CENTRO UNIVERSITÁRIO – FMU CURSO DE SERVIÇO SOCIAL Dayana Ximenes Refulia Maria Angela da Silva O RETORNO À SOCIEDADE APÓS VIVÊNCIA NO SISTEMA PRISIONAL FEMININO DA CIDADE DE SÃO PAULO: DIFICULDADES E ESTIGMAS São Paulo 2013 Dayana Ximenes Refulia Maria Angela da Silva O RETORNO À SOCIEDADE APÓS VIVÊNCIA NO SISTEMA PRISIONAL FEMININO DA CIDADE DE SÃO PAULO: DIFICULDADES E ESTIGMAS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Serviço Social – FMU Centro Universitário, para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social, sob orientação da Profª. Dra. Maria Fernanda Teixeira Branco Costa. São Paulo 2013 DAYANA ROUSE XIMENES REFULIA MARIA ANGELA DA SILVA O RETORNO A SOCIEDADE APÓS VIVÊNCIA NO SISTEMA PRISIONAL FEMININO DA CIDADE DE SÃO PAULO: DIFICULDADES E ESTIGMAS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Serviço Social do Centro Universitário FMU, como exigência para obtenção de Bacharel em Serviço Social, sendo integrantes da banca: Profª. Dra. Maria Fernanda Teixeira Branco Costa, Profª Maira Kelly Verengue Moya, Profª. Mestre Roberta Vilela Moreno. Nota_______ São Paulo, 28 de maio de 2013. __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ DEDICATÓRIA Dedicamos esta pesquisa aos nossos respectivos maridos, pelo incentivo, confiança, amor, ajuda, companheirismo e por suportar nossa ausência no decorrer da realização deste trabalho. AGRADECIMENTOS Agradecemos primeiramente a Deus, pois sem ele não teríamos forças para essa longa jornada, por ele nos ter concedido sabedoria, discernimento, paciência para passarmos por este processo. Aos nossos pais Maciociria Maria Torres Ximenes, Maria de Souza Bastos e Valdir Luiz da Silva que com grande sabedoria nos ensinaram o valor da educação. Professora orientadora Maria Fernanda Teixeira Branco Costa pelo o norteamento ao decorrer da pesquisa, pelo incentivo que contribuiu no processo de conclusão desta pesquisa. Às nossas queridas irmãs, Daractelly Ximenes Pereira, Daiane Aparecida da Silva, Patrícia de Souza Silva e a sobrinha Ana Beatriz de Souza Ribeiro que ao longo do percurso nos incentivaram e a prima Jane Aparecida da Silva pelas orientações e incentivo ao longo desta jornada. A professora Mirela Ferraz, pelo convívio, apoio, compreensão e amizade. Para alguns professores do curso, que foram tão importantes na nossa vida acadêmica e no desenvolvimento e processo enquanto aprimoramento profissional. Agradecemos a nosso sujeita de pesquisa S.S.S por compartilhar sua experiência e contribuir para o enriquecimento da pesquisa. Aos amigos e colegas, pelo incentivo e pelo apoio constantes. EPÍGRAFE “Ai daqueles que pararem com sua capacidade de sonhar, de invejar sua coragem de anunciar e denunciar. Ai daqueles que, em lugar de visitar de vez em quando o amanhã pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e o agora, se atrelarem a um passado de exploração e de rotina.” Paulo Freire RESUMO A pesquisa apresentada tem como objeto de estudo as mulheres egressas, partindo como ponto central compreender o processo de retorno à sociedade das mulheres que cumpriram penas no sistema prisional, visto que este segmento vive historicamente um processo de exclusão e a não garantia de seus direitos. Realizamos inicialmente visitas as instituições que as atendem, a fim de nos aproximarmos para conhecer suas experiências vividas, porém, a partir desta etapa nos deparamos com a dificuldade destes contatos. A realidade desvendada ao longo da pesquisa nos permitiu entender que as políticas disponíveis para estas mulheres não são efetivas. Em decorrência disto, ha o impedimento de um retorno de maneira digna. Foram observadas também como se dão as relações sociais destas mulheres fora do sistema prisional, de maneira que suas relações familiares, sociais, econômicas, culturais e de trabalho, ficam fragilizadas. No projeto societário vigente, produz e reproduz as diversas formas de preconceitos, estigmas e representação sociais, sendo esta uma das expressões da Questão Social. É importante ao Serviço Social o aprofundamento nesse estudo a fim de trazer ao profissional maior reflexão sobre a demanda e a possibilidade de novos instrumentos para intervenção profissional. Papel importante a ser exercido