UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS LUCILENE HOTZ BRONZATO A CONSTRUÇÃO GRAMATICAL DE HIPERBOLIZAÇÃO: UM CASO DE COERÊNCIA METAFÓRICA DA GRAMÁTICA NITERÓI 2010 UNIVERS IDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS Lucilene Hotz Bronzato A Construção Gramatical de Hiperbolização: um caso de coerência metafórica da gramática Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Doutor. Área de Concentração: Estudos da Linguagem. Orientadora: Prof. a Dr.a SOLANGE COELHO VEREZA Coorientadora: Prof.a Dr.a NEUSA SALIM MIRANDA Niterói 31 de março de 2010 Ao Max e às minhas boas crianças: Luigi, Pedro e Bernardo AGRADECIMENTOS Agradeço muito à Profa. Dra. Solange Coelho Vereza que, sem perder jamais a amabilidade, compreendeu todas as minhas fraquezas e todos os meus defeitos. Agradeço à vida a oportunidade de ter conhecido um ser humano de tamanha grandeza e de tamanha competência. Agradeço à Profa. Neusa Salim Miranda pela orientação competente e solidária. Agradeço à Universidade Federal de Juiz de Fora e à Capes pela bolsa PICDT. Agradeço à Carmen Rita pelo companheirismo ao longo da jornada. Agradeço o apoio da Direção do Colégio de Aplicação João XXIII, aos professores do Departamento de Letras e Artes pela vo ntade em me ajudar e por possibilitar meu afastamento para capacitação. Agradeço à Profa. Mariângela Rios pelas contribuições no exame de qualificação. Agradeço à Thaís pela ajuda com o Corpus e pela força amiga de sempre. Agradeço à Profa. Margarida Salomão, por ter aberto a primeira porta desse longo caminho. Agradeço aos meus amigos Sérgio, Solange Faraco, Mônica, Luiz e Ricardo que acompanharam com entusiasmo todo o desenvolvimento do trabalho. Não poderia deixar de agradecer a boa vontade da Nelma e da Tânia, da secretaria da pós que, sempre que puderam, facilitaram a minha vida. Agradeço ao meu marido, Max, pela compreensão e ajuda em momentos cruciais. Agradeço aos meus filhos por respeitarem meu momento de estudo e muitas vezes, minha ausência. Agradeço a meu pai, que sempre achou “que estudo é a coisa mais fina do mundo” e à minha mãe, por estar disponível. Aos meus irmãos e sobrinhos. Aos meus cunhados. Agradeço a todos que valorizam a minha luta e dignificam a minha pessoa: Rachel, Vicente, Paulo, Sylvia, Maristela, Begma, Cristina Weitzel, Marilda, Rossana, Venise e outros, muitos outros. É a todas essas pessoas que dedico este poema de Cecília Meireles: Hoje desaprendo o que tinha aprendido até ontem e que amanhã recomeçarei a aprender. Todos os dias desfaleço e desfaço-me em cinza efêmera: todos os dias reconstruo minhas edificações, em sonho eternas. Esta frágil escola que somos, levanto-a com paciência dos alicerces às torres, sabendo que é trabalho sem termo. E do alto avisto os que folgam e assaltam, donos de riso e pedras. Cada um de nós tem sua verdade, pela qual deve morrer. De um lugar que não se alcança, e que é, no entanto, claro, minha verdade, sem troca, sem equivalência nem desengano permanece constante, obrigatória, livre: enquanto aprendo, desaprendo e torno a reaprender. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO....................................................................................................p.11 2 A METÁFORA NO ESCOPO DA LINGUÍSTICA COGNITIVA................ p.17 2.1 A LINGUÍSTICA COGNITIVA.......................................................................p.17 2.1.1 A linguagem não é uma faculdade cognitiva autônoma ...........................p.19 2.1.2 Gramática: conceptualização de uma rede de construções.......................p.20 2.1.3 O conhecimento linguístico emerge do uso da língua............................... p.21 2.1.4 Todo processo de significação procede pela projeção entre domínios ....p.23 2.2 COMO OS ESTUDOS DA METÁFORA ENTRAM NESSA HISTÓRIA? ...p.24 2.2.1 A metáfora como comparação implícita ...................................................p.30 2.2.2 A metáfora como transferência de significados .......................................p.31 2.2.3 Mas, então, como de finir a metáfora? ........................................................p.34 2.2.3.1 A metáfora na Teoria da Metáfora Conceptual..........................................p.35 2.2.3.2 A metáfora na Teoria da Integração Conceptual.......................................p.38 2.3 A INSERÇÃO DO CORPO NA MENTE ........................................................p.40 2.3.1 As metáforas primárias ..............................................................................p.44 2.3.1.1 A metáfora primária CAUSAS SÃO FORÇAS FÍSICAS..............................p.45 2.4 PROBLEMATIZANDO O ESTUDO DA METÁFORA .................................p.49 2.4.1 O sentido literal e o sentido metafórico ......................................................p.49 2.5 METÁFORA E HIPÉRBOLE ..........................................................................p.55 2.6 COMO A METÁFORA PODE DAR SENTIDO À FORMA .........................p.61 3 GRAMÁTICA DAS CONSTRUÇÕES E TEORIA COGNITIVA DA METÁFORA: UM DIÁLOGO POSSÍVEL .......................................................p.65 3.1 A GRAMÁTICA DAS CONSTRUÇÕES: PANORÂMICA GERAL ............p.66 3.2 O MODELO CONSTRUCIONAL RADIAL: DE LAKOFF A GOLDBERG.p.73 3.2.1 A metáfora na versão de Lakoff e Goldberg ............................................p.79 3.3 O DIÁLOGO ENTRE A ABORDAGEM CONSTRUCIONAL E A SEMÂNTICA DOS FRAMES ................................................................................p.84 3.4 A GRAMÁTICA DAS CONSTRUÇÕES: CONFIRMAÇÃO NA ONTOGÊNE..p.89 3.4.1 A metáfora na perspectiva de Tomasello....................................................p.93 4 METODOLOGIA................................................................................................p.96 4.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................p.96 4.2 A LINGUÍSTICA DE CORPUS ......................................................................p.97 4.3 SOBRE A NECESSIDADE DE UM CORPUS ESPECÍFICO ......................p.100 4.3.1 A escolha da ferramenta ............................................................................p.102 4.3.2 O corpus organizado ..................................................................................p.107 4.3.3 Procedimentos de pesquisa no corpus Blogs UOL ..................................p.112 4.3.4 Sobre a representatividade do Corpus Blogs UOL ................................p.119 5 ANÁLISE ...........................................................................................................p.121 5.1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................p.121 5.2 A CONSTRUÇÃO GRAMATICAL DE HIPERBOLIZAÇÃO .....................p.124 5.2.1 O fenômeno originário ...............................................................................p.124 5.2.2 a CGH e suas condições de validação .......................................................p.131 5.2.2.1 A validação dos tipos verbais ...................................................................p.133 5.2.2.2 A CGH e a frequência no corpus dos tipos verbais ...................................p145 5.2.2.3 Os tipos verbais e sua (in)dependência de molduras comunicativas específicas...............................................................................................................p.150 5.2.2.4 A validação do SN-sujeito.........................................................................p.151 5.2.2.5 Sobre a agentividade ................................................................................p.157 5.2.2.6 a validação do sintagma preposicional ....................................................p.163 5.2.3 A CGH e suas molduras comunicativas preferenciais ..........................p. 165 5.2.3.1 O blog como moldura comunicativa otimizada da CGH...........................p.166 5.2.3.2 A moldura dos fóruns opinativos...............................................................p.172 5.2.4 Retomando: as condições de validação da CGH..................... ................p.174 5.2.5 A inversão construcional do julgamento de valor: avaliação negativa vs avaliação positiva .......................................................................................p.176 5.3 A METÁFORA................................................................................................p.180 5.3.1 A metáfora como processo figurativo fundador da CGH.......................p.180 5.3.1.1 A metáfora como filtro de seleção lexical da CGH...................................p.190 5.3.1.2 A conceptualização dos eventos sociais como arenas de guerra..............p.192 5.3.2 Destruição e sucesso como construals alternativos .................................p.201 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................p.212 REFERÊNCIAS ..................................................................................................p.218 LISTAS DE TABELAS, FIGURAS, QUADROS E ILUSTRAÇÕES FIGURA 1- quadro comparativo das diferentes versões da Gramática das Construções ...................................................................................p.69 FIGURA 2- rede de herança das Construções oracionais do PB.......................p.81 FIGURA 3- exemplo de uma rede de frames a partir de uma sentença..............p.87 FIGURA 4- quadro comparativo entre a análise goldberguiana e o projeto FrameNet........................................................................................p.88 FIGURA 5- áreas de trabalho do Corpógrafo................................................. p.102 FIGURA 6- área de pesquisa do Corpógrafo................................................... p.103 FIGURA 7- exemplo ilustrativo de pesquisa por concordância frase.............. p.104 FIGURA 8- exemplo ilustrativo de pesquisa por concordância janela............ p.106 FIGURA 9- exemplo ilustrativo de pesquisa por concordância KWIC............p.106 FIGURA 10- exemplo ilustrativo de pesquisa Estudo N-gramas ....................p.106 FIGURA 11- ilustração da janela de busca por URL do Corpógrafo..............p.109 FIGURA 12- lista de ficheiros..........................................................................p.109 FIGURA 13- exemplo ilustrativo de lista de arquivos em ficheiro..................p.112 FIGURA 14- amostra da planilha de análise....................................................p.115 FIGURA 15- amostra da tabela simples...........................................................p.115 FIGURA 16- planilha completa dos sintagmas preposicionais....................... p.116 FIGURA 17- lista dos tipos verbais e algumas instanciações na CGH............p.135 FIGURA 18- frame de destruição (destroying)................................................p.140 FIGURA 19- estrutura radial dos verbos causativos de destruição................. p.142 FIGURA 20- tabela de ocorrências dos tipos verbais ......................................p.148 FIGURA 21- charge do jogador de futebol Ronaldo .......................................p.160 FIGURA 22- quadro das propriedades da CGH: polo da forma e do sentido..p.176 FIGURA 23- representação do nexo causal do evento de destruição.............. p.181 FIGURA 24- representação do nexo causal metaforizado ...............................p.181 FIGURA 25- representação do mapeamento metafórico- metonímico SUCESSO É GUERRA ............................................................p.197 FIGURA 26- imagem do jogador de futebol Diego Tardelli.......................... p.209 RESUMO O presente trabalho pretende investigar o papel fundador que a metáfora exerce na produção/interpretação da Construção Gramatical de Hiperbolização (CGH). Tal Construção se caracteriza, no eixo da forma, por ser nucleada por um verbo causativo de destruição, como arrasar, detonar, destruir, arrebentar, dentre outros, destituído de seu complemento verbal. No eixo do sentido, por sua vez, a inferência semânticopragmática agregada à CGH é a hiperbolização e a hipervalorização da força de ação da entidade-sujeito, o que a situa no topo de uma escala avaliativa de sucesso. Instanciada frequentemente em enunciados como A nova musa do carnaval arrasou na avenida, a Construção de Hiperbolização reflete o mapeamento metafórico do domínio- fonte GUERRA no domínio-alvo SUCESSO, pervasivo em nossa cultura e em nossa linguagem cotidiana, como evidenciou nossa análise do corpus. A função semânticopragmática da Construção de Hiperbolização é, portanto, reenquadrar o frame de destruição, evocado pelo verbo, no frame de sucesso, evocado pela Construção de Hiperbolização por meio de um sistema de implicações metafóricas e metonímicas muito coerentes. Palavras-chave: Construção Gramatical, metáfora, sucesso, hipérbole. ABSTRACT The present study aims at investigating the founding role that metaphor plays in the production and interpretation of what is referred to in this thesis as the Grammatical Construction of Hyperbolization (GCH). This construction is characterized, in the axis of form, by its being structured, in Portuguese, by a causative verb of destruction, such as arrasar (to wipe out) detonar (to detonate), destruir (to destruct) and arrebentar (to burst), among others, without its complement. In the axis of meaning, on the other hand, the pragmatic-semantic inference, together with the grammatical construction under study, is the hyperbolization and the hypervalorization of the force of action of the subject-entity, which places it at the top of an evaluative scale. Instantiated in utterances such as “A nova musa do carnaval arrasou na avenida”, the Construction of Hyperbolization reflects the metaphorical mapping of the source domain of WAR onto the target domain of SUCCESS, pervasive in our culture and in our everyday language, as our corpus analysis has evidenced. The semantic-pragmatic function of the construction is, therefore, to reframe the domain of destruction, evoked by the verb, into the domain of success, evoked by the GCH through a highly coherent system of metaphoric and metonymic implications. E os homens combatem pelo que julgam saber. E eu, que estudo tanto, Inclino a cabeça sem ilusões, E a minha ignorância enche-me de lágrimas as mãos. (Cecília Meireles) À medida que a ideia foi se tornando familiar para mim, gradualmente foi assumindo, por si própria, a presente configuração. Durante sua execução, ela exerceu completo domínio sobre mim; e agora constato que tudo o que foi realizado e sofrido nestas páginas, estou seguro de ter feito e sofrido eu mesmo. (Charles Dickens) Quem entender a linguagem entende Deus cujo filho é verbo. Morre quem entender. A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda, foi inventada para ser calada. Em momentos de graça, infrequentíssimos, se poderá apanhá-la. Um peixe vivo com as mãos. Puro susto e terror . (Adélia Prado ) 1 INTRODUÇÃO “No domingo, a matinê estava desfalcada do residente Robson Mouse, que mais uma vez está na Alemanha. Quem ficou em seu lugar foi o DJ Pacheco, residente da Babylon (The Week), e ele detonou, arrebentou, destruiu, bombou, arrasou...Tudo isso e mais um pouco! Tocou até bootleg de Offer com vocal do hino de muito tempo Cha Cha Heels (...)” www.arrasa.com.br Não é necessário ser linguista para perceber que o enunciado acima ilustrado se constrói de uma forma muito peculiar. Tal peculiaridade advé m do fato de que, aparentemente, o DJ Pacheco não destruiu, não arrebentou, nem arrasou nada. O que o autor desse enunciado quer realçar, de modo enfático e hiperbólico, é o SUCESSO que o DJ Pacheco fez ao substituir outro DJ, Robson Mouse, e isso é mais peculiar ainda. O que um olhar um pouco mais atento pode observar é que o elogio ao DJ Pacheco, claramente a intenção comunicativa do falante, é emoldurado, linguisticamente, por verbos causativos de destruição (detonou, arrebentou, destruiu, bombo u, arrasou) sem seus complementos verbais, o que a mim causa muito estranhamento. Foi exatamente esse estranhamento e a procura por respostas a esse fenômeno que me levou ao doutorado e, mais especificamente, ao curso Indeterminação e Metáfora, oferecido no âmbito do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal Fluminense. Tomei essa iniciativa, porque, intuitivamente, eu achava que a insólita relação entre DESTRUIÇÃO e SUCESSO só podia ser válida no escopo da projeção metafórica. A investigação emp reendida e as considerações dela resultantes são, acredito, de causar deslumbramento a todos que se debruçam sobre a linguagem, na tentativa de descobrir seus meandros misteriosos. Durante quatro anos, identifiquei, colecionei e pesquisei enunciados como o citado, procurando explorar as seguintes questões: 1) será que esses verbos causativos de destruição, destransitivizados, instanciam um par forma/ sentido, ou seja, aquilo que se entende por uma Construção Gramatical?; 2) que tipo de relação pode existir entre um evento de destruição e um evento de sucesso, de modo a 11 permitir homologias entre eles ?; 3) em que tipo de base conceptual se ancoram os mapeamentos metafóricos que licenciam tais homologias? Partindo de uma agenda teórica diversificada, que acredito serem complementares, porém não inconsistentes entre si, tentei, primeiramente, mapear a Construção Gramatical e estabelecer, com a maior adequação descritiva possível, suas condições de validação. Para tanto, alicercei minhas considerações na versão construcionista de Lakoff e Goldberg (1995; 2006) e de suas várias interpretações e contribuições por Salomão (1999; 2009a ; 2009b). O arcabouço teórico sobre a metáfora veio predominantemente dos trabalhos de Lakoff e Johnson (1980; 1999) e suas leituras por Kövecses (2000; 2002; 2006). Uma pesquisa de doutorado que tem como proposta não só mapear uma Construção Gramatical do Português do Brasil, como também mostrar que as Construções Gramaticais são evidências do importante papel que a operação cognitiva da metáfora exerce na gramática da língua teria, penso, a qualidade de ser ao mesmo tempo inovadora e relevante, considerando a agenda atual dos estudos da linguagem. A princípio, meu trabalho contribuirá como argumento favorável à tese de que é necessário abordar as Construções Gramaticais como unidades básicas da descrição linguística. Além disso, o mapeamento e a descrição de mais uma Construção Gramatical do Português farão avançar o esforço em se descrever o repertório de Construções Gramaticais da Língua Portuguesa do Brasil, conforme se compromete a fazer a maioria das pesquisas sob a égide da Gramática das Construções. Estudar de modo mais sistemático o inter-relacionamento entre a operação cognitiva da metáfora e a produção/interpretação de Construções Gramaticais nãotípicas ratificaria, uma vez mais, as abordagens do Cognitivismo e do Sociocognitivismo como ferramentas teóricas relevantes para o tratamento desses dois fenômenos da linguagem que há muito vêm instigando os linguistas. 12 Derivaria desse estudo, ainda, um forte argumento em favor de se garantir à metáfora um lugar de fundamental importância na gramática das línguas, ratificando e validando os conhecimentos que já se construíram sobre tal importância e procurandose ampliar as pesquisas empreendidas na tentativa de se construir uma Teoria da Metáfora de inegável adequação descritiva. Nesse aspecto, minha pesquisa contribuiria para evidenciar a motivação metafórica das Construções Gramaticais, comprova ndo, assim, a sensibilidade da gramática do Português do Brasil (PB) a fatores que são construídos cognitivamente e que, ao mesmo tempo, mantêm-se funcionando de maneira ativa no sistema da língua por meio das práticas socioculturais. Portanto, meu trabalho seria uma forte evidência daquilo que Lakoff e Johnson (1980) identificaram como sendo reflexos da coerência metafórica da gramática. Tendo em vista as justificativas por mim arroladas para validar a minha pesquisa, poderia elencar os seguintes objetivos gerais almejados: (i) contribuir com a descrição da Língua Portuguesa do Brasil, mapeando e formalizando mais uma Construção Gramatical, formada a partir do processo de destransitivização verbal, trazendo, com isso, novos argumentos à necessidade de se tratar as Construções Gramaticais como constructos teóricos essenciais à descrição da língua; (ii) descrever, de forma mais fundamentada e detalhada, o papel que a metáfora desempenha na gramática; não só identificando, a partir do estudo das Construções dessa gramática, casos exemplares de coerência metafórica, como também estabelecendo, como um dos recursos de validação de uma Construção Gramatical, a metáfora. Como objetivos mais específicos, pretendo tentar responder às perguntas de pesquisa, confirmando ou refutando as hipóteses fundadoras e norteadoras da exploração linguística a ser empreendida, que são: i) há, no Português do Brasil contemporâneo, uma Construção Gramatical, significativamente produtiva, nucleada por verbos causativos de destruição sem seus complementos verbais (objetos diretos) e cuja função semântico-pragmática é localizar a entidade-sujeito no topo de uma escala avaliativa de SUCESSO, ao hiperbolizar e 13 hipervalorizar a força de ação desta entidade. No escopo desse trabalho, essa Construção será cha mada CONSTRUÇÃO GRAMATICAL DE HIPERBOLIZAÇÃO. ii) A causalidade dos predicadores verbais, habilitados a participarem da Construção de Hiperbolização, arrasta consigo o Esquema Imagético da Força e, por conseguinte, estabelece como estrutura conceptual a metáfora primária 1 CAUSAS SÃO FORÇAS FÍSICAS. A partir de um sistema de implicações metafóricas e metonímicas muito coerente, nosso modelo cultural licencia a metáfora estrutural SUCESSO É GUERRA, que se mantém ativa na Construção de Hiperbolização. iii) Os cenários de guerra onde as ações engendradas pela entidade sujeito se desenrolam e podem vir a resultar no SUCESSO da mesma são, na verdade, qualquer evento social. Portanto, devido à metáfora SUCESSO É GUERRA, todos os eventos sociais são metaforizados como ARENAS DE GUERRA. O esforço analítico a que tal estudo se propõe é, a partir de evidências no uso, confirmar ou refutar as hipóteses acima delineadas, mantendo, ainda, um espaço aberto às intervenções suscitadas pelo próprio corpus. Para tanto, a partir dessa introdução, a tese estruturar-se-á em cinco capítulos nucleares. No capítulo 2, A metáfora no escopo da Linguística Cognitiva, tanto a Gramática das Construções quanto a metáfora serão discutidas sob a luz dos arcabouços cognitivistas e sociocognitivistas. De início, traço um panorama bem geral da Linguística Cognitiva, enfatizando três de seus pressupostos fundamentais: i) a linguagem não é uma faculdade cognitiva autônoma; ii) o conhecimento linguístico emerge do uso da língua; iii) todo processo de significação procede pela projeção entre domínios cognitivos. A seguir, tento localizar a metáfora na agenda teórica cognitivista, colocando em foco duas teorias principais: a Teoria da Metáfora Conceptual e a Teoria da Integração Conceptual. Descrevo, ainda, o caminho percorrido por Johnson (1987) que deriva na concepção do significado corporificado por meio das experiências corpóreas. O aspecto da teoria da mente corporificada mais 1 A hipótese da Metáfora Primária foi formulada primeiramente por Grady (1997) e posteriormente ampliada por Lakoff e Johnson (1999). As metáforas primárias seriam aqueles padrões metafóricos originados diretamente da experiência e que, por sua vez, daria m origem às metáforas conceptuais. Segundo Grady (1997), elas resultariam de interações entre particularidades dos aparatos físico e cognitivo humanos, com suas experiências subjetivas no mundo, independentemente de língua e cultura. 14 ressaltado são, exatamente, os Esquemas Imagéticos, em especial o Esquema Imagético da Força e sua consequência pressuposta, ou seja, a causalidade. Considerando, pois, que à Construção de Hiperbolização subjaz a metáfora primária CAUSAS SÃO FORÇAS FÍSICAS, esta será tratada em detalhes. A seguir, um ponto polêmico da teoria da metáfora é apontado: a dicotomia sentido literal/ sentido metafórico. Discuto, ainda, a relação que existe entre “metáfora e hipérbole ” e “metáfora e gramática”, desenvolvendo a noção de Lakoff e Johnson (1980) de coerência metafórica da gramática. Já no capítulo 3, o foco principal é o diálogo entre a Teoria Cognitiva da Metáfora e a Gramática das Construções, com ênfase na versão adotada neste trabalho: a Gramática das Construções de Lakoff e Goldberg (1995; 2006). Como a noção de frame semântico (FILLMORE, 1977, 1988; PETRUCK, 1996) é fundamental para a análise do fenômeno pesquisado, nesse capítulo procuro estabelecer a relação entre essa noção e a Gramática das Construções. Cito, ainda, os estudos de Tomasello (1992; 1999; 2003) como referência para a confirmação das Construções Gramaticais como artefatos simbólicos e da metáfora como recurso expressivo de categorização e perspectivização. No capítulo 4, descrevo as opções metodológicas tomadas. Inicio essa parte, fazendo uma retomada da Linguística de Corpus (SARDINHA, 2004; SINCLAIR,2004) e justifico a necessidade que senti de organizar um corpus específico para esta pesquisa. A seguir, explico em detalhes o funcionamento da ferramenta de coleta de dados escolhida: o Corpógrafo e a organização do corpus resultante. O capítulo de análise (capítulo 5), por questões unicamente didáticas, é dividido em duas partes: a primeira aborda de maneira mais focada a Construção Gramatical de Hiperbolização e seu mapeamento sintático-semântico-pragmático. Analiso cada um de seus elementos constituintes e suas condições de validação, inclusive as molduras comunicativas preferenciais da CGH: o blog e o fórum opinativo (SCHITTINE, 2004; CHAGAS, 2007; KOMESU, 2004; HEWITT, 2007). A segunda parte, por sua vez, enfoca a metáfora como processo figurativo fundador da Construção 15 de Hiperbolização. A análise se desenrola a partir de duas pressuposições básicas: i) à escolha de verbos causativos pela CGH subjaz o Esquema Imagético da Força, que por sua vez arrasta o esquema da causalidade (JOHNSON, 1987); ii) a seleção de verbos causativos de destruição pela CGH reflete o reenquadramento do frame de DESTRUIÇÃO, evocado pelas entradas verbais em um frame de SUCESSO, evocado pela Construção de Hiperbolização. Portanto, a pista dada pela seleção dos predicadores verbais habilitados a participarem da CGH revela a atuação do Esquema Imagético da Força e, por conseguinte, da metáfora primária CAUSAS SÃO FORÇAS FÍSICAS, além da metáfora estrutural SUCESSO É GUERRA. O papel fundamental da metáfora na Construção de Hiperbolização, pois, atua tanto como filtro de seleção lexical dos predicadores verbais que irão nucleá-las, como também na conceptualização dos eventos sociais como arenas de guerra. Por fim, no sexto capítulo, volto às perguntas de pesquisa e às hipóteses levantadas para discutir os resultados deste estudo, as considerações finais suscitadas pela pesquisa, suas possíveis limitações teóricas e analíticas e prováveis desdobramentos para futuros estudos. 16 2 A METÁFORA NO ESCOPO DA LINGUÍSTICA COGNITIVA 2.1 A LINGUÍSTICA COGNITIVA Para descrevermos a estrutura das revoluções científicas que marcaram a história da humanidade, poderíamos usar a metáfora da onda: quando uma onda começa a se formar no mar, ela avança em direção à praia, engolindo tudo que encontra pela frente e, ao fazê- lo, acaba se tornando ainda maior por se misturar às ondas menores. O que se vê com os avanços das ciências é um movimento contínuo de novos paradigmas que ocupam o lugar de velhos dogmas, sem, no entanto, conseguir descartar tudo o que é considerado antigo. Nos estudos da linguagem, o paradigma gerativo, sem dúvida, constituiu uma gigantesca e avassaladora onda. Os pressupostos teórico- metodológicos de Noam Chomsky estabeleceram um novo olhar sobre os fenômenos linguísticos e fizeram avançar com grande força os estudos das línguas humanas. Enquanto isso, uma nova onda se formava, crescia e aguardava o momento de ocupar o seu lugar. Nas décadas de 50 e 60, o idealizador da Gramática Gerativa, Noam Chomsky, criava seu modelo de análise linguística. Na década de 70, contudo, o calcanhar de Aquiles do modelo gerativista, os estudos da significação, veio a constituir o centro de interesse dos estudiosos da linguagem, que não viam no paradigma gerativo um conjunto teórico adequado a essa tarefa. E, embora essa nova onda estivesse longe da consistência teórica e da eficácia metodológica do paradigma chomskiano, ela veio para ficar e ficou conhecida como Linguística Cognitiva. De um lado, a vontade de saber como o sentido aflora e, do outro, a certeza de que a soma do significado das partes não resultava no sentido do todo fizeram com que os linguistas cognitivistas se enveredassem pelas chamadas “irregularidades sintáticas”, exatamente aquelas que o modelo chomskiano sequer reconheceu. Poderíamos dizer, 17 então, que a Linguística Cognitiva surge para se “levar a sério” os estudos da significação: Levar a sério o estudo da significação e xigia abandonar tanto a exclusão do sujeito, cultivada pelos estruturalismos de todos os matizes, como desistir da exclusividade do sujeito, enobrecida pela reflexão platônicocartesiana. A gênese da “linguística cognitiva” decorre, em parte, desse corte com Chomsky (SALOMÃO, 2009a , p.21-22). A partir da publicação do jornal “Cognitive Linguistics”, o corpo doutrinário do novo paradigma começa a se desenhar, segundo Croft e Cruse (2004), ancorado em três pressupostos fundamentais: • a linguage m não é uma faculdade cognitiva autônoma. • Gramática é conceptualização. • O conhecimento linguístico emerge do uso da língua. Em Salomão (2009a, p.22), as três asserções fundamentais do paradigma cognitivista assim se delineiam: • a cognição linguística é contínua aos demais sistemas cognitivos; portanto, a linguagem não é um sistema cognitivo autônomo. • A gramática é uma grande rede de Construções; por isso, postula-se uma continuidade básica entre sintaxe e léxico, calcada no uso linguístico. • Todo processo de significação procede pela projeção entre domínios cognitivos; logo, a semântica cognitivista tem um viés inferencialista que a diferencia do referencialismo da ortodoxia. Croft; Cruse e Salomão coincidem inteiramente quanto ao primeiro ponto, ou seja, quanto ao argumento de não ser a linguagem uma capacidade cognitiva especial, descontínua a outras que o ser humano, inegavelmente, possui. No segundo ponto, Salomão avança um pouco mais, atrelando a conceptualização da gramática à sua constituição primária, isto é, a uma rede de Construções Gramaticais que emergem do uso. No terceiro ponto, no entanto, Salomão coloca a projeção entre domínios como uma das grandes assunções teóricas advindas do paradigma cognitivista. A razão disso é que a projeção interdomínios, notadamente, é um aspecto cognitivo de grande influência 18 na manifestação da linguagem, principalmente quando estamos situados no terreno da linguagem figurativa. Além disso, um dos estudiosos mais notáveis da projeção interdomínios, Gilles Fauconnier, foi juntamente com Lakoff, um dos fundadores da Linguística Cognitiva. A seguir, uma análise mais detalhada de cada um desses tópicos. 2.1.1 A linguagem não é uma faculdade cognitiva autônoma Para a Linguística Cognitiva, a linguagem não é um sistema autônomo nem uma faculdade cognitiva autônoma. Portanto, a oposição opera em duas vias: nega o estruturalismo (a linguagem como um sistema que basta a si mesmo) e nega também o gerativismo (faculdade da linguagem como componente autônoma da mente). Disso decorrem outras negações: a separação entre conhecimento propriamente linguístico e conhecimento enciclopédico (conhecimento de mundo); a arbitrariedade do signo; a discrição e homogeneidade das categorias linguísticas; a geratividade da linguagem por meio de regras lógicas e traços semânticos objetivos, a autonomia e a não motivação semântica e conceptual da sintaxe (SILVA, 2004, pp. 1-18). Quando a Linguística Cognitiva subdetermina o interesse pelo conhecimento da linguagem e amplifica o interesse pelo conhecimento através da linguagem, o corolário básico que apóia tal decisão é o de que a representação do conhecimento linguístico é a mesma de outras estruturas conceptuais e sua utilização se assemelha ao uso de outras habilidades não linguísticas, como por exemplo, a percepção visual. Para a linguística cognitivista, a capacidade humana de linguagem é, sim, distinta, mas ela existe porque lança mão de ferramentas cognitivas usadas para outras tantas habilidades. Não existe, pois, uma capacidade linguística inata, autônoma e especial. Cabe ao linguista cognitivo determinar a estrutura conceptual e as habilidades cognitivas que se aplicam à linguagem. Como ponto de partida dessa empreitada, as ferramentas da Psicologia Cognitiva foram acessadas de imediato e contribuíram, por exemplo, com a 19 noção de frame (modelo de memória) e com a Teoria dos Protótipos (modelos psicológicos de categorização). Por desenvolver uma análise linguística a partir do uso (conhecimento do mundo através da linguagem) podemos dizer que a Linguística Cognitiva é pragmaticamente orientada, tanto teórica quanto metodologicamente. 2.1.2 Gramática: conceptualização de uma rede de Construções Ao estudar fenômenos linguísticos postos de lado pela agenda gerativista, os linguistas cognitivos puderam afirmar que a estrutura conceptual não pode ser reduzida a uma simples correspondência entre as condições de verdade de um enunciado e as coisas do mundo. Um dos aspectos mais importantes da habilidade cognitiva humana é a conceptualização da experiência a ser comunicada e também do conhecimento linguístico que possuímos. Essa conceptualização remete a duas competências cognitivas humanas fundamentais: a categorização e a perspectivização. A categorização é um processo mental de identificação, classificação e nomeação de diferentes entidades como membros de uma mesma categoria. Segundo a Linguística Cognitiva, esse processo se dá na base do reconhecimento de protótipos, ou seja, exemplares típicos e mais representativos. Ao se tentar categorizar, o que se busca é reconhecer similaridades parciais e estabelecer um grau de parecença que permita a nova categorização. A perspectivização, por sua vez, caracteriza uma habilidade cognitiva primária da percepção visual que é a distinção entre figura e fundo. Nos estudos da semântica cognitiva, principalmente naqueles entabulados por Charles Fillmore, a correspondência dessa capacidade visual é a noção de cena/enquadramento. Nessa abordagem, os predicadores linguísticos evocariam cenas que, por sua própria natureza, estão predispostas a diferentes perspectivas (diferentes olhares), a depender de quem olha e daquilo que se queira focalizar e os significados, assim, estão intimamente atrelados a essas cenas perspectivizadas. A noção de perspectiva é fundamental até mesmo na 20 produção/interpretação de enunciados frequentes na linguagem cotidiana: o fato de dizermos que O livro está em cima da mesa abre uma perspectiva diferente em relação a uma escolha que, apesar de possível, é no Português do Brasil bastante improvável, caso se dissesse que A mesa está embaixo do livro. As opções lexicais e sintáticas que os falantes fazem refletem a perspectiva que eles tomam diante de uma dada cena, estabelecendo os focos de atenção a que se quer dar relevo. Salomão (1999) cita como exemplo de Construção Gramatical, totalmente vulnerável à perspectivização, a modificação adjetival em expressões como uma boa prova que pode ser dita pelo professor e, dessa perspectiva, significar um bom conjunto de questões avaliativas; já dita pelo aluno muda de perspectiva e passa a significar um bom conjunto de respostas, capaz de garantir uma boa nota. No paradigma cognitivista, portanto, a gramática é um sistema de organização conceptual, já que as categorias que a constituem são simbólicas, isto é, significativas (simbolizam um conteúdo conceptual) e devem, por isso mesmo, ser consideradas respeitosamente nessas duas dimensões. A gramática, como um sistema de símbolos, implica, na verdade, um conjunto de pares forma/sent ido, ou seja, um repertório de Construções Gramaticais. Dentro dessa perspectiva, léxico e gramática não se separam e a motivação de ambos resulta das funções conceptuais e semânticas. Langacker (1987), com sua Gramática Cognitiva, e Fillmore (1988), com a Gramática das Construções, são os dois expoentes maiores na exploração dessa natureza simbólica da gramática. 2.1.3 O conhecimento linguístico emerge do uso da língua Para a Linguística Cognitiva, as categorias e estruturas da linguagem são construídas, num processo indutivo de abstração e esquematização, a partir de nossa cognição de enunciados específicos em situações comunicativas também específicas. Essa teoria, portanto, consegue abrigar, entre seus dados, aquelas Construções altamente especificadas que foram abandonadas pelo paradigma gerativo, exatamente por serem consideradas idiossincrasias. 21 O corolário fundamental que permeia a valorização do uso linguístico é o de que a linguagem é parte integrante da cognição, ela é um meio pelo qual se dá a relação epistemológica entre sujeito e objeto e que, portanto, revela muito do nosso conhecimento de mundo. Pressupõe-se, de antemão, que fatores situacionais, biológicos, psicológicos, históricos e socioculturais são necessários e originários na configuração da estrutura linguística. A prevalência da semântica e a crença na natureza enciclopédica e perspectivista do significado derivam da concepção da categorização como função básica da linguagem: se a linguagem categoriza o mundo, não pode, pois, dele se dissociar. Contudo, a linguagem não espelha o mundo de forma objetiva, ela é um meio de o interpretar e de o construir, de organizar conhecimentos que refletem as experiências dos indivíduos e das culturas. Por isso, como método, podemos afirmar que a Linguística Cognitiva é um Modelo Baseado no Uso (LANGACKER, 1987; CROFT; CRUSE, 2004). Para tanto, vale-se da observação do uso real das expressões linguísticas com base em corpora. A questão que se coloca é, pois, a necessidade de se fundamentar e mpiricamente as interpretações das enunciações linguísticas na experiência individual, coletiva, histórica nelas fixadas, no comportamento interacional e social e na fisiologia do aparato conceptual humano. Como já sabemos, no paradigma da Linguística Cognitiva, as mentes individuais não são vistas como entidades autônomas, mas como entidades encarnadas, corporificadas, que mantêm com o ambiente uma constante interatividade. É nesse processo interativo entre cognição e linguagem que as estruturas conceptuais se criam, se modificam, enfim, se desenvolvem. É devido a isso que o paradigma cognitivo da linguagem é uma versão inteiramente contextualizada do significado. 22 2.1.4 Todo processo de significação procede pela projeção entre domínios cognitivos Não é a Linguística Cognitiva que “inventa” a noção de projeção entre estruturas linguísticas. Quando o modelo chomskiano lança mão de regras transformacionais tem-se aí um processo de projeção entre duas estruturas formais. No entanto, a natureza das projeções em cada um dos modelos difere na essência. No paradigma cognitivista, as operações projetivas se dão para relacionar diferentes tipos de bases de conhecimentos e não são propriedades inerentes a nenhum tipo de linguagem especial, como a linguagem poética, por exemplo. Muito pelo contrário. Na década de 80, o trabalho pioneiro de Lakoff e Johnson demonstrou que processos figurativos, especialmente os metafóricos, permeiam toda a linguagem cotidiana, refletindo-se e motivando grandemente as gramáticas das línguas naturais. Ao definir a metáfora como um modo de compreender um domínio em termos de outro, Lakoff e Johnson (1980[2002]) destacaram- na como uma operação conceptual de projeção entre domínios de fundamental importância e é a Teoria dos Espaços Mentais, de Fauconnier (1997) que irá reforçar o papel central que essa operação cognitiva exerce na cognição humana. Segundo Fauconnier, há três tipos de projeções entre domínios: i) projeções de domínios conceptuais estruturados (MCIs) que projetam parte de um domínio em outro. As metáforas e as analogias seriam exemplos desse tipo de projeção; ii) projeções de funções pragmáticas, quando dois domínios relevantes e locais correspondem a duas categorias de objetos, que são projetados um em outro por uma função pragmática. A metonímia seria um exemplo desse tipo; iii) projeções de esquema, quando um esquema geral abstrato é usado para estruturar uma situação no contexto. As Construções Gramaticais são casos desse tipo de projeção. O processo cognitivo de projeção que revela correspondências homológicas entre domínios é um modo eficiente e econômico da mente criar e interpretar novos significados. 23 2.2 COMO OS ESTUDOS DA METÁFORA ENTRAM NESSA HISTÓRIA? Se eu tivesse que precisar a época em que a metáfora adquiriu status de objeto digno de estudo na Linguística, diria, automaticamente, que foi a partir dos estudos de Lakoff e Johnson, na década de 80, que culminam na obra seminal Metaphors we live by, publicada em 1980 2 . Para quem sabe um pouco da história da linguística, fica fácil imaginar que tal interesse pela linguagem figurativa tem seu motivo: é essa linguagem que será capaz de desafiar o rigor formal chomskiano e desapontar os resultados de toda uma linha de pesquisa, baseada no idealismo de um falante/ouvinte ideal e na crença do significado linguístico como resultado da simples soma da contribuição semântica das partes. A dissidência gerativista, portanto, busca na língua os fatos nos quais se percebe, com clareza, que nenhuma das premissas anteriores podem ser validadas. A pesquisa empreendida sobre os pedaços de linguagem que deixavam os pressupostos gerativistas desamparados, inevitavelmente, fez emergir novas questões que eram instigantes por si só, e, dentre essas questões, está a metáfora. Os pedaços de linguagem a que me refiro e que impuseram ao paradigma chomskiano o desafio de se fazer validar são, principalmente, as velhas e conhecidas expressões idiomáticas. São elas que garantem aos semânticos gerativistas rebelados que: i) a soma das partes constituintes da expressão não tem exatidão matemática, ou seja, não produz um resultado previsível; ii) para que essas expressões tenham sentido, todo o contexto comunicativo, incluindo o falante, precisa ser muito bem localizado. É exatamente a falta de precisão matemática, ou seja, é exatamente a propriedade da linguagem de não ser a soma de dois mais dois que levou os estudiosos da linguagem à metáfora. Raciocinando nesses termos com a Língua Portuguesa, poderíamos exemplificar com a expressão “bater as botas”. Somando as partes, teríamos que ter necessariamente o significado de “segurar um tipo de calçado (bota) e arremessá-lo contra um outro 2 Obra traduzida para o Português em 2002, pelo Grupo de Estudos da Indeterminação e da MetáforaGEIM, com o título ‘Metáforas da vida cotidiana’. 24 objeto (uma outra bota, por exemplo)”. Todavia, fora da idealização, os sujeitosfalantes do PB dificilmente entenderiam esse idioma nesses termos. Para tanto, seria necessário que o contexto fosse muito bem demarcado, de modo que o sentido algébrico pudesse aflorar, algo como: Após caminhar no barro, fui obrigada a bater as botas para entrar em casa. Isso porque no Português do Brasil, o sentido de “bater as botas” é outro, completamente diferente e imprevisto, original. Nenhuma regra gramatical é capaz de dar conta do significado mais usual dessa expressão, a saber, “morrer”. A questão é: de onde vem esse significado? Se não sabemos de onde ele surge, uma certeza nós temos: somente das palavras é que não é. A falta de objetividade da expressão, no entanto, não nos lança, como poder-se-ia pensar, ao abismo da arbitrariedade; existe, para aqueles que fa zem um esforço consciente de entendimento do idioma “bater as botas”, uma certa intuição de algo motivado, não pelas palavras que compõem a expressão, mas pela cena conceptual que ela evoca. Tal cena, contudo, requer conhecimentos de mundo e vivências específicas que jamais foram considerados pela doutrina gerativista. O compartilhamento da mesma cena conceptual pelos falantes de uma dada comunidade é capaz de gerar a linguagem a ela apropriada e o entendimento a que se quer chegar. Bater as botas, portanto, tem a ver, na cultura brasileira, com a posição do corpo quando se está morto. Daí todo um campo semântico muito próximo entre esta e outras expressões como: “juntar os pés”, “ir para a terra dos pés juntos”, “esticar as canelas”. Evidentemente que um grau maior de convencionalização de uma metáfora leva, no eixo da sincronia, à perda da motivação semântica. Essas reflexões, todavia, seriam mais simples se não estivéssemos tratando de uma expressão, mas sim de uma palavra? Por tudo que foi dito acima, fica parecendo que sim, porém, na verdade, quando se trata da construção do sentido, nada é muito simples. Evans e Green (2006), em um capítulo cujo título é O que significa saber uma língua?, discutem as diferentes interpretações do verbo “pular”. Para instigar a reflexão, os linguistas propõem o enunciado O gato pulou o muro e dão quatro opções de gráfico da trajetória que poderia m ser evocadas pelo predicador pular. Qualquer falante, entretanto, não hesita em marcar a trajetória em arco como sendo a que descreve com mais adequação o sentido da frase proposta. Fica evidente que a trajetória em arco não é 25 especificação do predicador “pular”, já que em outros enunciados, como por exemplo, em O atleta pulou do trampolim; O sapo pulou do chão para a parede, a trajetória interpretada é outra. As palavras, portanto, são “gatilhos” para a produção do sentido, referindo-se a uma realidade projetada, ou seja, uma realidade tal qual representada e construída pela mente humana, mediada pelos nossos sistemas perceptual e conceptual. Nesse sentido, a metáfora aparece como ferramenta cognitiva capaz de mediar a experiência do real e sua conceptualização através da linguagem. Os estudos da linguagem registram, em sua história, o nome de três linguistas principais que teria m o mérito de serem os fundadores da teoria da Linguística Cognitiva: Ronald Langacker, Leonard Talmy e George Lakoff. É esse último que traz a pesquisa da metáfora para dentro da agenda linguística. Lakoff participava do movimento heterodoxo da semântica gerativa e, como tal, procurava revisar e elaborar teorias para os fenômenos linguísticos tratados de modo tradicional ou não tratados pelo modelo gerativo: Durante esse período, eu tentava unificar a gramática transformacional de Chomsky e a lógica formal. Eu havia ajudado a desenvolver muitos dos detalhes mais recentes da teoria de gramática de Chomsky. Noam argumentava então-e ainda o faz, pelo que eu saiba- que a sintaxe é independente do significado, do contexto, de conhecimentos de base, da memó ria, do processamento cognitivo, da intenção comunicativa, e de qualquer aspecto do corpo. Trabalhando nos detalhes de sua primeira teoria, eu encontrei vários casos em que a semântica, o contexto, e outros fatores influenciariam as regras que governam as ocorrências sintáticas dos 3 sintagmas e dos morfemas”. . Na década de 70, como o foco de atenção estava naqueles fenômenos que o paradigma gerativo não havia investigado, ocorreu uma onda desenfreada de estudos dos processos figurativos (ZANOTTO, MOURA, NARDI, VEREZA, 2002, p.33). Em 3 During that period, I was attempting to unify Chomsky's transformational grammar with formal logic. I had helped work out a lot of the early details of Chomsky's theory of grammar. Noam claimed then — and still does, so far as I can tell — that syntax is independent of meaning, context, background knowledge, memory, cognitive processing, communicative intent, and every aspect of the body...In working through the details of his early theory, I found quite a few cases where semantics, context, and other such factors entered into rules governing the syntactic occurrences of phrases and morphemes3 . Entrevista “Philosophy in the flesh” A talk with George Lakoff”. Disponível em http://www.edge.org/3rd_culture/lakoff/lakoff_p1.html A partir desta, todas as traduções não identificadas devem ser consideradas como de minha autoria. 26 1975, Lakoff toma conhecimento de várias pesquisas desenvolvidas dentro das ciências cognitivas, dentre essas, a neurofisiolo gia da visão das cores (BERLIN; KAY, 1978), a percepção prototípica das categorias (ROSCH, 1979), os conceitos de relações espaciais (TALMY, 1988) e os frames semânticos (FILLMORE, 1975). A partir desses estudos, Lakoff decide se enveredar por uma Linguística que supusesse uma teoria de mente corporificada e a metáfora como um de seus mecanismos fundamentais. Nesse contexto de efervescência, Lakoff e Johnson lançam, em 1980, a obra que irá promover uma ruptura paradigmática nos estudos da metáfora: Metáforas da vida cotidiana. Essa virada paradigmática (ZANOTTO et al. 2002, p.12) vem no rastro de uma reformulação filosófica e epistemológica que ancora a Linguística Cognitiva, a saber, o experiencialismo. Este seria, segundo Lakoff e Johnson (1980 [2002]), uma terceira via entre o objetivismo e o subjetivismo radicais e que reconheceria o verdadeiro status da metáfora na medida em que esta une razão e imaginação: A razão de focalizarmos tanto nossa atenção sobre a metáfora é que ela une razão e imaginação. A razão, no mínimo, envolve a categorização, a implicação, a inferência. A imaginação, em um de seus muitos aspectos, implica ver um tipo de coisa em termos de um outro tipo de coisa, o que denominamos pensamento metafórico. A metáfora é, pois, uma racionalidade imaginativa” (LAKOFF; JOHNSON,1980[ 2002], p.302). A metáfora, como expressão da racionalidade imaginativa, passa a ser vista como operação cognitiva fundamental no processo de conhecimento do mundo através da linguagem. Enunciações representam estruturas conceptuais e, como tais, são metafóricas por natureza. Tais estruturas conceptuais fundamentam-se na experiência física e cultural dos indivíduos e, por consequência, também as metáforas. O sentido, portanto, jamais é descorporificado ou objetivo. Essa nova concepção da metáfora coloca em xeque o que na tradição ocidental se acreditava sobre a verdade, o sentido e a compreensão. Segundo Lakoff e Johnson (1980[2002]), a metáfora serve de base a essas novas assunções epistemológicas por quatro razões principais: i) na tradição objetivista, a metáfora é vista como apenas marginalmente relevante, excluída totalmente do estudo 27 da semântica; ii) como a metáfora está presente tanto em nossa linguagem como em nosso sistema conceptual, ela é central a uma explicação da verdade e do sentido; iii) a metáfora é um dos mecanismos mais básicos que temos para compreender nossa experiência; iv) a metáfora pode criar sentidos novos, criar similaridades e, desse modo, definir uma nova realidade. Para os autores da Teoria da Metáfora Conceptual (TMC), os elementos básicos de uma explicação experiencialista da compreensão seriam as propriedades interacionais, as gestalts experienciais e os conceitos metafóricos. Sem esses, qualquer tratamento de questões humanas torna-se inadequado. A compreensão emerge da seguinte maneira: a natureza de nossos corpos e de nosso ambiente físico e cultural impõe uma estrutura sobre nossa experiência. A experiência recorrente leva à formação de categorias que são gestalts experienciais. Essas gestalts definem a coerência em nossa experiência. Compreendemos diretamente nossa experiência quando vemos que ela é estruturada de forma coerente em termos de gestalts que emergiram diretamente da interação com (e em) nosso meio. Compreendemos a experiência metaforicamente quando usamos uma gestalt de um domínio da experiência para estruturar a experiência em outro domínio”. (LAKOFF ; JOHNSON, 1980 [2002], p.348) As diversas pesquisas das ciências cognitivas levaram Mark Johnson e George Lakoff a postularem três assunções principais: (i) a mente é inerentemente corporificada;(ii) a maior parte do nosso pensamento é inconsciente; (iii) os conceitos abstratos são altamente metafóricos. Os itens (i), (ii) e (iii) constituem as premissas fundamentais de todo um corpo teórico a que se chama Teoria da Metáfora Conceptual (TMC). O tópico (i), especificamente, promove a valorização dos estudos de um dos subtipos de metáfora conceptual, a saber, as metáforas primárias. Dentro do arcabouço da TMC, são as pesquisas sobre as metáforas primárias que ratificam a importância e a influência do corpo na estruturação do nosso sistema conceptual e, por consequência, na estruturação da linguagem. Porém, o trabalho de Lakoff e Johnson (1980 [2002]) embora seja um marco, não tem o mérito de construir, como se pensa, os principais pressupostos teóricos da Teoria Cognitiva da Metáfora. Jakel (1997) é um dos autores que não reconhece Lakoff e Johnson como predecessores dessa teoria. Segundo ele, na Alemanha, três autores: 28 Kant, Blumenberg e Weinrich, caminhando por trilhas diferentes, estabelecem mais do que antecipações dos principais pressupostos da Teoria Cognitiva da Metáfora. Para Jakel, o que esses autores escreveram sobre metáfora, enquanto tentavam reconstruir a história de conceitos filosóficos, fazer observações linguístico-filosóficas da linguagem cotidiana, ou ainda, perscrutar a compreensão humana são, na verdade, preciosas contribuições epistêmicas e metodológicas cuja influência na teoria de Lakoff e Johnson, embora não explicitamente colocada, fica evidente a um olhar mais acurado. Antes, porém, da teoria cognitiva, não havia a metáfora como objeto de reflexão? Por tudo que foi colocado acima, fica parecendo que tal reflexão surge somente a partir da segunda metade do século XX, entretanto a metáfora é um “assunto que ocupou a humanidade por 2.500 anos” (SARDINHA, 2007, p.17). O objeto de estudo “metáfora”, embora sendo o mesmo, ganha diferentes enfoques a depender do ponto de vista a partir do qual ele é olhado. De início, as abordagens tradicionais viram na metáfora apenas uma figura de linguagem cuja função seria a de ornar os discursos ou mesmo um recurso de oratória para enganar os ouvintes/leitores. Nesse contexto, portanto, a metáfora é apenas mais uma dentre as inúmeras figuras de linguagem que foram categorizadas a partir dos quatro tipos primordiais elencados por Aristóteles 4 . Nesse contexto, também, não existe um esforço teórico de reconhecimento da metáfora como fenômeno linguístico de estatuto especial. O que vigora é a intuição de que essa figura de linguagem se faz por meio de uma comparação implícita entre duas coisas não relacionadas, como o exemplo clássico de Aristóteles A velhice é a tarde da vida5 . A análise etimológica do termo grego que nomeia tal figura também estabeleceu um consenso sobre o que seria a metáfora: meta significando mudança e pherein significando carregar, levando a crer que a metáfora institui a transferência de sentido de uma coisa para outra. Assim, o primeiro alicerce no qual os primeiros estudos teóricos sobre a metáfora irão se apoiar baseia-se no binômio comparação/ transferência. 4 Segundo Aristóteles, haveria quatro tipos de metáfora: do gênero para a espécie, da espécie para o gênero, da espécie para a espécie e de analogia. 5 Poética,III,IV,1, p.282 29 2.2.1 A metáfora como comparação implícita Embora a definição tradicional de metáfora, ora como comparação implícita entre duas entidades, ora como transferência de significado entre duas coisas, vigore até hoje como senso comum, tal definição não está isenta de questionamentos que põem em dúvida a sua adequação descritiva. Tomando como base o Português do Brasil, por exemplo, poderíamos começar indagando o porquê de a língua portuguesa disponibilizar dois recursos diferentes para o mesmo propósito semântico (no caso, a comparação e a metáfora). Antes de qualquer coisa, isso já fere os princípios de economia e eficiência que regem as línguas naturais. Além disso, os falantes do PB sentem intuitivamente que o célebre enunciado shakespeareano Julieta é o sol 6 , por exemplo, não equivale plenamente à sua provável paráfrase Julieta é como o sol. Além disso, vê-se que a diferença entre metáfora e comparação não é de natureza apenas semântica, mas também pragmática. Notamos isso claramente em enunciados típicos da linguagem cotidiana que estabelecem dois contextos e dois sentidos distintos para, por exemplo, (i) Ele é o pai; ii) Ele é como o pai. Em um encontro de interação social entre algumas mães e seus filhos, o enunciado (i) terá sentido em uma situação na qual alguém, vendo pela primeira vez o filho de um conhecido, diz que ele é muito parecido fisicamente com o seu pai. No entanto, o enunciado (ii) remete, nessa mesma situação, a uma semelhança que não é física, mas comportamental. A razão disso talvez seja porque na símile o domínio-alvo não se integra com o domínio- fonte, ele apenas a este se assemelha, mantendo, portanto, sua integridade. Já na metáfora, cria-se um novo domínio que não é nem o domínio fonte, nem o domínio alvo e onde os dois se fundem a partir dos mapeamentos selecionados. Uma rápida pesquisa no Google apontou outra possível diferença que parece haver entre a metáfora e a símile: a de que nesta o domínio-fonte existe concretamente, já naquela o domínio- fonte pode existir em um espaço virtual, inventado, criado pela imaginação. Os enunciados encontrados no Google são, na maioria, como os exemplos abaixo, nos quais o domínio- fonte se ancora referencialmente no espaço do real: a) Ele é como nós. 6 Shakespeare, W. Romeu e Julieta. Ato 2, cena 2. 30 (igreja-presbiteriana.org/Dialgreja/EB04.htm) b) Ele é como um mestre ou padrinho para quem a gente pode ligar e perguntar qualquer coisa. (art-bonodo.com/carlosvonschmidt/artes/aldemirdeaaz/23.html) c) No futebol, ele é como a Capela Sistina, perfeito, não pinta um ponto a mais. (jbon-line.terra.com.br/jb/papel/paginadois/2001/08/25/jorpg220010825001.html ) A liberdade em relação ao domínio-fonte, todavia, permite que se tenham metáforas como A esperança é um urubu pintado de verde 7 , na qual o domínio- fonte só tem existência no espaço da virtualidade, da imaginação. Talvez seja por isso que Marcuschi (2007) afirme que o conectivo “como” funciona, na verdade, como “um ladrão de metáforas”. Segundo ele, “não é possível afirmar que todas as metáforas tenham base na comparação”. Parafrasear determinadas metáforas em comparações explícitas faz com que estas percam toda a sua força cognoscitiva, tornando-as triviais. Neste sentido a metáfora como que produz a comparação e não a formula simplesmente: a comparação é, no máximo, um resultado da metáfora e não o contrário (...) Basicamente, é um sistema cognoscitivo que entra em ação e não uma atividade lógica. (MARCUSCHI, 2007, p.130) 2.2.2 A metáfora como transferência de significados Se já foi difícil argumentar sobre a coerência de se tratar a metáfora como comparação implícita entre duas entidades, mais penosa ainda é a tarefa de sustentar a definição da metáfora a partir da noção de transferência de significado. A dificuldade se coloca primeiro na minha incapacidade de definir com precisão o que seja significado. Segundo, porque minha experiência como falante, ouvinte e leitora de metáforas me permite afirmar que a relação de sentido entre domínio- fonte e domínioalvo é sempre parcial, nunca plena. 7 Verso de autoria de Mário Quintana. 