 188. Supermercados Mercearia Frios e laticínios Limpeza Sorvetes Iogurtes Margarinas Iogurte polpa Iogurte líquido Iogurte com pedaços de frutas Iogurte líquido grande (litro) Iogurte líquido pequeno Iogurte líquido grande diet Figura 10 – Níveis de hierarquia de classificação de frios e laticínios. Fonte: Parente, 2000, p. 188. 19 Unidade I Varejo de confecções Confecção masculina Confecção infantil Confecção feminina Calça menino Camisola menina Vestido menina Camisola manga curta Camisola manga longa Pijamas manga longa Camisola manga longa poliéster Camisola manga longa seda Camisola manga longa malha Figura 11 – Níveis de hierarquia de classificação no varejo de confecções. Fonte: Parente, 2000, p. 188. Para a correta administração da linha de produtos, é necessário estabelecer uma estrutura de classificação de produtos e definir a posição de cada produto nessa estrutura. Como o mercado está em constante transformação, a 5 classificação dos produtos deve ser um processo dinâmico com revisões regulares, por exemplo, anualmente. Não só os fornecedores de produtos estão lançando novos produtos, como também os próprios varejistas vêm procurando ajustarse às mudanças nos hábitos dos consumidores e repensando 10 a composição do seu mix de produtos e a estrutura das categorias. 1.8 Nível de estoque x categorias de produtos Uma vez definido o mix de produtos, as empresas desenvolvem atividades direcionadas para garantir o abastecimento adequado dos produtos para seus clientes. 15 Nesse processo, os gestores de compras procuram equilibrar dois objetivos conflitantes, que por um lado consiste em minimizar o investimento em estoque e, por outro, minimizar o índice de faltas. 20 PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO Objetivos do estoque 5 10 15 20 25 30 35 • Objetivo de custo: estabelecer os níveis de estoque e sua localização é apenas uma parte do problema do controle de estoque. Considerando esse objetivo mais amplo, uma questão crítica é balancear os custos de manter e de pedir estoque, porque esses custos têm comportamentos conflitantes. Quanto maiores as quantidades estocadas, maiores serão os custos de manutenção. Quanto maior for a quantidade do pedido, maior será o estoque médio e mais alto será o custo para mantê-lo. No entanto, se maiores quantidades forem solicitadas, menos pedidos serão feitos e, por consequência, menores custos de pedir serão incorridos. A função do custo total mostra o formato em U, o que significa que existe um valor mínimo para essa curva, que é o ponto mais baixo. O objetivo é encontrar um plano de suprimento que minimize o custo total. • Objetivos de nível de serviço: às vezes, a dificuldade em estimar os custos de faltas leva ao estabelecimento de um objetivo ligeiramente diferente para o controle de estoque. Ao fixar a disponibilidade conforme a política de que, por exemplo, “98% dos pedidos de um item qualquer devem ser atendidos em 48 horas”, devem-se ajustar os custos de manter e de se pedir, de modo que sua soma seja minimizada. Repare que, ao se fixar a disponibildade-alvo, os custos de falta de estoque são considerados indiretamente. Deve-se ter grande cautela para fixar o nível de serviço de estoque desta forma. Aumentar a disponibilidade em apenas alguns pontos percentuais, por causa de pressões da área de vendas, tem um efeito dramático no capital investido em estoque. Uma vez que o nível de estoque cresce explosivamente com disponibilidades elevadas, o nível de serviço utilizado, na maioria das vezes, é menor que 100%. Deve-se obter o maior equilíbrio possível entre a produção e o custo total de estoque, de um lado, e o nível de serviço prestado aos clientes, de outro lado. 21 Unidade I É claro que o gestor do estoque deve colaborar com o equilíbrio desses dois objetivos, e é a partir desse ponto que surge a pergunta: qual o nível adequado de estoques? Na visão de Parente (2000), o nível ótimo de estoque é o 5 que: • garante um estoque suficiente para cobrir as vendas esperadas; 10 • não apresenta excessos de capital, ou seja, produtos com estoques muito acima dos níveis de estoque de