na profissão para a garantia da justiça, do qual estejam assegurados os seus direitos enquanto cidadãs dentro do que rege no âmbito dos direitos humanos. Palavras-chave: Mulher egressa. Retorno à sociedade. Sistema prisional. Políticas. Serviço Social. ABSTRACT The research presented has as object of study ex-prisoners women, with a focus to understand the process of return to society of women who have served time in prison system, seen that this return historically living a process of exclusion and denial their rights. We conducted initial visits to institutions that meet in order to get closer to hear their experiences, however, from this stage we are faced with the difficulty of these contacts. The reality unveiled throughout the research allowed us to understand that the policies available to these women are not effective. As a result, there is the impediment of a return in a dignified manner. Were also observed how develop social relationships these women outside the prison system, weakening thus their family relationships, social, economic, and cultural work. The current social scenario, produces and reproduces many prejudice forms, stigma and social representation, which is one of expressions of Social Issues. It is important to Social Service deepening this study in order to bring largest professional reflection on the demand and the possibility of new tools for professional intervention. Important role to be exercised in the profession ensuring justice and rights as citizens within the framework of human rights. Keywords: Ex-prisoners women. Return to society. Prison system. Policies. Social Service. SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................... 10 1 CONHECENDO O SISTEMA PRISISIONAL FEMININO NA CIDADEDE SÃO PAULO NA DÉCADA 2000-2012 ........................................................ 14 1.1 Mulheres da Ditadura Militar ............................................................................ 16 1.2 A história do sistema prisional feminino ...................................................... 17 1.3 Questão Social na realidade das egressas ................................................. 25 2 APROXIMAÇÃO COM PROFISSIONAIS QUE ATENDEM MULHERES QUE PASSARAM PELO SISTEMA PRISIONAL FEMININO DA CIDADE DE SÃO PAULO .......................................................................................... 28 2.1 Situação atual no sistema penitenciário feminino ....................................... 30 2.2 Primeiros contatos com os profissionais que atuam com a população egressa ........................................................................................................ 32 2.3 Relato da mulher que passou pelo sistema prisional .................................. 39 2.4 O retorno da mulher egressa à sociedade sobre o olhar do assistente social ........................................................................................................... 3 40 HISTÓRIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A POPULAÇÃO EGRESSA ................................................................................................... 44 3.1 Políticas Públicas específicas para mulheres presas e egressas do sistema prisional feminino ........................................................................... 49 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 54 REFERÊNCIAS ............................................................................................ 58 APÊNDICES ................................................................................................. 62 10 INTRODUÇÃO O interesse pelo tema surgiu através do curso: “Promotoras Legais Populares” realizado pela União de Mulheres de São Paulo, do qual a Maria Angela participou no ano 2011. É uma organização não governamental feminista que surgiu em 06 de dezembro de 1981, localizada na Rua Coração da Europa, 1395 – Bela Vista, na cidade de São Paulo. Realiza atendimento a mulheres em situação de violência doméstica. Fundada por um grupo de mulheres que participavam do Movimento Estudantil no período da Ditadura Militar (1964 - 1985), com o objetivo de lutar de forma organizada e política pela conquista dos direitos das mulheres na sociedade. O curso