UTILIZAÇÃO DO CANABIDIOL COMO ANSIOLÍTICO MOREIRA

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UTILIZAÇÃO DO CANABIDIOL COMO ANSIOLÍTICO
MOREIRA, Aline Melo (Curso de Farmácia do Centro Universitário do Triângulo
- Unitri, [email protected])
MEDEIROS, Francisco Costa de (Curso de Farmácia do Centro Universitário
do Triângulo - Unitri, [email protected])
CARDOSO, Rita Alessandra (Curso de Farmácia do Centro Universitário do
Triângulo - Unitri, [email protected])
RESUMO
A Cannabis sativa, conhecida popularmente como maconha, apresenta em
suas folhas mais de 400 substâncias, sendo que aproximadamente 60 delas
são componentes canabinoides com potencial utilidade terapêutica. O
canabidiol é um composto encontrado com abundância nessa planta,
constituindo cerca de 40% de suas substâncias ativas, o canabidiol apresenta
efeitos terapêuticos opostos aos do delta-9-tetrahidrocanabinol. No corpo
humano, ocorre a produção de endocanabinoides que atuam por meio de
receptores descobertos recentemente, chamados CB1 e CB2, o primeiro
presente no sistema nervoso central e o segundo com distribuição periférica.
Há evidências que compostos da Cannabis atuam justamente sobre esse
sistema canabinoide endógeno. O objetivo deste trabalho foi avaliar o uso do
canabidiol no tratamento da ansiedade em animais e humanos. Este trabalho
constitui-se de uma revisão bibliográfica sobre o uso do canabidiol no
tratamento da ansiedade, os artigos foram selecionados e identificados por
meio de busca eletrônica nos bancos de dados PubMed, SciELO e Biblioteca
virtual de saúde. Os resultados com sujeitos de pesquisa saudáveis e
pacientes com transtornos de ansiedade fortalecem a ideia do potencial
terapêutico do CBD como um novo e promissor fármaco ansiolítico.
Palavras – chave: Cannabis sativa, canabidiol, transtorno de ansiedade.
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1. INTRODUÇÃO
Há relatos que há mais de 1000 anos antes de cristo a Cannabis sativa
já era utilizada na China e Índia para tratamento de várias condições médicas
como dores, epilepsia, tranquilizante no tratamento de ansiedade e constipação
intestinal. Já no início do século XX, extratos da maconha começaram a ser
comercializados para transtornos mentais, indicados como hipinóticos (em
insônia, “melancolia”, entre outros), ou sedativos. No entanto, em meados
desse século, houve declínio no uso dos extratos da planta para fins medicinais
de modo geral e em particular na psiquiatria, uma vez que sem isolar os
componentes da maconha torna-se complicado avaliar sua potência e
composição podendo gerar efeitos inconsistentes e várias reações adversas
(CRIPPA, ZUARDI, HALLAK, 2010).
A maconha pertence à família Cannabaceae, que inclui o gênero
Cannabis, cujo nome deriva do persa kannab (cânhamo). O gênero de planta
de Cannabis inclui três grupos, Cannabis sativa, Cannabis indica e a Cannabis
ruderalis, que diferem no tamanho e componentes químicos, sendo a Cannabis
sativa conhecida como maconha (VILLANUEVA, 2010). Essa é a droga de
abuso utilizada com maior frequência principalmente entre os jovens. Em sua
folha são encontradas mais de 400 substâncias sendo que, aproximadamente
60
são
consideradas
componentes
canabinoides
denominados
como
fitocanabinoides e que podem ser usadas para fins medicinais (SCHIER et al.,
2012).
A
principal
substância
psicoativa
da
Cannabis
é
o
delta-9-
tetrahidrocanabinol (∆9-THC). O canabidiol (CBD) é um outro composto
encontrado com abundância, constituindo cerca de 40% das substâncias ativas
da planta, esses dois componentes apresentam efeitos farmacológicos
diferentes e opostos. As publicações o CBD aumentaram consideravelmente
nos últimos anos e sustentam a ideia de que esta substância possui diversas
possibilidades de possíveis efeitos terapêuticos, entre elas, as propriedades
ansiolíticas e antipsicóticas se destacam (SCHIER et al., 2012).
