astronomia como tema gerador de ensino e de

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ASTRONOMIA COMO TEMA GERADOR DE ENSINO E DE
APRENDIZAGEM DE CONCEITOS MATEMÁTICOS PARA ALUNOS
SURDOS – UM PROJETO EM CONSTRUÇÃO
Tina Andreoella – [email protected]
Talita Pilati Alves – [email protected]
Nadia Sanzovo – [email protected]
Aline Brancalione – [email protected]
Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR
Rodovia do Conhecimento, km 01
Pato Branco - PR
Elaine Beilner – [email protected]
Secretaria de Estadual da Educação, Colégio Estadual Castro Alves
Centro de Atendimento Especializado Área da Surdez - CAES
Rua Itacolomi, 1550
Pato Branco - PR
Resumo: Este artigo apresenta o projeto intitulado ASTRONOMIA COMO TEMA GERADOR
DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM DE CONCEITOS MATEMÁTICOS PARA ALUNOS
SURDOS – UM PROJETO EM CONSTRUÇÃO, que tem como objetivo trabalhar conceitos
matemáticos para alunos surdos através de atividades motivadoras de Astronomia. Utilizando
atividades práticas em Astronomia se pretende despertar o gosto pelas Ciências “duras” e com
isso trabalhar conceitos matemáticos de difícil compreensão para alunos surdos. Paralelo aos
conceitos matemáticos, explorar as atividades para desenvolver, interdisciplinarmente, conceitos
de Ciências e Física como eclipses, movimentos da Terra, Fases da Lua, trajetória de planetas e
outros. As atividades serão desenvolvidas pelos professores integrantes dos grupos de
pesquisa Grupo de Estudo e Pesquisa em Astronomia - GEAstro e Grupo de Pesquisa em
Educação, Ciência e Tecnologia – GPECT da UTFPR Câmpus Pato Branco em parceria com
o Núcleo de Apoio a Pessoas com Necessidades Especiais- NAPNE e Núcleo Regional de
Educação. Para a efetivação do projeto as atividades serão realizadas no Câmpus da UTFPR
promovendo assim a inserção dos alunos surdos à Universidade.
Palavras-chave: Matemática, Surdez, Astronomia, Interdisciplinaridade.
1
INTRODUÇÃO
As pessoas com deficiências, por possuírem características que “fogem ao padrão de
normalidade", mesmo nos dias atuais, ainda sofrem inúmeras formas de preconceito, sendo
constantemente deixadas à margem da sociedade. No presente estudo entende-se como
‘pessoa normal’, aquela que se desenvolve plenamente através dos cinco sentidos (tato,
audição, visão, olfato e paladar) e condição física e neuromotora. A pessoa com deficiência é
aquela que está desprovida, temporariamente ou permanentemente, de algum desses sentidos
ou de seu desempenho físico/ neuromotor.
A inclusão social tem merecido atenção especial nas últimas décadas nas políticas
públicas que buscam a transformação, a interação, o crescimento mútuo, o desenvolvimento
pessoal das pessoas com deficiência, por meio da integração ao convívio da vida social,
econômica, política, assegurando-lhes os direitos como cidadãos. (BRASIL, 1989;
DECLARAÇÃO..., 1994).
O ensino inclusivo toma por base a visão sociológica de deficiência e diferença,
reconhece desse modo que todas as crianças são diferentes, e que as escolas e sistemas de
educação precisam ser transformados para atender bem todas às necessidades educacionais de
todos os educados com ou sem deficiência.
Porém, nas escolas ainda há grande carência na formação e capacitação continuada dos
professores para trabalhar com essa nova realidade, isto é, a dos alunos com deficiências de
frequentarem a sala de aula do ensino regular e, por isso, um dos principais fatores
relacionados ao aspecto de ensino e de aprendizagem de alunos surdos refere-se à adaptação,
construção e a elaboração de material rico em recursos visuais, além de metodologias
diferenciadas para que eles sejam capazes de apropriar-se com propriedade das informações
utilizadas nas aulas de matemática, como nas demais. E os profissionais envolvidos no
processo de ensino consigam desenvolver os conceitos propostos.
