Planejamento e Operação por Categoria de Produto

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Planejamento e
Operação por Categoria
de Produto
Professor conteudista: Clesio L. Landini Jr.
Sumário
Planejamento e Operação por Categoria de Produto
Unidade I
1 CONTROLE DE ESTOQUE VERSUS GESTÃO DE ESTOQUES ................................................................4
1.1 Estratégias de estoque ..........................................................................................................................6
1.2 Categorias de estoques .........................................................................................................................6
1.3 Classificação de material por categoria .........................................................................................8
1.4 ECR (Efficient Consumer Response) ............................................................................................. 10
1.5 Estrutura e níveis do canal ............................................................................................................... 12
1.6 Mix de produtos vesus gestão de estoques ............................................................................... 12
1.7 Gerenciamento por categorias ....................................................................................................... 15
1.8 Nível de estoque x categorias de produtos ............................................................................... 20
1.9 O objetivo básico da armazenagem.............................................................................................. 23
1.10 Classificação dos armazéns ........................................................................................................... 24
1.11 Processos de estocagem .................................................................................................................. 27
1.12 Locação no estoque .......................................................................................................................... 29
1.13 Case: gerenciamento de estoque na Amazon.com .............................................................. 32
Unidade II
2 PLANEJAMENTO E CONTROLE DE CAPITAL ........................................................................................... 35
2.1 Definindo os objetivos financeiros de mercadorias ............................................................... 35
2.2 O mix deve minimizar os estoques ............................................................................................... 36
2.3 Planejamento dos estoques ............................................................................................................. 37
2.4 Custo do estoque ................................................................................................................................. 38
2.5 Índices de atividade do estoque..................................................................................................... 41
2.6 Case – Distribuidora de medicamentos Santa Ifigênia ......................................................... 46
Unidade III
3 LAYOUT NO ARMAZÉM ................................................................................................................................. 49
3.1 Considerações sobre o layout do armazém ............................................................................... 49
3.2 Localização dos itens no estoque .................................................................................................. 53
3.3 Case – Gerenciamento de estoques do WalMart .................................................................... 55
4 OPERAÇÕES DE PICKING .............................................................................................................................. 57
4.1 Separação de pedidos ......................................................................................................................... 57
4.2 Métodos de separação de pedidos ................................................................................................ 61
4.3 O ciclo de atendimento nas operações de picking ................................................................. 68
Unidade IV
5 CADASTRO E CODIFICAÇÃO DE ITENS..................................................................................................... 72
5.1 Classificação e codificação de materiais..................................................................................... 72
5.2 Sistemas de codificação .................................................................................................................... 74
5.3 Cadastramento de materiais ........................................................................................................... 78
5.4 Case – Decisão acertada: BSH Continental Eletrodomésticos Ltda. ................................ 79
6 PREPARAÇÃO DA CARGA PARA DISTRIBUIÇÃO ................................................................................. 80
6.1 O sistema de distribuição de produtos ........................................................................................ 80
6.2 Case – Carrefour investe em distribuição centralizada ........................................................ 81
6.3 Seleção e montagem do pedido..................................................................................................... 83
6.4 Controle físico e segurança .............................................................................................................. 84
6.5 Intensidade da distribuição .............................................................................................................. 86
PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO
Unidade I
INTRODUÇÃO
A gestão por categorias é um processo cooperativo entre
o fabricante e os canais distribuidores com a finalidade de
gerenciar categorias de produtos como se estas fossem unidades
estratégicas de negócio.
Esta disciplina tem como objetivo apresentar o conceito
de gestão de estoques por categorias de produtos e mostrar
sua vantagens em termos de: capital investido, layout,
operações de picking, cadastro e codificação de itens e por
fim preparação da carga para distribuição na indústria e
10 comércio.
5
O gerenciamento por categoria cria um elo entre
fornecedores e distribuidores, tornam as empresas mais
eficientes e lucrativas, oferece meios para melhorar a tomada
de decisões e agregam valor ao consumidor.
Uma breve história
No início do desenvolvimento do comércio moderno, como
as moedas não eram aceitas universalmente por ainda não
terem credibilidade financeira, as mercadorias eram trocadas
diretamente em postos de troca em um processo de escambo.
Já na fase colonial americana, com o desenvolvimento do
20 Oeste e com a necessidade de inúmeras mercadorias para as
atividades colonizadoras dos pioneiros, surgiram os armazéns
gerais (general stores), que, segundo Novaes (2007), operavam
seguindo as práticas:
15
1
Unidade I
• de comercialização feita basicamente com dinheiro;
• de extensa oferta de mercadorias (produtos alimentícios
não perecíveis, ferramentas, roupas, sapatos etc.);
5
• em que o comerciante encomendava os itens que considerava
interessantes aos clientes, as mercadorias permaneciam
nas prateleiras até serem vendidas, em caso de encalhe, o
produto não podia ser devolvido aos fornecedores, e não
havia promoções especiais para liquidação de estoques;
• em que não havia variedade de marcas.
10
A localização de tais armazéns gerais ficava em pontos
estratégicos da rede de transportes (caminhos de caravanas e
estações ferroviárias). A partir desses armazéns gerais, surgiram
vilas e, posteriormente, cidades.
Com o tempo, a operação dos armazéns gerais começou
15 a não atender mais as populações rurais que se desenvolviam
economicamente, os consumidores queriam maior variedade,
e o preço não foi decisivo para fazer os clientes buscarem
outras fontes de comercialização. Na mesma época, o governo
americano, com a intenção de fixar a população em seus pontos
20 de origem, incentivou o uso de sistema postal para remessa
de encomendas. Isso abriu definitivamente um canal para
comercialização de produtos por catálogos e encomendas.
Em 1886, Richard Sears entrou no ramo de comercialização
por catálogos e estabeleceu em alguns pontos do território
25 americano estoques centrais, o que representava um grande
avanço em termos logísticos.
No início do século XX, as lojas de departamentos (department
stores) se tornaram populares nos Estados Unidos, o que também
representou um grande passo em termos logísticos, por causa
30 do aumento no número de produtos comercializados, que exigiu
reestruturação do serviço de entrega, melhor qualificação do
2
PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO
pessoal, construção de depósitos especializados, utilização de
veículos mais adequados com consequente melhora no nível de
serviço ao consumidor.
