A PRODUÇÃO E A DIFUSÃO DE INFORMAÇÕES ESTRATÉGICAS: O GRUPO IBOPE E A REORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO BRASILEIRO Gabriela de Costa Gomes [email protected] Mestranda do Programa de Pós Graduação em Geografia do IG/ UNICAMP Bolsista FAPESP Resumo Este trabalho tem como objetivo contribuir para o estudo da urbanização do território brasileiro a partir da apreciação de uma variável-chave que tem despontado nas últimas décadas como imprescindível no contexto da reorganização dos territórios no mundo contemporâneo: a informação mercadoria. Para isso, pretendemos compreender a estrutura das grandes empresas de pesquisa de mercado que são os agentes responsáveis pela produção e difusão de informações estratégicas através do espaço geográfico. Em nosso caso estudamos o Grupo IBOPE, a maior empresa de pesquisa de mercado e inteligência organizacional da América Latina, que possui um importante papel na produção e difusão de informações estratégicas no Brasil. No mundo contemporâneo essa informação é muito valorizada e se torna essencial para os agentes políticos e econômicos que dela precisam dispor para traçar suas estratégias de ação e reprodução através do espaço. Nesse contexto, as informações que são produzidas por essa empresa passam a ter ligação direta com a construção racional do espaço urbano brasileiro uma vez que, para construí-lo, são levadas em consideração as informações privilegiadas que são comercializadas por empresas como o Grupo IBOPE. Abstract The aim of this paper is to contribute to a study of urbanization in Brazilian territory from an appreciation of a key-variable which has emerged on the last decades and it’s very important in the context of the reorganization of the territories in the contemporary world: information goods. With this in mind, we intend to understand the ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 952 structure of big companies specialized in market researches, which are the agents responsible for production and diffusion of strategic information through the geographic space. In our case we study the IBOPE Group, the biggest company of market research and the Latin American organizational intelligence, which has an important role to play in the production and diffusion of strategic information in Brazil. In the contemporary world this information is very relevant and it’s essential for the political and economic agents who need it to draw up their strategies and reproduction in space. In this context, the information produced by this company will be directly connected with a rational construction of the Brazilian contemporary urban space, since, to built it are taken into account inside information which are sold by companies like IBOPE Group. Palavras-Chave: Produção de Informações; Grupo IBOPE; Informação mercadoria; Urbanização do território. Keywords: Information Production; IBOPE Group; Information goods; Territory’s urbanization. Eixo 8: Geografia Urbana 1. Introdução e Justificativas Vivemos num período onde o meio “técnico-científico-informacional” (SANTOS, 2002) impera, atuando sob a lógica de reprodução da vida humana. A mais valia, tornada a força motora da expansão do capitalismo, e a globalização possibilitada pela “unicidade técnica” (SANTOS, 2002), tornaram o mundo “global” e disseminaram por ele as ideologias massificadoras necessárias ao aumento desenfreado do consumo, alimento primordial da produção capitalista. A informação, nesse processo, adquire um papel de destaque, e deixa de ser apenas uma categoria banal da existência humana (SILVA, 2010) para se tornar uma mercadoria estratégica de alto valor no mundo neoliberal, essencialmente competitivo. A informação se transforma no elemento de união entre as diversas partes do todo tornado global (SANTOS,1994), e seus fluxos comandam a dinâmica da sociedade e dos objetos por ela criados (RAFFESTIN, 1993). A instantaneidade dos fluxos informacionais permitiu que as firmas hegemônicas se estabelecessem em diversos locais do mundo de acordo com suas estratégias de reprodução, orquestradas racionalmente pelo capital, constituindo dessa forma, enormes redes de cooperação e aprofundando cada vez mais a divisão territorial do trabalho. A informação, nesse contexto, tornou-se uma mercadoria de alto valor controlada por grandes corporações. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 953 No mundo capitalista globalizado, carregado de significados racionalizados para o consumo e onde a informação adquire, portanto, um papel chave para a reprodução do capital, surge um conjunto de novas empresas e profissões que se destacam no período atual. São aquelas que lidam diretamente com a obtenção e o “tratamento” da informação, para que esta possa ser convertida posteriormente em mercadoria e vendida aos agentes (políticos e econômicos) que delas precisam dispor. Dentre elas podemos destacar as agências de pesquisa de mercado, as empresas de consultoria, as agências de publicidade, entre outras. Neste trabalho destacamos as agências de pesquisa de mercado, pois desde o pós-guerra elas têm tido papel importante na difusão e modelagem do consumo em escala planetária e no Brasil. Para essas empresas o conhecimento, sob variadas formas, é sua principal ferramenta e produto de trabalho. SANTOS e SILVEIRA (2001 p.93) nos falam da “necessidade de compreender as qualidades da informação, reconhecer os seus produtores e possuidores, decifrar os seus usos” que são decididos por tais agentes. São essas empresas que estabelecem círculos de cooperação, elos de ligação entre a sociedade, o mercado e o Estado. Essas empresas evidenciam a “forma mercadoria” adquirida pela informação, e, para isso, empregam grandes quantidades de profissionais especializados em atividades de pesquisa, comunicação, marketing, entre outros, que são típicas do quaternário1. Entre elas consta o Grupo IBOPE, a maior empresa brasileira de pesquisa de mercado e inteligência organizacional. Essas grandes empresas da informação procuram estabelecer suas sedes nas grandes metrópoles que se constituem nos nós das redes mundiais, onde as oportunidades estão sempre presentes, dada à densidade de possíveis negócios que existem na metrópole, não importando a que preço seja essa localização privilegiada (LENCIONI, 2008). Instaladas nos grandes centros tais empresas se distribuem estrategicamente através de escritórios-filiais pelo espaço mundial, estabelecendo conexões diretas com as diversas partes do globo. Ponderamos, assim, que o atual aprofundamento da divisão territorial do trabalho, apreendida neste trabalho através das empresas de pesquisa de mercado, em especial do Grupo IBOPE, repercute diretamente em novos conteúdos da metropolização. 1 O setor quaternário é também conhecido como setor da ciência e da tecnologia. É “caracterizado pela ação de conceber, criar, interpretar, organizar, dirigir, controlar e transmitir, com a intervenção do ambiente científico e técnico, atribuindo a esses atos um valor econômico” (TOMELIN, 1988 p. 71). ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 954 2. O Grupo IBOPE e a Pesquisa de Mercado no Brasil No Brasil, o Grupo IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) se destaca no setor de pesquisa e inteligência organizacional. Criado em 1942 por Auricélio Penteado, na época sócio da Rádio Kosmos de São Paulo e interessado em conhecer os níveis de audiência de sua rádio (GONTIJO,1996), se tornou sinônimo de pesquisa no Brasil e sua importância no cenário nacional é tão grande que consta hoje no dicionário como verbete2. É a única empresa latino-americana a figurar no ranking norte-americano das 25 maiores organizações globais de pesquisa (Honomichl Top 25 Global Research Organizations), ocupando atualmente a décima terceira posição (http://www.ibope.com.br). Em 2010 se tornou a quinta maior multinacional brasileira movimentando cerca de R$ 300 milhões, um terço desse montante resultante de suas atividades fora do Brasil, e investiu R$ 18 milhões em suas empresas no exterior (Jornal Valor Econômico). Em 2011, de acordo com pesquisa divulgada na 6 a edição do Ranking das Transnacionais Brasileiras3, ocupava a quarta posição, além de conquistar importantes prêmios com a divisão IBOPE Media (www.ibope.com.br). Figura 1: Ranking 2011 das Empresas Brasileiras mais Transnacionalizadas – por índice Posição Empresa Setores Principais Índice de Receita Ativos Funcionários Transnacionalidade 1 JBS – Friboi Alimentos 0,596 0,774 0,398 0,617 2 Stefanini IT Tecnologia da 0,469 0,361 0,677 0,370 Solutions Informação 3 Gerdau Siderurgia e Metalurgia 0,462 0,353 0,580 0,453 4 IBOPE Pesquisa de Mercado e 0,423 0,260 0,486 0,522 0,380 0,392 0,377 0,372 Opinião 5 Marfrig Alimentos Fonte: GOMES, 2013. “[De Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística.] S.m. Bras. 1. Índice obtido mediante pesquisas de opinião pública, com a primordial finalidade de orientar a propaganda e a moderna técnica de vendas, preparar estudos de mercado e fazer sondagens sobre preferências do público. 