Visando a um trabalho interdisciplinar entre as áreas de Matemática, Ciência, Física,
Língua Brasileira de Sinais - Libras, Língua Portuguesa e metodologia da pesquisa, bem
como da inserção das TICs, está sendo implantado o projeto — Astronomia como tema
gerador de ensino e de aprendizagem de conceitos matemáticos para alunos surdos — um
projeto em construção, que tem por finalidade promover a interlocução entre pesquisadores e
professores da rede pública, por meio da divulgação de materiais didáticos e tarefas baseadas
em tendências metodológicas alternativas da área da Educação Especial.
Este projeto surgiu de proposta dos professores integrantes do Grupo de Estudo e
Pesquisa em Astronomia - GEAstro e Grupo de Pesquisa em Educação, Ciência e Tecnologia
– GPECT. A intenção principal do grupo, ao lançar o projeto de pesquisa, é justamente
integrar, na ação, reflexão e ação (SCHÖN, 2000), as atividades do pesquisador, do professor
em serviço e do professor em formação, para que juntos possam aprender, fazer melhor a sua
prática pedagógica e contribuir para a formação continuada dos professores da rede pública de
ensino.
2
SURDOS NA ATUAL POLÍTICA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Há dois séculos que se discute a condição das pessoas surdas e permanece o embate entre
o uso da língua da comunidade ouvinte ou da comunidade surda.
Historicamente as concepções da abordagem educacional dos surdos centram-se no
oralismo, na comunicação total e no bilinguismo.
As políticas educacionais, porém, na atualidade para as pessoas surdas estão centradas na
escola bilíngue, isto significa utilizar as duas línguas no cotidiano escolar, a língua de sinais e
a língua da comunidade ouvinte, na modalidade escrita. Estudos revelam que a aprendizagem
em ambiente bilíngue melhor correspondem às necessidades educacionais dos alunos surdos.
O sistema de ensino, ao organizar sua prática pedagógica nesses moldes, está respeitando
a condição do sujeito surdo, valorizando a Cultura Surda e, consequentemente, a língua de
sinais.
Ao pensarmos nas práticas pedagógicas para o Projeto, respaldamo-nos na Abordagem
Bilíngue na Escolarização da Pessoa com Surdez, organizada pelo MEC, 2010, na Coleção:
denominada: A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar, onde se propõe
construir, antes de tudo, um ambiente comunicativo, de interação ampla, em que a língua de
sinais e o português escrito tenham lugar de destaque “e o acesso às duas línguas ocorra de
forma simultânea no ambiente escolar, colaborando para o desenvolvimento de todo o
processo educativo”. (ALVEZ, 2010, p.9)
A regulamentação da Lei de Libras - Lei 10.436/2002 (BRASIL, 2002) que dispõe sobre
a Língua Brasileira de Sinais – Libras - pelo Decreto 5.626/2005 (BRASIL, 2005), é
considerada hoje um avanço significativo nas lutas sociais e políticas dos sujeitos surdos, pela
sua igualdade de direitos, principalmente no que tange à educação.
O Art.2º do Decreto considera “pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva
compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua
cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras”.
Os primeiros capítulos do Decreto preveem a Inclusão da Libras como Disciplina
Curricular:
No Art. 3o, a Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos
de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos
cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de
ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
No § 1o reza que “todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áreas do conhecimento,
o curso normal de nível médio, o curso normal superior, o curso de Pedagogia e o curso de
Educação Especial são considerados cursos de formação de professores e profissionais da
educação para o exercício do magistério”.
Também no § 2o, diz que a “Libras constituir-se-á em disciplina curricular optativa nos
demais cursos de educação superior e na educação profissional, a partir de um ano da
publicação deste Decreto. (BRASIL, 2005)
Como também legislam sobre a Formação do Professor de Libras e do Instrutor de Libras
outras ações importantes regulamentadas, encontramos no Art.10 que diz “As instituições de
educação superior devem incluir a Libras como objeto de ensino, pesquisa e extensão nos
cursos de formação de professores para a educação básica [...]”.
