a produção e a difusão de informações estratégicas - Unifal-MG

Propaganda
A PRODUÇÃO E A DIFUSÃO DE INFORMAÇÕES ESTRATÉGICAS: O
GRUPO IBOPE E A REORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO
BRASILEIRO
Gabriela de Costa Gomes
[email protected]
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Geografia do IG/ UNICAMP
Bolsista FAPESP
Resumo
Este trabalho tem como objetivo contribuir para o estudo da urbanização do
território brasileiro a partir da apreciação de uma variável-chave que tem despontado
nas últimas décadas como imprescindível no contexto da reorganização dos territórios
no mundo contemporâneo: a informação mercadoria. Para isso, pretendemos
compreender a estrutura das grandes empresas de pesquisa de mercado que são os
agentes responsáveis pela produção e difusão de informações estratégicas através do
espaço geográfico. Em nosso caso estudamos o Grupo IBOPE, a maior empresa de
pesquisa de mercado e inteligência organizacional da América Latina, que possui um
importante papel na produção e difusão de informações estratégicas no Brasil. No
mundo contemporâneo essa informação é muito valorizada e se torna essencial para
os agentes políticos e econômicos que dela precisam dispor para traçar suas
estratégias de ação e reprodução através do espaço. Nesse contexto, as informações
que são produzidas por essa empresa passam a ter ligação direta com a construção
racional do espaço urbano brasileiro uma vez que, para construí-lo, são levadas em
consideração as informações privilegiadas que são comercializadas por empresas
como o Grupo IBOPE.
Abstract
The aim of this paper is to contribute to a study of urbanization in Brazilian
territory from an appreciation of a key-variable which has emerged on the last decades
and it’s very important in the context of the reorganization of the territories in the
contemporary world: information goods. With this in mind, we intend to understand the
ISBN: 978-85-99907-05-4
I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014
952
structure of big companies specialized in market researches, which are the agents
responsible for production and diffusion of strategic information through the geographic
space. In our case we study the IBOPE Group, the biggest company of market
research and the Latin American organizational intelligence, which has an important
role to play in the production and diffusion of strategic information in Brazil. In the
contemporary world this information is very relevant and it’s essential for the political
and economic agents who need it to draw up their strategies and reproduction in
space. In this context, the information produced by this company will be directly
connected with a rational construction of the Brazilian contemporary urban space,
since, to built it are taken into account inside information which are sold by companies
like IBOPE Group.
Palavras-Chave:
Produção
de
Informações;
Grupo
IBOPE;
Informação
mercadoria;
Urbanização do território.
Keywords: Information Production; IBOPE Group; Information goods; Territory’s urbanization.
Eixo 8: Geografia Urbana
1. Introdução e Justificativas
Vivemos num período onde o meio “técnico-científico-informacional” (SANTOS,
2002) impera, atuando sob a lógica de reprodução da vida humana. A mais valia,
tornada a força motora da expansão do capitalismo, e a globalização possibilitada pela
“unicidade técnica” (SANTOS, 2002), tornaram o mundo “global” e disseminaram por
ele as ideologias massificadoras necessárias ao aumento desenfreado do consumo,
alimento primordial da produção capitalista. A informação, nesse processo, adquire um
papel de destaque, e deixa de ser apenas uma categoria banal da existência humana
(SILVA, 2010) para se tornar uma mercadoria estratégica de alto valor no mundo
neoliberal, essencialmente competitivo. A informação se transforma no elemento de
união entre as diversas partes do todo tornado global (SANTOS,1994), e seus fluxos
comandam a dinâmica da sociedade e dos objetos por ela criados (RAFFESTIN,
1993).
A
instantaneidade
dos fluxos informacionais permitiu que
as firmas
hegemônicas se estabelecessem em diversos locais do mundo de acordo com suas
estratégias de reprodução, orquestradas racionalmente pelo capital, constituindo
dessa forma, enormes redes de cooperação e aprofundando cada vez mais a divisão
territorial do trabalho. A informação, nesse contexto, tornou-se uma mercadoria de alto
valor controlada por grandes corporações.
