eletroestimulação neuromuscular em pacientes com insuficiência

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ELETROESTIMULAÇÃO NEUROMUSCULAR EM
PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA CARDÍA
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Resumo: A insuficiência cardíaca é a via final comum de toda cardiopatia. Esta
síndrome é caracterizada por uma atividade neuro-hormonal exacerbada,
intolerância ao exercício e alterações neuromusculares importantes. A prática
de exercícios físicos é parte integrante do tratamento, apesar de não haver um
consenso sobre o melhor método. A Eletroestimulação Neuromuscular (ENM) é
uma nova alternativa que visa potencializar os efeitos conhecidos do treinamento
físico. Apesar de existir há muitas décadas, só recentemente estão sendo
investigados seus efeitos na população com insuficiência cardíaca. Embora ainda
existam poucos estudos, os resultados mostram-se satisfatórios e seguros,
podendo a ENM ser utilizada como terapêutica alternativa e/ou coadjuvante
nesses indivíduos.
Palavras-chave: Insuficiência cardíaca; Eletroestimulação; Exercício.
Abstract: Heart failure is the last stage of heart diseases. This syndrome is
characterized by a neurohormonal activity, exercise intolerance and important
neuromuscular disorders. Exercise training is a part of the heart failure treatment,
despite of no consensus about the best methodology. The Neuromuscular
Electroestimulation is a new alternative method that is proposed to increase the
exercise training effects. This method exists for a long time, but just nowadays it
is been investigated in heart failure patients. Despite of the few studies available,
the results are good and the method is safe. It could be used as an alternative to
heart failure patients.
Key-words
Key-words: Heart failure; Electrical stimulation; Exercise.
.
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1 INTRODUÇÃO
A insuficiência cardíaca (IC) é a via final comum de toda cardiopatia. Esta síndrome
é caracterizada por uma atividade neuro-humoral exacerbada, intolerância ao
exercício, liberação de citocinas e diminuição do fluxo sangüíneo muscular. Todos
esses fatores contribuem para a disfunção muscular esquelética na IC (CLARK,
1996). Essa disfunção é manifestada pela fadiga, dispnéia precoce e intolerância
a atividade física, tanto do dia-a-dia quanto em atividades mais vigorosas
(DREXLER, 1992).
2 DISCUSSÃO
A atrofia da musculatura esquelética é um fator comum nos indivíduos com IC
(HARRINGTON; COATS, 1997). Apesar da falência da bomba cardíaca, os fatores
periféricos são amplamente relacionados à intolerância ao exercício físico
(JONDEAU et al., 1992).
O treinamento físico faz parte do tratamento não-medicamentoso na
IC. A atividade física regular ajuda a reverter a disfunção endotelial, aumentar o
consumo máximo de oxigênio (VO2max), melhorar a capacidade oxidativa
muscular e atenuar a atividade neuro-humoral. Além de uma capacidade aeróbica
boa, a força muscular também é essencial para melhorar a capacidade funcional
e qualidade de vida do indivíduo. Devido aos benefícios exclusivos do treinamento
de força, este vem sendo agregado à reabilitação cardiovascular (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2005).
Dependendo do grau de acometimento na IC, o coração não consegue
proporcionar o aumento necessário do débito cardíaco, mesmo durante uma
atividade de baixa intensidade. Co-morbidades associadas à IC, particularmente
nos indivíduos mais idosos, podem limitar ainda mais a execução do exercício
(DOBSAK, 2006a; HARRIS, 2003; LIEN, 2002). Essa população, seja pelo risco
hemodinâmico, seja pela inabilidade motora, dificilmente participa de protocolos
de treinamento físico. Nesse contexto, fazem-se necessários métodos
alternativos de condicionamento físico. Recentemente alguns trabalhos
investigam os benefícios da Eletroestimulação Neuromuscular (ENM) em
portadores de IC.