segurança; • apresenta níveis baixos e aceitáveis rupturas, ou seja, produtos sem estoques; 15 • permite que a apresentação dos produtos e dos departamentos da loja comunique uma imagem de loja bem-abastecida; • proporciona bons índices de giro de estoque e de retorno sobre o investimento. Existem vários métodos que podem ser utilizados para determinar os níveis adequados de estoque. Três desses métodos 20 serão comentados a seguir: • método da relação estoque/vendas; • método da variação percentual; • método do estoque básico. Método da relação estoque/vendas ou método do giro 25 do estoque Esse é um método simples, pois define o estoque por meio da aplicação do índice estoque/vendas sobre as vendas previstas do período. Esse índice indica o volume 22 PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO de estoque que deverá ter no início do mês para sustentar um volume de vendas previstas do período. Supondo-se que um índice estoque/vendas seja estabelecido para 1,5 e a previsão mensal de vendas para determinado item seja de 5 R$ 200 mil, o nível de estoque para o item deverá ser de R$ 300 mil (R$ 200,00 x 1,5). Método da variação percentual É particularmente adequado para situações de forte sazonalidade nas vendas, ou seja, quando o volume de vendas 10 varia muito de mês para mês. O método ajusta o estoque às variações de vendas, procurando, porém, amortecer o impacto dessas variações. Método do estoque básico É aplicado quando a gerência acredita que um dado nível 15 de estoque (estoque básico) deve estar sempre disponível e quando o giro for menor do que seis vezes ao ano. Esse método é semelhante ao anterior, porém provoca maiores oscilações nos níveis de estoque porque responde mais diretamente às variações de vendas. 20 Os três métodos podem ser utilizados considerando as categorias de produtos. 1.9 O objetivo básico da armazenagem A responsabilidade do armazém ou centro de distribuição (CD) deve ser: recebimento, cuidados, entrega pontual do produto certo, no lugar certo, no momento certo e ao menor 25 custo. Segundo Moura (1997), a estocagem deve ser a mais eficiente possível, usando o espaço nas três dimensões. O uso efetivo do espaço para a armazenagem é chamado de “administração do espaço”, sendo um recurso básico, cuja manutenção representa um investimento considerável. 23 Unidade I Outros objetivos da armazenagem são o de fornecer a identificação positiva do item e poupar tempo, mão de obra e equipamento. As instalações de armazenagem devem propiciar a movimentação rápida e fácil dos suprimentos desde o 5 recebimento até a expedição. O planejamento apropriado ajuda a efetuar a movimentação e a armazenagem eficientes, e no final resulta em despesas operacionais menores. É importante considerar que vários fatores podem afetar a armazenagem, tais como: 10 • o material a ser estocado; • o tempo de espera para armazenamento e retirada do material; • o fluxo como combinação de rotas; • a unitização como combinação de volumes; 15 • o espaço como condição de estocagem; • o pessoal como executantes de tarefas no processo de movimentação e armazenagem; • a evolução como um conjunto de variáveis que resultam em um projeto flexível, adaptável a mudanças. 1.10 Classificação dos armazéns 20 Devido à diversidade, da mesma forma que classificamos os itens a serem estocados, os armazéns também podem ser classificados, segundo Moura (1997), em: • Armazéns de produção: – matérias-primas; 25 – peças adquiridas de terceiros; – peças semiacabadas; 24 PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO – materiais em processo; – produtos acabados; – peças sobressalentes, manutenção; – suprimentos diversos; 5 – sucatas, cavacos, retalhos; – ferramentas; – material de embalagem. • Armazéns de distribuição: – atacadistas; 10 – varejistas. Além da classificação dos armazéns vista anteriormente, os sistemas de armazenagem de um produto e a localização do armazém podem também ser classificados, em função do estágio de fabricação do mesmo produto. Podemos classificar 15 em três tipos: • armazéns de matérias-primas; • armazéns de produtos semielaborados (em processo); • armazéns de produtos acabados. Embora não existam diferenças fundamentais entre esses três tipos, pode-se comprovar que, do ponto de vista dos métodos 20 de armazenagem, existem algumas diferenças de caráter geral. No que diz respeito às matérias-primas e aos produtos semielaborados, observa-se que a maior parte dos mesmos pode ser estocada no interior dos edifícios que contêm as 25 instalações de produção. Os produtos podem ser estocados, de acordo com a fase de desenvolvimento da elaboração desses materiais, em uma área descentralizada e próxima aos pontos de consumo. 