APLICAÇÃO DE NOVOS MARCADORES MOLECULARES NO MELHORAMENTO DE PLANTAS Ao longo dos anos, avanços em biologia molecular têm levado à introdução de novos tipos de marcadores moleculares. Os primeiros marcadores moleculares estabelecidos foram as isoenzimas, sendo diferenciadas em géis de eletroforese pelo tamanho e carga. O surpreendente nível de polimorfismo encontrado pela primeira vez dentro de populações trouxe a idéia de que a maioria das mutações é neutra. Este provavelmente é o maior legado das isoenzimas. O surgimento de técnicas de manipulação de DNA levou ao desenvolvimento de marcadores RFLP, que permitiram a análise de regiões não-codificadoras e de mutações silenciosas. Na década de 80, a técnica de PCR permitiu a amplificação de fragmentos de DNA, e levou ao aparecimento de marcadores como RAPD, microssatélites e AFLP. Estes dois últimos marcadores em sido amplamente utilizados em análises de diversidade genética de plantas. Apesar da disponibilidade de diferentes marcadores, grande parte da informação obtida é oriunda de polimorfismos em regiões do genoma detectadas por marcadores aleatórios. Com a popularização das técnicas de seqüenciamento foi possível o desenvolvimento de marcadores funcionais e a análise de polimorfismos de seqüências. Esses marcadores, baseados em genes candidatos ou genes-alvo, aumentam a probabilidade de se estabelecer correlações entre fenótipo e genótipo, pois a variabilidade observada reflete diferenças fenotípicas. Seqüenciamento de DNA e marcadores moleculares começaram a convergir quando os dados acumulados passaram a mostrar variações entre seqüências de indivíduos de uma mesma espécie. Logo se percebeu que Single-Nucleotide Polymorphisms (SNP) eram os marcadores mais abundantes nos genomas. SNPs são mutações de ponto, inserções ou deleções em regiões do genoma, e consistem em alterações de uma única base entre fragmentos homólogos de DNA, além de pequenas inserções ou deleções, podendo ocorrer tanto em regiões codificadoras como em não codificadoras dos genomas. Em regiões codificadoras, quando resultam em uma substituição de aminoácido na seqüência protéica, são denominados não sinônimos. Neste caso, a substituição pode ser conservativa ou não conservativa em função das características dos aminoácidos envolvidos na troca, podendo resultar em modificações estruturais e funcionas na proteína. Embora os SNPs sinônimos não alterem a seqüência protéica, eles podem modificar a estrutura e a estabilidade do RNA mensageiro, e conseqüentemente, afetar a quantidade de proteína produzida. Algumas vezes, as alterações das bases nitrogenadas têm origem em erros de incorporação de bases durante a replicação do DNA, ou podem ser causadas por lesões no DNA por agentes ambientais. As mutações que ocorrem em células germinativas e são transmitidas às gerações seguintes podem se fixar na população. Quando a mutação está fixada em uma freqüência mínima de 1% é considerada um SNP (Kwok & Gu, 1999). Existem várias técnicas de genotipagem de SNPs, entre elas a hibridização em microarrays, a extensão de primers e a ligação. Recentemente, Hu & Vick (2003) desenvolveram a técnica Target Region Amplification Polymorphism (TRAP), um marcador dominante, que combina a facilidade dos marcadores RAPD, sendo, porém, altamente reproduzível, com abundante polimorfismo dos marcadores AFLP. A metodologia TRAP utiliza ferramentas de bioinformática e Expressed Sequence Tags (ESTs) para gerar marcadores polimórficos ao redor de seqüências de genes candidatos. O polimorfismo é gerado a partir da combinação de um primer fixo, desenhado a partir de uma seqüência EST de interesse, e um primer arbitrário. Trabalhos recentes relatam o emprego de marcadores TRAP no acesso da diversidade genética em cana e identificação de possíveis genes candidatos associados à tolerância ao frio e envolvidos na rota metabólica da sacarose (Alwala et al., 2006). Outro marcador que vem sendo muito utilizado na identificação de polimorfismos nas regiões do genoma relacionadas à resistência de plantas é o Nucleotide-Binding Site (NBS). Esta técnica consiste na amplificação de determinadas regiões utilizando primers degenerados homólogos às seqüências conservadas dos genes de resistência (R-genes). De acordo com a literatura, a maioria das bandas obtidas pela técnica do NBS apresenta níveis significativos de similaridade com seqüências conhecidas de genes de resistência e análogos de genes de resistência (RGAs), sugerindo que esta técnica permite a amplificação de marcadores polimórficos ligados a genes de resistência. O marcador NBS vem sendo utilizado com sucesso em batata, tomate, alface, cevada (Van der Linden et al., 2004), sendo identificados domínios de genes de resistência altamente conservados entre as espécies. A maioria dos marcadores moleculares é dependente da eletroforese em gel, o que os torna lentos e trabalhosos. Possuem ainda dificuldades em correlacionar com precisão bandas em géis com variações alélicas. Para superar essas restrições foram desenvolvidos métodos de hibridização, tais como microarrays. Tal metodologia pode ser usada para a identificação de marcadores SNPs em alguns poucos organismos modelos ou de grande importância econômica, como o ser humano. Contudo, o custo da aplicação de tal técnica para o melhoramento de plantas é proibitivo, já que o uso em larga escala torna-se financeiramente inviável para a quase totalidade das espécies, especialmente aquelas que possuem recursos financeiros limitados e/ou grandes e complexos genomas. Diversity Arrays Technology (DArT) oferece uma solução prática a esses problemas, permitindo a análise de representações genômicas sem a necessidade de seqüenciamento. DArT é baseado em hibridizações de microarray, sendo independente do uso de géis e por isso feito em larga escala e rapidamente, sendo muito mais barato por não possuir a fase de seqüenciamento. O princípio da técnica é a construção de painéis de diversidade e a hibridização destes com representações genômicas, detectando a presença ou a ausência de fragmentos específicos no genoma. Referências AKBARI, M.; WENZL, P.; CAIG, V.; CARLING, J.; XIA, L.; YANG, S.; Theoretical and Applied Genetics, v. 113, p. 1409-1420, 2006. ALWALA, S.; SUAN, A.; ARRO, J.A.; VEREMIS, J.C.; KIMBENG, C.A. Target region amplification polymorphism (TRAP) for assessing genetic diversity in sugarcane germplasm collections. Crop Science, v.46, p. 448-455, 2006. 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