3
No corpo humano há a produção de canabinoides, chamados de
endocanabinoides (VILLANUEVA, 2010). Há evidências que compostos da
Cannabis atuam justamente sobre esse sistema canabinoide endógeno. Estes
atuam por meio de receptores descobertos recentemente chamados CB1 e
CB2, um presente no sistema nervoso central e o outro com distribuição
periférica, respectivamente. Os receptores CB1 encontram-se com abundância
na pars reticulada da substância negra, córtex frontal, hipocampo e cerebelo, e
potencializam as ações de diferentes neurotransmissores como GABA,
serotonina, dopamina, noradrenalina, pois se localizam principalmente na présinapse. Esta ação pode influenciar a cognição, percepção, apetite e sono
(CRIPPA et al., 2005).
Existem vários tipos de transtornos psiquiátricos, sendo o transtorno de
ansiedade o que atinge a maior parte da população e resulta em grande
sofrimento e importante comprometimento funcional (MOCHCOVITCH et al.,
2010).
Nesse
tipo
de
transtorno,
pelo
menos
três
sistemas
de
neurotransmissores são profundamente afetados por certos fármacos que
proporcionam algum benefício terapêutico. No entanto, novos sistemas de
neurotransmissores também foram descobertos como subjacentes a sintomas
e transtornos de ansiedade, tais como o sistema endocanabinoide, criando
novos desafios para os pesquisadores (NARDI et al.,2012). Esse trabalho teve
como objetivo avaliar o uso do canabidiol no tratamento da ansiedade em
animais e humanos.
2. METODOLOGIA
Este trabalho constitui-se um levantamento bibliográfico, resultado de 41
artigos sobre o uso do canabidiol no tratamento da ansiedade, selecionados
para a presente revisão e identificados por meio de busca eletrônica nos
bancos de dados PubMed, SciELO e Biblioteca virtual de saúde. Além disso, as
listas de referências dos artigos selecionados foram analisadas em busca de
referências adicionais. Na literatura estudada, foram incluídos estudos
experimentais com amostras humanas e animais sem delimitação de tempo.
4
3. ANSIEDADE
A ansiedade é definida como sofrimento por antecipação de algo
desconhecido ou estranho e é caracterizada pelo sentimento desagradável de
medo, apreensão e insegurança em alguma situação (CASTILLO et al., 2000).
De acordo com D'el Rey, Pacini e Chavira (2006), a ansiedade está presente
durante todo o desenvolvimento do ser humano e geralmente precede qualquer
compromisso social novo ou desconhecido, sendo vantajoso responder com
ansiedade a certas situações. No entanto, algumas pessoas desenvolvem
quadros
de
ansiedade
bastantes
desproporcionais
a
determinadas
circunstâncias da vida.
Segundo Castillo et al. (2000), entre 9% e 15% das pessoas sofrem com
ansiedade patológica em algum período da vida, é valido reforçar que
transtornos ansiosos são quadros psiquiátricos que merecem atenção e
diagnóstico preciso. A Associação dos Portadores de Transtornos de
Ansiedade (APORTA, 2014) divide a ansiedade em algumas categorias, sendo
o
transtorno de
ansiedade
generalizada
(TAG),
transtorno obsessivo
compulsivo (TOC), fobia social ou transtorno de ansiedade social (TAS) e
transtorno do pânico (TP) as mais recorrentes.
A TAS tem sido considerada um grave problema de saúde mental
pela sua alta prevalência e pelas incapacidade decorrentes no
desempenho e nas interações sociais. Conforme os critérios de
diagnósticos do DSM-IV, os indivíduos com fobia social manifestam
um medo excessivo, persistente e irracional de serem vistos
comportando-se de um modo humilhante ou embaraçoso, pela
demonstração de ansiedade ou de desempenho inadequado e de
consequente desaprovação ou rejeição por parte dos outros
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 1994).