Importante salientar que, mesmo com o Decreto, o trabalho de ensino e de aprendizagem
com alunos surdos, tanto no Ensino Fundamental e Médio, quanto no Ensino Superior,
constitui-se de um processo em construção, repleto de grandes desafios, dentre os quais são
considerados relevantes: falta de escolas bilíngues para surdos; professores bilíngues
Libras/Língua Português para atuar com as diversas ciências e disciplinas e
tradutores/intérpretes de Libras/Língua Portuguesa.
Ao se fazer o percurso da História da Educação de Surdos, chegando ao momento atual,
com a implementação da atual Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva
Inclusiva, que levou os alunos com deficiência, assim como os surdos, a estarem inclusos no
ensino regular, pensa-se que os seus direitos foram legitimados. Entretanto, em função de sua
diferença linguística, a realidade tem demonstrado que o rendimento escolar, da grande
maioria dos alunos surdos, em quase todas as ciências, tem ficado muito aquém do esperado,
levando-os, ainda, a serem vistos como pessoas incapazes ou limitadas.
Nesse sentido percebe-se que o processo de inclusão dos sujeitos surdos ainda é algo
extremamente complexo, ou seja, segundo Fernandes (1997), a inclusão educacional, da
forma como tem sido praticada nos discursos oficiais, utilizando-se de termos extremamente
vagos, dada a sua abrangência, como “TODOS”, resulta na massificação das diferenças dos
grupos envolvidos, na subtração de seus direitos e na alimentação de estereótipos. (p.3).
2.1 Participação do NAPNE, da UTFPR - Câmpus Pato Branco na inclusão de alunos
surdos
O Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas - NAPNE é o
setor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR que articula pessoas,
instituições a fim de desenvolver a política para inclusão e desenvolver ações de implantação
e implementação do Programa TEC NEP – Educação, Tecnologia e Profissionalização para
Pessoas com Necessidades Específicas na Rede Federal de Educação Tecnológica – do
Ministério da Educação, através da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica SETEC.
Na UTFPR, Câmpus Pato Branco, o NAPNE começou a funcionar no segundo semestre
de 2006, após sua criação pela Portaria nº 0348, de 26 de maio de 2006, tendo por objetivos
“implementar ações de inclusão de Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas –
PNEEs; promover a discussão sobre aspectos técnicos, didático-pedagógicos, adequações,
quebra de barreiras arquitetônicas, atitudinais e educacionais, bem como sobre as
especificidades e peculiaridades de cada deficiência, levando não só a uma reflexão sobre o
papel do educador e da instituição em sua prática pedagógica, mas principalmente, levando à
prática da inclusão.
É formado por uma equipe interdisciplinar, composta de Assistente Social, Pedagogos,
Psicólogo, Intérprete e Professora de Libras, Docente e Discentes. Em sua linha de atuação
articula ações ligadas ao ensino, subsidiando a capacitação e sensibilização da comunidade
universitária, no que diz respeito aos aspectos da inclusão. Assim, a atuação é no sentido de
levar às comunidades internas e externas, informações, discussões e cursos que abordem
formas de identificação e inclusão de pessoas com necessidades educacionais específicas, no
que tange aos aspectos pedagógicos e de acessibilidade e ainda, subsidiando com orientações
pedagógicas e acompanhamento os casos de alunos com deficiência diagnosticada.
Na questão da inclusão de sujeitos surdos, a UTFPR- Câmpus Pato Branco, através do
NAPNE, tem se destacado, por promover várias ações que auxiliam em seu desenvolvimento
social e educacional, como o Curso de Extensão (figura 1) “Qualificação Profissional para o
Primeiro Emprego para Pessoas Surdas” e o Projeto ora aqui relatado, em processo de
formatação.