31 E isso já torna essa discussão ainda mais complexa, na medida em que, se concordamos que a metáfora é uma transferênc ia de significado, pela lógica seremos também obrigados a acreditar que o significado pode ser desmembrado a ponto de permitir uma transferência parcial de alguns de seus aspectos. Para exemplificar essa questão, vou lançar mão de uma expressão metafórica por mim inventada: i) Seus olhos são duas jabuticabas maduras. A cena que tal expressão evoca é a de alguém cujos olhos redondos são muito pretos e brilhantes. Sabemos, entretanto, que o domínio- fonte, no caso, jabuticabas não significa apenas algo redondo, preto e brilhante. Tal descrição, por si só, não daria conta de distinguir uma jabuticaba de uma bolinha de plástico ou mesmo de uma uva. Portanto, na metáfora acima, existem mais propriedades semânticas que delimitam a referencialidade das jabuticabas que não foram transferidas ao domínio-alvo (no caso, olhos), mas que podem ser acionadas em outras leituras, como por exemplo, numa situação discursiva que enquadre a sedução poder-se-ia incluir o desejo que as jabuticabas despertam quando estão maduras, ou ainda, o conhecimento de mundo de que jabuticabas são rapidamente perecíveis poderia levar a uma leitura de que os olhos que se assemelham a jabuticabas maduras perdem o viço de uma hora para outra. Esse exemplo, embora simples, nos dá a dimensão do quão difícil é definir o que seja significado e do quanto é ingênuo achar que definir a metáfora como transferência de significado resolve a questão. O fato mais intrigante é que a metáfora não funciona em termos semânticos com o que é mais raso, mais evidente no domínio- fonte. Por exemplo, se fizéssemos uma pesquisa perguntando às pessoas o que é jabuticaba, a maior parte delas se ateria em dizer que jabuticaba é uma fruta. No entanto, essa parte do significado é a que menos tem relevância na metáfora por mim inventada, porque com esse pedaço de sentido, eu poderia produzir outras dúzias de expressões metafóricas (Seus olhos são duas ameixas, duas maçãs, duas mangas...) e em nenhuma delas essa seria a informação mais relevante, isto é, não seria essa propriedade (ser fruta) selecionada no mapeamento capaz de dar conta do objetivo comunicativo da metáfora criada. 32 O significado do domínio que serve como fonte em uma operação de metaforização pode, penso eu, ser visto como componencial (Hipótese Fraca da Composicionalidade) 8 . Contudo, as camadas que o formam são de diferentes naturezas e origem: uma delas se forma a partir do conhecimento acadêmico, aprendido em dicionários ou na escola (saber que jabuticaba é fruta, por exemplo); outra, porém, advém da nossa experiência com a entidade escolhida como domínio- fonte (experimentar a jabuticaba, degustá- la, conhecê- la através dos cinco sentidos) e outra ainda advém do conhecimento adquirido com a vivência dessas experiências (passar a gostar ou a odiar jabuticabas, lembrar-se da infância, sentir saudade dos avós). A depender de quantas camadas de sentido tem o domínio-fonte para o interpretante, a metáfora Seus olhos são duas jabuticabas maduras pode variar entre não fazer sentido algum a fazer mais de um sentido. Não bastassem todas essas variáveis, que vão desde a objetividade mais direta até a subjetividade mais específica, entra nessa relação entre significado e metáfora a influência inequívoca do contexto, que é o fator que realmente assegura e avaliza a interpretação metafórica. Podemos ver tal influência em enunciados inequivocamente ambíguos: a) Magnólia é uma flor; b) Josefina é um docinho; c) Lucilene é uma tartaruga; como em enunciados cuja ambiguidade não é tão evidente: d) Você é a escada na minha subida9 ; e) A liberdade é um cachorro vira-lata10 . A ambiguidade a que me refiro é ter de escolher entre uma leitura “literal” (Magnólia é realmente o nome popular de uma flor) e uma interpretação metafórica (há pessoas com o nome de Magnólia que podem ser avaliadas como “flor”, ou seja, como bonitas, delicadas, agradáveis). Mas a crença na existência de significados literais contrapondo-se a significados metafóricos também é muito polêmica e, por isso, será tratada em uma seção específica. 8 Tal hipótese implica dizer que o significado de Construções mais específicas não se conforma ao significado previsto em regras de interpretação semântica de Construções regulares, genéricas, demandando regras semânticas mais específicas. Nesses termos, as idiossincrasias se distribuem em todos os níveis de toda rede construcional de uma língua, não estando restritas, portanto, ao nível do léxico, como postula a Hipótese Forte da Composicionalidade dentro dos paradigmas formalistas (MIRANDA, 2009, p.12). 9 Verso da canção Esperando na janela, do grupo Cogumelo Plutão. Frase de Millôr Fernandes. 10 33 2.2.3 Mas, então, como definir a metáfora? Nas duas seções precedentes, pretendi mostrar que, apesar das grandes e importantes contribuições que os primeiros estudos sobre a metáfora promoveram à luz de novos aparatos teóricos, essas contribuições, no entanto, têm se mostrado insuficientes para explicar com adequação descritiva como se processa a produção/interpretação da metáfora. Embora não se tenha um conjunto teórico homogêneo e bem delineado sobre esse tema, algumas premissas já se tornaram ponto de partida das mais recentes pesquisas em metáfora, a saber: 1) a metáfora não é somente um recurso de linguagem, limitado à função de embelezar o discurso, principalmente o poético; 2) a metáfora faz parte do dia a dia das pessoas e se reflete sobremodo na linguagem cotidiana, ou seja, é um fenômeno da linguagem em uso; 3) a metáfora é uma operação de natureza cognitiva e, como tal, influencia o modo de ver e de agir das pessoas; 4) as pesquisas em metáfora iluminam muito as questões sobre linguagem e pensamento humanos e a relação entre essas dimensões fundamentais da natureza humana. A partir desses “ganhos” epistemológicos, diferentes versões teóricas irão se delinear, marcando cada qual sua diferença sobre aquele aspecto do objeto que se torna o foco do estudo. Dessa forma, nas pesquisas mais recentes sobre metáfora, podemos destacar duas linhas teóricas que realmente tiveram impacto em termos epistemológicos, ou seja, na constituição de novos conhecimentos: a) Teoria da Metáfora Conceptual; B) Teoria da Integração Conceptua l. 34 2.2.3.1 A metáfora na Teoria da Metáfora Conceptual Do ponto de vista da Teoria da Metáfora Conceptual (TMC), tal qual concebida por Lakoff e Johnson (1980[2002], p.48), a metáfora é uma operação cognitiva que nos permite “compreender e experienciar uma coisa em termos de outra”. A sequência do processo cognitivo desencadeado pela metáfora seria, nesse modelo, primeiramente conceptualizar um domínio, geralmente de caráter abstrato, em termos metafóricos, ou seja, tentar entendê-lo a partir de um outro conceito de caráter mais concreto. A seguir, essa reconceptualização metafórica de um conceito influenciaria nossas atividades mais cotidianas e, por conseguinte, nossa linguagem também seria estruturada metaforicamente. Nessa teoria, portanto, a metáfora não é uma figura de linguagem, mas sim uma atividade do pensamento, situada no sistema conceptual humano. A linguagem é, pois, mero reflexo desse processamento cognitivo de tentar entender um conceito novo, abstrato, a partir de um conceito já conhecido (Lakoff; Johnson, 1980 [2002]. Desse modo, a metáfora é vista como uma ferramenta cognitiva epistemológica, ou seja, é uma atividade da mente humana capaz de produzir novos conhecimentos. A metáfora como operação cognitiva subjacente tem a linguagem como uma “janela para a cognição 11 ”, isto é, a análise criteriosa e sistemática dessa relação entre domínios concretos e domínios abstratos revelar-nos-ia muito sobre o sistema conceptual dos seres humanos. Os domínios referidos na TMC dizem respeito a qualquer área da experiência ou conhecimento humanos. Há, pois, dois tipos de domínio: fonte e alvo. O domíniofonte é aquele a partir do qual conceptualizamos alguma coisa metaforicamente. É o que serve como base por ser, tipicamente, mais concreto; o domínio-alvo, por sua vez, é 11 FAUCONNIER,G. (to appear). Introduction to Methods and Generalizations .In T. Janssen and G. Redeker (Eds). Scope and Foundations of Cognitive Linguistics. The Hague: Mouton De Gruyter. Cognitive Linguistics Research Series. Disponível em: http://cogweb.ucla.edu/Abstracts/Fauconnier_99.html 35 aquele de que necessitamos conceptualizar metaforicamente devido à sua natureza mais abstrata. O entendimento do domínio-alvo se dá por meio dos mapeamentos que se fazem entre este e o domínio-fonte. Segundo Sardinha (2007, p.32), outros pontos importantes dessa teoria seriam: a) a teoria da metáfora conceptual se contrapõe à visão lógico-positivista do mundo, negando a existência de verdades absolutas e relacionando os mapeamentos entre domínios aos valores ideológicos e culturais de uma dada comunidade linguística; b) o acesso às metáforas conceptuais é automático e inconsciente; c) o corpo humano é a origem de muitas metáforas conceptuais ; d) uma metáfora conceptual pode existir independentemente de haver uma expressão metafórica que a represente ipsis litteris. O termo metáfora conceptual se refere a uma ampla gama de tipos de metáforas, classificadas de acordo com a natureza do domínio-fonte e o tipo de mapeamentos que se estabelece entre os domínios fonte e alvo. Existem, pois, as metáforas estruturais, aquelas que, como o próprio nome diz, estruturam um conceito em termos de outros, ou seja, passam a existir a partir de mapeamentos complexos. Essas metáforas fundamentam-se em correlações sistemáticas encontradas em nossa experiência. O exemplo mais citado é o da metáfora estrutural DISCUSSÃO RACIONAL É GUERRA, realizada linguisticamente em muitas expressões metafóricas, como mostra o exemplo abaixo: Câncer 21/6 a 21/7 Você suspeita que dessa vez não haverá como deixar de ter a vitória nas discussões em andamento, pois encontrou razões fortes o suficiente para alimentar esta certeza. Porém, discussões são como guerras, todos perdem, ninguém ganha. 12 12 Jornal Tribuna de Minas, de 11 de abril de 2008, Caderno Dois, página 4.Horóscopo assinado por Oscar Quiroga. 36 As metáforas orientacionais, por sua vez, possuem no domínio- fonte uma orientação espacial, agregada a um julgamento de valor, originado de nossas experiências corpóreas. O fato, por exemplo, de relacionarmos uma postura ereta a um estado emocional positivo e, por outro lado, relacionarmos um postura caída a estados emocionais ne gativos, como depressão e tristeza, licencia expressões metafóricas como “de cabeça erguida” e “Minha cara foi no chão”, muito usadas no Português do Brasil: Minha cara foi no chão. Calei a boca no mesmo minuto. Pedi zilhões de desculpas com a voz igual de criança. Eu ali dando crise de ciúme e ele fazendo uma surpresa pra mim. Que cruel que eu fui. (cc.msnscache.com/cache.aspx?q=72921349240752&mkt=pt-BR&lang=pt-Rw=841bdf65&FORM=CVRE ) Há, ainda, as metáforas ontológicas, as quais Lakoff e Johnson (1980[2002], p.75) chamam de Metáforas de entidades e de substância porque servem ao propósito de conceber eventos, atividades, emoções, ideias, entre outras coisas abstratas como entidades e substâncias, originárias de nossas experiências com objetos físicos: Enquanto aguardava na fila da agência o meu pensamento viajou, para o conteúdo da próxima palestra - Hoje será melhor. Na minha imaginação via as cenas já ensaiadas, culminando com os resultados que esperava conquistar: os aplausos da platéia, feliz e satisfeita. (http://www.widebiz.com.br/gente/rribeiro/descubraaintencaopositivaevendamais.html) Quando o mapeamento se dá a partir de relações homológicas em que o domínio-alvo herda propriedades humanas, a metáfora ontológica recebe o nome de personificação: Hoje, aos 28 anos, Cristiano considera-se na sua melhor forma, mais experiente e capaz de ajudar o time do Sergipe a reconquistar sua hegemonia no futebol sergipano. Segundo o atleta, ele recebeu uma boa proposta de um outro clube, mas preferiu optar por jogar no Sergipe. “Deixei o coração falar mais alto”, foi a explicação dele. (cssergipe.wordpress.com/2007/12/18/o-coracao-falou-mais -alto-diz-cristiano/) 37 A coerência sistemática das metáforas conceptuais advém do fato de serem estas construídas com base na nossa experiência corporal e, porque se está falando da conceptualização do corpo e não do corpo propriamente dito, há enormes diferenças de cultura para cultura, de tempos em tempos. Contudo, nossos corpos compartilham de inúmeras semelhanças e são esses aspectos convencionalizados de nosso sistema conceptual que tendem a ser estruturados. Ao nos comunicarmos, acionamos o mesmo sistema conceptual disponível para outras atividades cognitivas, por isso, Lakoff e Johnson (1980 [2002]) chegaram à conclusão de que a linguagem seria uma fonte de evidências importante sobre como funciona esse sistema, uma janela para a mente. A análise de um conjunto de expressões linguísticas mostrou que nossa conceptualização do mundo é fortemente metafórica, pois buscamos compreender um conceito (domínio) mais abstrato em termos de um outro conceito mais concreto. O que seria, portanto, nossa conceptualização de um domínio como DISCUSSÃO na cultura ocidental? Pelas pistas linguísticas fica evidente que nós, ocidentais, concebemos uma discussão nos mesmos termos em que compreendemos uma guerra, logo a metáfora conceptual que estrutura grande parte do nosso pensar e do nosso agir na discussão é DISCUSSÃO É GUERRA. As evidências linguísticas, ou melhor dizendo, as expressões linguísticas metafóricas dessa metáfora conceptual permeiam tanto a linguagem cotidiana: a)Quem ganhou o debate presidencial?; b)Lula destruiu o Alkmin no debate13 , quanto a linguagem poética: c)Lutar com palavras é a luta mais vã/ entanto lutamos mal rompe a manhã14 . 2.2.3.2 A metáfora na Teoria da Integração Conceptual Essa é uma teoria cujo foco da análise também é o pensamento e, nesse sentido, a Teoria da Integração Conceptual compartilha de muitos aspectos com a TMC, sendo consideradas, pois, teorias complementares (GRADY; OAKLEY ; COULSON, 1999). 13 14 www.jornaldedebates.ig.com.br O Lutador, de Carlos Drummond de Andrade. 38 Enquanto a Teoria da Metáfora Conceptual baseia sua definição na pressuposição da existência de dois domínios: um fonte e o outro alvo, a metáfora, na Teoria da Integração Conceptual, requer o acionamento de quatro espaços mentais, ou seja, quatro estruturas parciais e temporárias construídas pelos falantes, sendo que um deles é o da integração entre os dois domínios-input. Tem-se, portanto, um espaço genérico que, grosso modo, representa o que os espaços-input têm em comum, ou seja, é o domínio que estabelece a base das homologias. Os dois espaços-input equivalem ao domínio- fonte e ao domínio-alvo da TMC, exceto por uma maior parcialidade. Um quarto espaço é o espaço da mescla ou da integração, no qual o material conceptual selecionado dos dois domínios-input se mesclam e criam um novo domínio. No entanto, “o espaço de mescla não contém somente uma seleção de propriedades originárias do dois espaços-input: ele também contém material conceptual novo que surge a partir da elaboração do espaço mescla baseado em conhecimento enciclopédico”(CROFT; CRUSE, 2004, p.208). Fauconnier e Turner (2002), no entanto, enfatizam em vários momentos da obra The way we think que os mapeamentos metafóricos são exatamente os mesmos da linguagem não metafórica. Os autores exemplificam com a construção XYZ que tanto se realiza em Paulo é o pai de Sally (não metafórico) quanto em A necessidade é a mãe da invenção (metafórico). Em ambos os enunciados, os esquemas de mapeamentos são os mesmos, o que difere são “os tipos de redes de integração dentro desses esquemas”. 15 No caso dos enunciados acima exemplificados, o primeiro é um caso de um composto de duas redes simples e o segundo, metafórico, é um composto de duas redes de duplo escopo, ou seja, em A necessidade é a mãe da invenção, os inputs são diferentes frames organizadores, havendo um frame organizador também para a mescla (blend) que inclui partes de cada um desses frames e tem estrutura emergente própria, sendo que os frames de entrada contribuem para a mescla a tal ponto que seu resultado é altamente criativo (FELTES, 2007, p.123). Isto se dá, porque na concepção de Fauconnier e Turner (2002) a imaginação tem ampla latitude para recrutar, projetar e mesclar conhecimento de fundo (background knowledge), informações contextuais e dados de memória para desenvolver um 15 “On the other hand, even as the mapping schemes remain the same, the particular kinds of integration networks within those schemes are different” . FAUCONNIER e TURNER , 2002,p.158. Op.cit. 39 significado pleno de um dado esquema de mapeamento. Por sua vez, também os esquemas de mapeamentos têm amplitude suficiente para selecionar domínios e elementos de contrapartes. O que limita a liberdade da imaginação de modo que nem “tudo possa acontecer” é a existência dos frames, do conhecimento de fundo, das experiências, dos cenários e da memória. 2.3 A INSERÇÃO DO CORPO NA MENTE Nos fins dos anos 70, quando o mito do objetivismo começou a ser questionado e o significado deixou de ser visto como a manipulação algorítmica de símbolos que corresponderiam diretamente a coisas do mundo, uma nova opção de modelo ou crença instituiu as estruturas originadas das experiências corpóreas como um aspecto fundamental do sistema conceptual humano. Nessa abordagem, a noção que se tem de corpo é genérica, relacionada às origens corporificadas das estruturas imaginativas da compreensão. Esta, por sua vez, compreende as estruturas imaginativas que emergem de nossas experiências como seres vivos em interação com o meio ambiente. Por fim, o termo “experiência”, entendido em sentido amplo, inclui programas motores e perceptuais básicos, dimensões emocionais, históricas, sociais e linguísticas, ou seja, “tudo aquilo que nos faz humanos”. 16 Evidências empíricas mostravam a todo o momento que a correspondência direta e imediata entre os símbolos e o mundo violava nossa compreensão mais primária sobre a natureza do significado (JOHNSON, 1987). Desafiando a visão objetivista da semântica estavam as pesquisas sobre categorização, as quais instituíram os esquemas, as metáforas, as metonímias e os esquemas imagéticos, ou seja, os processos imaginativos, como fatores primordiais na atividade de categorização exercida pelo homem: “Qualquer explicação adequada do significado e da racionalidade tem que dar um lugar central às estruturas imaginativas e corporificadas da compreensão através das quais compreendemos nosso mundo.” 17 Além disso, os estudos sobre categorização 16 JOHNSON,M. 1987, p. xvi. Everything that makes us human. JOHNSON,M. 1987,p.xiii. “ any adequate account of meaning and rationality must give a central place to embodied and imaginative structures of understanding by which we grasp our world”. 17 40 viram que tais processos imaginativos estavam intimamente relacionados à natureza do corpo humano, especialmente às nossas capacidades perceptuais e motoras. Em outras palavras, sob esse enfoque, por meio da imaginação, as experiências corpóreas tornamse cada vez mais abstratas e passam a configurar modelos cognitivos. Segundo Johnson (1987), o corpo foi ignorado pela visão objetivista porque ele foi pensado como introduzindo elementos subjetivos que, nessa visão, são irrelevantes ao significado. Isto porque a razão sempre foi vista como abstrata e transcendente, ou seja, sem nenhum vínculo com os aspectos corpóreos da compreensão humana. Nos estudos empíricos dos processos imaginativos, os quais fazem surgir a crise do significado, a corporificação deste e da compreensão humana se manifesta cada vez mais, criando padrões de estruturas imaginativas da experiência. Uma das mais importantes estruturas imaginativas da experiência são, sem dúvida, as projeções metafóricas, concebidas por Johnson (1987, p.xiv) como um modo pervasivo de compreensão pelo qual nós projetamos padrões de um domínio da experiência para estruturar um outro domínio de tipo diferente. A metáfora é, portanto, uma das estruturas cognitivas chefes, por meio da qua l “somos capazes de ter experiências ordenadas e coerentes sobre as quais podemos pensar e das quais podemos fazer sentido. Por meio dela, fazemos uso de padrões que prevalecem em nossas experiências físicas para organizar nossa compreensão mais abstrata” (JOHNSON, 1987, p.xv). 18 A inserção do “corpo na mente”, para Johnson, ocorreria de dois modos: i) nossos movimentos e interações em vários domínios físicos da experiência são estruturados e estas estruturas podem ser projetadas pela metáfora em domínios abstratos; ii) a compreensão metafórica não é simplesmente uma questão de projeção imaginativa e arbitrária de alguma coisa em algo, sem nenhum tipo de limite ou restrição: as experiências corpóreas não só restringem o input das projeções metafóricas como também operam sobre a própria natureza das projeções, ou seja, sobre os tipos de mapeamentos que ocorrem entre os domínios. Logo, não é arbitrária, por exemplo, a projeção que fazemos em MAIS É PARA CIMA. O esquema da verticalidade é 18 We are able to have coherent, ordered experiences that we can reason about and make sense of. Through metaphor, we make use of patterns that obtain in our physical experience to organize our more abstract understanding. 41 estruturado a partir de experiências corpóreas cotidianas de, por exemplo, adicionar líquido a um recipiente e vê-lo encher-se de baixo para cima ou de empilhar objetos e perceber o empilhamento crescer verticalmente. São essas experiências que fornecem a base física para nosso entendimento abstrato da quantidade. O ponto a que Johnson (1987) e, mais tarde, Lakoff e Johnson (1999), Grady (1987), Fauconnier e Turner (2003) e Feldman (2006) querem chegar é que o fato de sermos/termos um corpo influencia diretamente o que e como as coisas fazem sentido para nós. O argumento base que sustenta essa tese é o de que os movimentos corpóreos, a manipulação de objetos, as interações perceptuais envolvem padrões recorrentes sem os quais nossas experiências seriam caóticas e incompreensíveis. A esses padrões recorrentes, Johnson chama de esquemas imagéticos, devido ao fato de eles funcionarem primariamente como estruturas imagéticas abstratas. São também gestálticos, na medida em que consistem de partes que só funcionam na sua relação e organização com o todo (JOHNSON, 1987, p.xix). Johnson (1987) alega que os esquemas imagéticos tanto geram quanto restringem os complexos padrões de significado. Dentre esses esquemas, ele destaca a gestalt da FORÇA. Para sobrevivermos, diz Johnson, dependemos de sermos capazes de exercemos a força tanto quando agimos sobre um objeto como quando estamos subjugados por este, isso resulta em um papel fundamental da estrutura imagética da força em nosso sistema conceptual. Nosso corpo é um aglomerado de forças e todo evento do qual fazemos parte, consiste, minimamente, de forças na interação, mas só nos damos conta disso quando a força é extremamente forte. No entanto, a onipresença dessa experiência torna essa estrutura gestáltica uma das mais importantes para nossa compreensão e comunicação. O esquema da FORÇA tem as seguintes características: (i) a força é sempre experienciada através da interação. Não existe nenhum esquema de força que não envolva interação ou interação potencial (JOHNSON, 1987, p.43); (ii) nossa experiência de força frequentemente envolve o movimento de algum objeto através do espaço em alguma direção, ou seja, esse esquema tem uma propriedade vetorial, uma 42 direcionalidade; (iii) tipicamente, há apenas uma trajetória de movimento, mas em casos menos prototípicos (explosões, por exemplo) a força se move em múltiplas direções, criando um número de trajetórias potencialmente infinitas; (iv) forças têm origens ou fontes e porque elas são direcionais, os agentes podem direcioná-las aos alvos; (v) forças têm graus de intensidade ou poder; (vi) há sempre uma estrutura ou sequência de causalidade envolvida. A força, na verdade, é o meio pelo qual realizamos interações causais e, embora possamos pensar a força em termos abstratos como vetores de força, todas as forças reais são experienciadas por nós como sequências causais. No domínio da razão, existem forças relacionadas metaforicamente aos tipos e estruturas de forças que atuam em nossa experiência sociofísica. Portanto, não é de se estranhar que nossas ações linguísticas estejam também sujeitas a forças, metaforicamente entendidas. Assim, argumenta Johnson, além da força física, da força social e da força epistêmica, existe um nível de dinâmica de forças nos atos de fala (força ilocucionária), baseada na gestalt da força elaborada metaforicamente e da qual a metáfora do conduto 19 é um exemplo. Segundo Kövecses (2006), muitos componentes do sistema conceptual humano são organizados em termos das dinâmicas de força, ou seja, vários esque mas imagéticos são centralizados ao redor da noção de “força”. Talmy (1988) foi quem primeiro observou essa dinâmica e seus reflexos na linguagem. Segundo ele: A primeira distinção que a linguagem marca é um papel diferente entre as duas entidades que exe rcem as forças. Uma entidade executora da força é escolhida para ser o foco de atenção- a questão saliente na interação é se esta entidade está apta a manifestar sua tendência de força ou, ao contrário, se está superada. A segunda entidade de força, correlativamente, é considerada pelo efeito que tem sobre a primeira, efetivamente conquistando-a ou não. Um evento descrito em termos de dinâmica de forças envolve: (i) as entidades de força: um agonista e um antagonista; (ii) resultado da interação da força: ação ou repouso; tendência à força intrínseca: em direção à ação ou ao repouso; equilíbrio de forças: a entidade mais forte e a entidade mais fraca. 19 REDDY, M. J. The conduit metaphor - a case of frame conflict in our language about language. In. A. Ortony (Ed.), Metaphor and Thought. 1.ed. Cambridge: Cambridge University Press, 1979, p. 284-297. 43 A metáfora opera, também, no nível das projeções e elaborações de esquemas imagéticos e exerce um papel constitutivo na estruturação de nossa experiência (JOHNSON, 1987; SILVA, 2006). Portanto, “as estruturas conceituais significativas surgem de duas fontes: (i) da natureza estruturada da experiência corporal e social; e (ii) de nossa capacidade inata de projetar, pelos mecanismos da razão, certos domínios estruturados da experiência corporal e interativa, para domínios de natureza abstrata” (FELTES, 2007). 2.3.1 As metáforas primárias Lakoff e Johnson (1999) afirmam que somos seres neurais20 e a metáfora parece ser um mecanismo que nos permite adaptar os sistemas neurais usados em atividades sensório-motoras para criarmos formas de raciocínio abstrato. Para esses linguistas cognitivos, qualquer raciocínio demanda o trabalho das estruturas neurais do cérebro cuja arquitetura determina quais conceitos temos e os tipos de raciocínio que podemos fazer. Seguindo uma tendência de otimização de tarefas, o cérebro, segundo os autores, teria uma estrutura conceptual já formada e a partir dela sofreria acréscimos de acordo com as necessidades. Da perspectiva biológica, essa estrutura conceptual primária teria se formado (e ainda se forma) a partir do nosso sistema sensório- motor. A metáfora tem a função de permitir que imagens mentais convencionais, originadas no sistema sensório-motor, sejam usadas para a compreensão de experiências subjetivas. Na obra Philosophy in the flesh (1999), Lakoff e Johnson descrevem a teoria da metáfora primária como sendo composta de quatro partes: i) a teoria da conflação, de Christopher Johnson, cujo argumento é de que, na primeira infância, as crianças tendem a conflatar experiências cujas bases não são sensório- motoras com experiências de origem sensório- motora, de tal modo que elas se tornem indistintas. O exemplo típico é 20 “We are neural beings”. Philosophy In The Flesh"-A Talk With George Lakoff . http://www.edge.org/3rd_culture/lakoff/lakoff_p1.html 44 a metáfora AFEIÇÃO É CALOR, estruturada a partir da sensação agradável de calor, quando somos segurados pelas nossas mães. Embora a capacidade de diferenciação das experiências conflatadas surja com o tempo, os mapeamentos interdomínios da primeira infância permanecem ativos, daí a recorrência de expressões linguísticas metafóricas como recepção calorosa, pessoa distante; ii) a teoria da metáfora primária, de Grady: afirma que há metáforas moleculares (atômicas) que formam as metáforas complexas. Essas metáforas atômicas, surgidas naturalmente pela conflação, são as metáforas primárias; iii) a teoria neural da metáfora, de Narayanan, cujo argumento defende uma ancoragem neural dos mapeamentos feitos no período da conflação: após serem ativados mais de uma vez, as conexões neurais tornar-se-iam permanentes, formando uma rede neural que serviria como base para as implicações metafóricas; iv) teoria da mesclagem conceptual, de Fauconnier e Turner que parte do princípio de que domínios distintos podem se mesclar para formar um terceiro domínio. Lakoff e Johnson (1999), em sua teoria integrada (as quatro partes da teoria da metáfora primária postas juntas), chegam às seguintes conclusões: 1o ) adquirimos um grande sistema de metáforas primárias de modo totalmente automático e inconsciente, simplesmente por estarmos vivos e ativos desde os mais tenros anos; 2o ) nós não temos o menor controle sobre esse processo de formação e aquisição das metáforas primárias. 2.3.1.2 A metáfora primária CAUSAS SÃO FORÇAS FÍSICAS Na descrição das metáforas primárias de Lakoff e Johnson (1999) são considerados três aspectos essenciais à sua formação: o julgamento subjetivo; o domínio sensório-motor e a experiência primária. O julgamento subjetivo é uma experiência subjetiva, vivenciada a partir de uma experiência paralela e simultânea a uma operação sensório- motora. No momento da conflação, essa correlação se instancia neurologicamente, estruturando uma rede neural que servirá de base para diversas implicações metafóricas. 45 Na descrição da metáfora primária CAUSAS SÃO FORÇAS FÍSICAS a instanciação da correlação neural estaria assim esquematizada: Julgamento subjetivo: realização/obtenção de resultados Domínio sensório-motor: execução de força Experiência primária: obtenção de resultado por exercer força sobre objetos físicos, para movê-los ou mudá- los. Na teoria da metáfora conceptual, Lakoff e Johnson (1980[2002]) classificam os conceitos em duas categorias: a) aqueles que emergem diretamente; b) aqueles que emergem metaforicamente com base nas nossas experiências. No entanto, admitem os autores que tal distinção não é clara, sendo a maioria dos conceitos hibridamente construídos. Dentre esses está o conceito da causalidade que parece ter um núcleo de emergência direta, que é elaborado metaforicamente. Nessa teoria, a causalidade é caracterizada como um conceito humano básico, uma gestalt experiencial cujo protótipo é a manipulação direta. Como esse conceito tem a ver com obtenção de resultados, podemos afirmar, sem dúvida, que ele é fundamental ao nosso funcionamento no mundo, já que somos seres inegavelmente intencionais, nas palavras de Tomasello (1999[2003]) “um agente intenciona l- ou seja, um ser cujas estratégias comportamentais e de atenção são organizadas em função de metas”. Lakoff e Johnson (1980[2002]) enumeram as doze propriedades prototípicas da gestalt experiencial da causalidade, a saber: 1- o agente tem como objetivo a mudança de estado do paciente; 2- a mudança de estado é física; 3- o agente tem um plano para atingir o seu objetivo; 4- o plano exige que o agente use um programa motor; 5- o agente tem controle do programa motor; 6- o agente é o principal responsável pela realização do plano; 46 7- o agente é a fonte de energia e o paciente é o alvo da energia; 8- o agente toca o paciente ou com seu corpo ou com um instrumento; 9- o agente realiza o plano de maneira bem sucedida; 10- a mudança no paciente é perceptível; 11- o agente monitora a mudança no paciente por meio de percepção sensorial; 12- há um único agente específico e um único paciente específico. Segundo Tomasello (1999[2003], p.32), a cognição intencional/causal se diferencia de outros tipos de cognição, na medida em que exige por parte do indivíduo a compreensão das relações antecedente-consequente entre eventos externos, sem seu envolvimento direto. Até aí primatas e humanos dividem uma mesma capacidade. No entanto, a capacidade humana excede à dos primatas não humanos no ponto em que o entendimento da causalidade e da intencionalidade também requer o reconhecimento das forças mediadoras atuantes nesses eventos externos. Estas não são observáveis diretamente e explicam porque uma sequência antecedente-consequente ocorre de uma determinada forma, não de outra. Portanto, os processos de raciocínio causal/intencional têm a mesma natureza: evento antecedente > força mediadora > evento consequente. Diferentes eventos antecedentes podem produzir a mesma força que causa o evento consequente. Assim poderíamos ter: a) O vento sopra, a árvore balança e, consequentemente, a fruta cai. b) Alguém (um co-específico) sobe na árvore, faz com que ela balance e, consequentemente, a fruta cai. c) O próprio sujeito sobe na árvore, faz com que ela balance e, consequentemente, a fruta cai. Essa gestalt experiencial de natureza física se representa da mesma forma que uma gestalt experiencial social que, na hipótese de Tomasello (1999/2003), é a origem do raciocínio causal, usado para prever e explicar comportamento dos co-específicos, sendo, somente em um segundo estágio, transposta para explicar e prever o comportamento de objetos. 47 A primeira compreensão causal de eventos físicos por parte das crianças deriva, a meu ver, de sua compreensão intencional de eventos sociopsicológicos externos. Este é o fundamento da compreensão causal, que emerge, sobretudo, durante o segundo ano de vida. (TOMASELLO, 1999[2003], p.97) A sequência do raciocínio causal a partir de um evento social seria, por exemplo, a seguinte: a) Uma pedra cai, o sujeito se assusta, o sujeito foge. b) Um predador aparece, o sujeito se assusta, o sujeito foge. c) Um barulho ocorre, o sujeito se assusta, o sujeito foge. Lakoff e Johnson (1980[2002]) situam a origem do raciocínio causal na experiência de manipular diretamente um objeto, já Tomasello (1999[2003]) acredita na sociogênese desse tipo de raciocínio. Mais coerente com a teoria de mente corporificada é acreditar que o raciocínio causal nasça da experiência direta com objetos. Há pesquisas, na área de Psicologia, que comprovam que a fase da criança de jogar inúmeras vezes um objeto (brinquedo) ao chão para que um adulto o pegue ensina- lhe a compreender, por exemplo, que quando os pais saem do seu campo de visão, eles, como os objetos, voltarão para sua companhia. É bem provável também que a cognição humana se desenvolva a partir dos dois inputs: interação com o meio físico e a interação com o meio social. As vantagens do pensamento intencional/causal, para Tomasello (1999[2003]), seriam duas: i) esse tipo de cognição permite que nós resolvamos problemas de modo criativo, flexível e presciente. Isso é importante, porque mesmo que o evento antecedente seja distinto do usual, a observação da presença da força mediadora induz a um cálculo inferencial do evento conseque nte, ou seja, se a árvore balançar, a fruta irá cair. Do mesmo modo, diferentes eventos antecedentes podem ser “testados” para produzir a mesma força mediadora e assim por diante. Logo, o raciocínio causal é um elemento-chave no controle das situações usua is ou novas; ii) o raciocínio causal tem poderosa função transformadora em processos de aprendizagem social. 48 2.4 PROBLEMATIZANDO O ESTUDO DA METÁFORA 2.4.1 O sentido literal e o sentido metafórico 21 Se as palavras engatilham algo, o que é que elas efetivamente engatilham? (MARCUSCHI, 2007) Qualquer linguista que resolva escrever sobre metáfora vê-se obrigado, pela tradição, a assumir que, contrapondo-se a um sentido metafórico, existe necessariamente um sentido literal que lho permite postular. Assim, o pesquisador opta entre duas atitudes mais correntes: ou assume a existência do sentido literal sem problematizá-lo, como faz a grande maioria, ou remexe a problemática da literalidade sem, contudo, chegar a um bom termo. Verdade é que a noção da literalidade faz mais sentido quando se acredita que a metáfora é um uso figurativo da linguagem. Também quando se crê que uma expressão metafórica pode ser parafraseada em linguagem “normal”. Todavia, na medida em que o olhar sobre o fenômeno da metáfora mudou e as pesquisas, principalmente as engendradas sob a perspectiva da psicolinguística, se ampliaram, essa noção de sentido literal entrou em crise, a chamada crise da literalidade (VEREZA, 2007). Sadock (1992), ao tocar nesse dilema da análise semântica sob uma perspectiva linguística, conclui que tanto a literalidade quanto a figuratividade não caracterizam categorias bem definidas, sendo mais bem tratadas como os dois extremos de uma escala. Rumelhart (1992), por sua vez, adota uma perspectiva psicológica, mas chega, no entanto, a essa mesma conclusão: a distinção entre linguagem literal e linguagem metafórica não se reflete numa mudança qualitativa dos processos psicológicos envolvidos no processamento da linguagem. Do ponto de vista da produção/ compreensão, portanto, a linguagem metafórica não tem um estatuto especial, já que “o processo de adequar palavras a uma determinada situação é o mesmo nos dois casos 21 Um estudo relevante e pormenorizado dessa questão é feito por VEREZA, 2007. 49 [produzir linguagem literal ou metafórica]- a saber, encontrar a melhor palavra ou conceito para comunicar a ideia que se tem na cabeça” (RUMELHART, 1992, p.73). 22 Se na esfera da academia a polêmica permanece, a dicotomia sentido literal/ sentido metafórico existe de fato no conhecimento de senso comum que as pessoas têm sobre a linguagem, metalinguisticamente referida (VEREZA, 2007, p.25), quase sempre, pela expressão “modo de dizer”. Ocorre, porém, que o que o senso comum reconhece como metáfora está aquém daquilo que a Teoria da Metáfora Conceptual garante ser metafórico. Ou seja, as pessoas não têm dificuldade em dizer que o enunciado a) João é um leão é metafórico, mas se lhes fosse perguntado se há metáfora na frase b) João está em perigo, provavelmente elas diriam que não. Se em b há metáfora, vê-se que há um desencontro entre o conceito de literalidade das pessoas e o dos metaforicistas cognitivos. A dúvida sobre a literalidade ou não de uma sentença acontece até mesmo com enunciados menos sutis. Rumelhart (1992) dá como exemplo João é uma pessoa fria.23 Segundo ele, se fosse perguntado se a sentença é literalmente verdadeira em um contexto em que se pudesse interpretar João como uma pessoa pouco afetiva, as respostas seriam no mínimo três: i) não, João não é realmente frio, portanto é metafórico; ii) sim, “frio” tem várias acepções e uma delas é ser “ pouco afeito a emoções”; iii) em parte sim, e em parte não. Originalmente “frio” na acepção de pouco emocional é metafórico, mas esse uso se convencionalizou, tornando-se um idioma. Dentro do idioma, o enunciado é literal. Cada uma dessas respostas implica crenças e questionamentos bastante diferentes. Na alternativa (i) nos vemos diante da complexa tarefa de decidir o que é e o que não é metáfora, incluindo aí as metáforas convencionais; se escolhemos a (ii) fechamos os olhos a uma rica relação que existe entre temperatura de um lado e estados emocionais de outro 24 , refletidos em diferentes expressões linguísticas, como cabeça quente, sangue frio, recepção calorosa, soltando fumaça pelas ventas, e usos corriqueiros como o exemplo a seguir: 22 “Yet the process of applying words to situations is much the same in the two cases- namely that of finding the best word or concept to communicate the idea in mind”. 23 RUMELHART, D. 1992,p.80. 24 Vale lembrar os trabalhos de Kövecses ( 1986;1995) sobre a raiva. 50 A mensagem tem tudo pra ser minha vida. Convivo o tempo todo com gente morna. E o pior é que sou quente ou fria. Não há nada de pior do que a omissão. (http://somostodosum.ig.com.br/blog/blog.asp?id=1320 ) Se, em contrapartida, adotamos a alternativa (iii), sofreremos o julgo de sermos acusados de falta de rigor teórico, além de termos de explicar a diferença de natureza entre os idiomas do tipo (iii) e, por exemplo, os plenamente especificados como “bater as botas” ou ainda aqueles cuja origem metafórica não é tão visível, conforme a expressão “valer a pena”. Portanto, a crença na existência do sentido literal representa uma escala que vai desde a afirmação de que não existe sentido literal nem metafórico, só existe o sentido, passa pela assunção de que sentido literal e metafórico convivem em plena harmonia e chega ao ponto máximo com a afirmação de que só existem sentidos metafóricos. . Segundo Marcuschi (2007), o foco da polêmica sobre o sentido literal está em se determinar quando o contexto opera no processo cognitivo de modo que sentidos nãoliterais sejam evocados. Apoiado fortemente no artigo de Giora (2002), Marcuschi cita três modelos teóricos que tentam estabelecer o papel do contexto na criação do sentido. São eles: (i) o modelo pragmático estândar; (ii) o modelo do acesso direto e, por fim, (iii) a hipótese da saliência gradual. O primeiro modelo (modelo das implicaturas de Grice) se apóia na noção de prioridade temporal e alega que o contexto só é acionado quando há incompatibilidade entre a interpretação inicial (sem influência externa) e aquela que se deseja. Logo, haveria uma interpretação literal obrigatória em primeira mão e, em caso de incompatibilidade, recorrer-se- ia a ajustes de sentido compatíveis com o contexto. O sentido não- literal, pois, seria acessado apenas por processos inferenciais. O segundo modelo, descrito em Giora (2002) e citado por Marcuschi (2007), é o modelo de acesso direto, cujo defensor mais notório é Raymond Gibbs. Ta l modelo considera que a única significação compatível é aquela relativa e adequada ao contexto. A hipótese da saliência gradual, por sua vez, baseia-se em experimentos que mostram que não processamos primeiro um sentido literal, daí a Hipótese da saliência 51 gradual (HSG) que trabalha com a noção de sentidos salientes, isto é, aqueles codificados primeiro independentemente de qualquer outro sentido literal ou contextual. A saliência, segundo Giora (2002) é uma questão de grau, determinada pela freqüência da exposição e da familiaridade experiencial com as significações em questão. Embora a autora afirme a independência do contexto na HSG, este tem papel predominante já na seleção do sentido a ser salientado, como bem nota Marcuschi (2007, p.88): Na realidade vejo uma dificuldade não tratada por Giora em (2002) e (2003) que é a presença do contexto já na seleção do sentido saliente. Pois me parece que saliência é uma função contextual e deveria ser tratada como tal. Assim saliência seria sempre ligada a um contexto mínimo. As pesquisas em Linguística de Corpus que estão em voga na agenda dos estudos da linguagem têm verificado exatamente isso: a recorrência de determinados contextos e de determinados sentidos faz com que nem sempre o tradicionalmente chamado “sentido literal” seja o mais frequente. O contínuo da saliência, portanto, se ancora em quatro propriedades básicas (GIORA, 2003): a) frequência; b) familiaridade; c) convencionalidade e d) prototipicidade/ estereotipia. A adoção da hipótese da saliência gradual mostra-se uma opção teórica interessante diante da polêmica dicotomia sentido literal/ sentido não-literal, na medida em que o contexto já se encontra embutido na própria noção de saliência, tornando sem sentido a classificação literal, não-literal, além do que admite certa autonomia da mente em relação a significados descontextualizados, o que vai ao encontro da nossa intuição como falantes e linguistas: “A informação contextual não pode dominar inteiramente nosso pensamento (...) Se [o contexto] dominasse inteiramente nosso pensamento ele solaparia o código linguístico”(GIORA, 2003). Tem-se visto nas pesquisas linguísticas mais recentes que a sustentação de noções elementares básicas em termos de contínuo, de gradiência, é muito mais producente do que a manutenção de dicotomias e polaridades que raramente resistem ao primeiro teste. Em 1997, Goatly também situou a discussão da diferença entre sentido literal e metafórico em termos de contínuo: 52 Nossa conclusão geral será a de que esta distinção é frequentemente uma questão de grau [...] Para entender o contínuo entre a linguagem metafórica e a literal, a natureza parcialmente indeterminada da comunicação e a indistinção dos conceitos linguísticos 25 precisamos entender como a comunicação funciona. Goatly (1997) propõe um modelo comunicativo composto de cinco estágios: a) um estado de coisas real e de natureza física; b) o pensamento do falante, de natureza mental, portanto; c) a proposição, que é o mais relevante por portar os pensamentos do falante, também mental; d) o texto com o qual se pretende comunicar ao outro a proposição desejada por meio de signos, ou seja, um artifício físico. O texto é decodificado pelo ouvinte para carregar a proposição completa, e e) a interpretação do pensamento do falante em termos do que o ouvinte acha que o falante quer comunicar. Para Goatly, portanto, é o tamanho da distância entre a proposição expressada e o significado pretendido que estipula uma maior ou menor metaforicidade: quanto maior a distância, mais metafórico o enunciado. Seria simples, desse modo, distinguir entre significados literais e metafóricos, porém o desalinhamento entre nossos conceitos e o mundo, os limites embaçados da prototipia, a vaguidade e a indistinção dos conceitos semânticos tornam essa tarefa impossível. A única possibilidade de sucesso nessa empreitada seria concordar que: o que os termo s da proposição significam terá de ser negociado no contexto social e de acordo com o co-texto.(...) A metáfora está localizada na interface entre a estabilidade e a unidade do sistema linguístico e a mutabilidade e 26 diversidade de seu uso operacional no contexto ( GOATLY, 1997, p.23). Negar a estabilidade e a unidade do sistema linguístico, contudo, levar-nos- ia a admitir o caos e a revivescência da Torre de Babel. Uma expressão como “voltar para casa” tem, inegavelmente, um sentido estável que nos permite dizer, independentemente do contexto, o que ela, a princípio, significaria. É inegável que, no contexto, a forma linguística ganha outros matizes e se enriquece. Na moldura do futebol, por exemplo, quando se diz que um determinado time “voltou para casa” está se 25 “Our general conclusion will be that the distinction is often a matter of degree (...)To understand the continuum between metaphorical and literal language, the approximative nature of communication and the general fuzziness of linguistic concepts we need to understand how communication works”. 26 “what the terms in the expressed proposition mean will have to be negotiated in the social context and according to the co-text.(…) Metaphor is located at the interface between the stability and unity of the language system and the mutability and diversity of its operational use in context”. 53 dizendo também que ele perdeu e foi desclassificado de uma disputa. Em outras molduras, tal expressão pode significar a retomada de um casamento, o fracasso profissional de alguém, dentre outros sentidos possíveis. O grande equívoco que as diferentes linhas de pesquisas cometem ao tratar explícita ou implicitamente a questão do sentido literal é, penso eu, ignorar dois pressupostos básicos do sociocognitivismo: 1) o princípio da escassez do significante; 2) a contribuição fundamental da Construção Gramatical na produção/interpretação do sentido (SALOMÃO, 1997; 1999). Fácil é comprovar que os signos linguísticos são, por natureza, escassos. O muito que dizemos se deve em parte aos poucos signos que usamos e em grande parte à moldura comunicativa na qual enquadramos o discurso, ao nosso interlocutor, às condições de produção do texto, enfim a uma gama bastante ampla de variáveis. Um enunciado como A seleção brasileira volta para casa mais cedo capitaliza tantas pressuposições que o sentido do todo se torna riquíssimo. Sabemos, por essa única expressão, que (i) a seleção do Brasil saiu do país para disputar um torneio; (ii) a seleção do Brasil foi derrotada; (iii) a seleção brasileira perdeu a possibilidade de vencer a disputa, donde se configura um caso de “evocação metonímica da totalidade complexa, via processo compressivo” (SALOMÃO, 2009a, p.24). Mais difícil, no entanto, é perceber a contribuição da Construção Gramatical na soma total do sentido de um enunciado. Todavia, de Aristóteles (A velhice é a tarde da vida) a Shakespeare (Julieta é o sol) a ubiquidade da metáfora se faz ver pela Construção X é Y. E isso não ocorre por acaso: tal Construção coloca sob a lupa a identificação do domínio-alvo (X) a partir do domínio-fonte (Y). Segundo Croft e Cruse (2004) a Construção X é Y instancia metáforas incomuns na linguagem cotidiana, ou seja, mais criativas e menos convencionalizadas. No PB, entretanto, existe uma lista bem grande de expressões metafóricas configuradas nessa Construção e cujo grau de convencionalidade não se discute. Tomo, como exemplo, as seguintes expressões linguísticas metafóricas: Fábia é uma galinha. O Alexandre é um doce. 54 Minha sogra é uma cobra. Meu pai é uma mãe. Meu namorado é um cachorro. O que distingue essas metáforas de outras ditas mais convencionais me parece ser o fato de nestas a interpretação metafórica ser inequívoca e consciente, devido à Construção Gramatical que as instancia. Em um nível mais sutil e, por isso, menos consciente, estão as expressões metafóricas que revelam metáforas convencionais, as chamadas metáforas conceptuais, estudadas por Lakoff e Johnson. Nessas também a Construção Gramatical tem papel preponderante. Para pensarmos sobre isso, proponho a contraposição de dois enunciados potenciais: a) Rebeca está alucinada; b) Rebeca está na pior. Pelo princípio da não sinonímia gramatical27 , Goldberg (1995) afirma que, embora se tenha uma configuração sintática muito semelhante, na medida em que essas sentenças não são iguais, instanciam, pois, Construções Gramaticais diferentes. A diferença está no uso da preposição locativa “em” em posição predicativa, acompanhada de um adjetivo, o que sugere a conceptualização metafórica ESTADOS SÃO LUGARES. Portanto, a Construção b promove uma interpretação metafórica, porém devido ao grau de convencionalidade dessa Construção, no eixo da sincronia, os falantes não se dão conta desse índice de metaforicidade. 2.5 METÁFORA E HIPÉRBOLE Desde o primeiro momento em que a metáfora passou a ser objeto de estudo, independentemente do ponto de vista sob o qual foi abordada, sua função na linguagem, no pensamento ou no discurso foi também objeto de especulação. Nesse percurso, a metáfora já teve a função de ornar os discursos, torná- los poéticos, também já foi reconhecida como recurso retórico capaz de enganar. Desde que Lakoff e Johnson (1980 [2002]) restituíram à metáfora o seu estatuto de operação cognitiva fundamental, as pesquisas sobre esse assunto têm procurado revelar o papel 27 Toda diferença na forma sintática leva a uma diferença no significado (ver p.81). 55 (ou papéis) do raciocínio metafórico no sistema conceptual humano. Em outras palavras, a busca que se empreende nas pesquisas que acreditam ser a metáfora uma ferramenta cognitiva primordial procura responder à pergunta: afinal, a metáfora nos serve para quê? Os dois autores citados, seguindo um raciocínio coerente com a própria definição que dão à metáfora, ou seja, experienciar um domínio abstrato em termos de outro domínio mais concreto, alegam que essa ferramenta cognitiva nos ajudaria a compreender melhor o mundo e, portanto, a melhor agir nele. Essa função, embora fundamental ao nosso sistema conceptual, não é a única que a metáfora parece desempenhar. O primeiro argumento do qual me valho é o fato de haver metáfora mesmo entre domínios que são concretos, como se nota no texto de Drauzio Varela : MAL DESEMBARQUEI no aeroporto Santos Dumont, dei de cara com uma jiboia contorcida que avançava em passo de procissão. Se o texto de Drauzio Varela parasse onde parei, qualquer leitor interpretaria as primeiras linhas como se houvesse, sabe-se lá por quê, uma serpente da espécie jiboia solta pelo aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Todavia, com a continuação do artigo, Drauzio esclarece para o leitor o que ele está chamando de jiboia: Era uma fila longa e grossa constituída por mulheres com trajes formais e homens de terno escuro, ejetados pelos aviões que aterrissavam no primeiro horário da manhã. 28 Na escala de concretude, tanto fila quanto jiboia ocupam a mesma posição. Os mapeamentos que Varela faz entre o domínio-alvo fila e o domínio- fonte jiboia não parecem ter uma motivação unicamente epistemológica, mas também uma necessidade de compartilhamento da experiência subjetiva. Ao se deparar com uma fila longa, grossa e com pontos escuros, esta evocou imediatamente uma imagem por ele já conhecida, a da jiboia, e para compartilhar não só o conhecimento, mas também a experiência, Varela cria a metáfora. Fica claro, também, que esta é uma metáfora hiperbólica, exatamente para 28 VARELA, Drauzio. A preguiça humana. Folha de São Paulo, seção Ilustrada, 12 de abril de 2008. 56 compartilhar a experiência de surpresa e espanto, vivenciada por Varela, ao ver tamanha fila para o elevador, composta por pessoas que não queriam subir alguns poucos lances de escada. Logo, além de seu caráter inegavelmente epistêmico, a metáfora possui também a propriedade de compartilhar experiências. Goatly (1997), considerando as três metafunções descritas por Halliday, a saber, a função ideacional, a função interpessoal e a função textual, reconhece treze funções da metáfora: 1) preenchimento de lacunas lexicais; 2) explicação e modelização; 3) reconceptualização; 4) argumento por analogia ou raciocínio falso; 5) ideologia; 6) expressão de atitude emocional; 7) decoração, disfarce e hipérbole; 8) cultivo de intimidade; 9) humor e jogos; 10) chamadas metafóricas para a ação ou resolução de problemas; 11) estruturação textual; 12) ficção; 13) aumento da memorização, do foregrounding e da informatividade. Não se trata, aqui, de dizer que uma função exclui necessariamente a outra. Não raro, elas se sobrepõem. A metáfora hiperbólica cumpriria, com maior predominância, a função de número 13, ou seja, caberia a ela a tarefa de aumentar a memorização, o foregrounding e a informatividade do texto. De certo modo, alega Goatly (1997, p.164), todas as metáforas são hiperbólicas, “porque elas dão peso extra às propriedades da similaridade”. 29 No entanto, ele chama de metáforas hiperbólicas àquelas que prendem a atenção, podendo aumentar a memorização, devido ao seu exagero deliberado, representando um movimento ao longo de uma escala de tamanho, quantidade ou violência. Esse tipo de metáfora combina dois propósitos: (i) expressa emoção e (ii) prende a atenção, resultando em contribuição efetiva para o foregrounding. Por isso, as metáforas hiperbólicas acabam sendo altamente informativas, compactando muitas ideias em um curto espaço. Além da natureza hiperbólica das metáforas em geral, Goatly (1997) chama a atenção para a atração exercida pela hipérbole nas interações faladas e na linguagem dos jornais. Neste caso, a hipérbole ocorre como força de persuasão para formar opinião. 29 A similaridade é definida nos termos de Tversky, ou seja, como modelo de contraste: a similaridade, S, entre A e B é uma função das propriedades compartilhadas por A e B (An B) e o peso dado a elas (?f), menos as propriedades possuídas por A, mas não por B (B – A) e o peso dado a elas (ßf). A escala f representa o peso, a ênfase ou saliência particular dados à similaridade ou contraste. O peso depende da saliência psicológica e pode não corresponder a similaridades lógicas e contrastes (GOATLY, 1997, p. 119) 57 No dia 3 de março de 2008, o jornal O Globo publicou uma matéria sobre uma manifestação popular ocorrida na Cidade de Deus, devido à morte de uma camareira, que foi atingida por tiros disparados por policiais, enquanto lavava roupa em sua casa. O marido, ao ser entrevistado, disse: “Os policiais entraram atirando e mataram uma borboleta. Minha mulher não fazia mal a ninguém. É uma tragédia. Ela morreu lavando a camisa do uniforme da nossa filha”. 30 Nesse discurso, a metáfora usada por um homem comum, do povo, serve a muitos propósitos: sem dúvida, que ela embeleza seu discurso, tornando-o mais poético e mais como vente. Inegável, também, que a metáfora escolhida funciona como recurso de retórica, fortalecendo a argumentação de que o crime cometido pelos policiais foi de uma estupidez gigantesca. Fica parecendo ainda que, ao escolher como domínio- fonte borboleta para fazer mapeamentos relacionados ao domínio-alvo esposa, o que o marido da camareira quis, realmente, foi enfatizar, hiperbolizar suas características mais relevantes ao contexto, a saber: sua fragilidade e sua inocência. Na linguagem cotidiana, a metáfora é usada a todo o momento como hipérbole. Não é à toa que pessoas que bebem muito são chamadas de “esponjas” e que, da mesma forma, aqueles que comem muito são chamados de “dragas”, como mostram os exemplos abaixo: 1) Dona esponja já incorporou Já incorporou brahmará Se alguém cantar pro seu santo subir Vai perder o topete, vai, vai, vai Dona esponja esculachaØ Bebe mais de cinco caixas Sem usar o toalete31 30 http://oglobo.globo.com/rio/mat/2008/03/07/moradores_da_cidade_de_deus_fazem_nova_manifestacao_ apos_enterro_de_camareira -426128530.asp 31 Trecho da letra de música Dona Esponja, de autoria de Zeca Pagodinho. Álbum Outros 58 2)Quinta-feira, 13 de Março de 2008 Scarlett Johansson é uma draga nas horas vagas Que duelo de gigantes!! De um lado Scarlett Johansson, de outro o perigoso alface! Ali ao lado ainda resiste bravamente uma bananinha frita..coitada...que treme já prevendo que a hora derradeira está chegando!!E quantos refrigerantes a tarada tomou? Cruzes, haja líquido para descer tanta comida!!Gatta, cuidado que isso ao lado é Celular, não vai jogar katchup pensando ser mais um pedaço de carne!! (http://topadanasestrelas.blogspot.com/2008/03/scarlett-johansson-uma-draga-nas-horas.html ) Há, no PB, além das Construções lexicais simples, Construções Gramaticais mais complexas que garantem a leitura da metáfora como hipérbole. A primeira delas se instancia em enunciados como: a) Aquilo não é uma mulher, é um avião. b) Isso não é um homem, é um monumento. Outra Construção que direciona a metáfora a uma leitura hiperbólica se realiza em enunciados como os exemplificados abaixo: c) Vilma é a Marilyn da Favela. d) Guilherme é o Pelé do time. 59 A Construção Gramatical de Hiperbolização, não raro, aparece em contextos nos quais se contrapõem duas ações desempenhadas pela entidade-sujeito, sendo que a primeira recebe uma leitura menos enfática que a segunda, como mostram os exemplos: e) Jogou muito mesmo. Acho que ele não tem empresário forte pra jogar ele lá. Mas joga muito mais bola que todos. Alex não joga1 ele humilha 2 www.coritibafc.com.br/forum/index.php Segundo Israel (1996), os itens lexicais possuem duas propriedades semânticas que são fundamentais na leitura de escalas pragmáticas (FAUCONNIER, 1975; 1980): o valor quantitativo (valor- Q) e o valor informativo (valor-I). O valor-Q pode ser alto ou baixo e se refere à posição do elemento dentro de uma ordem escalar, refletindo o fato notório de que uma porção mensurável de itens léxicos codifica alguma noção de quantidade ou grau; já o valor-I pode ser enfático ou abrandado e diz respeito à questão de que, no contexto e com relação às expectativas de base, algumas proposições são mais informativas do que outras. Ao caracterizar qualquer situação, um falante pode explorar esse recurso para apresentar sua enunciação como fortemente informativa e, por isso, enfática ou como fracamente informativa, portanto, abrandada, de acordo com seu objetivo comunicativo. No caso da leitura da metáfora como hipérbole, estamos diante de uma escala semântica que eleva o nível de informatividade da sentença, tornando-a enfática. Israel (1996) define as sentenças enfáticas como sendo aquelas que fazem uma afirmação mais forte do que o que era esperado. O valor-I, portanto, é uma propriedade sentencial. No entanto, por processo metonímico, pode vir a se tornar parte da semântica lexical, se o item léxico ocorrer frequente e sistematicamente em contextos enfáticos, passando a ser estereotipado como carregando uma força pragmática enfática. Logo, o valor-I é também uma propriedade pragmática das Construções na medida em que codifica uma atitude do falante frente ao conteúdo comunicado: enunciados enfáticos expressam envolvimento e compromissos intensos com o que é dito. 60 2.6 COMO A METÁFORA PODE DAR SENTIDO À FORMA 32 É notório o fato de que a TMC sempre privilegiou, em suas análises, a faceta cognitiva da metáfora, relegando a um segundo plano a pesquisa da instanciação linguística dessa operação cognitiva. Lakoff e Johnson (1980[2002]) não hesitam em afirmar que as expressões linguísticas metafóricas são evidências das metáforas conceptuais que estruturam nosso pensamento, sendo, pois, “janelas para a cognição”. No entanto, sabem os fundadores da TMC que a influência da metáfora no pensamento se faz de igual tamanho na linguagem, ainda que, nos momentos iniciais da TMC, essa importância tenha ficado sub focalizada. Esses autores argumentam que a metáfora pode, sim, dar sentido à forma linguística. Uma das evidências desse fato seria a própria linearidade da fala e da escrita, que, segundo eles, recobre a nossa metaforização do tempo como espaço, transposta para a linguagem. “Esse fato cria ligações diretas e automáticas entre forma e conteúdo, com base em metáforas gerais de nosso sistema conceptual” (1980[2002], p.220). A metáfora, portanto, é fonte de motivação da forma linguística. A metaforização espacial da linguagem leva, inevitavelmente, a outros desdobramentos. Um deles é a crença de que MAIS FORMA É MAIS CONTEÚDO. Por isso, quando queremos intensificar, enfatizar ou hiperbolizar uma enunciação, recorremos, frequentemente, à repetição de palavras: 30 Novembro, 2006 00:21 menina tamarindo. disse... ah nem me fale nisso. hoje acabei de perder meia hora da minha inutil exitencia vendo um psiquiatra diretor-sei-la-o-que de um ambulatorio exclusivo para transtornos alimentares e o jo só falou falou falou falou o que ele achava e falou e falou e falou. e o convidado lá com cara de tacho (ou taxo, não sei). 