TAS surge cedo na vida da pessoa, geralmente os primeiros sintomas
são ainda na infância e podem ser observados pelo medo e apreensão na
ausência dos pais ou até mesmo o sofrimento com a aproximação de
estranhos. No entanto, as manifestações se tornam mais frequentes no início
5
da vida adulta, onde o contato e a comunicação com várias pessoas passam a
ser obrigatórios (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA, 2008).
Pessoas portadoras de TAS preocupam-se extremamente com a opinião
de outros indivíduos e temem que os julguem ou avaliem como inadequados e
estranhos. Outro sintoma é o medo descontrolado de falar, comer, beber,
escrever em público ou conversar com figuras de autoridade, como também
apresentam dificuldade de iniciar e manter um diálogo (APORTA, 2014).
A ansiedade e o medo passam a ser reconhecidos como patológicos
quando são excessivos e desproporcionais em relação ao estímulo, ou
qualitativamente diversos, interferindo negativamente na qualidade de vida, no
conforto emocional e/ou desempenho diário do indivíduo. Tais comportamentos
exagerados ao estímulo ansiogênico se desenvolvem com maior frequência,
em indivíduos com uma predisposição neurobiológica herdada (CASTILLO et
al., 2000).
O TAG é pontuado como um tipo de transtorno de ansiedade, à vista
disso é caracterizado como distúrbio mental frequentemente detectado na
clínica. Preliminarmente esse transtorno não é grave, no entanto, seja pela falta
de conhecimento, informação ou pela não aceitação, o problema acaba se
intensificando. Atualmente o TAG é atribuído como uma patologia crônica e
geralmente é associado à morbidade e elevado custo individual e social, um
exemplo é que cerca de 24% dos pacientes classificados como grandes
usuários de serviços médicos ambulatoriais apresentam diagnóstico de TAG
(ANDREATINI et al., 2001).
O TAG é constituído de manifestações de ansiedade que não ocorrem
na forma de ataques e está relacionado com vários aspectos da vida do
indivíduo. O principal sintoma é a preocupação excessiva, nervosismo
persistente, tremores, tensão, dores musculares e transpiração também são
indícios de que a pessoa apresente TAG (FIGUEIREDO, 2000).
Conforme a APORTA (2014), outro tipo de transtorno de ansiedade é o
TOC, apesar desse não ser um dos transtornos ansiosos mais frequentes,
estima-se que afete até 3% da população.
Este transtorno caracteriza-se pela presença de pensamentos
obsessivos e comportamentos compulsivos. As obsessões são
6
pensamentos, ideias, imagens ou impulsos persistentes que são
vivenciados
pelo
indivíduo
como
intrusivos,
inadequados
e
indesejáveis, e causam acentuada ansiedade ou sofrimento. Apesar
de ser capaz de reconhecer que são produto de sua própria mente, o
indivíduo não controla as obsessões, cujo conteúdo, em geral, não é
a espécie de pensamento que ele esperaria ter. As obsessões mais
comuns são, pensamentos repetidos acerca de contaminação,
dúvida, necessidade de organizar as coisas em determinada ordem,
impulsos agressivos, imaginações sexuais repetidamente (APORTA,
2014).
O TP é qualificado pelo aparecimento de crises de pânico frequentes,
que equivale ao sentimento de pavor ou indisposição excessiva seguido de
manifestações físicas e cognitivas, que começa repentinamente atingindo
máxima proporção em poucos minutos. Tais ataques ocasionam angústias
constantes ou modificações consideráveis de conduta no que diz respeito à
probabilidade de acontecer novos acessos de aflição, apreensão ou estresse
(SALUM, BLAYA, MANFRO, 2009).