Figura 1: Curso de extensão promovido pelo NAPNE - UTFPR
2.2
Aspecto cultural na Educação Matemática do aluno surdo
A Cultura Surda é questionada primeiramente quanto a sua existência e os surdos estão
constantemente produzindo suas manifestações culturais. Strobel (2009) afirma que os surdos
têm suas próprias manifestações culturais e reitera que “a cultura exprime valores, crenças
que, muitas vezes, se originaram e foram transmitidas pelos sujeitos de geração passada ou de
seus líderes surdos bem sucedidos”, ( p. 29).
A Cultura Surda é composta por vários artefatos culturais, os principais citados pela
mesma autora estão: a experiência visual, o linguístico, o familiar, a literatura surda, a vida
social e esportiva, as artes visuais, a política e os materiais.
Os artefatos culturais são “tudo o que se vê e sente quando se está em contato com a
cultura de uma comunidade [...] constitui produções do sujeito que tem seu próprio modo de
ser, ver, entender e transformar o mundo” (STROBEL, 2009, p. 39).
A proposta do presente projeto irá explorar os seguintes artefatos: a experiência visual, o
linguístico e o material, por considerá-los relevantes na implementação por atender as
necessidades educacionais do público alvo e também por estar relacionado ao contexto
educacional.
Assim, as experiências visuais são consideradas entre os surdos a mais significativa, por
serem os olhos o canal direto com o outro e o mundo. “O primeiro artefato da cultura surda é
a experiência visual em que os sujeitos surdos percebem o mundo de maneira diferente, a qual
provoca as reflexões de sua subjetividade”, (STROBEL, 2009. p. 40).
O endosso da autora em relação a essa perspectiva vem de que
[...] experiência visual significa a utilização da visão, em (substituição total à
audição), como meio de comunicação. Desta experiência visual surge a cultura surda
representada pela língua de sinais, pelo modo diferente de ser, de se expressar, de
conhecer o mundo, de entrar nas artes, no conhecimento científico e acadêmico. A
cultura surda comporta a língua de sinais, a necessidade de intérprete, de tecnologia
de leitura. (PERLIN e MIRANDA, 2003 p. 218, apud STROBEL, 2009, p. 41).
Dessa forma, o artefato cultural linguístico representa o aspecto fundamental da cultura
surda, por ser através da língua de sinais que a comunidade surda se comunica, no caso do
Brasil, a Libras. Ela proporciona ao sujeito surdo contato entre seus pares e o mundo, além de
ter acesso às informações e ao conhecimento.
A língua de sinais é uma das principais marcas da identidade de um povo surdo, pois
é uma das peculiaridades da cultura surda, é uma forma de comunicação que capta
as experiências visuais do sujeito surdo, e que vai levar o surdo a transmitir e
proporcionar-lhe a aquisição de conhecimento universal. (STROBEL, 2009, p. 47)
Os materiais descritos por Strobel (2009) foram desenvolvidos por profissionais surdos,
direcionados aos meios de comunicação entre os surdos e a sociedade, “que auxiliam na
acessibilidade na vida cotidiana de sujeitos surdos, [...] pertencem ao mundo digital de
comunicação em tempo real a distância”, (SROBEL, 2009, p. 84 e p.87).
A ausência de descrição de materiais didático-pedagógicos, que contempla as
necessidades educacionais diferenciadas, preocupa e leva a considerar a ausência de
profissionais surdos pedagogos que estejam desenvolvendo materiais ricos em recursos
visuais, que favoreçam o ensino e aprendizagem dessa parcela de educandos.
Nesse sentido, para expandir o conhecimento matemático no currículo do ensino para o
aluno surdo, observam-se dificuldades, que se dão por vários motivos, tais como: a questão da
linguagem matemática que é de difícil compreensão, a postura tradicional adotada pelo
professor, ausência de referenciais teóricos, materiais didático-pedagógicos com recursos
visuais próprios para a área da surdez e a ausência da sua língua materna (Libras).
Com o intuito de contribuir para a formação do sujeito surdo, buscamos a desmistificação
da matemática como ciência pronta. A Matemática está em contínua fase de crescimento e
adaptação ao “povo a sua volta”, dessa forma, não seria diferente se tratando das pessoas
surdas.