ISBN: 978-85-99907-05-4
I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014
953
No mundo capitalista globalizado, carregado de significados racionalizados
para o consumo e onde a informação adquire, portanto, um papel chave para a
reprodução do capital, surge um conjunto de novas empresas e profissões que se
destacam no período atual. São aquelas que lidam diretamente com a obtenção e o
“tratamento” da informação, para que esta possa ser convertida posteriormente em
mercadoria e vendida aos agentes (políticos e econômicos) que delas precisam dispor.
Dentre elas podemos destacar as agências de pesquisa de mercado, as empresas de
consultoria, as agências de publicidade, entre outras.
Neste trabalho destacamos as agências de pesquisa de mercado, pois desde o
pós-guerra elas têm tido papel importante na difusão e modelagem do consumo em
escala planetária e no Brasil. Para essas empresas o conhecimento, sob variadas
formas, é sua principal ferramenta e produto de trabalho. SANTOS e SILVEIRA (2001
p.93) nos falam da “necessidade de compreender as qualidades da informação,
reconhecer os seus produtores e possuidores, decifrar os seus usos” que são
decididos por tais agentes. São essas empresas que estabelecem círculos de
cooperação, elos de ligação entre a sociedade, o mercado e o Estado. Essas
empresas evidenciam a “forma mercadoria” adquirida pela informação, e, para isso,
empregam grandes quantidades de profissionais especializados em atividades de
pesquisa, comunicação, marketing, entre outros, que são típicas do quaternário1. Entre
elas consta o Grupo IBOPE, a maior empresa brasileira de pesquisa de mercado e
inteligência organizacional.
Essas grandes empresas da informação procuram estabelecer suas sedes nas
grandes metrópoles que se constituem nos nós das redes mundiais, onde as
oportunidades estão sempre presentes, dada à densidade de possíveis negócios que
existem na metrópole, não importando a que preço seja essa localização privilegiada
(LENCIONI, 2008). Instaladas nos grandes centros tais empresas se distribuem
estrategicamente através de escritórios-filiais pelo espaço mundial, estabelecendo
conexões diretas com as diversas partes do globo.
Ponderamos, assim, que o atual aprofundamento da divisão territorial do
trabalho, apreendida neste trabalho através das empresas de pesquisa de mercado,
em especial do Grupo IBOPE, repercute diretamente em novos conteúdos da
metropolização.
1
O setor quaternário é também conhecido como setor da ciência e da tecnologia. É
“caracterizado pela ação de conceber, criar, interpretar, organizar, dirigir, controlar e transmitir,
com a intervenção do ambiente científico e técnico, atribuindo a esses atos um valor
econômico” (TOMELIN, 1988 p. 71).
ISBN: 978-85-99907-05-4
I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014
954
2. O Grupo IBOPE e a Pesquisa de Mercado no Brasil
No Brasil, o Grupo IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística)
se destaca no setor de pesquisa e inteligência organizacional. Criado em 1942 por
Auricélio Penteado, na época sócio da Rádio Kosmos de São Paulo e interessado em
conhecer os níveis de audiência de sua rádio (GONTIJO,1996), se tornou sinônimo de
pesquisa no Brasil e sua importância no cenário nacional é tão grande que consta hoje
no dicionário como verbete2. É a única empresa latino-americana a figurar no ranking
norte-americano das 25 maiores organizações globais de pesquisa (Honomichl Top 25
Global Research Organizations), ocupando atualmente a décima terceira posição
(http://www.ibope.com.br). Em 2010 se tornou a quinta maior multinacional brasileira
movimentando cerca de R$ 300 milhões, um terço desse montante resultante de suas
atividades fora do Brasil, e investiu R$ 18 milhões em suas empresas no exterior
(Jornal Valor Econômico). Em 2011, de acordo com pesquisa divulgada na 6 a edição
do Ranking das Transnacionais Brasileiras3, ocupava a quarta posição, além de
conquistar importantes prêmios com a divisão IBOPE Media (www.ibope.com.br).