O transtorno é identificado através de súbitos e repetidos ataques de
pânico acompanhado de preocupação excessiva durante algum tempo por
medo de desenvolver outra crise. O ataque do pânico é determinado por um
acentuado período de medo ou desconforto, seguido de palpitações, medo de
perder o controle, tontura, sensações de formigamento, calafrios ou ondas de
calor.
A
preocupação
de
desenvolver
outros
ataques
pode
gerar
comportamento de fuga do indivíduo, denominado de agorafobia que é definido
como resistência de ficar em lugares fechados ou de difícil saída (APORTA,
2014).
O indivíduo portador de TP pode chegar a até 10 anos de sofrimento
antes de se estabelecer o diagnóstico correto. Em vista disso, além de
psiquiatras, médicos de outras especialidades e, principalmente, aqueles que
se dedicam a atenção primária e serviços de emergência médica devem
conhecer bem esse transtorno, visto que muitas vezes é confundido como
apenas algum surto de ansiedade ou estresse (SALUM, BLAYA, MANFRO,
2009).
7
4. CANABIDIOL (CBD)
Segundo Zuardi (2008), o CBD foi descoberto por volta de 1940, no
entanto apenas em 1963 foram realizados os primeiros estudos com essa
substância que resultaram em poucas publicações sobre o assunto,
diferentemente das pesquisas relacionados à Cannabis sativa que crescia
continuamente. Antes dos anos 70, poucos artigos foram publicados a respeito
do CBD (Figura 1) e, nessa época acreditava-se que o CBD não apresentava
efeito farmacológico. A partir de 1975 as publicações aumentaram e nesse
período Carlini, que liderava um grupo de pesquisa brasileiro, contribuiu
consideravelmente, especialmente pelas descobertas sobre interações do
composto delta-9-THC com outros canabinoides, inclusive com o canabidiol, e
após isso, as pesquisas estacionaram novamente (RUSSO, 2006).
O interesse dos estudos sobre a maconha foi renovado no início de
1990, com a descoberta de receptores específicos para canabinoides no
sistema nervoso e o posterior isolamento da anandamida, um canabinoide
endógeno. Desde essa época, o número de artigos publicados começaram a
aumentar, com destaque para os últimos anos quando os indícios dos diversos
efeitos terapêuticos do CBD tiveram início, além do fato de que muitos desses
efeitos terapêuticos são de grande potencial de aplicabilidade clínica (ZUARDI,
2008).
O gráfico abaixo representa o número de publicações sobre a Cannabis
e o canabidiol ao longo do tempo.
8
Figura 1 - Número de publicações da Cannabis e do canabidiol entre 1963 e
2007
Fonte: Zuardi (2008, p.272).
Como dito anteriormente, o CBD é o principal componente não
psicotrópico encontrado na Cannabis e constitui cerca de 40% das substâncias
ativas da planta (RUSSO, 2006). De acordo com Pedrazzi et al. (2014),
algumas observações apontam que CBD pode minimizar alguns efeitos
farmacológicos predominantes do ∆9-THC, como intoxicação, sedação e
taquicardia e isso leva à ideia que essa substância poderia apresentar uma
ação ansiolítica e também antipsicótica.
Ainda, segundo Pedrazzi et al. (2014), no início da década de 40 foi
realizado o primeiro isolamento do canabidiol, entretanto, sua estrutura química
foi apresentada apenas na década de 60 por Raphael Mechoulam. Ao longo
dos anos, grupos de pesquisadores determinaram a estrutura e as
peculiaridades estereoquímicas dos canabinoides predominantes na Cannabis
sativa, incluindo o CBD, o que incentivou a pesquisa da atividade
farmacológica desses compostos.
Por outro lado, segundo Honório, Arroio e Silva (2006), o isolamento das
substâncias, a descoberta das estruturas, a estereoquímica, a síntese, o
metabolismo, a farmacologia e os efeitos fisiológicos dos canabinoides foram
9
impulsionados durante os anos 80 e 90, através da identificação e clonagem
dos receptores canabinoides específicos (CBRs), localizados no sistema
nervoso central (CB1) e no sistema periférico (CB2), além da identificação dos
ligantes canabinoides endógenos (endocanabinoides). Assim, a partir destas
descobertas, foi possível entender alguns aspectos importantes relacionados
ao mecanismo de ação desses canabinoides.