25 Unidade I 5 • Armazenamento de ponto de uso: algumas vezes, em especial na produção repetitiva e no ambiente JIT (just in time), o estoque é armazenado próximo de onde será utilizado. Esse método é excelente, contanto que o estoque seja mantido em um nível baixo e os funcionários da operação possam controlar os registros de estoque. Há várias vantagens nessa técnica: – os materiais ficam prontamente acessíveis para os usuários; 10 – o manuseio do material é reduzido ou eliminado; – os custos de armazenamento central são reduzidos; – o material fica acessível o tempo todo. 15 • Armazenamento central: em oposição ao estoque de ponto de uso, o armazenamento central contém todo o estoque em um lugar central. Há várias vantagens nesse sistema: – facilidade de controle; – maior facilidade para manter a precisão de registro de estoque; 20 – possibilidade especializado; de utilizar armazenamento – redução no estoque de segurança, já que os usuários não têm, nesse caso, necessidade de manter seu próprio estoque de segurança. 25 A solução que prevê a descentralização do armazém, com a finalidade de dispor das mercadorias junto aos pontos de consumo, apresenta as seguintes vantagens: • permitir o fácil controle visual da condição dos estoques; 30 26 • minimizar o tempo necessário para o envio das mercadorias ao ponto de consumo; PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO • reduzir os custos dos serviços administrativos; • utilizar eventualmente as áreas ociosas do espaço destinado à produção. 1.11 Processos de estocagem Quanto aos processos de estocagem, podemos ter a 5 estocagem manual e mecanizada. Estocagem manual: é dividida em duas partes: • Exclusivamente manual. Figura 12 – Estocagem manual. Fonte: Moura, 1987. • Manual auxiliada por equipamentos guiados por operários. Figura 13 – Estocagem manual auxiliada por equipamento. Fonte: Moura, 1987. 27 Unidade I Esse tipo de estocagem é mais eficaz quando: • as operações de movimentação não são frequentes; • o espaço e o movimento são limitados; 5 • as cargas são dispostas de modo a aproveitar todo espaço disponível; • há cargas heterogêneas; • há cargas frágeis e de difícil manuseio; • é preciso agrupar mercadorias não normalizadas. Estocagem mecanizada 10 A estocagem mecanizada vai desde a operação com uma empilhadeira até complexos sistemas de movimentação, integrados com transelevadores, chegando a ser difícil o estabelecimento de limites entre a mecanização e a automatização. O objetivo é que as mercadorias sejam estocadas, separadas e despachadas com a máxima eficácia e o mínimo custo. Para atingir isso, o equipamento de movimentação deve ser tratado como um conceito integrado. O produto e a embalagem influem na modalidade de transporte, na movimentação e nos sistemas 20 de armazenagem a serem empregados. 15 Figura 14 – Sistema integrado de estocagem mecanizada. Fonte: Moura, 1987. 28 PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO Na estocagem manual, o fator limitante está ligado ao homem. Já na mecanizada, os fatores determinantes são: • o uso da máxima capacidade de edifício; 5 • a colocação correta das mercadorias no mínimo de tempo possível. Sabe-se que a maior parte do trabalho executado em um armazém consiste na movimentação de materiais. É nessa área que as soluções para os problemas devem ser buscadas. O modo pelo qual os materiais são localizados, estocados e movimentados 10 tem influência decisiva sobre como é efetivamente utilizado o espaço. A estocagem pode ser centralizada ou descentralizada. 