SUSCEPTIBILIDADE À MASTITE: FATORES QUE A INFLUENCIAM - UMA REVISÃO FACTORS AFFECTING MASTITIS SUSCEPTIBILITY: A REVISION Danívia Santos Prestes 1; Andreane Filappi1; Marcelo Cecim2 RESUMO A mastite, clínica e subclínica, são consideradas como um problema potencial em criações com finalidade de produção leiteira. O presente artigo de revisão é apresentado com intuito de abordar os fatores determinantes associados à ocorrência de mastite. O desencadeamento desta enfermidade está vinculado à complexa tríade: animal (hospedeiro), agente etiológico e/ou meio ambiente. A prevenção e controle da mastite dependem do conhecimento dos padrões de ocorrência da doença, que só se torna possível, através de um estudo epidemiológico da situação. Em conclusão, os fatores determinantes que influenciam na susceptibilidade à mastite incluem: resistência natural da glândula mamária; estágio da lactação; hereditariedade; idade do animal; espécie, infectividade e patogenicidade do agente etiológico; ordenha; manejo; clima e nutrição. Palavras-chave: susceptibilidade, mastite. ABSTRACT The objective of the present paper is to review the present body of knowledge about the factors affecting susceptibility to mastitis. Herd incidence of mastitis depends of a complex relation between host, agent and environment. The risk factors associated with mastitis incidence include: natural resistance of the mammary gland, stage of lactation, age, species and pathogenicity of the etiological agent, management, climate and nutrition. Such factors should be analyzed as a whole, and are the major target points to which diagnostic, control and preventative measures must aim. Key words: susceptibility, mastitis. 1 2 . Méd. Vet. Mestranda em Clínica Médica, UFSM. E-mail: [email protected]. . Méd. Vet. PhD. Prof. Adjunto, Departamento de Clínica de Grandes Animais, UFSM. Revista da FZVA Uruguaiana, v. 9, n. 1, p. 118-132. 2002. 119 Susceptibilidade à mastite... musculares, INTRODUÇÃO podem estar presentes conforme menciona HILLERTON (1996). A glândula mamária é um órgão O desencadeamento da mastite está singular, sob o ponto de vista de sua vinculado complexidade (hospedeiro), ao agente etiológico e/ou ao fisiológica, biofísica e à complexa tríade: animal anatômica (CUNNINGHAN, 1999). As meio infecções intramamárias (IIMs) ocorrem enfermidade multifatorial (HURLEY & quando um agente (infeccioso, químico, MORIN, 2001). Como tal, a sua prevenção mecânico ou térmico) agride a glândula e controle dependem do conhecimento dos mamária, reação padrões de ocorrência da doença, que só se inflamatória e danos ao epitélio glandular, torna possível, através de um estudo caracterizando mastite epidemiológico da situação. Neste contexto, (CULLOR et al., 1993). Para BARKEMA o presente artigo de revisão é apresentado et com al. produzindo o (1999a), uma quadro essa de enfermidade é ambiente, intuito fazendo de desta abordar os uma fatores considerada como um problema potencial determinantes associados à ocorrência de envolvido com perdas econômicas em mastite. criações com finalidade de produção FATORES LIGADOS AO leiteira. Nas IIMs, a extensão da resposta inflamatória varia de acordo com a natureza HOSPEDEIRO Resistência natural do estímulo e a capacidade de reação do Uma glândula mamária normal é animal. Reações brandas, sem alterações macroscópicas detectáveis, porém, com alterações químicas e microbiológicas do leite evidenciam a mastite subclínica. Respostas inflamatórias mais severas, mastite clínica, resultam em mudanças no aspecto da secreção láctea, incluindo as alterações verificadas na forma subclínica, contudo, há visíveis mudanças no tecido mamário e, alguns efeitos sistêmicos, como hipertermia, prostação e tremores protegida por uma variedade de mecanismos de defesa naturais frente às infecções. Esses mecanismos podem ser não imunológicos imunológicos (inespecíficos) (GIRAUDO, 1996). ou O primeiro deles, está constituído por uma barreira física que inclui canal e esfíncter da teta, os quais possuem propriedades defensivas como um mecanismo de oclusão relativamente “Furtenberg’s” eficiente, e a ainda, roseta de proteínas Revista da FZVA Uruguaiana, v. 9, n. 1, p. 118-132. 