2. Índice de audiência: a última novela da Globo não deu o ibope esperado. 3. Prestígio: convidar fulano não dá ibope.” Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. 2 3 Essa publicação é divulgada anualmente e realizada pelo Núcleo de Negócios Internacionais da Fundação Dom Cabral (FDC). Esse estudo apresenta o desempenho das empresas no mercado internacional. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 955 Atualmente o Grupo IBOPE possui cerca de 3 500 colaboradores, sendo 1 800 empregados no Brasil e os outros 1 500 na América Latina (www.ibope.com.br), e a empresa só tende a aumentar suas atividades nos próximos anos, acompanhando a tendência de supervalorização contínua das atividades ligadas ao ramo da informação no mundo contemporâneo. A sede do Grupo IBOPE está localizada na cidade de São Paulo, centro da “região concentrada”4 (SANTOS e SILVEIRA, 2001) e principal nó das redes globais que transpassam o território brasileiro, de onde chegam e partem grande parcela dos fluxos imateriais para o restante do país. Se destacando pela concentração das atividades quaternárias e, portanto, dos serviços superiores indispensáveis à globalização, a cidade de São Paulo ocupa posição de comando do território nacional, hierarquizando a rede urbana e polarizando as demais regiões não só de seu entorno, mas do país como um todo. Sua posição de centro de comando nos remete ao seu processo de desenvolvimento que lhe proporcionou o surgimento de uma base industrial que aos poucos foi incorporando as modernizações que chegavam com o avanço (ainda que seletivo) cada vez maior da tecnociência, sobretudo após a ascensão da revolução informacional (LOJKINE, 2002) no pós-guerra. Multinacional brasileira de capital privado, o Grupo IBOPE produz uma série de informações: estudo de mídia, opinião pública, intenção de voto, marca, comportamento, mercado, pesquisas ad hoc, entre inúmeras outras. O Grupo está estruturado em quatro grandes unidades de negócio: IBOPE Media, IBOPE Inteligência, IBOPE Educação, IBOPE Ambiental e Instituto Paulo Montenegro, esta última uma organização sem fins lucrativos que desenvolve e executa projetos educacionais a partir do conhecimento acumulado pelo IBOPE em suas pesquisas. O Grupo IBOPE possui parcerias estratégicas com os dois maiores grupos de pesquisa de mercado do mundo; a Nielsen Company e a Kantar. A empresa avançou em seu processo de internacionalização, e hoje opera no Brasil, em 13 países da América Latina, e nos Estados Unidos, onde possui dois escritórios. A “Região Concentrada” de acordo com Milton Santos e Ana Clara Torres Ribeiro (1979) é uma região onde se acumulam as maiores densidades técnicas e informacionais sendo a região polarizada do país. Compreende hoje os estados do Sudeste e do Sul. São Paulo é a cidade com a maior infra-estrutura técnica da região concentrada, exercendo função de centro de gestão do território brasileiro. 4 ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 956 Figura 2: Unidades de Negócio do Grupo IBOPE IBOPE Media IBOPE Inteligência IBOPE Educação IBOPE Ambiental Responsável pelas pesquisas de mídia, investimentos publicitários e hábitos de consumo. É a divisão do Grupo IBOPE responsável pelas pesquisas de audiência de TV, rádio, jornal, Internet e consumo na América Latina. As pesquisas do IBOPE Media trazem informações como: quais são os programas mais assistidos na televisão, as rádios mais ouvidas pela957 população, a quantidade de leitores de jornais, quais são os veículos de comunicação que recebem mais investimentos, etc. É a empresa do Grupo IBOPE responsável pelos estudos de mercado, comportamento, marca, opinião pública e internet, auxiliando as organizações na elaboração de estratégias, decisões táticas e nos