Discurso pronunciado pelo Deputado CIRO PEDROSA (PV-MG), na Sessão de 23 de setembro de 2009. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, Hoje abordaremos um assunto de grande relevância para nossa população, mas que ainda vem sendo pouco tratado: a Anemia Falciforme. Trata-se de uma das doenças hereditárias mais frequentes no Brasil. É, de fato, a doença hereditária monogênica mais comum entre nós, especialmente na população afrodescendente. Por sua alta frequência entre nós, o Ministério da Saúde a classifica como um problema de saúde pública. Os estados em que há maior prevalência são Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco, Minas Gerais e Maranhão. A Anemia Falciforme é causada por uma alteração no gene responsável pela síntese da hemoglobina – a proteína 2 que transporta o oxigênio do pulmão para todo o organismo. Essa proteína localiza-se no interior das hemácias; é ela que confere ao sangue sua coloração vermelha. O adulto normalmente produz a hemoglobina ‘A’, que carreia adequadamente o oxigênio para os tecidos. Já a pessoa com Anemia Falciforme, por sua vez, produz predominantemente o tipo ‘S’ da proteína, uma variante menos eficaz nesse transporte. O problema ocorre, Senhoras e Senhores Parlamentares, porque a hemoglobina ‘S’ não é tão eficaz quanto a ‘A’ para carrear o oxigênio. Além disso, quando expostas a baixa concentração de oxigênio, as hemácias com esse tipo de hemoglobina alteram sua configuração, adquirindo o formato de uma meia lua, ou foice. Daí, a razão do nome falciforme. As hemácias falcizadas, tendem a obstruir os vasos sanguíneos, reduzindo ainda mais o aporte de oxigênio para os tecidos afetados. As consequências para isso são 3 graves; por vezes, incapacitantes. Os tecidos que deveriam ser irrigados por esses vasos passam a sofrer isquemia, podendo mesmo necrosar. Como consequência, caríssimos Pares, os pacientes apresentam dores intensas em locais os mais variados. Além disso, podem também desenvolver lesões em órgãos vitais; há casos de crianças que apresentam derrame cerebral. Ainda, é claro, essas pessoas padecem por anemia crônica. O quadro clínico, todavia, pode variar dependendo do perfil genético do paciente. Quando a pessoa recebe o gene alterado tanto do pai quanto da mãe, desenvolve a Anemia Falciforme. Quando recebe apenas de um dos dois, apresenta apenas o traço falciforme. Não é raro, também, haver combinação dessa alteração genética com outras hemoglobinopatias hereditárias, o que leva a quadros diversos. O conjunto dessas patologias é conhecido genericamente como doença falciforme. 4 Como já afirmamos anteriormente, a prevalência da doença é bastante alta em nossa população. O Ministério da Saúde calcula que nasçam, por ano, 3.500 crianças com doença falciforme no Brasil, considerando seus vários perfis. Além disso, estima que haja cerca de 200 mil portadores do traço falciforme. Este dado é importante, Senhor Presidente, e devemos salientar. Mesmo que o portador do traço falciforme não desenvolva a doença, ele poderá transmiti-la para seus filhos. Em Minas Gerais, os dados do Programa Nacional de Triagem Neonatal mostram que uma em cada 1.400 crianças nascidas tem doença falciforme. Com relação ao traço falciforme, os dados são ainda mais preocupantes: uma em cada 23 apresenta essa alteração. Trazemos todos esses dados, Senhores e Senhoras Deputados, porque é ainda pequeno o conhecimento de nossa população acerca desse problema, cuja gravidade é incontestável. 5 Inúmeros brasileiros podem ser vítimas da doença sem sequer o saber. É necessário darmos a maior publicidade possível à doença; é primordial que as informações de saúde cheguem a todos. Neste sentido, Senhor Presidente, cabe-nos informar a todos os brasileiros com doença falciforme que o SUS possui uma política especialmente dirigida a eles: a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doença Falciforme e outras Hemoglobinopatias. Segundo tal política, todas as pessoas com doença falciforme têm à sua disposição um programa de atenção especial, com regras e normas protocolizadas pelo Ministério da Saúde. O SUS disponibiliza, gratuitamente, diversos tratamentos indicados, seguindo a evolução dos conhecimentos. Esse é um grande avanço, Senhores, e já podemos ver seus frutos. Nos últimos anos, vemos significativa melhora no prognóstico dos pacientes com doença falciforme no Brasil. O diagnóstico neonatal da doença, a 6 devida orientação aos pais, e a pronta instituição dos tratamentos disponíveis vêm contribuindo para a redução da mortalidade tanto de nossas crianças quanto de nossos adolescentes e adultos jovens. Já as pessoas com traço falciforme, por sua vez, podem contar com orientação e informação genética, também conforme preconizado em protocolo específico publicado pelo Ministério da Saúde. Na maioria dos estados, tal atendimento é prestado pelos Hemocentros, que são os centros de referência para a prestação dessa assistência. Em nosso Estado, Minas Gerais, temos alguns serviços específicos, que queremos também tornar conhecidos. Em Uberlândia, já existe o Programa de Atenção Integral às Pessoas com Doença Falciforme. Além disso, em Belo Horizonte, contamos com o Centro de Educação e Apoio às Pessoas com Hemoglobinopatias – CEHMOB, criado em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e com recursos do Ministério da Saúde. 7 Como apontamos anteriormente, contudo, apesar de serem disponíveis terapêuticas variadas, o portador de Anemia Falciforme pode desenvolver quadros graves e até mesmo incapacitantes. É obrigação do Estado, portanto, zelar pelo bem-estar desses cidadãos. Obviamente, é prerrogativa de todo brasileiro ter acesso aos meios terapêuticos e preventivos relacionados a seus quadros clínicos, quaisquer que sejam. Mas é também seu direito ser provido de meios para sua subsistência, quando acometido por doenças que o impedem de trabalhar. E não poderia ser diferente, sob pena de nos tornarmos uma nação injusta. Para tanto, cabe ao INSS assegurar os benefícios a que fazem jus os pacientes com doença falciforme. Finalmente, Senhoras e Senhores Deputados, temos o dever de informar a toda nossa população que, em outubro próximo, Belo Horizonte sediará o “V Simpósio Brasileiro de Doença Falciforme e outras Hemoglobinopatias” e o “Encontro Panamericano para 8 Doença Falciforme promovidos pela Organização PanAmericana da Saúde e a Organização Mundial de Saúde”, a realizar-se nos dias 03 a 07 de outubro próximo, no Minascentro, com patrocínio do Ministério da Saúde e colaboração da Prefeitura de Belo Horizonte e do Governo de Minas. O enfoque principal desse Encontro serão práticas inovadoras relacionadas aos aspectos científico, clínico e assistencial do tratamento de pacientes com doença falciforme. Entretanto, Senhor Presidente, esse Simpósio não se dirige apenas a profissionais de saúde. É prevista a participação também de representantes do controle social, cidadãos como nós. Por estarmos certos de ser essa uma oportunidade ímpar para todos os interessados no assunto, médicos e enfermeiros, profissionais de serviços de saúde, pesquisadores da área, acadêmicos da área de saúde, e gestores municipais e estaduais estendemos, neste 9 momento, um convite pessoal para cada brasileiro a fim de ter a nossa sociedade ali plenamente representada. Muito obrigado. Sala das Sessões, 23 de setembro de 2009. CIRO PEDROSA Deputado Federal