15 20 • estocagem centralizada: todas as peças na fábrica são estocadas em uma “área de material” central ou similar, até que sejam usadas. Elas são, depois, destinadas às seções apropriadas. Esse método requer movimentação para dentro da área de estoque, com posterior retirada do material. Frequentemente, as áreas de estocagem ficam distantes das seções, e isso resulta em excesso de movimentação e tempo; • estocagem descentralizada: são utilizados vários almoxarifados pequenos. As condições são praticamente iguais às do item anterior, porém as distâncias são menores. 1.12 Locação no estoque 25 Como vimos anteriormente, a função da atividade de estocagem é guardar, proteger e preservar o material, até que o mesmo seja requerido para uso. Uma maneira de se ter uma operação eficiente são o planejamento e o layout apropriado das dimensões da área de estocagem. 29 Unidade I É interessante que se faça o planejamento e o projeto do layout considerando as categorias de produtos, pois dessa forma é possível obter uma estocagem eficiente, o que envolve uma consideração cuidadosa dos objetivos de armazenagem, 5 previamente delineados. Alguns fatores importantes que devem ser considerados na estocagem: Estocagem em função das características do material: não existem regras taxativas que regulem o modo como os 10 materiais devem ser colocados no armazém. A decisão depende de vários fatores, devendo, a rigor, ser pronunciada somente depois de ponderados todos os prós e contras. A esse respeito, cabe salientar alguns pontos: 15 20 25 30 30 • Estocagem por agrupamento: esse critério facilita as tarefas de arrumação e procura, mas nem sempre permite o melhor aproveitamento do espaço. Os números dos artigos a serem estocados – atribuídos de forma correspondente à lista de materiais ou a outro tipo de agrupamento semelhante – são identificados com a divisão das estantes: é o caso dos moldes, lotes de aprovisionamento, peças sobressalentes. Essa solução é praticável em armazéns relativamente pequenos, facilmente vigiados e pouco movimentados. • Estocagem por tamanho, peso e espécie de materiais: nessa modalidade, pressupõe-se que o pedido de saída já contém a indicação relativa ao setor do armazém onde o material se encontra. Esse tipo de estocagem permite um bom aproveitamento do espaço. • Estocagem por frequência: consiste em colocar, o mais próximo possível da saída, o material cuja frequência de movimento é alta. PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO o Baix am ovi me Méd nta ia m çã o ovi me nta Alta mo çã vim ent açã o Escritório Figura 15 – Estocagem por frequência dos materiais. Fonte: Moura, 1987. 5 10 • Estocagem com separação entre lote de reserva e lote diário: uma parte do estoque fica em uma área de reserva propriamente dita e constitui-se em outro estoque de pequenos lotes, destinado a cobrir as necessidades do serviço de cada dia. Esse estoque diário, ou de maior movimento, contém toda a gama de materiais de maior movimentação. • Estocagem no local de uso: aqui, os materiais a serem usados em uma seção específica são estocados na mesma. Em sua aplicação ideal, os materiais são diretamente levados e colocados na seção, na posição em que serão usados. Na prática, esse plano ideal é frequentemente interrompido pela necessidade de inspeção no recebimento e pelas atividades de armazenagem em grandes lotes. Estocagem em função das características do espaço: 15 somadas aos fatores de material, têm o objetivo de determinar onde o material deve ser estocado, levando em conta as características disponíveis do espaço. São elas: • tamanho do espaço; 20 • natureza do espaço – conveniência para a estocagem de um item específico; 31 Unidade I • localização – em relação a outras atividades associadas; • disponibilidade – no momento em que o item seja necessário; • características de construção: 5 – capacidade de carga do piso; – altura livre de empilhamento; – portas, número, localização e tamanho; – facilidade de carga e descarga; – espaço das colunas, tamanho e número; 10 – elevadores, rampas etc. • área exigida para funções e serviços auxiliares: – manutenção, reparo, estacionamento dos equipamentos de movimentação e reabastecimento (de veículos a motor de combustão interna); 15 – instalações dos empregados – vestiários, banheiros, serviços de alimentação etc.; – escritórios; 20 – instalação de proteção – paredes à prova de fogo, extintores de incêndio, saídas de água, interruptores de luz etc.; – necessidade de espaço para corredores, ruas etc. 1.13 Case: gerenciamento de estoque na Amazon.com A Amazon teve um período de férias difícil em 1999, devido, principalmente, à má administração de estoques e à operação de armazenagem caótica, que resultaram em uma grande 32 PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO quantidade de bens não vendidos. A maior parte dos clientes da Amazon estava satisfeita, mas a empresa comprou estoque em excesso, inclusive um suprimento de 50 semanas de telefones do Sapo Caco (do Mupet Show). Desde então, a Amazon mudou 5 seus métodos. Por exemplo, anteriormente, ela armazenava produtos como DVDs e aparelhos de DVD em estados diferentes, o que complicava reunir pedidos para um único cliente. Agora os produtos são agrupados em suas instalações de envio. Além disso, a Amazon agora prevê demandas por áreas do país. 10 Computadores portáteis são previstos por CEP, e os estoques adequados são enviados ao armazém que atende a essa área. Essa abordagem reduz o tempo necessário para entregar um produto ao cliente. Jeffrey Wike, vice-presidente e gerente geral de operações da 15 Amazon, identificou quatro modos em que a Amazon aperfeiçoou o serviço ao cliente administrando melhor os estoques: 20 25 30 • Aumentou sua capacidade de armazenagem rapidamente. Três milhões de pés quadrados de capacidade de armazenagem foram acrescentados em menos de um ano, o que permitiu que a Amazon desenvolvesse a quantidade apropriada de estoque cíclico, estoque de segurança e estoques de antecipação para atendimento a clientes. • Introduziu o estado da arte em automação e mecanização. Os depósitos da Amazon agora são eficientes e flexíveis. O suficiente para deslocar produtos em contêineres, pallets ou lotes unitários, reduzindo, assim, os custos de manuseio. • Vinculou as informações de pedido a um arquivo do cliente usando a tecnologia da informação. Quando um cliente coloca um pedido em uma cesta de bens específica, o sistema captura os dados e os acrescenta a um banco de dados de compras anteriores desse cliente. Esse processo permite que a Amazon preveja compras futuras e customize a experiência de compra do cliente. 33 Unidade I 5 10 15 20 25 • Reproduziu o sistema em todos os seus centros de distribuição em que isso foi possível. A vinculação de capacidade, a automatização e a tecnologia da informação permitirão que a Amazon expanda sua variedade de produtos via novas sociedades e alianças. Por meio de replicação do sistema, a Amazon pode expandir de modo modular à medida que novos armazéns são acrescentados. A Amazon também mudou sua estratégia de gerenciamento de estoques: ela agora usa uma combinação de operações de armazenagem interna terceirizadas. Por exemplo, a Amazon terceirizou a distribuição de telefones celulares e livros, excluindo os das listas de best-seller, telefones celulares requerem atendimento amplo e especializado ao consumidor, e computadores ocupam quantidades enormes nos armazéns. Outros produtos volumosos e difíceis de manejar, como aspiradores de pó, processadores de alimentos e serras de mesa, também são candidatos em potencial à terceirização. Essa mudança permite que a Amazon atente-se ao que faz melhor. Entretanto, pode se mostrar arriscada, uma vez que coloca a reputação conquistada com esforço pela Amazon nas mãos de outros. Contudo, ao reduzir os custos e aumentar suas margens de lucro por meio de melhor gerenciamento de estoque, a Amazon espera repassar um pouco de sua economia a seus clientes, aumentar seu número de compradores e minimizar quaisquer desvantagens que o novo sistema de estoque possa apresentar (Ritzman et al., 2009, p. 389). Na próxima unidade, veremos o planejamento e o controle de capital considerando-se a categoria de produtos. 34