processos de inovação. Seus principais clientes são as corporações nacionais e multinacionais, partidos políticos, órgãos do governo, veículos de comunicação e agências de publicidade. Essa empresa oferece estudos customizados, qualitativos e quantitativos para cada cliente de acordo com suas necessidades, fornecendolhes relatórios diagnósticos e estratégicos. É a empresa do Grupo IBOPE atuante na área de educação executiva e capacitação profissional especializada no trato da informação de mercado. O diferencial dessa divisão é a utilização de informações adquiridas pelo próprio Grupo para o ensino executivo, o que confere, segundo a empresa, uma vantagem em relação aos demais cursos, auxiliando os profissionais capacitados no processo de tomada de decisões (www.ibopeeducacao.com.br). É a mais recente unidade de negócios criada pelo Grupo IBOPE em 2012. Com escritório em São Paulo, atua também em países da América latina e em países africanos. Surge para atuar no setor de meio ambiente oferecendo serviços voltados para o chamado desenvolvimento sustentável e para o “controle” do aquecimento global, desenvolvendo estratégias corporativas e políticas para o setor. Atua em duas linhas de negócios distintas: nos serviços de consultoria, e na verificação de projetos do setor de meio ambiente. Neste último, o IBOPE Ambiental é pioneiro no mercado, sendo reconhecido inclusive pela Organização das Nações Unidas. Fonte: Elaboração Própria. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 Desde sua fundação, na década de 1940, até hoje, a expansão do Grupo IBOPE tem sido notável. Se inicialmente se concentrou em pesquisas de rádioaudiência, não tardou a alçar novos patamares, incorporando em seus negócios as pesquisas de consumo (GONTIJO, 1996). Daí em diante seu crescimento foi vertiginoso, sempre incorporando métodos inovadores para a medição de audiência e consumo, além de adentrar no ramo da pesquisa política (GONTIJO, 1996). Essa rápida ascensão demonstra a importância adquirida pela informação no Brasil, possibilitando aos agentes que a exploram e a monopolizam um crescimento exponencial, graças à forte demanda pela mercadoria informação no mundo contemporâneo. Logo, as empresas que detenham o conhecimento estratégico relativo às mais variadas características da sociedade, lideram a dianteira no direcionamento racional dos investimentos econômicos que, por sua vez, compreendem os usos do território. Está aí a relevância estratégica de uma empresa de pesquisa do porte do Grupo IBOPE. Seu alvo principal é a sociedade e suas mais íntimas características nos seus mais variáveis níveis sociais e econômicos; “o IBOPE entende de gente” (http://www.ibope.com.br). Centenas de pesquisas são produzidas e encomendadas por ano, muitas delas por clientes globais, corporações de diversos setores da economia, demonstrando o caráter essencialmente dinâmico do capital que mobiliza a informação e transforma constantemente as feições de uma sociedade cada vez mais imersa na racionalidade do consumo e de um espaço urbano cada vez mais favorável a essa lógica. O produto vendido pelo Grupo IBOPE é a informação transformada em saber estratégico, conhecimento direto do mercado, assim como do comportamento dos indivíduos e do conteúdo dos lugares; dados colhidos diretamente da população vista como potencial mercado consumidor para, em seguida, ser transformado em mercadoria informacional. O IBOPE, conforme seu slogan, “sabe ouvir, traduzir, quantificar e qualificar o que as pessoas pensam, sentem, querem, têm vontade e vão fazer” (http://www.ibope.com.br). Nosso objetivo é entender e problematizar os rebatimentos do Grupo IBOPE para os usos corporativos do território brasileiro, uma vez que o papel chave da informação no atual período deixa clara a relevância de se entender os agentes que lidam diretamente com ela, já que estes concentram em suas mãos um dos principais trunfos de poder do mundo contemporâneo. 