Alguns dos pontos norteadores desta pesquisa têm por base a etnomatemática e a cultura
surda. Estes dois ramos teórico-metodológicos possibilitam o pensar e o fazer matemático,
atendendo as expectativas e necessidades culturais presentes nesse meio educacional, ou seja,
[...] esta matemática cultural tem uma perspectiva de decodificar elementos
característicos do discurso matemático de uma cultura dominante. Os processos que
esta empreende e os resultados que obtém são a partir das construções matemáticas
centradas em si mesmas. (CARNEIRO, 2009, p.55).
Com enfoque maior ao aspecto cultural na educação matemática do aluno surdo,
podemos verificar que a etnomatemática é uma metodologia de ensino que enfatiza entender o
saber/fazer matemático ao longo da história da humanidade, contextualizado em diferentes grupos
de interesse, comunidades e povos. Essa metodologia possibilita ao professor uma visão crítica da
realidade de cada aluno, utilizando instrumentos de natureza matemática. De acordo com
D’Ambrosio (2002), “reconhecer e respeitar as raízes de um indivíduo não significa ignorar e
rejeitar as raízes do outro, mas [...] reforçar suas próprias raízes” (2002, p. 42). Essa é a vertente
mais importante da etnomatemática.
A proposta pedagógica da etnomatemática é fazer da matemática algo vivo, lidando
com situações reais no tempo [agora] e no espaço [aqui]. E, através da crítica,
questionar o aqui e agora. Ao fazer isso, mergulhamos nas raízes culturais e
praticamos dinâmica cultural. Estamos, efetivamente, reconhecendo na educação a
importância das várias culturas e tradições na formação de uma nova civilização,
transcultural e transdisciplinar. (D’AMBROSIO, 2002, p. 46).
Importante ressaltar que, segundo Gasparin (2005), não basta o professor entrar na sala de
aula e dar uma aula tradicional, com o simples objetivo de repassar o conteúdo, pois perante o
desenvolvimento da sociedade de hoje, exige-se muito mais teoria, crítica, saber o contexto
histórico dos conteúdos, do que simplesmente conhecer sua aplicação. Assim fica claro que as
responsabilidades aumentaram tanto para o professor como para o aluno.
Acreditamos que com o auxílio da Astronomia, podemos possibilitar para o aluno surdo
um ambiente com recursos visuais, acompanhado da introdução em Libras, através da
intérprete de Libras/Língua Portuguesa e adaptando as atividades que primeiramente foram
elaboradas para alunos ouvintes, permitindo então a superação das dificuldades de
aprendizagem referentes à Matemática.
A carência de materiais disponíveis em Libras e também de profissionais capacitados é
enorme. Por isso, um dos objetivos do projeto em desenvolvimento é dar um “solavanco” às
pesquisas para o desenvolvimento de materiais nessa área, superando os obstáculos
epistemológicos de ensino-aprendizagem. Destarte, transformamos a teoria em algo concreto,
inteiramente visual e voltado exclusivamente para o aluno surdo.
3
APRENDIZAGEM DE CONCEITOS E A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO
As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (CNE/CEB, 2001)
bem como a Declaração de Salamanca (1994) e também os Parâmetros Curriculares
Nacionais (1998) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, 1996), prescrevem um
discurso em defesa da inclusão: mudanças de currículo, adaptações do contexto escolar,
metodologias, preparação dos educadores, planejamento. (p. 1).
Dessa forma, a inclusão significa que não é o aluno que se molda ou se adapta à escola,
mas a escola coloca-se à disposição do aluno, fornecendo, por exemplo, no caso do aluno
surdo, foco deste projeto, material desenvolvido especialmente para suprir suas necessidades
de recursos visuais, subsidiar os professores do ensino regular, ampliar o léxico da língua de
sinais e da língua majoritária e facilitar a interpretação e tradução dos conteúdos com apoio do
profissional intérprete de Libras/Língua Portuguesa, porque no momento a capacitação
continuada no aspecto das adaptações curricular e pedagógico é recente e não contempla toda
a demanda.