Figura 1:
Ranking 2011 das Empresas Brasileiras mais Transnacionalizadas – por índice
Posição
Empresa
Setores Principais
Índice de
Receita
Ativos
Funcionários
Transnacionalidade
1
JBS – Friboi
Alimentos
0,596
0,774
0,398
0,617
2
Stefanini IT
Tecnologia da
0,469
0,361
0,677
0,370
Solutions
Informação
3
Gerdau
Siderurgia e Metalurgia
0,462
0,353
0,580
0,453
4
IBOPE
Pesquisa de Mercado e
0,423
0,260
0,486
0,522
0,380
0,392
0,377
0,372
Opinião
5
Marfrig
Alimentos
Fonte: GOMES, 2013.
“[De Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística.] S.m. Bras. 1. Índice obtido mediante
pesquisas de opinião pública, com a primordial finalidade de orientar a propaganda e a
moderna técnica de vendas, preparar estudos de mercado e fazer sondagens sobre
preferências do público. 2. Índice de audiência: a última novela da Globo não deu o ibope
esperado. 3. Prestígio: convidar fulano não dá ibope.” Novo Dicionário da Língua Portuguesa.
Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.
2
3
Essa publicação é divulgada anualmente e realizada pelo Núcleo de Negócios Internacionais
da Fundação Dom Cabral (FDC). Esse estudo apresenta o desempenho das empresas no
mercado internacional.
ISBN: 978-85-99907-05-4
I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014
955
Atualmente o Grupo IBOPE possui cerca de 3 500 colaboradores, sendo 1 800
empregados no Brasil e os outros 1 500 na América Latina (www.ibope.com.br), e a
empresa só tende a aumentar suas atividades nos próximos anos, acompanhando a
tendência de supervalorização contínua das atividades ligadas ao ramo da informação
no mundo contemporâneo.
A sede do Grupo IBOPE está localizada na cidade de São Paulo, centro da
“região concentrada”4 (SANTOS e SILVEIRA, 2001) e principal nó das redes globais
que transpassam o território brasileiro, de onde chegam e partem grande parcela dos
fluxos imateriais para o restante do país. Se destacando pela concentração das
atividades quaternárias e, portanto, dos serviços superiores indispensáveis à
globalização, a cidade de São Paulo ocupa posição de comando do território nacional,
hierarquizando a rede urbana e polarizando as demais regiões não só de seu entorno,
mas do país como um todo. Sua posição de centro de comando nos remete ao seu
processo de desenvolvimento que lhe proporcionou o surgimento de uma base
industrial que aos poucos foi incorporando as modernizações que chegavam com o
avanço (ainda que seletivo) cada vez maior da tecnociência, sobretudo após a
ascensão da revolução informacional (LOJKINE, 2002) no pós-guerra.
Multinacional brasileira de capital privado, o Grupo IBOPE produz uma série de
informações:
estudo
de
mídia,
opinião
pública,
intenção
de
voto,
marca,
comportamento, mercado, pesquisas ad hoc, entre inúmeras outras. O Grupo está
estruturado em quatro grandes unidades de negócio: IBOPE Media, IBOPE
Inteligência, IBOPE Educação, IBOPE Ambiental e Instituto Paulo Montenegro, esta
última uma organização sem fins lucrativos que desenvolve e executa projetos
educacionais a partir do conhecimento acumulado pelo IBOPE em suas pesquisas. O
Grupo IBOPE possui parcerias estratégicas com os dois maiores grupos de pesquisa
de mercado do mundo; a Nielsen Company e a Kantar. A empresa avançou em seu
processo de internacionalização, e hoje opera no Brasil, em 13 países da América
Latina, e nos Estados Unidos, onde possui dois escritórios.
A “Região Concentrada” de acordo com Milton Santos e Ana Clara Torres Ribeiro (1979) é
uma região onde se acumulam as maiores densidades técnicas e informacionais sendo a
região polarizada do país. Compreende hoje os estados do Sudeste e do Sul. São Paulo é a
cidade com a maior infra-estrutura técnica da região concentrada, exercendo função de centro
de gestão do território brasileiro.