foi o primeiro contato que tivemos com a área sócia jurídica e suas demandas, a partir dele começamos a ter um olhar diferenciado sobre a questão relacionada às mulheres e homens que estão inseridos no sistema prisional. Em uma aula discutiu-se o tema: Mulheres encarceradas e suas condições de vida dentro das prisões. O que foi apresentado e dito nesse dia deixou-a impressionada e ao mesmo tempo indignada pela situação desumana em que aquelas mulheres vivem. Daí surgiu o interesse e empenho para o desenvolvimento deste estudo e temática. Passamos então a pesquisar, conhecer locais que se referem à questão, visitar sites e redes sociais que defendam as mulheres e homens inseridos no sistema prisional e que discutam os problemas por eles (as) enfrentados nas prisões brasileiras. A partir do ingresso no campo de estágio na Central de Penas e Medidas Alternativas de São Paulo, voltada aos autores por delitos de menor potencial ofensivo, passou a perceber que existe um grande campo solicitando estudo sobre as pessoas que estão neste sistema, referindo-se prioritariamente às mulheres que cometem delitos. Elas sofrem um processo ainda maior de discriminação, devido ao agravante da questão de gênero que temos presente na sociedade. De acordo com Jurkewicz (1994), gênero não está relacionado ao sexo biológico, ou seja, machos e fêmeas, podemos dizer que é uma construção histórica, cultural, social e política. Partindo deste pressuposto, a identidade de gênero é a representação social do sujeito, o que vai diferenciá-los são os elementos constitutivos, o que é ser homem e o que é ser mulher para a sociedade, a 11 conjuntura no qual estão inseridos, tornando possível o aumento ou a diminuição das desigualdades entre gêneros. Ao observarmos o sistema penitenciário feminino analisamos as características de gênero associadas à questão social, relacionada às particularidades da inserção da mulher neste sistema. No que diz respeito aos delitos cometidos por elas, geralmente a mulher recorre mais ao tráfico de entorpecentes, do qual elas “justificam” ter cometido para seu próprio sustento, de suas famílias e, em muitas vezes, como cúmplice de seus companheiros. Na realidade brasileira é notória a negação de gênero dentro do sistema penitenciário, aumentando ainda mais a desvalorização da mulher dentro e fora do sistema por meio da desigualdade social. Um aspecto inquietante da temática é a vida cotidiana dessas pessoas e de suas famílias. Em 18 de fevereiro de 2001, quando ainda no ensino fundamental e nem imaginando cursar Serviço Social, os noticiários da televisão, principalmente as rebeliões, que pararam o país, envolvendo várias penitenciárias do Estado de São Paulo, indicaram já naquela época uma série de perguntas: como vivem e o que levaram estas pessoas a estar nesta situação nos presídios? Como ficam as mães, esposas e filhos destas pessoas? Não podendo deixar de citar a rebelião mais violenta que ocorreu no Brasil, em 1992, na Casa de Detenção Carandiru em São Paulo, não mais existente, pois no local foi construído o atual Parque da Juventude. Outro aspecto que contribui para o interesse na temática foi observar que, aos finais de semanas, em frente a uma Casa de Detenção no Tatuapé, formam-se filas enormes aos sábados para as visitas no domingo. Ao observar esta realidade, ainda que de maneira empírica, pergunta-se: Cumpre-se sozinho (a) a sentença, ou também a família está presa a esta realidade? Os familiares participam deste processo, passando também pelo julgamento da Sociedade Civil, pois os constrangimentos e estigmas colocados aos familiares não são pequenos, basta olharmos para os noticiários televisivos. Muitas vezes, as famílias necessitam de proteção legal. Para os sentenciados ou para os que já passaram pelo sistema penitenciário “se reintegrar ou ressocializar” é um problema concreto e muito complexo. Os últimos dados divulgados pelo Departamento Penitenciário Nacional – DEPEN, em 2012 indica que a população no sistema prisional brasileiro é de 12 548.003, sendo 35.039 do sexo feminino. Entre o estado e município de São Paulo 12.674 são mulheres de um total de 195.695 presos. Diante da complexidade do tema optamos pelo recorte de gênero, pois é significativo