No Brasil, no final da década de 1950, com o objetivo
5 de reduzir o preço dos produtos de primeira necessidade
em uma época de grandes dificuldades econômicas, alguns
varejistas aproveitaram a disponibilidade de garagens e
armazéns e dispuseram os produtos em caixas abertas,
espalhadas pelo piso. Apenas uma pessoa, o proprietário,
10 geria o negócio. A inovação, com conceitos comerciais
e logísticos revolucionários, atraiu outros comerciantes,
favorecendo uma intensa competição. Com implantação da
indústria automobilística e o uso crescente da geladeira no
ambiente doméstico, surgiram condições para a criação dos
15 supermercados com o conceito de autosserviço.
Desde então as empresas buscam cada vez mais garantir uma
determinada disponibilidade de produto com o menor nível de
estoque possível.
Wanke (2003) diz que a redução de estoques para o menor
20 nível possível é motivada principalmente por:
• variedade crescente de produtos, tornando mais complexa
e trabalhosa a determinação dos tamanhos de lote, dos
pontos de pedido e dos estoques de segurança;
25
• elevado custo de oportunidade do capital, reflexo das
proibitivas taxas de juros brasileiras, que tem tornado a
posse e a manutenção dos estoques cada vez mais caros.
Por outro lado, algumas transformações têm influenciado
a gestão de estoques por meio do aumento da eficiência nas
operações de produção e de distribuição. Esse aumento da
30 eficiência significa muitas vezes reduzir o tempo de resposta,
“variando” os custos fixos, permitindo operar-se com tamanhos
3
Unidade I
de lotes menores sem afetar a disponibilidade de produto ou
incorrer em aumentos nos custos totais.
Nesses mais de sessenta anos decorridos desde a Segunda
Guerra Mundial, a logística apresentou uma evolução
5 continuada, sendo hoje considerada um dos elementoschave na estratégia competitiva das empresas. No início, era
confundida com transporte e armazenagem de produtos; hoje,
é o ponto nevrálgico da cadeia produtiva integrada, procurando
atuar de acordo com o moderno conceito de SCM (Supply Chain
10 Management).
1 CONTROLE DE ESTOQUE VERSUS GESTÃO DE
ESTOQUES
Segundo Ching (2007), a visão tradicional é de que os
produtos devem ser mantidos em estoque por diversas razões.
Seja para acomodar variação nas demandas, seja para produzir
lotes econômicos em volumes substancialmente superiores aos
15 necessários, seja para não perder vendas.
No entanto, essa visão acarreta para as empresas:
• custos mais altos de manutenção de estoques;
• falta de tempo na resposta ao mercado;
• risco de o inventário tornar-se obsoleto.
20
Os estoques absorvem capital que poderia ser investido de
outras maneiras, desviam fundos de outros usos potenciais e
têm o mesmo custo de capital que qualquer outro projeto de
investimento da empresa, portanto o controle do estoque pode
exercer grande influência na rentabilidade da empresa.
De acordo com Slacks, Chambers, Harland et al. (1997), o
25
controle de estoque evoluiu para gestão de estoque. Esse
conceito originou-se na função de compras em empresas que
4
O controle do estoque pode exercer
grande influência na rentabilidade da
empresa.
PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO
compreenderam a importância de integrar o fluxo de materiais
às suas funções de suporte, tanto por meio do negócio, como por
meio do fornecimento aos clientes imediatos. Além da gestão de
estoque, inclui-se também a função de compras, planejamento
5 e controle de produção e gestão de distribuição física. A figura 1
ilustra a abrangência do conceito de gestão de estoque em seus
diversos estágios.
Gestão de estoque
Saída de
caixa
$
Compras
Fornecedores
Processamento
de materiais
Estoque de
matéria-prima
Entrada
de caixa
Submontagem
Estoque em
processo
Montagem
Estoque em
processo
Fluxos
$
Estoque Distribuição Clientes
de produtos física
finais
Materiais e
serviços
Figura 1 – Abrangência do conceito de gestão de estoque em seus diversos
estágios. Fonte: Ching, 2007.
Dentro do conceito de gestão de estoques, é interessante
notar que Viana (2000) consegue ilustrar a amplitude com suas
10 principais atividades, conforme figura 2.
Comportamento da
demanda
Classificação
ABC
Custo
Parâmetros de
ressuprimento
Inventário físico
Gestão de
estoques
Saneamento
Contabilização
Reposição
Indicadores
gerenciais
Métodos de
controle
Figura 2 – Principais atividades de gestão de estoques. Adaptada de Viana, 2000.
5
Unidade I
1.1 Estratégias de estoque
Dada a amplitude que a gestão de estoque alcançou, é
necessário estabelecer estratégias de estoque. Do ponto de vista
da logística, com relação a estratégias de estoque, Bowersox
(2001) mostra que decisões que envolvem estoques são de alto
5 risco e de alto impacto.
10
15
20
O comprometimento com determinado nível de
estoque e a subsequente expedição de produtos
para mercados, em antecipação a vendas futuras,
acarretam várias atividades logísticas. Sem um
estoque adequado, a atividade de marketing poderá
detectar perdas de vendas e declínio da satisfação
dos clientes. Por outro lado, o planejamento
de estoque também tem papel crítico para a
produção. Falta de matérias-primas podem parar
linhas de produção ou alterar programações da
produção, o que, por sua vez, aumenta os custos e
a possibilidade de falta de produto acabado. Além
da falta, que pode prejudicar tanto o planejamento
de marketing quanto as operações de produção,
o estoque excessivo também gera problemas:
aumenta custos e reduz a lucratividade, em razão
de armazenagem mais longa, imobilização de
capital de giro, deterioração, custos de seguro e
obsolescência.
1.2 Categorias de estoques
25
30
6
Considerando-se uma indústria, o fluxo de material e a forma
em que pode ser encontrado nas diferentes etapas do processo
definem as categorias de estoque da seguinte maneira:
• Matéria-prima – são itens comprados ou extraídos que
sofrem transformação durante o processo produtivo.
(Exemplos: óleo vegetal é matéria-prima para a produção
PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO
de margarina; tomate é matéria-prima para o extrato
de tomate; leite é matéria-prima para queijos; madeira
é matéria-prima para móveis; aço é matéria-prima para
automóveis e assim por diante.)
5
10
15
20
• Produto em processo – são os produtos em seus diferentes
estágios nos processos de fabricação. (Dica: um produto
acabado esperando liberação de qualidade é considerado
um produto em processo.)
• Produtos semiacabados – são aqueles que ficam
armazenados, aguardando operações adicionais que os
adaptem para diferentes usos, por exemplo: um motor
de relógio pode ser utilizado para diferentes modelos de
mesmo motor.