4
ISBN: 978-85-99907-05-4
I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014
956
Figura 2:
Unidades de Negócio do Grupo IBOPE
IBOPE
Media
IBOPE
Inteligência
IBOPE
Educação
IBOPE
Ambiental
Responsável pelas pesquisas de mídia, investimentos publicitários e hábitos
de consumo. É a divisão do Grupo IBOPE responsável pelas pesquisas de
audiência de TV, rádio, jornal, Internet e consumo na América Latina. As
pesquisas do IBOPE Media trazem informações como: quais são os
programas mais assistidos na televisão, as rádios mais ouvidas pela957
população, a quantidade de leitores de jornais, quais são os veículos de
comunicação que recebem mais investimentos, etc.
É a empresa do Grupo IBOPE responsável pelos estudos de mercado,
comportamento, marca, opinião pública e internet, auxiliando as organizações
na elaboração de estratégias, decisões táticas e nos processos de inovação.
Seus principais clientes são as corporações nacionais e multinacionais,
partidos políticos, órgãos do governo, veículos de comunicação e agências de
publicidade. Essa empresa oferece estudos customizados, qualitativos e
quantitativos para cada cliente de acordo com suas necessidades, fornecendolhes relatórios diagnósticos e estratégicos.
É a empresa do Grupo IBOPE atuante na área de educação executiva e
capacitação profissional especializada no trato da informação de mercado. O
diferencial dessa divisão é a utilização de informações adquiridas pelo próprio
Grupo para o ensino executivo, o que confere, segundo a empresa, uma
vantagem em relação aos demais cursos, auxiliando os profissionais
capacitados
no
processo
de
tomada
de
decisões
(www.ibopeeducacao.com.br).
É a mais recente unidade de negócios criada pelo Grupo IBOPE em 2012.
Com escritório em São Paulo, atua também em países da América latina e em
países africanos. Surge para atuar no setor de meio ambiente oferecendo
serviços voltados para o chamado desenvolvimento sustentável e para o
“controle” do aquecimento global, desenvolvendo estratégias corporativas e
políticas para o setor. Atua em duas linhas de negócios distintas: nos serviços
de consultoria, e na verificação de projetos do setor de meio ambiente. Neste
último, o IBOPE Ambiental é pioneiro no mercado, sendo reconhecido
inclusive pela Organização das Nações Unidas.
Fonte: Elaboração Própria.
ISBN: 978-85-99907-05-4
I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014
Desde sua fundação, na década de 1940, até hoje, a expansão do Grupo
IBOPE tem sido notável. Se inicialmente se concentrou em pesquisas de rádioaudiência, não tardou a alçar novos patamares, incorporando em seus negócios as
pesquisas de consumo (GONTIJO, 1996). Daí em diante seu crescimento foi
vertiginoso, sempre incorporando métodos inovadores para a medição de audiência e
consumo, além de adentrar no ramo da pesquisa política (GONTIJO, 1996). Essa
rápida ascensão demonstra a importância adquirida pela informação no Brasil,
possibilitando aos agentes que a exploram e a monopolizam um crescimento
exponencial, graças à forte demanda pela mercadoria informação no mundo
contemporâneo.
Logo, as empresas que detenham o conhecimento estratégico relativo às mais
variadas características da sociedade, lideram a dianteira no direcionamento racional
dos investimentos econômicos que, por sua vez, compreendem os usos do território.
Está aí a relevância estratégica de uma empresa de pesquisa do porte do Grupo
IBOPE. Seu alvo principal é a sociedade e suas mais íntimas características nos seus
mais variáveis níveis sociais e econômicos; “o IBOPE entende de gente”
(http://www.ibope.com.br). Centenas de pesquisas são produzidas e encomendadas
por ano, muitas delas por clientes globais, corporações de diversos setores da
economia, demonstrando o caráter essencialmente dinâmico do capital que mobiliza a
informação e transforma constantemente as feições de uma sociedade cada vez mais
imersa na racionalidade do consumo e de um espaço urbano cada vez mais favorável
a essa lógica.