32 O título desta seção remete ao capítulo 20 da obra Metáforas da vida cotidiana (LAKOFF; JOHNSON, 1980[2002]). 61 Outros recursos, como o alongamento de uma vogal ou sílaba e a separação de sílaba por sílaba de algumas palavras, refletem essa mesma conceptualização. Terça-feira, 5 de Fevereiro de 2008 MA-RA-VI-LHO-SO! Pessoal, é o que vos posso dizer. Foram três dias fantásticos, com muita aventura e diversão pelo caminho… Choveu muito, mas não impediu que a descoberta fosse espectacular! As cores, o cheiro da terra molhada, o som da água… Para NUNCA esquecer! http://brincosdecereja.blogspot.com/2008/02/ma -ra -vi-lho-so.html Marista, o Arqui não pecava pela qualidade da formação cultural de seus mais de 3.000 alunos. Tínhamos teatro, cinema, dança, música, fanfarra e até coral, além, obviamente do catecismo deliciooooso do Irmão Segismundo (muitas vezes em latiiiiiiim). Fui expulso 2 vezes! Pudera, o homem marcava as aulas para as 7:00h de domingo e antes da missa, a qual éramos obrigados a ir. Perdia ponto quem não freqüentava. Sério! http://ideiadejerico.com/?p=312 Um desdobramento da conceptualização espacial da linguagem seria, também, a interpretação de que QUANTO MAIOR A PROXIMIDADE, MAIOR O EFEITO, cujas evidências se mostram: (i) apenas no nível semântico: De acordo com o ministro, um dos mais próximos a Lula, o presidente já explicou, em conversas internas, que nunca tomou empréstimo algum. “O que eu tenho a dizer é o que eu ouvi do presidente. Que ele não tomou empréstimo do PT, não reconhece empréstimo do PT, não pagou empréstimo do PT”, disse. (http://www.diarioon.com.br/arquivo/4154/nacional/nacional-36776.htm) 62 No exemplo, o uso da expressão um dos mais próximos significa com maior influê ncia; ou (ii) também no nível sintático no qual se tem uma proximidade de forma alterando a semântica do enunciado, como, por exemplo, em a)Eu não estou feliz; e b) Eu estou infeliz, em que o efeito da negativa se faz mais forte em b devido ao fato de o prefixo de negação in- estar agregado, ou seja, o mais próximo possível do adjetivo a que nega. Os enunciados causativos também são sensíveis à conceptualização QUANTO MAIOR A PROXIMIDADE, MAIOR O EFEITO, pois “quanto MAIS PRÓXIMA estiver a forma que indica a RELAÇÃO DE CAUSALIDADE da forma que indica o EFEITO, MAIS FORTE será o vinculo causal” (LAKOFF e JOHNSON,1980[2002], p.226). O uso de predicadores causativos que amalgamam causa e efeito em um evento único, matar, por exemplo, promove uma inferência de causalidade mais forte e mais direta, conforme podemos perceber nas sentenças: c) Os traficantes mataram três rapazes da favela; d) O tenente do exército fez com que três rapazes da favela morressem. Os exemplos c e d mostram que diferenças na forma indicam diferenças, ainda que sutis, no sentido e a “natureza dessas diferenças é dada pela metáfora QUANTO MAIOR A PROXIMIDADE, MAIOR O EFEITO ” (LAKOFF; JOHNSON,1980[2002], p.226). Os vínculos existentes entre a forma linguística e seu conteúdo, intermediados pela metáfora, podem ser notados desde a prosódia até o uso aparentemente arbitrário de algumas preposições. Portanto, as metáforas desempenham um papel importante na caracterização das regularidades da forma linguística, criando uma coerência com o nosso sistema conceptual que é também metafórico. A essa inter-relação coerente entre forma e conteúdo, via metáfora, estamos chamando de coerência metafórica da gramática. 63 3 GRAMÁTICA DAS CONSTRUÇÕES E TEORIA COGNITIVA DA METÁFORA: UM DIÁLOGO POSSÍVEL A Linguística Cognitiva colocou em sua pauta a Teoria da Metáfora Conceptual (TMC), conforme desenvolvida por Lakoff e Johnson na década de 80. Por sua vez, também, a gramática cognitivista assumiu, como modelo de descrição linguística, a teoria da Gramática das Construções. Nada mais natural, portanto, que ambas as teorias: a Teoria da Metáfora Conceptual e a Gramática das Construções se casassem para dar aos fenômenos linguísticos figurativos um tratamento descritivamente mais adequado. Nessa empreitada de coadunar duas teorias linguísticas relativamente recentes, os construcionistas se apoiam em dois conceitos de fundamental importância para os cognitivistas: a noção de extensão e a noção de esquema. O uso da noção de extensão relacionada ao estudo da metáfora não é novo. Em um primeiro momento, aqueles usos linguísticos aos quais a gramática tradicional não podia dar uma explicação totalmente lógica sempre foram designados de extensão metafórica. No âmbito dos estudos linguísticos, a noção de extensão caminha lado a lado com a noção de polissemia, por serem dois conceitos correlatos (SILVA, 2006). Todavia, a polissemia transita, segundo Silva (2006), no plano intensional da significação, já a extensão é fenômeno típico da referência. Em um segundo momento, exatamente dentro da agenda cognitiva dos estudos da linguagem, a noção de extensão deu as mãos a outro conceito primordial: a noção de protótipo. Da mesma forma, o conceito de esquema foi percebido pelos construcionistas como a noção capaz de fazer a ponte entre a TMC e a Gramática das Construções: as metáforas conceptuais, em especial as metáforas primárias, são concebidas como frutos de abstração e formadoras de esquemas conceptuais. As Construções Gramaticais básicas, por sua vez, são vistas como representativas de esquemas conceptuais também básicos, padrões abstratos de experiências humanas relevantes (cenas básicas da experiência humana). Tais padrões são formados a partir de, por exemplo, movimentos 64 corpóreos através do espaço, manipulação direta de objetos, dinâmica de forças, dentre alguns outros. Os esquemas, segundo Mandelblit (1997), “são ferramentas para organizar nossa compreensão e comunicação e podem estruturar muitas percepções, imagens e eventos”. Eles, portanto, têm papel fundamental na produção/ interpretação metafórica, assim como, já se sabe hoje em dia, na aquisição da linguagem pelas crianças (TOMASELLO, 1992, 1999, 2003). 3.1 A GRAMÁTICA DAS CONSTRUÇÕES : PANORÂMICA GERAL O paradigma teórico que antecede a abordagem construcionista é o da gramática gerativa e, por isso, ambas as abordagens compartilham alguns pressupostos fundadores, a saber: que a linguagem é um sistema cognitivo; que deve haver um modo de combinar estruturas para se criar novos significados (potencial criativo das línguas); que uma teoria da aprendizagem linguística bem delineada é necessária. Em termos de divergências teóricas, gerativismo e construcionismo discordam quanto ao formalismo exacerbado do primeiro, desconsiderando as facetas semântica e discursiva da linguagem. Também não cabe na abordagem construcionista a formulação de estruturas derivadas, nem de níveis sintáticos subjacentes, nem de elementos fonológicos vazios. Croft e Cruse (2004) definem a Gramática das Construções como o estudo da sintaxe no escopo da Linguística Cognitiva. Boas e Fried (2005) afirmam que o berço dessa teoria é Berkeley e o pontapé inicial de todas as pesquisas nessa abordagem é o artigo de Fillmore, Kay e O’Connor (1988) Regularidades e idiomaticidades nas Construções Gramaticais. Esses mesmos autores colocam a Gramática das Construções como uma confluência de interesses em diferentes áreas: linguística, cognição, antropologia, filosofia e computação, cuja crença mais evidente é a de que a forma linguística está intimamente ligada a seu significado e à sua função comunicativa e é exatamente essa ligação que deve se constituir como base de uma teoria descritiva e explanatoriamente adequada da estrutura linguística (BOAS; FRIED, 2005). 65 Na abordagem da Gramática das Construções, o termo Construção adquire, pois, um sentido distinto do tradicional, isto é, deixa de ser visto apenas como expressão linguística que consiste de várias partes e passa a ser visto como associações convencionalizadas entre a forma linguística, o significado e a função comunicativa. O estatuto das Construções Gramaticais também muda: de simples rótulo de qualquer coisa maior que a palavra, as Construções Gramaticais passam a ser encaradas como unidades básicas da análise linguística. O vínculo indissociável entre forma, significado e função comunicativa implica alguns desdobramentos naturais: i) as Construções Gramaticais são entidades simbólicas e, portanto, significativas (SILVA, 2006, p.261); ii) se as Construções Gramaticais são da mesma natureza que os itens lexicais, logo léxico e gramática não se separam; iii) se o significado só se manifesta na situação comunicativa, também não faz sentido separar a semântica da pragmática; iv) à semelhança dos itens, as Construções Gramaticais de uma determinada língua constituem um inventário estruturado, regido por relações conceptuais de mesma natureza. Depois de uma panorâmica geral, volto um pouco aonde tudo começou para tentar trilhar o caminho que levou os estudiosos da linguagem a defenderem desde a crença na existência da Construção Gramatical como entidade simbólica até a concepção de que essas Construções são de natureza corpórea. No artigo de 1988, Fillmore, Kay e O’Connor estudam minuciosamente a expressão inglesa Let alone e comprovam que as propriedades sintáticas, semânticas e pragmáticas não poderiam ser descritas por regras gerais da língua, mas poderiam ser explicadas pelas regras que governam a Construção Let alone e algumas Construções a essa relacionadas. Dentre as regras construcionais que governam a Construção Let alone, Fillmore et al. enfatizam o fato de que, embora sintaticamente essa expressão pudesse ser descrita como uma conjunção coordenativa, o uso dessa Construção não ocorre em todos os contextos nos quais se usa a conjunção and. Ainda em termos sintáticos, tal Construção não permite a elipse do sintagma verbal, como permitem as conjunções comparativas. Em termos semântico-pragmáticos, Let alone é uma Construção de duplo ou mais focos com uma prosódia característica, que ocorre em contextos negativos (item de polaridade negativa) 66 nos quais outros itens de mesma polaridade não ocorrem. Fillmore et al. observaram, portanto, que tanto a sintaxe quanto a semântica da Construção Let alone são complexas e não totalmente previsíveis a partir da estrutura sintática. A conclusão dos autores é que para interpretar essa Construção, o interpretante precisa construir um modelo escalar e as proposições devem ser passíveis de serem medidas pela mesma escala, de terem a mesma polaridade. Quanto aos contextos em que a Construção Let alone tem sucesso, Fillmore et al. observam que o contexto discursivo otimizado é um em que a proposição mais fraca (menos informativa) está em discussão, sendo que tal proposição rejeita ou aceita esse contexto, o falante sabe que a proposição mais forte (conjunção inicial) é verdadeira. Em resumo, o que Fillmore, Kay e O’Connor concluíram com o estudo da expressão Let alone é que ela se trata, na verdade, de uma Construção Gramatical, ou seja, de um pareamento entre uma forma sintática e uma função semânticopragmática, que possui propriedades inerentes e exclusivas da Construção. Nessa mesma empreitada, outro trabalho muito importante, chega às mesmas conclusões: There-construction 33 de Lakoff (1987) e, a partir desses, muitos outros (CROFT ; CRUSE, 2004). Croft e Cruse (2004, p.268) descrevem quatro modelos teóricos da Gramática das Construções: a) o modelo de Fillmore e Kay; b) a versão de Lakoff e Goldberg; c) a Gramática Cognitiva de Langacker; d) e o modelo de Croft a que ele chama Gramática da Construção Radical. Os pontos de semelhança e divergências entre as quatro versões elencadas por Croft e Cruse (2004) são apontados por eles a partir de respostas dadas a quatro perguntas, que giram em torno dos elementos sintáticos e suas relações e da relação entre as Construções e o modo como a informação é armazenada. Os questionamentos norteadores da comparação entre as diferentes versões da Gramática das Construções, propostos por Croft e Cruse (2004) são: 1º) dada a existência das Construções, qual é o estatuto dos elementos sintáticos ?; 2º) que tipos de relações sintáticas são postuladas? ; 33 Na verdade, o trabalho de Lakoff é anterior ao estudo de Fillmore, Kay e O’Connor. 67 3º) que tipos de relações as Construções mantêm entre si?; 4º) como a informação é armazenada na taxonomia da Construção? Goldberg (2006), por sua vez, estabelece um quadro comparativo entre as quatro diferentes versões da abordagem construcionista: i) Gramática das Construções Unificada (UCG), de Fillmore e Kay; ii) Gramática Cognitiva (CG), de Langacker; iii) Gramática das Construções Radical (RCG), de Croft e iv) Gramática das Construções Cognitiva (CCG), de Lakoff e Goldberg. O modelo de Berg e Chang, a Gramática Corporificada, não é contemplado. Goldberg (2006, p.215) argumenta que o modelo de Fillmore e Kay está do lado oposto aos outros três (CCG, CG, RCG), considerando alguns aspectos explicitados no quadro comparativo (1) abaixo: (1) DIFERENÇAS ENTRE ALGUMAS VERSÕES DA GRAMÁTICA DAS CONSTRUÇÕES CCG, CG, RCG Construções Papel das Construções Não-derivacional Herança Baseado no uso Formalismo Papel da “motivação” Ênfase e m Pareamentos UCG aprendidos Pareamentos aprendidos de forma e função de forma e função Central Central Sim Sim Default Default Sim Não uniformemente Notação desenvolvida Foco pesado no somente para facilitar a formalismo baseado na exposição unificação Central Nenhum Plausibilidade psicológica Explicitação formal, generalizações maximizadas Fonte: GOLDBERG, 1995 68 A autora explica que a busca por generalizações maximizadas que não são consideradas parte do conhecimento linguístico do falante e a não explicitação de padrões gramaticais regulares permite afirmar que a UCG não é um modelo totalmente baseado no uso, diferentemente das outras três versões que acreditam que mesmo o mais irregular dos padrões gramaticais pode ser armazenado, se ocorrer com frequência suficiente. Quanto ao formalismo 34 , Goldberg (2006) afirma que o modelo de Fillmore, devido à sua ligação com o projeto FrameNet é fortemente formalista, embora não consiga capturar propriedades semânticas dos itens em detalhe, “porque os significados reais não são facilmente capturados por um conjunto fixo de propriedades” (ibidem, p.216). Outra dessemelhança entre a UCG e as outras versões construcionistas está no papel da motivação que nestas é central e naquela é nenhum. Como última diferença, Goldberg destaca que a ênfase do modelo unificado está nas generalizações, já para os outros modelos o desejo maior é graduar a validade psicológica dos fatos gr amaticais. O modelo mais recente de análise construcional, não contemplado nem por Croft e Cruse (2004) nem por Goldberg (2006), é a Gramática das Construções Corporificada (GCC), assinada por Berg e Chang (2005). Esta versão construcionista é, na verdade, um formalismo, cujo objetivo é integrar o processo de compreensão da linguagem aos esquemas corpóreos por meio de simulação. Assim, as Construções Gramaticais são vistas como “uma ponte entre conhecimento fonológico e conhecimento conceptual” (BERG; CHANG, 2005, p.148). Elas atuam como a principal fonte de conhecimento linguístico na medida em que conectam o domínio da forma ao do significado. Segundo essa abordagem, no processo de análise, determinamos quais Construções um dado enunciado instancia, sendo que a partir delas tem-se a especificação semântica do esquema conceptual evocado pelas Construções e, em seguida, verificamos como elas estão relacionadas. Já no processo de simulação, a especificação semântica entra como input e exploramos a representação subjacente à ação e à percepção para simular ou decretar os eventos, ações, objetos, relações e estados especificados. As inferências resultantes modelam processamentos 34 Segundo Salomão (2009b, p. 45), “a formalização da Gramática das Construções, desenvolvida por Fillmore, Kay e O´Connor (1988) não é incompatível com as versões da GC de Goldberg (1995) ou Croft (2001), recebendo um tratamento muito mais detalhado do pessoal que trabalha com o Projeto Teoria Neural da Linguagem (FELDMAN; NARANAYAN (2004), CHANG (2005), BERGEN (2005).” 69 subsequentes e fornecem a base para as respostas dos usuários da língua. Segundo Berg e Chang (2005), a vantagem de se trabalhar com um modelo de simulação baseado em Construções Gramaticais seria a otimização e a divisão precisa do trabalho. As Construções Gramaticais entram como informação mínima e suficiente para disparar uma simulação que usará estruturas cognitivas e sensório-motoras mais gerais. Em outras palavras, as Construções Gramaticais contribuem diretamente com os significados convencionalizados, esquemáticos. O processo de simulação, isto é, a ampliação das estruturas cognitivas mais gerais (esquemas corpóreos) fornece os significados indiretos (inferências): “As Construções fornecem um meio limitado pelo qual a ferramenta simbólica da linguagem pode aproximar o contínuo e multidimensional mundo da ação e percepção” (BERG; CHANG, 2005, p.145). Como o objetivo desta minha pesquisa é o de referendar o papel central que a metáfora tem na constituição da gramática do Português do Brasil, em especial na Construção Gramatical de Hiperbolização, o modelo de Berg e Chang, formalismo cuja aplicação primeira seria computacional, está muito além desse objetivo. Tenho dificuldades, também, em admitir o radicalismo de Croft e Cruse, que não admitem a existência das noções sintáticas, independentemente das Construções nas quais são usadas. O formalismo exacerbado do modelo unificado de Fillmore e Kay, também, não me é confortável, pelos mesmos motivos citados por Goldberg (2006), e por alguns outros apontados por Salomão (2009b), embora saiba que alguns conceitos fundamentais, como o de frame semântico, típicos dessa abordagem, sejam fundamentais para a análise das minhas questões de pesquisa. Além do rigor formal, escolher a versão construcional de Fillmore significaria optar por um modelo de herança completo, o qual se constitui estritamente como taxonomia e só reconhece, dentre os quatro tipos elencados por Goldberg, 35 a herança por polissemia e a herança por instanciação. Segundo Salomão (2009b), Fillmore e Kay só lidam com dois tipos de motivação, isto é, de determinação conceptual da forma linguística: i) a motivação sintagmática ou “composicional”; ii) a motivação por unificação da Construção com o seu frame. As relações figurativas são parte da 35 Ver página 79. 70 estrutura conceptual, mas não funcionam, na versão fillmoreana, como motivação no eixo da sincronia. Uma das cont ribuições mais importantes dessa pesquisa sobre a Construção Gramatical de Hiperbolização, no entanto, é, exatamente, mostrar que a conceptualização metafórica motiva grandemente a gramática no eixo da sincronia. Por exclusão, portanto, sobram- me a Gramática Cognitiva e a abordagem de Goldberg que, embora não incompatíveis, exibem algumas diferenças teóricometodológicas importantes, entre as quais está o peso que cada uma dessas versões dá aos elementos sintáticos, atribuindo-se, mutuamente, o rótulo indesejável de abordagem reducionista. Há, ainda, as inegáveis contribuições da pesquisas de Tomasello (1992,1999[2003], 2003) que podem ser aproveitadas tanto em um quanto em outro modelo. Porque lanço mão de relações gramaticais primitivas e atômicas (CROFT; CRUSE, 2004) como sujeito e objeto e de categorias sintáticas primitivas (entendidas como categorias radiais antes que no sentido de condições necessárias e suficientes) como verbo, escolho o modelo construcional goldberguiano como suporte teórico necessário para embasar meus pontos de vista, referentes à Construção estudada. Salomão (2009b, p.55) elenca, como vantagens do modelo construcional Goldberg- lakoffiano, o fato de i) este ter uma concepção consistente da gramática como signo (pareamento forma/sentido) e a apropriação de um dos argumentos mais fortes em favor da Linguística Cognitiva, a saber, o tratamento cognitivista das categorias linguísticas, o que leva à proposição de redes de Construções, organizadas radialmente em torno de uma Construção básica, da qual as demais herdarão características nem sempre expressáve is em termos de unificação. Dentre os problemas levantados, Salomão destaca: i) a falta de um formalismo mais rigoroso, o que torna difícil a replicação das análises e a testagem das hipóteses correlatas; ii) a não explicitação da noção de frame, o que leva a uma postulação mal especificada do processo de conexão entre as estruturas conceptuais evocadas pelas Construções oracionais e as Construções lexicais que as herdam; iii) o pequeno conjunto de fenômenos cobertos pelas análises: Construções de Estrutura Argumental, apenas. 71 Portanto, a escolha pela versão de Goldberg/Lakoff demanda que eu assuma não só suas virtudes, como também seus defeitos. Por isso, as seções seguintes darão mais detalhes da Gramática das Construções na versão de Goldberg/Lakoff. 3.2 O MODELO CONSTRUCIONAL RADIAL: DE LAKOFF A GOLDBERG Assim como Fillmore (1988) estabelece os fundamentos da sua versão da Gramática das Construções ao estudar a expressão Let alone, Lakoff (1987) também o faz ao analisar as chamadas There-constructions. A escolha dessas Construções se deve ao fato de as teorias tradicionais terem fracassado em dois sentidos: não deram conta das complexidades enormes relacionadas às Construções e também não conseguiram dar um tratamento adequado às Construções a elas relacionadas. Lakoff (1987) pretendeu estudar as Construções-There a partir dos fundamentos de uma gramática cognitiva que pressupusesse: a) uma semântica cognitiva que incluísse entre seus objetos os modelos metafóricos e metonímicos, os espaços mentais, dentre outros fenômenos; b) uma teoria de gramática baseada na noção de Construção Gramatical (Gramática das Construções); c) a noção de categoria radial, ancorada no conceito de centros prototípicos e d) a noção fundamental de motivação. Segundo Lakoff (1987) as categorias radiais ocorrem na gramática e têm a mesma função que têm no léxico, a saber, motivar correspondências entre forma e significado. Portanto, os parâmetros da forma linguística na Gramática das Construções não são independentes do significado: muitos aspectos da estrutura sintática são motivados ou são consequência da estrutura dos modelos cognitivos. Nessa abordagem, a Gramática das Construções é, pois, holística, ou seja, o significado da Construção é motivado pelos significados das partes, mas não computável a partir deles. As categorias sintáticas e as relações gramaticais são radialmente estruturadas e o centro prototípico é definido semanticamente. O casamento da teoria dos protótipos com a Gramática das Construções promove o estabelecimento de regularidades mais condizentes com a 72 realidade linguística. Nesse enfoque, pois, a gramática é “uma categoria radial de Construções Gramaticais: cada Construção associa um modelo cognitivo (que caracteriza o significado) a aspectos correspondentes da forma linguística” (LAKOFF, 1987, p.463). Goldberg, discípula de Lakoff, é autora de uma produção acadêmica muito significativa de sua versão da Gramática das Construções, no entanto, para efeitos didáticos, vou recortar sua obra em dois grandes momentos: i) a obra de 1995: Constructions: a construction grammar aproach to argument structure e ii) a obra de 2006: Constructions at work: the nature of generalization in language. Em 1995, Goldberg adota a Gramática das Construções como o arcabouço teórico mais adequado ao estudo de cinco tipos de Construções Gramaticais do Inglês. Esses cinco tipos seriam, na sua concepção, as Construções basilares da gramática inglesa, na medida em que teriam como função primordial a expressão de cenas básicas da experiência humana. No escopo das Construções Gramaticais básicas, Goldberg inclui: a) as Construções ditransitivas na qual se tem o significado esquemático X CAUSAR Y RECEBER Z, configurado sintaticamente por sujeito-verboobjeto1-objeto2. Por exemplo: Pat faxed Bill the letter. b) as Construções de movimento causado cujo significado básico se descreve X CAUSAR Y MUDAR Z e cuja configuração sintática requer sujeitoverbo-objeto-oblíquo. Por exemplo: Pat sneezed the napkin off the table; c) as Construções resultativas em que o significado básico X CAUSAR Y TORNAR-SE Z se configura sintaticamente por sujeito-verbo-objetoXcomp. Por exemplo: She kissed him unconscious. d) As Construções de movimento intransitivo cujo significado básico é X MOVER Y e cuja configuração sintática corresponde a um sujeito-verbo – oblíquo. Por exemplo: The fly buzzed into the room. 73 e) As Construções conativas cujo significado básico é X DIRECIONA UMA AÇÃO A Y e cuja configuração sintática corresponde a um sujeito-verbo oblíquo at. Por exemplo: Sam kicked at Bill. No modelo goldberguiano, a existência das Construções Gramaticais é dada pelo corolário: "C é uma Construção se C é um par forma-significado <Fi,Si> de forma que algum aspecto de Fi ou de Si não seja estritamente predisível do conhecimento de outras Construções que existam na gramática." Para Goldberg, portanto, quando uma dada combinação de itens lexicais, configurados numa estrutura sintática particular, faz surgir um significado que não pode ser atribuído unicamente à soma dos significados dos itens tem-se uma Construção Gramatical. Goldberg (1995) se distancia de Fillmore (1988), quando este atribui ao predicador verbal a propriedade de predizer o esquema de subcategorização sintática da sentença, a partir de regras léxico-semânticas, levando, por consequência, à postulação de sentidos adicionais quando o verbo tem sua valência alterada. Goldberg, por outro lado, acredita que tanto as Construções quanto os itens léxicos possuem significados independentes que se inter-relacionam na sentença para criar um sentido novo, singular. Assim, enquanto para Fillmore (1988) algumas alterações de valências verbais podem ser resolvidas pela derivação por regras lexicais (caso, por exemplo, das Construções inglesas com objeto duplo), Goldberg (1995) radicaliza sua postura construcionista e parte do princípio da não sinonímia gramatical, ou seja, sua abordagem assume que toda diferença na forma sintática leva a uma diferença no significado. Para Goldberg, portanto, Maria deu o livro a Pedro é uma Construção diferente de Maria deu a Pedro o livro. Fillmore (1988) advoga que as regras lexicais deixam o léxico livre de redundâncias. Goldberg (1995) retruca que a abordagem construcional mais estrita evita que sentidos implausíveis e definições circulares sejam postulados para verbos com mais de uma valência. Já a distinção principal entre os modelos lakoffiano e goldberguiano é 74 exatamente a exploração de categorizações não-clássicas na análise das relações entre Construções (CROFT, 2004, p.272). Croft e Cruse (2004) descrevem o modelo construcional goldberguiano, respondendo às perguntas por eles postuladas da seguinte maneira: 1º) Qual é o estatuto dos elementos sintáticos nessa abordagem? Tem-se, no modelo construcionista de Goldberg, uma representação sintática reducionista36 na medida em que ela lança mão de relações gramaticais primitivas e atômicas como sujeito e objeto e de categorias sintáticas primitivas como verbo; 2º) Que tipos de relações sintáticas são postulados? Goldberg analisa a estrutura argumental das Construções, focando seu interesse nas relações entre Construções, a semântica da estrutura argumental e a conexão com os papéis sintáticos; 3º) Que tipos de relações são estabelecidos entre as Construções? Tanto Goldberg quanto Lakoff discutem várias relações entre Construções. O que Lakoff chama de relações taxonômicas, Goldberg designa instâncias, um sublink descrito diz respeito às conexões partonímicas. Todos os links são links de herança cuja direção é oposta ao modelo de Fillmore. Nesse modelo de herança há sentidos centrais, prototípicos e extensões do protótipo, cujo caso mais claro é, exatamente, a extensão metafórica; 4º) Como a informação gramatical é estocada na taxonomia da Construção? Tanto Lakoff quanto Goldberg admitem a herança default, ou seja, um método para acomodar o fato de que muito do que sabemos sobre uma categoria não é verdade em todas as suas instâncias. Saber, por exemplo, que pássaros voam não é verdade no caso dos pinguins e no caso de um pássaro cujas asas foram cortadas. Logo, a informação “CAPAZ DE VOAR” deve ser armazenada na categoria PÁSSARO e pode ou não, ser herdada a depender do conflito gerado por outras informações em casos mais específicos, como por exemplo, ter as asas cortadas. Lakoff e Goldberg lançam mão da herança default como link entre Construções: A concepção de “herança” by default poderia ser tratada como uma variação notacional da herança completa, como quer Fillmore, em nota (p.115) a seu trabalho, já citado, sobre a Construção SAI: nessa nota, ele postula que as heranças by default referem-se à instanciação de Construções cujos valores são deixados inespecificados, quando da descrição das Construções 36 A única versão construcionista considerada por CROFT como não reducionista é o seu próprio modelo, designado Gramática das Construções Radical. O argumento central dessa versão é o de que não existem categorias linguísticas fora das Construções que as instanciam, o que as torna específicas para cada língua. A única categoria “independente” é a própria Construção. 75 genéricas. Por exemplo, quando descrevemos a Construção de Determinação de Quantidade, deixamos inespecificado o parâmetro Maximalidade do sintagma, já que a Construção poderá instanciar-se ou não, como uma projeção máxima. Teríamos, portanto, segundo essa definição, descrito by default essas duas possibilidades de realização do sintagma. (SALOMÃO, 2009b, p.53) Na obra de 2006, Goldberg objetivou investigar a natureza das generalizações na linguagem, tanto infantil quanto adulta. O livro se divide em três partes. Na primeira, os pressupostos da abordagem construcionista são clarificados e o Modelo Baseado no Uso é evidenciado. Na parte 2, Goldberg pretende responder como e por que as Construções Gramaticais são aprendidas. Na terceira parte, a autora dedica-se a abordar generalizações intra e interliguísticas. Quanto às Construções, Goldberg (2006) avança além das Construções básicas, enfatizando, uma década depois, que um enunciado real envolve a combinação de muitas Construções diferentes. Como exemplo, ela dá a expressão Uma dúzia de rosas, Nina enviou a sua mãe, afirmando que tal enunciado se compõe de onze diferentes Construções Gramaticais: 1) a Construção Ditransitiva; 2) a Construção de Topicalização; 3) a Construção do Sintagma Nominal; 4) a Construção do Sintagma Verbal; 5) a Construção do Determinante Indefinido; 6) a Construção de Plural; 7) as Construções dúzia, rosas, Nina, enviou, mãe. O potencial criativo da linguagem, conclui Goldberg, é fruto da combinação livre das Construções. Outro posicionamento importante de Goldberg (2006) é a hipótese das generalizações de superfície que postula a existência de generalizações poderosas, cercando as formas superficiais particulares, e são muito mais amplas do que as capturadas por derivações ou transformações. O foco, no entanto, continua sendo as Construções de estrutura argumental: pareamento de forma e função usado para expressar sentenças simples. Goldberg (2006, p.38) ratifica, ainda, que a interpretação de uma sentença vai além da Construção argumental usada para expressá-la. A interpretação plena aflora a partir da integração da Construção argumental com o verbo principal e seus vários 76 argumentos, sob a luz do contexto pragmático no qual a sentença é enunciada. A estrutura argumental reserva espaços para os papéis argumentais que, grosso modo, correspondem aos tradicionais papéis temáticos, com exceção de que são mais específicos e numerosos, já que são exigências semânticas de Construções particulares. Os argumentos capturam generalizações de superfície a respeito de papéis participantes de verbos individuais, ou seja, representam associações convencionais dos verbos com um rico frame semântico. Este, por sua vez, especifica certos papéis participantes: o número e o tipo de espaços reservados por um dado verbo. Um subconjunto desses papéis é obrigatório (perfis lexicais) e funciona como pontos focais dentro da cena, realizando um certo grau de “saliência”. A noção semântica de perfil lexical refere-se a um aspecto estável do significado da palavra e pode evidenciar as diferenças de significado entre os itens lexicais (comprar e vender, por exemplo, cf. FILLMORE, 1977). A correspondência entre o frame verbal e os papéis argumentais da Construção é dada por dois princípios: o princípio da coerência semântica e o princípio da correspondência. O primeiro estabelece que os papéis participantes do verbo e os argumentos da Construção devem ser compatíveis semanticamente. Esse princípio assume que as Construções argumentais são aprendidas por meio de generalizações a respeito de instâncias semânticas de padrões usados com verbos particulares (GOLDBERG, 2006, p.40). O princípio da correspondência, por sua vez, estabelece que os papéis participantes perfilados pelo verbo devem ser codificados por papéis argumentais perfilados pela Construção, ou seja, tal princípio pressupõe um alinhamento entre a semântica lexical, a pragmática discursiva e as relações gramaticais. Como é um princípio default, ele pode ser suplantado por qualquer outra especificação da Construção. A negociação que ocorre entre os papéis participantes, designados pelo verbo, e os argumentos, requeridos pela Construção, pode criar, segundo Goldberg, quatro situações: (i) um caso prototípico em que o preenchimento dos espaços do verbo coincide com os espaços destinados aos argumentos da Construção; (ii) um papel nãoperfilado nem pelo verbo nem pela Construção é expresso por uma Construção-adjunto; (iii) um argumento pode corresponder a um participante não selecionado como 77 obrigatório pelo verbo e (iv) um participante obrigatório pode ser expresso como expressão adjunta. Pelo trabalho que desenvolvi no mestrado e que venho desenvolvendo no doutorado, tomo a liberdade de acrescentar mais um tipo de situação à lista de Goldberg: (v) um papel perfilado pelo verbo não encontra espaço como argumento da Construção (casos de destransitivização verbal). Em resumo, Goldberg argumenta que o reconhecimento de generalizações em nível da superfície da estrutura argumental leva ao reconhecimento de generalizações na linguagem. No entanto, é preciso estar ciente de que o significado do enunciado não se resume ao significado da sentença usada para expressá- lo: os verbos individuais, os argumentos selecionados e o contexto são fatores igualmente importantes. 3.2.1 A metáfora na versão de Lakoff e Goldberg Não só para Goldberg (1995, 2006) quanto para qualquer construtivista, o repertório de Construções Gramaticais de uma língua não é um conjunto desestruturado. Existem, inegavelmente, generalizações sistemáticas entre as Construções, mostrando que elas formam uma rede e estão conectadas por algum tipo de relação. Goldberg (1995, 2006) argumenta que o inter-relacionamento entre as Construções se dá via relações de herança que motivam muitas das propriedades das Construções particulares. A rede de herança nos leva a capturar generalizações entre as Construções ao mesmo tempo em que possibilita fazer considerações das subregularidades e das exceções. Para capturar as relações de motivação, ou seja, para mostrar que uma dada construção é motivada de modo que sua estrutura é herdada de outras Construções da língua, links de herança assimétricos são postulados por Goldberg (1995, 2006) entre Construções que são relacionadas tanto sintática quanto semanticamente. Isto é, a Construção A motiva a Construção B se B é herdada de A. No modelo goldberguiano, a rede de heranças construcional permite capturar o fato de que duas Construções podem ser de algum modo a mesma e de outro, distintas. Goldberg descreve como vantagem em 78 se postular hierarquias abstratas nas quais níveis mais baixos herdam informações de níveis mais altos o fato de a informação ser armazenada de modo mais eficiente e mais facilmente modificável. Em outras palavras, Lakoff/Goldberg recrutam para a gramática os avanços feitos pela Linguística Cognitiva na área da categorização linguística; por isto, as redes de Construções organizam-se radialmente em torno de uma Construção Básica, das quais as demais herdarão características, nem sempre expressáveis em termos de unificação (SALOMÃO, 2009b, p.54). Segundo Lakoff (1987), a estrutura de dados em nosso sistema é constituída de Construções. Nessa estrutura, múltiplas operações de heranças são permitidas. Os links de herança capturam o fato de que toda a informação não conflitante entre duas Construções relacionadas é compartilhada. Quatro tipos principais de links de herança são distinguidos: links de polissemia (HP ), links de extensão metafórica(HM), links de subparte (H S), e links de instância(HI). Para explicitar melhor a rede de heranças das Construções oracionais do PB, Ferreira (2005) 37 , estudando a Construção de Ação Rotineira, instanciada em enunciados como Buscar menino no colégio; Pular carnaval na Bahia ou Jogar lenha na fogueira, propõe a seguinte representação (figura 2): 37 FERREI RA, M. da S. Buscar menino no colégio, pular carnaval na Bahia, e, ainda por cima, jogar lenha na fogueira: retomada de um diálogo sobre a questão da geratividade na linguagem. Dissertação (Mestrado em Letras-Linguística)- ICHL. Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2005. 79 (2) DIAGRAMA DAS REDES DE HERANÇA DAS CONSTRUÇÕES ORACIONAIS DO PB CONSTRUÇÕES ORACIONAIS HI HI SEM SUJEITO COM SUJEITO HI HI TRANSITIVAS HI HI HI HI INACUSATIVAS HI HI AGENTIVAS PROPOSICIONAIS FENÔMENOS DA NATUREZA HI INERGATIVAS ESTATIVAS HI INTRANSITIVAS HI AÇÕES ROTINEIRAS HI REFLEXIVAS MOVIMENTO HM HM RESULTATIVAS HS OBJETO INTERDITO HS DESREFLEXIVAS Os princípios psicológicos que regulam tanto a necessidade de novas Construções quanto o relacionamento entre Construções já existentes são, segundo Goldberg (1995), os seguintes: 1) princípio da motivação maximizada : se a Construção A é relacionada sintaticamente à Construção B, então o sistema da Construção A é motivado semanticamente no mesmo grau à Construção B; 2) princípio da não-sinonímia: se duas Construções são sintaticamente distintas, elas devem ser semântica ou pragmaticamente distintas; 3) princípio do poder expressivo 80 maximizado : o inventário de Construções Gramaticais é maximizado para propósitos comunicativos; 4) princípio da economia maximizada : o número de Construções distintas é minimizado o quanto possível. Portanto, a metáfora, na Gramática das Construções de Lakoff e Goldberg, é um tipo de link de herança, ou seja, a metáfora é uma operação que permite que duas Construções diferentes compartilhem de algumas propriedades. O modo como a semântica da Construção dominante é mapeada na semântica da Construção dominada é especificado pela metáfora. Assim, quando duas Construções estão relacionadas por um mapeamento metafórico, um link de extensão metafórica é postulado entre elas. As extensões metafóricas têm como domínio fonte o sentido central da Construção. Goldberg (1995) dá como exemplo de link de extensão metafórica o interrelacionamento entre a Construção de Movimento Causado e a Construção Resultativa em sentenças como a) Pat jogou o metal para fora da mesa38 na qual se tem, segundo Goldberg (1995) uma Construção de Movimento Causado literal e b)Pat martelou o metal plano39 que, na abordagem de Goldberg, classifica-se como Construção Resultativa a partir do mapeamento metafórico do RESULTADO COMO OBJETIVO. A Construção Resultativa é, pois, uma extensão metafórica do sentido central da Construção de Movimento Causado, que é associado à semântica “X CAUSAR Y MOVER Z”. As Construções Gramaticais Resultativas devem ser entendidas como codificando uma mudança metafórica de lugar. A metáfora necessária é uma metáfora sistemática geral que envolve compreender uma mudança de estado em termos de movimento para um novo lugar, seguindo o esquema: movimento mudança lugar estado Várias expressões inglesas refletem essa metáfora: 38 39 Pat threw the metal off the table. Pat hammered the metal flat. 81 a) A gelatina foi de líquida a sólida em questão de minutos. (The jello went from liquid to solid in a matter of minutes). b) Ninguém pôde ajudá-la enquanto ela escorregava para a insanidade. (No one could help her as she slid into madness). Dada a conexão metafórica entre movimento e mudança de estado, as expressões resultativas implicam “X CAUSAR Y TORNAR-SE Z” ou “X PRETENDE CAUSAR Y TORNAR-SE Z” Goldberg (1995) cita um outro exemplo de link de herança intermediado pela metáfora: a Construção Gramatical Ditransitiva e sua paráfrase preposicional, linguisticamente instanciada em enunciados como a) João deu a Maria uma maçã; b) João deu uma maçã a Maria. 40 Tal relação de herança a partir do link de extensão metafórica seria motivada por uma metáfora que envolve a compreensão da possessão nos seguintes termos: (i) o possuído está localizado próximo ao “possuidor”, (ii) transferir uma entidade para um recipiente é causar a entidade mover-se para o recipiente, e (iii) transferir a posse do possuidor é mandar a entidade para longe do possuidor. Também para esses casos a língua inglesa forneceria, como evidências, várias expressões metafóricas: a) They took his house away from him. b) He lost his house. c) Suddenly several thousand dollars came into possession. Portanto, a metáfora conceptual TRANSFERÊNCIA DE POSSE É TRANSFERENCIA FÍSICA motivaria expressões como: a) The judge awarded custody to Bill. b) Bill gave his house to the Moonies. 40 a) John gave Mary an apple; b)John gave an apple to Mary 82 Esta metáfora é motivada pelo fato de dar prototipicamente correlacionar-se com movimento de um possuidor a um recipiente, o que não implica literalmente transferência de posse. 3.3 O DIÁLOGO ENTRE A ABORDAGEM CONSTRUCIONAL E A SEMÂNTICA DOS FRAMES O princípio que sustenta o conceito teórico de frame semântico é aquele proferido por Fillmore na década de 70: Significados são relativizados a cenas. É esse postulado que reúne diferentes abordagens semânticas dos fenômenos linguísticos e também aproxima Fillmore de Goldberg. Ao postular que os falantes compartilham de estruturas de conhecimento que os capacitam a se comunicarem sobre cenas, Fillmore atrela a noção de frames semânticos à noção de protótipos : “Frames podem ser entendidos como descrições prototípicas de cenas” (HAMM, s/d) e à noção de perspectiva, o que assegura o significado independentemente da satisfação total das condições de verdade. O conceito de frame, portanto, realça a continuidade inegável entre linguagem e experiência: “Na Semântica dos Frames, uma palavra representa uma categoria da experiência ” (PETRUCK, 1996). O frame semântico é, por isso, um constructo teórico em diversos campos de pesquisa como Inteligência Artificial, Psicologia Cognitiva e Gramática das Construções. A ideia central é a de que o conhecimento e a experiência estruturados por um determinado frame fornecem a base e a motivação para as categorias representadas pelas palavras. Segundo Petruck (1996, p.1), “as palavras, isto é, o material linguístico, evocam o frame (na mente do falante/ouvinte); o interpretante (de um enunciado ou texto no qual as palavras ocorrem) invoca o frame.” 83 Embora muitos dos estudos sobre frame lidem com palavras individuais apenas ou listas de palavras, o frame também se mostra uma ferramenta de análise importante na semântica textual e na semântica gramatical. A conexão entre a Semântica de Frames e a Gramática das Construções vai alé m da questão da representação (PETRUCK, 1996). A Gramática das Construções atribui igual importância aos padrões lexicais e seus propósitos semântico-pragmáticos. Em termos da abordagem construcional goldberguiana em que as propriedades do verbo se mesclam às propriedades da Construção para que daí surja o significado pretendido, a noção de frame é aplicável tanto a um quanto a outro. A diferença principal entre essa abordagem e a fillmoreana é que esta trabalha com uma rica representação de frame semântico, enquanto aquela trabalha com uma noção de frame mais abstrata e mais universal, na medida em que o frame representa cenas básicas da experiência humana, independentemente de uma língua particular. Nesse enquadre, a semântica do frame associada a um item lexical fornece parte da informação semântica necessária para a interpretação de uma sentença. Os frames são, pois, informações de base sobre a cena organizada ou esquematizada pela Construção. Apesar de perspectivas diferentes, a Semântica de Frames (Fillmore) e a Gramática das Construções (Goldberg) podem ser consideradas compatíveis e complementares, na medida em que as Unidades Lexicais (ULs) da Semântica de Frames são postuladas também a partir do pressuposto teórico de que os significados são relativizados a cenas. A noção de frame semântico tem sido usada em trabalhos sobre a metáfora. Um exemplo é a discussão que Lawler (1986) faz da metáfora TEMPO É DINHEIRO a partir do Frame de Transação Comercial proposto por Fillmore (1977). Lawler recorreu a esse frame para estabelecer uma coerência semântica entre os itens lexicais que o evocam, como, por exemplo, comprar, vender, custar, pagar. A partir do mapeamento metafórico do Frame de Transação Comercial, Lawler comprova a conceptualização metafórica do tempo na língua inglesa, o que o leva a concluir “que a metáfora é válida tanto empírica quanto semanticamente” (Lawler,1986, p.1). O frame semântico, como constructo teórico, aplica-se, também, à análise de diferentes fenômenos sintáticos (PETRUCK, 1996). Um dos trabalhos citados pela 84 autora é Lakoff (1986) no qual ele propõe a noção de “curso natural dos eventos” ou “cenários” que são organizações de estados e eventos humanamente construídos, ou seja, instâncias de frames. “Esta análise oferece uma maneira de usar os frames para lidar com fenômenos sintáticos que são determinados, em parte, por critérios semânticos e pragmáticos” (PETRUCK, 1996, p. 5). A associação direta de frames sintáticos com seus significados faz com que as crianças aprendam, com a sintaxe das sentenças simples, a maneira particular como certos cenários da experiência humana são pareados com uma forma. O uso da noção de frame semântico nas descrições construcionistas reforça o princípio da indissociabilidade entre forma e conteúdo que as caracterizam e definem. O trabalho de Goldberg, afirma Petruck, demonstra a utilidade dos frames ao relacionar conhecimento de mundo e estrutura linguística, além de servir como mais um exemplo da conexão que existe entre os frames semânticos e as Construções Gramaticais. A primeira afirmação de Goldberg (1995) que vai ao encontro da noção de frame é a de que a teoria semântica da qual ela lança mão reconhece a importância das interpretações perspectivizadas (construals) centradas no falante, no sentido definido por Langacker. Por isso, as informações sobre constituintes focalizados, topicalidade e registro são representadas na informação semântica da Construção. Ao falar dos significados verbais, Goldberg assegura que os verbos envolvem frames semânticos e, portanto, suas designações devem incluir referência a um frame de base, enriquecido com conhecimentos culturais e conhecimentos de mundo. Nesse sentido, um verbo como boicotar receberia, baseado em seu frame, a seguinte definição: evitar comprar mercadorias e/ou serviços de uma dada empresa com o objetivo de expressar uma censura ou causar uma mudança em uma ou mais de suas políticas ou mesmo fazê-la sair do negócio (GOLDBERG, 1995, p.28). Segundo ela, os frames semânticos são necessários para dar conta da distribuição de advérbios e adjuntos, para a abordagem do fenômeno de bloqueio, para permitir a possibilidade de interpretações e traduções que fazem sentido e para predizer inferências corretas. A abordagem da semântica de frames mais recente é a praticada pelos linguistas que integram o Projeto FrameNet. Devido a um objetivo explicitado de 85 aplicação computacional, a ênfase do Projeto está em desenvolver um formalismo capaz de descrever a noção de frame como o princípio organizador do léxico, sendo, pois, um constructo teórico (PETRUCK, 1996). Para ilustrar a proposta de formalismo adotada nas pesquisas vinculadas ao FrameNet, cito o trabalho de Micelli; Trijp; Beule (2009) e sua proposta de representação (figura 3) da sentença The river forms a natural line between the north and south sections of the city. (3) EXEMPLO DE UMA REDE DE FRAMES EVOCADA POR UMA SENTENÇA Figura 3: Na rede descrita, os frames são representados com letras maiúsculas, conectados aos seus Elementos de Frame (letra minúscula) através das linhas tracejadas41 . O quadro a seguir pretende mostrar, de forma esquemática, as principais diferenças entre a abordagem construcional goldberguiana e a abordagem fillmoreana mais recente, aquela praticada e preconizada no projeto FrameNet: 41 MICHELLI; TRIJP; BEULE (2009). Framing Fluid Construction Grammar. Disponível em www.csl.sony.fr/downloads/papers/2009/micelli-09a.pdf. 86 (4) QUADRO COMPARATIVO ENTRE A VERSÃO GOLDBERGUIANA E O PROJETO FRAMENET Objeto de análise Papel do frame Análise goldberguiana Projeto FrameNet Sentenças básicas- Construções Unidades Lexicais (ULs)- Gramaticais Argumentais. Construções Lexicais. Formação de esquemas Enquadramento da Unidade simbólicos estáveis, Lexical dentro de uma moldura representativo das cenas cognitiva, socioculturalmente humanamente relevantes. construída, adequada à situação comunicativa em questão. Evocação da Cena Sentenças básicas representam As cenas são enquadradas pelas Conceptual cenas humanamente relevantes. ULs em uso pelos falantes. A metáfora é um dos links de A metáfora atua apena s como herança construcional, motivação conceptual, sem motivando, portanto, a influência na sincronia. Papel da metáfora sincronia. Polissemia Reconhece a polissemia Reconhece a polissemia das construcional, mas tende a Unidades Lexicais: diferentes admitir um único sentido para ULs evocam diferentes frames. os verbos. Sentido da sentença Negociação entre o frame O predicador evoca um frame sintático do verbo e o frame principal que será preenchido semântico evocado pela cena com Elementos do Frame, conceptual. centrais e periféricos. Fonte: Do autor 87 3.4 A GRAMÁTICA DAS CONSTRUÇÕES : CONFIRMAÇÃO NA ONTOGÊNESE42 Partindo do pressuposto de que a linguagem é cognição, Tomasello (1992,1999, 2003) acredita que, na medida em que as crianças vão aprendendo as palavras, elas também vão adquirindo um repertório de Construções Gramaticais mais complexas as quais ele chama de gestalts linguísticas. Tais Construções linguísticas mais amplas constituiriam unidades simbólicas significativas e poderiam ser divididas em Construções linguísticas concretas, isto é, constituídas de palavras e sentenças específicas; ou em Construções cuja base seria m categorias e esquemas léxicos gerais e abstratos. A ideia central da abordagem de Tomasello seria o pressuposto de que, na ontogênese, os seres humanos aprenderiam, desde cedo, a usar suas habilidades de aprendizagem cognitiva, sociocognitiva e cultural, universais da espécie, para compreender e adquirir as Construções linguísticas que suas culturas particulares criaram ao longo do processo histórico por processos de sociogênese. Partindo desse pressuposto, as Construções linguísticas complexas seriam apenas mais um artefato simbólico, embora de estatuto especial devido a sua natureza sistemática, o que promoveria as tentativas de categorização e esquematização das crianças: a partir de enunciados concretos, elas tentariam elaborar Construções linguísticas abstratas, o que teria implicações importantes no seu desenvolvimento cognitivo (conceituar eventos e estados complexos e suas inter-relações). Segundo esse teórico, o que se deve considerar nos primórdios do uso da linguagem são os eventos e estados de coisas neles envolvidos como um todo-cenas complexas da experiência com um ou mais participantes em seus contextos espaciotemporais – porque é disso que as crianças falam, numa gradação que iria da holófrase, passaria pelas Construções verbais insuladas, Construções abstratas e, por fim Narrativas. As holófrases seriam a expressão linguística de uma só unidade que exprimiria todo um ato de fala (por exemplo, “bola” para dizer “pegue a bola”). O princípio geral, segundo esse psicólogo, é o de que as crianças vêm equipadas para se mover em qualquer direção- da parte para o todo ou do todo para as partes-ao 42 As discussões dessa seção são baseadas em TOMASELLO (1999[2003]), especificamente no capítulo Construções linguísticas e cognição de eventos, do livro Origens culturais da aquisição do conhecimento humano. 88 aprenderem a falar fluentemente sobre cenas básicas da experiência. As Construções verbais insuladas, por sua vez, seriam enunciados com mais de um nível de organização, com vários componentes significativos (o evento e os vários participantes nele envolvidos). Interessante é que, ao aprenderem a marcar simbolicamente os papéis participantes de um evento, as crianças o fazem a partir de cada verbo, um a um. Daí, a “hipótese dos verbos insulados” propor que a competência linguística inicial das crianças seja composta de um inventário de Construções linguísticas a partir de verbos específicos com espaços para participantes cujos papéis são marcados simbólica e individualmente. Nessa fase, as crianças ainda não fizeram generalizações sobre padrões de Construção verbal. O que justificaria tal processo seria o fato de, cognitivamente, as crianças perceberem estados e eventos como não intercambiáveis, daí a referência individual a cada um deles. Em um nível mais avançado, as Construções abstratas representariam esquemas cognitivos que vão sendo lentamente construídos na medida em que se extraem padrões das Construções verbais insuladas, resultando num protótipo no centro da Construção e exemplos mais periféricos que diferem dele de várias maneiras. Como casos dessas Construções teríamos: a) imperativas (Sorria); b) transitivas simples (Eliane chutou a bola); c) intransitivas simples (Ela sorriu); d) resultativas (Ela deixou a mesa limpa ); e) dativas/ ditransitivas (José deu um carro à filha); f) passivas (Ele foi assaltado pelo pivete ); g) atributivas e identificativas (A Salete é minha mãe) Nesse enfoque, o ponto principal é que a Construção, percebida como uma estrutura abstrata, torna-se um símbolo que carrega um sentido de certa forma independente das palavras envolvidas. Se inventássemos um predicador verbal qualquer e o inseríssemos dentro de um dado esquema construcional já conhecido dos falantes de uma dada língua, veríamos que eles atribuiriam sentido à Construção. Fica claro, também, que as crianças trabalham cognitivamente num crescendo: principiam com Construções linguísticas baseadas em vocábulos individuais e, gradualmente, vão 89 formando Construções abstratas que podem se tornar entidades simbólicas, parte da competência linguística. Cada criança tem de aprender as Construções linguísticas particulares, concretas e abstratas, da sua língua nativa. Para tanto, atuariam três conjuntos de processos muito importantes: a) aprendizagem cultural; b) discurso e conversação e c) abstração e esquematização. O papel da aprendizagem cultural na aquisição de Construções Gramaticais concretas (itens linguísticos específicos) basicamente se iguala à aquisição de palavras isoladas, ou seja, a criança tem de entender para que aspectos da cena de atenção conjunta o adulto quer que ela preste atenção ao usar aquela Construção específica e, por imitação, a criança aprende a adequar tal Construção a uma função comunicativa específica. O que parece é que toda a criatividade das crianças pequenas no início de sua expressão linguística decorre de elas colocarem material linguístico novo e diferente nos encaixes de participante/substantivo das Construções verbais insuladas. Logo, fica claro que é aprendizagem por imitação, pura e simples. Quanto ao discurso e à conversação, a habilidade que se requer da criança é que ela aprenda que os vários símbolos linguísticos de uma oração complexa dividem a cena referencial em elementos perceptuais/conceptuais passíveis de serem isolados, e que esses dois elementossimbólico e referencial- têm de estar alinhados adequadamente. Essa elaboração apoia-se na interação das crianças com outras pessoas, em que diferentes elementos da frase se destacam de várias maneiras. Tomasello (1999, 2003) chama tal habilidade de análise distributiva funcional: para entender a importância comunicativa de uma estrutura linguística, a criança tem de determinar a contribuição dessa estrutura para a intenção comunicativa do adulto no seu conjunto. Quanto à abstração e à esquematização, a hipótese que vigora é a de que as crianças formam um esquema de Construção linguística da mesma maneira como formam esquemas de eventos não linguísticos: esquemas gerais de diferentes tipos de eventos (X chuta Y; X ama Y; X encontra Y) percebidos como pertencentes a um esquema mais geral. Para aprender a usar a Construção adulta da maneira como os adultos o fazem, as crianças têm de fazer as generalizações adequadas, não só sobre quais verbos podem ocorrer em determinadas Construções, mas também sobre que verbos não podem ocorrer. Portanto, o caráter abstrato das Construções linguísticas pode ser visto como um padrão desenvolvimental em forma de 90 U: as crianças aprendem as Construções item por item, generalizam-nas, às vezes excessivamente, e depois reduzem tais generalizações até atingirem sua extensão convencional: Assim, a aquisição da linguagem é uma arena privilegiada em que podemos observar o complexo interjogo entre as linhas individual e cultural do desenvolvimento cognitivo, na medida em que as crianças criam individualmente Construções linguísticas abstratas, mas o fazem usando os artefatos simbólicos (Construções ) culturalmente convencionados, que já existem em seus grupos sociais (TOMASELLO, 1999[2003], p.209). A cognição linguística possui, portanto, três aspectos fundamentais: i) a divisão das cenas referenciais em eventos (ou estados) e seus participantes; ii) a tomada de perspectiva em relação às cenas referenciais e iii) a categorização das cenas referenciais. O primeiro aspecto reconhece que o usuário da língua divide seu mundo em unidades discretas, distinguindo entre eventos e seus participantes, o que nos reme te à distinção cognitiva entre fenômenos que se assemelham a “coisas” e fenômeno que se assemelham a “processos” e a “tópico da conversa” e “foco da conversa”. Os seres humanos só realizam essas tarefas quando se comunicam linguisticamente entre si, fazendo-o porque existem razões cognitivas e comunicativas e porque foi assim que seus antepassados fizeram. O segundo aspecto, a perspectivização, se refere às diferenças entre os eventos discursivos e à necessidade de assentar a cena referencial de que se está falando na cena de atenção conjunta que se compartilha com o interlocutor (adaptação dos meios simbólicos ao contexto comunicativo específico). Quando se trata de orações completas, os falantes assentam suas falas na cena de atenção conjunta presente, adaptando seu enunciado sobre a cena referencial aos conhecimentos, às expectativas e ao foco de atenção atual do ouvinte naquele momento preciso. O sujeito gramatical seria o “participante focal primário” e os outros participantes potenciais dividem-se em “participante focal secundário” (objeto direto) e “participante ancilar” (marcado por uma preposição), ou totalmente excluído. Talmy (1996) descreve o uso de determinadas Construções linguísticas como modos diferentes de abrir janelas ou criar diferenças na atenção. Ficher, Gleitman e Gleitman (1991) caracterizam as Construções como uma espécie de “zoom” que o falante usa para direcionar a atenção do ouvinte para uma perspectiva da cena. Por isso, muitas das complexidades sintáticas resultam da pragmática da comunicação. Assim, as Construções Gramaticais mais comuns e 91 recorrentes de uma língua fornecem pacotes preestabelecidos, convencionalizados ao longo do tempo histórico, para desempenhar tal função, e as crianças simplesmente os aprendem. 