o número de mulheres sentenciadas na cidade de São Paulo e isto implica em vários outros temas relacionados a serem estudados. Assim, este estudo tem como objetivo conhecer o processo de retorno das mulheres que passaram pelo sistema prisional à família, aos laços sociais anteriores, ao mercado de trabalho, enfim, à sociedade. Para isso, apresentamos em três capítulos como ocorreu esse processo: No primeiro apresentaremos o contexto histórico de como surgiram às prisões femininas no Brasil e como a questão de gênero influencia na entrada destas mulheres no mundo do crime. Dialogamos com alguns autores como: Andrea Almeida Torres, Alvino Augusto de Sá, Jailson Rocha Siqueira, Maria Amélia de Almeida Telles. A partir do segundo capítulo, discorremos sobre o processo da aproximação junto aos profissionais que atuam com estas mulheres na área da Assistência Social através das redes de apoio, do qual realizamos visitas ao Centro de Acolhida, Centro de Apoio ao Trabalho, Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania, na instituição religiosa Pastoral Carcerária de São Paulo e ao Centro Referência de Assistência Social – CRAS do bairro da Casa Verde, do qual foi possível realizarmos entrevistas com duas assistentes sociais e uma usuária, que já passou pelo sistema prisional e atualmente é atendida no local. Entrevistamos também uma assistente social aposentada que trabalhou durante 17 anos no Sistema Penal, sendo 9 anos na atuação direta com mulheres do sistema. No terceiro capítulo apresentaremos as políticas direcionadas à população inserida no sistema prisional bem como o contexto do seu surgimento, mencionando os principais programas e ações criadas para a garantia dos direitos desta população, assim como os projetos em andamento que ainda não estão em vigor. Portanto, esta pesquisa tem por finalidade compreender o processo de retorno à sociedade das mulheres que cumpriram penas no sistema prisional, visto que este segmento vive, historicamente, um processo de exclusão, pois seus direitos não são garantidos a partir de sua entrada neste sistema. Sabemos que os Direitos Humanos são inerentes a todos os seres humanos, no entanto, na sociedade na qual vivemos dificilmente é garantido a todos, ainda 13 mais aos que cometem algum tipo de delito, pois estes, para a sociedade estão em desacordo com a estrutura social e com o sistema, e não “merecessem” o mínimo de respeito e garantias de seus direitos previstos na Constituição Federal de 1988. No caso das mulheres, este agravamento é ainda maior, pois sofrem preconceito, discriminação e todos os tipos de violência, devido ao estigma que carregam historicamente, sendo tratadas como seres inferiores na sociedade. Ao considerar a temática: Mulheres Egressas do Sistema Prisional é importantes esclarecer que o termo Questão Social é aqui compreendido como o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura. “[...] O Serviço Social tem na Questão Social a base de sua fundação como especialização do trabalho” (IAMAMOTO, 2003, p.27). O exercício profissional do assistente social deve garantir o acesso aos direitos e a justiça, enquanto cidadãs dentro do âmbito dos direitos humanos. A sistematização desse processo, por meio da pesquisa, pode contribuir para o entendimento das exclusões sofridas na sociedade por esta classe, e os fatores que contribuem para o processo de reintegração social. SÁ menciona que, O termo reintegração social é proposto por Alessandro Baratta (1990), em oposição a termos como “reabilitação”, “ressocialização”, exatamente pela responsabilidade da sociedade nesse processo, por subentender que o preso está sendo compreendido como alguém exatamente igual a todos os demais homens livres, deles se diferençando, unicamente, por sua condição de preso e de segregado (SÁ, 2005, p.11). Assim sendo, é importante ao Serviço Social o aprofundamento no tema com a finalidade de proporcionar maior reflexão e conhecimento sobre a demanda e a possibilidade de novos elementos para intervenção profissional, a fim de auxiliar o processo de recuperação da dignidade e da cidadania perdida por estas pessoas, uma vez que elas próprias e “a sociedade” as veem como “marginais”. 