O produto vendido pelo Grupo IBOPE é a informação transformada em saber
estratégico, conhecimento direto do mercado, assim como do comportamento dos
indivíduos e do conteúdo dos lugares; dados colhidos diretamente da população vista
como potencial mercado consumidor para, em seguida, ser transformado em
mercadoria informacional. O IBOPE, conforme seu slogan, “sabe ouvir, traduzir,
quantificar e qualificar o que as pessoas pensam, sentem, querem, têm vontade e vão
fazer” (http://www.ibope.com.br).
Nosso objetivo é entender e problematizar os rebatimentos do Grupo IBOPE
para os usos corporativos do território brasileiro, uma vez que o papel chave da
informação no atual período deixa clara a relevância de se entender os agentes que
lidam diretamente com ela, já que estes concentram em suas mãos um dos principais
trunfos de poder do mundo contemporâneo.
3. Topologia da Rede do Grupo IBOPE
ISBN: 978-85-99907-05-4
I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014
958
Atualmente o Grupo IBOPE possui escritórios-filiais em grande parte da
América Latina podendo, dessa forma, atuar com precisão nesses mercados. No
Brasil, sua sede localizada em São Paulo se articula com as demais filiais espalhadas
pelo país, de maneira que a rede de cooperação possa se estabelecer visando sempre
a maior rapidez e agilidade na produção e na difusão de informações. No mapa abaixo
destacamos o Brasil em vermelho, e nele nos concentraremos para pensar
geograficamente a articulação territorial entre os escritórios da empresa.
Figura 3:
959
ISBN: 978-85-99907-05-4
I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014
960
Fonte: GOMES, 2013.
No Brasil o Grupo IBOPE possui 15 escritórios localizados em 13 estados. É
interessante observar que grande parte de seus escritórios se localizam na faixa mais
urbanizada do país, que corresponde a “região concentrada” do território brasileiro.
Nota-se que há ainda dois escritórios situados na Região Norte, e que esses dois
ISBN: 978-85-99907-05-4
I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014
escritórios estão separados da faixa leste por uma enorme região que vai dos estados
do Mato Grosso do Sul até o Piauí que não possuem nenhuma filial da empresa.
Essa topologia da rede de escritórios do IBOPE obedece a um alto grau de
REGIÃO
CIDADE
UNIDADES DE NEGÓCIO
intencionalidade, e o objetivo principal dessa configuração é estar nas cidades mais
urbanizadas e que representem através de suas especificidades (culturais e
econômicas, por exemplo) uma amostragem do país. A região Norte exemplifica essa
ideia, uma vez que existem dois escritórios, localizados em Belém e em Manaus,
justamente as duas cidades com maior expressividade na rede urbana regional.
Sob essa organização o Grupo IBOPE consegue estar em todos os lugares do
território brasileiro que são relevantes economicamente. Utilizando métodos próprios
de amostragem e pesquisa, é possível através das informações que são recolhidas em
cada lugar, preparar as pesquisas que são encomendadas ao IBOPE Inteligência, cujo
centro de operações está em São Paulo e em profunda interação com as demais
unidades espalhadas pelo espaço geográfico brasileiro. As pesquisas de audiência
ficam garantidas pelas unidades do IBOPE Media instaladas em grande parte do
Brasil.
Figura 4:
Quadro de Localização das Unidades de Negócio (IBOPE Media/ IBOPE
Inteligência) por Região/Cidade
ISBN: 978-85-99907-05-4
I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014
961
MANAUS
IBOPE MEDIA
BELÉM
IBOPE MEDIA
FORTALEZA
IBOPE MEDIA
RECIFE
IBOPE MEDIA
SALVADOR
IBOPE MEDIA
DISTRITO FEDERAL
IBOPE MEDIA
GOIÂNIA
IBOPE MEDIA
BELO HORIZONTE
IBOPE
VITÓRIA
IBOPE MEDIA
NORTE (2)
NORDESTE (3)
CENTRO OESTE (2)
IBOPE INTELIGÊNCIA
RIO DE JANEIRO
IBOPE MEDIA
SUDESTE (9)
IBOPE
IBOPE INTELIGÊNCIA
SÃO PAULO
IBOPE INTELIGÊNCIA – OPERAÇÕES
IBOPE MEDIA
CAMPINAS
IBOPE MEDIA
CURITIBA
IBOPE INTELIGÊNCIA
IBOPE MEDIA
SUL (4)
FLORIANÓPOLIS
IBOPE MEDIA
PORTO ALEGRE
IBOPE MEDIA
Fonte: GOMES, 2013.