3.4.1 A metáfora na perspectiva de Tomasello Para Tomasello (1999; 2003) as Construções Gramaticais abstratas dão lugar a operações cognitivas únicas, sem paralelo no reino animal. A interação entre tais Construções e itens lexicais cria novas e poderosas possibilidades de interpretação derivacional, analógica e até metafórica das coisas. Em inglês, por exemplo, podemos interpretar: a) propriedades e atividade como se fossem objetos: O azul é minha cor favorita; b) objetos e atividades como se fossem propriedades: Sua voz de rato me assustou; c) objetos e propriedades como se fossem atividades: Ele molhou as calças; d) praticamente qualquer evento e objetos como se fossem outros: A vida é uma viagem. Os seres humanos criam esses tipos de analogias quando os recursos de seu inventário linguístico são insuficientes para satisfazer as demandas, inclusive as demandas expressivas, de uma determinada situação comunicativa, ou seja, demandas funcionais para adaptar meios convencionais de comunicação linguística a exigências comunicativas particulares. A aquisição de uma língua natural, no entanto, faz mais que expor as crianças a informações culturalmente importantes. Ela também serve para sociabilizar, estruturar culturalmente a maneira como as crianças habitualmente percebem e conceituam diferentes aspectos de seu mundo. São processos muito especiais de categorização e perspectivização conceptual com vistas à comunicação linguística. As categorias e os esquemas imanentes à linguagem possibilitam às crianças adotar múltiplas perspectivas em relação à mesma entidade simultaneamente: um objeto pode ser, ao mesmo tempo, uma rosa e uma flor (e muitas outras coisas), dependendo de como se quer interpretá- lo numa dada situação comunicativa. Para Tomasello (1999 [2003]) a manifestação, sem dúvida, mais interessante e cognitivamente mais significativa de categorias relacionais na linguagem é aquela que 92 concerne às analogias e metáforas, porque são compostas de eventos e relações que podem ser reconhecidos como “semelhantes” em diferentes campos de objetos. Segundo ele, o que as tornam peculiares é que diferem das categorias de objetos num sentido fundamental: os objetos são sempre os mesmos objetos, independentemente do contexto em que são encontrados. Por exemplo, um Tyrannosaurus rex é um Tyrannosaurus rex num museu, numa peça de teatro, na floresta. Já eventos e relações são dependentes do contexto de objetos. Por exemplo, a fotossíntese só ocorre no contexto das plantas (porque depende de certos objetos e substâncias específicos). Portanto, se quiséssemos falar de fotossíntese no contexto de automóveis, teríamos de invocar algum tipo de analogia ou metáfora em que substituíssemos um objeto pelo outro de modo que se preservasse a mesma estrutura relacional nos diferentes campos de objetos. A Linguística Cognitiva e Funcional mostrou que as metáforas permeiam até mesmo os usos mais corriqueiros da língua. Os adultos dizem para as crianças “entrarem na linha”, “tirarem isso da cabeça” e não “perderem a paciência”. Conhecer esses modos figurados de falar abre para as crianças a possibilidade de tecer analogias entre os domínios concretos que elas conhecem a partir de suas experiências sensóriomotoras e os domínios mais abstratos da interação e da vida social e mental adultas sobre as quais estão aprendendo. Depois de ouvir uma quantidade suficiente de certos tipos de expressões metafóricas, as crianças deveriam supostamente ser capazes de ter o tipo de entendimento metafórico amplo e abrangente que conduz à produtividade. As metáforas conceptuais (LAKOFF; JOHNSON, 1980) como A VIDA É UMA VIAGEM, instanciadas em várias expressões linguísticas como “Nossa relação perdeu o rumo”, levariam os falantes a criar padrões e a criar novas metáforas conexas, como por exemplo, Partimos para uma vida de casados, mas não levamos as coisas certas para a viagem. As crianças levam certo tempo para apreciar explicitamente a linguagem metafórica, provavelmente porque os mapeamentos relacionais desse tipo são bastante complexos. Gentner e Medina (1997)43 examinaram uma grande quantidade de dados empíricos e concluíram que a apreciação do pensamento analógico/metafórico pelas crianças é facilitada e possibilitada pelo contato delas com a linguagem relacional. À 43 apud Tomasello, 1999 [2003] 93 medida que as crianças ganham proficiência nas várias Construções abstratas, aprendem a interpretar coisas que sabem ser de determinado tipo como se fossem de outro. Com vários tipos de propósitos comunicativos e expressivos, as pessoas, ao longo do tempo histórico, utilizaram as categorias e os esquemas abstratos de modo inovador, o que exigiu, para sua compreensão, a interpretação analógica e metafórica de aspectos da realidade. As crianças, ao se depararem com esse aspecto do inventário linguístico de sua cultura, têm de lidar com ele e, finalmente, usá- lo. “A linguagem não cria ex nihilo a capacidade de categorizar, perspectivar ou fazer analogias ou metáforas” (TOMASELLO, 1999[2003], p.236). Isso seria impossível, porque a linguagem depende dessas aptidões, e elas devem estar presentes numa forma básica tanto em primatas não- humanos como em bebês em idade pré- linguística. No transcurso do tempo histórico, no entanto, os seres humanos criaram, colaborativamente, uma incrível coleção de perspectivas e interpretações categoriais sobre todo tipo de objetos, eventos e relações e as incorporaram em seus sistemas de comunicação simbólica chamados de línguas naturais. À medida que as crianças se desenvolvem ontogeneticamente, usam suas aptidões básicas de categorização, perspectivização e pensamento relacional- em combinação com sua capacidade de compreender as intenções comunicativas dos adultos- para aprender o uso das formas relevantes. Isso lhes permite tirar vantagens de um vasto número de categorias e analogias que outros membros de sua cultura consideraram adequado criar e simbolizar e que, muito provavelmente, elas nunca teriam pensado em criar sozinhas. Em alguns casos, as crianças também podem generalizar tudo o que aprenderam e criar categorias e analogias novas por conta própria. Importante notar, ainda, que a linguagem também está estruturada para simbolizar, de maneira complexa e variada, os eventos e seus participantes, o que é instrumental para que as crianças “esmiúcem” suas experiências dos eventos de várias maneiras complexas. As Construções linguísticas abstratas podem, então, ser usadas para pensar e intercambiar cenas experienciais de modo analógico e metafórico. 94 4 A METODOLOGIA 4.1 INTRODUÇÃO Não há dúvidas de que a ciência se faz ancorada em uma metodologia de pesquisa, ainda que variada em procedimentos e em taxonomias, devido às tentativas de se encontrar uma perfeita adequação entre o tipo de objeto pesquisado, os objetivos previamente estabelecidos e o arcabouço teórico que sustenta o empreendimento científico considerado válido. Ninguém duvida também que Linguística é ciência, assim instaurada por Ferdinand de Saussure, que brilhantemente reconheceu a impossibilidade de se fazer ciência não se determinando a natureza do objeto pesquisado, pois sem essa operação elementar, uma ciência é incapaz de estabelecer um método para si própria (Cours, p. 10). O presente trabalho, portanto, como projeto de pesquisa em Estudos Linguísticos, não pode se furtar de estabelecer um método de análise que seja coerente com a agenda do Sociocognitivismo e com o Modelo Baseado no Uso da Gramática das Construções. Nesse sentido, os desafios metodológicos exigem muita responsabilidade e esforço, o que não garante uma metodologia isenta de erros. Por isso, cito novamente Saussurre (Cours, p.11): “Do ponto de vista metodológico, porém, há certo interesse em conhecer esses erros”, na esperança de que esta pesquisa sirva também como incentivo a um investimento mais intenso em estudos de metodologias adequadas às pesquisas linguísticas. O primeiro desafio que qualquer pesquisa em Linguística Cognitiva enfrenta é sustentar empiricamente o “compromisso cognitivista” de encarar a linguagem como uma janela para a cognição. A questão prática que se coloca aqui é desmistificar o desencontro que se acreditou existir entre as metodologias usadas pelas outras ciências cognitivas (neurociências, psicologia cognitiva, psicologia desenvolvimentista, etc), que se utilizam cada vez mais de métodos empíricos sofisticados em seus experimentos e aquelas usadas 95 pela Linguística que, como acredita alguns, respalda grande parte de suas hipóteses e teorias unicamente em evidências linguísticas, consideradas pelos críticos insuficientes (VALENZUELA, 2007), ou em impressões intuitivas, resultantes de análise introspectiva. Sinclair (2004), embora reconhecendo a importância da intuição do linguista (usuários sofisticados, nas palavras dele), elenca dois problemas principais das pesquisas baseadas apenas na intuição do pesquisador: (i) o fato de não podermos justificar o uso da intuição além do testemunho pessoal e (ii) o fato de as pessoas diferirem profundamente em seus julgamentos intuitivos. Por isso, a estratégia que esse autor propõe é usar a intuição em conjunto com outros critérios de natureza mais verificável. Os outros critérios mais verificáveis a que Sinclair (2004) faz referência podem ser as evidências vindas de outras fontes e de outras disciplinas, mas que, de alguma forma, apontam para uma mesma direção. Isso é o que Valenzuela e Soriano (2005) chamam de “noção de evidência convergente”, conseguida a partir de alianças metodológicas. Outra forma de minimizar a insuficiência das evidênc ias estritamente linguísticas é decidir-se pela utilização de corpora. 4.2 A LINGUÍSTICA DE CORPUS A Linguística de Corpus é o coroamento natural de todo um modo de pensar a linguagem, principalmente após a contestação veemente do falante-ouvinte ideal chomskiano pelos gerativistas dissidentes. A partir da década de 70, a perspectiva cognitivo- funcional semeia a ideia de que a gramática surge de padrões de uso da língua em discursos reais e a Linguística de Corpus, com o estatuto em que se encontra hoje na agenda dos estudos linguísticos, é o fruto bom dessa semeadura. Embora pareça que a Linguística de Corpus seja a grande novidade dos estudos linguísticos contemporâneos, a sua origem remonta, segundo Francisco Gomes de Matos 44 , a uma obra estruturalista, dos anos 40, assinada por Charles C. Fries: American English Grammar. Matos relata que Fries faz nessa obra uma abordagem descritiva da 44 MATOS, F.G. Notas sobre livros. Revista DELTA, vol.20, n o .2 , São Paulo, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-44502004000200014&script=sci_arttext 96 gramática do Inglês, destinando um espaço, ainda que pequeno, a comentários de natureza quantitativa. Usando amostras retiradas de cartas de militares aos seus familiares, a descrição de Fries conseguia estabelecer as variantes de uso mais freque ntes. Sardinha (2000) 45 , no entanto, situa o marco da Linguística de Corpus nos anos 60, a partir do advento do primeiro corpus eletrônico, composto por um milhão de palavras: o corpus Brown. Não há dúvidas de que o que revolucionou a empreitada, iniciada por Fries, na verdade, foram os avanços tecnológicos, especialmente, os computacionais. A Linguística vive atualmente mais uma de suas revoluções, propiciada pelo computador pessoal, de livre acesso ao pesquisador da língua e que é capaz de armazenar uma quantidade inesgotável de dados, isto é, de evidências linguísticas e disponibilizá- la, a qualquer tempo, ao olhar atento do observador. Essa possibilidade pode alterar tudo o que se pensava a respeito de determinado fenômeno linguístico ou em nível mais amplo, tudo que se concebia como língua. “Passamos da idealização para a sistematização da observação da evidência” (SARDINHA, 2004, p. XVII). Nessa perspectiva, a língua passa a ser um sistema probabilístico, abordado de maneira empirista. O computador, por meio de suas ferramentas cada vez mais otimizadas, permite ao analista da língua a extração, a organização e a reorganização de dados por ele mesmo selecionados. Poderíamos elencar três das ferramentas computacionais principais: a) programas para listar palavras, contando-as; b) concordanciadores, que permitem a busca de uma palavra específica e seus contextos usuais; c) etiquetadores, que conseguem indexar os dados automaticamente com informações de natureza morfossintáticas e semântico-discursivas. Essas ferramentas computacionais permitem ao linguista reconhecer padrões da linguagem, intimamente relacionados a contextos situacionais específicos e a frequências de uso quantificadas. Na Linguística de Corpus, há três parâmetros que evidenciam essa padronização: a colocação, a coligação e a prosódia semântica. A 45 SARDINHA,T.B. Retrospectiva/ retrospective Linguís tica de Corpus: histórico e problemática (Corpus Linguistics: History and Problematization). In: Revista DELTA, Vol.6, N.º2, 2000 , pp.323-36. 97 colocação diz respeito à associação entre itens lexicais ou entre o léxico e campos semânticos; a coligação, por sua vez, refere-se à associação entre itens lexicais e gramaticais, já a prosódia semântica remete à associação entre itens lexicais e conotação ou instância avaliativa. Fazer Linguística de Corpus significa ocupar-se da coleta e da exploração de corpora, ou conjunto de dados linguísticos textuais, coletados criteriosamente, com o propósito de servirem para a pesquisa de uma língua ou variedade linguís tica. Como tal, dedicar-se à exploração da linguagem por meio de evidências empíricas, extraídas por computador (SARDINHA, 2004, p.3) Dessa forma, todo corpus é criado a partir de coletâneas de textos escritos ou transcrições de fala, mantidos em arquivos de computador, com o objetivo de promover a pesquisa. Por isso, o corpus em si é artificial, na medida em que é um objeto criado com fins específicos de estudo (SARDINHA, 2004). Sabe-se que as línguas naturais não têm limites preestabelecidos com relação, por exemplo, ao tamanho de seu vocabulário, ao seu repertório de estruturas significativas, à diversidade de contextos nos quais ela se realiza. Não importa, pois, o quão extenso é um corpus, nem com que cuidado ele foi desenhado, nenhum corpus é capaz de ter exatamente as mesmas características que a linguagem da qual ele é apenas uma amostra (SINCLAIR, 2004). Nas seções seguintes, passo a detalhar os procedimentos metodológicos que segui para realizar a tarefa de montar um corpus constituído apenas de blogs, relatando as razões que motivaram a decisão de constituir um corpus específico para esta pesquisa, além de descrever a ferramenta que melhor se adaptou aos meus objetivos, o corpus que foi possível organizar e as análises quantitativas que pude dele derivar. 4.3 SOBRE A NECESSIDADE DE UM CORPUS ESPECÍFICO O esforço investigativo que empreendo nesta pesquisa de doutorado veio no rastro de um outro estudo que realizei no mestrado. Neste, tentei mapear uma Construção Gramatical a que chamei Construção de Objeto Interdito, cuja instanciação 98 se dá em diversos enunciados da linguagem cotidiana como Se beber, não dirija, na qual se tem verbos tradicionalmente tratados como trans itivos que, ao anularem o complemento verbal da configuração sintática, recebem uma interpretação semânticopragmática de interdição. O fato é que, depois de concluído esse trabalho, continuei atenta a casos de destransitivização verbal e foi assim que constatei a frequência cada vez maior do uso do predicador bombar: as festas bombavam, as pessoas bombavam, o Big Brother bombava, enfim tudo que era extremamente apreciado e, por isso mesmo, recebia uma avaliação positiva, bombava. Esse neologismo verbal muito chamou a minha atenção, especialmente por me remeter, automaticamente, ao nome bomba: artefato de destruição ativado por carga explosiva (cf. Dicionário Houaiss) e que, portanto, não recebia, tradicionalmente, uma avaliação pragmática de valor positivo. Logo, o que tinha nas mãos eram duas Construções Gramaticais, cujos predicadores verbais apareciam na configuração sintática sem seus complementos à direita e que, no uso, disparavam inferências semântico-pragmáticas completamente diferentes: uma, a já estudada46 , servia de gatilho para o acesso a um Modelo Cognitivo Idealizado (MCI) de interdição, ratificando, na gramática, uma determinação sociocultural muito operante e, por isso mesmo, muito conhecida pelos falantes do Português do Brasil: a de que assuntos interditos (tabus sociais) devem ser evitados. A outra Construção, por estudar, a mim se mostrava como uma instrução semânticopragmática quando se queria dar realce às ações (e aos efeitos por elas produzidos) do elemento linguístico que ocupava a função de sujeito gramatical, melhor dizendo, a inferência semântico-pragmática dessa segunda Construção por destransitivização parecia ser a de hiperbolizar e hipervalorizar as ações do sujeito. Por isso, meu filho chegava da escola e dizia-me: Mamãe, arrebentei Ø na prova; da mesma forma, as revistas e os jornais tinham como manchetes: Em bela atuação, Argentina massacra Ø; Ivete Sangalo abala Ø no show de Recife. Ouvia o carro de som anunciar que O curso Visão detonou Ø no vestibular e nas novelas sempre tinha alguém que arrasava Ø. Baseando- me nessas cinco entradas verbais, tentei traçar um perfil inicial e intuitivo dos verbos usados destransitivizadamente para induzir a uma interpretação de 46 BRONZATO, Hotz Lucilene. A abordagem sociocognitiva da Construção de Destransitivização: o enquadre da interdição. 2000. 115 f. Dissertação (Mestrado em Linguística)- ICHL/UFJF, Juiz de Fora, 2000. 99 hiperbolização e hipervalorização da ação engendrada pela entidade sujeito. Busquei, na plataforma Google, pela destransitivização de verbos como arregaçar, estraçalhar, trucidar, metralhar, dentre muitos outros. Abria, uma a uma, as ocorrências elencadas pelo buscador, verificando se havia, realmente, destransitivização e se tal destransitivização era um caso de hiperbolização. Esse procedimento, embora bastante demorado e trabalhoso, mostrou-me evidências do uso da Construção de Hiperbolização muito relevantes: (i) o perfil inicial traçado para as entradas verbais estava correto; (ii) a Construção Gramatical de Hiperbolização seguia um padrão de uso e de seleção lexical altamente coerente; (iii) o número de tipos verbais destransitivizados e habilitados pela Construção de Hiperbolização passou de cinco para trinta e três; (iv) as ocorrências mais frequentes da CGH localizavam-se nos blogs 47 . Foi essa última constatação e o fato de minha pesquisa com as mesmas entradas verbais em corpora disponíveis para o Português não retornar nenhuma ou quase nenhuma ocorrência que me obrigaram a criar um corpus específico, constituído unicamente por textos alocados em blogs. 4.3.1 A escolha da ferramenta No momento em que verifiquei a necessidade de montar um corpus específico para estudar a Construção Gramatical de Hiperbolização, já que nos corpora existentes e disponíveis os resultados de busca que eu obtinha eram pouco satisfatórios, se comparados, por exemplo, às buscas realizadas com a plataforma Google, a principal decisão que tive de tomar foi sobre qual ferramenta utilizar para formar o banco de dados. Após fazer algumas tentativas, optei pela utilização da plataforma Corpógrafo, disponibilizado pelo projeto Linguateca 48 . O Corpógrafo é uma ferramenta de coleta e análise de corpora cuja maior vantagem, a meu ver, é permitir a formação de corpora de maneira fácil e bastante eficiente. 47 Blog é uma corruptela de weblog, expressão que pode ser traduzida como “diário na rede” ( ver p.166) O objetivo da Linguateca, um centro de recursos, distribuído, para o processamento computacional da Língua Portuguesa, é servir a comunidade que se dedica ao processamento da Língua Portuguesa ( mais informações em http://www.linguateca.pt/) 48 100 O Corpógrafo se compõe de quatro áreas de trabalho: Gestor, Pesquisa, Centro de Conhecimento e Centro de Comunicação, assim configuradas: Gestor Pesquisa Centro de Conhecimento Centro de Comunicação Figura 5: ilustração das áreas de trabalho do Corpógrafo. Fonte: Corpógrafo O Gestor é a área em que se pode trabalhar a edição e o pré- funcionamento dos ficheiros 49 . Todas as operações de armazenamento, pré-processamento e organização dos ficheiros são executadas nessa área de trabalho, por isso, o gestor é considerado como a base do Corpógrafo. O armazenamento dos ficheiros se dá via dois caminhos: a partir de dados já armazenados no computador pessoal do pesquisador ou através de uma URL (Universal ou Uniform Resource Locator). Com os dados armazenados, é possível, ainda na área do Gestor, organizá- los: cada arquivo armazenado passa a ser um ficheiro ao qual se pode atribuir informações, como idioma, autor, fonte, editora, que o organizem. A depender, também, dos objetivo s da pesquisa, o analista tem o recurso de limpar os ficheiros, modificar a divisão em frases, classificá- los e categorizá- los. Depois de tratados, os ficheiros podem passar a fazer parte do corpus, “unidade de texto que é efetivamente pesquisável”.50 Para que se agreguem ficheiros ao corpus, basta que se abra no Gestor a janela CORPORA e, em seguida, NOVO CORPUS. Com o corpus já tratado e organizado em pastas, saímos da área do Gestor para a área da Pesquisa na qual visualizamos as cinco opções de busca no corpus: 49 Cada URL copiada se divide em um dado número de ficheiros (arquivos), que, por sua vez, se subdividem em novos arquivos. 50 Pinto, Ana Sofia. Introdução à utilização do Corpógrafo: um pequeno tutorial. Disponível em HTTP://web.usal.es/~gpalacios/decencia/doctorado/tutorialCORPOGRAFO.pdf 101 Pesquisa Concordância Frase Estudo de N-Gramas Concordância Janela Concordância KWIC Concordâncias paralelas Figura 6: ilustração da área de pesquisa do Corpógrafo. Fonte: Corpógrafo O estudo de expressões regulares se faz por meio de uma das janelas de concordância: Concordância Frase, Concordância Janela ou Concordância KWIC. Na pesquisa via Concordância Frase, a concordância aparece no contexto da frase em que ocorre. Já no modo Janela, aparece, também, o número de átomos 51 que antecedem e precedem a concordância. Na última modalidade, Concordância KWIC, pode-se determinar o tamanho do contexto de visualização da frase. A pesquisa de um termo pode ser feita por meio de palavra específica, por exemplo, “massacrou” ou utilizandose um recurso que consiste em acrescentar ao radical da palavra a ser pesquisada a terminação \w+, cuja vantagem maior é proporcionar uma busca mais ampla, com maior ganho de tempo, embora tenha o inconveniente de fazer com que o pesquisador do corpus tenha um trabalho maior ao “limpar” seus dados, já que essa busca generalizada produz um resultado “menos limpo”. Logo, se digitarmos na janela de busca da Concordância Frase a seguinte expressão massacr\w+, obteremos o seguinte resultado: Expressão de pesquisa: massacr\w+ 51 No Corpógrafo, o conceito de atomização equivale à noção de “tokenização” na qual se consideram como átomos não só as palavras propriamente ditas como também: (...), [...], reticências , aspas " « e » , números (inclusive os romanos), URLs, e-mails , sinais de pontuação, abreviaturas, palavras ligadas por hífen (o que inclui verbos com clíticos, palavras compostas por aglutinação, tais como couve-flor, politico-econômico-social, e casos mais livres e problemáticos como Benfica-Sporting, direita-esquerda, palavras ligadas por barra, como e/ou; CDS/PP; EPUL/Rio. (http://www.linguateca.pt/Corpografo/) 102 0# f Info Frase onde ocorre a concordância 1 1954 Aliás , estou me retirando aos poucos porque me dá ânsia de VÔMITO frequentar o mesmo espaço de alguém que defende o massacre de inocentes . 2 222 Entre outras coisas , Gerald fala da identidade cultural do Brasil nos anos 80 , de polêmica , de seu teatro , de sua amizade com Samuel Beckett ( ou Mr. Beckett ) , de honestidade , de tempo , falta dele , do massacre que ele promove na cabeça do artista , e atesta : "A arte é um estado de flutuação migratória" . 3 767 Pensando nisso eu me sinto um ganso q é massacrado por tanto consumo q me é empurrado goela abaixo para q eu vire um produto , essa massa , esse patê cultural . 4 1129 Os xiitas querem um xiita , os sunitas querem um sunita , e os curdos querem um curdo , que dê poder a sua etnia e massacre as demais . Figura 7: ilustração da pesquisa por Concordância Frase Como podemos perceber, pelo exemplo, a pesquisa por Concordância Frase generalizada traz alguns inconvenientes, como a não restrição a uma classe gramatical específica. No caso do presente estudo, em que os verbos são o foco da análise, as ocorrências do item massacre (substantivo) ou massacrado (adjetivo) nas frases acima, por exemplo, não são relevantes. Além disso, esse tipo de busca no Corpógrafo não elimina o risco de ocorrências de frases repetidas, o que leva a um trabalho de limpeza do corpus mais apurado. Se a mesma pesquisa fosse realizada na janela de busca da Concordância Janela, teríamos o seguinte resultado: Expressão de pesquisa: massac\w+ # 4 3 2 1 conc. 1 2 # 1 embrulhada ao lembrar do massacre de Zidane 4 2 , com toques de Massacre da Serra 3 3 conhecido como chacina ou massacre da Candelária 3 4 alguém que o massacre de inocentes Um massacre! defende 5 6 [ link 7 anterior.Qual o ] 30/07/2006 MASSACRE Para uma resultado desse massacre? 2 2 2 2 Figura 8: exemplo ilustrativo de pesquisa por Concordância Janela. Fonte Corpógrafo 103 Na janela de busca da pesquisa por Concordância KWIC, a mesma pesquisa resultaria no seguinte: # POS (C/P) esq. conc. dir. nº frase info 1 117 / 23 que defende o massacre de inocentes . 1954 2 210 / 45 dele , do massacre que ele promove 222 3 40 / 10 ganso q é 4 115 / 27 sua etnia e 5 267 / 53 ( o constante massacrado por tanto consumo massacre MASSACRE 767 as demais . 1129 que os Chineses 1535 Figura 9: exemplo ilustrativo de pesquisa por Concordância KWIC. Fonte Corpógrafo Abrindo-se a opção Estudo de N-Gramas, o Corpógrafo possibilita uma análise da frequência de palavras coocorrentes, favorecendo a visualização de características que se destacam no texto, como por exemplo, Construções sistemáticas com mais de uma palavra. Expressão de pesquisa: arregaçar Corpus pesquisado: Blogs-Uol (9378418 átomos : 2505 ficheiros) # POS (C/P) esq. conc. dir. 1 160 / 32 rge Pedro Galli ( ambos arregaçar as mangas também do RS ) jamais trabalhar . se negaram em 2 45 / 10 iso planejar , arregaçar nº frase info e 171 as mangas , 97 trabalhar muito e plantar sempre o Bem . Figura 10- exemplo ilustrativo de pesquisa por Estudo N-gramas. Fonte: Corpógrafo A Concordância Paralela serve, por sua vez, para se trabalhar com dois corpora ao mesmo tempo. A outra área do Corpógrafo, o Centro de Conhecimento, é um espaço onde se pode armazenar e pesquisar informações de nível lexical, morfológico, sintático e 104 semântico. A informação que o Corpógrafo permite “armazenar e gerir é uma teia complexa de elementos que representam a formalização do conhecimento linguístico e conceptual de um determinado domínio” (PINTO, 2006, p.17) No estágio em que se encontra, o Corpógrafo é considerado pelos seus criadores como uma plataforma em construção. Por isso, o centro de conhecimento do Corpógrafo ocupa-se quase que exclusivamente na gestão das bases de dados terminológicas, que não são simplesmente listas, na medida em que permitem estabelecer relações interlexicais, gerando uma malha (teia) conceptual multidimensional. Por fim, o Centro de Comunicação se destina a ser um canal de informação sobre a própria ferramenta, através de mensagens, ajudas, tutoriais e publicações sobre o Corpógrafo que podem ser baixadas para os computadores dos usuários. 4.3.2 O corpus organizado A pesquisa informal que fiz na plataforma Google, com o objetivo de verificar se minhas intuições iniciais revelariam alguma coerência, acabou me mostrando, como já disse, que a Construção Gramatical de Hiperbolização possui uma ocorrência mais frequente em sites de blogs. Com as hipóteses já delineadas, o meu interesse maior era observar, descrever e explicar nos dados reais do Português: 1º) a estruturação sintáticosemântico-pragmática da Construção Gramatical de Hiperbolização; 2º) a motivação e o processamento metafórico subjacente à mesma. Por possuir recursos que permitem a confecção de um ou mais corpora e por dispensar, a depender do objetivo do pesquisador, o uso de ferramentas de análise, como, por exemplo, o WordSmith Tools, o Corpógrafo pareceu- me o recurso computacional mais adequado à minha necessidade de criação de um corpus específico. 105 O primeiro grande desafio foi conseguir que o Corpógrafo incorporasse as URLs, indexadas pelos blogs. O modo disponibilizado por essa plataforma é acessar a área do Gestor, clicar em Ficheiros e, logo em seguida, clicar em Adicionar Ficheiros e escolher a opção “a partir de uma URL”. De início, eu copiava as URLs resultantes da pesquisa no Google. O resultado, quase sempre, era uma tentativa de busca demorada e uma mensagem de erro como resposta, o que me fez pensar na existência de um tipo de licenciamento de cópia de URL sobre o qual eu desconheço os detalhes. Porém, nessas tentativas e erros, pareceu- me ser mais promissora a tarefa de tentar adicionar blogs “mais oficiais”, ou seja, blogs certificados por algum portal52 . Com essa intuição, busquei no servidor Universo Online (UOL) 53 a lista de blogs certificados por essa bandeira, ou seja, os chamados blogs da redação UOL. Baixei um a um, copiando os endereços oficiais e colando-os na janela de busca do Corpógrafo, conforme o exemplo: Carregar ficheiros a partir de uma URL Parametros de selecção de ficheiros 1. Indique o URL do sítio web a pesquisar: http:// 2. Número máximo de ligações a visitar: http://blogdolele.blog.uol.com.br/ 50 3. Visitar apenas locais "abaixo" do URL indicado: 4. Tempo máximo de pesquisa: 2 min. 5. Apresentar: todos os tipos de documentos apenas PDF apenas PS 52 Um portal é um site na internet que funciona como centro aglomerador e distribuidor de conteúdo para uma série de outros sites ou subsites dentro, e também fora, do domínio ou subdomínio da emp resa gestora do portal (pt.wikipedia.org). 53 Embora esteja usando a primeira pessoa do singular, todo o trabalho de cópia das URLs foi feito em parceria com a doutoranda Thaís Ferreira, da Universidade Federal de Juiz de Fora. 106 apenas HTML apenas DOC apenas RTF apenas TXT Salvar ficheiros originais em disco Pesquisar Figura 11- ilustração da janela de busca por URL do Corpógrafo. Fonte: Corpógrafo Cada busca de um blog UOL bem sucedida resultou em um ficheiro a mais no Gestor, o que, ao final, me proporcionou uma lista com 100 blogs, agregados em um único arquivo-ficheiro denominado BLOGS UOL. Cada ficheiro copiado para o Corpógrafo se compõe de subficheiros, a depender do número de seções de texto que o constitui. Os blogs UOL copiados, que constituem o corpus pesquisado nessa pesquisa, estão abaixo relacionados: (12) Lista de ficheiros 10paezinhos.blog.uol.com.br 140.zip.net aalonso.blog.uol.com.br adoteumgatinho2.zip.net alexandrepires.blog.uol.com.br algodaodoce.cp.zip.net angelaroro.blog.uol.com.br atirenodramaturgo.zip.net blog mabel veloso Blog Preta Gil blogdajussarasilveira.blog.uol.com.br blogdathati.blog.uol.com.br blogdofalcao.zip.net blogdofininho.blog.uol.com.br blogdoihp.blog.uol.com.br blogdolingua.zip.net blogdolovatto.zip.net blogmariacandida.zip.net blogoh.blog.uol.com.br blogtodateen.blog.uol.com.br brunomotta.zip.net celsocardoso.zip.net carapuceiro.zip.net celsocavallini.zip.net 37 Ficheiros 10 Ficheiros 41 Ficheiros 45 Ficheiros 16 Ficheiros 12 Ficheiros 8 Ficheiros 6 Ficheiros 32 Ficheiros 41 Ficheiros 16 Ficheiros 17 Ficheiros 15 Ficheiros 8 Ficheiros 14 Ficheiros 39 Ficheiros 21 Ficheiros 7 Ficheiros 15 Ficheiros 8 Ficheiros 41 Ficheiros 13 Ficheiros 43 Ficheiros 10 Ficheiros 107 marcelotas.blog.uol.com.br claudiacollucci.blog.uol.com.br_ contato.luapio.blog.uol.com.br contosbregas.zip.net debora70.blog.uol.com.br decarapralua.zip.net despropaganda.zip.net diariodaodalisca.zip.net dobispo.zip.net encarnacaododemonio.blog.uol.com.br escutaze.blog.uol.com.br etiquetesima.zip.net fabiotv.zip.net felipeandreoliblog.blog.uol.com.br fisicamoderna.blog.uol.com.br helpfumo.blog.uol.com.br janecorona.blog.uol.com.br jumentodetroia.blog.uol.com.br kleine.zip.net laerteeomundo.zip.net leojaime.blog.uol.com.br luisa.mell.blog.uol.com.br magalyprado.blog.uol.com.br mangabastudios.blog.uol.com.br marcelotas.blog.uol.com.br mariellalazaretti.zip.net mauriciomanieri.blog.uol.com.br Nahyfa blog nineaalves.blogger.com.br nosexandthecity.zip.net obuxixo.zip.net olhoslivres.zip.net olhossempreabertos.zip.net os.dias.e.as.horas.zip.net otavionapeneira.zip.net papelmanteiga.zip.net paulofreireblog.zip.net peixedeaquario.zip.net popindie.zip.net prohiphop.blog.uol.com.br pueril.zip.net qualidadedeconteudo.blog.uol.com.br queridoleitor.zip.net rafael.cortez.zip.net revistaatrevida.blog.uol.com. br rodaamerica.blog.uol.com.br rodolfomartino.blog.uol.com. br rolocompressor.zip.net rrtv.zip.net semgelo.zip.net sergiodavila.blog.uol.com.br Televisao teojose.zip.net 42 Ficheiros 40 Ficheiros 42 Ficheiros 33 Ficheiros 8 Ficheiros 43 Ficheiros 30 Ficheiros 29 Ficheiros 11 Ficheiros 8 Ficheiros 3 Ficheiros 44 Ficheiros 43 Ficheiros 8 Ficheiros 36 Ficheiros 5 Ficheiros 8 Ficheiros 7 Ficheiros 14 Ficheiros 45 Ficheiros 9 Ficheiros 13 Ficheiros 37 Ficheiros 42 Ficheiros 43 Ficheiros 10 Ficheiros 25 Ficheiros 5 Ficheiros 36 Ficheiros 44 Ficheiros 44 Ficheiros 12 Ficheiros 10 Ficheiros 4 Ficheiros 6 Ficheiros 17 Ficheiros 44 Ficheiros 25 Ficheiros 10 Ficheiros 21 Ficheiros 46 Ficheiros 43 Ficheiros 40 Ficheiros 9 Ficheiros 6 Ficheiros 16 Ficheiros 6 Ficheiros 9 Ficheiros 43 Ficheiros 5 Ficheiros 42 Ficheiros 7 Ficheiros 45 Ficheiros 108 terrasdecabral.zip.net tomze.blog.uol.com.br tricortando.zip.net trivialfenomenal.zip.net uolesporte.blog.uol.com.br 02neuronio.blog.uol.com.br afischer.blog.uol.com.br biancasoares.blogger.com.br blogboasaude.zip.net blogdofred.folha.blog.uol.com.br blogdogalhardo.zip.net blogdojuca.blog.uol.com.br blogdosquadrinhos.blog.uol.com.br blogdotorero.blog.uol.com.br danilogentili.zip.net delfuego.zip.net erikgaldino.com.br euamoossapinhos.blogger.com.br geraldthomas.blog.uol.com.br jcbernardet.blog.uol.com.br liliprata.blog.uol.com.br sheilamello.blog.uol.com.br uoltecnologia.blog.uol.com.br 5 Ficheiros 10 Ficheiros 42 Ficheiros 28 Ficheiros 2 Ficheiros 42 Ficheiros 42 Ficheiros 3 Ficheiros 40 Ficheiros 42 Ficheiros 43 Ficheiros 44 Ficheiros 37 Ficheiros 39 Ficheiros 22 Ficheiros 1 Ficheiro 22 Ficheiros 45 Ficheiros 43 Ficheiros 31 Ficheiros 43 Ficheiros 42 Ficheiros 33 Ficheiros Pelos nomes dos blogs elencados, é possível sabermos quem são seus autores e, por inferência, quais são os principais assuntos abordados em cada um deles. Há uma lista de celebridades artísticas como Preta Gil, Luísa Mell, Alexandre Pires e Ângela Rorô; outros blogs são assinados por jornalistas famosos: Marcelo Tas, Danilo Gentili; muitos comentaristas esportivos figuram também nessa lista: Téo José, Juca Kfouri, José Roberto Torero que, como Xico Sá, é um jornalista que se envereda pela literatura, sendo autor de treze livros e de vários roteiros para o cinema. Em termos de “amostras” de linguagem, o corpus Blogs UOL é, portanto, bastante variado, já que seus autores pertencem a comunidades discursivas bastante diversificadas. Cada um dos ficheiros, composto por um dos blogs acima, é constituído de um número variado de arquivos, cada qual com uma determinada qua ntidade de átomos e uma composição variada de gêneros. O blog carapuceiro.zip.net, alocado no portal 109 UOL e assinado por Xico Sá, é um bom exemplo dessa miscelânea de gêneros textuais. O autor, sendo jornalista e escritor, dedica-se a escrever em seu blog crônicas, a que ele chama “Blônicas”, isto é, “crônicas de blog”, 54 mostrando com isso o nascimento e o reconhecimento de um novo gênero. Mas há também contos e há ainda comentários, abertos a qualquer internauta, a princípio sobre as crônicas e os contos, mas que podem tangenciar os mais diversos assuntos nos mais diferentes registros, o que resulta em um emaranhado linguístico de textos e autores. Essas “divisões” do blog são captadas pelo Corpógrafo como arquivos separados, como mostra o exemplo: FICHEIROS:\blogs uol\ [carapuceiro.zip.net] 1 2 3 4 5 6 arch2005-04-24_2005-04-30.html 4129 arch2005-06-05_2005-06-11.html 5979 arch2005-07-03_2005-07-09.html 4693 arch2005-07-24_2005-07-30.html 4674 arch2005-08-14_2005-08-20.html 4814 arch2005-08-21_2005-08-27.html 4813 átomos átomos átomos átomos átomos átomos palavras palavras palavras palavras palavras palavras Figura 13- exemplo ilustrativo de uma lista de arquivos de um dado ficheiro. Fonte: Corpógrafo Portanto, o corpus Blogs UOL foi formado a partir do acesso a 100 blogs, alocados no portal UOL, e cada um deles composto por um número variado de arquivos que, por sua vez, contêm uma quantidade diversificada de palavras e gêneros textuais. 4.3.3 Procedimentos de pesquisa no corpus Blogs UOL Com o corpus pronto, a segunda etapa que precisei cumprir foi a da pesquisa. Para tanto, em consonância com os objetivos do meu trabalho, decidi que a pesquisa por Concordância Frase generalizada (\w+) seria a mais apropriada, porque quase sempre esse tipo de busca retorna um fragmento de texto suficiente o bastante para que dúvidas a respeito de recuperabilidade anafórica possam ser devidamente sanadas, enquanto as 54 SÁ, Xico. Blônicas: crônicas de blog. Ed. Jabuticaba 110 outras opções me obrigariam a decidir sobre o número de palavras à esquerda e à direita do tipo verbal pesquisado, o que não seria uma decisão muito fácil. Antes de iniciar a pesquisa no corpus Blogs UOL, no entanto, é preciso esclarecer que o manuseio dos dados na área Gestor do Corpógrafo consistiu, apenas, em arquivar ficheiros a partir de URLs disponibilizadas pelos blogs UOL e, com eles, organizar um corpus a que chamei Corpus Blogs UOL. As etapas de edição de texto, correção de fraseamento e verificação de contextos foram realizadas no editor de texto Word, a partir dos dados gravados em meu computador pessoal. Assim, cada tipo verbal gerou um arquivo. Esses arquivos-Tipo, em Word, foram criados, seguindo-se os seguintes passos: 1º) foi feita a busca no Corpógrafo, utilizando-se a opção de pesquisa por Concordância Frase; 2º) todo o resultado foi copiado (Crtl c) e colado (Crtl v) para um arquivo Word, designado Expressão de pesquisa X, sendo x o nome do tipo verbal; 3º) todo o material copiado foi reformatado, eliminando-se as ocorrências repetidas e contextualizando-se as frases 55 , quando necessário, o que gerou um arquivo assim constituído: Expressão de pesquisa: arras\w* Corpus pesquisado: Blogs- uol (9.378.418 átomos, 2505 ficheiros) 1. Íris arrasa mais uma vez em desfile em São Paulo. 55 Há casos em que a ocorrência gerada no Corpógrafo não traz um contexto suficiente para se saber se a ausência do complemento verbal pode ou não, ser recuperada. O próprio Corpógrafo permite a identificação do arquivo no qual a frase se encontra e, no meu caso, o próprio comando crtl c por mim usado, abriu uma janela na qual uma das opções era uma busca na WEB. Portanto, casos como “Ele não faz a marcação, faz pressão, cutuca, espinafra, invade, abafa” em que é difícil afirmar tratar-se ou não da CGH, a pesquisa no contexto de origem foi necessária e suficiente para esclarecer quaisquer dúvidas, como mostra o contexto de origem da ocorrência supracitada: Guiñazu joga curvado, baixa a cabeça como um guarda-sol, fecha as brechas, rouba a bola como se tivesse emprestado rapidamente aos adversários, mudado de idéia e decidido levar para casa. A sensação é que o Guiñazu é o dono da bola. Ele não faz a marcação, faz pressão, cutuca, espinafra, invade, abafa. Santo Antônio de Pádua inaugurou a ubiqüidade, estar em dois lugares ao mesmo tempo. Guiñazu aperfeiçoou o dom. É o John Malkovich do Inter. Quero ser Guiñazu. Todos são ele, ele é todos. Não chuta a gol para não ser vendido. Ama o seu time. Entendeu que, se ele fizer gol, será um gênio. Não deseja sair de Porto Alegre e toca generosamente aos colegas - com a gentileza treinada de um garçom - quando poderia desferir o golpe fatal. (http://74.125.47.132/search?q=cache:F9bCQ4AxVoYJ:rolocompressor.zip.net/arch2008-09-28_200810-04.html) 111 2. E essa temporada se fecha com uma Fabiana Gugli arrasando, atriz magistral como ela só, com o seu Juliano Antunes e uma companhia nova que achei nos montes dourados de São Paulo,com seus Panchos uruguaios e seus Fabios e todos esses atores que não verei mais depois de amanhã...que loucura meu deus. 3. O desejo de aliança de qualquer modo; de juntar poder com poder para todos reinarem felizes, evitando o desconforto de dizer não, com coragem, ao que é indevido, arrasam o Brasil. Cria-se uma Confederação de Interesses Mútuos e impede-se que sejamos o que podemos ser." Formados os trinta e três arquivos individuais em meu computador pessoal, todas as pesquisas, como frequência, número de ocorrências com complemento, número de ocorrências sem complemento, etc., a partir daí, foram feitas nesses arquivos Word. Todos os arquivos-tipo, reunidos em um só arquivo, formaram meu corpus, versão Word, a que chamei Corpus Completo Blogs UOL. As repetições de ocorrências surgiram, suponho, por dois motivos: 1º) algum tipo de falha técnica do mecanismo de busca do Corpógrafo; 2º) pela própria natureza do corpus, já que é inerente aos blogs a citação de textos de outros blogs ipsis litteris, o que gera duas buscas diferentes (duas URLs), todavia o mesmo resultado. No Corpógrafo, a distinção entre o primeiro caso e o segundo se dá pelo número da frase que antecede cada uma das ocorrências pesquisadas: frases com o mesmo número significam a mesma ocorrência. Sem a eliminação de tais repetições, os dados estatísticos do Corpógrafo, como o número de ocorrências obtidas e a frequência das mesmas, se desvalidam. Volto a lembrar, no entanto, que todo esse processo de tratamento do corpus poderia ter sido feito no próprio Corpógrafo, na área de trabalho do Gestor. Dentro do editor de texto Word, as ocorrências, já livres de repetições e devidamente contextualizadas, foram numeradas. O estudo dessas ocorrências consistiu em observar a configuração sintática das sentenças nas quais apareciam os verbos-tipos por mim pesquisados, considerando: a) a presença ou ausência de complementos à direita; b) o tipo de sintagmas nominais (SN) instanciados como complementos verbais; c) a presença ou ausência de sintagmas preposicionais (SP); d) os sentidos encontrados; e) a presença e a frequência da Construção Gramatical de Hiperbolização, o que resultou em uma planilha de análise (figura 14), 112 composta de 33 tipos verbais, analisados nos seguintes tópicos: ocorrências totais (OT); ocorrências destransitivizadas (OD); tipos de complementos (SN); ocorrência da Construção Gramatical de Hiperbolização (CGH); tipos de sintagmas preposicionais (SP); sentidos encontrados e observações relevantes dos dados, conforme ilustra o exemplo: (14) PLANILHA DE ANÁLISE56 TIPO 1.ABAFAR OT 16 SN seu eco, CPI´s, o caso, uma balada, a caixa da bateria, as vozes das mulheres, as últimas palavras, o cozimento, essa dorzinha besta OD 5 CGH 4 SP 0 SENTIDOS 1.cobrir para conservar o calor;2. encobrir, ocultar, esconder, disfarçar;3. impedir de ser ouvido, amortecer, abrandar 1.Existe dicionarizada a expressão “abafar a banca” cujo significado é “fazer sucesso maior do que qualquer outro indivíduo.”2.Ocorrência ambígua:“Ele não faz a marcação, faz pressão, cutuca, espinafra, invade, abafa” . Fonte: Do autor Para visualizar melhor os dados estatísticos, uma tabela, simplificada, foi criada a partir do apagamento dos dados não numéricos da planilha de análise e do acréscimo de porcentagens referentes a: a) percentual destransitivizadas, considerando-se as ocorrências totais; de ocorrências b) percentual de ocorrência da CGH, considerando-se as ocorrências destransitivizadas. 56 Essa planilha, devido a sua extensão (9 páginas), virá sob a forma de ANEXO A, do CD que acompanha a tese. 113 (15) TABELA SIMPLES 57 VERBO 1. 2. ABAFAR ABALAR 3. ANIQUILAR 4. APAVORAR 5. ARRASAR 6. ARREBENTAR OCORRÊNCIAS TOTAIS SEM COMPLE MENTO % CGH % 16 45 8 8 65 40 5 3 1 2 51 21 31,25% 6,66% 12,5% 25% 76,9,3% 52,5% 4 3 0 1 51 16 80% 100% 0% 50% 100% 76,19% Fonte: Do autor Uma outra planilha foi criada, enfocando o percentual das Construções de Hiperbolização (CGH), cujo verbo destransitivizado vem acompanhado de sintagma preposicional (SP): (16) PLANILHA DOS SINTAGMAS PREPOSICIONAIS 57 VERBO O. TOTAIS CGH CGH COM SP 1.ABAFAR 2.ABALAR 16 45 4 3 3.ANIQUILAR 4..APAVORAR 5.ARRASAR 8 8 65 0 1 51 6..ARREBENTAR 40 16 7.ARREGAÇAR 8 1 0% 33,3% NA GERAL 0% 0% 52,9% EM DESFILE; NO PAN; POR TODOS OS GRAMADOS; NA SP FASHION WEEK; NAS DANCETERIAS; NO BRASILEIRÃO; POR AÍ; NO PAPEL DE TRAVESTI; COM O ROLAND; NA BALADA; EM PORTO ALEGRE; NO ESTÁDIO DO PACAEMBU; NA NOVELA DA GLOBO; NAS PISTAS DE GELO; NESSE ANO NOVO; NESSE FILME; NO DISNEY CHANNEL; NAS QUADRAS; NO MADA; NO FESTIVAL MADA; NO CINEMA; NA LAJE; DE CALCINHA; NO BLING; NA DIVULGAÇÃO; NO TEATRO DE LIVRO; NA PASSARELA 53,3% EM JK; NOS COMENTÁRIOS; NO CONTO; NAS PÁGINAS DA VIDA; NA REVISTA; NAS BILHETERIAS; NO ÚLTIMO DOMINGO; NA EXECUÇÃO 0% Essa tabela encontra-se completa à p. 147. 114 8.ARREPIAR 23 1 9.ATROPELAR 48 2 10.AVASSALAR 11.BARBARIZAR 3 5 0 2 12.BOMBAR 57 54 13.BOMBARDEAR 14.CAUSAR 15.DESTROÇAR 16.DESTRUIR 17.DETONAR 10 58 2 124 58 0 1 0 0 4 18.ESCULACHAR 19.ESTOURAR 0 71 0 18 100% NO BATUQUE 50% POR FORA 0% 50% NAS SELETIVAS 33,9% POR AQUI; EM AUDIÊNCIA; NO RIO; NA CAMPANHA PRESIDENCIAL; NA INTERNET; NA INTERNET; POR AÍ; DE ADOLESCENTES; NO BRASIL; AOS DOMINGOS; COM CELULARES; NAS SUAS ATIVIDADES TEATRAIS; NAS LOJAS E NA MÍDIA; NESTE FIM DE ANO; NAS RÁDIOS; NOS EUA; NO PRÓXIMO FASHION WEEK; NAS LOJAS 0% 0% 0% 0% 25% NESTES TESTES 0% 72,2% COM 25% DOS VOTOS; NA INTERNET; NA INTERNET; NAS PARADAS; NO BRASIL INTEIRO; NAS RÁDIOS; COM OS HITS BREAKWAY; NAS RÁDIOS; NA INTERNET; NA INTERNET; NA EUROPA; NO BRASIL INTEIRO; EM TODO O PAÍS 20.ESTRAÇALHAR 4 1 100% EM SUA COLUNA SEMANAL 21.EXPLODIR 105 10 22.EXTERMINAR 8 0 70% POR TODO O BRASIL; AOS 26 ANOS; COM NOSSA ARTE FENOMENAL; NO PALCO DA RECORD; NESTAS REGIÕES; NO IBOPE; NA ATUAL FASE DO SBT 0% 23.FULMINAR 9 1 50% NA SAÍDA DO GOLEIRO 115 24.FUZILAR 19 11 25.HUMILHAR 26.INCENDIAR 27.LIQUIDAR 28.MALTRATAR 29.MASSACRAR 20 17 26 8 8 0 1 1 0 1 30.MATAR 304 6 45,4% PARA FAZER 2 A 0; PARA FAZER 3 A 0; PARA MARCAR; PARA FAZER 1 A 0; POR CIMA 0% 0% 0% 0% 0% 31.METRALHAR 32.TRITURAR 6 6 0 0 100% AOS 10 MINUTOS; COM ALTA CATEGORIA; EM CHEIO; A PAU; A PAU; A PAU 0% 0% 33.TRUCIDAR 6 0 0% Fonte: Do autor A planilha de análise, por ser bastante completa, me permitiu observar a tolerância dos verbos pesquisados a uma possível destransitivização e os graus de independência destes com relação aos seus complementos; os tipos de sintagmas nominais instanciados como objetos diretos desses verbos mostraram- me o lugar em que se encontram essas entradas verbais pesquisadas no contínuo do processo de metaforização. A presença ou ausência dos sintagmas preposicionais e seus tipos esclareceram a necessidade de se marcar ou não, esse elemento da configuração sintática da CGH como opcional, as preposições preferidas para essa função sintático-semântica e a maior ou menor dependência dos verbos estudados em relação a esse complemento. Os sentidos encontrados iluminaram, também, o processo metafórico e seu sistema de coerência, além de estabelecerem, sincronicamente, aqueles sentidos que caíram em desuso e aqueles que, por outro lado, estão fixando-se cada vez mais no sistema da língua. Embora todos os tipos verbais tenham sido, comprovadamente atestados por meio de pesquisa no Google, sendo usados sem complemento à direta, o quadro de análise revelou os diferentes estágios de lexicalização do sentido da CGH em que se encontram os 33 tipos pesquisados. 116 4.3.4 Sobre a representatividade do corpus Blogs UOL Cada blog é, do ponto de vista linguístico, um sistema multivariado. Faz parte desse espaço virtual incluir uma diversidade de gêneros textuais e, portanto, de normas linguísticas variadas, que vão desde os textos literários, canônicos ou modernos, aos comentários mais informais. Desta forma, o corpus organizado é quantitativamente representativo, porque ao somar os átomos de cada ficheiro, o Corpógrafo encontrou um somatório de 9.378.418 átomos e um total de 2505 ficheiros. A e xtensão do corpus comporta três dimensões. A primeira é o número de palavras. O número de palavras é uma medida da representatividade do corpus no sentido de que quanto maior o número de palavras maior será a chance do corpus conter palavras de baixa frequência, as quais formam a maioria das palavras de uma língua. A segunda é o número de textos, a qual se aplica a corpora de textos específicos.Um número de textos maior garante que este tipo textual, gênero, ou registro, esteja mais adequadamente representado. A terceira é o número de gêneros, registros ou tipos textuais. Esta dimensão se aplica a corpora variados, criados para representar uma língua como um todo. Aqui, um número maior de textos de vários tipos permite uma maior abrangência do espectro genérico da língua. (SARDINHA, 2004, p.24) Portanto, o corpus específico para minha pesquisa, formado por Blogs UOL, é considerado um corpus médio-grande (SARDINHA, 2004) que tem as seguintes propriedades: Corpus blogs UOL tamanho modo tempo conteúdo autoria finalidade especificidade 9.378.418 átomos escrito contemporâneo variedades sociolinguísticas falantes nativos diversos estudo tipos variados de textos Poderia, assim, validar meu corpus com os seguintes argumentos: I) é totalmente constituído por textos naturais; 117 II) abrange uma diversidade linguística bastante favorável aos objetivos da pesquisa; III) abarca uma quantidade de dados estatisticamente significativa, podendo ser classificado, segundo Sardinha 2004, como corpus médio-grande; IV) representa o Português do Brasil contemporâneo, em sua modalidade escrita, tanto em registro formal quanto informal. Quando um corpus de referência se fizer necessário, lançarei mão de pesquisas no Google e/ou no site do jornal Folha de São Paulo, versão impressa (http://search.folha.com.br/), que disponibiliza uma pesquisa em até mil ocorrências da palavra pesquisada. 118 5 ANÁLISE Ninguém me diga que somos bonzinhos, e só por acaso lançamos o tiro fatal, feito de aço ou expresso em palavras. Ele nasce desse traço de perversão e sordidez que anima o porco, violento ou covarde, e faz chorar o anjo dentro de nós. (Lya Luft) 5.1 INTRODUÇÃO Quando iniciei a análise dos dados coletados no corpus Blogs UOL, as minhas principais perguntas com relação à Construção Gramatical em si eram: 1º) que tipo de padrão construcional é a Construção Gramatical de Hiperbolização (CGH), como ela se caracteriza na sua forma sintática e na sua interpretação semântico-pragmática? 2º) que motivações sociocognitivas tal Construção representa e evoca? 3º) quais são as consequências semântico-pragmáticas na produção/interpretação desse tipo de Construção? Já com relação à metáfora, foco desse trabalho, os principais questionamentos centravam-se na expectativa de talvez poder desvendar o papel que essa operação cognitiva fundamental tem 1º) na motivação da produção da CGH; 2º) na seleção das entradas lexicais que se tornam habilitadas a participarem dessa Construção; 3º) na interpretação semântico-pragmática que essa Construção promove. As hipóteses resultantes desses questionamentos iniciais e de algumas buscas na plataforma Google assim se delinearam: I) há, no Português do Brasil contemporâneo, uma Construção Gramatical significativamente produtiva, nucleada por verbos causativos de destruição sem seus complementos verbais (objetos diretos) cuja função semântico-pragmática é localizar a entidade sujeito no topo de uma escala avaliativa de SUCESSO, ao hiperbolizar e hipervalorizar a força de ação desta entidade. 119 II) A causalidade dos predicadores verbais arrasta consigo o Esquema Imagético da Força e, que por sua vez, estabelece como estrutura conceptual a metáfora primária CAUSAS SÃO FORÇAS FÍSICAS. A partir de um sistema de implicações metafóricas e metonímicas, nosso modelo cultural licencia a metáfora estrutural SUCESSO É GUERRA, que se mantém ativa na Construção de Hiperbolização. III) Os cenários de guerra onde as ações engendradas pela entidade sujeito se desenrolam e podem vir a resultar no SUCESSO da mesma são, na verdade, qualquer evento social. Portanto, devido à metáfora SUCESSO É GUERRA, os eventos sociais são metaforizados como ARENAS DE GUERRA. O esforço investigativo a que tal análise se propõe é, a partir de evidências no uso, confirmar ou refutar as hipóteses acima delineadas, mantendo ainda um espaço aberto às intervenções suscitadas pelo próprio corpus, na medida em que é propriedade dos estudos baseados em corpora a revelação de características da linguagem que o analista sequer suspeita ou mesmo a constatação de um panorama bem diverso daquele que preenchia suas expectativas (SINCLAIR, 2004). Considerando, pois, a abordagem do previsto e do imprevisto, este capítulo estruturar-se-á, por razões unicamente didáticas, em duas partes: a primeira abordando os aspectos da Construção Gramatical de forma mais direcionada, a segunda enfocando a metáfora e sua relação com a Construção de Hiperbolização. Na primeira parte, em que discuto e analiso a Construção Gramatical de Hiperbolização propriamente dita, a tentativa é, fundamentalmente, descrever o fenômeno linguístico, originário desta pesquisa. A partir daí, busco mapear a CGH, 120 definindo suas condições de validação referentes aos seus elementos constitutivos, a saber, os tipos verbais, o sintagma nominal que exerce a função de sujeito gramatical e o sintagma preposicional, que opcionalmente faz parte da Construção. Em seguida, faço uma breve análise das molduras comunicativas preferenciais da CGH: o blog e o fórum opinativo. O fato de a nossa sociedade conceber o sucesso como um construal alternativo do frame de DESTRUIÇÃO levou-me, também, a analisar a inversão de julgamento promovida pela Construção de Hiperbolização, que passa a evocar semântica e pragmaticamente uma apreciação positiva da ação engendrada pela entidade-sujeito, o que por projeção metonímica, torna-se uma avaliação positiva da própria entidade. Já na segunda parte, o foco da investigação é a metáfora e a sua contribuição para a produção e a interpretação da CGH. De início, proponho a representação diagramada do reenquadramento metafórico do frame de DESTRUIÇÃO, evocado pelos tipos verbais, em um frame de SUCESSO, evocado pela própria Construção de Hiperbolização. A discussão que ganha corpo a partir de tal representação é a de que duas noções básicas governam a CGH: o esquema conceptual (imagético) da força e seu desdobramento pressuposto, ou seja, a causalidade. Força e causalidade serão, pois, o eixo desencadeador da seleção lexical imposta pela CGH. O reenquadramento do frame verbal de DESTRUIÇÃO no frame construcional de SUCESSO implica, ainda, a conceptualização metafórica das arenas sociais como arenas de guerra. A partir dessa argumentação, proporei um modelo cultural popular do conceito de SUCESSO que, associado às contribuições epistemológicas da CGH, justifica a proposição da metáfora estrutural SUCESSO É GUERRA. . 121 5.2 A CONSTRUÇÃO GRAMATICAL DE HIPERBOLIZAÇÃO 5.2.1. O fenômeno originário Exemplo 1 58 : Já enviei um review sobre esta verdadeira obra-prima do Heavy/Thrash Metal. Estou enviando este pois o anterior eu fiz sem tempo, mas mesmo assim o leitor pôde perceber o meu fanatismo pelo Thrash Metal, e este é na minha opinião o 2o melhor da história, perdendo somente para o inigualável "Master Of Puppets", do Metallica. Além disso, estaria na minha lista de 5 CD'S que levaria a uma ilha deserta. Um clássico do Rock/Paulera, um fenômeno quase imbatível! Max Cavalera arrebenta e apavora nos vocais, com seus gritos e berros urrados, além de detonar com sua guitarra pesada no máximo do limite. Andreas Kisser é quase o Sepultura inteiro compondo, além de executar solos e principalmente riffs espetaculares, vide "Inner Self", uma das melhores na história do Heavy Metal! Igor Cavalera é na minha opinião o melhor bateirista de todos os tempos, ao lado do fenomenal Dave Lombardo (Slayer). Nesse álbum ele mostra todo seu potencial e mais um pouco! (http://whiplash.net/materias/cds_users/047073.html). Publicado em 14/01/03 O texto acima (exemplo 1) é o comentário de um apreciador do estilo Heavy/Thrash Metal sobre os cinco melhores CDs nesse estilo. Para ressaltar as qualidades de um dos vocalistas desse tipo de rock, no caso, Max Cavalera, o autor do texto lança mão de três predicadores verbais: arrebentar, detonar e apavorar. É provável que a maior parte dos falantes do Português do Brasil (PB) não tenha qualquer dificuldade em captar o efeito de sentido que esses predicadores querem promover, a saber: a hiperbolização da força de ação da entidade-sujeito, tópico da enunciação, 58 Em todos os exemplos, conseguidos por meio de busca no Corpus e no Google, serão mantidas a forma linguística e a formatação originais. No caso de haver palavras de baixo calão, estas serão substituídas por um asterisco. 