Dentre todos os aspectos da escolarização, Vygotsky já dedicava especial atenção à
formação de conceitos científicos. Para ele, o domínio desses conceitos é tão determinante de
rupturas e transformações no homem quanto o domínio da escrita. O elemento novo
possibilitado pelo domínio de conceitos não é a maior quantidade de conteúdos de posse do
sujeito, mas essencialmente a qualidade que a aprendizagem de generalizações conceituais
confere ao pensamento. Dessa forma dizia “[...] uma correta organização da aprendizagem da
criança conduz ao desenvolvimento mental [...]”. (VYGOSTSKY, 1998 apud SFORNI,
2012). Porém, não basta ao sujeito frequentar as escolas para ter acesso aos conceitos
científicos para que seus processos internos sejam acionados, é necessário ter acesso a uma
situação de ensino adequada.
3.1
Astronomia como tema gerador interdisciplinar
No processo de ensino-aprendizagem de astronomia, professores e alunos tomam parte
em uma série de atividades intelectuais, tais como: observar fenômenos; entender modelos e
teorias; desenvolver habilidades de raciocínio e examinar a epistemologia. Assim, pretende-se
desenvolver um projeto no qual a Astronomia é uma poderosa aliada no processo de ensinoaprendizagem, com objetivo de desmitificar pré-conceitos dos conteúdos científicos,
minimizar o problema na aprendizagem e despertar o interesse dos alunos pela Astronomia,
trabalhar conceitos matemáticos, que são de difícil aprendizado pelos alunos ouvintes, e desse
modo chamar a atenção da comunidade escolar do município de Pato Branco e adjacentes
para o entendimento de conceitos matemáticos por alunos surdos, por meio de atividades
envolvendo experimentos, demonstrações e observações.
O projeto pretende, por meio da Astronomia com desenvolvimento/aplicação de
experimentos, despertar a curiosidade e incentivar o interesse dos alunos surdos por esta área,
auxiliando-os na compreensão de conceitos matemáticos e, interdisciplinarmente conceitos de
Ciências, Física, Libras e Língua Portuguesa envolvidos, posto que é consenso que a
experimentação desperta interesse entre os alunos, independente do nível de escolarização,
isto é, divulgar de forma lúdica a Astronomia enquanto ciência visa a despertar o interesse de
alunos do ensino fundamental e médio para o estudo da Astronomia e contribuir de forma
efetiva para a qualidade e eficácia dessa aprendizagem, desmistificando o repasse de
conteúdos da disciplina para a melhoria do ensino das escolas públicas.
Utilizando-se de um espaço inovador, explorar-se-ão as relações entre Astronomia,
Ciências, Física, Matemática, Libras e Língua Portuguesa, para que estas possam conferir
uma à outra, conteúdos, metodologias e linguagens que convirjam na construção de um
processo pedagógico mais amplo, como também a linguagem será poderosa aliada no
processo ensino-aprendizagem.
A metodologia para execução do trabalho desenvolver-se-á em várias etapas.
Inicialmente far-se-á um apanhado de sinais em Libras referentes a expressões relacionadas
aos assuntos abordados. Para desenvolver a compreensão de conceitos matemáticos e de
fenômenos físicos serão realizadas as atividades como:
Atividade 1: Sistema Terra – Lua em escala, conforme sugestão de aula postada no portal
do professor, adaptada para alunos surdos, com o intuito de trabalhar conceitos matemáticos
de comprimento: raio, comprimento, perímetro, Pi e Geometria: área, volume, circunferência,
esfera, elipse. Noções de grande /pequeno, perto/longe, maior/menor e excentricidade.
Porcentagem e escala. Em Física e Ciências serão trabalhados movimentos de rotação e
translação, fases da lua eclipses do sol e da lua e excentricidade. Em Libras, o léxico do
contexto do projeto apresentado na Língua Brasileira de Sinais e em Língua Portuguesa, o
léxico do contexto do projeto reconhecido na Língua Portuguesa, leitura e escrita.