2002. Prestes, D.S. et al. bactericidas (NICKERSON, 1985; A segunda linha de 120 defesa HILLERTON, 1996). HURLEY & MORIN glandular, segundo GIRAUDO (1996), (2001) mencionaram que após a ordenha o SURIYASATHAPORN et al. (2000) e canal da teta torna-se dilatado e permanece HURLEY assim por aproximadamente duas a quatro constituída pelo sistema imunológico, o horas e qual envolve imunidade celular e humoral. comprimento do canal da teta influenciam A primeira é conferida pelos leucócitos que na susceptibilidade à mastite, pois um canal são células efetoras do sistema imune. Os curto facilita a saída de fluídos, porém tipos leucocitários incluem: e, neste caso, o diâmetro & MORIN (2001), Granulócitos diminui a resistência às IIMs. está (neutrófilos Um mecanismo adicional de defesa polimorfonucleares - PMN, basófilos e da teta citado por NICKERSON (1985) e eosinófilos): fagócitos que ingerem e HILLERTON (1996), é o seu revestimento destroem por uma camada de queratina (composta enzimas por células epiteliais descamadas, ácidos antibacterianas. materiais estranhos; hidrolíticas e contém outras graxos e proteínas catiônicas). Os autores Linfócitos (células T e células B): as comentaram que há evidências de que a células T possuem em sua superfície uma queratina tenha função de adsorver as estrutura de reconhecimento capaz de bactérias, prendendo-as e removendo-as distinguir juntamente com parte da camada de Existem dois tipos de linfócitos T, os queratina durante o processo de ordenha. indutores e os citotóxicos. Os linfócitos T Os ácidos graxos queratinizados (láurico, indutores mirístico e palminoleico) estão associados à inflamatória por produzir citocinas, em resistência as IIMs, agem como bactericidas resposta ao estímulo antigênico e induzem a e ácidos diferenciação dos linfócitos B. As células B esteárico, oléico e linolêico favorecem a atuam na síntese local de imunoglobulinas susceptibilidade à mastite. Aos ácidos (GIRAUDO, 1996); bacteriostáticos, graxos todavia, queratinizados os estão ligadas determinantes participam Monócitos antigênicos. na resposta (mononucleados): proteínas que causam lise em algumas também denominados de macrófagos. São células bacterianas Gram positivas. Fatores importantes na iniciação de respostas que afetam a integridade da camada de imunes celulares e humorais, além de queratina atuarem na fagocitose de células estranhas podem, portanto, afetar a susceptibilidade às IIMs. Revista da FZVA Uruguaiana, v. 9, n. 1, p. 118-132. 2002. 121 Susceptibilidade à mastite... A resposta imune humoral envolve (GIRAUDO, 1996; HURLEY & MORIN, um antígeno, constituído por um material 2001). processo estranho que estimula uma resposta imune complexo, através do qual os PMN específica e um anticorpo, constituído por produzem, quando estimulados, interleucina uma proteína especial sintetizada pelos (IL-1) linfócitos B e células plasmáticas, capaz de A fagocitose e é mediadores um lipídicos, sendo estrategicamente posicionados nos locais de se defesa (HURLEY primários, alveolares. Os como agentes os ductos estimulatórios combinar ao & antígeno MORIN, específico 2001). Os anticorpos são divididos em classes de toxinas proteínas denominadas de imunoglobulinas inflamatórios, (IgG, IgM, IgA, IgD e IgE), cuja função é complexos antígeno-anticorpo, entre outros. formar complexos antígeno-anticorpo, com O circuito de defesa dos PMN é promovido intensificação da fagocitose, neutralização por eventos que envolvem liberação de do antígeno e ativação do sistema de substâncias quimiotáticas (HURLEY & complemento. Esse último é composto por MORIN, 2001). SURIYASATHAPORN et uma série de proteínas sangüíneas, com al. (2000) citaram que a presença desses interação de uma cascata enzimática que fagócitos no leite, como células somáticas funciona (constituídas e células inflamatórias em casos agudos (GIRAUDO, epiteliais), aumenta prontamente seguindo- 1996). SANTOS (2001a) mencionou que, se a invasão bacteriana, quando agem atualmente, são conhecidos dois tipos de reconhecendo, ingerindo e destruindo o vacinas material comprovadamente envolvem microrganismos, microbianas, agentes por leucócitos estranho. Contudo, segundo integrando contra as respostas mastite que apresentam efeito VEIGA (1998), fisiologicamente as células positivo (J5 contra mastite causada por somáticas também podem estar elevadas coliformes e uma vacina baseada em durante a involução glandular e ainda em antígeno condições aureus), ambas têm sido eficazes na de colostrogênese estresse ou início (pós-parto), da lactação. NICKERSON (1985) mencionou que em casos de mastite, o crescimento bacteriano capsular de Staphylococcus diminuição da severidade dos casos clínicos e aumento da taxa de cura espontânea. Estágio de lactação ainda é inibido pela produção local de fatores solúveis (lactoperoxidase, lisozima e lactoferrina). Segundo HOGAN & SMITH (2001a), as IIMs podem suceder-se em diferentes etapas da vida do animal. Parto, Revista da FZVA Uruguaiana, v. 9, n. 1, p. 118-132. 