Os efeitos bioquímicos e farmacológicos produzidos pela maior parte
dos compostos canabinoides parecem ser mediados pelos dois subtipos de
receptores descritos (MATSUDA apud HONÓRIO, ARROIO, SILVA, 2006). No
entanto, as diferenças funcionais entre os dois subtipos ainda não são
conhecidas, mas as discrepâncias estruturais entre eles aumentam esta
probabilidade (JOY, WATSON, BENSON, 1999).
Os canabinoides pertencem à classe química dos terpenofenois,
moléculas não polares e com baixa solubilidade em água. Dado que são
compostos diferentes, a nomenclatura química do THC e CBD também se
diferem. As figuras 2 e 3 representam a estrutura química desses compostos,
respectivamente (LIMA, 2009).
Figura 2 - Estrutura química do delta-9-tetrahidrocanabinol
Fonte: Honório, Arroio e Silva (2006, p.318).
10
Figura 3 - Estrutura química do Canabidiol
Fonte: Lima (2009, p.19).
5. CANABIDIOL E ANSIEDADE
Posteriormente à caracterização molecular do receptor CB1, foi
descoberto o primeiro endocanabinoide, a anandamida (DEVANE et al., 1992)
Etimologicamente, o nome anandamida vem da palavra sânscrita “ananda”,
que significa prazer, e da natureza do seu grupo químico, uma amida
(FONSECA et al., 2013). Os endocanabinoides são produzidos por meio de
precursores membranares e sua produção ocorre somente sob estímulo, não
sendo armazenados em vesículas como a maior parte dos neurotransmissores
(FOWLER, 2013).
Vários estudos mostraram que os efeitos do delta-9-THC são
antagonizados pelo CBD, sendo que as propriedades do CBD são opostas ao
delta-9-THC, que muitas vezes atua como ansiogênico e o CBD como
ansiolítico (KARNIOL; CARLINI, 1973).
Os autores Crippa, Zuardi, Hallak (2010) acreditam que os efeitos
ansiolíticos do CBD não são mediados pelos receptores GABAérgicos que
fazem parte do principal sistema neurotransmissor inibitório do sistema nervoso
central, mas sim pela interação com os receptores serotoninérgicos 5HT1A.
Segundo Gomes et al. (2012) o CBD parece apresentar propriedades
11
agonísticas nos receptores serotoninérgicos do tipo 5-HT1A, entretanto é
necessário realização de testes para comprovação científica desses dados.
Apesar do mecanismo de ação do CBD não ser totalmente conhecido,
sabe-se que provavelmente essa substância não atue sobre receptores
específicos como o delta-9-THC. O CBD facilita a sinalização dos
endocanabinoides por meio do bloqueio da recaptação ou hidrólise enzimática
da anandamida, entretanto em oposição ao delta - 9 -THC, o CBD apresenta
baixa afinidade pelos receptores CB1 e CB2 (MECHOULAM, HANUS, 2002). O
CBD parece apresentar diversos efeitos no sistema nervoso, não apenas como
ansiolítico, mas é essencial a realização de estudos complementares afim de
elucidar todas essas possibilidades (CRIPPA, ZUARDI, HALLAK, 2010 e
ZUARDI, 2008).
5.1. Estudos em animais
Nos experimentos iniciais com modelos experimentais de ansiedade,
foram encontrados alguns dados conflitantes quanto ao efeito ansiolítico do
CBD. Com administração de altas doses de CBD (100 mg/kg) não foi
observada melhora nos sintomas da ansiedade no experimento de conflito de
Geller Seifter (SILVEIRA FILHO, TUFIK, 1981 apud SCHIER et al., 2012). Por
outro lado, quando foram administradas doses menores de CBD (10 mg/kg),
obteve-se efeitos ansiolíticos em ratos sujeitos ao teste de resposta emocional
condicionada (ZUARDI E KARNIOL, 1983 apud SCHIER et al., 2012).