122 promovendo uma hipervalorização da mesma e situando-a no topo de uma escala avaliativa de sucesso. O objetivo comunicativo do falante que escreveu o texto parece ter sido, portanto, alcançado, sobretudo pelo uso dos predicadores arrebentar, detonar e apavorar. Essa afirmação, no entanto, não corresponde à verdade dos fatos ou, pelo menos, não corresponde a toda a verdade. Se compararmos o uso desses mesmos predicadores em outro padrão construcional mais frequente (de configuração sintática transitiva), notaremos que o efeito semântico-pragmático de hiperbolização e hipervalorização da força agentiva da entidade-sujeito não se promove. Vejamos alguns exemplos: a) No ápice da transa , naquele momento em que micro e macrocosmos se unem , um agente imobiliário quase arrebentou a porta com socos e murros , gritando pelo nome do morador.Dessa maneira , notificando pra todo o bairro , quem é que iria ser repreendido. (Corpus Blogs UOL) b) Oficiais graduados do governo americano dizem que os supostos terroristas usariam Gatorade e iPod para detonar seus explosivos a bordo dos aviões . (Corpus Blogs UOL) c) No xadrez Polícia prende quadrilha que apavorou Ortigueira (http://www.bemparana.com.br/index.php?p=1&n=38994&e=51&s=&inicio=50 &t=) Nos exemplos a, b e c, os predicadores verbais arrebentar, detonar e apavorar não têm a mesma função semântico-pragmática, assumida no exemplo 1. Em a, arrebentar significa romper; em b, detonar significa fazer explodir e em c, apavorar significa causar pavor. Todos os sentidos elencados não remetem a nenhum tipo de intenção comunicativa de situar as entidades que exercem a função de sujeitos gramaticais no topo de uma escala avaliativa de sucesso. Aliás, podemos ver claramente pelo exemplo c que as ações descritas pelos verbos podem receber uma avaliação pragmá tica negativa que, por sua vez, se reflete metonimicamente na entidade-sujeito. 123 A pergunta que emergiu, portanto, foi: por que os enunciados a, b e c acima são tão distintos daqueles do exemplo 1? Procurando pelo que é mais visível, a diferença óbvia entre eles reside no fato de que, nos enunciados a, b e c, os complementos verbais estão instanciados na configuração sintática, sendo, respectivamente, a porta, seus explosivos e Ortigueira. No exemplo 1, por outro lado, os complementos verbais estão suprimidos da configuração sintática. Dessa forma, ficou claro que eu estava diante de um caso muito instigante de alteração de valência verbal que leva a uma mudança semântica. O segundo questionamento que fiz foi sobre qual das valências (transitiva ou intransitiva) seria a mais prototípica para os predicadores arrebentar, detonar e apavorar. Tentei, pois, resgatar a cena conceptual que cada um deles evoca e o esquema conceptual abaixo pareceu- me o mais apropriado: i) Algo/alguém arrebenta algo. ii) Alguém detona algo. iii) Algo/alguém apavora algo/alguém. Esses esquemas conceptuais puderam ser recuperados na análise dos dados do corpus Blogs UOL, já que das 40 ocorrências instanciadas com o predicador arrebentar apenas 6 (15%) configuraram uma Construção genuinamente intransitiva, do tipo A corda arrebenta sempre no lado mais fraco; já com o predicador detonar, apenas 3 (5,1%) das Construções dispensaram o complemento verbal; o verbo apavorar, por sua vez, não instanciou nenhuma Construção sem complemento. Logo, no caso dos três predicadores analisados (arrebentar, detonar e apavorar) o esquema conceptual coincidiu, em termos de números de argumentos exigidos na estrutura argumental, com o padrão de uso, o que levou à conclusão de que a valência verbal mais típica desses predicadores é, realmente, a valência transitiva. Se a valência básica dos predicadores arrebentar, detonar e apavorar é aquela que destina um espaço a um participante cuja função gramatical correspondente será a de complemento verbal (função de objeto direto), logo não há porque estranhar o 124 fato de não se ter nenhum efeito semântico-pragmático não previsível quando tal valência se realiza plenamente na configuração sintática. Por outro lado, a anulação do complemento verbal desses verbos na cadeia sintagmática, induziu- me a formular a hipótese da existência de uma Construção Gramatical a partir de destransitivização verbal, tal qual a que estudei no mestrado. Caso a configuração sintática, nucleada por verbos causativos como arrasar, arrebentar, detonar, dentre outros, e sem o complemento verbal à direita, ou seja, destransitivizada, se trate, realmente, de uma Construção Gramatical, as seguintes propriedades construcionais poderão se levantadas: (i) identificação de um significado associado à Construção que tem relativa independência dos itens que a instanciam; (ii) haverá um perfil sintático-semântico-pragmático bem demarcado das entradas lexicais que dessa Construção possam participar; (iii) em se tratando de uma Construção Gramatical disponibilizada pelo PB, a produtividade tanto em relação à frequência de uso, quanto ao leque de opções lexicais (tipos) disponíveis mostrar-se-á satisfatória. Analisemos, pois, algumas outras ocorrências. Exemplo 2: 03/08/2005, 00h02 a única coisa que tenho a dizer é q o U2 destrói ao vivo, ou seja, sem comparações... pra mim mais da metade das músicas ficam muito, mas mtooooo melhor. Como todo mundo diz neh ( até os chatos dos críticos) : U2 arrebenta ao vivo pq transfere toda emoção pra música, eu já ouvi mta banda ao vivo mas nenhuma se compara, sei lá, vc ver q é somente uma versão ao vivo de uma musica em estúdio, mas com U2 isso num acontece... :assobio: :assobio: (http://www.ultraviolet-u2.com/foruns/archive/index.php/t-48.html) 125 No exemplo 2, além do verbo já citado, arrebentar, aparece, também destransitivizado, o predicador destruir. O efeito semântico-pragmático da anulação sintática do complemento do verbo destruir, considerando que a valência prototípica desse verbo é transitiva, é exatamente o mesmo promovido pela destransitivização das entradas verbais do exemplo 1, a saber, a hiperbolização e a hipervalorização da força de ação da entidade que é o sujeito gramatical, elevando-a ao topo de uma escala avaliativa de sucesso. O exemplo 2 trata-se, também, de um comentário virtual59 , registrado em um fórum sobre a banda U2 e cujo autor tem a intenção de exaltar as qualidades incomparáveis dessa banda quando esta toca ao vivo, donde se conclui que a moldura comunicativa 60 é extremamente favorável ao uso de predicadores prototipicamente transitivos, sem seus complementos verbais na estrutura sintagmática. Esse exemplo, portanto, não somente reafirma o uso destransitivizado da entrada lexical arrebentar como também seleciona o predicador destruir como possuidor das propriedades consideradas relevantes para participar da Construção Gramatical que estamos investigando. Avançando um pouco mais, temos: Exemplo 3: Em 11/08/2006, às 19:46:54, Vanise e Patrícia | página pessoal | e-mail disse: Fico aqui babando com seu trabalho, me sinto um grãozinho de areia nesta praia gigantesca que é a modelagem, você arrasa, detona, arrebenta.....é demais! (http://fotolog.terra.com.br/patriciatng:68) Ainda dentro do gênero comentário virtual, o exemplo 3 representa um texto em que Vanise e Patrícia registram a intenção de elogiar efusivamente o trabalho de 59 Estou designando comentário virtual o gênero textual usado por internautas para dar opinião sobre diversos assuntos em espaços virtuais interativos como blogs e fóruns virtuais, consideradas neste trabalho as molduras preferenciais da CGH. 60 Para MIRANDA (1999), as molduras comunicativas são um tipo de domínio estável, assim como o MCI e os Esquemas Genéricos. Elas se caracterizam por serem conhecimentos operativos configurados no evento e incluírem identidades, papéis sociais, agenda de encontro, alinhamento, permitindo a identificação do que está sendo posto em movimento na interação (MIRANDA, 1999, pp.81-95) 126 modelagem em biscuit de uma artista que trabalha com o que ela chama de topos de bolo, ou seja, enfeites para a parte de cima de bolos comemorativos. Nessa moldura, aparecem, destransitivizados, três predicadores verbais prototipicamente transitivos: dois deles recorrentes nos outros exemplos já citados (detonar, arrebentar) e um outro, inédito no contexto dessa análise: arrasar. O aparente ineditismo desse verbo transitivo numa configuração destransitivizada só tem validade nos exemplos já citados, pois na linguagem cotidiana, usamo- lo e nos deparamos com esse uso a todo o momento: na mídia, as celebridades arrasam; nos supermercados as ofertas arrasam; nas campanhas publicitárias as instituições arrasam. Dizer que algo ou alguém arrasa é o mesmo que dizer que algo ou alguém se sobressai sobremaneira em alguma atividade ou evento social, sendo, pois, apreciada e localizada no topo de uma escala avaliativa de SUCESSO. É um uso corriqueiro que já vem de longa data. Na Folha de São Paulo, versão impressa, por exemplo, há registros do predicador arrasar, instanciando a CGH, em 1997, em textos como o exemplificado abaixo: OS EMBALOS DE SÁBADO À NOITE Globo, 1h30. (Saturday Night Fever). EUA, 1977, 118 min. Direção: John Badham. Com John Travolta, Karen Lynn Gorney. Pobretão de Nova York diverte-se aos sábados numa discoteca, quando dança e dança. E arrasa num concurso de dança. Modesto, mas revelou Travolta. (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq271202.htm) Em sua valência plena, arrasar significa destruir, causar estrago considerável em. Portanto, assim como o verbo destruir, o predicador arrasar, quando acompanhado de seu complemento à direita, expressa uma ação cujo efeito no paciente (objeto direto) recebe, pragmaticamente, uma valoração negativa, por evocar um frame de destruição, como mostram os enunciados a e b: 127 a) "Foi tudo muito rápido, o fogo destruiu tudo", declarou o amigo de Cidelma Cleide, professor de Educação Fisica Francisco José Rodrigues Santana. O fogo destruiu o teto da residência, todas as roupas e objetos e até os equipamentos de artesanato de Cidelma Cleide, foi destruido pelo fogo. (http://www.meionorte.com/noticias,1--na-Web--Casas-pegam-fogo-na-zona-Norte-e-Sulde-THE,46454.html ) b) A Califórnia vai tremer: Em 1906, um terremoto arrasou São Francisco. Agora, dizem, o Big One periga voltar, ainda mais devastador e poderá mandar Los Angeles pelos ares. (http://www.fimdostempos.net/california_bigone.html ) Destruir e arrasar, quando acompanhados de seus complementos, expressam, pois, ações cujos efeitos, absorvidos pela entidade, semanticamente representada pelo paciente e gramaticalmente configurada como objeto direto, são devastadores. Em outras palavras, o uso transitivo dos predicadores, até aqui analisados, arrasar, arrebentar, apavorar, detonar e destruir promovem uma interpretação semânticopragmática de que o paciente da ação verbal sofreu uma ação devastadora e, como consequência, sofrerá uma mudança significativa em sua natureza. No exemplo a, a força do sujeito-causativo fogo exerce uma ação devastadora sobre o paciente tudo (sintetizando toda a residência) e o resultado é a destruição total. Do mesmo modo, no exemplo b, o sujeito-causativo terremoto possui força suficiente para impor sua ação sobre o paciente, no caso São Francisco (a cidade norte-americana) e, como consequência, tem-se também a destruição total. Portanto, o fenômeno linguístico a que me dediquei durante esta pesquisa diz respeito a um processo de destransitivização verbal de predicadores, prototipicamente 128 transitivos, categorizados como verbos de ação-processo e que se enquadram perfeitamente em um frame de DESTRUIÇÃO, sendo, pois, classificados como “verbos de destruição”. O processo de anulação do complemento verbal da estrutura sintagmática se traduz em um efeito semântico-pragmático de hiperbolização e hipervalorização da capacidade de ação da entidade -sujeito, situando esta mesma entidade no topo de uma escala avaliativa de sucesso e, ainda, na inversão do julgamento de valor da ação que deixa de ser negativa e passa a ser positiva, devido a um reenquadramento metafórico do frame de DESTRUIÇÃO em um frame de SUCESSO, processo este que será detalhado mais tarde. 5.2.2 A Construção Gramatical de Hiperbolização e suas condições de validação Toda Construção Gramatical se caracteriza por ser um par forma/sentido, sendo que, por motivos já mencionados, a face do significado engloba não só aspectos propriamente semânticos como também peculiaridades pragmáticas. Vimos, pelos exemplos analisados, que há verbos no PB, prototipicamente transitivos, que, ao serem destransitivizados, promovem um efeito semânticopragmático de hiperbolizar e hipervalorizar a força de ação da entidade que, na cadeia sintagmática, exerce a função de sujeito. A essa Construção Gramatical estamos denominando Construção Gramatical de Hiperbolização Positiva da Ação do Sujeito. Em se tratando de uma Construção Gramatical, a Construção de Hiperbolização porta um significado que, de certa forma, é independente dos itens lexicais que a compõem. Tal significado é a hiperbolização positiva da ação executada pela entidade-sujeito, o que se traduz, por projeção metonímica, na inferência pragmática de SUCESSO desta, donde podermos falar em hiperbolização positiva do sujeito ou, simplesmente, Construção Gramatical de Hiperbolização (CGH). 129 Como Construção, também, a CGH estabelece as condições de validação que habilitam os itens lexicais a dela participarem. Portanto, poderíamos dizer que, a partir do momento em que uma Construção Gramatical é plenamente mapeada em uma dada língua, a análise linguística ganha um certo grau de previsibilidade . Assim, durante a coleta de dados para formar o corpus e para testar as hipóteses levantadas, eu pensava em um verbo de ação-processo cujo efeito semântico-pragmático é de ação de efeito devastador (verbos de destruição), como incendiar, por exemplo, e o lançava na janela de busca do Google, acreditando que iria encontrar uma instanciação desse predicador destransitivado, uma CGH, no uso efetivo do PB. Nesse caso específico, obtive sucesso: O músico está classificado em três categorias: existe o compositor regional, o compositor nacional e tem o compositor essencial, que possui muitas fontes para atingir... e é muito bom que você comece com alguma coisa. É aconselhável, e também muito importante o músico começar como sendo folclórico, porque é aquilo que pertence a ele, o seu lado nacionalista. Por exemplo, Aram Khatchaturian compositor russo-armênio, é um folclorista universal, por que ele toca o coração de todos.Todos os compositores russos, a maioria que estão nos livros, eles estão... atingiram a universalidade. Por exemplo Tchaikovski, ele ... Luiz Gonzaga é um folclorista nacional, incendeia, pronto, ele vai cantando assim e o povo gosta." (http://www.clubedejazz.com.br/noticias/noticia.php?noticia_id=399 Nesse processo heurístico, pude atestar, no uso, a destransitivização de todos os 33 tipos verbais elencados na lista 17 a seguir, para que o sentido de hiperbolização positiva da entidade -sujeito pudesse aflorar. 130 Da mesma maneira, a existência e a produtividade da CGH pôde ser inegavelmente atestada, primeiro, pelo número de tipos verbais habilitados a dela participarem61 ; segundo, pela frequência de uso de alguns desses predicadores, quando instanciados na Construção de Hiperbolização. 5.2.2.1 A validação dos tipos verbais A minha lista inicial de poucos verbos (arrasar, bombar, detonar, arrebentar) foi se estendendo ao longo da pesquisa, chegando ao final com um número de trinta e três tipos verbais. Todavia, tenho consciência de que esse número continuaria a crescer, caso investisse mais tempo em buscas na internet62 . As buscas empreendidas, vale dizer, não foram aleatórias: havia um parâmetro que as balizava. Esse parâmetro baseava-se no perfil preliminar dos verbos que estavam sendo instanciados na Construção Gramatical de Hiperbolização, em conversas do dia a dia, nas novelas, nos anúncios publicitários, nas músicas. Evidentemente que não se pode fazer um “retrato falado” fiel com poucos dados, mas embora muito incipiente e muito intuitivo, o perfil primário dos predicadores verbais habilitados a participarem da CGH, após o corpus organizado, apenas se confirmou. Os trinta e três tipos verbais, habilitados pela CGH e pesquisados no corpus Blogs UOL, são: ABAFAR ARREPIAR DESTROÇAR EXTERMINAR MASSACRAR ABALAR ATROPELAR DESTRUIR FULMINAR MATAR ANIQUILAR AVASSALAR DETONAR FUZILAR METRALHAR APAVORAR BARBARIZAR ESCULACHAR HUMILHAR TRITURAR ARRASAR BOMBAR ESTOURAR INCENDIAR TRUCIDAR ARREBENTAR BOMBARDEAR ESTRAÇALHAR LIQUIDAR ARREGAÇAR CAUSAR EXPLODIR MALTRATAR 61 Segundo BYBEE (2007), a frequência tipo é o fator principal na determinação do grau de produtividade de uma Construção. 62 Após encerrar a coleta e a análise dos dados, encontrei, no Google, o predicador verbal devastar instanciando a CGH no seguinte enunciado: O Faith No More voltou e devastou, deu uma aula e enfiou o dedo**** do bom mocismo chato que assola o rock atual. Só não foram reis absolutos daquela noite, pois quem inventou essa *** toda chamada atitude rock, também estava causando, ao mesmo tempo, lá no Playcenter... (www.zonapunk.com.br/) 131 Desses, apenas um, esculachar, não é classificado por Borba (1991) como verbo de ação-processo, é categorizado somente como verbo de ação. Para Borba (1991, p.XII), um verbo de ação agrega o traço atividade relacionado a um sujeito agente. Ele compõe sempre uma frase ativa que indica um fazer por parte do sujeito. Os complementos desses verbos caracterizam-se pelo fato de não serem afetados pela ação verbal, isto é, não experimentarem nenhuma mudança (de estado físico ou moral, de condição, de posicionamento no tempo ou no espaço). O significado atribuído por Borba (1991) ao verbo esculachar é fazer troça de, esculhambar. Porém, embora esculhambar seja colocado como sinônimo do esculachar, aquele recebe a classificação de verbo de ação-processo, enquanto este é classificado como verbo de ação. Acredito ser mais coerente, pois, que tanto esculhambar quanto esculachar sejam ambos classificados como verbos causativos, ou seja, de ação-processo. Os verbos de ação-processo, por sua vez, elegem como sujeitos um agente ou causativo e seu segundo argumento (SN2 ) é sempre um afetado, isto é, o sujeito faz com que o SN2 mude de estado, condição, posição, ou então passe a existir (donde se fala deste como efetuado). Os verbos de ação-processo são também chamados de verbos de mudança de estado ou verbos causativos. Borba estabelece a categorização sintáticosemântica dos verbos, baseado na relação entre predicado e argumento. No caso específico dos verbos de ação-processo, haverá, no mínimo, dois argumentos, sendo que o sujeito (A1 ) caracteriza-se como ativo ou causativo e o segundo argumento (A2 ) representa uma entidade afetada ou efetuada. A relação entre A1 e A2 , no que se refere aos verbos de ação- processo, é a de causatividade , ou seja, A1 promove em A2 uma mudança de estado, condição ou posição ou então faz com que A2 passe a existir. Portanto, a causalidade é uma propriedade que, certamente, é uma das restrições de seleção da CGH. Pela lista 17 a seguir, podemos notar a predominância quase absoluta dos verbos causativos na composição da Construção Gramatical de Hiperbolização. 132 (17) LISTA DOS TIPOS VERBAIS E ALGUMAS INSTANCIAÇÕES DA CGH VERBO CLASSIFICAÇÃO abafar DADOS 63 Açãoprocesso Residindo há mais de ano na Alemanha , onde abafa fazendo shows de segunda a domingo num cabaré em Hamburgo , ele irá aproveitar bem sua breve estada por aqui : participará de temporadas com o Canal Três , a partir de 8 de fevereiro no Teatro Tim , em Campinas e a partir de 20 de fevereiro no Teatro Folha , em São Paulo . (Corpus Blogs UOL) abalar Açãoprocesso Gerald , vc abala na geral , no camarote e no estoicismo bárbaro do poeta solitário , do dramaturgo afoito , do ser humano único . (Corpus Blogs UOL) aniquilar Açãoprocesso Aew quem num foi perdeu Samir ANIQUILANDO na guitarra do Sukrilhos, Kelsen detonando com estilo ANIMAL no vocal e guitarra do C2P e Augusto(Valtor) Detonando a bateria. Pow até o povo do cursinho foi...!!! (http://www.flogao.com.br/comonoismesmos/foto/23/18466065+%22ani quilando+na%22&cd=23&hl=pt-BR&ct=clnk ) apavorar arrasar Ação- Golf turbo Nacional apavora nos EUA. processo http://www.fastdriver.com.br/site/noticia/not156_24.asp Ação- Não viu Marta e suas companheiras arrasarem no Pan e não entendeu que esta frase é um grito de socorro de quem morre de medo do espaço homoerótico que é o futebol . processo (Corpus Blogs UOL) arrebentar Açãoprocesso Segundo a colunista Mônica Bergamo o cachê de SJParker teria sido de 600 mil dólares.O longa metragem está arrebentando nas bilheterias dos Estados Unidos , Canada e Inglaterra . Corpus Blogs UOL arregaçar Açãoprocesso arrepiar Açãoprocesso Ele arregaçou contra o mirasol,fez uma defesa no primeiro tempo igualzinha uma do Schmeichel ex-manchester Utd. (br.oleole.com/group/rogerio-ceni - 61k) E o maravilhoso Estrela Brilhante , de Nazaré da Mata , comandando pelo talentoso Mestre Siba , ele mesmo , exband leader do Mestre Ambrósio.Como se isso ainda fosse pouco , nos intervalos entre um maracatu e outro , ouvíamos Mestre Lua e a molecada daquele bairro , o Tabajara , arrepiando no batuque . (Corpus Blogs UOL) 63 Esta classificação é dada por Borba (1991), considerando, contudo, a valência transitiva dos verbos. 133 atropelar Açãoprocesso De repente , Kassab ATROPELOU – e , de certa forma , ocupou o espaço na reta de chegada e se transformou num fato novo e relevante . (Corpus Blogs UOL) avassalar Açãoprocesso irmaaaaaaao,parabenssssssss,facul garantidinha,e se Deus quizer vc vai avassalar na segunda fase da federal!pq na primeira,já era!huhuhu! (http://www.fotolog.com/guschultz/14918593+%22avassalar+na%22&c d=4&hl=pt-BR&ct=c lnk) barbarizar Açãoprocesso bombar Ação- E barbarizou nas seletivas dos Jogos. (Corpus Blogs UOL) As peças no Rio estao bombando ! (Corpus Blogs UOL) processo bombardear Açãoprocesso causar Verbaliza- graffiti de rua na baixada santista Bombardeando geral ... arte de rua graffiti vela. (http://p15JVJlqLTQJ:nonprofit.smashits.com/video/tjabQSwqy5I/graffi ti-na-baixada.html+%22bombardeando+geral%22&cd=11&hl=ptBR&ct=clnk) Charlie Braun causando again Vi agora no SPTV . dor causativo destroçar Açãoprocesso (Corpus Blogs UOL) Melhor baixista,o do korn destroça tb!!!! Melhor vocal, soh o que o Johnatan Davis (korn) faz com a voz dele tb eh um milagre!!! (http://www.gnn.com.br/forum/showthread.php?t=1000033392) destruir Açãoprocesso No domingo, a matinê estava desfalcada do residente Robson Mouse, que mais uma vez está na Alemanha. Quem ficou em seu lugar foi o DJ Pacheco, residente da Babylon (The Week), e ele detonou, arrebentou, destruiu, bombou, arrasou... Tudo isso e mais um pouco! Tocou até bootleg de Offer com vocal do hino de muito tempo Cha Cha Heels, (www.arrasa.com.br) detonar Açãoprocesso Um grande atleta e um grande ser humano.O Marcelo está conquistando cada dia mais espaço , melhores resultados e vai ficar por muito tempo dando alegrias.Dupla , levantem a cabeça , vocês detonaram, mostraram para nós que vale muito a pena torcer por vocês . (Corpus Blogs UOL) esculachar Ação D-Nox: Esculachou! foi uma das estrelas da festa, melhorou muito o seu set, depois da tribe, que pra mim foi um fiasco. Psycraft: perfeito, mandaram muito bem, pena que nao tocaram nem 1h30m. mas tudo bem Vibe Tribe: estava esculachando quando o som parou do nada! 134 em menos de 50 minutos de live. deu pena do stars tentando tocar e nada! dae por diante o evento acabou... http://forum.plurall.org/archive/index.php/t-20198.html estourar Açãoprocesso A canção de autoria de Walter de Afogados e Fernando Alves , estourou nas paradas de sucesso em 2000 , na voz de Lairton dos Teclados . (Corpus Blogs UOL) estraçalhar Açãoprocesso BLAKE NA PADARIA O Marcelo Mirisola continua estraçalhando em sua coluna semanal no site Congresso em Foco . (Corpus Blogs UOL) explodir Açãoprocesso exterminar Na época achávamos que íamos explodir com nossa arte fenomenal. (Corpus Blogs UOL) Açãoprocesso Estava usando um A64 X2 3600@5000, mobo m2n-e sli e 2048 667 corsair value; vendi e comprei um C2D e6750, uma GA-965P-DS3 3.3 e 2048 800 Super Talent e o desempenho aumentou absurdamente, não só o processador (sei que o e6750 surra o X2 5000) mas o desempenho da memória aumentou cerca de 40%... Bem, sempre usei AMD desde 462 (época boa) mas agora a Intel está "exterminando" geral. (http://74.125.47.132/search?q=cache:nNGEIClJXk0J:forum.clubedohar dware.com.br/dentro-microarquiteturaintel/518444+%22exterminando+geral%22&cd=2&hl=pt-BR&ct=clnk) fulminar Açãoprocesso fuzilar Açãoprocesso humilhar Açãoprocesso O argentino ganhou uma dividida de uma bola espirrada pelo pelo alto e fulminou na saída do goleiro , bem ao seu estilo . (Corpus Blogs UOL) jogo em Maracaibo começou bem.Com os brasileiros buscando a iniciativa do jogo e com os uruguaios respondendo com altivez.E na primeira chance real de gol , o gol aconteceu.Júlio Baptista desceu bem pela direita depois de receber de Maicon , cruzou para Vágner Love que fez o corta -luz para entrada de Mineiro , que fuzilou.O goleiro uruguaio defendeu parcialmente e a bola sobrou para Maicon abrir marcador : 1 a 0 . (Corpus Blogs UOL) Garoto “humilha” no Guitar Hero 3 http://wordpress.moreiracastro.com/garoto-humilha-no-guitar-hero -3/ 135 incendiar Açãoprocesso Aí o homi que mais uma vez jogou o fino pelo Barcelona.Ontem contra o América do México ele novamente gastou a bola.Depois da Copa , assim como todo brasileiro , cheguei a duvidar do cidadão.Ficou aquele ranço de promessa não cumprida.Mas com o passar do tempo o ranço foi passando.Acabou de vez quando vi ele incendiar e virar o último Barcelona e Zaragoza no Camp Nou em Barcelona.Um gol de cabeça , uma falta no ângulo e uma no travessão que Saviola concluiu para dentro . (Corpus Blogs UOL) liquidar Açãoprocesso vc tem razão em mta coisa,mas o botafogo não liquidou na taça rio por interesse dele própio,veja bem se vc fosse empresário e tivesse a opurtunidade de triplicar tua renda(sendo q vc deve mt),vc iria perder essa?se vc fosse cartola do bota ou ate mesmo jogador,vc iria se importar com a torcida? http://colunas.globoesporte.com/bolanascostas/2009/04/27/enquantoisso-no-mesmo -boteco/comment-page-9/ maltratar Açãoprocesso laoviahn - 12/8/2005 12:43:55 Esse ensaio maltratou. O tom, as poses, o angulo, a sensualidade .. . Amei. (http://www.pinmeup.com.br/membros/docepessego/albuns/986/) massacrar Açãoprocesso matar Açãoprocesso metralhar Açãoprocesso A raposa massacrou no Mineirão http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&sou rce=a1843481.xml&template=4187.dwt&edition=9754&section=888 E por pouco , numa bobeada do goleiro Roger , Somália não MATOU logo aos 10 minutos . (Corpus Blogs UOL) Em contraponto ao peso das composições, surgem em diversos momentos, fraseados melódicos de guitarra, no melhor estilo do heavy metal tradicional, à la Iron Maiden. A “cozinha” é muito firme e entrosada, chamando a atenção principalmente o trabalho com os dois bumbos do batera Parodi, “metralhando” em diversos momentos, mas também, dosando bem em outras batidas. (http://www.musicalsun.net/portugues/resenhas_cds_destaques.php%3Fc odigo%3D81+metralhando+na+guitarra&cd=118&hl=pt-BR&ct=clnk) triturar Açãoprocesso Além de Fluminense e Itabuna, Bahia e Vitória da Conquista encerraram a 13ª rodada do Baianão. O tricolorde-aço venceu o time conquistense. Venceu é modo de dizer. Triturou: 4×1, em Pituaçu. Apesar disso, o Bahia permanece na segunda posição, com 31 pontos, dois a menos que o Vitória. (http://www.pimentanamuqueca.com.br/?p=1387) 136 trucida r Açãoprocesso Repeat)..bem, foi com meu mestre Borel que aprendi um dos primeiros riffs de guitarra...qual a música!?...Birds, da Ùteros que infelizmente não saiu em vinil(que eu tenho por sinal), só na versão cd. POr sinal, em um dos shows da banda, idos 94 no "Palco do Rock"(carnaval), eu já na Dr. Cascadura, ele mesmo me convidou pra tocar esta música...hã, hã, como assim, eu!!!!???? PO***, foi *****.Apú me deu a guitar, foi pra harmonica e Borel trucidando na guitarra solo...claro fiquei com os riffs, :):). Realmente inesquecível. Um abraço meu querido e eterno irmão (http://rockloco.Blogspot.com/2005/06/lovelyman.html+trucidando+na+guitarra&cd=2&hl=pt-BR&ct=clnk) Fonte: Do autor Moura Neves (2000) classifica como prototípicos os verbos transitivos cujos complementos caracterizam pacientes de mudanças. Logo, outro elo que une os tipos verbais acima elencados é a sua transitividade prototípica. As mudanças a que o objeto-paciente está vulnerável, segundo Moura Neves, são: a) criação do objeto: o objeto passa a existir; b) destruição do objeto: o objeto deixa de existir; c) alteração física no objeto; d) mudança na localização do objeto; e) mudança provocada por um instrumento que está implicado no próprio verbo; f) mudança superficial no objeto; g) mudança interna no objeto. Desconsiderando as questões filosóficas que essa classificação tão detalhada implica, observei, nos dados, quais tipos de mudança os verbos pesquisados são capazes de produzir no objeto-paciente, quando instanciados em sua valência plena e no sentido o mais próximo possível do literal. Cheguei à conclusão de que 22 dos 33 tipos pesquisados, ou seja, quase 67%, se enquadrariam na classificação de Moura Neves como verbos de destruição do objeto. Entre esses estou considerando: aniquilar, arrasar, arrebentar, arregaçar, avassalar, bombardear, destroçar, destruir, detonar, estourar, estraçalhar, explodir, exterminar, fulminar, fuzilar, incendiar, liquidar, massacrar, matar, metralhar, triturar e trucidar. O frame64 de DESTRUIÇÃO (destroying), descrito no Projeto FrameNet65 , caracteriza-se por descrever uma situação em que um Destruidor (uma entidade intencional) ou uma Causa (um evento, ou uma entidade envolvida em tal evento) afeta o Paciente (undergoer) negativamente de modo que o paciente não mais exista. 64 A noção de frame que adoto neste trabalho é aquela proposta por Fillmore (1988): Frame é uma estrutura de conhecimentos compartilhada que habilita os falantes a se comunicarem sobre cenas. 65 http://framenet.icsi.berkeley.edu/ 137 (18) Frame de DESTRUIÇÃO (DESTROYING) Definição: Um Destruidor (uma entidade consciente) ou Causa (um evento, ou uma entidade envolvida em tal evento) afeta o Paciente negativamente de modo que o Paciente deixe de existir. Elementos do frame (EFs): Centrais: Causa [Causa] O evento ou entidade que é responsável pela destruição do Paciente. As sucessivas explosões ARRASARAM toda a ala leste do shopping. Destruidor [Agt]Uma entidade consciente, geralmente uma pessoa, que exerce a ação 0 intencional que resulta na destruição do Paciente. O policial LIQUIDOU os bandidos. Paciente [Und] A entidade que é destruída pelo Destruidor. O tsunami DESTRUIU a Tailândia . Periféricos: evento contenível; grau; descritivo; explanação; frequência; instrumento; modo; meio; lugar; propósito; razão; resultado; papel; sub-região e tempo. Fonte: http://frameNet.icsi.berkeley.edu/ Os três elementos básicos do frame de DESTRUIÇÃO são, portanto, CAUSA, DESTRUIDOR, PACIENTE66 . Tais elementos são centrais, na medida em que instanciam componentes conceptualmente necessários ao frame, tornando-o único e inconfundível em relação a outro frame67 . Como elementos integrantes, porém não centrais do frame de DESTRUIÇÃO, são elencados: evento contenível; grau; descritivo; explanação; frequência; instrumento; modo; meio; lugar; propósito; razão; resultado; papel; sub-região e tempo. Desses elementos não centrais, o que parece ser de maior 66 Esse termo , embora não seja o mais adequado, está sendo usado para traduzir o Elemento de Frame , Undergoer. 67 RUPENHOFER et al., (2006). FrameNet II: extended theory and practice. Arquivo em PDF. Disponível em http://framenet.icsi.berkeley.edu/index.php?option=com_wrapper&Itemid=126 138 importância na produção/interpretação da Construção de Hiperbolização é o componente Instrumento, definido pelo projeto FrameNet como uma entidade direcionada pelo destruidor que interage com o paciente para acompanhar a destruição deste. A partir da análise dos dados encabeçados pelos 33 tipos verbais, fica clara a importância do elemento “Instrumento” no frame de DESTRUIÇÃO, na medida em que eventos de destruição podem ser engatilhados por entidades intencionais que aumentam sua força destrutiva, agregando instrumentos de destruição (armas) que, postos em perspectiva, passam a ser a causa da destruição, ou seja, ocupam um lugar de elemento central do frame. Tal importância se reflete também na formação lexical dos ve rbos causativos de destruição, porque alguns deles derivam de nomes referentes a instrumentos de destruição: bombar/ bombardear-bomba; metralhar-metralhadora; fuzilar-fuzil. Em termos de protótipo, os verbos de destruição mais prototípicos (espaço A, no diagrama 19) seriam os verbos causativos cuja semântica agrega um sentido de destruição total do objeto-paciente, ou seja, a ação destruidora é suficiente para fazer com que o objeto deixe de existir (plano do concreto). Um pouco mais distante na escala de prototipicidade (espaço B, no diagrama) estariam os verbos que, apesar de não destruírem completamente o objeto afetado, fazem com que este sofra mudanças significativas em sua estrutura física (plano do concreto). E, a uma distância um pouco maior do centro prototípico (espaço C, no diagrama), estariam os verbos que representariam uma força destruidora que faz com que a afetação do objeto não se dê no nível físico, mas psicológico (plano do abstrato): 139 C Arrepiar; apavorar; humilhar,etc Abalar ,arregaçar, atropelar, maltratar, etc B Arrasar, destruir, aniquilar, arrasar, arrebentar, bombardear, destroçar, destruir, detonar, matar, etc A (19) Diagrama: Estrutura radial dos verbos causativos de destruição. Fonte: Do autor A relação entre distância e afastamento de um centro prototípico remete ao conceito lakoffiano de Estrutura Radial. Segundo Johnson (1987), a categoria radial é um tipo de Modelo Cognitivo Idealizado (MCI) proposicional e como tal apresenta as seguintes propriedades: (i) são modelos representados como um contêiner: a categoria radial é um contêiner e as suas subcategorias também o são; (ii) a relação entre as subcategorias é feita pelo esquema imagético CENTRO-PERIFERIA em que as subcategorias periféricas se ligam ao centro por vários tipos de ligações; (iii) as categorias não centrais podem se tornar subcentros, impondo novas estruturas em termos de CENTRO-PERIFERIA. Feldman (2006, p.100) afirma que as categorias radiais possuem gradações. A metáfora é, na concepção de Johnson, um dos princípios de extensão que caracterizam as ligações possíveis entre as categorias mais centrais e as menos centrais, além da metonímia e dos esquemas imagéticos. Aos conceitos de “figura e fundo”, presentes tanto na enquadres como indispensáveis para a análise linguística do se a noção de “radialidade” como princípio fundador nos dois casos, trabalhamos com hipóteses teóricas semântica dos discurso, juntada gramática; que tratam a 140 linguagem humana em continuidade cognitivas. (SALOMÃO, 2009a, p. 25) com as demais capacidades Na estrutura radial descrita (19), o que se nota, com base no dicionário e nos dados do corpus Blogs UOL, é que a maior parte dos tipos verbais estudados transita livremente ao longo da escala de destruição, evocando semânticas que ora permitem a interpretação de destruição total e física, ora destruição parcial e também física, ora destruição psicológica do objeto afetado. Os exemplos abaixo, retirados do corpus, mostram essa tendência: 1. Nesta época, um terremoto gigantesco arrasou várias construções lá existentes. (destruição física e total) 2. Um dia , após uma chuva que arrasou o Rio de Janeiro , nós fomos visitar Dona Coema , certamente para fazer uma roupa para alguma ocasião especial.(destruição física e parcial) 3. E a crua dualidade sobre o tamanho de um punho é o que me arrasa e faz chover aqui dentro. (destruição figurativa) Com o objetivo de testar minha proposta de classificação dos verbos de destruição incluídos na lista de tipos pesquisados, baseada apenas em minha introspecção, recorri a dois parâmetros de validação externos: os dados do corpus Blogs UOL e o dicionário Houais, versão online68 . Na perspectiva dos dados do corpus, os verbos de destruição prototípicos, ou seja, aqueles marcados positivamente quanto ao traço DT (destruição total) seriam: aniquilar, arrasar, arrebentar, bombardear, destroçar, destruir, detonar, estourar, explodir, exterminar, fulminar, incendiar, liquidar, massacrar, matar, metralhar, triturar e trucidar. Portanto, 18 verbos (54,5%) do total de tipos pesquisados. Pelo dicionário Houaiss, por outro lado, o número de verbos de destruição total subiria de 18 para 22 (quase 69%). Desta forma, seriam acrescidos à primeira listagem os verbos abafar, avassalar, estraçalhar e fuzilar. 68 Os quadros dessa análise virão como anexo C e D, respectivamente, no CD que acompanha esta tese. 141 Portanto, tanto o critério introspectivo quanto os parâmetros do dicionário e do corpus Blogs UOL estabeleceram que, em média, 60% dos verbos da lista de tipos verbais habilitados a participarem da CGH podem, realmente, ser classificados como “verbos de destruição”. Um questionamento que pode surgir da proposta de enquadrar os predicadores verbais que participam da Construção Gramatical de Hiperbolização em um frame de DESTRUIÇÃO é o fato de, no meio dessa lista, estar incluído o verbo causar. De início, pensei que a habilitação dessa entrada verbal para participar da CGH devia-se, unicamente, ao fato de ele ser o verbalizador da causatividade e, como acredito que subjacente à CGH esteja a metáfora primária CAUSAS SÃO FORÇAS FÍSICAS, considerei a presença desse predicador na lista de tipos como mais uma evidência do processo de coerência metafórica que perpassa toda a gramática. Tal análise é, do ponto de vista sociocognitivo, perfeitamente plausível. Todavia, os dados reunidos no corpus revelaram um fato que jamais teria sequer suposto: as entidades que ocupam o espaço destinado ao complemento-objeto do predicador causar recebem, na maioria absoluta das ocorrências, uma avaliação sociocultural negativa. Tais entidades são lexicalmente instanciadas por vocábulos como mal, câncer, pânico, polêmica, acidentes, preocupação, etc. Das 58 ocorrências registradas no corpus Blogs UOL, apenas 5 (8,6%) recebem uma le itura pragmática positiva, enquanto que 49 tokens (84,4%) instanciam entidades “negativas” como complemento do verbo causar , como mostram os exemplos: 1. A vacina deverá atuar contra a proteína beta-amilóide, cujo acúmulo excessivo causa a doença. 2. Segundo os especialistas, na psoríase, as células imunológicas, que protegem contra infecções, disparam a liberação de citoquinas que causam inflamações e a superprodução de células da pele. 3. É esse que vai causar a febre, além de perda de apetite, fadiga e dores no corpo, ao interagir com um receptor de neurônios chamado E3 na região do cérebro conhecida como hipotálamo . 142 Essa constatação é significativamente reveladora, pois evidencia o entrelaçamento do uso das Construções Gramaticais e a formação de esquemas cognitivos abstratos muito coerentes e eficientes. Outra constatação que merece destaque é o não enquadramento do predicador bombar em nenhuma das três classificações propostas, considerando-se tanto os dados do corpus como também o dicionário Houais. Esse não enquadramento do predicador bombar em nenhuma das categorizações propostas indica seu alto grau de convencionalização do sentido promovido pela Construção de Hiperbolização. Isso significa que o predicador bombar, no uso contemporâneo do PB, lexicalizou o sentido de Hiperbolização de forma tão intensa que ele reenquadra automaticamente o frame de DESTRUIÇÃO no frame de SUCESSO, independentemente de ser usado com ou sem complemento. Os dados reunidos no corpus Blogs UOL confirmam tal panorama na medida em que das 57 ocorrências, 54 instanciam a CGH. Outras duas aparecem com complemento, porém promovendo o sentido de hipervalorização e hiperbolização da entidade sujeito e apenas uma ocorrência transitiva retoma um dos sent idos dicionarizados de bombar: ser reprovado em exame. O fato, por exemplo, de ele não ter sido flagrado no corpus nem no Google em uso transitivo, como aqueles que constam no dicionário: Ele bombou água para dentro de casa/ Seria bom se a gente tivesse um fole para bombar ar dentro do formigueiro 69 , já é um forte indício de mudança. Também o fato desse predicador estar promovendo no PB atual o mesmo sentido de hiperbolização positiva mesmo na configuração transitiva é bastante revelador. No corpus Blogs UO L, as três ocorrências transitivas são: a) E acabou bombando a sexta série. b) Quem começou a bombar esse tipo de loja foi a incrível Comme des garçons- tinha até boatos de que teria uma assim em São Paulo, mas até agora nada. c) A animadora promete bombar a festa do ator. O sentido de (a), segundo Borba (1991) é ser reprovado, tomar bomba, em que se tem não uma ação-processo, mas apenas o processo e o sujeito-paciente. Já em (b) e 69 BORBA, F.S. p.222. op. cit. 143 (c) o sentido do predicador verbal é o de causar o sucesso de, em que se tem não só o processo como também a ação verbal. Esse sentido se mantém na CGH e a destransitivização do predicador hiperboliza a força agentiva do argumento-sujeito. Portanto, o estatuto do predicador bombar no PB contemporâneo é o de um neologismo, cuja semântica é a mesma promovida pela Construção Gramatical de Hiperbolização, a saber, de apreciação positiva da entidade sujeito, elevando-a ao topo da escala avaliativa de sucesso. Pesquisando no Google o lexema bombou, pude comprovar que as 700 primeiras ocorrências dadas pelo buscador evocam o sentido da CGH. A questão mais instigante do uso tão frequente de bombar na CGH é o fato de ele revelar um processo de seleção lexical da Construção de Hiperbolização muito coerente (i) com o frame de DESTRUIÇÃO que, segundo nossa teoria, a motiva; (ii) com o processo metonímico- metafórico que a subjaz. O frame de DESTRUIÇÃO comporta, como vimos, um papel de Instrumento que se executa por itens que referenciam o que estamos chamando de “armas de destruição” e cuja função é aumentar o poder de ação (a força) da entidade destruidora. Dentre essas armas estão os artefatos explosivos como a bomba, a dinamite, a granada; as armas de fogo como o fuzil, a metralhadora e a bazuca. Devido ao sistema de coerência que governa a gramática, os verbos derivados desses substantivos estão, automaticamente, habilitados a participarem da CGH. Daí a produtividade do bombar. Portanto, é bastante previsível que predicadores como dinamitar, bazucar, dentre outros verbos derivados de nomes que referenciam instrumentos de destruição possam também vir a ser usados na CGH. Pesquisando no Google, encontrei o seguinte texto: DAe Rainha do Chopp! Quando eu vou poder te ver sem um copo na mão? haha. Brincadeira!! Vcs pra variar dinamitaram neh! PQP! hahaha e ainda faltam as fotos da festa a fantasia e do findi no cassino! Qta festa hein!! Wed 1-Feb-2006 01:03 (http://74.125.47.132/search?q=cache:MzCSTvy6LPIJ:stwfriends.fotopages.com/%3F%26pag e%3D1+ele+dinamitou+no+show&cd=103&hl=pt-BR&ct=clnk&lr=lang_pt) 144 As armas de destruição, dentro do nexo de causalidade engatilhado por um evento de destruição, preenchem o slot da causa que, como previsto no frame de DESTRUIÇÃO, pode se intercambiar com outro elemento central desse frame, a saber, o destruidor. 5.2..2.2 A CGH e a frequência no corpus dos tipos verbais Dos 33 tipos verbais pesquisados no corpus Blogs UOL, 20 deles, ou seja, 60,6% apareceram instanciando a Construção Gramatical de Hiperbolização. Em termos de número de ocorrência (tokens) da CGH, esses 20 verbos protagonizaram um total de 189 instanciações destransitivizadas 70 . O verbo bombar responde no corpus por um total de 54 instanciações da Construção de Hiperbolização, ou seja, pouco menos de 30% do total. O que chama a atenção, no entanto, é o número de instanciações transitivas: apenas 3. O predicador arrasar é o segundo verbo mais frequentemente selecionado para instanciar a Construção de Hiperbolização: das 189 ocorrências da CGH do corpus Blogs UOL, este verbo é responsável por 51 delas, isto é, aproximadamente, 27%. Isso se deve a alguns fatores importantes como (i) a independ ência desse predicador de molduras comunicativas específicas; (ii) o seu livre trânsito nas três classificações propostas no diagrama radial, ou seja, ele tanto pode ser usado como verbo de destruição total, parcial ou figurativa e (iii) a consolidação de seu uso destransitivizado ao longo do tempo, na medida em que das 65 ocorrências totais nas quais arrasar é o núcleo do sintagma verbal, 51(78,5%) instanciam tal predicador sem seu complemento à direita. Dentre os 33 tipos atestados, via pesquisa Google, como habilitados a participarem da CGH, 13 deles (39,3%) não instanciaram a CGH nos dados do corpus 70 Todas as 189 instanciações da CGH analisadas estão listadas no anexo B do CD que acompanha a tese. 145 Blogs UOL. São eles: aniquilar; avassalar; bombardear; destroçar; destruir; esculachar; exterminar; humilhar; liquidar; maltratar; metralhar; triturar; trucidar. A tabela 20 abaixo resume a situação de cada um dos 33 tipos verbais estudados no que concerne ao número de ocorrências totais no corpus Blogs UOL, o número de ocorrências sem complemento e o número de destransitivizações motivadas pela CGH. (20) TABELA DE OCORRÊNCIAS DE CGHs NO CORPUS VERBO OCORRÊNCIAS TOTAIS SEM COMPLE MENTO % CGH % ABAFAR ABALAR ANIQUILAR APAVORAR ARRASAR ARREBENTAR 16 45 8 8 65 40 5 3 1 2 51 21 31,25% 6,66% 12,5% 25% 76,9,3% 52,5% 4 3 0 1 51 16 80% 100% 0% 50% 100% 76,19% ARREGAÇAR ARREPIAR ATROPELAR AVASSALAR BARBARIZAR BOMBAR 8 23 48 3 5 57 1 1 5 0 3 54 12% 1,96% 10% 0% 40% 94,7% 1 1 2 0 2 54 100% 100% 40% BOMBARDEAR CAUSAR DESTROÇAR DESTRUIR DETONAR ESCULACHAR ESTOURAR 10 59 2 124 55 0 69 0 1 0 14 7 0 47 0% 1,69% 0% 0% 7,27% 0% 72,3% 0 1 0 0 4 0 18 0% 100% 0% 0% 57,1% 0% 38,2% ESTRAÇALHAR EXPLODIR EXTERMINAR FULMINAR FUZILAR HUMILHAR INCENDIAR LIQUIDAR MALTRATAR MASSACRAR MATAR METRALHAR TRITURAR TRUCIDAR 4 104 8 9 19 18 17 26 8 8 304 7 6 6 1 79 0 1 12 2 4 0 1 1 53 1 0 2 25% 75.96% 0% 11,1% 63,15% 11% 23,5% 0% 0% 12,5% 17,43% 0% 0% 0% 1 10 0 1 11 0 1 0 0 1 6 0 0 0 100% 11,39% 0% 100% 91,6% 0% 25% 0% 0 100% 11,32% 0% 0% 0% 100% 100% Fonte: Do autor 146 A posição da maioria desses 33 tipos verbais com relação à frequência de sua instanciação na CGH, tendo como referência o corpus Blogs UOL, é muito semelhante à situação com que me deparei no Google, por exemplo. Para a maioria dos verbos que não ocorreram destransitivizados no corpus, a busca na plataforma Google exigiu uma pesquisa demorada e persistente para que eu encontrasse, não raro, uma única instanciação da CGH. Um caso, todavia, é completamente diverso: o do predicador apavorar. Embora no corpus ele só apareça em apenas uma ocorrência hiperbolizada (25% do total de tokens com esse verbo e 0,5% do total de CGH ), no Google, só na primeira página de busca com o lexema apavorou, ele aparece destransitivizado e instanciando a CGH em 6 (60%) das 10 primeiras ocorrências. No jornal Folha de São Paulo, por sua vez, em 91 ocorrências destransitivizadas do predicador apavorar, de um total de 1000, apenas duas (2,19%) aparecem instanciando a CGH: 1. A China apavorou no tênis e parou até a badalada Venus Williams -Ting Li e Tian Tian Sun , que deram ao seu país a primeira medalha de ouro no tênis. 71 2. Hoje o velho rapper está em decadência, mas, no começo da carreira, Ice T apavorou com seus versos contundentes. 72 A justificativa mais plausível que encontro para a discrepância dos valores de frequência do predicador apavorar no corpus, na Folha de São Paulo e no Google é considerá- lo um item lexical de uso otimizado em registros linguísticos marcadamente informais. Como a plataforma Google é ampla o suficiente para abarcar esse tipo de discurso, porque nesse ambiente a variação linguística é inegável, permitindo discursos muito mais distensos do que os registros encontrados na Folha de São Paulo ou em um corpus formado por blogs da redação de um portal, o uso destransitivizado do apavorar é, talvez por isso, estatisticamente muito maior. 71 72 Folha de São Paulo, quarta-feira, 25 de agosto de 2004. Folha de São Paulo - Greatest Hits: The Evidence - 04/12/2000 147 5.2.2.3 Os tipos verbais e sua (in)dependência de molduras comunicativas específicas Analisando a frequência de uso dos 33 tipos verbais pesquisados, tanto no corpus quanto na plataforma Google, fica evidente que alguns desses predicadores são mais autônomos do que outros, no que diz respeito a molduras comunicativas específicas. Os três verbos mais frequentemente usados na Construção de Hiperbolização, de acordo com o corpus, a saber, bombar, arrasar e arrebentar têm essa característica. Isto significa que eles podem ser usados em contextos variados, hiperbolizando e hipervalorizando ações de entidades bastante diversas e em campos conceituais multivariados como esporte, música, cinema, moda, arte, dentre outros. Outros predicadores, contudo, demonstram uma maior dependência de campos conceituais específicos e só se instanciam com uma valência alterada nesses campos. O verbo estourar ilustra bem esse tipo de dependência. A Construção de Hiperbolização nucleada por esse predicador restringe as entidades capazes de ocupar a posição de SNsujeito a artistas ou produtos artísticos (CDs, músicas, filmes), havendo uma preferência explícita pela arte musical. Por isso, das 18 instanciações da CGH, encontradas no corpus, 11 (61%) referem-se a esse campo conceitual, bem demarcado pelos sintagmas preposicionais, como mostram os dados: 1. A canção de autoria de Walter de Afogados e Fernando Alves , estourou nas paradas de sucesso em 2000 , na voz de Lairton dos Teclados. 2. A banda canadense Simple Plan , dos sucessos Shut up e Welcome to My Life ( esta última está estourando nas rádios atualmente )fez bonito aqui no Brasil! 3. A música estourou no Brasil inteiro . Um caso de dependência e especialização da moldura comunicativa mais marcante ocorre com o verbo fuzilar, quando instanciado destransitivizado e encabeçando a Construção de Hiperbolização. No corpus, o único campo conceitual que propicia a alteração de valência desse verbo, destransitivizando-o, é o da moldura 148 comunicativa do futebol. A instanciação da CGH nucleada pelo predicador fuzilar, portanto, ainda se encontra em um estágio de lexicalização pouco avançado, de modo que a moldura comunicativa tem um papel preponderante na evocação da significação pretendida, ou seja, na Hiperbolização Positiva da entidade sujeito. 1. O atacante deu um drible seco no zagueiro uruguaio , que caiu sentado , e fuzilou para fazer o terceiro gol . 2. Aos 30 , finalmente , André Lima deu belo drible na entrada da área , pelo meio, e passou para Dodô que fuzilou. Na medida em que a Construção de Hiperbolização com dado predicador verbal, em moldura específica, vai se disseminando no uso, a tendência da língua é ir autorizando novos contextos. Já podemos encontrar o verbo fuzilar instanciando a CGH em fóruns de discussão sobre música, por exemplo. 3. Garoto de 9 anos fuzila em Crazy Train, do Ozzy Osbourne (com surpresa do próprio Ozzy no final). (http://www.voadoranajugular.com.br/2009/05/garoto-de-9-anos-fuzila-em-crazy-train.html ) 5.2.2.4 A validação do SN-sujeito O sintagma nominal que na configuração sintática da Construção de Hiperbolização instancia o sujeito gramatical do enunciado é preferencialmente localizado anteposto ao sintagma verbal. Das 189 Construções que fazem parte do corpus, em nenhuma delas o sujeito ocorre em posição posposta ao verbo. Esta topicalização da entidade-sujeito é importante e reflete o modo coerente como a metáfora organiza o nosso sistema conceptual e, por conseguinte, o nosso modelo de gramática. 149 Elevar um sintagma nominal à posição de tópico não é uma escolha “inocente”, isenta de motivações sociocognitivas. Lakoff e Johnson (1987[2002], p.219) já observaram que “é natural que conceptualizemos metaforicamente a linguagem em termos de espaço (...) e é possível aplicar diretamente à forma de uma frase determinadas metáforas espaciais, porque temos uma concepção espacial dela”. Como vimos, um dos desdobramentos da metaforização espacial da linguagem mais citado é a conhecida prática de conceber que “ma is forma” equivale conceptualmente a “mais conteúdo”. Portanto, quando dizemos algo como Eu vou beber, beber, beber até cair...73 estamos associando a ideia de mais forma a mais conteúdo. Na língua, a espacialização funciona todo tempo: quando o falante escolhe onde ficará a partícula negativa, quando escolhe entre o advérbio de negação ou o prefixo, quando formula uma relação de causalidade de forma simples ou composta. Logo, o fato de falarmos e escrevermos de forma linear faz com que a seleção das palavras que serão colocadas em primeira posição não seja desmotivada. Em termos de protótipo, a pessoa canônica é aquela que está mais para ALTA do que para baixa, está mais para FRENTE do que para trás, é mais ATIVA do que passiva e é BOA antes que má (LAKOFF; JOHNSON, 1987 [2002], p.227). O sintagma nominal que é, pois, alçado à posição de sujeito passa a cumprir todas essas expectativas e o fato de estar localizado imediatamente anteposto a um verbo causativo reforça também a conceptualização espacial metafórica traduzida em QUANTO MAIOR A PROXIMIDADE, MAIOR O EFEITO. Em suma, o fato de o SN selecionado ser alçado à primeira posição da frase, contribui para a identificação da entidade que o referencia como MAIS IMPORTANTE e MAIS AGENTIVA (com maior força) e o fato de esse SN estar imediatamente ligado ao verbo reforça o EFEITO de sua agentividade. Observando as entidades que funcionam como SN-sujeitos das 189 Construções Gramaticais de Hiperbolização constantes do corpus, é possível verificar que, na maioria das vezes, elas preenchem um mesmo campo semântico: produtores e/ou produtos de entretenimento. Quando a entidade que referencia o SN da cadeia 73 Canção Me dá um dinheiro aí, de Moacir Franco. 150 sintagmática da CGH é do tipo [humano], ou seja, um representante da categoria dos produtores de entretenimento cultural, as referências mais comuns encontradas nos dados são desportistas famosos (principalmente jogadores de futebol); celebridades; artistas, times. Já a representação das entidades-produtos se dá, na maioria das vezes, por referência a peças teatrais, CDs, DVDs, filmes, músicas, programas de tevê, etc. Para ilustrar, cito alguns tokens do corpus Blogs UOL, realçando as entidades que ocupam a posição de sujeito gramatical da CGH e as molduras comunicativas nas quais ocorre a Construção: 1. O Xico Sá [escritor, jornalista] arrasa. Blog: Peixe de Aquário Blogueira: Ana Rüsche Perfil: poeta paulista, advogada, pesquisadora do grupo Semiótica e Análise do Discurso da USP. Alguns livros de poesia publicados Categoria do blog: Literatura e arte 2. Eu só sei que Waldick Soriano[ cantor] arrebentou. Blog: Contos Bregas Blogueiro: Tiago Góes Perfil: Jornalista, escritor, bancário, potiguar, 29 anos. Categoria do blog: Literatura ( contos); vídeos e músicas bregas, textos polêmicos 3. Madonna [cantora]está bombando no Brasil. Blog: Querido Leitor Blogueira: Rosana Herman Perfil: bacharel em Física pela USP, mestre em Física Nuclear pela mesma universidade, radialista , jornalista, roteirista e redatora de TV desde 1983, apresentadora e repórter de TV, além de escritora. Categoria do blog: generalidades 4. Charlie Braun[ cantor] causando again. Vi agora no SPTV. Blog: Querido Leitor Blogueira: Rosana Herman Perfil: bacharel em Física pela USP, mestre em Física Nuclear pela mesma universidade, radialista , jornalista, roteirista e redatora de TV desde 1983, apresentadora e repórter de TV, além de escritora. Categoria do blog: generalidades 151 5. A canção de autoria de Walter de Afogados e Fernando Alves[música] estourou nas paradas de sucesso em 2000, na voz de Lairton dos Teclados. Blog: Contos Bregas Blogueiro: Tiago Góes Perfil: Jornalista, escritor, bancário, potiguar, 29 anos. Categoria do blog: Literatura ( contos); vídeos e músicas bregas, textos polêmicos Nos dados, há os predicadores verbais que só selecionam sujeitos- humanos como SN (entidades-produtoras): abalar, causar, estraçalhar, fulminar, fuzilar, liquidar, matar e incendiar. Isso não significa, porém, que na linguagem cotidiana esses verbos não sejam usados com entidades-produtos, como mostra o exemplo : Alex (Crítica do Leitor): "Muito legal, é difícil eu me emocionar e esse filme abalou! Muito 10! Parabéns, Robin." 74 Na verdade, todos os tipos verbais pesquisados parecem manter uma relação paradigmática uns com os outros, de modo que, no contexto em que um deles é selecionado, todos os outros acabam sendo potenciais candidatos. O predicador bombar mostra, através dos dados, que é o mais versátil dentre os predicadores pesquisados, já que as entidades referenciadas pelo sujeito abrangem uma maior gama de opções: pessoas, bandas, músicas, livros, filmes, peças teatrais, lugares, empresas, enfim, uma diversidade imensa de entidades. A Construção Gramatical de Hiperbolização tem preferência notória pelo campo conceptual das artes. Arte, entendida aqui, como sendo uma combinação de habilidades e imaginação na criação de objetos, ambientes ou experiências75 , o que envolve não só as artes propriamente ditas (musicais, cênicas, plásticas) como também os esportes, a moda, dentre outras expressões. Evitando uma discussão ideológica sobre, por exemplo, se moda é ou não, arte, prefiro usar um termo mais geral que englobe todas essas práticas sociais de entretenimento e/ou cultura, que seria a indústria do entretenimento, que, por sua vez, converge com outras duas noções: a noção de sociedade do espetáculo e a noção de consumo em massa. 74 75 http://www.adorocinema.com/filmes/homem-bicentenário/homem-bicentenário. Encyclopedia Britannica Ready Reference, 2003 apud Kövecses, 2006. 152 Segundo Hirata e Pilatti (2007), o esporte moderno, ou melhor dizendo, o espetáculo esportivo, abrange as três características seguintes: (i) suas competições são organizadas por ligas ou federações e os atletas envolvidos são submetidos a treinamentos intensivos; (ii) suas competições são veiculadas por meios de comunicação de massa e apreciados por espectadores em seu tempo de lazer; (iii) existência de relações mercantis no campo esportivo, como os atletas que são assalariados e os eventos esportivos, enquanto uma forma de entretenimento de massa, que são financiados pela comercialização do espetáculo. 76 Com as devidas adaptações, todas as práticas sociais de entretenimento adotadas pela indústria (moda, esporte, música, cinema, teatro, etc.) terão esses três fatores apontados por Hirata e Pilatti e que podem ser assim resumidos: (i) produtos e produtores institucionalizados (gravadoras, times, grifes, etc.); (ii) veiculação massiva na mídia com apreciação valorativa ; (iii) produtos e produtores geradores de renda. Essas três características fundamentais criam para qualquer “produto” (incluindo os próprios produtores) encampado pela indústria do entretenimento uma expectativa de confiabilidade, qualidade e status que acaba se traduzindo em uma única noção: SUCESSO. O campo conceitual em que a Construção de Hiperbolização tem maior produtividade é, como vimos, o da indústria do entretenimento. Tal preferência se comprova no uso, quando se observa a seleção que os falantes fazem das entidades que irão ocupar a posição privilegiada de sujeito gramatical. A CGH, portanto, herda as três expectativas pragmáticas acima descritas: confiabilidade, qualidade e status, incorporando, por conseguinte, a função semântico-pragmática de denotar o SUCESSO da entidade-sujeito. Isto estabelece, pois, uma via de mão dupla no processo de produção/interpretação dessa construção: se a entidade que ocupa a posição privilegiada de sujeito gramatical na CGH é conceptualizada como um produto de entretenimento, ela automaticamente será avaliada como algo que é confiável, bom e que traz status, situando-se, portanto, no topo da escala avaliativa de sucesso. Logo, o uso da CGH em contextos nos quais a entidade-sujeito não tem uma avaliação reconhecida 76 HIRATA, E. ; PILATTI, L.A. Modernidade e a indústria do entretenimento: o produto esporte moderno. In: http://www.efdeportes.com. Revista Digital - Buenos Aires - Ano 11 - N° 104 - janeiro de 2007. Disponível em http://www.efdeportes.com/efd104/esporte-moderno.htm 153 socialmente faz com que o SN-sujeito herde, por processo metonímico, o tripé semântico-pragmático da Construção de Hiperbolização, a saber: força, foco e apreciação positiva. 