2002. Prestes, D.S. et al. que 122 lactogênese e período seco constituem mencionaram enterobactérias, eventos reprodutivos que influenciam na causadoras de infecções durante o período susceptibilidade à mastite (ELBERS et al., seco, têm habilidade em se manterem 1998). Durante o período seco a glândula quiescentes na glândula mamária até o mamária passa por uma involução ativa, parto, subseqüentemente, causando mastite principalmente nas duas semanas seguintes clínica durante fase inicial da lactação. à secagem da vaca (WALDNER, 2001). De Na lactação e no processo de acordo com ANDERSON & CÔTÉ (2001), ordenha em si há maior susceptibilidade de estudos demonstraram que 35 % de todas as difusão de mastite contagiosa, já no período novas infecções ocorrem durante esse seco período. HURLEY & MORIN (2001) susceptibilidade mencionaram que nessa fase a glândula ambientais. continua a secretar leite com o máximo e intervalos entre recai ordenhas a sobre mastites genética visando Hereditariedade e idade acúmulo ocorrendo dois a três dias depois A de suspensa a remoção do leite; a pressão originada na glândula promove dilatação do canal da teta, predispondo à entrada de microrganismos para o interior do órgão. As bactérias não são mais removidas pela ordenha, o processo de fagocitose não é eficiente em remover os materiais estranhos e a desinfecção da teta já não é realizada; fatores que favorecem a instalação de IIMs. Conforme ANDERSON & CÔTÉ (2001), incremento na produção de leite foi acompanhada quando ocorre a colostrogênese, processo que acomete alguns mecanismos de defesa; no início da lactação também há susceptibilidade devido ao estresse sofrido no parto (glicocorticóides contribuem para menor resposta das células de defesa). BRADLEY & GREEN (2000) por aumento a susceptibilidade às IIMs. A conformação da glândula mamária e tetas constituem uma característica moderada a altamente herdável; tetas planas e cilíndricas são mais susceptíveis a infecção do que as tetas de formato cônico (mais resistentes) (HURLEY & MORIN, 2001). WANNER et al. (1998) concluíram nesse período há outra fase crítica, as duas últimas semanas que antecedem ao parto, seleção em um estudo que a hereditariedade de IIMs no primeiro parto parece ser moderada, variando substancialmente a incidência de IIMs entre famílias; nesse mesmo estudo ainda concluiu que vacas Holstein portadoras de deficiência de adesão leucocitária, uma condição autossomal recessiva, não diferem de vacas não portadoras frente à susceptibilidade as Revista da FZVA Uruguaiana, v. 9, n. 1, p. 118-132. 2002. 123 Susceptibilidade à mastite... em os fatores de risco diferem conforme essas investigações sobre mastite em novilhas características. Os microrganismos que verificou uma maior prevalência das IIMs comumente causam mastite podem ser em animais da raça Jersey (67,7%), quando divididos em dois grupos, baseados na sua comparado à raça Holstein (35%). origem: patógenos contagiosos e patógenos IIMs. NICKERSON Quanto à (2001a) idade dos animais, ambientais (PEELER et al., 2000). BODMAN LADEIRA (1998) cita que fêmeas mais & mencionaram susceptíveis às IIMs, devido a lesões microrganismos internas e desgaste sofrido pelo esfíncter da importância, teta e pela glândula em si. Contudo, Staphylococcus OLIVER et al. (2001) mencionaram que a agalactiae, Streptococcus dysgalactiae e ocorrência das IIMs em novilhas com a uma idade de acasalamento ou gestantes pode envolvidos geralmente assumir grau significativo e persistir por subclínicas de longos Staphylococcus períodos de tempo, estando o (2001) velhas (sete a nove anos) são mais série que RICE grupo contagiosos