• Produtos customizáveis – são aqueles que podem sofrer
um grau de personalização e sofisticação exigidos pelo
cliente.
• Produto acabado – são os produtos finalizados, incluindo
os testes finais e a respectiva aprovação pelo controle de
qualidade. Ficam disponíveis para serem transportados
para o cliente como produto final de consumo ou peça de
reparo em caso de itens de manutenção.
• Estoque de distribuição – são produtos acabados
transferidos ao centro de distribuição por necessidades
logísticas.
25
• Estoque em consignação – são produtos acabados ou
peças de reposição de manutenção que permanecem no
cliente sob a sua guarda, mas continua sendo, por meio
de acordos mútuos, de propriedade do fornecedor até que
seja consumido.
30
• MRO (materiais para manutenção, reparos e operações)
– são os itens de apoio operacional. Normalmente
vinculado aos itens de reposição para manutenção de
7
Unidade I
5
veículos de frota ou equipamentos de manufatura.
(Exemplos: ferramentas e materiais auxiliares usados na
organização. Tudo que de certa forma é consumido ou
usado nas operações de processo e que compõe o produto
final está associado ao conceito MRO, incluindo sistemas
de manufatura.)
A figura 3 ilustra algumas categorias de estoque ao longo
das etapas de um processo produtivo.
Gestão de estoque
Compras
Processamento
de materiais
Estoque de
matéria-prima
Submontagem
Estoque em
processo
Montagem
Estoque em
processo
Estoque
de produtos
finais
Figura 3 – Categoria de estoque ao longo das etapas de um processo produtivo.
1.3 Classificação de material por categoria
Além das categorias definidas anteriormente em função
do
fluxo
de material, Viana (2000) diz que para atender às
10
necessidades de cada empresa, é necessária uma divisão
que norteie as várias formas de classificação. A classificação
deve ser analisada no todo, visando propiciar decisões e
resultados que contribuam para atenuar o risco de falta de
15 materiais.
Dessa forma, pode-se conceituar a classificação por
categorias como um processo de aglutinação de materiais por
características semelhantes.
Vários fatores contribuem para o sucesso na gestão de
20 estoques, mas fundamentalmente uma boa classificação
de materiais contribui mais fortemente para isso. Assim, o
sistema classificatório, dependendo da situação, pode auxiliar a
identificar e a decidir prioridades.
8
Classificação por categorias é um
processo de aglutinação de materiais
por características semelhantes.
PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO
Das infinitas formas de classificação, podem-se ter como
ponto de partida, que poderá ser adaptado às necessidades de
cada empresa, os seguintes atributos de uma boa classificação
quanto à:
5
• abrangência – deve tratar de uma gama de características
em vez de reunir apenas materiais para serem classificados;
• flexibilidade – deve permitir interfaces entre os diversos
tipos de classificação, de modo que se obtenha ampla
visão do gerenciamento de estoques;
10
• praticidade – a classificação deve ser direta e simples.
Viana (2000) ainda classifica os itens de estoque também
por tipos. São eles:
• Conforme demanda
20
– Materiais de estoque – são materiais que devem
existir em estoque e para os quais são determinados
critérios e parâmetros de ressuprimento automático,
com base na demanda prevista e na importância para
a empresa. Os critérios de ressuprimento fixados para
esses materiais possibilitam a renovação do estoque
sem a participação do usuário.
25
– Materiais que não são de estoque – são materiais
sem previsibilidade de demanda e que não têm
parâmetros de ressuprimento automático definidos,
dessa forma, sua aquisição é feita diretamente pelo
usuário na medida de sua necessidade.
15
30
• Materiais críticos – são materiais de reposição específica
pertinentes a empresas industriais para um equipamento
ou grupo de equipamentos iguais, cuja demanda não é
previsível e a decisão de estocar é baseada no risco que a
operação pode sofrer se o material não estiver disponível
quando for necessário.
9
Unidade I
• Materiais perecíveis – são materiais com data limite
para sua utilização, após essa data, sofrem alterações de
suas propriedades físico-químicas.
5
• Materiais perigosos – são materiais que por sua natureza
físico-química oferecem risco à segurança.
Além dos modos de classificação vistos até aqui, tipicamente
para a indústria, o interessante é que os itens podem ser
classificados considerando a ferramenta de gestão chamada
ECR (Efficient Consumer Response).
1.4 ECR (Efficient Consumer Response)
Segundo Martins e Domingues (2009), as mudanças
econômicas dos últimos anos trouxeram alterações
significativas na forma de pensar da cadeia de abastecimento
que, segundo Terra (2001), passou do push para o pull, ou
seja, “passou a ser acionada pela ponta da demanda, e não
15 mais pela oferta”.
10
Ponta da
demanda
Fluxo de demanda
Fornecedor
Ponta da
oferta
Distribuidor
Varejista
Consumidor
Fluxo de produtos
Figura 4 – Representação da cadeia de distribuição Pull
Isso fez com que os empresários buscassem novas
ferramentas de gestão, entre as quais se destaca o ECR
(Efficiente Consumer Response).
O ECR surgiu nos Estados Unidos no início da década de 1990
20 por iniciativa das empresas WalMart e Procter&Gamble. No
Brasil, a ACNielsen e a Associação Brasileira dos Supermercados
10
PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO
vêm desenvolvendo e disseminando o conhecimento e a
aplicação desses novos instrumentos de gestão junto aos seus
afiliados.
Segundo Terra (2001), o comitê ECR-Brasil define ECR como:
5
10
Um conjunto de estratégias de produção,
comercialização e distribuição de produtos que, com a
participação estreita de toda a cadeia de suprimentos,
envolvendo, portanto, a indústria, o atacado e o varejo,
tem como objetivo racionalizar custos e processos,
por meio de uma série de instrumentos técnicos,
tendo como objetivo principal transferir valor ao
consumidor final.
Batalha e Milaneze (2003), em seu artigo científico,
afirmam que no Brasil as iniciativas de aplicação do ECR estão
15 concentradas em indústrias, atacadistas e varejistas, ligadas
ao setor de autosserviço, mas sua aplicabilidade é muito mais
abrangente, podendo ser utilizado em inúmeros outros setores.
A estratégia de reposição eficiente não é diferente em uma
indústria manufatureira. Ela é a ligação de toda a cadeia de
20 distribuição ECR em um único fluxo por meio dos seguintes
elementos: recebimento eletrônico na loja, sistema de inventário
perpétuo, leitura por código de barras no ponto de venda e
pedido emitido por computador.