A ENM é uma modalidade utilizada para retardar a atrofia muscular por
desuso com tanta eficácia quanto realizando contrações voluntárias (HAINAUT;
DUCHATEAU, 1992). Os primeiros estudos que mostram seu benefício em
portadores de IC surgiram em 1998, relatando aumento do VO2 max (VAQUERO
et al., 1998), melhora da performance no Teste de Caminhada de Seis Minutos
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Ano II, n. 7, dez. 2008
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e aumento da massa da musculatura treinada (MAILLEFERT, 1998). No ano
seguinte, Quinttan et al. (1999) demonstraram a melhora da força e resistência
à fadiga da musculatura extensora de joelho ao aplicar ENM na musculatura do
quadríceps de sete pacientes com IC em fila para transplante cardíaco. Com tais
resultados, abriu-se o leque para novas pesquisas relacionadas a esse assunto.
O primeiro estudo que comparou os efeitos do treinamento convencional e o
treinamento com ENM demonstrou resultados similares (HARRIS, 2003).
A maioria dos estudos com ENM que avaliou a capacidade funcional na
IC demonstrou melhora significativa do VO2 max, da distância percorrida no Teste
de Caminhada de Seis Minutos e da força muscular, porém, quando comparada
ao exercício físico convencional, essa melhora é menor (DELEY, 2005; DOBSAK,
2006a; NUHR, 2004; ). Quando realizado o treinamento com ENM em indivíduos
portadores de IC com diferentes capacidades ao exercício, a ENM parece ser
mais efetiva na população com menor tolerância à atividade física (DELEY, 2008).
Nuhr et al. (2004) relataram que a ENM pode promover o aumento dos
níveis da enzima citrato sintase (ciclo do ácido cítrico) e a diminuição da enzima
gliceraldeído fosfato desidrogenase (glicólise), bem como aumentar a
concentração de fibra muscular tipo I e diminuição da fibra muscular tipo IIB,
sugerindo uma tendência à mudança no metabolismo energético e histologia
muscular, favorecendo assim a aerobiose. Nesse estudo não foi evidenciada
mudança na quantidade de fibra muscular tipo IIa.
Outros benefícios oferecidos pela ENM quando aplicada nos membros
inferiores, são o aumento do fluxo sangüíneo arterial (DOBSAK, 2006b), melhora
da função endotelial e redução dos níveis de citocinas circulantes, como fator de
necrose tumoral e Interleucinas 6 (KARAVIDAS, 2006).
A atrofia muscular na IC está relacionada ao desuso, à isquemia
sucessiva devido ao reduzido fluxo sangüíneo e a fatores neurais e humorais
(BULLER, 1991). A musculatura dos membros inferiores parece ser a mais
prejudicada, exibindo alta porcentagem de fibras tipo II, baixa atividade enzimática
mitocondrial e diminuição da densidade capilar (DREXLER, 1992; SULLIVAN,
1990). Um estudo de Massie, (1996) demonstrou maior proporção de fibras
tipo II e uma tendência de transição das fibras tipo I para tipo II, e foi evidenciado
através de biópsia que a área de secção transversa da musculatura tipo II é
menor, o que indica que a atrofia se dá preferencialmente nesse tipo de fibra.
O treinamento resistido convencional para a musculatura quadricipital
em indivíduos com IC mostrou-se suficiente para melhorar a força, o estado
funcional, a capacidade ao exercício e a qualidade de vida desses pacientes,
porém, sem melhora significativa no VO2 pico (JANKOWSKA, 2007). Os trabalhos
que evolvem ENM na IC aplicam o estimulo elétrico na musculatura das pernas,
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e a maioria no grupo muscular do quadríceps e tríceps sural, podendo assim
envolver grande massa muscular periférica para favorecer a reabilitação.
3 CONCLUSÃO
Embora existam poucos trabalhos que correlacionem ENM e IC, os estudos
clínicos revisados não evidenciam nenhuma alteração hemodinâmica significativa
em relação ao repouso durante a aplicação da ENM, apontando ser um método
eficaz e seguro para a população com IC. São necessários mais estudos para
selecionar a população com IC que mais se beneficiaria com a ENM, pois a
reabilitação tradicional ainda parece ser a alternativa com melhores resultados
e conta com inúmeros trabalhos que confirmam seu benefício.
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