Metabolismo e Endocrinologia “Interacções Proteicas Com Ligandos” Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica 2007/2008 Grupo 7 Tiago Robalo, 58481 Carlos Lúcio, 58511 Carlos Santiago, 58445 RELATÓRIO Nos meios biológicos, um ligando é uma substância extra celular capaz de se ligar a receptores de biomoléculas (“proteínas-alvo”). Podem ser específicos para determinados tipos de receptores ou menos selectivos, podendo formar ligações com diferentes tipos de receptores. Ao ligar-se a esses receptores libertam energia que pode ser aproveitada para alterar a conformação da molécula, determinando a sua acção biológica. Entre o receptor e o ligando podem ser formadas ligações iónicas, ligações de hidrogénio ou ainda ligações de Van Der Waals. Menos frequentemente, podem também ser formadas ligações covalentes, que, dada a sua estabilidade, tornam a ligação irreversível. O local de união entre o ligando e as moléculas receptores é designado por sítio de ligação, que é complementar do ligando no tamanho, na forma, na carga e no carácter hidrofóbico e hidrofílico. É esta complementaridade que confere ao ligando alguma especificidade de ligação. Contudo, a estrutura tridimensional da proteína não é estática e os ligeiros movimentos vibratórios desta facilitam a formação das ligações do ligando ao sítio de ligação. Uma proteína pode ter vários sítios de ligação para diferentes tipos de ligandos. É a força da ligação intermolecular que define a constante de equilíbrio da reacção ligando+proteína; esta, por sua vez, define a afinidade entre ligando e receptor e vai caracterizar a reversibilidade ou irreversibilidade da reacção: Tal como acontece para todas as reacções químicas, a constante de equilíbrio apenas depende da temperatura a que a reacção se dá. Esta constante de associação, tal como a de equilíbrio, estabelece a relação entre a concentração de complexo ligando-receptor no final da reacção com a concentração de ligando e de receptores no início da reacção, através da expressão abaixo. Por sua vez, o inverso da constante de associação dar-nos-á precisamente a constante de dissociação (trata-se do cálculo da constante de equilíbrio da reacção inversa – a separação do complexo): Estas duas constantes são frequentemente utilizadas como indicador da apetência para a união do ligando com o receptor, ao que se dá o nome de afinidade. Quanto maior for a afinidade, maior será a constante de associação (e, por sua vez, menor será a constante de dissociação). Outro resultado que se pode tirar da afinidade é a “durabilidade” da união. Nos meios biológicos torna-se extremamente relevante pensar quando é que um ligando se deverá associar ao receptor, assim como quando é que se deverá separar dele, isto é, se a reacção é reversível ou não. De referir que a reversibilidade ou irreversibilidade é também definida por factores presentes no Princípio de Chatelier, tais como a concentração, pressão e temperatura. Numa proteína com n sítios de ligação, temos: No equilíbrio, considerando a razão: => e como Sabendo ainda que : A que se dá o nome de Equação de Hill - analisada pela primeira vez por Archibald Hill em 1910, descrevendo a curva de ligação de O2 com a hemoglobina. Quando : Verifica-se assim que a constante de dissociação kd não é mais do que a concentração molar de ligandos para a qual metade dos sítios de ligação do receptor estão ocupados. O Vector de Hill, obtido através da equação de Hill, é uma curva na qual a percentagem de sítios de ligação ocupados está em função da concentração ou pressão de ligandos. Apresenta um crescimento sigmóide, ou seja, quanto maior for a concentração de ligandos maior o número de complexos PL formados, com uma assímptota horizontal em . Quanto menor for Kd, maior a afinidade entre a proteína e o ligando. O gráfico de Hill pode ser obtido através da seguinte relação: Verificou-se experimentalmente que o declive, n, não reflecte o nº de sítios de ligação mas sim um grau de interacção (cooperatividade) entre estes – o coeficiente de Hill, nH. nH = 1 – não cooperativa – ligações completamente independentes nH > 1 – cooperatividade positiva – afinidade a ligandos aumenta nH < 1 – cooperatividade negativa – afinidade a ligandos diminui Existem dois modelos de mecanismos de cooperatividade entre ligandos. No primeiro, Concerted model, considera-se que a ligação do primeiro ligando pode ou não induzir uma alteração da estrutura da proteína. Se induzir, estamos perante um fenómeno de cooperatividade e este modelo defende que a alteração da estrutura da proteína será global. No segundo, Sequential model, a alteração pode ser causada em subunidades individualmente. Admite-se que haja, contudo, um meio-termo entre estes dois modelos. Os principais mediadores de oxigénio do nosso organismo são a hemoglobina e mioglobina. A hemoglobina está contida nos eritrócitos e, para além de transportar oxigénio, também exerce um papel vital no transporte de dióxido de carbono e iões hidrogénio. É uma metaloproteína composta por quatro cadeias proteicas e possui quatro grupos heme. É uma proteína alostérica, pois a ligação com o oxigénio é regulada por alterações na sua estrutura provocadas por diferenças de concentrações. A forma mais comum de hemoglobina é a A1 (cerca de 95%) em adultos, mas na fase fetal predomina o tipo F. A mioglobina é uma proteína de cadeia simples que contém apenas um grupo heme e é responsável pelo armanezamento de oxigénio nos músculos. Ao contrário do que acontece com a hemoglobina, como só há um local de ligação ao oxigénio, não há cooperatividade entre ligandos. O grupo heme é um grupo prostético (ligando de natureza não proteica) que consiste num tetrâmero, chamado protoporfirina, que contém no centro um ião Fe2+. Este ião tem de capacidade de se ligar a alguns gases existentes no organismo, nomeadamente O2 e CO. No que diz respeito à afinidade entre o grupo heme e os gases, verifica-se que esta é influenciada pela estrutura proteica na qual o grupo está inserido, bem como o gás que se está a considerar. O CO tem cerca de 200 vezes mais afinidade que o O2 (tem maior número de ligações covalentes). Como consequência, a hemoglobina pode combinar-se com monóxido de carbono bloqueando o transporte de oxigénio. Aplicando os conceitos anteriores às moléculas de mioglobina e hemoglobina A1 e F, obteve-se: Comparando os três traçados, conclui-se que Kd-Mioglobina < Kd-HgF < Kd-HgA1 , logo, a afinidade aumenta no sentido inverso. Repare-se também que o aumento da percentagem de ligações O2hemoglobina não é tão acentuado a pressões baixas como a pressões próximas de Kd, que se deve ao aumento da afinidade para com o O2 provocado por cooperatividade positiva. Ou seja, presença de oxigénios ligados à hemoglobina facilita a união de outros. Como se trata de um gás, passa para Nestes gráficos de Hill, verifica-se o que foi dito acima quanto à cooperatividade presente na hemoglobina (vermelho): existe um intervalo para o qual o nH=3 – cooperatividade positiva. Como resultado, haverá maior afinidade ao oxigénio. Isto sucede até o grupo heme possuir três O2 ligados. Pode constatar-se, também, que o declive do gráfico da mioglobina (azul) é linear, com declive nH=1, o que significa que não há cooperatividade, como já foi referido anteriormente.