dos assume compreendendo de aureus, Streptococcus patógenos “menores” em menor infecções severidade. freqüentemente Os causam associada à elevada contagem de células mastite e são encontrados colonizando a somáticas (CCS) e redução substancial da pele da glândula mamária, tetas e lesões produção pós-parto. JONES & BAILEY Jr nessas áreas, porém, quartos mamários (2001) comentaram que a transmissão entre infectados são o principal reservatório animais pode ocorrer ainda na puberdade, desses microrganismos, sendo transmitido por cruzada. por qualquer forma de contato. Esse WAAGE et al. (2001) mencionaram que patógeno foi considerado por PARDO et al. em novilhas, a presença, antes do parto, de (1998), como o agente isolado com maior edema de úbere, edema de teta, sangue no freqüência na etiologia de IIMs em vacas leite ou vazamento de leite pelas tetas, está primíparas no período pós-parto (64% das associada com aumento do risco de amostras ocorrência de mastite clínica pós-parto. bacteriológico). meio de amamentação Fatores ligados ao agente positivas consideravelmente dependendo da espécie, quantidade, patogenicidade e infectividade Segundo exame HILLERTON (1996), os Streptococcus agalactiae são os microrganismos A epidemiologia da mastite varia no glândula melhor mamária, adaptados raramente à são encontrados fora dela; geralmente estão envolvidos em doenças clínicas agudas e do agente envolvido e há evidências de que Revista da FZVA Uruguaiana, v. 9, n. 1, p. 118-132. 2002. Prestes, D.S. et al. infecções subclínicas Streptococcus persistentes. dysgalactiae Os estão 124 microrganismos reflete a exposição à alta contaminação ambiental, pois envolvidos com lesão nas tetas, sendo Streptococcus uberis tem sido isolado da comumente associado à mastite no período cama, solo, fezes e urina. A fonte de água seco. também pode contribuir para disseminação O ambiente é definido por HOGAN de mastite, principalmente causada por & SMITH (2001a) como a associação de coliformes, pela contaminação por matéria condições físicas externas que afetam e fecal. influenciam no crescimento, As IIMs causadas por patógenos desenvolvimento e sobrevivência de um ambientais, organismo ou grupo de organismos e, é no GREEN (2000), são mais freqüentes no ambiente que se origina o segundo grupo de período seco em relação ao período patógenos envolvidos nas IIMs, incluindo lactacional, Escherichia sp., desenvolver mastite crônica, agindo como Streptococcus uberis, Enterobacter sp. e reservatório de patógenos. PEELER et al. outros (2000) citaram que agentes da espécie coli, patógenos Klebsiella predominantemente segundo podendo BRADLEY alguns animais oportunistas (Pseudomonas sp., Prototheca Arcanobacter sp., Nocardia sp., etc), que adentram a podem estar ligados a infecções agudas glândula mamária quando os mecanismos nesse período e sua importância reside em de defesa estão comprometidos. Esses levar a danos e perda de tecido secretório. microrganismos materiais Para BODMAN & RICE (2001), as IIMs orgânicos como alimento, nestas condições por microrganismos contagiosos resultam alguns materiais utilizados como cama para em elevação da contagem de células os animais promove um ambiente propício somáticas (CCS), por vezes de longa para propagação. A população bacteriana duração; em contraste, a resposta em tende a estacionar seu crescimento em torno infecções causadas por microorganismos de sete a dez dias, quando há um declínio ambientais é variável, devido as diferentes por exaustão dos nutrientes na cama. respostas do sistema imune, conforme a Conforme HOGAN & SMITH (2001b), característica esses tipos de patógenos não sobrevivem específicos. requerem (Actinomyces) & patogênica de pyogenes agentes por longos períodos de tempo na pele das tetas. Os mesmos autores ainda citaram que colonização por um grande número de Revista da FZVA Uruguaiana, v. 9, n. 1, p. 118-132. 2002. 