A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO A PESQUISA DE MERCADO E A URBANIZAÇÃO CORPORATIVA: O GRUPO IBOPE, A INFORMAÇÃO ESTRATÉGICA E OS USOS DO TERRITÓRIO BRASILEIRO GABRIELA DE COSTA GOMES1 Resumo: Sabemos que no mundo contemporâneo o mercado capitalista globalizado tem alterado significativamente as feições urbanas das grandes metrópoles, difundindo um modelo de urbanização corporativa (SANTOS, 2009) que visa um espaço geográfico fluido às atividades do capital e seus representantes. Este trabalho busca a partir da variável informação, tornada mercadoria na difusão do meio técnico- científico- informacional (SANTOS, 2002), analisar a atuação do Grupo IBOPE, maior empresa de pesquisa de mercado e inteligência organizacional da América Latina, na produção e difusão da informação estratégica no Brasil, e quais são os rebatimentos de suas atividades nos usos do território brasileiro. Palavras- Chave: Produção de Informações; Grupo IBOPE; Informação mercadoria; Urbanização do território, Pesquisa de Mercado. Abstract: We know that in the contemporary world the globalized capitalist market has significantly changed the big cities’ urban features, spreading a model of corporate urbanization (SANTOS, 2009) which aims a fluid geographic space to the capital activities and their representatives. This work intend from the information variable, which became a product in the technical- scientific- informational environment’s diffusion (SANTOS, 2002), analize the IBOPE Group’s role, the biggest company of market research and the Latin American organizational intelligence, the production and diffusion of strategic information in Brazil, and what are the consequences of the company activities for the territory’s uses. Keywords: Information Production; IBOPE Group; Information goods; Territory’s urbanization, Market Research. 1- Introdução O mundo contemporâneo é caracterizado pela rapidez dos fluxos imateriais que transpassam o território. Isso é possível graças ao avançado estado das técnicas que, desde o pós- guerra, têm evoluído graças ao acréscimo de conhecimento aos processos produtivos. Para Santos (2002) vivemos um período onde impera o meio técnico-científico-informacional e, é nesse contexto, que emerge 1 Mestranda do Programa de Pós- Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Campinas. Email de contato: [email protected]. 4739 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO uma variável-chave explicativa dos processos sócio- econômicos e espaciais que comanda, entre outros, os processos de urbanização contemporânea: a informação. A informação adquire destaque no mundo capitalista e seus fluxos comandam a dinâmica da sociedade e dos objetos por ela criados (RAFFESTIN, 1993). O processo de globalização, constituído a partir de vigorosas redes financeiras e informacionais, reorganiza o espaço mundial capitalista de acordo com os interesses das grandes corporações, promovendo uma verdadeira “tirania das determinações econômicas” (ISNARD, 1982, p.239). O mundo globalizado é, em certa medida, o mundo do conhecimento unido pela informação (MATTELART, 1994). O papel chave desempenhado pela informação coloca em evidência a necessidade de se estudar os agentes que lidam diretamente com ela, pois entendemos que estes possuem em suas mãos um dos principais trunfos de poder do mundo contemporâneo. Quem detém a informação tem ampla vantagem sobre aqueles que não tem, o que é crucial nos processos econômicos atuais dada a extrema competitividade dos mercados globais. No mundo capitalista globalizado, carregado de significados racionalizados e onde a informação se tornou variável chave para a reprodução do capital, surge um conjunto de novas empresas que ganharam destaque no período atual. São aquelas que lidam diretamente com a obtenção e o “tratamento” da informação, para que esta possa ser convertida posteriormente em mercadorias para os agentes (políticos e econômicos) que delas precisam dispor. Dentre essas empresas destacamos as de pesquisa de mercado que têm tido papel importante na difusão e modelagem do consumo em escala planetária e no Brasil, como é o caso da brasileira IBOPE. Essas empresas procuram estabelecer suas sedes nas grandes metrópoles que se constituem nos nós das redes