O quadro acima tem a função de demonstrar a distribuição das unidades de
negócio do Grupo IBOPE por cidade/região. Observamos que só existem escritórios
do IBOPE Inteligência na região Sudeste, no Rio de Janeiro e em São Paulo (onde
está localizado o Centro de Operações do IBOPE Inteligência), e na região Sul, na
cidade de Curitiba. Nas demais regiões só existem escritórios do IBOPE Media. Neste
ISBN: 978-85-99907-05-4
I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014
962
quadro não estão representados as unidades do IBOPE Educação e IBOPE
Ambiental, visto que suas atividades estão centralizadas na matriz em São Paulo.
A localização dos escritórios do IBOPE Inteligência apenas nas regiões
Sudeste e Sul nos revela que esses locais obedecem a premissa de estarem
localizados na “Região Concentrada” as atividades de maior teor técnico-científicoinformacional. É no IBOPE Inteligência que são tomadas todas as decisões
estratégicas que são contratadas a empresa e, desse modo, os profissionais que
atuam nas atividades dessa unidade de negócios são especializados em atividades de
tecnologia, informação e conhecimento, ou seja, profissionais extremamente
especializados no setor de inteligência analítica.
Quanto à presença dos escritórios do IBOPE Media em todas as regiões do
Brasil, isso ocorre justamente pelo fato de que como essa unidade de negócio é
responsável pelos estudos de mídia e audiência de todos os meios, e isso envolve as
especificidades de cada lugar, é necessário que essas medições de audiência e os
demais serviços que são oferecidos sejam realizados no próprio local, sem que haja a
necessidade de que uma equipe especializada em inteligência seja mobilizada até a
cidade em questão. Desse modo, seria extremamente inviável a centralização dessa
atividade e, por isso, os escritórios do IBOPE Media têm autonomia para
desenvolverem seus próprios estudos.
4. Considerações Finais
Este trabalho demonstrou a importância do Grupo IBOPE em meio às relações
capitalistas operantes no mundo contemporâneo. As forças que atuam na articulação
entre sociedade e capital, aqui representado pelas corporações multinacionais e pelo
Estado, necessitam cada vez mais de informações estratégicas que lhes direcionem
de maneira eficiente a gestão de suas operações mercadológicas e financeiras. Essas
informações privilegiadas potencializam suas estratégicas de reprodução, diminuindo
sensivelmente as eventuais perdas que, no sistema capitalista, definem aqueles que
estão à frente no mundo corporativo extremamente competitivo.
O IBOPE tem um importante papel no planejamento estratégico do espaço
geográfico nacional, exercendo a função de mediador entre as instâncias que
compõem a teia social capitalista contemporânea. As empresas de pesquisa de
mercado são peças- chave que não só auxiliam as empresas e o Estado a agirem nos
lugares certos, mas muito mais, determinam, mesmo que indiretamente, através de
sua mercadoria informação, como estruturar e organizar o espaço geográfico para que
este favoreça a expansão capitalista, através de um território cada vez mais racional.
Figura 5:
ISBN: 978-85-99907-05-4
I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014
963
964
Fonte: GOMES, 2013.
O Grupo IBOPE, localizado estrategicamente em São Paulo, se comunica com
sua rede de filiais espalhadas intencionalmente pelo território brasileiro compondo sua
amostragem e traçando um perfil dos cidadãos brasileiros, através de toda a
informação que é recolhida da sociedade. Especializado nesse ramo, empregando um
enorme contingente de profissionais altamente gabaritados em funções de inteligência,
sua mercadoria informação tem uma forte demanda antes mesmo de ser produzida,
haja vista sua expansão vertiginosa nas últimas duas décadas, transpondo inclusive
as fronteiras nacionais.