Dessa forma, todos os elementos de uma cadeia logística
25 podem se beneficiar com o uso de tal ferramenta.
O ECR se apoia em quatro estratégias principais (ECR Brasil,
2007):
30
• reposição eficiente: busca a automação do controle de
estoque, otimização do tempo e do custo do sistema de
reposição e dinamização do fluxo da logística;
11
Unidade I
• sortimento eficiente de loja: pretende a otimização do
mix de produtos, aumento da produtividade dos estoques
e do espaço da loja na interface com o consumidor,
incremento das vendas;
5
10
• promoção eficiente: visa à maximização da eficiência de
todo o sistema de promoção para o cliente e o consumidor,
melhorando as condições de compra e abastecimento;
• introdução eficiente de produtos: objetiva a redução
do insucesso no lançamento de novos produtos, visando
agregar valor aos produtos.
1.5 Estrutura e níveis do canal
Entre o fabricante e o consumidor existem estruturas com
diferentes níveis intermediários, conforme ilustrado na figura 5,
e as quatro estratégias vistas anteriormente podem beneficiar
todos os membros do canal.
Nível dois
Nível três
Nível quatro
Nível cinco
Fabricante
Fabricante
Fabricante
Fabricante
Agente
Atacadista
Atacadista
Varejista
Consumidor
Consumidor
Varejista
Varejista
Consumidor
Consumidor
Figura 5 – Esquema típico de estrutura de canal para bens de consumo.
Fonte: Parente, 2000.
1.6 Mix de produtos vesus gestão de estoques
15
12
Considerando que a cadeia de abastecimento passou a ser
acionada pela ponta da demanda, em que a principal motivação
PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO
dos consumidores é obter produtos que satisfaçam suas
necessidades, as decisões sobre o mix de produtos consiste em
uma das decisões mais fundamentais que contribuem com essa
motivação. Essas decisões acabam se traduzindo na gestão dos
5 estoques por categorias dos produtos como consequência do
mix de produtos.
Mix de produtos é a linha de produtos com que a empresa
trabalha e suas divisões.
Exemplo de divisões e linhas:
10
Moda feminina jovem: blusas de alça e calça Oxford.
Moda feminina senhoras: blusas de linha e saias.
Moda masculina: camisas esportivas, camisetas e bermudas.
Segundo Parente (2000), de todas as variáveis do mix de
produtos, sua composição é a mais importante variável, quando
15 se classifica e define os diferentes tipos de varejistas, tais como
supermercado, loja de departamento, hipermercado, farmácia,
joalheria, livraria.
No caso do ramo ou setor varejista, o mix de produtos é
determinado pela composição de produtos que a loja oferece e
20 atende o consumidor final por meio de atividades que englobam
o processo de venda de produtos e serviços.
Subdividir a linha de produtos é um importante processo
de refinamento que ajuda a simplificar os procedimentos
de gestão justamente pelo elevado número de itens
25 comercializados por diferentes tipos e ramos. Existem lojas,
como hipermercados, que comercializam de 30 a 50 mil
itens (ou SKU – Stock Keeping Unit), já em um supermercado
de porte médio, encontra-se cerca de 5 a 10 mil itens,
enquanto esse número cai para mil itens em uma loja de
30 conveniência.
13
Unidade I
Independentemente da extensão da variedade, os itens
precisam ser classificados em diferentes níveis hierárquicos de
agrupamento.
Cada empresa varejista utiliza diferentes nomes para
5 denominar os diferentes níveis de classificação, tais como
departamentos, seções, famílias, grupos, linhas, categorias.
Apesar de não existir um consenso sobre o número de
níveis de classificação de produtos, com a disseminação dos
conceitos de gerenciamento de categorias, ou gerenciamento
10 por categorias, começa a surgir uma padronização sobre
como denominar as subdivisões da categoria. Com
algumas variações, a figura 6 retrata o tipo de hierarquia
de classificação de produtos que costuma ser adotado em
empresas varejistas.
Varejista
Departamento
Seções
Família
Seções
Família
Grupos
Linhas
Grupos
Linhas
Categoria
Categoria
Figura 6 – Diagrama da estrutura do mix de produtos de um varejista
14
PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO
Uma ferramenta que auxilia na criação da estrutura de
mercadorias por categorias é a utilização do que se chama de
árvore de decisão.
A árvore de decisão nada mais é do que uma representação
5 dos critérios de escolha do cliente. Por meio dela, é possível criar
a estrutura de mercadorias e definir como será utilizada para a
categoria.
DESODORANTE
DEO CORPO
DEO PÉS
Spray
Roll-on
Stick Ge
Creme
Aerosol
Marca
Marca
Marca
Marca
Marca
Masc.
Fem.
Masc.
Fem.
Masc.
Fem.
Masc.
Fem.
Masc.
Fem.
Talco
Aerosol
Figura 7 – Árvore de decisão do desodorante. Fonte: Manual ECR (2007, p. 28).
1.7 Gerenciamento por categorias
Gerenciar por categorias, conforme definido por Parente
(2000), consiste no processo de administrar categorias como
10 unidades estratégicas de negócio, visando não só obter melhor
satisfação do consumidor, mas também melhores indicadores de
desempenho e lucratividade.
Do manual ECR (2007) pode-se extrair que o gerenciamento
por categorias é uma ferramenta de gestão cujos benefícios são
15 reconhecidos por varejistas, fabricantes e consumidores em todo
mundo. Na última década, ele foi responsável por significativas
mudanças nos pontos de venda de lojas dos mais variados
formatos.
Gerenciamento por categorias é
uma ferramenta de gestão.
15
Unidade I
A gestão de estoques por categoria de produtos dá
suporte às estratégias do ECR
Essencialmente, o gerenciamento por categoria busca
oferecer soluções para as necessidades do consumidor
5 agrupando os produtos por afinidade de uso ou categoria. Por
exemplo: os produtos de uso na lavanderia podem ser agrupados
em uma categoria denominada “cuidados com as roupas”. Assim,
em um mesmo espaço de venda, estarão todos os produtos para
lavar (sabão em barra, sabão em pó, amaciante, baldes, escovas
10 etc.); dessa forma, os processos de gestão de estoque podem se
beneficiar com o gerenciamento de categoria.