1. Eu não uso essa sandalinha vagabunda, mas se eu fosse pobre, ia arrasar na laje.(Corpus Blogs UOL) 2. ah, e o pessoal da arte gráfica que está arrebentando e se divertindo muito... (Corpus Blogs UOL) A análise dos tipos de sintagmas nominais que cumprem a função de sujeito na Construção Gramatical de Hiperbolização ratificou a hipótese de que tal construção reenquadra o frame de DESTRUIÇÃO em um frame de SUCESSO, na medida em que é a indústria do entretenimento que fabrica produtos e produtores de sucesso. Kövecses (2006) acredita que a metáfora A VIDA É UMA PEÇA DE TEATRO tenha evoluído na América do século XX em algo mais geral, a saber A VIDA É UM SHOW ou ENTRETENIMENTO. Tal expansão se deu, segundo ele, devido à popularização dos esportes, à invenção dos filmes, do rádio e da televisão, e da utilidade e popularização dos meios de comunicação de massa, além de outros fatores. Assim, aspectos da vida começaram a assumir características de entretenimento. A política, por exemplo, passou a ser compreendida como um show (no Brasil, temos até o vocábulo showmício, que caracteriza um espetáculo de política no qual há shows musicais); o processo de ensino (a aula) também passou a ser visto como forma de entretenimento. O domínio, no entanto, onde menos se esperaria a aplicação da metáfora do ENTRETENIMENTO seria o da guerra. (KÖVECSES, 2000, p.147), porque, usualmente, a guerra é conceptualizada como a mais séria atividade que alguém possa engendrar, porém, ainda assim, na América, a metáfora do ENTRETENIMENTO é um dos modos principais de se falar e pensar sobre a guerra. Na obra Muito além do espetáculo, de Adauto Novaes (2005), o autor discute a relação entre guerra e espetáculo, justificando-a por um argumento quantitativo, ou seja, as guerras como sendo grandes provedoras de imagens, o que alimenta os meios de comunicação de 154 massa, e por um argumento qualitativo, o qual institui a guerra como objeto privilegiado de imagens bem antes da chamada sociedade do espetáculo. Durantes séculos, afirma Novaes, a guerra foi admirada, celebrada, magnificada, como se fosse o espetáculo por excelência. Todas as artes cantaram sua sublimidade. “A guerra é bela de se ver a tal ponto que parece existir um parentesco etimológico possível, em Latim, entre a guerra (bellum) e o belo (belus)”77 . Por essa análise de Novaes (2005) vemos que o raciocínio de Kövecses talvez possa estar invertido, ou seja, não é a sociedade do espetáculo que produziu uma nova conceptualização da guerra, antes é a guerra que sempre serviu de domínio- fonte para mapeamentos no campo conceptual do entretenimento. A guerra é um dos conceitos correspondentes a tipos naturais de experiência, usado em definições metafóricas para definir outros conceitos que não são suficientemente claros para servir aos propósitos de nosso agir cotidiano (LAKOFF; JOHNSON, 2002, p. 209). O reenquadramento de frames, no caso em questão o frame de DESTRUIÇÃO é reenquadrado no frame de SUCESSO, via Construção Gramatical (a Construção Gramatical de Hiperbolização) é mais um argumento em favor da tese de que as Construções Gramaticais constituem, por si só, poderosos esquemas cognitivos, altamente influenciados por fatores de natureza sociocultural. 5.2.2.5 Sobre a agentividade A Construção Gramatical de Hiperbolização, como vimos, emerge quando um dos verbos causativos de destruição, cujo perfil sintático-semântico-pragmático foi delineado em seção precedente, é destransitivizado e a entidade-sujeito, ainda assim, não perde sua agentividade, sua força de ação. Esse foco na força de ação do sujeito é importante, porque é um parâmetro que difere, por exemplo, a Construção (a) da Construção (b) abaixo: 77 NOVAES , A. Muito DOp m do HVSHW iculo. 6mo Paulo : Senac, 2005 155 a) (...) uma bomba detonou no banco da costa oeste em Woodburn. ( http://www.iconocast.com/B000000000000062_Portu/C1/News5.htm) b) Rogério Flausino detonou no show do Jota Quest em Porto Alegre . ( http://nexozero.Blogspot.com/2004/11/rogrio-flausino-detonou-no-show-do.html) Borba (1991) categoriza o verbo estraçalhar como de ação-processo com sujeito causativo, mas, segundo ele, tal verbo pode ser só de processo quando “com sujeito paciente, expresso por nome humano, significa sair-se bem, ter grande sucesso: Robertinho estraçalha no jogo (MPB,157); Sabe que Norminha estraçalhou no baile de Aleluia? (BORBA, 1991, p.711). A questão é que sair-se bem, ter grande sucesso é o produto semântico-pragmático da Construção Gramatical de Hiperbolização, quando um verbo de ação-processo, categorizado como “verbo de destruição” é destransitivizado. Vê-se que, nos exemplos dados por Borba, não é natural nem coerente dizer que os SNs-sujeitos das duas frases (Robertinho/ Norminha) sejam pacientes da ação verbal, pois é exatamente a força de ação dessas entidades que está sendo focada pela Construção destransitivizada. A manutenção da agentividade se comprova, quando lançamos mão do teste da passivização: no caso dos sujeitos-pacientes o sentido da oração passiva é muito semelhante ao da ativa, já na CGH, o sentido da Construção passiva é exatamente o oposto ao que emerge na Construção ativa: a’ ) Uma bomba foi detonada no banco da costa oeste em Woodburn. b’) (?) Rogério Flausino foi detonado no show do Jota Quest em Porto Alegre. Portanto, uma das restrições de seleção imposta pela CGH é que a entidadesujeito seja capaz de manter a sua agentividade, mesmo com a perda do complemento verbal. Pelos dados analisados, o sentido inerente à Construção, ou seja, a hiperbolização e a hipervalorização positiva do sujeito, se promove sempre que esse SN possuir o traço [+ humano] e disparar um acesso ao campo conceitual do 156 entretenimento, no qual a entidade referenciada no SN-sujeito possa ser interpretada como produtora de entretenimento, como fica claro pelas diferentes leituras dos enunciados a, em que o SN-sujeito não referencia uma entidade humana e b, na qual a entidade referenciada pelo SN-sujeito além de ser humana, preenche de modo coerente a propriedade de produtora de entretenimento ( esporte é um entretenimento produzido por atletas, no caso específico, jogadores de futebol): a) E completa: “O show foi massa, mas a Belina voltou rebocada pra casa , sem contar que a corda que a puxava arrebentou umas duas vezes...” . (Corpus Blogs UOL) b) No Manchester, na minha opinião o melhor time da atualidade , a dupla Cristiano Ronaldo e Rooney vem arrebentando. (Corpus Blogs UOL) No entanto, as entidades que exercem a função de sujeito gramatical na estrutura sintagmática da Construção de Hiperbolização podem não ser do tipo humano, geralmente referenciando produtos da indústria de entretenimento como CDs, filmes, DVDs, músicas, peças teatrais, dentre outros. Esse fato coloca em xeque a asserção de que a agentividade é uma condição de validação da Construção Gramatical de Hiperbolização, “se fizermos coincidir o termo agente com Agentivo e atrelarmos a esses termos o conceito de ação, então concluímos que só haverá ação quando houver um fazer consciente, intencional/volitivo e controlador por parte de um ser animado e, do ponto de vista filosófico, especificamente humano”78 . Todavia, o teste da passivização para entidades-sujeitos não humanos tem o mesmo resultado, como se pode ver em: a) O filme 2012 arrebentou nas bilheterias. b) (?)O filme 2012 foi arrebentado nas bilheterias. 78 IGNÁCIO, S.E. Ação, agentividade e causatividade em estruturas oracionais de ação-processo. Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara – UNESP. Disponível em http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/edicoesanteriores/4publica-estudos-2007/sistema06/13.PDF 157 O que parece é que a força agentiva é propriedade da Construção de Hiperbolização e as entidades que ocupam a posição de sujeitos gramaticais, sejam humanas ou não, herdam do padrão construcional essa força agentiva. Ao me deparar com uma charge do jogador Ronaldinho, acompanhada de uma Construção Gramatical de Hiperbolização, algumas hipóteses sobre essa herança agentiva sobrevieram- me. A Construção e a charge são essas: Ontem 29/6 foi a final histórica, primeira decisão Brasil X Argentina valendo pela Fifa, Copa das Confederações, Brasil com um time pouco acreditado jogou a melhor partida que eu já vi desde que me conheço por gente, liquidou, deu um baile que acabou em samba...parabéns Brasil... Figura 21- Charge do jogador Ronaldo. Fonte: http://transfalcao.Blog.uol.com.br/ Na Construção, o verbo liquidar, prototipicamente transitivo, aparece destransitivizado. Esse é um verbo categorizado por Borba (1991) como de ação-processo com sujeito agente/causativo e cujo significado é matar, destruir (BORBA,1991,p.885). Coerente com o perfil estabelecido para os verbos habilitados a participarem da Construção de Hiperbolização, não é de se estranhar a sua destransitivização em um contexto em que se tem i) a moldura comunicativa do blog, subcategorizado em blog 158 sobre futebol; ii) o objetivo comunicativo de se elogiar, realçando o desempenho de uma entidade. A charge traz pis tas importantes sobre a Construção de Hiperbolização: a entidade-sujeito (Seleção brasileira de futebol) é metonimicamente referenciada por um de seus jogadores (Ronaldinho) que tem um instrumento de destruição nos pés (arma de fogo), o que simboliza a metáfora da força (o poder de fogo). Ele é, portanto, o matador e, junto a ele, estendidos no chão, liquidados, os adversários argentinos, em um evento específico que é a partida final da Copa das Confederações entre Brasil e Argentina (mapeada imageticamente como uma arena de guerra). Segundo Kövecses (2005, p.164; 2006, p.143) há várias possibilidades de uma metáfora ser realizada de modo não linguístico e, não raro, o domínio- fonte se converte em realidade física quando, por exemplo, ele é visualmente representado (na dança, na pintura, na escultura, nos gestos, nos cartuns, etc). O que é interessante na charge e, de certo modo serviu de pista para o início de meu raciocínio, é o fato de a entidade herdar a “força” intrínseca à semântica do predicador verbal (resultante de sua capacidade de agir e promover mudança). O verbo, como núcleo da sentença, estabelece quais e quantos predicadores irão participar da cena. No caso do verbo liquidar, fica estabelecido, de antemão, que a entidade sujeito deva ser do tipo agente-causativo, com força e poder suficiente para exercer a ação de matar ou destruir. A anulação do complemento objeto da configuração sintagmática direciona o foco atencional inteiramente sobre o sujeito. Segundo Talmy (1996, p.236), a porção da cena selecionada pelo falante para ser colocada em foco de atenção é direcionada pela forma linguística e o recurso linguístico forma l mais fundamental que media esse processo cognitivo é a inclusão numa sentença de material explícito que se refere à porção ou porções da cena completa que está para ser focada e a omissão de material que se refira ao restante da cena não focalizado. Nos dados que coletei, pude observar a distinção do foco atencional entre enunciados que têm como núcleo o mesmo predicador verbal e cujo sujeito gramatical é uma entidade do 159 tipo [+ humano], porém diferem quanto à presença na cadeia sintagmática do complemento-objeto, como os enunciados abaixo: a) Cruzeiro massacra o Atlético-MG e fica perto do título ( http://www.estadao.com.br/esportes/not_esp163748,0.htm) b) A raposa massacrou no Mineirão ( http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18& source=a1843481.xml&template=4187.dwt&edition=9754&section=888) O processo de herança, a que eu me refiro como “herança da força agentiva ” pela entidade sujeito, se mostra frequentemente de forma mais explícita via léxico, nos casos em que a entidade-sujeito passa a ser referenciada por nomes ou atributos como animal, fera, monstro, lenda, matador, detonador, furacão, trucidador dentre alguns outros. O Animal arrebentou no coletivo de ontem, entrou e fez 3 gols, humilhou. Todo esse tempo que ele ficou de fora serviu de pré-temporada, agora sim ele está preparado. Não tem porque deixa-lo no banco, ele é melhor que Amoroso e Amoroso vai jogar. (http://parmerista.Blogspot.com/2007/03/o-professor-numa-encruzilhada.html) tem tbem o grande Ravi Shankar que agora divide o palco com sua filha, eu não me lembro do nome dela. Esse indiano fera arrebentou nos anos 60! Musica nao datada de tao inspiradora. http://www.camiseteria.com/profile Blogpost.aspx?usr=rodrigoreis&bid=5552 Gabriel, não conhecia o programa ainda, mas vi que é muito legal. E o cara é um monstro cantando, arrasa. rs… http://www.supra-sumo.org/2007/video-cantor-incrivel/ 160 A herança da força pela entidade sujeito parece ser resultado do interrelacionamento de vários fatores de natureza sintática, semântica e pragmática, por meio de: i) um processo de mesclagem entre as cond ições de validação de uma dada Construção; as propriedades do item lexical verbal e as propriedades da Construção Gramatical na qual ele irá ser instanciado; as propriedades da Construção intransitiva canônica e as propriedades da Construção destransitivizada, e ii) um refinado processo de extensão metafórica do esquema imagético da FORÇA. 5.2.2..6 A validação do sintagma preposicional Outro elemento que chama a atenção na CGH é o sintagma preposicional (SP) que ocupa predominantemente a posição imediatamente após o verbo. Nos dados, a posposição desse sintagma chega a 100% das ocorrências preposicionadas. Sobre esse elemento da Construção, os dados revelaram que: i) é um elemento de instanciação sintática opcional; ii) a preposição mais frequentemente usada na CGH é em; iii) sua função semântico-pragmática é ou situar e delimitar um campo de ação (uma arena) onde a entidade sujeito é apreciada como sucesso ou circunstanciar o evento causativo. Sobre a instanciação opcional do sintagma preposicional, os dados mostram que das 189 instanciações da CGH, 90 (47,6%) configuram-se com um sintagma preposicional, o que revela um equilíbrio entre instanciação e não instanciação desse elemento. Os dados também mostram que há predicadores que possuem uma tendência maior a dispensar esse sintagma da configuração, dentre estes está bombar, que tem 54 ocorrências de CGH e apenas 34% com SP instanciado. O predicador arrasar, por sua vez, o segundo mais frequente na CGH, com 65 ocorrências e 51 instanciando a CGH, mostra um equilíbrio entre a instanciação ou não, do sintagma preposicional: das 51 ocorrências da Construção de Hiperbolização, 27 (52,9%) são instanciadas com um SP. 161 Parece que existe uma estreita relação entre grau de convencionalização dos tipos verbais e, portanto, uma maior independência de molduras específicas e a opção por não usar um sintagma preposicional. Como explodir e explorar são muito presos à moldura musical, o uso de SP em enunciados por eles nucleados ultrapassa os 70%. 79 Outra constatação em relação ao sintagma preposicional da Construção de Hiperbolização é a preferência quase absoluta pela preposição e m. Do total de 90 tokens instanciados com SP, 68 (75,5%) exibem, na estrutura sintagmática da CGH, a preposição e m ou uma de suas contrações. Das 27 CGHs, instanciadas com o predicador arrasar, acrescido de um SP, 23 delas (85,1%) têm como preposição o em ou uma de suas contrações (no, na, nesse...).Com o verbo arrebentar, 100% das ocorrências preposicionadas da CGH instanciam essa mesma preposição. Já com o predicador mais usado na CGH, bombar, esse percentual chega a quase 73%. Segundo Moura Neves (2000), a preposição em funciona, fora do sistema de transitividade, estabelecendo relações semânticas no sintagma verbal de circunstanciação, ou seja, lugar, tempo e modo. Não há dúvidas de que tais relações se encontram nos dados, como mostram os exemplos, retirados do corpus : 1. Enquanto minha geração arrasava nas danceterias do Rio de Janeiro, eu e meus amigos freqüentávamos as rodas de samba... 2. Mais uma vez estará ao lado do Kaká e Ronaldo, que também arrebentaram no último domingo. 3. Espírito Macunaíma, Mário de Andrade matou em cheio. Contudo, a função semântico-pragmática do sintagma preposicional na Construção de Hiperbolização vai além de estabelecer somente uma relação de circunstanciação. É esse sintagma que especifica, também, em que campo conceitual do entretenimento a atuação da entidade-sujeito merece ser hiperbolizada e hipervalorizada (apreciada como sucesso). A diferença entre função circunstancial e 79 A situação dos tipos verbais com relação à presença ou não de sintagmas preposicionais (SP) pode ser observada na Planilha 16 do capítulo de metodologia à pagina 115. 162 função delimitadora conceitual pode ser notada, se comparamos, por exemplo, os dois enunciados abaixo: i) E porque tem o Cillian Murphy que arrasa no papel de travesti. ii) A música estourou no Brasil inteiro. O sintagma preposicional de (i) não só evoca o campo conceitual da indústria do entretenimento como também especifica-o (cinema/teatro), além de restringir a interpretação de hiperbolização e hipervalorização da entidade-sujeito a uma única moldura comunicativa, no caso, o filme Café da manhã em Plutão, no qual a entidade referenciada pelo sujeito atua como um personagem travesti. Ao selecionar esse SP específico, o falante, no caso, Érika Palomino, o faz porque, segundo ela, foi nesse papel específico que Murphy “caiu nas graças da crítica”. 80 É nesse filme em especial, nesse papel específico de travesti, enfim, nessa arena, que Palomino avalia como sucesso a atuação de Cillian Murphy. Em termos semântico-pragmáticos, portanto, a função do sintagma preposicional na Construção de Hiperbolização é demarcar um campo conceitual ou uma arena na qual a entidade que ocupa a posição de sujeito se destaca e é avaliada como sucesso. O uso predominante da preposição em, por sua vez, assegura a interpretação desse elemento como arena, na medida em que circunstancia lugares ou “eventos como lugares” por meio da metáfora EVENTOS SÃO LUGARES, confirmando assim mais um caso de coerência metafórica da gramática. 5.2.3 A Construção Gramatical de Hiperbolização e suas molduras comunicativas preferenciais Os blogs são o lugar, por excelência, da Construção Gramatical de Hiperbolização, principalmente para instanciações do verbo destransitivizado em primeira pessoa (eu arrasei, eu detonei, eu arrebentei...). Isso se deve a dois fatores principais: (i) 80 http://www.erikapalomino.com.br/erika2006/lifestyle.php?m=1383 163 em termos de registro, essa Construção se aplica a discursos informais, característica compatível com a linguagem utilizada na moldura do blog; (ii) a função semânticopragmática de hiperbolização e hipervalorização da ação engendrada pela entidade sujeito só é bem aceita socialmente em molduras bem marcadas e o blog é uma dessas molduras, na medida em que é uma ferramenta discursiva de autoexpressão: FESTA DE 15 ANOS!!! Nuossa gente nem contei do meu niver neh?! Mais ki foi irado foi...(...) Todo mundo empolgado!! Dancei mto... AMANDINHAAAAA,DEEH, CAAA, BIBI, ELO, MINAS E MOÇOS DO LUMEN!! É NOIZ!!!! Causei mto na minha festa!! Foi irado!!! Melhor dia da minah vida... queria ki voltasse... (http://42Y3pXGga-sJ:jujuzinha22.zip.net/+eu+causei+na+minha+festa+de&cd=12&hl=pt- Outra moldura otimizada quanto ao aparecimento da Construção Gramatical de Hiperbolização, motivada pela intenção comunicativa de elogiar o outro, são os fóruns virtuais, de caráter opinativo, nos quais os interlocutores pretendem argumentar a favor ou contra um artista, um desportista, uma equipe, um programa de tevê, enfim, qualquer evento ou entidade, passível de ser avaliada. Como o corpus se compõe de dados extraídos de blogs e minhas pesquisas com o buscador Google me retornaram inúmeras ocorrências da CGH em fóruns opinativos, para efeito desse trabalho, essas duas molduras discursivas serão consideradas as molduras preferenciais da Construção Gramatical de Hiperbolização. 5.2.3.1 O blog como moldura comunicativa otimizada da Construção de Hiperbolização “Blog” é uma corruptela de weblog, expressão que pode ser traduzida como ‘diário na rede’. Os blogs surgiram em agosto de 1999 com a utilização do software Blogger, da empresa do norte-americano Evan Williams. O software fora concebido como uma alternativa popular para publicação de textos online, uma vez que a 164 ferramenta dispensava o conhecimento especializado em computação. Segundo Komesu, 2004, “a facilidade para a edição, atualização e manutenção dos textos em rede foi – e é – o principal atributo para o sucesso e a difusão dessa chamada ferramenta de autoexpressão.” Tanto no Brasil quanto no mundo, milhares de pessoas já se utilizam dessa ferramenta gratuita, que permite, além do texto escrito, a inserção de imagens e sons em relatos pessoais cuja função é basicamente a expressão de sentimentos que permeiam a vida de pessoas comuns em seu cotidiano. Esse “exibicionismo” da vida privada, tão comum nos dias de hoje, “deve-se, também, ao olhar do Outro, leitor e telespectador atentos, computáveis enquanto audiência do site ou canal de televisão” (KOMESU, 2004, p.110). A Construção de Hiperbolização, como já mencionado, não ocorre somente em blogs. É de uso frequente, também, em interações informais cujos participantes sejam íntimos. É produtiva ainda entre os homossexuais e ocorre, não raro, em letras de músicas, como se pode ver no exemplo abaixo de Charles Brown Jr, O lado certo da vida errada: “Essa aqui foi a maior viagem que eu jamais vou esquecer Só família até dei “mosh”, eu quebrei dente, eu abalei Ø Tem roupa no varal Subi o morro eu fui considerado” O blog, no entanto, parece- nos tratar-se de uma moldura comunicativa otimizada para a ocorrência desse tipo de Construção, exatamente por ser uma ferramenta de autoexpressão e de natureza interativa que revela um pedido de aprovação do outro. Mas o que é um blog? Podemos entendê- lo como um lugar, um domínio, um espaço virtual na rede, ou como um texto, avaliado como um conjunto de postagens. Sua estrutura básica apela para um modelo de leitura “vertical”, dividido em colunas, com título, perfil do blogueiro, lista de blogs preferidos do blogueiro (blogroll), arquivos, posts recentes e comentários dos leitores sobre os posts (CHAGAS, 2007). Seu design ou plataforma atende muito ao gosto do autor, sendo fácil perceber a 165 diferença entre um blog de uma adolescente e o de um jornalista reconhecido, por exemplo. “Se, do ponto de vista do emissor, os blogs são ferramentas capazes de dar voz aos “leigos”, do ponto de vista do leitor eles são veículos que possibilitam o diálogo, o feedback” (CHAGAS, 2007, p.11). Os links para outros blogs e as listas de blogs preferidos do titular de um blogueiro criam e reforçam o recurso da hipertextualidade, unindo os blogueiros dentro de um domínio virtual muito maior, chamado de blogosfera. A blogosfera cria um número infinito de leitores virtuais para qualquer blog, na medida em que se tem hoje mais de 70 milhões de blogs, cada um acessado por centenas ou milhares de internautas. Schittine (2004) classifica os blogs em três tipos: (i) confessional; (ii) ficcional e (iii) jornalístico. A autora, todavia, admite ser difícil que um blog se atenha unicamente às propriedades que o categorizam em apenas uma dessas três classificações. Isso porque, do mesmo modo que os leitores de blog gostam de ficar sabendo das notícias em primeira mão, o fato de compartilhar segredos e intimidades com o blogueiro gera intimidade, fidelidade e confiabilidade; além do mais, o exercício diário da escrita quase sempre encoraja os blogueiros a se aventurarem pela literatura. Daí a mistura entre relato confessional, jornalismo e literatura. Schittine (2004) não tem dúvidas de que o que leva uma pessoa a criar um blog e a postar diariamente nele seja a vontade de ser lido, de ter uma platéia, seja para dividir uma tragédia pessoal ou política, seja para revelar detalhes de modos de vida não autorizados socialmente. Como exemplo s do primeiro caso se enquadram Odele e Yoani Sanchez, chamada de a blogueira de Cuba. Odele, cuja filha está em coma há 12 anos depois de ter o cabelo sugado pelo ralo da piscina do condomínio onde mora, criou para a filha, Flávia, um blog que é, segundo ela, a voz que sonha todos os dias ouvir. “Centenas de pessoas no Brasil, em Portugal, nos Estados Unidos, na Colômbia, em Moçambique e na Espanha testemunham a delicada tessitura dos dias de Flávia e Odele pela internet.” 81 Também Sanchez, fugindo de uma tragédia política, desafia a ditadura cubana por meio de seu blog. Já no segundo caso está a personagem que virou livro e 81 Reportagem Saudades de sua voz. Revista Época, n o 601, de 23 de novembro de 2009. 166 filme: Bruna Surfistinha, que em seu blog narra detalhes de sua vida como garota de programa. Apesar de todos os avanços tecnológicos, o blog é, ainda, um diário ancorado na linguagem escrita, é o texto escrito que media todas as interlocuções entre o blogueiro e seus leitores. Segundo Schittine (2004) “Cabe então ao texto, e principalmente a ele, a criação do ambiente e da personalidade virtuais”. No entanto, o que se tem nos blogs é um emaranhado de tipologias e gêneros textuais. Para possibilitar o contato com o outro, os blogueiros optam por uma escrita mais informal, em tom de diálogo. O diarista virtual precisa manter atualizado seu blog, escrevendo posts diariamente, do que decorre a necessidade de textos rápidos e diretos, muitas vezes dividido em várias postagens a depender do interesse despertado nos leitores e da necessidade de se responder aos mesmos. “Os blogs acabam sendo um meio caminho entre a ficção e a informação, entre o jornalismo e o escrito íntimo, isso quando não misturam bastante uma coisa com a outra. É essa situação híbrida- comum nos escritos íntimos em geral- que vai permanecer na escrita e na confecção do blog”( SCHITTINE, 2004, p. 156). Os blogs, devido à amplitude de seu poder de comunicação, acabam funcionando como formadores de opinião, que, portanto, avaliam e vendem produtos. Hewitt (2007) afirma que, com os blogs, o marketing entrou em uma nova era. Para comprovar isso, basta fazer uma visita a alguns blogs cujo objetivo primeiro não é, definitivamente, vender produtos, que logo se nota o poder de convencimento que os blogueiros têm. Martha Medeiros, escritora do Rio Grande do Sul, autora de livros como Divã e de crônicas sobre o universo feminino, tem um blog chamado Blog da Martha Medeiros (www.clicrbs.com.br/marthamedeiros). Suas crônicas postadas, não raro, partem de algum filme ou livro que a escritora viu/leu. Isso é o bastante para que uma legião de internautas comente seu texto e explicite o desejo urgente de consumir o mesmo produto. Como ilustração, cito um trecho de uma postagem desse tipo e um dos comentários resultantes: 167 Domingo, 22 de novembro de 2009 A Garota Ideal Acabo de assistir uma pequena joia no DVD, que recomendo a todos. O filme chama-se A Garota Ideal, e não lembro se, quando esteve em cartaz, foi aclamado ou passou batido. Eu só o assisti agora por recomendação fervorosa de uma amiga. Sempre achei que os melhores presentes que recebemos são essas dicas avalizadíssimas. Claro que nem sempre dá certo - essa mesma amiga já me recomendou um filme que não consegui passar da metade - mas é raríssimo nós duas não sintonizarmos no quesito cinema. Nome: Yany Mendes Siqueira de Araújo Email: [email protected] Cidade: RIO DE JANEIRO Estado: RJ Data: Quarta-feira, 25/11/2009 às 13h45min Martha minha querida!! Fiquei curiosa para ver o filme, vou correr agora mesmo para a locadora. Como é importante percebermos esta sutileza entre a realidade a fantasia e porque uma interfere tanto na outra.Que nossas relações com os outros, com a natureza e com a vida sejam sempre de verdade, tudo bem que não perdure eternamente mas que tenham a chance de se renovarem!! Bjs querida!! O hibridismo característico do blog, resultante do próprio paradoxo que o define: diário íntimo-público, cria uma moldura discursiva capaz de abrigar todas as modalidades de textos, desde receitas culinárias a textos literários e comentários vulgares. É o universo linguístico dentro da rede. O artifício, portanto, indispensável a um blogueiro para que ele se torne confiável e merecedor de ser lido, é cuidar do texto e criar um estilo próprio. “O público se vê curioso por vasculhar a vida do outro, sem que esse outro seja necessariamente alguém famoso. É o sucesso dos anônimos” (SCHITTINE, 2004, p. 16). As mídias, contudo, investem cada vez mais nos blogs das celebridades. Esse é o caso do Portal UOL, que destina um espaço para os blogs da redação, cujos titulares são pessoas da mídia: artistas, cantores, desportistas, jornalistas reconhecidos, celebridades. Esses blogueiros trazem consigo um público fiel, os 168 apaixonados fãs, que se tornam leitores assíduos desses blogs e acabam funcionando como divulgadores dos mesmos, criando uma imensa platéia de estranhos. O corpus no qual são baseadas as discussões dessa pesquisa é constituído por cem blogs da blogosfera UOL, que versam sobre uma infinidade de assuntos e são assinados por blogueiros de diferentes perfis. Uma das ocorrências da CGH constituintes do corpus, “Claro que Hollywood sempre privilegiou a beleza e neste quesito , Diane arrasa.” foi encontrada no blog Querido Leitor, cuja titular é Rosana Herman, bacharel em Física pela USP, mestre em Física Nuclear pela mesma universidade, radialista, jornalista, roteirista e redatora de TV desde 1983, apresentadora e repórter de TV, além de escritora e blogueira. Seu blog já recebeu diversos prêmios, entre eles o prêmio The Bobs - The Best of Blogs, 2008 , da Deutsche Welle, como Melhor Weblog em Português, pela votação popular e pelo júri internacional. A autora define seu blog como “especializado em generalidades”. A Construção de Hiperbolização, Diane arrasa, seguindo uma tendência discursiva de situar a entidadesujeito no topo de uma escala avaliativa de sucesso, aparece em um post, em que Herman comenta sobre a perfomance da atriz Diane Lane no filme “Sob o sol de Toscana”: Quando li o livro "Sob o sol da Toscana" entendi que a personagem principal, Frances, estava na casa dos seus 50 anos. Porém, o filme, que também vi, tem a atriz Diane Lane como protagonista. Como o filme é de 2003 e Diane naceu em 1965, ela fez o papel de Frances aos 38 anos! Bem que eu achei que apesar de ser um filme, era muito forçado para a história. Claro que Hollywood sempre privileg iou a beleza e neste quesito, Diane arrasa. Ela é linda e delicada. Mas uma coisa é uma personagem numa crise de meia idade e outra coisa é uma mulher linda de 38 anos. Enfim, o filme é bonito mas ficou inverossímil em relação ao livro. Por que estou falando isso agora? Porque vi Diane Lane na capa do UOL. Vi o trailler no cinema, Noites de Tormenta, com Richard Gere e ela. Outras duas ocorrências da CGH vêm do blog Contos Bregas e quem o assina é Tiago Góes, jornalista, escritor, bancário, potiguar, 29 anos. As categorias elencadas 169 pelo blog vão de contos (escritos pelo próprio autor), músicas e vídeos bregas a textos polêmicos. Entreguei meu livro para Waldick Soriano! Ele é o cara!Fui ver o show dele em Fortaleza, no Restaurante Caravelle, e aproveitei para ir ao camarim e entregar um exemplar do livro Contos Bregas para Waldick Soriano.Uma emoção muito grande, afinal Waldick é uma legenda viva. Além de poder conferir todo o vozeirão do autor de “eu não sou cachorro, não”, eu ainda tive o privilégio de conversar um pouco com Waldick. Assim que pegou no livro e viu o título na capa, ele disse: “aposto que eu estou aqui dentro!”. Eu disse: “Claro que está! Este é um livro de contos inspirados em músicas populares. O primeiro dos contos, e aquele que é mais comentado pelos leitores, é justamente a história inspirada no seu maior sucesso: Eu não sou cachorro, não”. Então ele disse algo como “nós vamos arrebentar”. Eu não me lembro bem, pois estava nervoso! Eu só sei que Waldick Soriano arrebentou. Cantou grande parte de seus sucessos, sendo aplaudido com fervor pela platéia cearense! Logo, o blog, como domínio virtual capaz de abrigar qualquer dimensão textual, caracteriza-se como moldura discursiva bastante representativa dos usos da língua. Devido à sua natureza subjetiva, que transforma os fatos do dia a dia em relatos pessoais e comentários de natureza avaliativa, a CGH é um recurso expressivo otimizado para o blogueiro que quer comentar e avaliar ao mesmo tempo, na medida em que o PB disponibiliza essa Construção Gramatical para todo o falante cuja intenção comunicativa seja a de localizar a entidade-sujeito no topo de uma escala avaliativa de sucesso. 5.2.3.2 A moldura dos fóruns opinativos O fórum opinativo, por sua vez, é um tipo de interação eletronicamente mediada, que é inerente e explicitamente avaliativo. Esse tipo de comunicação é uma modalidade de conversação assincrônica, com turnos bem marcados e acabados, já que 170 não há como falar ao mesmo tempo que outro participante no ambiente do fórum. 82 O que mais caracteriza essa moldura discursiva é, exatamente, sua intencionalidade e finalidade: todo fórum estabelece, de antemão, um assunto, geralmente formulado a partir de uma pergunta. Os interlocutores interessados em dar sua opinião, respond endo à pergunta, redigem seus textos, convencionalmente chamados de postagens e os enviam. As interações entre os interlocutores, embora de modo assincrônico, ocorrem por meio da retomada do comentário que se quer ratificar ou contradizer, ou por meio da identificação do interlocutor com quem se queira debater. O fórum virtual tem a vantagem de manter registradas todas as intervenções feitas pelos interlocutores ao longo do tempo, podendo durar anos ou simplesmente não terminar. Existem fóruns de diferentes naturezas, mas são naqueles aos quais eu estou chamando de fóruns opinativos que a Construção de Hiperbolização mais parece ocorrer. A própria natureza desse tipo de interação, cujo gênero textual predominante é o comentário virtual, favorece o uso da Construção de Hiperbolização, porque, na medida em que ocorre à distância, sem necessidade de identificação verdadeira e exata dos interlocutores, tem-se a proposição livre de diferentes pontos de vista, a liberdade plena de expressão, a liberdade moral e a liberdade política. 83 Pelo fato de ser uma escrita coletiva, de ficar registrado por um tempo indeterminado e ser de domínio público, o fórum pode ser também considerado uma arena onde a comp etição gira em torno do comentário que irá receber mais avaliações positivas, mais adesões. A escrita, no entanto, é quase sempre “descuidada” devido à pressa com que ocorrem as interações à distância, por isso, embora precisem ser curtos, os textos lançam mão dos recursos linguísticos mais expressivos e dentre esses recursos está a Construção Gramatical de Hiperbolização. O exemplo abaixo é de um fórum, feito especialmente para fãs dos programas televisivos da franquia Idol, como: Ídolos e 82 OLIVEIRA. S.C; FILHO. G.J.L. Animação de fóruns virtuais de discussão – novo caminho para a aprendizagem em EAD via web. Novas Tecnologias CINTED-UFRGS na Educação V.4, Nº 2, Dezembro, 2006.Disponível em:http://www.cinted.ufrgs.br/renote/dez2006/artigosrenote/25159.pdf 83 SCHERER, Suely.Comunicação e aprendizagem em fóruns virtuais: uma possibilidade para a educação matemática.GT: Educação Matemática/ n.19. Disponível em: http://www.anped.org.br/reunioes/29ra/trabalhos/trabalho/GT19-2217--Int.pdf 171 American Idol. O comentário de ilustração abaixo, que instancia duas CGHs em um texto curtíssimo, está respondendo à seguinte pergunta: Quem é seu favorito do Top 05? Marcelo 2009-11-22 04:58:02 ET Priscila Borges é a melhor... uhuuu... detona geral, e arrasa sempre! Vai que é sua Pri, esse ídolos é seu, o Brasil está todo com vc!!! PRI BORGES, CAMPEÃ DO ÍDOLOS 2009. Portanto, devido a sua carga expressiva que se sustenta no triplé semânticopragmático: apreciação positiva, força e foco, a CGH tem uma frequência de uso altíssima em textos do gênero comentário virtual, inseridos tanto na moldura discursiva do blog quanto na moldura dos fóruns opinativos. 5.2.4 Retomando: as condições de validação da Construção de Hiperbolização Após analisar nos dados cada um dos elementos constitutivos da Construção Gramatical de Hiperbolização, a saber: SN- sujeito; SV- verbo causativo de destruição; SP opcional, cheguei às seguintes conclusões sobre as suas condições de validação: a) o SN-sujeito é categorizado, por herança verbal, como agentivo-causativo e as entidades por ele referenciadas preenchem, predominantemente, o campo semântico de produtos e/ ou produtores da indústria de entretenimento; b) o SV é constituído por verbo de ação-processo, categorizado semânticopragmaticamente como verbo de destruição, que pede sujeito agentivo- causativo e um complemento à sua direita do tipo objeto direto, que deverá ser anulado da configuração sintática; 172 c) o SP tem caráter opcional e sua função semântico-pragmática é ou circunstanciar o evento causativo (função de adjunto) ou demarcar um campo conceitual, uma arena, em que a hiperbolização das qualidades positivas do sujeito sejam validadas; d) a moldura comunicativa tem papel preponderante no bloqueio ou na permissão do uso da Construção de Hiperbolização, sendo que as molduras preferenciais desta são os blogs, por serem ferramentas de autoexpressão, ou os fóruns opinativos por serem de caráter iminentemente avaliativo; e) a função semântico-pragmática da Construção de Hiperbolização é perspectivizar o foco atencional sobre a entidade que exerce a função de sujeito gramatical e, a partir disso, hipervalorizar suas qualidades no desempenho de alguma ação. Seu tripé epistemológico é, pois, apreciação positiva, força e foco. Portanto, pelos exemplos já citados e considerando todas as 189 instanciações da Construção Gramatical de Hiperbolização, constantes do corpus, podemos afirmar que a CGH é produtiva no PB tanto em termos de recorrência de uso ( frequência token) quanto em diversidade de tipos encontrados (frequência tipo). Além disso, pela possibilidade de se estabelecer com um bom grau de adequação descritiva as condições de validação dessa construção, é razoável admitir que estamos mesmo diante de uma das Construções Gramaticais, constituintes do repertório da Língua Portuguesa do Brasil, para a qual, no escopo deste estudo, proponho a designação de Construção Gramatical de Hiperbolização Positiva da Ação do Sujeito, ou simplesmente, Construção de Hiperbolização, que assim se configura: SN V Ø (SP)/ HIPERBOLIZAÇÃO POSITIVA DA AÇÃO DO SUJEITO 173 e cujos dois polos: da forma e do sentido ( SALOMÃO, 2009 b, p.42), poder-se-ia assim representar : (22) QUADRO DAS PROPRIEDADES DA CGH Polo do sentido Dimensão conceptual Esquema imagético FORÇA Moldura comunicativa da preferencial: blogs, fóruns opinativos Frame de SUCESSO Metáforas: CAUSAS SÃO FORÇAS FÍSICAS; SUCESSO É GUERRA Dimensão discursiva Polo da forma Dimensão física Dimensão morfossintática Substantivos, verbos e Sequência fônica de preposições prosódia ascendente com foco atencional no Sujeito-verbo- adjunto sujeito (ordenação canônica) Gêneros textuais avaliativos : comentários virtuais, resenhas culturais, colunas sociais. Status informacional: escala avaliativa máxima Registro informal Valor I enfático Topicalização do sujeito Preposição predominante: EM Fonte: Do autor 5.2.5 A inversão construcional do julgamento de valor: avaliação negativa versus avaliação positiva Quando iniciei a análise dos dados preliminares, o que mais me chamou a atenção foram, exatamente, os discursos nos quais o falante usava a Construção canônica transitiva, contrapondo-a à Construção de Hiperbolização, evidenciando claramente o antagonismo de sentido relacionado ao julgamento semântico-pragmático inerente à CGH, a saber, de apreciação positiva da ação engendrada pela entidade sujeito. O primeiro exemplo com o qual me deparei foi este: 174 a) Pois é. Acabaram as provas. Em ADM arrebentei ! [Em algoritmo me arrebentei]. ( scrolloflife.blig.ig.com.br) Nesse exemplo fica clara a contraposição das Construções destransitivizada e transitiva. Esta evoca claramente a afetação do objeto que, por ser reflexivo, transfere tal afetação ao sujeito que lhe corresponde. Assim, o raciocínio inferencial promovido pela Construção permite interpretar o enunciado Em algoritmo me arrebentei como descrevendo um evento acadêmico no qual alguém foi submetido à avaliação do assunto algoritmo e obteve um desempenho muito insatisfatório. Já com o uso do predicador arrebentar destransitivizado tem-se uma reversão desse raciocínio inferencial: Em ADM arrebentei! promove a interpretação de que a entidade que ocupa a posição de sujeito gramatical, no caso eu (sintaticamente oculto), nesse mesmo tipo de evento, obteve um resultado mais que satisfatório, ou seja, obteve sucesso. A diferença significativa de interpretação deve-se, sobremodo, à escolha da Construção destransitivizada, ou seja, da Construção Gramatical de Hiperbolização. Segundo Michaelis e Kay84 , “Na visão construcionista, padrões frasais não só têm significado, como também têm a capacidade de mudar os significados das palavras que eles agrupam”. Os dados reunidos no corpus apresentam um número considerável de discursos em que o falante faz, propositadamente, a contraposição entre a Construção transitiva canônica e a Construção destransitivizada. Observemos um outro texto em que tal intenção e tal contraposição são notórias: 84 To appear in C. Maienborn, K. von Heusinger and P. Portner, eds., Semantics: An International Handbook of Natural Language Meaning, HSK Handbooks of Linguistics and Communication Science Series: 23: Semantics and Computer Science. Berlin: Mouton de Gruyter. Arquivo em PDF. 175 b) Rubro cinza arregaça Ø Calma, não é pra tanto! Quem foi o jornalistazinho que escolheu este título sensacionalista, hein? Bem, pode aumentar o salário dele pois é justamente isto que está para acontecer em 2006. Sem muito salto alto, o Qscara F. C. está com cara que vai fazer um dos melhores anos de sua história, baseado nos dois primeiros jogos do ano. Depois de uma vitória inédita e esmagadora sobre o difícil Calderaço, por 3 a 1, o time, invicto, empatou com a equipe do PIC por 2 a 2, com belíssimos gols do Filizzola, um bico detonador de fora da área e do Matheus, cobrando falta pela direita, empatando no final com um a menos - o expulso Leo Fares, ainda no primeiro tempo. Mais do que os placares, é o espírito, o clima, a sensação de que há algo novo no time. Mais entrosado e experiente, o rubro cinza parece que vai dar trabalho neste ano. Quem arregaçou Ø também foi o Tulinho. Arregaçou o joelho no gramado cheio de brita do campo do Reinaldo. Não bastasse a falta de marcação, podem ser encontradas até pequenas pedras pontudas. Enquanto isso aguardamos a liberação do interditado Dom Horione. http://www.qscara.com/noticia.php?id=133 O texto b é uma notícia virtual sobre um time de futebol cujo nome é Qscara F.C. e em cuja manchete aparece o predicador verbal arregaçar sem seu complemento à direita. O uso da Construção de Hiperbolização na manchete (recurso linguístico bastante comum, principalmente em mídias mais distensas) já cria uma expectativa no leitor de que o texto fará elogios à entidade sujeito, elevando-a ao topo de uma escala avaliativa de sucesso, independentemente de se saber pouco ou nada sobre essa entidade. Portanto, Rubro cinza arregaça cria uma perspectivização da interpretação em termos de um enquadre favorável à entidade sujeito. O próprio autor do texto ironiza o uso dessa Construção ao caracterizá-la como sensacionalista, mostrando estar ciente do efeito hiperbólico (apreciação positiva, força e foco) que ela promove. O texto, porém, não contradiz as expectativas do leitor e, realmente, realça as qualidades positivas do rubrocinza (entidade-sujeito). Contudo, o mesmo predicador usado na manchete, arregaçar, volta a ser usado, desta vez no enunciado quem arregaçou também foi o Tulinho e, de 176 novo, a instanciação da Construção de Hiperbolização gera a expectativa de que Tulinho tenha jogado maravilhosamente bem. Essa expectativa, entretanto, não se confirma, pois o autor do texto retoma a Construção e preenche o espaço que estava vazio na valência do predicador arregaçar, mudando de Construção Gramatical e promovendo um efeito semântico-pragmático completamente distinto: arregaçou o joelho. Assim, brincando com a Construção destransitivizada, o texto nos informa do quanto o Qscara F.C. se deu bem e do quanto que Tulinho saiu prejudicado. A escolha de um verbo causativo de destruição “forte” no sentido de ser capaz de promover uma afetação devastadora no paciente, já que em termos pragmáticos uma coisa é machucar o joelho, outra é arregaçar o joelho, evoca cenas conceptuais e perspectivas dessa cena muito antagônicas, quando se opta por manter-se ou retirar-se o segundo participante (objeto-paciente). Esse antagonismo entre a Construção transitiva e a Construção de Hiperbolização reforça o argumento de que a contribuição semântico-pragmática de enquadrar favoravelmente a entidade que ocupa a posição de sujeito gramatical, assegurando- lhe uma localização no topo da escala avaliativa de sucesso é dada pela CGH, cujo tripé epistemológico, reitero, se traduz em força, foco e apreciação positiva. 177 5.3 A METÁFORA 5.3.1 A metáfora como processo figurativo fundador da CGH “Tentar entender a metáfora significa tentar compreender uma parte vital sobre quem somos e em que tipo de mundo vivemos” (Zoltan Kövecses) O mapeamento da Construção de Hiperbolização, empreendido passo a passo na primeira parte desta análise, acabou por revelar o papel fundamental que a metáfora exerce na constituição e na interpretação dessa estrutura gramatical. Os tipos verbais pesquisados e suas instanciações tanto transitivas quanto intransitivas acabaram por iluminar um campo conceptual específico, revelando que os predicadores verbais habilitados a participarem da CGH evocam uma cena conceptual, cujo sentido norteador irradia-se do frame de DESTRUIÇÃO. Só para ilustrar, cito os quatro verbos mais frequentemente usados na Construção de Hiperbolização, considerando o corpus Blogs UOL: bombar, arrasar, explodir e estourar. É evidente que o predicador bombar remete a um processo derivacional, cuja base é o substantivo bomba, um artefato explosivo, ou em outras palavras, um “instrumento de destruição”. O verbo arrasar, por sua vez, evoca uma das possíveis consequências de um ato destrutivo, assim como explodir e estourar fazem referência a propriedades intrínsecas de artefatos explosivos, agentes de destruição. Tal raciocínio me leva a pensar que à CGH subjaz um processo de expansão gramatical metonímico- metafórico, motivado pelo conceito humano básico da causalidade (LAKOFF; JOHNSON, 1980 [2002]), que tem como campo conceitual fundador do nexo causal um evento de força, desencadeado pelo fenômeno físico da DESTRUIÇÃO, ou seja, no nível conceptual, a CGH tem uma motivação metonímica da metáfora (BARCELONA, 2003), simbolicamente representada pelas figuras 23 e 24 a seguir: 178 EFEITOS: bombar, bombardear, detonar, estourar, explodir, incendiar , fuzilar, metralhar, triturar CAUSA : FORÇA DESTRUIDORA CONSEQUÊNCIAS : DESTRUIÇÃO abafar, abalar, aniquilar, apavorar,arrasar, arrebentar, arregaçar; avassalar, barbarizar, destroçar; destruir, estraçalhar, exterminar, fulminar, liquidar, maltratar, massacrar, matar, trucidar Figura 23: representação do nexo causal desencadeado por eventos de destruição e uma proposta de preenchimento lexical com verbos causativos de destruição. II) CAUSA: ENTIDADESUJEITO EFEITOS: bombar, bombardear, detonar, estourar, explodir, incendiar , fuzilar,metralhar,triturar DESTRUIDOR CONSEQUÊNCIAS : SUCESSO DESTRUIÇÃO abafar, abalar, aniquilar, apavorar,arrasar, arrebentar, arregaçar; avassalar, barbarizar, destroçar; destruir, estraçalhar, exterminar, fulminar, liquidar, maltratar, massacrar, matar, trucidar Figura 24: representação da metaforização dos eventos de destruição em eventos de sucesso e seu preenchimento lexical com verbos causativos de destruição. Fonte: Do autor 179 Fauconnier e Turner (2002, p. 75) argumentam que não há nada mais básico na vida humana do que a relação vital entre causa e efeito. Na perspectiva desses autores, nós compreendemos os eventos complexos, reduzindo-os, conscientemente, a uma série de eventos básicos que são tomados como auto-evidentes85 . Essa capacidade de integração entre causa e efeito (propriedade central da percepção) é fruto de uma especialização evolucionária, resultante da vantagem de se saber, por exemplo, que depois do urro, vem o tigre ou que onde soa o guizo, está a cascavel. Esse tipo de compreensão global relaciona-se à nossa capacidade cognitiva de mesclar causa e efeitos e essas mesclas imaginativas que integram causa e efeito tomam a forma de cenários dinâmicos que se podem executar. Apresentar o efeito diretamente na causa é uma questão de encontrar a exata representação, o que por si só é altamente criativo. Uma vez encontrada, ela pode nos despertar e nos guiar para uma compreensão 86 global e criativ idade corolária. A presença do predicador causar, verbalizador da causatividade, entre os tipos verbais selecionados pela Construção de Hiperbolização, como já foi dito, reforça ainda mais a ideia de que a CGH emerja na gramática do Português do Brasil motivada pelo nexo de causalidade que se estabelece quando ocorre um evento de destruição. As sete entradas verbais que não constam da figura I e II não se desviam completamente do raciocínio causal nele representado. Verbos como humilhar, esculachar, arrepiar, em suas valências transitivas, estabelecem um sistema de coerência referente às consequências do fenômeno conceptual (destruição) só que em termos menos físicos e mais psicológicos, ou seja, causação emocional (LAKOFF; JOHNSON,1999, p.221) 87 , como podemos no tar pelos exemplos encontrados no corpus : 85 FAUCONNIER;TURNER(2002, p.75) we understand the complex event, having consciously reduced it to a set of basic events that are taken as self-evident. 86 FAUCONNIER;TURNER(2002, p.77) Presenting the effect directly in the cause is a matter of finding the right representation, which in itself is highly creative. Once found, it can prompt and guide us to corollary creativity and global understanding. 87 Segundo Lakoff e Johnson (1999), a causação emocional ocorre quando uma percepção ou pensamento é conceptualizado(a) como um estímulo externo que produz em nós uma emoção. 180 (a) Pelo o que foi mostrado até agora da personagem da Lilia, ela encarna aquele tipo de pessoa que nunca está satisfeita , se não fosse a gravidez precoce ela arrumaria um outro motivo para humilhar a filha , pois depreciar os outros é o que a Marta sabe fazer melhor. (b)Vi no sábado o documentário I’m Going to Tell You a Secret , quando seu lado místico estava mais aflorado do que nunca e confesso que me arrepiei e quase chorei em vários momentos . A estrutura de causalidade, representada na figura 24, pressupõe um esquema interacional de execução de força (JOHNSON, 1987). Em outras palavras o evento DESTRUIÇÃO é o resultado da atuação de um agente destruidor sobre um alvo a ser destruído, com a ajuda ou não, de um instrumento de destruição (artefatos explosivos/ armas de fogo) o que, por sua vez, desencadeia uma sequência de causalidade. Esse todo unificado e organizado de execução de força e sequência causal formam o que Johnson chama de estrutura gestáltica da força e como tal caracteriza um padrão recorrente no nosso sistema conceptual. O autor descreve sete das principais modalidades de execução do esquema (padrão) da força: compulsão, bloqueio, contraforça, desvio, remoção de obstáculo, capacitação e atração. A Construção Gramatical de Hiperbolização, ao anular da configuração sintática um dos complementos verbais, o objeto, potencializa o foco de atenção no complemento mantido, ou seja, na entidade-sujeito. A perspectivização da cena conceptual na entidade-sujeito potencializa sua capacidade de ação, sua força na execução da ação. Isso me leva a propor que o esquema de força que opera na nossa experiência quando produzimos ou interpretamos uma CGH seja o esquema de capacitação, assim representado por Johnson (1987, p. 47): ----------------------------------------------------------- 181 A capacitação é, segundo Johnson, uma modalidade de estrutura da força apenas potencial, já que não há vetor de força real. No entanto, ela é legitima no nível das possibilidades porque diz respeito à nossa consciência de presença ou falta de poder na hora de desempenhar uma ação: “você pode sentir que tem força para pegar um bebê, carregar as compras, e a vassoura, mas não para levantar a dianteira de seu carro” (JOHNSON,1987, p. 47)88 Portanto, o perfil dos verbos-tipos, habilitados a participarem da CGH, objeto desta pesquisa, pode ser assim aprofundado: i) são verbos de ação-processo, isto é, causativos; ii) são verbos de destruição do objeto; iii) compõem o campo conceptual referente ao fenômeno físico DESTRUIÇÃO; iv) estabelecem um dos elos da causalidade que tem como fenômeno fundador um evento de DESTRUIÇÃO . Desde o início desta análise, venho argumentando que a motivação sintática, semântica e pragmática da Construção Gramatical de Hiperbolização se faz via metáfora. A ideia central desse argumento se fundamenta na assunção de que, subjacente à Construção de Hiperbolização, esteja atuando a conceptualização, já metafórica, do esquema imagético da força: “Esquemas imagéticos exercem um papel fundamental nos mapeamentos metafóricos da linguagem abstrata em experiências diretas corporificadas” (FELDMAN, 2006, p.143). 89 Como todo esquema de força é por nós experienciado como sequências causais (JOHNSON, 1987), há, na estruturação de nosso sistema conceptual, a metáfora primária CAUSAS SÃO FORÇAS FÍSICAS, originada da experiência de se conseguir resultados pela execução de força sobre um dado objeto para que ele se mova ou mude de estado. Essa projeção figurativa que simultaneamente envolve força e causalidade refletese cotidianamente na linguagem quando temos, por exemplo, fenômenos físicos, causadores de destruição alçados à posição de sujeitos agentivos como em Um terremoto 88 You can sense that you have the power to pick up the baby, the groceries, and the broom but not to lift the front end of your car. 89 Image schemas play a central role in metaphorical mappings of abstract language to direct embodied experience. 182 arrasou o sudeste asiático ou quando se redige a seguinte manchete Chuva fracassa festa das Nações90 ou mesmo em falas coloquiais como O mel parou de tossir a Michelle 91 . No nível sintático da Construção de Hiperbolização, a metaforização da gestalt da força atuaria de dois modos: primeiro, na seleção dos predicadores verbais que podem participar dessa Construção; segundo, na anulação do objeto direto da estrutura sintagmática. No nível semântico, a metáfora da força influenciaria na perspectivização de um dos participantes da cena conceptual como sujeito e, de novo, na anulação do complemento verbal. Em termos pragmáticos, a metaforização do esquema de força, intrínseco a eventos de destruição, em domínios sociais (eventos sociais) leva a uma reconceptualização desses eventos sociais como mapeamentos metafóricos de arenas de guerra. Tomasello (1999; 2003) descreve o processo do raciocínio causal a partir de três elementos: evento antecedente > força mediadora > evento consequente. Lakoff e Johnson (1980[2002], pp.144-145) descrevem a causalidade como um conceito humano básico, uma gestalt experiencial, da qual as pessoas se servem para organizar melhor suas realidades física e cultural. Feldman (2006), por sua vez, argumenta que é muito eficiente modelar o mundo como tendo estruturas causais e tanto crianças quanto adultos terem de assumir que os eventos têm causas. Assim, as crianças precisam postular entidades externas para agir como os responsáveis pela causação. Ou seja, nós assumimos que nossas experiências são causadas por agentes e objetos no mundo e procuramos aprender o que causa nossas experiências. Os cenários que construímos, postulando entidades no mundo externo, podem ser usados para simular os possíveis efeitos das nossas próprias ações e são cruciais para o planejamento das mesmas (FELDMAN, 2006, p.129). Portanto, a causalidade arrasta além da questão da força, uma outra dimensão importante da experiência: a postulação da existência de entidades externas no mundo e, por conseguinte, uma possibilidade de fazermos previsões sobre o que poderemos experienciar. 90 Essa manchete foi publicada no jornal Diário Regional de Juiz de Fora no início da década de 90. Infelizmente não consegui recuperar a data precisa. 91 Construção Gramatical estudada por Salomão (2001) 183 Para que fique mais clara a relação entre os predicadores verbais que contribuem para a interpretação de hiperbolização e hipervalorização da ação do sujeito e o elo de causalidade com o esquema imagético pré-conceptual, mediado pela força, proponho a análise de mais um exemplo: Exemplo 4: JuLiana é: September 15th, 2007 at 11:44 pm ~>HSM é separados RBD saum unidos ~>HSM ßrilha RBD arrasa!! ~>HSM ama RBD é amado!! ~>HSM ßriga RBD detona!! ~>HSM eh pop RBD é star!! ~>HSM adora RBD Considera!! ~>HSM eh legal RBD é *!! ~>SHARPAY anda ??MIA COLUCCI desfila!! ~>ASHLEY dança?? DULCE encanta!! ~>HSM se axa?? RBD é procurado!! ~>Os fãs de HSM xingam?? Os fãs De RBD esculacham!! ~>HSM eh bom??RBD é excelente ~>ZAC eh bom??PONCHO eh perfeitO!! ~>HSM arrasa??RBD Humilha !! ~>HSM na GLOBO??RBD na SBT!! ~>HSM ATE ANO Q VEM??rbd forever!! ~>LUCAS eh a gay !!CHRISTIAN ta na moda!! ~>ASHLEYeh loira??ANAHI eh lorassa!! ~>VANESSA eh bonita??DULCE eh pefáá!! ~>Gostaum de HSM??Adorão RBD!! ~>100% fans hsm??viciadas por inteirO por RBD Rbd….na veia Hsm…Na cadeia ( novo-mundo.org/log/videos-e-fotos-do-high-school-musical/?cp=3 - 110k) 184 O texto do exemplo 4 é, também, um comentário virtual sobre o grupo de adolescentes que protagonizam o musical High School Music (HSM). Devido à semelhança com outro grupo musical de adolescentes, os Rebeldes (RDB), muitos comentários giram em torno da intenção comunicativa de se provar qual dos dois grupos é o melhor, isto é, qual dos dois grupos está situado no topo da escala avaliativa de sucesso. É isso que faz Juliana no exemplo dado: ela compara o RDB ao HSM, tentando mostrar, discursivamente, que o RDB é, sem dúvida, o melhor grupo. Nesse processo de hiperbolizar e hipervalorizar a força de ação do grupo do qual é fã, situando-o no topo da escala avaliativa de sucesso, Juliana faz uso de várias estratégias linguísticas, recorrendo a sufixos aumentativos para contrapor, por exemplo, loira a loirassa (sic), a pares antônimos como separados/ unidos, a superlativos bom/excelente e, de modo especial, Juliana exorbita dos predicadores já estudados nos três primeiros exemplos dessa análise: arrasar, detonar, acrescentando outros como esculachar e humilhar. A partir de um processo discursivo muito eficiente, a autora do comentário vai tecendo sua argumentação por contraste, marcando discursivamente as diferenças entre o HSM e o RDB, valendo-se, predominantemente, da contraposição entre predicadores verbais. Assim, brilhar92 se opõe a arrasar que, por sua vez, se opõe a humilhar; brigar se opõe a detonar, já xingar se opõe a esculachar. Considerando a intenção e a moldura comunicativas que enquadram esse discurso, é possível perceber que a oposição se dá pela intensidade da força que cada verbo selecionado é capaz de evocar. Dizendo de outro modo, fica claro que, para Juliana, o grupo que brilha tem menos força e, por conseguinte, menos valor, que o grupo que arrasa e assim respectivamente. Acrescentando, pois, ao nosso repertório de predicadores verbais aos quais estamos chamando de “verbos de destruição”, os predicadores esculachar e humilhar, mudamos obrigatoriamente de nível: deixamos o nível do concreto para enveredarmos por um nível mais abstrato. Explico: os predicadores arrasar, arrebentar, detonar, destruir, quando instanciados em suas valências plenas, isto é, transitivamente, representam eventos em que existe um agente de grande poder (plano, programa motor e controle, nas palavras de Lakoff e Johnson, 1980 [2002]) que, usando de sua força 92 É importante notar que o verbo brilhar tem valência intransitiva, ou seja, reserva espaço para apenas um participante, no caso, o sujeito. 