3. Topologia da Rede do Grupo IBOPE ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 958 Atualmente o Grupo IBOPE possui escritórios-filiais em grande parte da América Latina podendo, dessa forma, atuar com precisão nesses mercados. No Brasil, sua sede localizada em São Paulo se articula com as demais filiais espalhadas pelo país, de maneira que a rede de cooperação possa se estabelecer visando sempre a maior rapidez e agilidade na produção e na difusão de informações. No mapa abaixo destacamos o Brasil em vermelho, e nele nos concentraremos para pensar geograficamente a articulação territorial entre os escritórios da empresa. Figura 3: 959 ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 960 Fonte: GOMES, 2013. No Brasil o Grupo IBOPE possui 15 escritórios localizados em 13 estados. É interessante observar que grande parte de seus escritórios se localizam na faixa mais urbanizada do país, que corresponde a “região concentrada” do território brasileiro. Nota-se que há ainda dois escritórios situados na Região Norte, e que esses dois ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 escritórios estão separados da faixa leste por uma enorme região que vai dos estados do Mato Grosso do Sul até o Piauí que não possuem nenhuma filial da empresa. Essa topologia da rede de escritórios do IBOPE obedece a um alto grau de REGIÃO CIDADE UNIDADES DE NEGÓCIO intencionalidade, e o objetivo principal dessa configuração é estar nas cidades mais urbanizadas e que representem através de suas especificidades (culturais e econômicas, por exemplo) uma amostragem do país. A região Norte exemplifica essa ideia, uma vez que existem dois escritórios, localizados em Belém e em Manaus, justamente as duas cidades com maior expressividade na rede urbana regional. Sob essa organização o Grupo IBOPE consegue estar em todos os lugares do território brasileiro que são relevantes economicamente. Utilizando métodos próprios de amostragem e pesquisa, é possível através das informações que são recolhidas em cada lugar, preparar as pesquisas que são encomendadas ao IBOPE Inteligência, cujo centro de operações está em São Paulo e em profunda interação com as demais unidades espalhadas pelo espaço geográfico brasileiro. As pesquisas de audiência ficam garantidas pelas unidades do IBOPE Media instaladas em grande parte do Brasil. Figura 4: Quadro de Localização das Unidades de Negócio (IBOPE Media/ IBOPE Inteligência) por Região/Cidade ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 961 MANAUS IBOPE MEDIA BELÉM IBOPE MEDIA FORTALEZA IBOPE MEDIA RECIFE IBOPE MEDIA SALVADOR IBOPE MEDIA DISTRITO FEDERAL IBOPE MEDIA GOIÂNIA IBOPE MEDIA BELO HORIZONTE IBOPE VITÓRIA IBOPE MEDIA NORTE (2) NORDESTE (3) CENTRO OESTE (2) IBOPE INTELIGÊNCIA RIO DE JANEIRO IBOPE MEDIA SUDESTE (9) IBOPE IBOPE INTELIGÊNCIA SÃO PAULO IBOPE INTELIGÊNCIA – OPERAÇÕES IBOPE MEDIA CAMPINAS IBOPE MEDIA CURITIBA IBOPE INTELIGÊNCIA IBOPE MEDIA SUL (4) FLORIANÓPOLIS IBOPE MEDIA PORTO ALEGRE IBOPE MEDIA Fonte: GOMES, 2013. O quadro acima tem a função de demonstrar a distribuição das unidades de negócio do Grupo IBOPE por cidade/região. Observamos que só existem escritórios do IBOPE Inteligência na região Sudeste, no Rio de Janeiro e em São Paulo (onde está localizado o Centro de Operações do IBOPE Inteligência), e na região Sul, na cidade de Curitiba. Nas demais regiões só existem escritórios do IBOPE Media. Neste ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 962 quadro não estão representados as unidades do IBOPE Educação e IBOPE Ambiental, visto que suas atividades estão centralizadas na matriz em São Paulo. A localização dos escritórios do IBOPE Inteligência apenas nas regiões Sudeste e Sul nos revela que esses locais obedecem a premissa de estarem localizados na “Região Concentrada” as atividades de maior teor técnico-científicoinformacional. É no IBOPE Inteligência que são tomadas todas as decisões estratégicas que são contratadas a empresa e, desse modo, os profissionais que atuam nas atividades dessa unidade de negócios são especializados em atividades de tecnologia, informação e conhecimento, ou seja, profissionais extremamente especializados no setor de inteligência analítica. Quanto à presença dos escritórios do IBOPE Media em todas as regiões do Brasil, isso ocorre justamente pelo fato de que como essa unidade de negócio é responsável pelos estudos de mídia e audiência de todos os meios, e isso envolve as especificidades de cada lugar, é necessário que essas medições de audiência e os demais serviços que são oferecidos sejam realizados no próprio local, sem que haja a necessidade de que uma equipe especializada em inteligência seja mobilizada até a cidade em questão. Desse modo, seria extremamente inviável a centralização dessa atividade e, por isso, os escritórios do IBOPE Media têm autonomia para desenvolverem seus próprios estudos. 