É evidente que a definição de categoria, ou seja, a definição
de um grupo de produtos que os consumidores percebem como
inter-relacionados e/ou substituíveis entre si na satisfação de
15 suas necessidades, resulta no grupo de produtos que deverão
compor esse espaço de venda. É importante salientar que
essa definição baseia-se no gosto e na necessidade do cliente.
O sortimento da loja, portanto, depende de seu tamanho e
formato, das soluções (categorias) que pretende oferecer e do
20 papel da categoria na loja.
Em um supermercado, por exemplo, pode-se identificar
cerca de cem ou mais categorias. A tabela 1 ilustra alguns
departamentos e suas categorias.
Departamento
Padaria
Carnes
Vestuário
Categorias
Salgados
Doces
Bebidas
Bovinos
Peixes
Frangos
Roupas
Calçados
Acessórios
Tabela 1 – Quadro de departamentos e categorias. Adaptado de Parente, 2000.
16
Os processos da gestão de
estoque podem se beneficiar com o
gerenciamento por categoria.
PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO
Partindo-se das categorias, podem ser criadas várias outras
subdivisões, conforme descritas a seguir.
Subcategorias
As categorias estão divididas em subcategorias. As
5 subcategorias são agrupamentos formados por produtos com
alto grau de substitubilidade que concorrem entre si. Dentro, por
exemplo, do departamento de bebidas, na categoria refrigerantes,
podem-se identificar várias subcategorias, com base no sabor do
produto, tais como: guaraná, cola, laranja, limão, uva etc. É no
10 nível da subcategoria que as marcas dos diferentes fabricantes
travam suas maiores batalhas para a conquista da preferência
do consumidor (exemplos: hambúrguer congelado sadia x
perdigão; liquidificador Arno x Walita; sabão em pó Omo x Ariel;
telefone celular Motorola x Nokia).
15
Segmentos
As subcategorias podem ser divididas em agrupamentos
menores, denominados segmentos, por refletir produtos que
atendem preferências específicas de diferentes segmentos ou
preferências de consumidores. Assim, por exemplo, dentro da
20 subcategoria guaraná, podem-se identificar três segmentos,
com base no tipo de embalagem do produto, tais como: guaraná
em garrafa PET de 2 litros, guaraná em garrafa PET de 600 ml e
guaraná em lata.
Subsegmentos
Em alguns casos, pode-se ainda procurar subdividir
os segmentos em subsegmentos, em que são agrupados
produtos com semelhanças ainda mais específicas, com base
em alguma dimensão ou atributo que possa estabelecer
uma diferenciação entre os produtos do mesmo segmento,
30 guaraná PET de 2 litros poderia ainda ser subdividido nos
subsegmentos normal e diet.
25
17
Unidade I
A figura 8 apresenta outra forma de ilustrar a relação entre
os diferentes níveis hierárquicos da classificação de produtos.
Um item faz parte de certo subsegmento, o qual faz parte de um
segmento que compõe uma subcategoria, que faz parte de uma
5 categoria incluída em um departamento, que faz parte do mix
de produtos de determinada loja.
Subsegmento: item específico
Guaraná lata diet Antártica
Segmento:
Guaraná lata diet
Subcategoria:
Guaraná
Categoria:
Refrigerante
Departamento:
Bebidas
Zoom em
diferentes níveis
de análise
Figura 8 – Estrutura zoom do mix de produtos. Adaptado de Parente, 2000, p. 187.
Diferentes hierarquias para diferentes tipos de varejo
A definição sobre como dividir hierarquicamente a linha
de produtos em departamentos varia de acordo com o grau
10 de especialização e com a linha de produtos de cada tipo de
varejista.
Dessa forma, para um hipermercado, produtos para
animais poderão ser considerados um departamento, formado
por categorias, como produtos para cães, subdivididas em
15 subcategorias, como acessórios para cães.
Uma pet shop, por exemplo, pode possuir três departamentos:
1. Veterinário; 2. Tosa e banho; 3. Produtos para animais. Dentro
do departamento Produto para animais temos como categoria
18
PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO
Produto para cães, como subcategoria Acessórios para cães e
como segmento Roupas.
Nos quadros 9, 10 e 11 são apresentados alguns exemplos
de diferentes níveis de hierarquia de classificação de produtos,
5 extraídos do varejo de alimentos (ex.: supermercados) e do varejo
de não alimentos (ex.: loja de confecções).
Estrutura
e nível
hirárquico
Exemplos
Supermercados
• Frios e laticínios
Departamento • Mercearia
Categoria
Subcategoria
Segmento
Varejo de confecções
• Confecção infantil
• Confecção masculina
• Limpeza
• Confecção feminina
• Iogurtes
• Camisola meninas
• Sorvetes
• Calça meninos
• Margarinas
• Vestido meninas
• Iogurte líquido
• Camisola manga longa
• Iogurte polpa
• Camisola manga curta
• Iogurte com pedaços de
fruta
• Pijama manga longa
• Iogurte líq. grande (1 litro)
• Camisola M. longa seda
• Iogurte líq. pequeno
• Camisola M. longa poliéster
• Iogurte líq. grande diet
• Camisola M. longa malha
Figura 9 – Exemplos dos níveis de hierarquia de classificação de produtos.
Fonte: Parente, 2000, p. 188.
Supermercados
Mercearia
Frios e laticínios
Limpeza
Sorvetes
Iogurtes
Margarinas
Iogurte polpa
Iogurte líquido
Iogurte com
pedaços de frutas
Iogurte líquido
grande (litro)
Iogurte líquido
pequeno
Iogurte líquido
grande diet
Figura 10 – Níveis de hierarquia de classificação de frios e laticínios.
Fonte: Parente, 2000, p. 188.
19
Unidade I
Varejo de confecções
Confecção masculina
Confecção infantil
Confecção feminina
Calça menino
Camisola menina
Vestido menina
Camisola manga curta
Camisola manga longa
Pijamas manga longa
Camisola manga
longa poliéster
Camisola manga
longa seda
Camisola manga
longa malha
Figura 11 – Níveis de hierarquia de classificação no varejo de confecções.
Fonte: Parente, 2000, p. 188.
Para a correta administração da linha de produtos, é necessário
estabelecer uma estrutura de classificação de produtos e definir
a posição de cada produto nessa estrutura.
Como o mercado está em constante transformação, a
5 classificação dos produtos deve ser um processo dinâmico
com revisões regulares, por exemplo, anualmente. Não só os
fornecedores de produtos estão lançando novos produtos,
como também os próprios varejistas vêm procurando ajustarse às mudanças nos hábitos dos consumidores e repensando
10 a composição do seu mix de produtos e a estrutura das
categorias.