mundiais onde as oportunidades estão sempre presentes, não importando a que preço seja essa localização privilegiada (LENCIONI, 2008). Ponderamos, então, que o atual aprofundamento da divisão do trabalho repercute diretamente em novos conteúdos da metropolização. No Brasil, país de urbanização tardia, uma empresa que detenha o conhecimento estratégico relativo às mais variadas características da sociedade, lidera a dianteira no direcionamento racional dos investimentos que, por sua vez, 4740 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO implicam em novos usos do território2. Está aí a relevância estratégica de uma empresa de pesquisa como o Grupo IBOPE. Seu alvo é a sociedade nos seus mais variáveis níveis sociais e econômicos, “o IBOPE entende de gente” (http://www.ibope.com.br). Centenas de pesquisas são produzidas e comercializadas por ano, demonstrando o dinamismo do capital que mobiliza a informação e transforma constantemente as feições de uma sociedade imersa na racionalidade do consumo, com rebatimentos diretos na construção do espaço urbano contemporâneo que, regido sob a lógica capitalista, é cada vez mais corporativo. O objetivo deste trabalho, tendo o conhecimento e a informação mercadoria como categorias chaves no contexto da sociedade capitalista (SANTOS, 2002; ORTIZ, 1994), e pensando o espaço geográfico como um conjunto indissociável entre sistemas de objetos e sistemas de ações (SANTOS, 2002), é compreender como Grupo IBOPE se articula e produz a informação mercadoria, posteriormente vendida aos agentes hegemônicos, corporações e Estado, que de posse desta produzem um espaço urbano cada vez mais fluido ao capital, promovendo uma urbanização cada vez mais corporativa (SANTOS, 2009) nas grandes metrópoles. 2- A Informação Estratégica e a Pesquisa de Mercado Teorizando a informação Dantas (2003 p.10) afirma que esta “é um processo de seleção efetuado por algum agente, entre eventos passíveis de ocorrer em um dado ambiente”, e mais, “para que ocorra informação haverá sempre necessidade de interação (ou comunicação) entre um sujeito e um objeto, ou sujeito a sujeito”. É o sujeito o responsável por extrair sentido das emissões de sinais que podem vir sob a forma de vibrações sonoras, radiações elétricas, entre outras. “Sinais sinalizadores não passam de fenômenos físico-energéticos se não existir, no ambiente, algum agente capaz de percebê-los e deles extrair algum sentido ou significado” (DANTAS, 2003 p.10). A informação “é condição de existência [...] de uma economia mercantil” (BOLAÑO, 2000 p. 31) e a ciência, a tecnologia e a informação “estão na própria 2 Para Santos e Silveira (2001), em uma abordagem geográfica, o território usado é sinônimo de espaço geográfico. Dessa forma “O uso do território pode ser definido pela implantação de infraestruturas, [...], mas também pelo dinamismo da economia e da sociedade”. (SANTOS E SILVEIRA, 2001 p. 21). 4741 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO base da produção, da utilização e do funcionamento do espaço” (SANTOS, 2002 p.238). “Entender a realidade hoje é entendê-la como realidade informacional” (MOSTAFA, 1994 p. 23). É graças ao aporte de conhecimento aplicado aos processos comunicativos que o capital pôde estabelecer conexões com todas as partes do mundo, possibilitando a simultaneidade das ações e a aceleração do tempo; premissa da globalização vigente. Para Mattelart (1994) a valorização do desenvolvimento técnico-científico foi resultado da importância atribuída a esse setor desde o século XVIII, cuja base foi a invenção do telégrafo ótico que, para o autor, “já alterou profundamente a importância econômica da informação, os métodos de coleta, tratamento e codificação” (MATTELART, 2002 p. 26). Assim, o mundo globalizado está apoiado na produção e no consumo da informação (ANTUNES, 2000), e esta se transforma numa mercadoria com alto valor de troca, já que fornece às grandes corporações dados que permitem o direcionamento eficiente do capital. As relações sociais capitalistas são baseadas em dominação e poder (BOLAÑO, 2000). Para Dantas (2003 p. 12) na economia contemporânea “tudo se transforma em fonte de informação-valor”, e quem detém a informação no mundo globalizado detém o poder. Hoje a informação se transformou