De acordo com Crippa, Zuardi e Hallak (2010), além dos testes citados
acima, muitos outros foram realizados para reforçar a ideia de que o CBD
possui efeito ansiolítico em vários modelos animais, como os testes do
estresse por mobilização aguda, extinção de memória de medo condicionado,
labirinto em cruz elevada em camundongos e ratos. As últimas pesquisas
revelaram uma curva de efeito do CBD em “U” invertido, que resulta em efeito
característico para drogas em quadros ansiosos com quantidade baixas e
retorno ao padrão de controle com doses mais altas, isso explica a ausência de
resposta dessa substância no estudo em que foi aplicado quantidade superior a
100 mg/kg.
12
Diversos animais foram usados em estudos para elucidar quais os
mecanismos do CBD responsáveis pela diminuição da ansiedade. Em um
desses estudos, foi utilizado o teste de conflito de Vogel, esse teste é realizado
através da privação de água para o animal que é colocado em uma gaiola com
grade eletrificada através da qual o animal recebe choques depois de lamber a
água por um número pré-determinado de vezes. O resultado desse teste
mostrou que o CBD produziu efeitos paralelos aos do diazepam. No entanto o
flumazenil, antagonizou o efeito ansiolítico do diazepam, mas não do CBD, o
que sugere que os efeitos do CBD não são mediados pela ativação dos
receptores GABAérgicos (MOREIRA, AGUIAR e GUIMARÃES, 2006).
Outro ponto importante segundo Uribe-Mariño et al. (2012) relaciona aos
animais que foram pré-tratados com CBD, que apresentaram reduções
importantes na fuga explosiva e imobilidade defensiva sendo essas respostas
relacionadas aos modelos de pânico. Esses resultados sugerem que o CBD
possa ser utilizado no controle dos ataques de pânico. Os resultados obtidos
nos testes realizados estão apresentados na tabela abaixo (tabela 1).
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Tabela 1 - Estudos em animais sobre o efeito ansiolítico de canabidiol
MODELO
Dose
Efeito
Estudo
Ansiolítico
Teste de Conflito
100 mg/Kg
-
Silveira
Filho,1981
apud Schier
2012 et al.
Paradigma de Resposta
10 mg/Kg
+
Emocional Condicionada
Zuardi et al.,
1983 apud
Schier et al.,
2012
Teste de Labirinto em
2,5, 5,0, 10,0 e
Cruz Elevado
20,0 mg/kg
Teste de Conflito de Vogel
2,5, 5,0 e 10,0
+
Guimarães et
al., 1990
+
mg/kg
Moreira
et al.,2006
Condicionamento
10 mg/kg
+
Contextual de Medo
Resstel et al.,
2006
Estresse por
1, 10 e 20 mg/kg
+
Resstel et al.
Confinamento
2006
Fonte: Adaptado de Schier et al. (2012).
5.2. Estudos em humanos
O CBD administrado em sujeitos de pesquisa saudáveis ou em outras
condições não apresentou qualquer efeito adverso significativo. Assim,
comprovando estudos prévios em animais, o CBD mostrou-se um composto
seguro para a administração em seres humanos em uma ampla faixa de
dosagem (CONSROE et al., 1991).
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Em um estudo inicial conduzido por Zuardi et al. (1982) apud Pereira
Junior (2013) a administração juntamente de CBD (1 mg/kg) com elevada dose
de delta-9-THC (0,5 mg/kg) em sujeitos de pesquisa saudáveis diminuiu os
sintomas ansiogênicos proporcionados pelo delta-9-THC, mas não reduziu o
aumento da frequência cardíaca.