Como Geógrafos não podemos ignorar a importância assumida pela
informação mercadoria nas últimas décadas, sobretudo no que se refere ao uso dessa
informação na reorganização do espaço urbano contemporâneo. Tendo em vista a
realidade das grandes cidades brasileiras, onde o espaço é cada vez mais apropriado
pelas forças do capital resultando tanto numa “urbanização corporativa” (SANTOS,
2005) como na construção de uma “metrópole corporativa e fragmentada” (SANTOS,
1990), temos que estar atentos a expansão e a articulação das empresas produtoras e
difusoras desse tipo de informação.
Não podemos deixar de lado o fato de que as relações sociais em todas as
suas instâncias também possuem uma lógica própria de reprodução que não deixa de
existir apenas pela vontade dos agentes hegemônicos. É dessas diferenças que se
originam as dissonâncias cada vez maiores entre as demandas do capital e da
sociedade, cristalizadas no espaço sob a forma da má distribuição de renda, da
miséria, da precariedade de serviços básicos, do desamparo aos fracos e oprimidos,
das lutas sociais, entre tantos outros.
ISBN: 978-85-99907-05-4
I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014
Cabe a Geografia como ciência humana, tentar compreender e pesquisar com
maior profundidade o papel desses grupos empresariais típicos do “meio técnicocientífico-informacional”, uma vez que, tendo se estabelecido sua relevância em meio
a produção e difusão da informação estratégica, é possível compreender mais uma
nuance do processo de urbanização que impera nas cidades contemporâneas e,
assim, pensar e agir visando um desenvolvimento urbano e social que seja possível e
satisfatório em consonância com o atual estágio da economia capitalista de mercado.
5. Referências Bibliográficas
FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 3 ed. 19 impressão. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
GOMES, G. C. São Paulo e a Produção e a Difusão de Informações: Um estudo do
Grupo IBOPE. Relatório de Iniciação Científica. FAPESP, Instituto de Geociências,
Unicamp, 2013.
GONTIJO, S. A voz do Povo: O IBOPE do Brasil. Ed. Objetiva, 1996.
LENCIONI, S. Concentração e centralização das atividades urbanas: uma perspectiva
multiescalar. Reflexões a partir do caso de São Paulo. Revista de Geografia Norte
Grande, número 39, 2008.
LOJKINE, J. A Revolução Informacional. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2002.
RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993.
SANTOS, M. Metrópole corporativa fragmentada: o caso de São Paulo. São Paulo:
Nobel: Secretaria de estado da Cultura, 1990.
SANTOS, M. O retorno do Território. In: Santos, M.; Souza, M.A.A. & Silveira, M.L.
(orgs.). Território: globalização e fragmentação. São Paulo: Hucitec/ANPUR, 1994.
SANTOS, M. A natureza do Espaço: Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São Paulo:
Universidade de São Paulo, 2002.
SANTOS, M. A urbanização Brasileira. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2005.
SANTOS, M.; RIBEIRO, A. C. O Conceito de Região Concentrada. Rio de Janeiro,
Departamento de Geografia - IPPUR-UFRJ. (mimeo), 1979.
SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. S. O Brasil: Território e sociedade no início do século
XXI. 15a ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.
SILVA, A. M. B. A cidade de São Paulo e os círculos de informações. Revista Ciência
Geográfica, Ano XIV Vol. XIV, no 1, Jan/Dez, 2010.
TOMELIN, M. O quaternário: seu espaço e poder. Brasília: Universidade de Brasília,
1988.
6. Sites Consultados
ISBN: 978-85-99907-05-4
I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014
965
Fundação
Dom
Cabral.
Disponível
em
<http://www.fdc.org.br/pt/publicacoes/Paginas/relatoriodepesquisa.aspx?COD_ACERV
O=23312>
Grupo IBOPE, 2005. Disponível em <http://www.ibope.com.br>
Jornal Valor Econômico. Disponível em<http://www.valor.com.br>
966
ISBN: 978-85-99907-05-4
I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014
Download