4. Considerações Finais Este trabalho demonstrou a importância do Grupo IBOPE em meio às relações capitalistas operantes no mundo contemporâneo. As forças que atuam na articulação entre sociedade e capital, aqui representado pelas corporações multinacionais e pelo Estado, necessitam cada vez mais de informações estratégicas que lhes direcionem de maneira eficiente a gestão de suas operações mercadológicas e financeiras. Essas informações privilegiadas potencializam suas estratégicas de reprodução, diminuindo sensivelmente as eventuais perdas que, no sistema capitalista, definem aqueles que estão à frente no mundo corporativo extremamente competitivo. O IBOPE tem um importante papel no planejamento estratégico do espaço geográfico nacional, exercendo a função de mediador entre as instâncias que compõem a teia social capitalista contemporânea. As empresas de pesquisa de mercado são peças- chave que não só auxiliam as empresas e o Estado a agirem nos lugares certos, mas muito mais, determinam, mesmo que indiretamente, através de sua mercadoria informação, como estruturar e organizar o espaço geográfico para que este favoreça a expansão capitalista, através de um território cada vez mais racional. Figura 5: ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 963 964 Fonte: GOMES, 2013. O Grupo IBOPE, localizado estrategicamente em São Paulo, se comunica com sua rede de filiais espalhadas intencionalmente pelo território brasileiro compondo sua amostragem e traçando um perfil dos cidadãos brasileiros, através de toda a informação que é recolhida da sociedade. Especializado nesse ramo, empregando um enorme contingente de profissionais altamente gabaritados em funções de inteligência, sua mercadoria informação tem uma forte demanda antes mesmo de ser produzida, haja vista sua expansão vertiginosa nas últimas duas décadas, transpondo inclusive as fronteiras nacionais. Como Geógrafos não podemos ignorar a importância assumida pela informação mercadoria nas últimas décadas, sobretudo no que se refere ao uso dessa informação na reorganização do espaço urbano contemporâneo. Tendo em vista a realidade das grandes cidades brasileiras, onde o espaço é cada vez mais apropriado pelas forças do capital resultando tanto numa “urbanização corporativa” (SANTOS, 2005) como na construção de uma “metrópole corporativa e fragmentada” (SANTOS, 1990), temos que estar atentos a expansão e a articulação das empresas produtoras e difusoras desse tipo de informação. Não podemos deixar de lado o fato de que as relações sociais em todas as suas instâncias também possuem uma lógica própria de reprodução que não deixa de existir apenas pela vontade dos agentes hegemônicos. É dessas diferenças que se originam as dissonâncias cada vez maiores entre as demandas do capital e da sociedade, cristalizadas no espaço sob a forma da má distribuição de renda, da miséria, da precariedade de serviços básicos, do desamparo aos fracos e oprimidos, das lutas sociais, entre tantos outros. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 Cabe a Geografia como ciência humana, tentar compreender e pesquisar com maior profundidade o papel desses grupos empresariais típicos do “meio técnicocientífico-informacional”, uma vez que, tendo se estabelecido sua relevância em meio a produção e difusão da informação estratégica, é possível compreender mais uma nuance do processo de urbanização que impera nas cidades contemporâneas e, assim, pensar e agir visando um desenvolvimento urbano e social que seja possível e satisfatório em consonância com o atual estágio da economia capitalista de mercado. 5. Referências Bibliográficas FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 3 ed. 19 impressão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. GOMES, G. C. São Paulo e a Produção e a Difusão de Informações: Um estudo do Grupo IBOPE. Relatório de Iniciação Científica. FAPESP, Instituto de Geociências, Unicamp, 2013. GONTIJO, S. 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