em mercadoria estratégica e em trunfo de poder (MOSTAFA, 1994), tornando-se fundamental às ações das corporações, que precisam dessa informação para alocar eficientemente seus recursos, e para o Estado, que com seu poder normatizador facilita a expansão capitalista na metrópole criando espaços urbanos cada vez mais atrativos ao capital. A informação estratégica tem papel fundamental no contexto capitalista já que condiciona o direcionamento dos investimentos dos agentes hegemônicos, cujos rebatimentos são diretos na revalorização seletiva dos espaços metropolitanos. Assim, o território conectado através de redes bem constituídas que permitem os fluxos materiais e imateriais, vai se tornando heterogêneo na medida em que novas técnicas vão se instalando e reproduzindo sua lógica. Com a perspectiva da informação estratégica como um trunfo de poder destacamos a pesquisa de mercado, que tendo surgido nas primeiras décadas do século XX expandiu- se na esteira da difusão do consumo, compondo o quadro de 4742 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO atividades e serviços superiores típicos do quaternário3. Entendemos que a pesquisa de mercado mobiliza a informação estratégica sobre todos os aspectos da sociedade, comercializando aos agentes hegemônicos “construtores” dos espaços urbanos contemporâneos, uma informação necessária para que estes expandam suas atividades pelo espaço geográfico alterando os contornos das metrópoles. É a demanda pela mercadoria informação que impulsiona a expansão das empresas de pesquisa de mercado, principais responsáveis por colher a informação bruta e transformá-la em informação estratégica, comercializando-a e contribuindo significativamente para o conhecimento sobre a dinâmica do mercado (ANTUNES, 2000) e do espaço urbano contemporâneo. Essas empresas estabelecem vínculos entre o local e o global, ponto estratégico da globalização (MATTELART, 1994), na medida em que procuram estabelecer seus escritórios em locais em que estejam disponíveis os serviços superiores necessários as suas atividades. As empresas de pesquisa de mercado se organizam no espaço mundial seguindo uma racionalidade própria e, seus escritórios- filiais, objetos técnicos (SANTOS, 2002) incrustados no território, compõem uma rede mundial de cooperação por onde circulam os fluxos informacionais. A partir de seus escritórios essas empresas ordenam suas ações pelo espaço, e esse tráfego de informação estratégica integra o mercado alterando a dinâmica espacial dos lugares. 3- O Grupo IBOPE e a Pesquisa de Mercado No Brasil o Grupo IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) se destaca no setor de pesquisa e inteligência organizacional. Impulsionado pelo sucesso da difusão do rádio no Brasil, o Grupo IBOPE foi criado em 1942 por Auricélio Penteado, na época sócio da Rádio Kosmos de São Paulo e interessado em conhecer seus níveis de audiência (GONTIJO,1996). Para isso foi para os Estados Unidos onde estudou no American Institute of Public Opinion, um instituto 3 O setor quaternário é também conhecido como setor ciência e tecnologia. É “caracterizado pela ação de conceber, criar, interpretar, organizar, dirigir, controlar e transmitir, com a intervenção do ambiente científico e técnico, atribuindo a esses atos um valor econômico” (TOMELIN, 1988 p. 71). 4743 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO de pesquisa criado em 1935 por George Gallup4. Ao retornar, Auricélio descobriu que sua rádio não estava entre as mais ouvidas e, a partir daí, se dedicou a criar uma empresa que fosse capaz de aferir sistematicamente a audiência com fundamentos científicos (GONTIJO, 1996). Desde então o Grupo IBOPE se tornou sinônimo de pesquisa no Brasil e sua importância no cenário nacional é tão grande que consta no dicionário como verbete5. É a única empresa latino-americana a figurar no ranking norte-americano das 25 maiores organizações globais de pesquisa (Honomichl Top 25 Global Research Organizations), ocupando atualmente a décima terceira posição (http://www.ibope.com.br). Em 2010 movimentou R$ 300 milhões, um terço desse montante resultante de suas atividades fora do Brasil (Jornal Valor Econômico), e em 2014 assumiu a quarta posição no ranking das empresas brasileiras mais transnacionalizadas (Fundação Dom Cabral). A empresa produz uma série de informações: estudos de mídia, opinião pública, intenção de voto, marca, comportamento, mercado, pesquisas ad hoc, entre outras. Hoje o Grupo IBOPE está dividido em quatro unidades de negócios: IBOPE Media, IBOPE Inteligência, IBOPE E- Commerce e IBOPE Ambiental. É ainda acionista da Millward Brown do Brasil, empresa de pesquisa de mercado ad hoc (estudos customizados), Megadata, empresa de processamento de dados, e do Instituto Paulo Montenegro, uma organização sem fins lucrativos que desenvolve e executa projetos educacionais (www.ibope.com.br). Desde sua fundação a expansão do Grupo IBOPE tem sido notável. Se inicialmente se concentrou em pesquisas de rádio- audiência, não tardou a incorporar em seus negócios as pesquisas de consumo e a pesquisa política (GONTIJO, 1996). Essa ascensão reflete a importância que a informação estratégica adquiriu no Brasil, seguindo uma tendência global, possibilitando aos agentes que a exploram e a monopolizam um crescimento exponencial. 4 Estatístico norte-americano e inventor do sistema de Pesquisa Gallup, que era um método de pesquisa de amostras estatísticas de medição de opinião pública (www.wikipedia.org). 5 “[De Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística.] S.m. Bras. 1. Índice obtido mediante pesquisas de opinião pública, com a primordial finalidade de orientar a propaganda e a moderna técnica de vendas, preparar estudos de mercado e fazer sondagens sobre preferências do público. 2. Índice de audiência: a última novela da Globo não deu o ibope esperado. 3. Prestígio: convidar fulano não dá ibope.” Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. 4744 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO A empresa acaba de consolidar seu processo de internacionalização, operando no Brasil, em 13 países da América Latina e com dois escritórios nos Estados Unidos. Mapa 1: Escritórios do IBOPE. Fonte: GOMES, 2013. O produto vendido pelo Grupo IBOPE é a informação estratégica para todos os setores da economia. Essa informação é o conhecimento refinado a partir de dados brutos que ao serem trabalhados pelos especialistas do Grupo IBOPE se tornam mais valiosos, fornecendo informações sigilosas do comportamento dos indivíduos e dos conteúdos dos lugares; dados colhidos da população transformados em mercadoria informacional. O IBOPE “sabe ouvir, traduzir, quantificar e qualificar o que as pessoas pensam, sentem, querem, têm vontade e vão fazer” 4745 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO (http://www.ibope.com.br). São comercializadas pesquisas que atendem as exigências do Estado, grandes corporações e empresas de pequeno porte que almejam alcançar seu espaço no mercado capitalista competitivo. 4- O Grupo IBOPE e os Usos Corporativos do Território Brasileiro O Grupo IBOPE tem escritórios- filiais distribuídos estrategicamente pelo território nacional. A racionalidade contemporânea fica clara ao examinarmos as ações dessas empresas no espaço através de sua estrutura organizacional, que é pensada para atender às demandas de seus clientes. Mapa 2: Rede de Filiais do Grupo IBOPE por Unidade de Negócio. Fonte: Elaboração Própria a partir de dados de www.ibope.com.br Analisando o mapa 2 vemos que o Grupo IBOPE possui escritórios em grande parte do Brasil. Nos locais em que não possui a empresa exerce suas ações 4746 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO através das redes técnicas e informacionais que lhe permitem estabelecer conexões com esses lugares através de seu escritório mais próximo. É o que acontece na Região Norte. Há escritórios apenas em Manaus e Belém, porque essas são as cidades com maior representatividade da região, e que exercem influência direta sobre as localizadas em seu entorno. Por outro lado observamos com nitidez uma maior concentração no eixo Centro- Sul do país, mais precisamente na Região Concentrada 6, e existe uma lógica clara por trás dessa configuração. Como uma empresa típica do quaternário, o Grupo IBOPE precisa estar onde a oferta de serviços, mão-de-obra especializada e infra- estrutura técnica estejam disponíveis, e isso ocorre na região mais desenvolvida do país. Do mesmo modo, é essa região que concentra o maior número de sedes