O teste de simulação de falar em público (SFP) foi realizado com
sujeitos de pesquisa a fim de avaliar o efeito ansiolítico do CBD (HALLAK et al.,
2010). Esse teste baseia-se na fala do indivíduo em frente a uma câmera de
vídeo por alguns minutos, nesse tempo a ansiedade subjetiva é mensurada
através de escalas de auto avaliação e os parâmetros fisiológicos são
registrados (frequências cardíacas, pressão arterial, condutância da pele tem
validade aparente para o transtorno de ansiedade social (TAS), uma vez que o
medo de falar em público e seus concomitantes fisiológicos são considerados
como aspectos essenciais nesta condição (ZUARDI et al.,1993 apud CRIPPA,
ZUARDI E HALLAK, 2010). Hallak et al. (2010) afirma que esse teste tem se
mostrado eficaz em induzir a ansiedade, e é sensível a compostos
ansiogênicos e ansiolíticos.
Experimentos comparativos foram realizados com o diazepam (10 mg),
ipsapirona (5 mg) e o CBD (300 mg) em um procedimento duplo cego. Tanto o
CBD quanto os dois ansiolíticos citados tiveram resultados positivos na
redução da ansiedade induzida pela SFP (ZUARDI et al., 1993 apud CRIPPA,
ZUARDI E HALLAK (2010).
Em outro teste realizado recentemente foi demostrado pelo método de
estudo duplo cego cruzado onde os sujeitos receberam CBD (400mg) ou
placebo em duas sessões experimentais, com intervalo de uma semana sendo
avaliados por meio de Tomografia por Emissão de Fóton Único (SPECT), o
resultado do teste induz que o CBD apresente efeito ansiolítico (CRIPPA et al.,
2004).
Estudos executados com administração do CBD sob um amplo espectro
de doses não promoveu efeitos colaterais e tóxicos significativos, nem mesmo
induziu efeitos sedativos (CUNHA, CARLINI e PEREIRA, 1980). Trzesniak e
Crippa (2008) acreditam que os efeitos modulatórios do CBD na ativação de
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áreas límbicas e paralímbicas são consistentes com o efeito de drogas
ansiolíticas em pacientes com transtornos ansiosos e em sujeitos saudáveis.
Dessa forma, induz que o CBD possa ter propriedades ansiolíticas na
ansiedade patológica, como mostra a tabela 2 (CRIPPA, ZUARDI e HALLAK,
2010).
Tabela 2 - Estudos em humanos sobre o efeito ansiolítico do canabidiol.
Modelo
Dose
Redução dos escores dos
300 mg
Efeito
Ansiolítico
Estudo
+
Zuardi
fatores de ansiedade após falar
et al.,1993
em público (voluntários
apud Schier
saudáveis)
et al., 2012
Redução dos escores dos
fatores de ansiedade após falar
600 mg
+
em público (pacientes com fobia
Bergamaschi
et al., 2011
social)
Redução dos escores dos
400 mg
+
fatores de ansiedade antes do
Crippa et al.,
2011
procedimento SPECT
(pacientes com fobia social)
Redução dos escores dos
400 mg
+
fatores de ansiedade antes do
procedimento SPECT
(voluntários saudáveis)
Fonte: Adaptado de Schier et al. (2012).
Crippa et al.,
2004
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6. CONCLUSÃO
A planta Cannabis sativa apresenta diversos compostos com atividade
terapêutica, um deles é o CBD que é um canabinoide desprovido de efeitos
psicoativos. Os elementos levantados na atual revisão confirmam que o CBD
pode ser um recurso terapêutico interessante no tratamento dos transtornos de
ansiedade. A inexistência dos efeitos psicoativos faz com que esse composto
seja seguro e bem tolerado, e os resultados dos estudos em animais, sujeitos
de pesquisa saudáveis e pacientes com transtornos de ansiedade ratificam a
ideia de que o CBD possa ser um fármaco inovador para o tratamento dessas
patologias.
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7. REFERÊNCIAS
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