1.8 Nível de estoque x categorias de produtos
Uma vez definido o mix de produtos, as empresas
desenvolvem atividades direcionadas para garantir o
abastecimento adequado dos produtos para seus clientes.
15 Nesse processo, os gestores de compras procuram equilibrar
dois objetivos conflitantes, que por um lado consiste em
minimizar o investimento em estoque e, por outro,
minimizar o índice de faltas.
20
PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO
Objetivos do estoque
5
10
15
20
25
30
35
• Objetivo de custo: estabelecer os níveis de estoque e sua
localização é apenas uma parte do problema do controle
de estoque. Considerando esse objetivo mais amplo, uma
questão crítica é balancear os custos de manter e de
pedir estoque, porque esses custos têm comportamentos
conflitantes. Quanto maiores as quantidades estocadas,
maiores serão os custos de manutenção. Quanto maior
for a quantidade do pedido, maior será o estoque médio
e mais alto será o custo para mantê-lo. No entanto, se
maiores quantidades forem solicitadas, menos pedidos
serão feitos e, por consequência, menores custos de pedir
serão incorridos. A função do custo total mostra o formato
em U, o que significa que existe um valor mínimo para essa
curva, que é o ponto mais baixo. O objetivo é encontrar um
plano de suprimento que minimize o custo total.
• Objetivos de nível de serviço: às vezes, a dificuldade em
estimar os custos de faltas leva ao estabelecimento de um
objetivo ligeiramente diferente para o controle de estoque.
Ao fixar a disponibilidade conforme a política de que, por
exemplo, “98% dos pedidos de um item qualquer devem
ser atendidos em 48 horas”, devem-se ajustar os custos de
manter e de se pedir, de modo que sua soma seja minimizada.
Repare que, ao se fixar a disponibildade-alvo, os custos de
falta de estoque são considerados indiretamente. Deve-se
ter grande cautela para fixar o nível de serviço de estoque
desta forma. Aumentar a disponibilidade em apenas alguns
pontos percentuais, por causa de pressões da área de vendas,
tem um efeito dramático no capital investido em estoque.
Uma vez que o nível de estoque cresce explosivamente
com disponibilidades elevadas, o nível de serviço utilizado,
na maioria das vezes, é menor que 100%. Deve-se obter o
maior equilíbrio possível entre a produção e o custo total
de estoque, de um lado, e o nível de serviço prestado aos
clientes, de outro lado.
21
Unidade I
É claro que o gestor do estoque deve colaborar com o
equilíbrio desses dois objetivos, e é a partir desse ponto que
surge a pergunta: qual o nível adequado de estoques?
Na visão de Parente (2000), o nível ótimo de estoque é o
5 que:
• garante um estoque suficiente para cobrir as vendas
esperadas;
10
• não apresenta excessos de capital, ou seja, produtos
com estoques muito acima dos níveis de estoque de
segurança;
• apresenta níveis baixos e aceitáveis rupturas, ou seja,
produtos sem estoques;
15
• permite que a apresentação dos produtos e dos
departamentos da loja comunique uma imagem de loja
bem-abastecida;
• proporciona bons índices de giro de estoque e de retorno
sobre o investimento.
Existem vários métodos que podem ser utilizados para
determinar os níveis adequados de estoque. Três desses métodos
20 serão comentados a seguir:
• método da relação estoque/vendas;
• método da variação percentual;
• método do estoque básico.
Método da relação estoque/vendas ou método do giro
25 do estoque
Esse é um método simples, pois define o estoque por
meio da aplicação do índice estoque/vendas sobre as
vendas previstas do período. Esse índice indica o volume
22
PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO
de estoque que deverá ter no início do mês para sustentar
um volume de vendas previstas do período. Supondo-se
que um índice estoque/vendas seja estabelecido para 1,5 e
a previsão mensal de vendas para determinado item seja de
5 R$ 200 mil, o nível de estoque para o item deverá ser de R$
300 mil (R$ 200,00 x 1,5).
Método da variação percentual
É particularmente adequado para situações de forte
sazonalidade nas vendas, ou seja, quando o volume de vendas
10 varia muito de mês para mês. O método ajusta o estoque às
variações de vendas, procurando, porém, amortecer o impacto
dessas variações.
Método do estoque básico
É aplicado quando a gerência acredita que um dado nível
15 de estoque (estoque básico) deve estar sempre disponível e
quando o giro for menor do que seis vezes ao ano. Esse método
é semelhante ao anterior, porém provoca maiores oscilações
nos níveis de estoque porque responde mais diretamente às
variações de vendas.
20
Os três métodos podem ser utilizados considerando as
categorias de produtos.
1.9 O objetivo básico da armazenagem
A responsabilidade do armazém ou centro de distribuição
(CD) deve ser: recebimento, cuidados, entrega pontual do
produto certo, no lugar certo, no momento certo e ao menor
25 custo. Segundo Moura (1997), a estocagem deve ser a mais
eficiente possível, usando o espaço nas três dimensões. O
uso efetivo do espaço para a armazenagem é chamado de
“administração do espaço”, sendo um recurso básico, cuja
manutenção representa um investimento considerável.
23
Unidade I
Outros objetivos da armazenagem são o de fornecer a
identificação positiva do item e poupar tempo, mão de obra e
equipamento. As instalações de armazenagem devem propiciar
a movimentação rápida e fácil dos suprimentos desde o
5 recebimento até a expedição. O planejamento apropriado ajuda
a efetuar a movimentação e a armazenagem eficientes, e no
final resulta em despesas operacionais menores.
É importante considerar que vários fatores podem afetar a
armazenagem, tais como:
10
• o material a ser estocado;
• o tempo de espera para armazenamento e retirada do
material;
• o fluxo como combinação de rotas;
• a unitização como combinação de volumes;
15
• o espaço como condição de estocagem;
• o pessoal como executantes de tarefas no processo de
movimentação e armazenagem;
• a evolução como um conjunto de variáveis que resultam
em um projeto flexível, adaptável a mudanças.
1.10 Classificação dos armazéns
20
Devido à diversidade, da mesma forma que classificamos
os itens a serem estocados, os armazéns também podem ser
classificados, segundo Moura (1997), em:
• Armazéns de produção:
– matérias-primas;
25
– peças adquiridas de terceiros;
– peças semiacabadas;
24
PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO
– materiais em processo;
– produtos acabados;
– peças sobressalentes, manutenção;
– suprimentos diversos;
5
– sucatas, cavacos, retalhos;
– ferramentas;
– material de embalagem.