125 Susceptibilidade à mastite... FATORES LIGADOS AO MEIO o vácuo excessivo pode levar ao AMBIENTE deslizamento dos copos coletores, ocasionando traumas nas tetas e/ou Ordenha ordenha incompleta, favorecendo a De acordo com RASMUSSEN & MADSEN (2000), o equipamento de penetração e colonização da glândula por patógenos. A sobreordenha ordenha e o ato em si, seja mecânico ou influencia no risco de infecção, pois manual, pode pode indiretamente influenciar na saúde direta da ou glândula agravar o “mecanismo de impacto” (KRUZE, 1998); mamária. Os aspectos negativos envolvidos 3. Propensão à exposição do orifício e nesse processo e que podem influenciar na canal da teta aos patógenos, uma vez susceptibilidade à mastite compreendem: que pode modificar as condições da teta 1. Facilidade de transmissão de patógenos (eversão do orifício, microlesões e entre vacas e no mesmo animal pela vesículas hemorrágicas), favorecendo a inadequada preparação da glândula para instalação das IIMs (SHEARER, 2001); a ordenha (lavagem e secagem) e da ordenhadeira (copos coletores com 4. Modificação na integridade da difundindo revestimento do patógenos entre os animais); ambiente membrana canal da de teta, proporcionando um meio favorável à 2. Pelas possíveis flutuações no sistema de vácuo e intramamário, pois pode haver perda da superfície interna contaminada agem os teta da ordenhadeira que colonização e multiplicação microbiana. A dor associada a esses casos conduz a proporcionam o movimento de leite respostas entre os copos coletores (teteiras), supressão da função imune e aumento facilitando a difusão de microrganismos na probabilidade de instalação de entre moléstias. A eficiência nos mecanismos os incrementam quartos a mamários; penetração neurohormonais, com de de defesa locais e sistêmicos pode ser microrganismos no canal da teta devido enfraquecida logo após a ordenha com ao “mecanismo de impacto”, no qual há altos níveis de vácuo (RASMUSSEN & movimento reverso do leite, gerado MADSEN, 2000). pelas flutuações no sistema de vácuo, A questão de interação entre a teta e impulsionando os microrganismos para os produtos germicidas utilizados em pré- o interior da teta (SAINSBURY, 1998); imersão e pós-imersão deve ser considerada Revista da FZVA Uruguaiana, v. 9, n. 1, p. 118-132. 2002. Prestes, D.S. et al. de acordo com NICKERSON (2001a), pois alguns germicidas podem ter 126 Manejo e clima efeitos As práticas de manejo estão irritantes sobre a pele das tetas, resultando associadas com a susceptibilidade à mastite. nesses casos em elevação na colonização A CCS pode auxiliar na descoberta dos por patógenos. Essa irritação é provocada fatores determinantes da enfermidade. A pela alta concentração do princípio ativo; alta CCS no pós-parto pode indicar que o pela interação de diferentes substâncias animal foi exposto à má condição ambiental químicas incorporadas em germicidas de (umidade, sujidades, insetos, etc) antes do pré-imersão e pós-imersão; por produtos parto, ou ao inefetivo tratamento de que alterem a permeabilidade do extrato infecções no período seco. A alta CCS no córneo da teta, amplificando a ação irritante decorrer e pela formação de um filme protetor que imprópria prática e/ou equipamento de pode de ordenha (JONES & BAILEY Jr., 2001). Em SANTOS um estudo realizado por BARKEMA et al. (2001b), nesse caso, a eficácia depende da (1999b), naqueles estabelecimentos em que duração de ação e capacidade de aderência o trabalho era executado por mão-de-obra favorecer microrganismos. o crescimento Segundo do produto. Em um estudo realizado em rebanhos com baixa carga de células somáticas no leite, BARKEMA et al. (1999a) demonstraram que a desinfecção da teta pós-ordenha pode, por vezes, estar associada com a taxa de incidência de mastite clínica. Fato semelhante também foi verificado por ELBERS et al. (1998). NICKERSON (2001b) mencionou que os mastite pode ser promovida ou reprimida através de diferentes formulações germicidas, conforme as condições em que esses são utilizados. lactação pode advir de familiar, a CCS no leite foi mais baixa (≤ 150.000 células/ml) em relação àqueles estabelecimentos onde a mão-de-obra era terceirizada, nos quais a CCS foi maior (250.000 a 400.000 células/ml). Essa diferença foi atribuída às melhores condições de higiene e atenção individual dispensadas aos animais no primeiro estabelecimento. microrganismos têm lugar na teta e sua habilidade de colonização e progressão à da Para HOGAN & SMITH (2001c), as instalações utilizadas assumem importância. Animais mantidos em baias facilitam as práticas de manejo da fazenda, porém podem contribuir para a susceptibilidade à mastite, uma vez que os animais são mantidos sobre cama muitas vezes constituída por material orgânico, Revista da FZVA Uruguaiana, v. 9, n. 1, p. 118-132. 