de corporações multinacionais e órgãos do governo, principais clientes do Grupo IBOPE. Como qualquer empresa a proximidade com os centros consumidores é primordial para a expansão de seus negócios. A sede do Grupo IBOPE está localizada em São Paulo, e todos os demais escritórios da empresa respondem à matriz. A partir da configuração espacial dos seus escritórios- filiais a empresa estabelece uma rede por onde circulam diariamente enormes quantidades de informação estratégica conformando um verdadeiro sistema de ações que buscam primordialmente a expansão do mercado em território nacional, contribuindo para a construção do que Santos (2009) chamou de “metrópole corporativa e fragmentada”, na medida em que são as verticalidades (SANTOS, 2002) que têm comandado a realidade metropolitana contemporânea, produzindo feições urbanas que não respeitam as especificidades locais. 5- Considerações Finais Na medida em que seus principais clientes são o Estado e grandes corporações capitalistas o Grupo IBOPE se destaca como uma ferramenta 6 A “Região Concentrada” de acordo com Milton Santos e Ana Clara Torres Ribeiro (1979) é uma região onde se acumulam as maiores densidades técnicas e informacionais sendo a região polarizada do país. Compreende hoje os estados do Sudeste e do Sul. São Paulo é a cidade com a maior infra-estrutura técnica da região concentrada, exercendo assim um papel centralizador sobre às demais. 4747 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO imprescindível ao mercado global. Empresas de pesquisa de mercado têm se expandido na esteira da demanda crescente pela informação estratégica, e acabam atuando como um importante instrumento mediador que, através de suas ações, estabelece relações entre o Estado, o Mercado e a sociedade, tendo o espaço urbano como palco dessa dinâmica. Através de seus escritórios- filiais, sistemas de objetos incrustados no espaço geográfico (SANTOS, 2002) o Grupo IBOPE difunde a informação pelo território, e esta, ao chegar nas mãos dos agentes hegemônicos, tem rebatimentos diretos sobre os espaços metropolitanos, que vão se transformar em nova fronteira de acumulação capitalista, ou como sugere Vainer (2011), em lugares de acumulação ampliada do capital. O que temos então é uma urbanização caótica (SANTOS, 2005), principalmente nas metrópoles do mundo subdesenvolvido, onde as influências externas parecem atuar mais livremente contribuindo para a construção de um espaço cada vez mais alienado ao capital (HARVEY, 2004). A difusão da informação, que já foi vista como uma esperança para a unificação dos povos e para a redução das disparidades sócio-espaciais, hoje se torna um dos principais perpetuadores desses mesmos abismos quando posta a serviço da tirania do capital. Os espaços da urbanização contemporânea clamam por projetos voltados a realidade metropolitana subdesenvolvida. Como Geógrafos temos a obrigação de buscar alternativas, a partir da compreensão da totalidade do espaço, que reconheçam a informação estratégica não como mercadoria privada, mas como um recurso e como um presente (DANTAS, 2003). Precisamos pensar em projetos e ações no espaço geográfico metropolitano que sejam menos mercadológicos e mais societários. Urge estarmos focados em uma luta por uma urbanização mais humana, que enalteça a crítica acerca da urbanização corporativa atual. 6- Referências Bibliográficas ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho: Ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 2a Ed, São Paulo: Boitempo Editorial, 2a Ed, 2000. 4748 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO BOLAÑO, C. Indústria Cultural: Informação e Capitalismo. São Paulo: Hucitec/Polis, 2000. DANTAS, M. Informação e trabalho no capitalismo contemporâneo. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, São Paulo, n. 60, p. 05-44, 2003. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 3 ed. 19 impressão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. GOMES, G. C. São Paulo e a Produção e a Difusão de Informações: Um estudo do Grupo IBOPE. Relatório de Iniciação Científica. FAPESP, Instituto de Geociências, Unicamp, 2013. GONTIJO, S. A voz do Povo: O IBOPE do Brasil. Ed. Objetiva, 1996. HARVEY, D. 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