127 ELETROESTIMULAÇÃO NEUROMUSCULAR EM PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA CARDÍA CA: UMA CARDÍACA: NO VA ABORD AGEM NOV ABORDA G UILHERME V EIGA G UIMARÃES R ODRIGO X AVIER R ODRIGUES A LVES J EAN M ARCELO R OQUE V ITOR O LIVEIRA C ARVALHO L UCAS N ÓBILO P ASCOALINO E DIMAR A LCIDES B OCCHI Resumo: A insuficiência cardíaca é a via final comum de toda cardiopatia. Esta síndrome é caracterizada por uma atividade neuro-hormonal exacerbada, intolerância ao exercício e alterações neuromusculares importantes. A prática de exercícios físicos é parte integrante do tratamento, apesar de não haver um consenso sobre o melhor método. A Eletroestimulação Neuromuscular (ENM) é uma nova alternativa que visa potencializar os efeitos conhecidos do treinamento físico. Apesar de existir há muitas décadas, só recentemente estão sendo investigados seus efeitos na população com insuficiência cardíaca. Embora ainda existam poucos estudos, os resultados mostram-se satisfatórios e seguros, podendo a ENM ser utilizada como terapêutica alternativa e/ou coadjuvante nesses indivíduos. Palavras-chave: Insuficiência cardíaca; Eletroestimulação; Exercício. Abstract: Heart failure is the last stage of heart diseases. This syndrome is characterized by a neurohormonal activity, exercise intolerance and important neuromuscular disorders. Exercise training is a part of the heart failure treatment, despite of no consensus about the best methodology. The Neuromuscular Electroestimulation is a new alternative method that is proposed to increase the exercise training effects. This method exists for a long time, but just nowadays it is been investigated in heart failure patients. Despite of the few studies available, the results are good and the method is safe. It could be used as an alternative to heart failure patients. Key-words Key-words: Heart failure; Electrical stimulation; Exercise. . ISSN 1678-0463 http://www.ftc.br/dialogos 128 ELETROESTIMULAÇÃO NEURO- 1 INTRODUÇÃO A insuficiência cardíaca (IC) é a via final comum de toda cardiopatia. Esta síndrome é caracterizada por uma atividade neuro-humoral exacerbada, intolerância ao exercício, liberação de citocinas e diminuição do fluxo sangüíneo muscular. Todos esses fatores contribuem para a disfunção muscular esquelética na IC (CLARK, 1996). Essa disfunção é manifestada pela fadiga, dispnéia precoce e intolerância a atividade física, tanto do dia-a-dia quanto em atividades mais vigorosas (DREXLER, 1992). 2 DISCUSSÃO A atrofia da musculatura esquelética é um fator comum nos indivíduos com IC (HARRINGTON; COATS, 1997). Apesar da falência da bomba cardíaca, os fatores periféricos são amplamente relacionados à intolerância ao exercício físico (JONDEAU et al., 1992). O treinamento físico faz parte do tratamento não-medicamentoso na IC. A atividade física regular ajuda a reverter a disfunção endotelial, aumentar o consumo máximo de oxigênio (VO2max), melhorar a capacidade oxidativa muscular e atenuar a atividade neuro-humoral. Além de uma capacidade aeróbica boa, a força muscular também é essencial para melhorar a capacidade funcional e qualidade de vida do indivíduo. Devido aos benefícios exclusivos do treinamento de força, este vem sendo agregado à reabilitação cardiovascular (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2005). Dependendo do grau de acometimento na IC, o coração não consegue proporcionar o aumento necessário do débito cardíaco, mesmo durante uma atividade de baixa intensidade. Co-morbidades associadas à IC, particularmente nos indivíduos mais idosos, podem limitar ainda mais a execução do exercício (DOBSAK, 2006a; HARRIS, 2003; LIEN, 2002). Essa população, seja pelo risco hemodinâmico, seja pela inabilidade motora, dificilmente participa de protocolos de treinamento físico. Nesse contexto, fazem-se necessários métodos alternativos de condicionamento físico. Recentemente alguns trabalhos investigam os benefícios da Eletroestimulação Neuromuscular (ENM) em portadores de IC. A ENM é uma modalidade utilizada para retardar a atrofia muscular por desuso com tanta eficácia quanto realizando contrações voluntárias (HAINAUT; DUCHATEAU, 1992). Os primeiros estudos que mostram seu benefício em portadores de IC surgiram em 1998, relatando aumento do VO2 max (VAQUERO et al., 1998), melhora da performance no Teste de Caminhada de Seis Minutos DIÁLOGOS & CIÊNCIA - REVISTA DA REDE DE ENSINO FTC. Ano II, n. 7, dez. 2008 129 e aumento da massa da musculatura treinada (MAILLEFERT, 1998). No ano seguinte, Quinttan et al. (1999) demonstraram a melhora da força e resistência à fadiga da musculatura extensora de joelho ao aplicar ENM na musculatura do quadríceps de sete pacientes com IC em fila para transplante cardíaco. Com tais resultados, abriu-se o leque para novas pesquisas relacionadas a esse assunto. O primeiro estudo que comparou os efeitos do treinamento convencional e o treinamento com ENM demonstrou resultados similares (HARRIS, 2003). A maioria dos estudos com ENM que avaliou a capacidade funcional na IC demonstrou melhora significativa do VO2 max, da distância percorrida no Teste de Caminhada de Seis Minutos e da força muscular, porém, quando comparada ao exercício físico convencional, essa melhora é menor (DELEY, 2005; DOBSAK, 2006a; NUHR, 2004; ). Quando realizado o treinamento com ENM em indivíduos portadores de IC com diferentes capacidades ao exercício, a ENM parece ser mais efetiva na população com menor tolerância à atividade física (DELEY, 2008). Nuhr et al. (2004) relataram que a ENM pode promover o aumento dos níveis da enzima citrato sintase (ciclo do ácido cítrico) e a diminuição da enzima gliceraldeído fosfato desidrogenase (glicólise), bem como aumentar a concentração de fibra muscular tipo I e diminuição da fibra muscular tipo IIB, sugerindo uma tendência à mudança no metabolismo energético e histologia muscular, favorecendo assim a aerobiose. Nesse estudo não foi evidenciada mudança na quantidade de fibra muscular tipo IIa. Outros benefícios oferecidos pela ENM quando aplicada nos membros inferiores, são o aumento do fluxo sangüíneo arterial (DOBSAK, 2006b), melhora da função endotelial e redução dos níveis de citocinas circulantes, como fator de necrose tumoral e Interleucinas 6 (KARAVIDAS, 2006). A atrofia muscular na IC está relacionada ao desuso, à isquemia sucessiva devido ao reduzido fluxo sangüíneo e a fatores neurais e humorais (BULLER, 1991). A musculatura dos membros inferiores parece ser a mais prejudicada, exibindo alta porcentagem de fibras tipo II, baixa atividade enzimática mitocondrial e diminuição da densidade capilar (DREXLER, 1992; SULLIVAN, 1990). Um estudo de Massie, (1996) demonstrou maior proporção de fibras tipo II e uma tendência de transição das fibras tipo I para tipo II, e foi evidenciado através de biópsia que a área de secção transversa da musculatura tipo II é menor, o que indica que a atrofia se dá preferencialmente nesse tipo de fibra. O treinamento resistido convencional para a musculatura quadricipital em indivíduos com IC mostrou-se suficiente para melhorar a força, o estado funcional, a capacidade ao exercício e a qualidade de vida desses pacientes, porém, sem melhora significativa no VO2 pico (JANKOWSKA, 2007). Os trabalhos que evolvem ENM na IC aplicam o estimulo elétrico na musculatura das pernas, ISSN 1678-0463 http://www.ftc.br/dialogos 130 ELETROESTIMULAÇÃO NEURO- e a maioria no grupo muscular do quadríceps e tríceps sural, podendo assim envolver grande massa muscular periférica para favorecer a reabilitação. 3 CONCLUSÃO Embora existam poucos trabalhos que correlacionem ENM e IC, os estudos clínicos revisados não evidenciam nenhuma alteração hemodinâmica significativa em relação ao repouso durante a aplicação da ENM, apontando ser um método eficaz e seguro para a população com IC. São necessários mais estudos para selecionar a população com IC que mais se beneficiaria com a ENM, pois a reabilitação tradicional ainda parece ser a alternativa com melhores resultados e conta com inúmeros trabalhos que confirmam seu benefício. REFERÊNCIAS BULLER, N.P.; JONES, D.; POOLE, W.P.A. Direct measurement of skeletal muscle fatigue in patients with chronic heart failure. 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E-MAIL: [email protected] DOUTORANDO EM CARDIOLOGIA PELA FACULDADE DE MEDICINA DA USP - LABORATÓRIO DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA E TRANSPLANTE DO INCOR HCFMUSP MÉDICO, LIVRE-DOCENTE PELA FACULDADE DE MEDICINA DA USP, DOUTOR EM CARDIOLOGIA PELA FACULDADE DE MEDICINA DA USP, DIRETOR DA UNIDADE DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA E TRANSPLANTE DO INCOR HCFMUSP. DIÁLOGOS & CIÊNCIA - REVISTA DA REDE DE ENSINO FTC. Ano II, n. 7, dez. 2008