2002. 127 Susceptibilidade à mastite... excelente suprimento microorganismos para ambientais, como os agir como difusoras de patógenos e já requerem um manejo diferenciado. comentado. Sistemas como “free-stall” O clima, segundo RADOSTITS et quando mal projetados, deficientes em al. (1994), assume importância em função ventilação e drenagem, têm conseqüências das mudanças de temperatura e umidade danosas à saúde da glândula mamária; que podem influenciar indiretamente na nessas assume tríade de fatores determinantes (hospedeiro, importância primordial. Para NICKERSON agente e/ou meio ambiente) que afetam a (2001a), atenção deve ser dispensada ao susceptibilidade à mastite. instalações a higiene combate aos insetos, uma vez que podem Nutrição atuar traumatizando as tetas, bem como agindo como vetores para agentes contaminantes, difundindo as infecções. Vacas mantidas a pasto, geralmente, têm risco reduzido de contraírem mastite quando comparadas a animais confinados, entretanto, algumas condições na pastagem, por exemplo, áreas baixas e alagadiças e/ou sombreadas, forragem grosseira e áreas de aglomeração de animais, favorecem o desenvolvimento ambientais e, de microrganismos conseqüentemente, a probabilidade de contaminações. Atenção deve ser dispensada aos episódios de retroamamentação e amamentação cruzada em fêmeas jovens, hábitos que contribuem para o futuro estabelecimento da mastite. PEELER et al. (2000) ainda comentaram sobre a aquisição de animais que, eventualmente, podem ser portadores de infecções. Essas fêmeas constituem um fator de risco frente ao rebanho, pois podem HOGAN & SMITH (2001c) mencionaram que a dieta de uma vaca de leite influencia na ocorrência de IIMs. De acordo com NICKERSON (2001a), certos nutrientes afetam diferentes mecanismos de resistência, incluindo função leucocitária, transporte de anticorpos e integridade do tecido mamário. (2001c) HOGAN & SMITH comentam que componentes específicos da dieta têm demonstrado valor como as vitaminas E e A, β-caroteno e microminerais (selênio, cobre e zinco). Evidências de importância recai sobre a vitamina E e o selênio, os quais influenciam na fagocitárias função das (funcionam células como antioxidantes). Logo, os animais com deficiência desses elementos têm risco de contraírem mastite, com maior duração e sinais clínicos mais severos. A função primária do cobre, segundo MANITOBA (2001), refere-se à imunidade, é um componente da enzima superóxido Revista da FZVA Uruguaiana, v. 9, n. 1, p. 118-132. 2002. Prestes, D.S. et al. dismutase; porém, o excesso desse 128 incluem: resistência natural da glândula elemento deve ser evitado, pois aumenta o mamária; estresse oxidativo. O zinco igualmente hereditariedade; idade do animal; espécie, compõe essa enzima e está envolvido na infectividade e patogenicidade do agente manutenção da pele e camada de queratina. etiológico; O efeito da vitamina A na resistência as nutrição. Fatores como ordenha e manejo IIMs está relacionada à manutenção do merecem atenção especial em função do epitélio funcional, aumentando a resposta poder de difusão da enfermidade que têm imune. O β-caroteno é o precursor da perante o rebanho. Todavia, todos os fatores vitamina supramencionados devem ser analisados no A e também age como estágio da ordenha; lactação; manejo; clima e conjunto e são pontos fundamentais a antioxidante. segundo considerar para se direcionar e implantar RADOSTITS et al. (1994) e SAINSBURY medidas preventivas e de controle ou (1998), também são consideradas como um identificar falhas em programas de controle fator determinante para a ocorrência de já instalados nas criações leiteiras. Desordens metabólicas, IIMs. Casos de mastite têm sido reportados depois de episódios de hipocalcemia e cetose. A desproporção concentrado:fibra na promove relação igualmente REFERÊNCIAS ANDERSON, N.G., CÔTÉ, J.F. Dry cow therapy. [On line]. Disponível: risco a mastite, especialmente no início da <http://www.gov.on.ca/OMAFRA/english/l fase lactacional quando o animal está em ivestock/dairy/facts/90-03.htm>.[Data balanço metabólico energético negativo. 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