185 física excepcional, muda, de forma irreversível, a constituição física do paciente. Esse processo, poderíamos dizer, é de manipulação direta, portanto, concreto. Todavia, na cena conceptual evocada pelos verbos esculachar e humilhar e, com toda a certeza, do apavorar que aparece no exemplo 1, quando configurados com seus objetos diretos, não há a mediação pela força física e nem efeito físico irreversível, o que há é a mediação de uma força de caráter psicológico e de efeitos de mesma natureza. Acredito, assim, que houve nessas entradas lexicais um processo de extensão metafórica, originário do esquema imagético de força mais básico, ou seja, aquele formado a partir do uso da força física em interação com o meio. O uso de predicadores verbais causativos de destruição em uma Construção Gramatical cuja função semântico-pragmática é alçar a entidade-sujeito ao topo de uma escala avaliativa de sucesso reflete, inegavelmente, a atuação subjacente de uma metáfora estrutural, autorizada pelas nossas práticas socioculturais, a saber, SUCESSO É GUERRA. Essa metáfora, contudo, licencia também outra Construção Gramatical de valência transitiva e configuração sintática semifixa, instanciada em enunciados como: Novembro 23, 2009 às 11:03 am | #2 Citar daaaaaaa-lhe sbt… sbt vai destruir a concorrencia em 2010… http://ocanal.wordpress.com/2009/11/23/solitarios-e-a-nova-arma-do-sbt-contra-a-possivel-a-fazenda-3/ O uso transitivo dos verbos causativos de destruição (destruir, detonar, arrebent ar, arrasar, etc.) seguidos dos sintagmas nominais concorrência/concorrentes na função de complemento verbal, muito frequentes no uso do PB, permite, por projeção metonímica, a inferência semântico-pragmática de sucesso, ou seja, nossa cultura entende que na guerra pelo sucesso, vence aquele que destrói o concorrente. O conceito de sucesso, portanto, se traduz na nossa cultura como força para destruir. A título de ilustração, uma pesquisa no Google da instanciação desse padrão com alguns 186 dos verbos causativos estudados e as suas variações possíveis (tempo, pessoa e modo) está assim distribuída: Padrão sintático Frequência de uso Abafar a concorrência/o concorrente 122.000 Arrebentar a concorrência/o concorrente 118.000 Arregaçar a concorrência/o concorrente 134.000 Destruir a concorrência/o concorrente 298.000 Detonar a concorrência/o concorrente 213.000 Estourar a concorrência/o concorrente 129.000 Humilhar a concorrência/o concorrente 258.000 Massacrar a concorrência/o concorrente 216.000 Matar a concorrência/o concorrente 341.000 A hipótese que proponho, pois, é que a Construção Gramatical semifixa SN SV (verbo causativo de destruição) SN (concorrência/concorrentes) seja licenciada no PB pela metáfora SUCESSO É GUERRA. A interpretação semântico-pragmática evocada pelas enunciações que instanciam essa Construção Gramatical, ou seja, a leitura de ação bem sucedida da entidade sujeito, é, pois, projetada metonimicamente na Construção de Hiperbolização. Coerente com os modelos de análise linguística baseados no uso, que têm como princípio norteador a crença de que a semântica é a pragmática congelada, o que se nota é que a repetição, no uso, do padrão transitivo leva a uma convencionalização da inferência semântico-pragmática, o que permite sua retomada por projeção metonímica, além de propiciar a atuação de uma instrução pragmática, a saber, a supressão da entidade destruída 93 , o que autoriza a herança por subparte da Construção destransitivizada, ou seja, da Construção de Hiperbolização, na qual a metáfora fundadora (SUCESSO É GUERRA) se mantém ativa, funcionando, por exemplo, como filtro de seleção lexical. Uma vez herdada do padrão transitivo, a CGH torna-se um padrão gramatical independente e único, um pareamento forma e sentido 93 Para Salomão (informação verbal), essa supressão da entidade destruída é mais um caso de supressão eufemística. Nesta análise, proponho que tal supressão se justifique metaforicamente pela metáfora IMPORTANTE É CENTRAL (ver p. 191). 187 que se diferencia da Construção transitiva na medida em que: (i) reenquadra o frame de DESTRUIÇÃO no frame de SUCESSO; (ii) direciona o foco atencional à entidade sujeito; (iii) realça a força agentiva da entidade sujeito; e, como inferência semânticopragmática (iv) alça a entidade sujeito ao topo de uma escala avaliativa de sucesso. O que se percebe, pois, é que a conceptualização metafórica do conceito de sucesso como destruição, como guerra, licencia a instanciação de duas Construções Gramaticais do Português do Brasil: a Construção Transitiva semifixa, configurada por SN SV (verbo de destruição) SN (concorrência/ concorrentes) e a Construção de Hiperbolização que se especializa e passa a assegurar a leitura semântico-pragmática de força, foco e apreciação positiva. 5.3.1.1 A metáfora como filtro de seleção lexical da CGH Para que o esquema da força possa ser metaforicamente evocado na Construção de Hiperbolização, essa Construção Gramatical seleciona como predicadores habilitados a dela participarem os verbos categorizados como causativos, classificados como “verbos de destruição”, especialmente aqueles que são interpretados como promovendo mudanças “devastadoras” no participante afetado (objeto direto). Como a relação entre força e causalidade é uma relação naturalmente construída, o papel da metáfora como filtro lexical da Construção de Hiperbolização é bastante coerente. O contínuo da metaforicidade permite que a Construção de Hiperbolização habilite três categorias de verbos causativos para dela participarem: a) verbos causativos de efeitos físicos devastadores, por exemplo, detonar; b) verbos causativos de efeitos psicológicos devastadores, por exemplo, humilhar; c) verbos causativos de efeitos positivos, por exemplo, arrebatar: Maria Rita deu ontem, no Canecão (RJ), o pontapé inicial na turnê de lançamento do disco Segundo. Com a casa cheia, mas não lotada, a cantora apresentou curto roteiro de 18 músicas, apresentadas em pouco mais de uma hora. Segundo, o show, não arrebata como o primeiro grande show da filha de Elis Regina. http://deluca.Blogspot.com/mauroferreira/uploaded_images/rita23-754802.jpeg 188 O licenciamento dos predicadores categorizados como tipo c é a prova mais cabal do inter-relacionamento entre a semântica da Construção e a semântica do verbo: como a Construção de Hiperbolização promove um sentido positivo, a partir da destransitivização de verbos causativos, os verbos causativos “positivos” poderão, por conseguinte, ser destransitivizados para promoverem o sentido de hiperbolização. Importante notar que o julgamento sociocultural, isto é, pragmático, de “positivo” ou “negativo”, atribuído aos verbos causativos, também é uma conceptualização motivada pela metáfora. Um bom exemplo disso é o verbo acender, metaforicamente categorizado como de semântica positiva. No uso, ele também foi encontrado destransitivizado, evocando o sentido de hiperbolização positiva da entidade-sujeito: Tom Jobim "O Jobim, eu acho que é universalista, porque aonde sua música é tocada, ela é aceita, seja nas Filipinas ou na Rússia... mas tem uma coisa, ele faz música popular. O essencial da obra do Tom Jobim é popular. Na minha opinião, muitos compositores não fizeram música popular como o Tom Jobim é porque não souberam fazer, desenvolver a sua alma por esse campo ... e transformam suas músicas em “popularistas” ou eruditas. Agora, os eruditos, quanto mais avançados no folclórico, mais eles acendem. Porque eles, os da erudição, transformam músicas em maravilhas utilizando técnicas e sofisticação também." http://www.clubedejazz.com.br/noticias/noticia.php?noticia_id=399 5.3.1.2 A conceptualização dos eventos sociais como arenas de guerra Se a metáfora é uma forma de conceptualizar o mundo e, por consequência, ela modela nosso modo de agir, esse mundo é, inegavelmente, do tamanho da nossa cultura, ou seja, conceptualizamos o mundo e nele agimos de acordo com as nossas crenças, costumes e tradições, de acordo com “uma vasta bagagem de pressuposições culturais” (LAKOFF ; JOHNSON , 1980[2002], p.128). 189 Kövecses (2006, p.116) elenca onze componentes que interagem entre si e gerenciam a criação de metáforas conceptuais e, por isso, situa m a metáfora como fenômeno linguístico, conceptual, sociocultural, neural e corporal. Dentre os onze componentes estão as realizações não linguísticas das metáforas. Segundo Kövecses, essas realizações não linguísticas das metáforas mostram sua atuação nas práticas sociais. Ele exemplifica com a metáfora conceptual IMPORTANTE É CENTRAL, que se instancia em expressões linguísticas metafóricas do tipo a questão central e se manifesta de modo não linguístico em eventos sociais nos quais as pessoas socialmente mais importantes tendem a ocupar lugares mais centrais do que as consideradas menos importantes. Na nossa cultura, não raro, observamos que o participante de eventos sociais com maior grau de prestígio tende a ser visto como “aquele que ofusca os outros”, donde o uso corriqueiro das expressões populares Só deu ele(a); Roubou a cena, a instanciação de expressões linguísticas com os predicadores brilhar e ofuscar e a destransitivização, muito antiga, do predicador verbal abafar na Construção de Hiperbolização: De vestido preto com babados (assinado por Gloria Coelho), meias e sapato alto da mesma cor e cabelos pintados na própria quinta-feira de "mel claro, no estilo romântico, para deixar o presidente Lula cada vez mais apaixonado por ela", como diz o cabeleireiro Wanderley Nunes, a primeira-dama, Marisa Letícia, roubou a cena anteontem no Hair Fashion Show, desfile de penteados que aconteceu no Jockey Club de SP. "Ela veio apoiar a indústria da beleza e a iniciativa desse evento, porque parece que vai ter uma doação para o Retiro dos Artistas", dizia Marlene Araújo, nora do presidente e de Marisa, no camarim do desfile. (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq3008200806.htm) 190 De novo fica muito claro o grau de entrosamento entre língua e cultura, sistema linguístico e metáfora, pois a prática sociocultural de “colocar nas sombras” o participante de menor prestígio num dado evento social equivale na gramática ao “cancelamento do complemento verbal”6 . Por outro lado, para perspectivizar a cena social a partir do ponto de vista de um único participante (o de maior grau de prestígio) basta representá- lo em uma Construção na qual ele apareça como único sintagma nominal e em posição de tópico. Os estudiosos da metáfora conceptual (GIBBS, 1999; KÖVECSES, 2005/2006; LAKOFF, 1993) concordam com o argumento de que metáforas conceptuais podem realizar-se socioculturalmente. Kövecses (2006, p.143), partindo da concepção de metáfora como um pareamento do domínio A com o domínio B, tal que A é B, descreve como as realizações não linguísticas da metáfora podem ocorrer: (i) o domínio fonte B pode transformar-se em realidade físico-social; (ii) as implicações do domínio- fonte B podem se transformar em realidade físico-social; (iii) o domínio A pode realmente tornar-se o domínio- fonte B e, ao mesmo tempo, transformar-se em realidade físicosocial. Dizer que uma metáfora transforma-se em realidade socio física significa dizer, segundo Kövecses (2006), que o domínio conceptual ocorre não como conceito ou palavra, mas como uma coisa ou processo mais ou menos tangível na nossa prática social e cultural. Na Construção Gramatical de Hiperbolização, o sintagma preposicional que aparece opcionalmente na estrutura sintagmática tem a função de demarcar, especialmente no campo conceptual do entretenimento, os eventos sociais nos qua is a entidade-sujeito teve ou tem um desempenho digno de nota e, por isso, foi/é apreciada como SUCESSO. O uso, nessa Construção, de predicadores verbais semanticamente ligados ao frame de destruição parece refletir a conceptualização desses eventos sociais como arenas de guerra, iluminando uma estrutura radial metafórica que se ancora no modelo cognitivo da guerra (evento de destruição/ espetáculo prototípico) e irradia-se 6 Esse fenômeno ocorre também nas Construções de Argumento Interdito estudadas por mim. Nessas a omissão do complemento se dá porque tais construções enquadram assuntos tabus que devem, pois, “permanecer nas sombras”. 191 para os eventos sociais de entretenimento como a discussão, o jogo e a política, mapeando esses eventos como cenários de guerra. Quando se trata de eventos sociais de entretenimento muitos são os cenários de guerra potenciais e as entidades que se sobressaem, como vencedores nesses eventoscenários, são mapeadas como “vencedores da guerra”, ou seja, aqueles cujo poder de destruição foi grande o bastante para liquidar todos os adversários (reais ou potenciais), donde seu prêmio maior: o sucesso. Sucesso, portanto, é, do nosso ponto de vista sociocultural e também do ponto de vista léxico- gramatical, o produto final de uma batalha, é o prêmio de quem, depois da luta, conseguiu destruir seus adversários. Esse mapeamento metafórico- metonímico tem como domínio- fonte a guerra, experienciada como evento prototípico de destruição. As evidências linguísticas mostram que, no nosso modelo cultural popular, o sucesso se define como algo compensador (um prêmio), que está no alto (alcançar o sucesso), bem guardado e escondido (as chaves do sucesso; o segredo do sucesso) e só quem consegue vencer os obstáculos (o guerreiro) é dele merecedor. O texto publicitário abaixo mostra com clareza esses mapeamentos: Conquistar a vitória e alcançar o sucesso! Imagine-se numa floresta perto do forte do time adversário. Você precisa capturar a bandeira do campo inimigo e transportá-la em segurança para o seu forte, ganhando o jogo. Transporte-se até o temível K2 ou o Everest. Atingir o cume da montanha, vencer as dificuldades naturais e físicas, atingir o objetivo. Conquistar a montanha. Em perfeita segurança. Descer uma corredeira de águas rápidas, decisões mais rápidas ainda têm que ser tomadas, seus companheiros buscando o equilíbrio e o caminho certo, torcendo para o barco não virar. 192 Estas são algumas situações onde o espírito de equipe é fundamental para conquistar a vitória e alcançar o sucesso. É isso que a sua empresa vai encontrar com a equipe ATer Internet. Conquistando vitórias para alcançar o sucesso! (http://ater.com.br/2009/05/29/conquistar-a-vitoria-e-alcancar-o-sucesso/) A Construção Gramatical de Hiperbolização evoca um acesso cognitivo e sociocultural ao frame de SUCESSO, por isso são muito frequentes os enunciados em que há uma relação sintagmática entre as várias instanciações dessa Construção e o sintagma nominal sucesso. 1 )Veja as celebridades 'teens' que detonaram em 2008 As grandes estrelas de Hollywood fazem sucesso e causam polêmicas todos os anos, no entanto, em 2008, foram as celebridades teens que roubaram a cena. Miley Cyrus, Selena Gomez, Demi Lovato e Taylor Swift são apenas algumas delas. (http://www.ai5piaui.com/noticia.php%3Fid%3D5210+detonou+sucesso&cd=13&hl=ptBR&ct=clnk) 2)Jorson Muniz- Arrasou na Sapalokaja em Novembro!!!Parabéns pelo seu sucesso Jorson!! (http://www.fotolog.terra.com.br/sapaloka) Portanto, o reenquadramento do frame de DESTRUIÇÃO no frame de SUCESSO é uma maneira de conceptualizar os eventos de destruição e os eventos de sucesso como uma mesma situação, o que segundo Kövecses (2006, p.77) é talvez o uso mais poderoso dos frames. Entender a mesma situação de formas diferentes e contraditórias é, na verdade, construir interpretações ou conceptualizações perspectivizadas (construals) 94 da mesma situação. Logo, destruição e sucesso são, na nossa cultura, construals alternativos. 94 Segundo Kövecses ( 2006, p.227) Construal é um modo de compreender um aspecto do mundo (i.e., objetos, eventos, etc) . 193 (25) REPRESENTAÇÃO DO MAPEAMENTO METAFÓRICO-METONÍMICO SUCESSO É GUERRA EVENTO DE DESTRUIÇÃO PROTOTÍPICO GUERRA Mapeamento metafórico VIVER É GUERREAR Mapeamento metafóricometonímico DISCUSSÃO É GUERRA JOGO É GUERRA POLÍTICA É GUERRA EVENTOS SOCIAIS SÃO ARENAS DE GUERRA Mapeamento metafóricometonímico SUCESSO É GUERRA Fonte: Do autor 194 O que o diagrama 25 pretende mostrar é que existe um sistema metafórico muito complexo e sofisticado que motiva a Construção de Hiperbolização e que tal sistema se desenrola a partir do mapeamento metafórico do domínio- fonte GUERRA. A guerra é, segundo Lakoff e Johnson (1987 [2002]) uma gestalt multidimensional que tem sua origem e amplitude justificadas no fato de a luta ser um evento encontrado em toda a parte do reino animal e de maneira mais frequente entre os animais humanos, podendo ser definida como um conflito físico institucionalizado. Os animais lutam para obter o que desejam: alimento, sexo, território, controle, porque há outros animais que desejam a mesma coisa ou querem impedir os primeiros de obtê-las.” (LAKOFF ;JOHNSON, 1987 [ 2002], p. 134) O que se vê, portanto, é um sistema de subcategorizações, tornadas coerentes a partir das implicações metafóricas, que têm origem na metáfora conceptual VIVER É GUERREAR. Esta metáfora, ancorada no domínio- fonte GUERRA, licencia um sistema de implicações compartilhadas (discussão, jogo e política) que, por sua vez, por um processo metafóricometonímico (arrasta uma parte de todo o cenário) desemboca na metáfora estrutural SUCESSO É GUERRA, evidenciada nas expressões metafóricas cotidianas lutar pelo sucesso; batalhar pelo sucesso; se matar pelo sucesso, dentre outras. As escolhas lexicais feitas por torcedores e comentaristas esportivos evidenciam, de forma bastante explícita, na verdade quase trágica, a conceptualização dos JOGOS como GUERRAS, cujos vencedores encarnam o papel de destruidores que sabem fazer “bom” uso de seus instrumentos de destruição. O jogo, por isso, se desenrola numa arena de guerra e o objetivo principal, portanto, é massacrar os adversários. O texto abaixo, cujo título já evidencia esse mapeamento, mostra como as homologias entre esses dois domínios (JOGO-GUERRA) são estabelecidas e como tal mapeamento metafórico favorece o uso de verbos causativos de destruição e a instanciação destes na Construção de Hiperbolização, mostrando mais uma vez que “a linguagem é um reflexo do mapeamento” (LAKOFF ; JOHNSON, 1987[2002], p. 25). 195 Vencida a batalha, agora é a guerra Alô Nação de Guerreiros!! (...) Falando do que houve em campo, podemos dizer que no primeiro tempo [o Cruzeiro massacrou]. E isso nem é alguma hipérbole. O time celeste encurralou o São Paulo no seu campo de defesa, envolveu a equipe paulista com seu toque de bola até encontrar brechas para fuzilar. Mas o resultado eficaz desse domínio territorial só veio no último minuto da primeira etapa. Leonardo “Obama” Silva subiu soberano e testou firme a bola que morreu no gol de Dênis. (...). O ataque perdeu forças e o Cruzeiro perdeu sua imposição em campo. Quase que colocamos tudo a perder. Adilson apercebeu-se da asneira que fez e tratou logo de corrigi-la lançando Zé Carlos em campo. E não é que o jovem jogador, recém chegado, salvou a pele do nosso comandante?! Jonathan rolou, e Zé Carlos, o sucessor de Oséias, emendou de primeira. Depois disso o Cruzeiro retomou o comando do jogo e poderia (e deveria) ter feito ao menos mais um gol. Mas a vitória foi importante, pois deixa o time celeste a um empate das semis da LA’09.(...)Agora o capítulo final da batalha será em São Paulo dia 17 de junho... (http://colunas.globoesporte.com/pcalmeida/2009/05/28/vencida-a-batalha-agora -e-a-guerra/comment-page10/) O texto acima revela, com riqueza de detalhes, os mapeamentos metafóricos que a nossa cultura estabelece entre o domínio- fonte guerra e o domínio-alvo jogo: existe um domínio territorial a ser conquistado (vencer a partida). Para tanto, os guerreiros (jogadores) utilizando-se de técnicas aprendidas com o comandante (técnico), imprimem força a seus ataques (ir em direção à meta) de modo a massacrar e fuzilar (jogar bem e fazer gols) os inimigos (adversários) e sagrar-se, definitivamente, como vencedores. Em um nível mais amplo, um sistema de coerência metafórica linguísticocultural muito sofisticado e complexo perpassa os níveis léxico-gramaticais e semânticos da língua, estabelecendo que, na nossa cultura, todo e qualquer evento social é um evento 196 de guerra, no qual há aliados e adversários, perdedores e vencedores. Por coerência, portanto, os mesmos verbos causativos de destruição que evidenciam o mapeamento JOGO É GUERRA vão ser usados em expressões metafóricas (evidências linguísticas) que deixam transparecer a metáfora conceptual DISCUSSÃO É GUERRA. Não são raros os enunciados em que um desses verbos funciona como verbo de elocução, introduzindo falas diretas de personagens ou em discursos relatados: 1.No auge da irritação , ela explodiu : "se ele permanecer irredutível , vou engravidar com sêmen doado e dane-se esse casamento!" (Corpus Blogs UOL) 2.Fábio Camargo subiu à tribuna e fuzilou Beto Richa(30 de Junho de 2009) O deputado estadual Fábio Camargo (PTB), como havia prometido, subiu nesta terça-feira (3) à tribuna da Assembleia Legislativa e abriu a artilharia pesada contra o prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), a quem acusou de fraudar a reeleição de 2008. (www.esmaelmorais.com.br/?p=6891) No campo conceptual da política, a guerra é o domínio fonte que se reflete em ação e em linguagem cotidianamente. No programa Entre Aspas, da Globo News, Mônica Waldvogel, a apresentadora, ao iniciar a edição exibida em 13 de agosto de 2009 e cuja pauta era De que forma a crise política afeta o eleitorado?, lê o texto abaixo no qual os mapeamentos entre política e guerra são explicitados: 197 Dedos em riste. Olhares ameaçadores. E uma total falta de objetivo que não seja esmagar o inimigo que ameaça suas conquistas. Neste campo de batalha, não há convenção que tenha força de lei. São combates que obedecem apenas ao momento político, ao rearranjo de forças, à reorganização das tropas. Dependem do interesse em jogo, do mapa eleitoral. Quando menos se espera, a guerra começa. Quando menos se espera, ela termina. Entre mortos e feridos salvam-se todos. Todos eles. Mas e quem está do lado de cá, recebendo os estilhaços sem colete à prova de escândalos e decepções? Os eleitores se irritam, se abalam e acabam ficando abatidos pela esperança frustrada. Será que os brasileiros ainda acreditam na política? Será que desistiram mesmo da luta? Será que existem algumas trincheiras onde se escondem as virtudes sumidas, os sonhos perdidos? Com todo o problema, com todo o sistema, lembramos o refrão de um hino de Chico e Caetano dos anos 70, abre aspas “A gente vai levando, a gente vai levando.” Fica evidente que a política é conceptualizada como guerra que se desenrola em campos de batalha e cujo objetivo primeiro é eliminar os inimigos. No entanto, como toda metáfora cria, entre os dois domínios, homologias apenas parciais, há espaço na projeção figurativa para se incluir ou se reenquadrar elementos do frame da guerra. Em uma guerra de verdade, por exemplo, dificilmente salvar-se- iam todos, mas na política brasileira isso é quase uma regra. Também os coletes à prova de balas da guerra transvestem-se em coletes à prova de escândalos e o texto vai construindo o que é novo a partir do que já é convencionalizado. A base conceptual, contudo, é apenas uma: a guerra. 198 5.3.2 Destruição e sucesso como construals alternativos A noção de construal foi relevada primeiro por Talmy no desenvolvimento teórico de sua semântica cognitiva. Assumida por Langacker (2008), tal noção se baseia na concepção de que tão importante quanto o conteúdo semântico dos enunciados é a forma como o significado das expressões linguísticas é construído, já que toda estrutura simbólica constrói seu conteúdo de um certo modo. A noção de construal pode ser explicada pela metáfora visual em que o conteúdo seria a cena e o construal uma forma particular de ver essa cena, o que depende diretamente de onde estamos, a que distância, a que prestamos mais atenção, o que escolhemos olhar. Por isso, os construals são fenômenos linguísticos que, para Langacker, correspondem às noções de especificidade, foco, proeminência e perspectiva, aplicadas a qualquer domínio. Langacker (2008) constrói a noção de especificidade baseado no grau de precisão e detalhe com que uma situação é caracterizada. Como exemplo, ele cita a enunciação informativa que podemos formular sobre a temperatura de um ambiente, o que pode variar de um grau de especificidade mínimo (Aqui está quente), ser um pouco mais específico (Aqui está por volta dos 35 graus) ou atingir um nível de especificidade máximo (Aqui agora está fazendo exatamente 37 graus Celsius). Ser mais ou menos específico não é propriedade apenas dos enunciados linguísticos, mas também dos itens lexicais. Um vocábulo como roedor é muito menos específico do que a palavra rato, por exemplo. A precisão e a especificidade de uma expressão linguística só respeitam os limites práticos de extensão (limites da memória) que um enunciado deve ter para ser compreensível. A noção de foco baseia-se no acesso a porções particulares de nosso universo conceptual via expressões linguísticas. Portanto, essa noção de foco agrega as noções de seleção e arranjo que, por sua vez, se desdobram em alinhamento figura e fundo. Como a especificidade, o foco também é uma questão de grau e relativo a um propósito particular, tendo inúmeras manifestações no discurso. 199 A noção de proeminência, segundo Langacker, tem a ver com as assimetrias da estrutura linguística, sendo, pois, de dois tipos principais: perfil e alinhamento trajetória- marco. Perfil é uma definição dada a uma expressão que distingue o foco de atenção específico dentro de seu escopo imediato. Como exemplo, Langacker cita os termos cotovelo e mão, os quais têm a mesma base conceptual (ou escopo máximo), o corpo humano, e também o mesmo escopo imediato, no caso, o braço. Cada um desses termos irá pinçar uma dada subestrutura como perfil ou referente que, para o termo cotovelo, é a articulação do braço com o antebraço e, em relação à mão, é a extremidade do braço. Tanto coisas como relações podem ser perfiladas, principalmente em projeções metonímicas. Também nas relações perfiladas há variações de grau de proeminência dos participantes. O mais proeminente é chamado por Langacker (2008) de trajetória, referente à entidade construída como sendo localizada, avaliada ou descrita. É o foco primário na relação de perfil. O marco, por sua vez, caracteriza um foco secundário. Assim as expressões linguísticas podem ter o mesmo conteúdo conceptual, o mesmo perfil, no entanto estabelecerem diferentes escolhas com relação à trajetória e ao marco. O exemplo dado por Langacker são as preposições acima e abaixo cujo conteúdo conceptual é o mesmo (localização espacial relativa entre duas coisas) e também a mesma relação perfilada. Logo, o único contraste entre os termos reside no grau de proeminência conferido aos participantes, por isso que escolhemos dizer que o livro está em cima da mesa ao invés de dizer que a mesa está debaixo do livro. A quarta e última noção semântica ligada à noção de construal tal qual definida por Langacker (2008) é o conceito de perspectiva. Esse conceito tem a ver com o arranjo da cena conceptual visualizada, ou seja, a relação entre quem vê a cena e a situação sendo vista. Todo esse conjunto de constructos teóricos, motivados pela noção de construal, foi adotado por Langacker, segundo ele, a partir de evidências substantivas, originadas de três fontes gerais: (i) o que nós sabemos sobre a cognição humana, independentemente da linguagem; (ii) o que é necessário a descrições semânticas viáveis; (iii) se os constructos suportam uma abordagem otimizada da gramática. A semântica cognitiva, para 200 Langacker, está se desenvolvendo dentro de um empreendimento rigoroso e suas descrições são baseadas em análises cuidadosas, suportadas por evidências empíricas, e formuladas em termos de constructos descritivos bem justificados. Não menos importante, a semântica conceptual deriva apoio de sua eficiência 95 como base para caracterizar a estrutura gramatical. Há várias operações de construals identificadas pelos linguistas que optaram por uma abordagem conceptualista da semântica, assim como há também diversas tentativas de agrupar essas operações que parecem ser relacionadas. Além da classificação de Langacker, Talmy (1988) propõe uma classificação de construals sob o nome de sistemas imagéticos, que abrangeria (i) a esquematização estrutural; (ii) a disposição de perspectiva; (iii) a distribuição da atenção e (iv) as dinâmicas de força. Croft e Cruse (2004) incluem os esquemas imagéticos dentre os constructos teóricos que impõem uma conceptualização da experiência (construals de experiência), por isso esses autores propõem uma nova classificação que demonstre mais claramente a relação entre as operações de construals linguísticas e processos psicológicos propostos por psicólogos cognitivos, comprovando com isso não só o estatuto cognitivo dessas operações como também que a “linguagem é uma instância de habilidades cognitivas gerais” (CROFT; CRUSE, 2004, p. 45). Os autores defendem, pois, que as diversas operações de construals sejam manifestações de quatro habilidades cognitivas básicas em diferentes aspectos da experiência: 1) atenção/saliência; 2) julgamento /comparação (incluindo os esquemas imagéticos de identidade); 3) perspectiva; 4) constituição/gestalt (incluindo outros esquemas imagéticos). Essa classificação encabeçada por quatro fenômenos cognitivos básicos é a mesma adotada por Kövecses (2006). Para Croft e Cruse (2004), as operações de construals ligadas à atenção são as mais numerosas, subcategorizando-se em seleção, escopo, ajustamento escalar e dinâmica. A metáfora é incluída pelos autores como um construal de julgamento / 95 Cognitive semantic descriptions are based on careful analysis, supported by empirical evidence, and formulated in terms of well-justified descriptive constructs. And in no small measure, conceptual semantics derives support from its efficacy as the basis for characterizing grammatical structure. (LANGACKER, 2008, p.89) 201 comparação, juntamente com a categorização (framing) e o alinhamento figura/fundo. As dinâmicas de força se enquadram no que os autores classificam como constituição/ gestalt. Feldman (2006) admite que todas as línguas têm Construções Gramaticais para especificar qual perspectiva se pretende. Sem dúvida, a construção do significado via Construção Gramatical de Hiperbolização se promove grandemente por conta dessas operações de construals. Há, como primeira evidência, a colocação da entidade sujeito como foco de atenção, por meio da operação de seleção, que é nossa habilidade em destacar partes da nossa experiência que são relevantes a um dado propósito e ignorar aspectos que consideramos irrelevantes (CROFT; CRUSE, 2004, p.47). A seleção de uma palavra leva o interlocutor a focar sua atenção em somente uma parte de todo o frame. Subjazem, também à CGH, operações de construals ligadas ao julgamento/comparação, que se manifestam ao se comparar uma dada situação a outra, categorizando-a ou redefinindo o frame (CROFT; CRUSE, 2004, p.55). A metáfora, operação cognitiva primordial na produção/interpretação da CGH, também é considerada uma operação de construal, baseada no julgamento/ comparação de um domínio fonte a um domínio alvo. A escolha da metáfora para descrever uma situação em um domínio particular constrói a estrutura deste domínio de uma forma particular que difere a depender da metáfora escolhida. O fato de a metáfora primária CAUSAS SÃO FORÇAS FÍSICAS e a metáfora estrutural SUCESSO É GUERRA estarem no cerne da Construção de Hiperbolização engatilha uma série de implicações que não seriam válidas se as metáforas fossem outras. Por fim, as operações de construals, ligadas à estrutura global de entidades e eventos (constituição/gestalt) se revelam na Construção Gramatical de Hiperbolização sob a forma do modelo de dinâmicas de força, que é uma generalização da noção de causalidade. O que se nota no uso é que “diferentes escolhas de verbos, ou diferentes vozes verbais ou diferentes Construções, expressam diferentes conceptualizações da dinâmica de força estrutural dos eventos” (CROFT; CRUSE, 2004, p.66). 202 Todo e qualquer enunciado envolve uma gama imensa de construals da experiência a ser comunicada. Todos os passos da linguagem, desde a escolha das palavras até o enquadre destas em uma dada Construção, envolvem conceptualização. Segundo Croft e Cruse (2004), a questão mais filosófica que surge com relação aos construals é: Qual a relação entre linguagem, pensamento e experiência? há alguma restrição nessa relação? e em qual direção as restrições operam: da língua para o pensamento e para a experiência, ou na direção oposta? ou ambas? (CROFT; CRUSE, 2004, p.71). O que se verifica, por meio das pesquisas em linguagem, é que nossa experiência, em muitos casos, favorece certos construals em detrimento de outros, ou seja, são construals default ou típicos. Foram estes que levaram os cognitivistas a enfatizar que a flexibilidade é necessária para entender a conceptualização e esta flexibilidade se deve à natureza da mente humana tal como ela funciona no mundo. Contudo, a experiência restringe em algum grau a conceptualização humana, tornando alguns construals difíceis e outros muito improváveis. Croft e Cruse afirmam, pois, que o papel da conceptualização na expressão linguística implica uma abordagem fortemente relativista da relação entre linguagem e pensamento: o modo como concebemos nossa experiência é determinado pela estrutura gramatical de nossa linguagem. Langacker (1987), por outro lado, alega que existe uma estrutura semântica específica da linguagem a que ele chama imagem convencional, motivada grandemente pela experiência, mas não determinada por ela. O fato, por exemplo, de um americano dizer eu estou com frio, um francês dizer Eu tenho frio e um falante do Hebreu expressar esse mesmo conteúdo conceptual afirmando Está frio para mim significa que a estrutura semântica da linguagem difere ainda quando se refere à mesma experiência, criando diferentes imagens convencionais. Para Langacker, essas imagens não restringem nosso pensamento, já Croft e Cruse (2004) replicam, dizendo que quando uma estrutura gramatical é usada pela primeira vez (ou pelas primeiras vezes) para construir uma experiência, isto influencia o modo como o falante pensa sobre esta experiência, todavia, na medida em que essa expressão gramatical se torna convencionalizada, o construal original não mais interfere no modo de pensar do falante sobre essa experiência. A conclusão a que chegam Croft e Cruse, portanto, é a de que a noção de construal é central à linguagem, mas ela é restringida tanto pela convenção quanto pela experiência mesma. Feldman (2006), por sua vez, articula toda a sua teoria 203 de modo a mostrar que os esquemas universais e os frames culturais formam a base metafórica dos pensamentos abstratos e da linguagem. O fato de a Construção Gramatical de Hiperbolização refletir um mapeamento que enquadra o conceito de sucesso no frame de destruição e, por conseguinte, dentro do domínio da guerra é, sem dúvida, uma escolha dentre muitas que os falantes do Português do Brasil poderiam fazer. Algo motivou esse mapeamento e acredito que a experiência do “fazer/ser sucesso”, vivenciada na sociedade (quem, o que e como se faz sucesso), principalmente o processo de alcançá- lo, fez com que os falantes percebessem homologias suficientes entre o domínio da guerra e o domínio do sucesso a ponto de autorizarem a projeção metafórica. Isso não significa que o domínio do sucesso não compartilhe possíveis homologias com outros domínios, mas a experiência, nesse caso, foi fundamental para a escolha da relação predominante. Não se pode negar também a força da convenção do uso, já que “os eventos de uso são a fonte de toda unidade linguística” (LANGACKER, 2008, p.220). O uso, sabe-se hoje, cria o ambiente favorável à esquematização e à categorização que são fundamentais na formação dos esquemas cognitivos. O uso convencionalizado, no entanto, diminui a força do pensamento, no sentido de que quanto mais automatizado, menos pensado, por assim dizer. A motivação da projeção figurativa se cria e se perde no uso. No entanto, a linguagem a preserva por muito mais tempo que o pensamento, o que mostra que o uso influencia muito mais a estrutura linguística, mais conservadora, do que a própria experiência e o pensamento. Eu, como falante nativa do PB, jamais pensei em relacionar sucesso à destruição, mas os dados do corpus Blogs UOL foram imperativos e me obrigaram a estabelecer tal relação surpreendente. No nível da consciência, no entanto, acho que nenhum falante do Português brasileiro reenquadre o sucesso no domínio da guerra, porém é inegável que, se a língua autorizou essa conceptualização, é porque ela existe no nível da experiência e, por conseguinte, no nível do pensamento. A grande pergunta que me faço é sobre o grau de influência dessas conceptualizações, ancoradas na experiência, no nosso modo de agir no mundo: 204 Os conceitos que governam nosso pensamento não são meras questões do intelecto. Eles governam também a nossa atividade cotidiana até nos detalhes mais triviais . Eles estruturam o que percebemos, a maneira como nos comportamos no mundo e o modo como nos relacionamos com outras pessoas . (LAKOFF;JOHNSON, 1987 [2002], p.45) O fato de o sucesso estar atrelado ao frame de destruição impõe sobre os falantes do português um script de ações destrutivas na busca pelo sucesso? O fato de conceptualizarmos jogos e discussões como guerra predetermina uma ação de combate, um diferente código de ética? Todas essas questões filosóficas estão no cerne da relação que se acredita existir ou não, entre pensamento, experiência e linguagem. O que se tem como contraponto a uma possível redefinição ética promovida por essas homologias baseadas no domínio fonte da guerra são discursos que tentam, reiteradamente, desfazer ou reverter (reenquadrar) essas projeções. Com relação ao jogo, por exemplo, o bordão O importante não é ganhar, é competir tenta se firmar pela educação, mas não encontra eco nem na experiência nem nas ações, como constata o texto abaixo: O ideal olímpico representado pela velha máxima "O importante não é vencer, é participar", foi defendido pela primeira vez em 1908 pelo bispo da Pensilvânia, durante um sermão aos atletas que disputariam as Olimpíadas de Londres. A frase utilizada posteriormente pelo barão de Coubertain, a quem erroneamente é atribuída, não condiz com a realidade olímpica dos tempos modernos, onde o esporte é visto como "guerra" e cada vez mais são encontradas evidências de doping, como o caso do atleta canadense Bem Johnson que em Seul-1988 teve seu ouro e recorde nos 100 m. cassados pelo Comitê Olímpico Internacional. (http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=210) ou como comprova a ação do atleta sueco, Ara Abrahamian, da luta greco-romana, que nas Olimpíadas de Pequim, tirou a medalha de bronze do peito e a jogou no chão, envergonhando toda uma nação, reconhecida no mundo inteiro, pela educação de seu povo. Também não se pode dizer que seja por puro acaso que os grandes artilheiros do 205 futebol brasileiro sejam chamados de matadores, e ao comemorar seus gols, incorporem tal predicativo nos gestos: (26) imagem do jogador de futebol Diego Tardelli. Fonte: www.domtotal.com/.../detalhes.php?notId=145684 Os discursos cujo tema é o sucesso dificilmente explicitam homologias entre fazer sucesso e vencer uma guerra. Muito pelo contrário. As receitas para se fazer sucesso só elencam virtudes a serem cultivadas, como perseverança, dedicação, entusiasmo, amor... Os discursos relacionados a esse tema bem podem ser enquadrados no gênero autoajuda, como o que destaco abaixo: Busque o sucesso, mas de modo saudável Por Rosemeire Zago O que é ter sucesso para você? É participar do Big Brother? Ou como mostra o folhetim global Belíssima: é ser modelo, ser presidente de uma empresa, onde vale tudo para atingir a fama? Para a maioria é ter dinheiro e tudo o que ele pode comprar. Para outros, é algo mais profundo e que, ao contrário, dinheiro algum pode comprar, como paz, uma família, saúde, espiritualidade, trabalhar no que gosta, e não naquilo que um dia o fizeram acreditar que deveria gostar. Enfim, para uns o que vale mesmo são os valores externos e para outros, evoluir internamente. E para você, o que é ter 206 sucesso? É ter ou ser? (...) Diz ainda o dicionário: bom êxito, resultado feliz. Podemos entender isso como se sentir satisfeito com aquilo que estamos realizando e principalmente, enquanto estamos realizando. E para isso é essencial desenvolver o respeito pelo outro. Quem não respeita o outro, na verdade demonstra que não respeita a si mesmo. A ética também é um valor que anda esquecido nos dias de hoje e necessário resgatá-lo. Por que o elevado índice de audiência de alguns programas que mostram o sucesso de alguns, ainda que temporariamente? As pessoas projetam o sucesso que gostariam de ter naqueles que estão em evidência como gostariam de estar.(...). E infelizmente a maioria nem percebe que a solução pode estar mais perto do que se imagina, pois geralmente está dentro de cada um de nós, e não naquilo que nos é imposto como receita do que é ser feliz. É preciso ter muito cuidado com a cobrança de que é preciso ter sucesso a qualquer custo, pois muitos levam essa afirmação ao pé da letra e não hesitam em pisar em cima de quem está ao seu lado ou à sua frente. Quantas pessoas que conhecemos que quando querem algo, agem como um verdadeiro trator, passando por cima de toda e qualquer pessoa, não poupando familiares e principalmente, colegas de trabalho? Muitas, não é mesmo? São tão obstinadas que sequer analisam suas atitudes, simplesmente vão agindo, tudo em nome de alcançarem o que dizem acreditar. Mas será que é isso que acreditam mesmo? Como há muita dificuldade para olhar para dentro de si, não conseguem saber o que querem e a busca pelo sucesso acaba sendo apenas no externo, no que a mídia nos vende como sendo a receita de felicidade, fazendo muitos acreditarem que enquanto não atingirem esse mesmo sucesso, não serão felizes. Desde quando sucesso é sinônimo de ter dinheiro como muitos acreditam? Ou aparecer na televisão? Será que vale perder a saúde em nome do trabalho? Vale perder a família ou momentos que nunca mais voltarão em nome de uma obstinação do que acredita ser sucesso? Vale perder valores como ética, respeito, humildade, amor-próprio? O sucesso é ser feliz sim, mas respeitando não só a si mesmo como também aos outros. Abaixo seguem algumas dicas para se viver em paz consigo mesmo e que o preço do sucesso tão almejado não seja tão caro, mas apenas consequência. Caminhos 207 1º) Conquiste sua independência, tanto financeira como emocional 2º)Acredite em você! 3º) Tenha controle das emoções 4º) Viva cada momento 5º) Aprenda com os obstáculos 6º) Pratique a humildade 7º) Celebre sempre! É importante reconhecer cada conquista e manter sua mente no presente, assim o resultado virá naturalmente. Quanto mais você reconhecer cada conquista, desde as pequenas como as maiores, mais confiança terá em você! Sinta o prazer de celebrar as conquistas que alcançou, pois isto fará com que você aprenda a amar este ser especial que você é, e conseqüentemente, sua segurança e auto-estima aumentarão. Fique atento ao que está realizando, sem medo de mudar tudo se for o caso. Enfim, ter sucesso é estar em sintonia com aquilo que você acredita ser o melhor para você, sem se deixar influenciar pelos valores externos e sem ser preciso passar por cima de alguém, mesmo que esse alguém seja você, mas apenas ouvindo o seu próprio coração! (http://www2.uol.com.br/vyaestelar/felicidade_sucesso.htm) As pistas que os textos semelhantes ao supracitado nos dão estão exatamente nas proposições negadas, ou seja, vê-se, claramente, que há uma tentativa de se reenquadrar o sucesso em seu próprio frame, definindo-o em seus próprios termos, mais ético e menos bélico. A negação primeira parte daquilo que já faz parte do modelo popular de sucesso na nossa sociedade: ser feliz por ter dinheiro, fama, bens materiais. A segunda negação mais forte parte do princípio de que não se deve atropelar, massacrar os outros para obtê- lo, como explicita o trecho: “Quantas pessoas que conhecemos que quando querem algo, agem como um verdadeiro trator, passando por cima de toda e qualquer pessoa, não poupando familiares e principalmente, colegas de trabalho?” No caso do mapeamento dos jogos como extensão metafórica do domínio da guerra, vimos que a vivência da experiência tem sido muito mais forte e poderosa do 208 que qualquer ação educativa que tente estabelecer novos mapeamentos. No caso da conceptualização do sucesso, creio que a situação não seja diferente. A experiência do sucesso perpassa, sim, pela exposição na mídia, pela venda de produtos (muitas vezes a própria imagem), por consumo de bens, por destruir a concorrência. O talento, o merecimento, o trabalho nem sempre estão integrados a esse processo. Sucesso é ter força para destruir. A língua portuguesa reflete essa verdade, revelando-a por meio da Construção Gramatical na qual as entidades de sucesso são colocadas na sentença como sujeito gramatical, numa posição de destaque, e na qual também o predicado, encabeçado por um verbo de destruição, tem como função semântico-pragmática a hiperbolização e a hipervalorização da ação dessa mesma entidade. Quando enuncio O novo CD de Nana Caymi estraçalha, há outras formas linguísticas de se dizer a mesma coisa? Se dissermos O novo CD da Nana Caymi é sensacional, promoveremos o mesmo efeito? E se usarmos, então, um modelo escalar explícito do tipo O novo CD de Nana Caymi é dez!, atingiremos o mesmo objetivo comunicativo? Parece que a escala se aproxima mais da hipervalorização e da hiperbolização do que o uso da sentença predicativa, no entanto, a força ilocucionária do enunciado visivelmente diminui. Inegável também é o fato de que a linguagem pode forjar a experiência e, a partir disso, formatar o pensamento. Parece que é isso que ocorre com as expressões linguísticas ideologicamente preconceituosas, como, por exemplo, as que revelam o racismo da sociedade. Pode-se pensar e dizer que os negros são inferiores aos brancos, mas, nesse caso, não se pode derivar uma experiência naturalmente construída. Existe, pois, um complexo entrelaçamento entre linguagem, experiência e pensamento, tal entrelaçamento, no entanto, não anula comple tamente o grau de flexibilidade que cada uma dessas noções possui: o pensamento é livre, a linguagem é livre e a experiência pode ser culturalmente forjada. 209 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A investigação empreendida nesta pesquisa buscou explorar e esclarecer o que, a princípio, poderia ser visto como uma insólita relação, refletida linguisticamente por uma Construção Gramatical, entre dois domínios conceptuais : destruição e sucesso. Para tanto, foi necessário responder, primeiro, à pergunta sobre ser ou não ser essa relação mediada por uma Construção Gramatical. Em seguida, os esforços analíticos se concentraram em procurar respostas sobre as bases conceptuais e socioculturais que serviriam de alicerce para a construção das homologias entre esses diferentes domínios. A essas perguntas de pesquisa, estavam atreladas três hipóteses principais que, resumidamente, supunham (i) a existência da Construção Gramatical de Hiperbolização no Português do Brasil; (ii) o Esquema Imagético da Força, a causalidade e a metáfora primária CAUSAS SÃO FORÇAS FÍSICAS como base conceptuais da Construção e, por fim, iii) a existência de uma metáfora estrutural subjacente, SUCESSO É GUERRA, motivada por uma rede complexa de implicações metafóricas e metonímicas muito coerente, cuja origem estaria no domínio- fonte GUERRA. A formação de um corpus e a interpretação dos dados resultaram na confirmação das hipóteses fo rmuladas neste estudo, comprovando, pois, a existência da Construção Gramatical de Hiperbolização no Português do Brasil e sua ancoragem conceptual no Esquema Imagético da Força (também na sua contraparte pressuposta, a causalidade) e na metáfora estrutural SUCESSO É GUERRA. Esta pesquisa demonstra, dessa forma, que a metáfora, que sempre foi, e ainda é, considerada meramente um recurso de linguagem, é uma operação cognitiva muito atuante no sistema linguístico, capaz até mesmo de dar forma à gramática, ao motivar as Construções Gramaticais. As metáforas conceptuais, todavia, se remodelam na cultura, ganhando matizes muitas vezes inusitados, como é o caso da Construção de Hiperbolização que tem sua origem no esquema imagético da força e desemboca na metáfora SUCESSO É GUERRA por meio de sucessivas projeções metafóricas e metonímicas, altamente coerentes. 210 O sistema de coerência metafórica da Construção de Hiperbolização começa com a seleção dos predicadores verbais: o esquema de força, inerente à Construção, obriga tais predicadores a serem causativos, já que força e causalidade são duas noções intrinsecamente relacionadas. O fato também de as entradas verbais serem categorizadas como verbos de destruição reforça a relação força/causalidade presente na CGH, na medida em que todo evento de destruição é, necessariamente, um evento de força. No entanto, a função semântico-pragmática da Construção de Hiperbolização é situar a entidade-sujeito no topo de uma escala avaliativa de SUCESSO e a pergunta que, inevitavelmente, surge é: o que SUCESSO tem a ver com DESTRUIÇÃO? A resposta, desta vez, está no uso, nas evidências linguísticas que servem de pistas a um mapeamento metafórico do SUCESSO como GUERRA, eve nto prototípico de destruição. Assim, no uso, destruir a concorrência é, por projeção metonímica, homólogo a FAZER SUCESSO. Do mesmo modo, destruir a concorrência é fazer com que a mesma deixe de existir, o que equivale, na gramática, à anulação sintática do elemento linguístico que representaria tal entidade: o objeto direto. Mas ainda há mais coerências: tal omissão do complemento pode, sim, ser um caso de supressão eufemística, orquestrado por uma instrução pragmática do tipo “Não devemos tripudiar em cima do inimigo”, como pode ser, também, mais um elo desse entrelaçamento metafórico que subjaz à CGH: a metaforização da pessoa canônica na figura do sujeito, alçando-o à posição de elemento mais importante da cena, a ponto de ofuscar os outros e colocá- los na sombra. A vida é combate, e ter sucesso é ter força para destruir, vencendo, assim, os adversários concorrentes. Todo esse modelo cultural96 , forjado historicamente, está embutido na CGH que, fundada na metáfora, abre a janela da cognição, deixando-nos entrever as estruturas conceptuais e pré-conceptuais que a governam e, repetida no uso, permite a categorização e a convencionalização do padrão construcional. A riqueza das descobertas deste estudo, no entanto, impôs-lhe, inevitavelmente, uma série de limitações que podem ser encaradas como possíveis (e desejáveis) desdobramentos futuros. O primeiro deles que aponto é a necessidade de se 96 Em japonês, por exemplo, o ideograma para sucesso (seikou) pode ser lido como “trabalho levado a cabo até o fim, a realização da força que constrói”, (MENDES, V. Conversa informal) . 211 aprofundar a análise do processo de gramaticalização da Construção de Hiperbolização e que, certamente, vai além da formação de uma provável estrutura simbólica destransitivizada, isto é, de uma representação cognitiva, a partir de padrões construcionais fixos ou semifixos (destruir a concorrência). Uma discussão importante, talvez, seja a que enfoca os conhecimentos específicos dos itens, no caso de verbos causativos de destruição, e a interação desses conhecimentos com conhecimentos de natureza mais geral. O Modelo Baseado no Uso, como o que se propõe neste trabalho, reconhece o papel da experiência na formação de categorias e representações linguísticas. A frequência de tipos, assim como a frequência de tokens, são fatores importantes para a modelagem do sistema linguístico que, nesse enfoque, não separa léxico de gramática nem prioriza o conhecimento geral em detrimento do específico, o que, segundo Bybee (2007) é uma propriedade geral da cognição humana. A língua segue, portanto, os procedimentos de criação de qualquer sistema complexo: com um pequeno número de mecanismos que operam em tempo real e com a repetição no uso desses mecanismos surge uma estrutura organizada, ou seja, a repetição de ações causa a formação de estrutura, que no caso da língua, é a gramática. A proposição que está por trás disso é a de que a convencionalização por meio da repetição criaria a gramática (BYBEE, 2007). O que vimos nos dados em relação à Construção de Hiperbolização é que a sua frequência tipo, ou seja, o número de itens distintos que podem ocorrer no slot aberto pela Construção, é o fator principal na determinação do grau de sua produtividade97 . “Construções que se aplicam a um grande número de itens distintos também tendem a ser altamente aplicáveis a novos itens” (BYBEE, 2007, p.14). O fato de a CGH ter sido analisada a partir de 33 predicadores verbais distintos e, como disse em outra oportunidade, ter a probabilidade de crescer ainda mais, mostra claramente a produtividade dessa Construção. 97 A produtividade é definida por Bybee (2007) como a probabilidade de um padrão se aplicar a novas formas. 212 A contribuição da frequência tipo para a produtividade se dá pelo fato de que, quando uma Construção é experienciada com diferentes itens ocupando uma posição, isto possibilita o parsing d a Construção.[...] Um certo grau de frequência tipo é necessário para se descobrir a estrutura de palavras e frases. Além disso, uma frequência tipo mais alta também dá a uma Construção uma representação mais forte, tornando-a mais acessível ou disponível a novos usos (BYBEE, 2007, p. 15)98 . O raciocínio em relação à gramática é que o uso levaria à percepção de similaridades e, juntas, frequência e similaridade determinariam a natureza das categorias. Como a formação da gramática é em grande parte uma questão de categorização, a frequência acabaria por ser muito responsável pela sua formação. Uma frequência alta, para Bybee (2007, p.14), garante que uma Construção seja usada frequentemente, o que irá estender seu esquema representacional, tornando-a mais acessível para usos futuros, possivelmente com novos itens. A frequência de tipos determina não só a produtividade de uma Construção Gramatical, como também delimita suas fronteiras a partir das propriedades que os tipos agregam. No caso da CGH, as propriedades dos tipos verbais, a saber, causatividade e destruição, delimitam as fronteiras da Construção sob a forma de condições de validação da mesma. “As Construções Gramaticais são também padrões linguísticos convencionalizados pelo uso e, por isso mesmo, são criadas e mantidas através dos mesmos mecanismos associados à repetição, como são outros padrões da cultura humana ”. 99 Outra abordagem que também merece maior destaque em uma futura pesquisa é a que trata do valor atitudinal da CGH. Desde a década de 80 que a Linguística Sistêmico- funcional100 argumenta em favor de se procurar conhecer em quais contextos, 98 The contribution of type frequency to productivity is the fact that when a Construction is experienced with different items occupying a position, it enables the parsing of the Construction.[…] Thus a certain degree of type frequency is needed to uncover the structure of words and phrases. In addition, a higher type frequency also gives a Construction a stronger representation, make it more available or accessible for novel uses. 99 HAIMAN, J. (1994) , apud THOMPSON, S. 2004 100 A abordagem designada Teoria da Valoração é uma extensão das teorias linguísticas de Mark Halliday e seus colegas e surgiu como resultado dos trabalhos conduzidos por um grupo de pesquisadores, liderados pelo Professor James Martin, do departamento de Linguística da Universidade de Sidney, Austrália . 213 por quais meios linguísticos e para quais fins retóricos os falantes transmitem julgamentos, considerando-se as três dimensões que organizam as relações pessoais: poder/status; contato e afeto. Segundo a teoria da valoração 101 (Appraisal theory), nos domínios discursivos atuam três subsistemas de valoração: (i) atitude; (ii) engajamento e (iii) gradação. Não há dúvidas de que o falante do PB que opta por usar uma Construção de Hiperbolização está se posicionando em relação a dois dos três subsistemas que compõem o sistema de valoração discursiva na perspectiva da Teoria da valoração: atitude e gradação. A atitude se manifesta na CGH como apreciação positiva tanto de entidades quanto de produtos e processos. Já a gradação se satisfaz nas duas vias permitidas, força e foco. Apreciação positiva, força e foco, como vimos, constituem o tripé epistemológico da Construção de Hiperbolização, o que comprova, portanto, a sua vocação valorativa e atitudinal. Ao ter de encerrar esta pesquisa, vejo- me lutando em vão com a escassez dos significantes, pois sei que não consegui colocar no papel todo o deslumbramento, o encanto e a surpresa que este estudo me proporcionou. Na verdade, embora meu objetivo fosse comprovar a coerência metafórica da gramática, eu não esperava encontrar tamanha coerência nem um sistema gramatical tão eficiente. A cada passo que dei em direção ao mapeamento da Construção Gramatical estudada, me surpreendi ao ver o entrelaçamento da gramática com as estruturas pré-conceptuais e conceptuais e os seus padrões de uso. É preciso dizer, entretanto, que esse sistema de coerência metafórica da gramática, visível e inegável, exibido pela Construção de Hiperbolização, só me foi dado a ver porque trabalhei com corpus, o que ratifica a eficiência da Linguística de Corpus como ferramenta de análise. As conclusões a que se pode chegar com esta pesquisa são muitas: a metáfora, inegavelmente, faz parte da linguagem cotidiana; a cognição influencia o uso e o uso, por sua vez, interfere na cognição; as estruturas estáveis do sistema conceptual recobrem-se de cores distintas, quando inseridas numa dada cultura; a metáfora, ferramenta cognitiva epistemológica, é capaz de originar a gramática. A gramática demonstra ser, pois, uma rede de 101 Para SALOMÃO (1999) a ênfase na acessibilidade da linguagem a seu uso aproximaria o programa sociocognitivo da tradição funcionalista, em especial as abordagens funcionalistas dedicadas à análise textual. 214 símbolos, que se origina na cognição, mas se tece, continuamente, na cultura, na medida em que é usada, cotidianamente, por sujeitos sociocognitivos. 215 REFERÊNCIAS BARCELONA, Antônio. (Ed.) Metaphor and metonymy at the crossroads : a cognitive perspective. Berlim/ Nova York: Mouton de Gruyter, 2003. BERG, B.; CHANG, N. Embodied Construction Grammar in simulation-based language understanding. In: OSTMAN, J.O.; FRIED, M. (Ed.) Construction Grammar(s): cognitive and across- language dimensions. Amsterdam/ Philadelphia: John Benjamins, 2005 BORBA, Francisco da Silva. Dicionário gramatical de verbos do português contemporâneo no Brasil. São Paulo: UNESP, 1991. BORODITSKY, Lera. Does language shape thought? Mandarin and English speakers conceptions of time. Stanford University. Cognitive Psychology 43, 1-22 (2001). Acessada em http://www. Idealibrary.com BYBEE, Joan. Frequency of use and the organization of language. Nova York: Oxford University Press, 2007. CHAGAS, Viktor H.C.S. A blague do blog. Rio de Janeiro: Secretaria Especial de Comunicação Social, Cadernos da Comunicação, V. 18, 2007 CROFT, William; CRUSE, D. Allan. Cognitive Linguistics. Cambridge: Cambridge University Press, 2004. CUNHA, Maria Angélica F. da; SOUSA, Maria Medianeira. Transitividade e seus contextos de uso. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007. DIRVEN, René; VERSPOOR, Marjolijn. Cognitive exploration of language and linguistics. Amsterdam/ Philadelphia: John Benjamins Publishing Co., 2004. FAUCONNIER, Gilles. ; TURNER, Mark. The way we think : conceptual blending and the mind´s hidden complexities. Nova York: Basic Books, 2002. 216 FAUCONNIER, Gilles. Mappings in thought and language. Cambridge: Cambridge University Press, 1997. FELDMAN, Jerome A. From molecule to metaphor: a neural theory of language. Cambridge: MIT Press, 2006. FELTES, Heloísa Pedroso de Moraes. Semântica cognitiva: ilhas, pontes e teias. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007. FILLMORE, Charles. On grammatical constructions. Text-book-in-progress. Berkeley: University of Califórnia, 1988. ___________. The case for case reopened. In: COLE,P.; SADDOCK ,J. (Ed.).Grammatical relations . New York: Academic Press,1977. FRIED, Mirjam ; BOAS, Hans C. (orgs). Grammatical constructions : back to the roots. Amsterdam/ Philadelphia: John Benjamins Publishing Co., 2005. GIBBS, Raymond W. Cognitive linguistics and metaphor research: past successes, skeptical questions, future challenges. In: D.E.L.T.A.: Revista de documentação de estudos em linguística teórica e aplicada, São Paulo: Editora PUCSP, Vol.2, especial p.1-20, 2006. GIBBS, Raymond W. ; STEEN, Gerard J. Metaphor in cognitive linguistics : selected papers from the fifth International Cognitive Linguistics Conference, Amsterdam,1997. Amsterdam/ Philadelphia: John Benjamins Publishing Co., 1999. GIORA, Rachel. Literal vs. figurative language: Different or equal? Journal of Pragmatics, Tel Aviv, n. 34, p. 487–506, 2002. GOATLY, Andrew. The language of metaphors . Londres/ Nova York: Routledge, 1997. 217 GOLDBERG, Adele. A construction grammar approach to argument Structure . Chicago e Londres: The University of Chicago Press, 1995. ___________. Constructions at work: the nature of generalizations in language. Nova York: Oxford University Press, 2006. GRADY, Joseph; OAKLEY, Todd; COULSON, Seana. Blending and metaphor. In: GIBBS, Raymond W. ; STEEN, Gerard J. Metaphor in cognitive linguistics : selected papers from the fifth International Cognitive Linguistics Conference, Amsterdam,1997. Amsterdam/ Philadelphia: John Be njamins Publishing Co., 1999. HAMM, H. Kamp. Frame semantics. In: RUPPENHOFER, J. et al., (2006). FrameNet II: extended theory and practice. Arquivo em PDF. Disponível em http://framenet.icsi.berkeley.edu/index.php?option=com_wrapper&Itemid=126 HEWITT, Hugh. Blog: entenda a revolução que vai mudar seu mundo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2007 HOPPER, Paul.J.; TRAUGOTT, Elizabeth Closs. Gramaticalization. New York: Cambridge University Press, 2003 ISRAEL, Michael. Polarity Sensitivity as Lexical Semantics. Linguistics and Philosophy, San Diego, n.19, p. 619-666, 1996. JAKEL, Olaf. Kant, Blumenberg, Weinrich: some forgotten contributions to the cognitive theory of metaphor. In: GIBBS, Raymond W. ; STEEN, Gerard J. Metaphor in cognitive linguistics : selected papers from the fifth International Cognitive Linguistics Conference, Amsterdam,1997. Amsterdam/ Philadelphia: John Benjamins Publishing Co., 1999. 218 JOHNSON, Mark. The body in the mind: the bodily basis of meaning, imagination, and reason. Chicago e London: The University of Chicago Press, 1987. KOMESU, Fabiana C. Blogs e as práticas de escrita sobre si na Internet. In: Hipertextos e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004. KÖVECSES, Zoltán. Language, mind, and culture : a practical introduction. Nova York: Oxford University Press, 2006. __________. Metaphor and emotion: language, culture, and body in human feeling. Cambridge: Cambridge University Press,2000. __________. Metaphor: a practical introduction. Nova York: Oxford University Press, 2002. LANGACKER, Ronald W. Cognitive grammar: a basic introduction. Nova York: Oxford University Press, 2008. LAKOFF, George. Women, fire and dangerous things : what categories reveal about the mind. Chicago e Londres: The University of Chicago Press, 1987. LAKOFF, George ; JOHNSON, Mark. Metáforas da vida cotidiana. Trad. Grupo de estudos da Indeterminação e da Metáfora (GEIM). Campinas: Mercado das Letras: São Paulo: EDUC, 2002 [1980]. __________. Philosophy in the flesh: the embodied mind and its challenge to western thought. Nova York: Basic Books, 1999. LIMA, Paula Lenz Costa. About primary metaphors. In: D.E.L.T.A.: Revista de documentação de estudos em linguística teórica e aplicada, São Paulo: Editora PUCSP, Vol.2, especial p.109-122, 2006 219 MANDELBLIT, Nili. Grammatical blending : creative and schematic aspects in sentence processing and translation. Ph.D. Dissertation. San Diego: University of California, 1997. MARCUSCHI, Luís Antônio. A propósito da metáfora. In: Fenômenos da linguagem: reflexões semânticas e discursivas. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007. MIRANDA, Neusa Salim. Gramaticalização e Gramática das Construções - algumas convergências, um estudo de caso: as construções negativas superlativas de ipn. Relatório de pós-doutoramento. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2008. __________.Construções Gramaticais e metáfora. Revista Gragoatá, no 26, Niterói, 2009. __________.Domínios conceptuais e projeções entre domínios: uma introdução ao Modelo dos Espaços Mentais. Revista Veredas, no 3, Juiz de Fora, 1999 MIRANDA, Neusa Salim; SALOMÃO, Maria Margarida M. (org). Construções do Português do Brasil: da gramática ao discurso. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009. NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do Português.São Paulo: Editora UNESP, 2000. ORTONY, Andrew (Ed.). Metaphor, language and thought. In:______. Metaphor and thought (second edition). Cambridge: Cambridge University Press, 1992. RUMELHART, David E. Some problems with the notion of literal meanings. In: ORTONY, Andrew (Ed.). Metaphor and thought (second edition). Cambridge: Cambridge University Press, 1992. 220 PETRUCK, Miriam R.L. Frame Semantics. Berkeley: University of California, 1996. Disponível em framenet.icsi.berkeley.edu/papers/miriamp.fs2.pdf SADOCK, Jerrold M. Figurative speech and linguistics. In: ORTONY, Andrew (Ed.). Metaphor and thought (second edition). Cambridge: Cambridge University Press, 1992. SALOMÃO, Maria Margarida M.Teorias da linguagem: a perspectiva sociocognitivista. In: Construções do Português do Brasil: da gramática ao discurso. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2009a ___________. Tudo certo como dois e dois são cinco: todas as construções de uma língua. In: Construções do Português do Brasil: da gramática ao discurso. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2009b ___________. O processo cognitivo da mesclagem na análise linguística do discurso. Projeto Integrado CNPQ 350310/95-5: texto arcabouço. Juiz de Fora: UFJF. Inédito, 1997. ______ . A questão da construção do sentido e a revisão da agenda dos estudos da linguagem. Revista Veredas, Juiz de Fora, v. 4. n.1, p. 61-79, 1999 SARDINHA, Tony Berber. Metáfora. São Paulo: Parábola Editorial, 2007. __________. A linguística de corpus. São Paulo: Manole, 2004 SILVA, Antônio Soares da. O mundo dos sentidos em português: polissemia, semântica e cognição. Coimbra: Edições Almedina, 2006. ______. A Linguística Cognitiva: uma breve introdução a um novo paradigma em linguística. In: Revista Portuguesa de Humanidades. Braga, v. I, p. 59-101, 1997. SCHITTINE, Denise. Blog: comunicação e escrita íntima na internet. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. 221 SINCLAIR, John. Developing linguistic corpora: a guide to good practice- corpus and text: basic priciples. Tuscan Word Center, 2004. Acessado em http://www.ahds.ac.uk/creating/guides/linguistic-corpora/chapter1.htm STEEN, Gerard J. Metaphor in applied linguistics: four cognitive approaches. In: D.E.L.T.A.: Revista de documentação de estudos em linguística teórica e aplicada, São Paulo: Editora PUCSP, Vol.2, especial, p.21-44, 2006 SWEETSER, Ewe E. From etymology to pragmatics : metaphorical and cultural aspects of semantic structure. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. TALMY, Leonard. The windowing of attention in language. In: SHIBATANI, Masayoshi; THOMPSON, Sandra. (eds) Gramatical Constructions : their form and meaning. Nova York: Oxford University Press, 1996. p. 235-287 ________. Force dynamics in language and cognition. Cognitive Science.v.2, p49-100, 1988. TOMASELLO, Michael. Constructing a language : a usage-based theory of language acquisition. Massachusetts: Harvard University Press, 2003 ______. First Verbs : a case study of early grammatical development. Cambridge: Cambridge University Press, 1992 ______. Origens culturais da aquisição do conhecimento humano. Trad.Cláudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2003 [1999] VALENZUELA, Javier; SORIANO, Cristina.Conceptual Metaphor and Empirical Methods. BELLS (Barcelona English Language and Literatures), Vol. 14, 2005 VALENZUELA, Javier. What empirical work can tell us about Primary Metaphor. University of Murcia. 2007. Arquivo em PDF. Disponível em: http://www.um.es/lincoing/jv/In%20press%20Empirical%20view%20at%20Primary%2 0Metaphors.pdf 222 VEREZA, Solange Coelho. Literalmente falando : sentido literal e metáfora na metalinguagem. Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense, 2007. _________. Metáfora e argumentação: uma abordagem cognitivo-discursiva. Revista Linguagem em (Dis)curso, volume 7, número 3, set/dez. 2007. WHITE, Peter R.R. The origins of appraisal theory and the SFL model of Tenor. Sydney: University of New South Wales, the Appraisal Website: Homepage : http://www.grammatics.com/appraisal/index.html ZANOTTO, M.; MOURA, H.; NARDI,M.; VEREZA, S. Apresentação à edição brasileira. In: LAKOFF, G.; JOHNSON,M. Metáforas da vida cotidiana. São Paulo: Mercado das Letras, 2002. 223 ANEXO A - PLANILHA DE ANÁLISE Legenda: OT: ocorrências totais; OD: ocorrências destransitivizadas; CGH: Construção de Hiperbolização; SP: sintagma preposicional OT VERBO ABAFAR 16 TIPOS DE SN OBJETO seu eco, cpi´s, o caso, uma balada, a caixa da bateria, as vozes das mulheres, as últimas palavras, o cozimento, essa dorzinha besta OD CGH SP SENTIDOS ENCONTRADOS OBS 5 4 0 cobrir para conservar o calor; encobrir, ocultar, esconder, disfarçar; impedir de ser ouvido, amortecer, abrandar existe dicionarizada a expressão “abafar a banca” cujo significado é “fazer sucesso maior do que qualquer outro indivíduo” ocorrência ambígua: “ele não faz a marcação, faz presssão, cutuca, espinafra, invade, abafa” . ABALAR 45 as estruturas 3 , me3 , minha auto-estima,a imagem romântica, se7 , os jagadores, 2006, o circuito, o mundo, o conceito dos brasileiros, a cidade, qualquer um, mulheres a todos nós o planeta, o futebol, a visão que..., as economias do casal, a bilheteria, o brasil, a vida de alguns..., a imagem do diego, sâo paulo, o mercado de moda brasileiro, nossos alicerces,estruturas velhas; nossas estruturas; a expectativa de que. 3 3 na geral; diminuir ou tirar a firmeza de ; causar abalo físico a; causar abalo emocional a; ficar abatido, prostrado (pronominal, indicando processo); sair em disparada ANIQUILAR 8 os; muitas das certezas técnicas; a própria razão de ser do poder judiciário; la; o verso; o mais ligeiro traço; os efeitos negativos da primeira 1 0 0 destruir APAVORAR 8 me, se2 , nos 2 1 0 ARRASAR 65 o brasil, o duque de caxias, o paraguai, o palmeiras, a seleção universitária, o mengão, a rússia a república tcheca, pernambuco, o canavial, o rio de 53 51 em desfile, no pan, por todos os gramados, na são paulo causar pavor a , amedrontar-se (sujeito experimentador) destruir, demolir, devastar; abater, humilhar,arruinar,arr uinar-se,abaterse,humilhar-se existe dicionarizada a expressão “abalou bangu”. considerei “abalou geral” como uma CGH sendo geral um adverbio de intensidade. o sentido literal (+ concreto): diminuir ou tirar a solidez de , fazer tremer, agitar, não foi encontrado em nenhum dos exemplos: o teremoto abalou todos os prédios do bairro. encontrada a construção :sandra arrasa com a vida de jorge em páginas da vida. 2 ocorrências da expressão de arrasar janeiro, várias construções, o pedaço, me, ARREBENTAR 40 a itália, o caixão, a porta, a parte estrutural da praça, cercas, a madrugada, a sapucaia, coração, os pulmões, a cara de cada um, a estrutura do evento; limites; se 21 16 fashion week, nas deanceteri as do rio de janeiro, no brasileirão , por aí, no papel de travesti, na balada, em porto alegre, no estádio do pacaembu, na nova novela da globo, nas pistas de gelo, nesse novo ano, nesse filme, no disney channel, nas quadras, no mada, no festival mada 2007, no cinema, na laje, de calcinha, no bling, na divulgaçã o, no teatro de livro em jk, nos comentári os dos jogos, no conto, nas páginas de o globo, na revista do new york times, nas bilheterias dos eua, contra roma,na execução de clássicos do brega; considerada cf. de arrepiar, ou seja, locução adjetiva. a expressão “ arrasando o pedaço” , embora com od mantém o sentido da CGH. quebrar, partir com violência; desgastar fisicamente, danificar, arruinar, partir-se (processo, sujeito paciente) foram encontradas construções com a preposição com: 1. óbvio, arrebentou com o bush; 2. quero matéria arrebentando com a diretoria da ferroviária, principalmente o presidente;3. a máquina hipócrita de gentes arrebentaram comigo. também apareceram os idiomas arrebentar a bola do balão e mandar prender e arrebentar. há também o uso no último domingo ARREGAÇAR 8 o brasil; a minha pulseira; as mangas 5 1 1 0 destruir; abrir com violência ATROPELAR 48 5 2 por fora empurrar; vencer no esporte com larga vantagem; passar por cima,desprezar; derrubar com impacto; confundir,baralhar. ARREPIAR 23 1 1 no batuque fazer eriçar-se; causar arrepios AVASSALAR 3 0 0 0 dominar, oprimir; destruir BARBARIZAR 5 te; tudo;um processo; as próprias montagens;o teu grande amigo;as instâncias inferiores; os venezuelanos;os bicampeões; lúcio flávio; o fluminense; as leis; o estatuto; o caracas; alguém; os outros; ninguém; me; algumas pérolas da mpb; didi; um cachorro; se; as instâncias;garantias institucionais; nossa vida;os demais; os outros instrumentos;uma harley fatboy; lhe; a coerência; eles; lo;um dos alunos; ciclistas; pneus e populares; as palavras; qualquer teoria; a imaginação; os cabelos 2 , me7 , se, os cabelinhos da nuca, nos, os trouxas dos burgueses, qualquer vivente, lembrar retumbante silêncio nos; meu pobre coração; a nascente grade de programação da rede record os corredores globais, o trânsito 3 2 nas seletivas dos jogos agitar para chamar atenção; cometer barbárie BOMBAR 57 a festa do ator, esse tipo de loja, a sexta série 54 54 por aqui, por aí,em audiência, no rio, na campanha presidenci al, na internet, de adolescent es entre 12 e 17 anos, no brasil, aos repetir a série escolar; lotar; soar alto; fazer repercutir intransitivo: pena que a corda arrebente sempre do lado mais fraco 5 ocorrências do idioma “arregaçar as mangas” e um caso ambíguo “o bicho vem que vem arregaçando” das 51 ocorrências, 20 instanciam a expressão “de arrepiar”, considerada uma locução adjetiva ocorreu uma construção destransitivizada, porém com objeto recuperável 2 ocorrências transitivas mas com sentido da CGH : “a animadora promete bombar a festa do ator”; “quem começou a bombar esse tipo de loja” BOMBARDEAR 10 CAUSAR 59 a área; essa empresa; munique; uma guerra figurativa; o wtc; os eua; seus consumidores; nossas crenças; duas firmas; as mentes me; câncer,paranóia ou delírio; pânico,acidentes; muito impacto;espanto;danos irreparáveis; confusão; grandes emoções; maiores preocupações; a cicatriz; muito mais preocupação; emoção mesmo; estupefação; o lance mais agudo; mais prejuízos; duas reações iradas;forte irritação; polêmica; ódio; uma crise criativa grave; mais estragos do que prazer; surto de ciúmes; hipertensão, altos níveis de colesterol ruim e diabetes; diarréia,dor e inchaço abdominal;o mal; a redução de 40% a 100% na maioria dos tumores; a doença; inflamações e superprodução de células da pele; a febre; decepção ou surpresa; a primeira decepção; mais câncer oral; essa turbulência diplomática; frisson; 0 0 domingos pela manhã,co m celulares 3g,nas suas atividades teatrais, nas lojas e na mídia,nest e fim de ano, nas rádios, nos eua, no próximo fashion week, nas lojas 0 1 1 0 lançar bombas ou projétis; criticar, atacar; ser causa de; originar, motivar, provocar fora da cghs não houve nehuma destransitivização DETONAR 55 DESTROÇAR DESTRUIR 2 124 conflitos; ainda mais constrangimentos; um estrago muito maior à democracia; grande preocupação preocupações e temores; a suposta turbulência do alemão; seu quase afogamento; a morte de inúmeras pessoas; uma atmosfera onírica; obstrução; essa dificuldade de gravidez; algumas surpresas; problemas; ruido; muita dor; uma estafa; o lula 2 , o lindo conceito de ponte aérea, ele, nosso anti-herói, me6 , o uruguai, homens que usavam pochete...,a noite, os muros, o namoro que não tem, a parada, lugares e pessoas, o otaku, sua militância mais do que conservadora, galileu galilei, o governo anterior, o jango, cada pedaço do mundo que não rezar na cartilha deles,uma ampla campanha contra os quadrinhos, as duas primeiras denúncias...,o triângulo formado por íris, diego e fani,o trio, toda e qualquer oportunidade de uma relação amorosa, fani, a borracha, as belas crias das nossas costelas, meu marido, “júnior”, 2 filhos de francisco,seus explosivos, a revolução americana, antônio pizzonia, barrichello, os pneus, o finlandês, a argentina, os seus dentes, celebridades, o filme, o otimismo do lula,se, uma revolução nas ondas do rádio brasileiro vocês, os bandidos as propriedades anticâncer desses vegetais, las [células], neurônios, novas células nervosas, se, o outro, o planeta , a 7 4 nestes testes deflagrar; explodir; estragar; falar mal, criticar; vencer no esporte 0 14 0 0 0 0 destruir fazer desaparecer, arruinar, causar a destruição, anular, ocorrência de uma c ambígua: daniel dantas detonando. não foi possível acessar o contexto todas as ocorrências intransitivas mantiveram o mesmo sentido e seus objetos puderam ser democracia, nosso mundo, tudo, os prédios da burguesia, apenas patrimônio como a varig, qualquer prazer, a reputação de outra pessoa, a dignidade das famílias, a varig, todas as nossas desesperanças, esse muro, nos, anos e anos de integração de culturas e cleros,aquilo ali, me, a alma do ser humano, o grêmio, os radicais livres, substâncias chamadas isotiocianatos, , o templo original, o filme, hysteria lane, o coitado,a torre eiffel, os milharais, características e cronologia anteriores,o local, o conceito republicano..., o ministério público federal, reputações, o acervo processual,qualquer possibilidade da gente ser feliz, quem fazia sucesso, a eficácia do trabalho de profissionais...,qualquer pessoa ou coisa, um país inteiro, nossas esperanças de classificação, rob gallo, vidas, as famílias e os estados, as bananas do quintal, provas, tudo o que escrevi, meu próprio trabalho, o universo, o caráter absoluto, a nave similar columbia, muralhas,corações, o invasor, nossas emoções, nosso ego, uma posição conquistada, as horcruxes, te; o cinema, a música, o teatro, a literatura, a culinária da américa latina, uma via, a si mesmo, a população negra; parte da estrutura da categoria, uma das plenamente recuperados ESCULACHAR ESTOURAR 0 69 ESTRAÇALHAR 4 EXPLODIR EXTERMINAR modalidades esportivas mais fantásticas...; o circuito de interlagos,um carro, mais de 10000 livros,um bolo,o que nossos corações sentem, o planeta, o sonho dourado ...;o estande da impala cosméticos, o espetáculo, tudo que mais gosta, a máquina, a natureza, a violência, nossa vida, o equilibrio emocional da pessoa atacada; o ídolo; você 0 fogos; os meniscos; o limite de caracteres; o seu cofre; o limite de comentários; os rojões; a balança; bombas;seus fogos; suas champagnes;se; uma bola de chiclete; as pregas do rabo; pipocas;silicone 0 47 0 18 tudo,a platéia, nos 1 1 104 o mundo,sangue,o travessão, se, la (a bomba), lindeza de vida,me, a favela da grota, prédios, o parlamento, as emissoras, o coração,os ventos, o travessão de bosco;nos 79 10 8 os índios; os seguidores do beato; a humanidade; as células normais do organismo; 0 0 0 na internet; nas paradas de sucesso; no brasil inteiro; nas rádios; com os hits breakawa y...; na europa; no brasil inteiro; com os personage ns dos “sobrinho s” em sua coluna semanal 0 ribombar; arrebentar; exceder; vir à tona com estrondo, escândalo; bater com força; aparecer de repente 0 todos os sujeitos que participam da CGH São artistas ou atividades artísticas. 1 ocorrência do idioma estourou a boca do balão. causar grande impacto com nossa arte fenomenal , desde 2000, nestas regiões, no ibope, na atual fase do sbt 0 estilhaçar,ficar demasiadamente cheio, esparramar por toda parte, detonar, falar com agressividade, aparecer com estardalhaço, bater com força em algo, extravasar emoção, acabar com, fazer desaparecer segundo borba, indica processo, com sujeito paciente, expresso por nome humano e significa sair-se bem, ter grande sucesso: robertinho estraçalha no jogo. 79 ocorrências intransitivas, 16 com od e casos ambíguos. será que este verbo é prototipicamente transitivo? a banda explodiu é o mesmo caso de ivete explodiu com poeira? muitas dúvidas neste verbo... FULMINAR 9 FUZILAR 19 HUMILHAR 18 INCENDIAR 17 LIQUIDAR 26 MALTRATAR 8 MASSACRAR 8 esse segundo ogro; se; a subjetividade; lo o profeta e o bandido; o gol tricolor; valdir perez; a pretensão; a lei de improbidade; o instituto; a pretensão do procurador; a loucura do amor o gol, me 2 , o, rob gallo, a treva; um rebote de bola me3 ,pessoas,uma mulher em rede nacional, a filha,ninguém,seu exparceiro, kanapkis, black red, joaquim wayne,se, os suspeitos, o, a imagem de jeremias,os que erram muito, o estado uma piscina; povoações; o prédio do forum; o corpo; os debates éticos; nossas betoneiras; as pistas de dança; o policial preso; a sitcom; o apartamento; as linhas do mapa; a casa da mentira; tudo uma dívida; a dívida; parte dos seus ativos; a fatura; um clube; a partida; com a equipe campineira; o jogo; o (o jogo); la; com o vasco;o povoado; a polônia; a forma mais democrática, barata...de propaganda política; a carreira do promotor; os animais; a tal porta; santo antônio; um violão; os gatos pretos; o idoso; um idoso o corínthians; o real potosi; a mídia; meus amigos; se; os adversarsários dos torneios interzonais; milhões de seres humanos; as demais etnias 1 1 na saída do goleiro chutar com força; matar com violência; destruir; 12 11 chutar para o gol com violência, lançar olharcom expressividade, destruir esse verbo só aparece nos dados na moldura do futebol. nesse caso é CGH? 2 0 para fazer 2 a 0; para fazer 3 a 0; para marcar; para fazer 1a 0; por cima 0 tratar com desdém; tripudiar, colocar em situação vexatória duas ocorrências intransitivas com objeto recuperável 4 2 1 atear fogo; agitar; acender o desejo; tornar a discussão acalourada. 0 0 0 1 0 0 infligir maus tratos a; tocar mal um instrumento 1 1 1 matar com crueldade; vencer no esporte; pôr em situação embaraçosa, penosa ou humilhante; falar mal MATAR 304 Odete Roitman; Bob Kennedy, seu filho, seu irmão, a Sharon... 15 10 METRALHAR 7 1 0 atacar com tiros de metralha; abrir fogo contra; criticar duramente TRITURAR 6 os vegans; aqueles cujos espelhos não refletem suas virgens; o; joaquim wayne; a platéia as; o paraguai; joaquim wayne; as folhas; a bolacha de leite 0 0 TRUCIDAR 6 o adversário; inimigos; rob gallo; las 2 0 moer; magoar, atormentar; vencer no esporte com larga vantagem matar cruelmente; destruir; vencer no esporte com larga vantagem. Aos 10 minutos; com alta categoria; em cheio; a pau; a pau Causar a morte ANEXO B – CONSTRUÇÕES GRAMATICAIS DE HIPERBOLIZAÇÃO ENCONTRADAS NO CORPUS BLOGS UOL (189 tokens) ABAFAR 1. quer dizer eu é Francisco , fomos cortar o cabelo hoje , adoro , ele que é lindo ficou mais gato é eu abafa!!!!!beijos especiais no Tiago Parente , meu amigo e cabelereiro.Eu sei que eu sou , bonita e gostosa!!!!!!!minha face! 2. Residindo há mais de ano na Alemanha , onde abafa fazendo shows de segunda a domingo num cabaré em Hamburgo , ele irá aproveitar bem sua breve estada por aqui : participará de temporadas com o Canal Três , a partir de 8 de fevereiro no Teatro Tim , em Campinas e a partir de 20 de fevereiro no Teatro Folha , em São Paulo . 3. Ele não faz a marcação , faz pressão , cutuca , espinafra , invade , abafa . 4. Se elas não estão abafando as irmãs Willians como sempre estão passeando . ABALAR 5.Tsonga veio para abalar , cuidado com ele Antes de mais nada tenho que dizer que estou me matando de rir das respostas da promoção do meu livro , são mais de 140 , uma melhor que a outra . 6.Gerald , vc abala na geral , no camarote e no estoicismo bárbaro do poeta solitário , do dramaturgo afoito , do ser humano único . 7.Abalou geral . APAVORAR 8.Já o que chega apavorando , geralmente me deixa chupando o dedo.A pergunta seguinte foi se orgasmo vaginal existe ou se é utopia . ARRASAR 9. Ìris arrasa mais uma vez em desfile em São Paulo 10. E essa temporada se fecha com uma Fabiana Gugli arrasando , atriz magistral como ela só , com o seu Juliano Antunes e uma compania nova que achei nos montes dourados de São Paulo , com seus Panchos uruguaios e seus Fabios e todos esses atores que não verei mais depois de amanhã...que loucura meu deus . 11. Não viu Marta e suas companheiras arrasarem no Pan e não entendeu que esta frase é um grito de socorro de quem morre de medo do espaço homoerótico que é o futebol . 12. Vi Zico ser chamado de jogador de Maracanã e depois arrasar por todos os gramados em que pisou . 13. calcinhas velhas , sem elásticos e feias jogadas no lixo 1 camisola de bichinho que nos anos 90 usei como modelo no VMB e achei que arrasei . 14. Lindeza de espetáculo , fui com meu pai relembrando a primeira vez que ele me levou ao maior do mundo para ver a histórica vitória do Fogão sobre o Flamengo por 6x0.O Botafogo começou arrasando , em 20 minutos havia feito 3 gols , parecia que vinha uma mega goleada . 15. Arrasa , bi! 16. Afroreggae arrasou. Afroreggae , grupo que atua em quatro favelas do Rio de Janeiro , combatendo a miséria , ignorância e a criminalidade com arte e educação , estreou ontem e simplesmente ar-ra-sou na São Paulo Fashion Week 17. Enquanto minha geração arrasava nas danceterias do Rio de Janeiro , eu e meus amigos frequentávamos as rodas de samba , subíamos o morro para ouvir , em barracos apertados , violões que varavam a noite em parceria com o cavaquinho e o pandeiro 18. Pense que a sandália é a peça mais importante do seu traje , assim não precisa combinar com nada , camisas , camisetas e blusas de cores neutras são as mais indicadas , mas nada impede que vista uma camiseta com estampa discreta e , se quiser arrasar , um vestido preto com certeza a deixaria muito elegante . 19. O maior inimigo do campeão Paulista e da Libertadores , arrasando no Brasileirão!"Para quem não lembra ou não conhece dos quadrinhos ou do desenho dos Super Amigos,o Bizarro era a cópia imperfeita do Superman.Era exatamente o contrário de tudo que o Superman representava e fazia.Aí a explicação do Tricolor atual . 20. E claro , as perguntas de sempre:- E aí Dê , como anda o coração? - Tá namorando? - Arrasando muito por aí? - E os bofes? 21. E porque tem o Cillian Murphy que arrasa no papel de travesti . 22. Nós éramos ótimos ( nas nossas cabeças ) e estávamos super prontos pra arrasar com o Roland . 23. Arrase na balada! 24. Ela , que já arrasou em Porto Alegre e Curitiba , faz hoje um showzaço no Rio de Janeiro e , domingo , arrasa no Estádio do Pacaembu , em São Paulo. 25.Ele já era lindo novinho ( interpretado por William Moseley ) e arrasou depois de uns anos! 26. ddie Vedder , então , o vocalista , com seu carisma , sua performance de arrasar e aquele vozeirão conquistou todo mundo que pôde curtir um dos cinco shows que fizeram aqui no Brasil . 27. Afinal , ele está arrasando ( em todos os sentidos ) na nova novela da Globo , concorda? 28. Claudia Ohana machucou as costas , Lucimara Parisi torceu o pulso e precisou engessar , Deborah Secco quebrou duas costelas... Mas mesmo assim , arrasou nas pistas de gelo! 29. 2008 chegou com tudo , e a galera aqui da redação está superanimada pra arrasar nesse ano novo! 30. Ele arrasou nesse filme... como sempre! 31. Em junho , eles vão arrasar no Disney Channel com o filme Camp Rock ( no maior estilo High School Musical ) . 32. É claro que ela ainda arrasa nas quadras dando aulas , ensinando e incentivando muito mais gente... (24) 33. Dossiê Rê Bordosa , arrasando! 34. Sabe que arrasa . 35. Apresento a vocês mais um brega-blog de qualidade que já começou arrasando : Revival!!! 36. Agora , os caras já se apresentaram no Clube do Brega da Tv Diário , arrasaram no Mada e foram citados no jornal O Globo. 37. E a maior banda de brega da Via Láctea e arredores , Belina Mamão , simplesmente arrasou no Festival Mada 2007 . 38. Quer arrasar? 39. Arrasa! 40. Arrasamos! 41. Olha os Amigos arrasando no cinema! 42. Sad Christmas , pra variar , arrasou. 43. Depois , Pra Que Dizer... também arrasou . 44. Eu não uso essa sandalinha vagabunda , mas se eu fosse pobre , ia arrasar na laje!..." 45. A Thereza não fez UM ENSAIO , e ARRASOU! (37) 46. Quem esta arrasando é a modelo Flávia de Oliveira , a única Brasileira a fazer Valentino . (38) 47. Fiquei passada com a capa da V nova : a Demi Moore arrasando de calcinha . 48. Para as magrinhas : arrasem porque esse modelo foi feito para vocês! 49. Do Outro Lado do Muro” : Rua Estados Unidos , 2.109 realmente arrasou! E Oliveros , vc 50. Arrasando no Bling... 51. Heroína E a Playboy Francesa ( aqui ) continua arrasando... 52. O filme novo dela deve ser um porre ( Iron Man , sorry ) , mas ela está arrasando na divulgação . 53. O Xico Sá arrasa . 54. A atriz Renata que arrasou no Teatro de Livro. 55. Sim , Marcelino e Fabiana Cozza arrasam! - depois não vai me dizer que não viu... 56. Assim como o óbvio sempre é ululante , as férias sempre são merecidas , as atrizes sempre são belas , na passarela todos arrasam , nas festas os famosos brilham . 57. Pantanal arrasando. Praticamente o tempo todo em 2o. lugar.A globo , claro , em primeiro . 58. Claro que Hollywood sempre privilegiou a beleza e neste quesito , Diane arrasa . (50) ARREBENTAR 59. LUIS MELO ARREBENTOU EM JK Olá internautas , O melhor programa da Rede Globo , a minissérie JK , possui um dos melhores atores do país . 60. Arrebentou . 61. Eu só sei que Waldick Soriano arrebentou . 62. ah , e o pessoal da arte gráfica que está arrebentando e se divertindo muito ( o que é o mais importante ) como se vê com a imagem das "velhinhas metralhas" que vai ao ar nesta próxima quinta com os comentários de vocês sobre bingo . 63. Vocês estão arrebentando nos comentários dos jogos . 64. No Manchester , na minha opinião , o melhor time da atualidade , a dupla Cristiano Ronaldo e Rooney vem arrebentando . 65. Este último publicou até uma chamada intitulada “Gabriel Ramalho está arrebentando no conto” . 66. 15/05/2005 LEITURA DE DOMINGO 2 Zé Dirceu arrebentando nas páginas de O Globo . 67. LEITURA DE DOMINGO Oscar Niemeyer arrebentando na revista do The New York Times . 68. Chico gargalhando , Edu arrebentando , lindas moças cantando... 69. Segundo a colunista MÔnisa Bergamo o cachê de SJParker teria sido de 600 mil dólares.O longa metragem está arrebentando nas bilheterias dos Estados Unidos , Canada e Inglaterra . 70. Mais uma vez estará lado do Kaká e Ronaldo , que também arrebentaram no último domingo . 71. Vale a pena curtir o programa todo pois os caras arrebentam e nós somos muito fãs do trabalho deles . 72. Em suas apresentações , eles arrebentam na execução de clássicos do brega de seus maiores ídolos ( Carlos Alexandre , Reginaldo Rossi , Alípio Martins , Amado Batista , Odair José , Lindomar Castilho ) , e “ídolas” ( Eliane , Núbia Lafaiet , Jane e Erondí , Diana e outras ) . 73. Em primeiro lugar quero parabenizar, quero enaltecer e dizer, OBRIGADO DUPLA. Vocês arrebentaram este ano. 74. A primeira temporada de quadras rápidas do ano terminou, sem dúvida o Nadal passeou, o Federer naufragou, o Djokovic oscilou e o Murray arrebentou. ARREGAÇAR 75. O bicho vem que vem arregaçando. ARREPIAR 76. E o maravilhoso Estrela Brilhante , de Nazaré da Mata , comandando pelo talentoso Mestre Siba , ele mesmo , ex-band leader do Mestre Ambrósio.Como se isso ainda fosse pouco , nos intervalos entre um maracatu e outro , ouvíamos Mestre Lua e a molecada daquele bairro , o Tabajara , arrepiando no batuque. ATROPELAR 77. E , com cinco pontos de diferença , tem o Goiás , que ATROPELA por fora . 78. De repente , Kassab ATROPELOU – e , de certa forma , ocupou o espaço na reta de chegada e se transformou num fato novo e relevante. BARBARIZAR 79. E barbarizou nas seletivas dos Jogos . 80.Tinha almoçado numa birosca por ali , perto da facul e foi dar o rolê na clara intenção de barbarizar. Depois de um tempo andando foi ao WC . BOMBAR 81. O ator revolucionario esta naquele que nao esta treinado com os truques repetitivos , assim como o politico revolucionario esta bombando e metendo medo por nao estar TREINADO a se “safar” atraves de jargoes.Obama nao vai ter vida facil ate novembro.O Brasil se perpetua atraves de uma CORJA patetica govervanemental e nem ague nto mais falar sobre isso : mas ai , nas capitais brasileiras , que brincam que serem refugios de 1 mundo , nao passam de um 3 mundo corrupto,O taxista que me trouxe , negro , investidor imobiliario , me chocou : “Nao gosto do Obama : gosto da Hillary . 82. SE QUISER , DÊ UMA OLHADA NOS OUTROS LUGARES , POIS ESTE BLOG ESTÁ BOMBANDO DEMAIS , E REALMENTE NÃO SEI AONDE POSTEI . 83.As pecas no Rio estao bombando! 84. Semana que vem tem Noite Preta em clima de romance dia dos namorados!!quem tiver namorado leva no show e quem não tiver , se joga que a Noite Preta bomba!!! 85. A todas as meninas que são fãs da Ivete é que hoje eu posso dizer que são minhas também.E obvio aos meu fieis fãs os da CARTEIRINHA!!!!!!amo vocês demais!!mulher Rodizio bombou hoje foto by Hellen Camargo Gil Fernandes 86. Noite Preta bombando! 87. Mas a viação 1001 continua bombando A festa estava bombando , a galera pirando e rolou até "Cowboy Viado" ( rsssssss ) 88. Comprei montes de delicinhas exóticas fabricadas aqui , na Tailândia e Malásia , como bananas seca em forma de panqueca ou refrigerante de chá semente de manjericão.Antes de dormir passei na única boate da cidade , que fica no nosso hotel , o Lodge Club.Como tudo , fecha à meia-noite por lei às 21h30 estava bombando 89. Café do Largo de São Bento bombando 90. Eles formam um trio com menino de 16 anos , interpretado pelo George Saumo – presta atenção nesse garoto que ele vai bombar . 91. Como a agenda já está bombando completamente ( muitas , muitas novidades a caminho ) vou ter que esperar até semana que vem para começarem a sair roteirinhos , pra quem estiver pensando em viajar para aqueles lados . 92. A revista está mesmo bombando por aqui . 93. A Rádio está bombando em audiência . 94. Ao que tudo indica , o ano vai bombar... 95. Será que dessa vez bomba no Rio? 96. SP BOMBANDO A Bienal começa e traz junto com ela a Mostra Paralela , no próprio Ibirapuera , tudo de graça... todas as galerias da cidade abrem as portas , festas mil... e como se não bastasse , o mais sensacional guitarrista de blues desse planeta , BB King , está na cidade se despedindo em sua turnê mundial . 97. Neste final de semana , São Paulo está bombando . 98. Abaixo publico video do Barely Political , programa satírico sensacional que está bombando na campanha presidencial norte-americana que , como o CQC , também usa imagens de outras emissoras para comentar as notícias . 99. O orgasmo bombou O dia do orgasmo animou a turma do blog : alguns partiram para a prática , uma bióloga quer me ensinar o ponto G e o André do Bic Toons inspirado pelo post produziu a tirinha acima . 100. Estávamos no centro de Paris e nos contaram que tinha uma baladinha chamada VIP que “bombava”, como éramos filhos de deus fomos dar uma conferida. Realmente o lugar era show. Na entrada a primeira pessoa que encontramos é o cantor Prince e uma bengala de oncinha. Olhei pro Guga e disse, que pico é esse Gugão? 101. Estúdio Coca-Cola bombou e fez Rio Preto tremer! 102 .Bin Laden do Brega vai bombar na Internet Atenção , George W. Bush . 103. Pedra Letícia : mais uma banda de brega rock bombando na Internet Há uma banda de rock brega que anda se disseminando como vírus pelos youtubes da vida , blogs e congêneres . 104. Quanto mais acessos tiver , mais chances tem a coluna de se tornar um canal á parte e assim o adoteumgatinho conseguir ajuda com patrocínio e nossos gatinhos terem uma vida melhor.Conto com todos vcs pra fazer a coluna bombar hein? 105. E a campanha AtrêVida - Faça Diferente bombou!!!! 106. Tem algum baobá bombando por aí?! 107.VAMOS BOMBAR! 108.uma das marcas jovens que está dando o que falar , principalmente porque o estilista da marca , Henry Holland , não tem nenhuma formação em moda ( ele trabalhava na revista teen inglesa Bliss ) e por ser o melhor amigo da modelo ( que também está bombando ) Agyness Deyn . 109. Sucuri Sucuri E as fotos do Cobrasnake da festa da Zapping bombaram tanto que saíram até no site LA Weekly ( misturadas com algumas de Buenos Aires ) ... Para conferir clique aqui . 110. Pelo visto , no inverno que vem ( ou até agora nesse frio que ta fazendo ) as botinhas de Cowboy vão bombar! 111. Engraçado que essa peça bombou tanto , mas tanto – já falei dela aqui ( 25/06 ) e aqui ( 26/08 ) – que não a suporto mais ( rs ) , mas AMO esse editorial 112. começará a bombar : postaremos todos os dias informações sobre o evento , curiosidades , discussões e bobagens , claro – afinal , ser de ferro é para o robocop e sempre temos que gerar polêmicas para animar a cerveja . 113. Madonna está bombando no Brasil . 114. Mas quem está realmente bombando , de novo , é o Construindo um Sonho do Gugu.Encostando na Globo , com 21.8O grosso da audiência gosta disso , dramas pessoais e assistencialismo . 115. Padoca com garoa A garoa estava tão pulverizada e o vento , gelado , que até a padaria que costuma estar bombando aos domingos pela manhã estava razoavelmente vazia 116. Vai bombar HBO exibirá documentário sobre Obama produzido por Edward Norton . 117. Aqui no link você vê o chat bombando também . 118. A tecnologia bomba com celulares 3G , roupas inteligentes.Vou tentar esquecer tudo isso caminhando até a aula de Pilates.Das 9 às 10 , vai ser a hora do egoísmo . 119. A internet deve estar bombando . 120. É compreensível e normal que após um programa que bomba , o próximo deixe a desejar . 121. Duas festas , uma da Claro e outra da Vivo, as duas operadoras que vão oferecer o aparelho aos seus clientes , bombaram! 122. O nosso horário , no na virada do sábado para domingo , ajudou no clima , pois as ruas estavam lotadas e a praça Roosevelt bombava nas suas atividades teatrais , o que contribuia para o público que passava pela livraria . 123. Não sou muito de usar gírias , mas é uma lista do que eles acham que vai bombar este ano . 124. Na opinião deles , nós estamos bombando.Se você quer tirar a prova , procure nas livrarias nossa adaptaçao do Alienista , todos os títulos dos 10 Pãezinhos , Mesa para Dois , CRÍTICA , Meu Coração , Não Sei Por Quê. , O Girassol e a Lua.E não perca nossa nova revista independente , 5 , que lançaremos na premiação do HQ MIX no dia 11 de Julho. 125. Lançado mundialmente no finalzinho de novembro , o novo CD Empezar desde cero , da banda RBD , já está bombando nas lojas e na mídia . 126. O filme A Última Hora , que foi lançado no final do mês de novembro , é uma das produções que prometem bombar neste fim de ano . 127. A banda acabou de gravar seu primeiro disco com uma grande gravadora ( a mesma do NX ) e promete bombar nas rádios com um rock recheado de elementos eletrônicos , que o grupo apelidou de “emotrônico” . 128. Eles estão bombando nos EUA : já tocaram na turnê de Miley Cyrus ( mais conhecida como Hannah Montana ) e também participaram de um episódio do seriado da garota. 129. Para terem uma idéia Campinas é a quarta cidade que mais ativa e presente no meu blog , perdendo das gigantes São Paulo , Rio de Janeiro e Belo Horizonte.Tenho certeza que a noite vai bombar , cidades próximas como Americana , Valinhos , Vinhedo e todas as próximas já estão convidadas . 130. O que vai bombar no próximo Fashion Week O mundo Fashion é realmente fantástico e prático . 131. Cheguei a ver vários bicho-grilos loucões dançando na frente da gente.Imaginei que ia bombar , quando ouvi o estrondo e o fogo se alastrando.Só pra se ter uma idéia , o papouco foi tão espetacular que uma hippie bêbada aplaudiu pensando que fosse efeito especial.A bruxa estava solta. 132. Lançado em 10 de novembro de 2007 , o livro Harry Potter e as Relíquias da Morte está bombando nas lojas , e assim como as edições anteriores , já está entre as obras mais vendidas do momento 133.O mais normal para a meninada é querer se comparar. Quem já não disse uma vez. Po ganhei desse cara a menos de 15 dias e hoje ele ta bombando, ganhando um monte de jogos. Por que isso? 134.O torneio está muito gostoso. Ontem por ser o primeiro dia tinha uma galera vendo. Acredito que agora vai esquentar. Hoje vai ter mais gente, amanha então vai bombar. CAUSAR 135. Charlie Braun causando again Vi agora no SPTV . DETONAR 136. Se cair no vestibular , detone ! 137. Vamos Detonar! 138. Um grande atleta e um grande ser humano.O Marcelo está conquistando cada dia mais espaço , melhores resultados e vai ficar por muito tempo dando alegrias.Dupla , levantem a cabeça , vocês detonaram , mostraram para nós que vale muito a pena torcer por vocês 139. No ano passado , a Honda detonou nestes testes e quando a temporada começou mostrou que não era tudo aquilo . ESTOURAR 140. Nesse curto período o Barão estourou , Cazuza saiu e fez carreira solo. 141.Na categoria masculina , Brad Pitt estourou com 25% dos votos , seguido de Jude Law ( 15% ) , David Beckham ( 14% ) e Robbie Williams ( 9% ) . 142. Lá fora , o Paramore ( foto ) começou devagarzinho e , agora , estourou geral . 143. O novo filme , na verdade um clipe , ainda nem tem mídia definida , mas já estourou na Internet . 144. Aliás, essa prática está virando marca da equipe criativa de Guga Ketzer , da Loducca , que este ano já estourou na Internet com os virais “Movimento pela Criatividade na Propaganda” e “Efeito Zizou” . 145. A canção de autoria de Walter de Afogados e Fernando Alves , estourou nas paradas de sucesso em 2000 , na voz de Lairton dos Teclados . 146. A música estourou no Brasil inteiro. 147. Em 95 ou brasileiros no exterior estavam estourando e eu conheci o Roger Cruz e o Deodato e toda aquela leva . 148. A banda canadense Simple Plan , dos sucessos Shut up e Welcome to My Life ( esta última está estourando nas rádios atualmente ) , fez bonito aqui no Brasil. 149. Depois de estourar com os hits Breakaway e Because of You ( que faz o maior sucesso em Belíssima ) , as atenções se voltaram para Kelly . 150. É muito legal e já , já vai estourar nas rádios! 151. O novo filme , na verdade um clipe , ainda nem tem mídia definida , mas já estourou na Internet . 152. É um dos maiores cantores da Holanda de todos os tempos , sempre acompanhado de uma orquestra e no sucesso que começa a estourar na Europa , Rood , não é diferente . 153. Se tiver um espaço na mídia , muita afeita aos modismos , o que não é este CD , tenho absoluta certeza que vai estourar . 154. Eu percebi a grande empolgação do vaqueiro acompanhando em alta voz o refrão “me diz o que ela significa pra mim” e pensei : esta música vai estourar! 155. A música estourou no Brasil inteiro . 156. Lee Marcucci , Wander Taffo , Gel Fernandes e Maurício Gasperini , que estouraram em todo o País com Garota Dourada , voltaram a tocar juntos em 2006 , quando lançaram um CD/DVD ao vivo . 157. Na verdade , eles já faziam graça havia quatro anos na USP FM , com a ‘Rádio Alegre‘ , porém foi com os personagens dos ‘Sobrinhos‘ que estouraram . ESTRAÇALHAR 158. BLAKE NA PADARIA O Marcelo Mirisola continua estraçalhando em sua coluna semanal no site Congresso em Foco. EXPLODIR 159. Fico feliz em vê que o Funk , um ritmo nascido nas Favelas no Rio explodir por todo o Brasil e hoje ser fundamental para animar qualquer festa , seja de pobre ou de rico a musica mais uma vez coloca todos no mesmo lugar. 160. Explodiu aos 26 anos?! 161. Na época , achávamos que íamos explodir com nossa arte fenomenal. 162. No dia do festival ficou tudo claro : era a mudança radical da chamada MPB que se prenunciava naquele quarto de Hotel onde ele morava com Nana Caymmi , com quem estava casado à época , e que explodiria no palco da Record com DOMINGO NO PARQUE , fazendo par com ALEGRIA , ALEGRIA , mudando definitivamente a forma como enxergaríamos o fenômeno da música dai em diante . 163. Um dos exemplos é o mercado de DVD , que explodiu desde 2000 e respondia por mais da metade do faturamento de Holywood , e que agora está apresentando "os primeiros sinais de decadência". 164. Um piloto não é nada em algumas provas e depois explode . 165. Pra quem ainda não conhece esta banda que vai explodir nacionalmente , aqui vai um ótimo clipe da música Passeando na Belina . 166. Os fenômenos musicais que explodem nestas regiões serão levados a tona no mais importante veículo de comunicação do Brasil . 167. A trama argentina não deve explodir no Ibope , como "Maria do Bairro" , "A Usurpadora" , "Carrossel" , a venezuelana "Topázio" e as mais recentes "Café com Aroma de Mulher" ( colombiana ) e "Carinha de Anjo" . 168. Os índices do Ibope explodem na atual fase do SBT. FULMINAR 169. O argentino ganhou uma dividida de uma bola espirrada pelo alto e fulminou na saída do goleiro , bem ao seu estilo. FUZILAR 170. Diego fuzilou : 4 a 3 . 171. Três minutos depois , pela esquerda , Tevez e Messi tabelaram e Messi fuzilou . 172. E Kaká saiu livre para fuzilar : 2 a 1 . 173. A defesa botafoguense não conseguiu aliviar uma bola que caiu no pé direito de David que , da entrada da área , fuzilou para fazer 2 a 0 . 174. Em seguida , o mesmo Thiago Neves , pela esquerda , recebeu um passe quadrado , matou com alta categoria e fuzilou para fazer 3 a 0 . 175. Dois minutos depois , quem diria , o apagado Gustavo Nery , em tabela com Finazzi de pivô , fuzilou para marcar um belíssimo segundo gol.A Fiel ia à loucura , por ver seu time sair da zona rebaixamento na base só do coração , porque a bola foi pequena , embora a vitória tenha acabado por ser justa , castigo que o Grêmio fez por merecer . 176. Com menos de 2 minutos de jogo , Deco roubou uma bola no meio de campo , caiu em velocidade pela esquerda com a bola dominada , fez que daria para Ronaldinho bem aberto , cortou para dentro e fuzilou para fazer 1 a 0. 177. São Paulo absoluto O jogo nem bem tinha começado e o São Paulo , na pressão total , fez 1 a 0 , aos 6 , em cobrança de uma falta em dois toques dentro da área , no qual Rogério Ceni só passou o pé por cima da bola para Jorge Wagner fuzilar. 178. O atacante deu um drible seco no zagueiro uruguaio , que caiu sentado , e fuzilou para fazer o terceiro gol . 179. Aos 30 , finalmente , André Lima deu belo drible na entrada da área , pelo meio , e passou para Dodô que fuzilou . 180. jogo em Maracaibo começou bem.Com os brasileiros buscando a iniciativa do jogo e com os uruguaios respondendo com altivez.E na primeira chance real de gol , o gol aconteceu.Júlio Baptista desceu bem pela direita depois de receber de Maicon , cruzou para Vágner Love que fez o corta-luz para entrada de Mineiro , que fuzilou.O goleiro uruguaio defendeu parcialmente e a bola sobrou para Maicon abrir marcador : 1 a 0 . INCENDIAR 181.Aí o homi que mais uma vez jogo u o fino pelo Barcelona.Ontem contra o América do México ele novamente gastou a bola.Depois da Copa , assim como todo brasileiro , cheguei a duvidar do cidadão.Ficou aquele ranço de promessa não cumprida.Mas com o passar do tempo o ranço foi passando.Acabou de vez quando vi ele incendiar e virar o último Barcelona e Zaragoza no Camp Nou em Barcelona.Um gol de cabeça , uma falta no ângulo e uma no travessão que Saviola concluiu para dentro LIQUIDAR 182. E aproveitem enquanto é tempo! Em 2010 vencemos! Liquidamos! A validade, beibe. MASSACRAR 183. Alem desse detalhe o Federer mostrou que é um grande campeão, jogou firme, focado e muito bem. Atacou o tempo todo com sua direita, massacrou o tempo todo e sacou como nos velhos tempos. MATAR 184. E por pouco , numa bobeada do goleiro Roger , Somália não MATOU logo aos 10 minutos . 185. Em seguida , o mesmo Thiago Neves , pela esquerda , recebeu um passe quadrado , MATOU com alta categoria e fuzilou para fazer 3 a 0 . 186. Espírito macunaíma , Mario de Andrade MATOU em cheio . 187. MATOU a pau O carro de madeira tem alguma ligação com as ( H ) avaianas de pau? 188. E chamou Diego , que anda MATANDO a pau na Alemanha. 189. José Trajano Dá Santos , Pelé MATA a pau . ANEXO C- POSIÇÃO NA ESTRUTURA RADIAL DOS TIPOS VERBAIS, DE ACORDO COM O CORPUS verbo abafar abalar Destruição total e Destruição parcial Destruição física e física figurativa Nenhuma ocorrência Jurandir abafando a Para ganhar uma noite caixa da bateria com a de sono só abafando gravata. uma balada. Em Pequim um atentado terrorista abala a cidade. Se você quisesse Nenhuma ocorrência abalar minha autoestima e me humilhar... aniquilar E lá estava ele com a Nenhuma ocorrência Com isso, Gilmar namorada a tiracolo, Ferreira Mendes que me fez sentir uma também aniquilou vontade terrível de muitas das certezas aniquilá-la. técnicas que cultivamos à sombra do ideal de eqüidade apavorar Nenhuma ocorrência O Flu sentiu, mas não se apavorou arrasar Cristóvão de Holanda Do mesmo modo a seca excogitava já um meio , chamada em Ceará de sair com honra da "seca grande" , que situação em que se via , arrasou Pernambuco quando lhe lembrou desde 1791 até 1793 O que me apavora é o fato de estarmos cada vez mais imbecilizados. Flamengo arrasa O Duque de Caxias fazia bom papel na Taça Guanabara mandar arrasar o canavial arrebentar No meio do som O motivo é que no meu Aquele gol arrebentou absurdo das marretas , sonho ele pegou o carro a Itália ela resmunga : - Estão e saiu a 200 por hora , arrebentando a parte fora da estrada , estrutural da Praça . invadindo plantações , arrebentando cercas ... arregaçar Nenhuma ocorrência Para começar , o Quanto aos 50 milhões “correria” já saiu de idiotas daí , digo que arregaçando a minha os daqui deixam cartões pulseira. de crédito corporativo arregaçarem o Brasil. arrepiar Nenhuma ocorrência À noite , se dermos sorte , nos arrepiaremos com as assombrações do Recife Velho . Estão com a cabeça no "BBB6" e me arrepia um repeteco de moralismo e marasmo no jogo . atropelar Nenhuma ocorrência Digamos que eu ...o presidente do STF ATROPELE alguém e ATROPELOU de a vítima fique com o forma grave as braço quebrado , por instâncias inferiores exemplo para soltar por duas vezes o banqueiro avassalar Nenhuma ocorrência a pior crise econômica Ao contrário , ela que desdenhava , já que eu nos avassala desde…. sempre tinha uma paixão nova avassalando meu pobre coração barbarizar Nenhuma ocorrência Policiais (civis e militares) já abusam da sua autoridade , causam prejuízos a cidadãos comuns , empresas , barbarizam o trânsito etc . Fani barbarizando os corredores Globais , semana passada foi o Thiago Reis , irmão do marido da Danielle Winits , esta semana o ator Marcelo Novaes... bombar bombardear Nenhuma ocorrência Meu dad foi tb , sabe-se la investigar o q , ficou 3 semanas no Yemen e so voltou pq comecaram a bombardear a area . Nenhuma ocorrência Nenhuma ocorrência O fascinante e metalinguístico é que as forças aliadas - em plena segunda guerra mundial bombardearam Munique e , por consequência , a Glyptotecke . o mais novo episódio da cinessérie baseada nos livros de Harry Potter no dia de sua pré-estréia no Brasil , depois que todos os meios de informação ( este inclusive ) e de semiinformação ( Blogs de fãs , em geral ) já bombardearam seus consumidores com fatos e análises de todos os aspectos possíveis de cada vírgula destroçar Aí serão como aqueles velhos caubóis de filmes de faroeste , que todos pensam que já não atiram mais nem com um revólver d’água , mas que voltam à ativa e destroçam os bandidos destruir Sempre lembrei muitíssimo de uma estrofe que dizia que em 2001 os muçulmanos iam destruir a Torre Eiffel e que seria o começo do fim do mundo . detonar Oficiais graduados do governo americano dizem que os supostos terroristas usariam Gatorade e iPod para detonar seus explosivos a bordo dos aviões . estourar estraçalhar Depois do Uruguai aprendi a gostar de futebol e até estourei fogos quando soube que a próxima Copa do Mundo aconteceria justamente no país em que eu morava . Ontem , Riquelme destruiu o Grêmio , ao cruzar para o primeiro gol de Palacio , que foi irregular , ao fazer o segundo e criar o começo da jogada do terceiro , marcado pelo zagueiro Patrício , contra . Isso detona a borracha por excesso de estresse do material Não segui carreira porque estourei os meniscos . Quando apareceu fazendo bons treinos na Jaguar e detonando Antonio Pizzonia , muita gente afirmou que se tratava de um novo campeão . A essa hora os donos da Times For Fun devem estar estourando suas champagnes , comemorando a venda avassaladora dos ingressos . Não tem outra descrição possível.Depois de estraçalhar a platéia com mais de duas dezenas de funks- os verdadeiroshiper dançantes , Brown faz o maior charme para ir embora . explodir exterminar A aeronave explodiu ao se chocar contra um prédio da própria companhia . Aquela de explodir o coração? A quimioterapia e a Assim , o marketing radioterapia , além de procuraria exterminar matarem as células a subjetividade , pois cancerígenas , também quer que toda pessoa exterminam as células tenha seu modelo de normais do organismo vida espelhado nos ditames vindos dos céus de skyscrapers & consuma . fulminar É assim que Antônio das Mortes fulmina o profeta e o bandido Para sorte do Palmeiras , uma bola sobrou para Kléber no finzinho do primeiro tempo , aos 43 , ele deu um corte seco em Juninho que foi ao chão , e fulminou o gol tricolor , para empatar fuzilar Aí , o Barça predominou , mas , no segundo minuto dos acréscimos , Drogba matou no peito e fuzilou o gol catalão para empatar o jogo . O que ficou mais humilhar covarde ainda é que no "BBB7" foi um homem procurando humilhar e denegrir uma mulher em rede nacional incendiar O Lavi estava lá e apagou o fogo antes de eu incendiar o A fogosa Copélia incendeia a sitcom . apartemento . liquidar A peça trata da história Saiu na frente do Flu , de uma cidadela sofreu o empate com tipicamente provinciana gol chamada Caldé , um liquidou organismo social último minuto . contra o , jogo mas no fechado em si e para si , que recebe a catastrófica notícia de um cataclisma natural iminente que liquidará o povoado como um todo . maltratar Pareceu lhe escutar distintamente o som das suas próprias expressões : "Quando eu chegar de volta , não maltratarei mais os animais" . E comecei a maltratar ( acho que esse é o termo exato ) um violão massacrar Os xiitas querem um xiita , os sunitas querem um sunita , e os curdos querem um curdo , que dê poder a sua etnia e massacre as demais Sobre o Wagner Moura e o Pânico.Não vou massacrar nem criticar meus amigos mas não posso deixar de apoiar o Wagner em suas colocações sinceras e delicadas matar Esse autor e psicopata , Grande Siri , MATOU assim que saiu da prisão um ( por pressao de Mailer matemática! problema de ) , MATOU um ator e garçom do La Mama , aqui no Binny Bun , na Segunda Avenida.Bem , ao Mamet então . metralhar Mas não há solução entre seres humanos enquanto houver lobbismo , lucrismo , Ela metralhou , triturou e humilhou Joaquim Wayne . mentiralha , pilantragem , tranformando a morte em dinheiro , ou enquanto houver supostos deuses de mentira para atrapalhar com seus extremistas , para metralhar aqueles cujos espelhos não refletem suas virgens ou seus santos divinos ou seus santos sepulcros triturar No liquidificador , O México triturou o triture a bolhacha de Paraguai: 6 a 0 , maior leite até obter uma goleada do torneio farinha trucidar Apesar de no filme os atenienses serem chamados de “filósofos e pederastas” , a história conta que os espartanos extravasavam a testosterona , que corria solta entre os soldados sarados , não apenas trucidando inimigos . Ele fuzilou , trucidou , destruiu , esmagou Rob Gallo ANEXO D- POSIÇÃO DOS TIPOS VERBAIS NA ESTRUTURA RADIAL DE ACORDO COM O DICIONÁRIO HOUAISS- VERSÃO ONLINE verbo DT 1.abafar + Derivação: por extensão de sentido. matar(-se) por asfixia; sufocar Ex.: <o assassino abafou a vítima com um saco plástico> <a mulher abafou-se com gás> 2.abalar _ 3.aniquilar + reduzir a nada, destruir completamente; exterminar Ex.: aniquilaram uma divisão inimiga 4.apavorar _ 5.arrasar + deitar abaixo; desmoronar, destruir Ex.: a chuvarada arrasou a construção 6.arrebentar + deitar abaixo; espatifar, desmantelar, destruir Ex.: <o vendaval rebentou várias casas> <sempre que chovia, a enxurrada rebentava o muro> 7.arregaçar _ 8.arrepiar _ 9.atropelar _ 10.avassalar + causar devastação a; arrasar, destruir Ex.: um terremoto avassalou a costa adriática 11.barbarizar _ 12.bombar _ 13.bombardear + 14.destroçar + causar a destruição de; arruinar, despedaçar Ex.: d. uma floresta inteira 15.destruir + causar a morte de (alguém, algo ou de si próprio); matar(se), eliminar(-se), exterminar(-se) Ex.: <a poluição do mar destrói a fauna e a flora marinhas> <bebe tanto que acaba por d.-se> 16.detonar + causar a detonação, a explosão de (bomba, carga de dinamite etc.) 17.estourar + explodir, quase sempre causando destruição; rebentar Ex.: <o exército estourou cinco granadas no sindicato> <a bomba estourou na hora marcada> 18.estraçalhar + despedaçar(-se), fazer(-se) em pedaços, ger. com certa fúria; estracinhar(-se), estrancilhar(-se), estraçoar(-se) Ex.: <o animal estraçalhou a presa> <gregos e troianos estraçalharam-se na guerra> 19.explodir + causar explosão; detonar, estourar 20.exterminar + destruir de maneira cruenta; eliminar por morte Ex.: o ataque de surpresa exterminou os revoltosos 21.fulminar + causar destruição com raio ou com efeito semelhante ao do raio; destruir, aniquilar Ex.: <um raio fulminou o ipê> <um tornado fulminou a pequena aldeia 22.fuzilar + matar com tiro de fuzil ou de qualquer arma de fogo Ex.: o pelotão fuzilou o sentenciado 23.humilhar _ 24.incendiar + fazer arder ou arder, inflamar(-se), incender(-se) Ex.: <o bando assassino percorria o sertão incendiando vilas e vilarejos> <um inocente balão fez que a floresta se incendiasse irremediavelmente> 25.liquidar + Derivação: sentido figurado. acabar com, pôr fim a (algo abstrato), de maneira enérgica e definitiva Ex.: <l. suas divergências> <liquidou toda e qualquer concorrência ao seu negócio> 26.maltratar _ 27.massacrar + matar cruelmente, esp. em grande número, em massa Ex.: massacraram os indígenas 28.matar + contribuir para que (alguém ou algo) morra; levar à morte; extinguir Ex.: <a fome mata milhares de pessoas por ano> <uma doença que não mata> 29.metralhar + desferir tiros de metralha ('pequenas balas') ou de metralhadora 30.triturar + reduzir a uma insignificância ou a nada Ex.: triturou a filosofia do adversário com um único e brilhante argumento 31.trucidar + matar com crueldade, com selvageria Ex.: <os bárbaros trucidavam pessoas por prazer> <cidadãos, antes pacíficos, trucidavam-se, disputando alimento>