• Armazéns de distribuição:
– atacadistas;
10
– varejistas.
Além da classificação dos armazéns vista anteriormente,
os sistemas de armazenagem de um produto e a localização
do armazém podem também ser classificados, em função do
estágio de fabricação do mesmo produto. Podemos classificar
15 em três tipos:
• armazéns de matérias-primas;
• armazéns de produtos semielaborados (em processo);
• armazéns de produtos acabados.
Embora não existam diferenças fundamentais entre esses três
tipos,
pode-se comprovar que, do ponto de vista dos métodos
20
de armazenagem, existem algumas diferenças de caráter geral.
No que diz respeito às matérias-primas e aos produtos
semielaborados, observa-se que a maior parte dos mesmos
pode ser estocada no interior dos edifícios que contêm as
25 instalações de produção. Os produtos podem ser estocados, de
acordo com a fase de desenvolvimento da elaboração desses
materiais, em uma área descentralizada e próxima aos pontos
de consumo.
25
Unidade I
5
• Armazenamento de ponto de uso: algumas vezes,
em especial na produção repetitiva e no ambiente JIT
(just in time), o estoque é armazenado próximo de onde
será utilizado. Esse método é excelente, contanto que o
estoque seja mantido em um nível baixo e os funcionários
da operação possam controlar os registros de estoque. Há
várias vantagens nessa técnica:
– os materiais ficam prontamente acessíveis para os
usuários;
10
– o manuseio do material é reduzido ou eliminado;
– os custos de armazenamento central são reduzidos;
– o material fica acessível o tempo todo.
15
• Armazenamento central: em oposição ao estoque de
ponto de uso, o armazenamento central contém todo o
estoque em um lugar central. Há várias vantagens nesse
sistema:
– facilidade de controle;
– maior facilidade para manter a precisão de registro de
estoque;
20
– possibilidade
especializado;
de
utilizar
armazenamento
– redução no estoque de segurança, já que os usuários
não têm, nesse caso, necessidade de manter seu próprio
estoque de segurança.
25
A solução que prevê a descentralização do armazém, com
a finalidade de dispor das mercadorias junto aos pontos de
consumo, apresenta as seguintes vantagens:
• permitir o fácil controle visual da condição dos estoques;
30
26
• minimizar o tempo necessário para o envio das mercadorias
ao ponto de consumo;
PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO
• reduzir os custos dos serviços administrativos;
• utilizar eventualmente as áreas ociosas do espaço
destinado à produção.
1.11 Processos de estocagem
Quanto aos processos de estocagem, podemos ter a
5 estocagem manual e mecanizada.
Estocagem manual: é dividida em duas partes:
• Exclusivamente manual.
Figura 12 – Estocagem manual.
Fonte: Moura, 1987.
• Manual auxiliada por equipamentos guiados por
operários.
Figura 13 – Estocagem manual auxiliada por equipamento.
Fonte: Moura, 1987.
27
Unidade I
Esse tipo de estocagem é mais eficaz quando:
• as operações de movimentação não são frequentes;
• o espaço e o movimento são limitados;
5
• as cargas são dispostas de modo a aproveitar todo espaço
disponível;
• há cargas heterogêneas;
• há cargas frágeis e de difícil manuseio;
• é preciso agrupar mercadorias não normalizadas.
Estocagem mecanizada
10
A estocagem mecanizada vai desde a operação com uma
empilhadeira até complexos sistemas de movimentação,
integrados com transelevadores, chegando a ser difícil
o estabelecimento de limites entre a mecanização e a
automatização.
O objetivo é que as mercadorias sejam estocadas, separadas
e despachadas com a máxima eficácia e o mínimo custo. Para
atingir isso, o equipamento de movimentação deve ser tratado
como um conceito integrado. O produto e a embalagem influem
na modalidade de transporte, na movimentação e nos sistemas
20 de armazenagem a serem empregados.
15
Figura 14 – Sistema integrado de estocagem mecanizada.
Fonte: Moura, 1987.
28
PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO
Na estocagem manual, o fator limitante está ligado ao
homem. Já na mecanizada, os fatores determinantes são:
• o uso da máxima capacidade de edifício;
5
• a colocação correta das mercadorias no mínimo de tempo
possível.
Sabe-se que a maior parte do trabalho executado em um
armazém consiste na movimentação de materiais. É nessa área
que as soluções para os problemas devem ser buscadas. O modo
pelo qual os materiais são localizados, estocados e movimentados
10 tem influência decisiva sobre como é efetivamente utilizado o
espaço.
A estocagem pode ser centralizada ou descentralizada.
15
20
• estocagem centralizada: todas as peças na fábrica são
estocadas em uma “área de material” central ou similar,
até que sejam usadas. Elas são, depois, destinadas às
seções apropriadas. Esse método requer movimentação
para dentro da área de estoque, com posterior retirada
do material. Frequentemente, as áreas de estocagem
ficam distantes das seções, e isso resulta em excesso de
movimentação e tempo;
• estocagem descentralizada: são utilizados vários
almoxarifados pequenos. As condições são praticamente
iguais às do item anterior, porém as distâncias são
menores.
1.12 Locação no estoque
25
Como vimos anteriormente, a função da atividade de
estocagem é guardar, proteger e preservar o material, até que
o mesmo seja requerido para uso. Uma maneira de se ter uma
operação eficiente são o planejamento e o layout apropriado
das dimensões da área de estocagem.
29
Unidade I
É interessante que se faça o planejamento e o projeto do
layout considerando as categorias de produtos, pois dessa
forma é possível obter uma estocagem eficiente, o que envolve
uma consideração cuidadosa dos objetivos de armazenagem,
5 previamente delineados.
Alguns fatores importantes que devem ser considerados na
estocagem:
Estocagem em função das características do material:
não existem regras taxativas que regulem o modo como os
10 materiais devem ser colocados no armazém. A decisão depende
de vários fatores, devendo, a rigor, ser pronunciada somente
depois de ponderados todos os prós e contras. A esse respeito,
cabe salientar alguns pontos:
15
20
25
30
30
• Estocagem por agrupamento: esse critério facilita
as tarefas de arrumação e procura, mas nem sempre
permite o melhor aproveitamento do espaço. Os
números dos artigos a serem estocados – atribuídos de
forma correspondente à lista de materiais ou a outro
tipo de agrupamento semelhante – são identificados
com a divisão das estantes: é o caso dos moldes, lotes
de aprovisionamento, peças sobressalentes. Essa solução
é praticável em armazéns relativamente pequenos,
facilmente vigiados e pouco movimentados.