Atividade 2: Sistema solar em Escala, conforme sugestão da Olimpíada Brasileira de
Astronomia, abordando os conceitos matemáticos anteriores ampliando o conhecimento do
sistema solar e a relação de dimensão entre seus elementos.
Atividade 3: Distância dos planetas ao sol em escala, com prática que caracteriza a
distância dos planetas em escala de forma a trabalhar comprimento, escala e proporção.
Todas as atividades serão acompanhadas de observação do céu diurno e noturno através
de telescópios.
Poder-se-á constatar neste trabalho que experimentos demonstrativos despertam as
habilidades de observação e o interesse dos alunos pela Astronomia, uma vez que podem
demonstrar interesse de conhecer mais sobre a teoria envolvida nos experimentos realizados.
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dessa opção estão em discussão as fases seguintes, considerando-se que deve
constituir-se em um módulo de ensino, para explorar os fenômenos da astronomia, questões
tecnológicas e representações matemáticas e físicas envolvidos, bem como a interação entre
eles. O nível em que está sendo realizada a discussão depende de opção dos autores e do
aporte do público envolvido - o aluno surdo.
Assim, estabelecer conexões entre conhecimentos específicos de várias ciências,
formulando e construindo materiais específicos para o surdo pode indicar um caminho para a
reflexão do professor, sobre a utilidade da disciplina que trabalha, sobre a aplicabilidade dos
conhecimentos e sobre a possibilidade de um trabalho interdisciplinar.
É nesse sentido que a proposta converge, uma vez que as fases subsequentes estão em
estudos teóricos no grupo e passa agora a um segundo estado: o de possibilitar aos alunos
surdos o encontro dos conteúdos de astronomia com o estabelecimento das conexões entre a
Matemática, Física, Língua Portuguesa e Libras, Metodologia Científica e as relações que
podem ser feitas para a construção de uma metodologia e respectivos materiais para utilização
em sala de aula.
Agradecimentos
À professora Mirelia Flausino Vogel pelo incentivo e apoio em relação ao conteúdo
referente ao ensino de alunos surdos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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abordagem bilíngue na escolarização de pessoas com surdez. Coleção A Educação Especial
na Perspectiva da Inclusão Escolar. Brasília e UFC, 2010.
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______. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica - CNE/CEB,
2001.
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TRAJANO DA COSTA, R. C. Introdução à História das Ciências Físicas, notas nãopublicadas .(1992).
ASTRONOMY AS THEME GENERATOR OF TEACHING AND
LEARNING OF MATHEMATICAL CONCEPTS FOR DEAF
STUDENTS - A PROJECT UNDER CONSTRUCTION
Abstract: This article represents a project intitled ASTRONOMY AS A THEME GENERATOR
OF THE TEACHING AND LEARNING MATHEMATICAL CONCEPTS TO DEAF
STUDENTS – A PROJECT UNDER CONSTRUCTION which has an objective to work on
mathematical concepts to the deaf students through motivating Astronomy activities. Using
practical activities in Astronomy, it is intended to call attention to the “hard” Sciences and
with that to work on difficult mathematical concepts to the deaf learners. Parallel to the
mathematical concepts, exploring the activities to develop in an interdisciplinary
approaching, concepts in Science and Physics as eclipses, Earth movements, phases of the
Moon, the movement of th planets and others. The activities will be developed by the teachers
who are part of the Astronomy Research Work Study Group – GEASTRO and Education,
Science and Technology Research Group – GPECT from Universidade Tecnológica do
Paraná - UTFPR, Campus Pato Branco in association with Núcleo de Apoio a Pessoas com
Necessidades Especiais - NAPNE and Regional Center of Education – NRE. In order to
execute the project, the activities will be accomplished at UTFPR Campus promoting the
introduction of deaf students in the University.
Key-words: Mathematics, Deafness, Astronomy, Interdisciplinary
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