• Estocagem por tamanho, peso e espécie de materiais:
nessa modalidade, pressupõe-se que o pedido de saída já
contém a indicação relativa ao setor do armazém onde o
material se encontra. Esse tipo de estocagem permite um
bom aproveitamento do espaço.
• Estocagem por frequência: consiste em colocar, o mais
próximo possível da saída, o material cuja frequência de
movimento é alta.
PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO
o
Baix
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Escritório
Figura 15 – Estocagem por frequência dos materiais.
Fonte: Moura, 1987.
5
10
• Estocagem com separação entre lote de reserva e lote
diário: uma parte do estoque fica em uma área de reserva
propriamente dita e constitui-se em outro estoque de
pequenos lotes, destinado a cobrir as necessidades do serviço
de cada dia. Esse estoque diário, ou de maior movimento,
contém toda a gama de materiais de maior movimentação.
• Estocagem no local de uso: aqui, os materiais a serem
usados em uma seção específica são estocados na mesma.
Em sua aplicação ideal, os materiais são diretamente
levados e colocados na seção, na posição em que serão
usados. Na prática, esse plano ideal é frequentemente
interrompido pela necessidade de inspeção no recebimento
e pelas atividades de armazenagem em grandes lotes.
Estocagem em função das características do espaço:
15 somadas aos fatores de material, têm o objetivo de determinar
onde o material deve ser estocado, levando em conta as
características disponíveis do espaço. São elas:
• tamanho do espaço;
20
• natureza do espaço – conveniência para a estocagem de
um item específico;
31
Unidade I
• localização – em relação a outras atividades associadas;
• disponibilidade – no momento em que o item seja
necessário;
• características de construção:
5
– capacidade de carga do piso;
– altura livre de empilhamento;
– portas, número, localização e tamanho;
– facilidade de carga e descarga;
– espaço das colunas, tamanho e número;
10
– elevadores, rampas etc.
• área exigida para funções e serviços auxiliares:
– manutenção,
reparo,
estacionamento
dos
equipamentos de movimentação e reabastecimento
(de veículos a motor de combustão interna);
15
– instalações dos empregados – vestiários, banheiros,
serviços de alimentação etc.;
– escritórios;
20
– instalação de proteção – paredes à prova de fogo,
extintores de incêndio, saídas de água, interruptores
de luz etc.;
– necessidade de espaço para corredores, ruas etc.
1.13 Case: gerenciamento de estoque na
Amazon.com
A Amazon teve um período de férias difícil em 1999, devido,
principalmente, à má administração de estoques e à operação
de armazenagem caótica, que resultaram em uma grande
32
PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO POR CATEGORIA DE PRODUTO
quantidade de bens não vendidos. A maior parte dos clientes da
Amazon estava satisfeita, mas a empresa comprou estoque em
excesso, inclusive um suprimento de 50 semanas de telefones
do Sapo Caco (do Mupet Show). Desde então, a Amazon mudou
5 seus métodos. Por exemplo, anteriormente, ela armazenava
produtos como DVDs e aparelhos de DVD em estados diferentes,
o que complicava reunir pedidos para um único cliente. Agora
os produtos são agrupados em suas instalações de envio. Além
disso, a Amazon agora prevê demandas por áreas do país.
10 Computadores portáteis são previstos por CEP, e os estoques
adequados são enviados ao armazém que atende a essa área.
Essa abordagem reduz o tempo necessário para entregar um
produto ao cliente.
Jeffrey Wike, vice-presidente e gerente geral de operações da
15 Amazon, identificou quatro modos em que a Amazon aperfeiçoou
o serviço ao cliente administrando melhor os estoques:
20
25
30
• Aumentou sua capacidade de armazenagem rapidamente.
Três milhões de pés quadrados de capacidade de
armazenagem foram acrescentados em menos de um ano,
o que permitiu que a Amazon desenvolvesse a quantidade
apropriada de estoque cíclico, estoque de segurança e
estoques de antecipação para atendimento a clientes.
• Introduziu o estado da arte em automação e mecanização.
Os depósitos da Amazon agora são eficientes e flexíveis.
O suficiente para deslocar produtos em contêineres,
pallets ou lotes unitários, reduzindo, assim, os custos de
manuseio.
• Vinculou as informações de pedido a um arquivo do
cliente usando a tecnologia da informação. Quando
um cliente coloca um pedido em uma cesta de bens
específica, o sistema captura os dados e os acrescenta a
um banco de dados de compras anteriores desse cliente.
Esse processo permite que a Amazon preveja compras
futuras e customize a experiência de compra do cliente.
33
Unidade I
5
10
15
20
25
• Reproduziu o sistema em todos os seus centros de
distribuição em que isso foi possível. A vinculação
de capacidade, a automatização e a tecnologia da
informação permitirão que a Amazon expanda sua
variedade de produtos via novas sociedades e alianças. Por
meio de replicação do sistema, a Amazon pode expandir
de modo modular à medida que novos armazéns são
acrescentados.
A Amazon também mudou sua estratégia de gerenciamento
de estoques: ela agora usa uma combinação de operações de
armazenagem interna terceirizadas. Por exemplo, a Amazon
terceirizou a distribuição de telefones celulares e livros,
excluindo os das listas de best-seller, telefones celulares
requerem atendimento amplo e especializado ao consumidor,
e computadores ocupam quantidades enormes nos armazéns.
Outros produtos volumosos e difíceis de manejar, como
aspiradores de pó, processadores de alimentos e serras de mesa,
também são candidatos em potencial à terceirização. Essa
mudança permite que a Amazon atente-se ao que faz melhor.
Entretanto, pode se mostrar arriscada, uma vez que coloca a
reputação conquistada com esforço pela Amazon nas mãos de
outros. Contudo, ao reduzir os custos e aumentar suas margens
de lucro por meio de melhor gerenciamento de estoque, a
Amazon espera repassar um pouco de sua economia a seus
clientes, aumentar seu número de compradores e minimizar
quaisquer desvantagens que o novo sistema de estoque possa
apresentar (Ritzman et al., 2009, p. 389).
Na próxima unidade, veremos o planejamento e o controle
de capital considerando-se a categoria de produtos.
34
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