14 1 CONHECENDO O SISTEMA PRISIONAL FEMININO NA CIDADE DE SÃO PAULO NA DÉCADA DE 2000 - 2012 Para entender o retorno à sociedade de mulheres que passaram pelo sistema prisional, na última década 2000-2012 foi necessário um resgate histórico do sistema prisional feminino no Brasil, da formação econômica, social, política da sociedade brasileira; bem como do capitalismo na sociedade contemporânea. Ao procurar desvendar a sociedade capitalista contemporânea tomou-se como referência a crise do petróleo na década de 70. Período em que se descobriu que o petróleo como recurso natural não é renovável. Em decorrência disto, o preço do petróleo começou a sofrer variações que ocorrem até os dias atuais. O mundo capitalista, em geral, passou por transformações societárias importantes em relação ao modelo de produção desde os tempos do Fordismo. Na revista Serviço Social & Sociedade, número 50, José Paulo Netto cita as transformações societárias, iniciadas a partir da década de 70, em decorrência dos processos gerados pela reestruturação produtiva e pela globalização, tendo como modelo econômico as ideias do neoliberalismo, ou seja, livre mercado – global privatizado por corporações terceirizadas, informatizadas, consequência - desemprego estrutural e estado mínimo. A ideia de um Estado Mínimo foi colocada em prática pelo desmonte do Welfare State, do Estado de Bem Estar Social que alguns países capitalistas experimentaram enquanto garantias dos direitos sociais desde o Segundo Pós-Guerra, em 1945, que durou 30 anos, até o início dos anos 70. Tal ordem econômica global foi consolidada entre os anos de 80/90 na maioria dos países capitalistas, em especial nos países periféricos ou como se dizia nos anos 70, países de “terceiro mundo”. Na América Latina a partir dos anos 70 houve uma sucessão de golpes de direita para a implantação de ditaduras militares em vários países do continente, como: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Peru, Uruguai. Nesta década foi à eclosão dos movimentos populares. Com o fim da Guerra Fria (queda do Muro de Berlim em 1989) o capitalismo mostra-se como a nova força mundial. Inicia-se a expansão e conquista de novos mercados, o passo seguinte a este é a configuração da sociedade global. Segundo Ianni (1994), Sociedade Global é a junção das economias, culturas e sociedades mundiais, no seu sentido mais amplo, é uma realidade não reconhecida e codificada 15 o suficiente. Já a Sociedade Nacional, o autor vem dizer que é a vivência de cada Estado, ou seja, sua construção é baseada na sua própria sociedade, história, cultura e tradições, sem interferência mundial. Com a quebra de barreiras da Sociedade Nacional tudo se torna interligado, eficiente, informatizado, ou seja, a era da tecnologia. O neoliberalismo é a nova ordem, é o capitalismo com nova roupagem, é a ideologia que justifica e defende os princípios do capitalismo, baseado na propriedade privada, o que significa ter o mínimo possível de intervenção do Estado na economia, sendo assim, a economia possui a sua própria regulação de mercado da qual um dos seus objetivos é a acumulação do lucro excedente. No Brasil hoje o neoliberalismo se faz presente na terceirização de serviços públicos, instituições privadas na área da educação, saúde, assistência social, habitação dentre outros, que por sua vez deveriam ser garantidos pelo próprio Estado. Hoje o número de mulheres representa 52% da população economicamente ativa. Apenas 25% são donas de casa, apesar de muitas delas ainda encontraremse presentes nos serviços domésticos por assumirem a dupla jornada de trabalho. Houve uma evolução no aumento da participação das mulheres em altos cargos, tanto no poder público quanto no universo da iniciativa privada (BIANCHINI, 2011). Nas últimas décadas a figura feminina torna-se mais evidente na participação social, o que pode representar uma das possíveis razões para o aumento da criminalidade feminina. Elas querem ter acesso e consumir os produtos que lhes são oferecidos no mercado, porém poucos têm acesso ou, muitas vezes, assumem o lugar do companheiro que está no sistema prisional. Essas mulheres buscam no crime uma forma de garantir a sobrevivência material e social sua e de sua família, contudo, como possuem níveis de escolaridade muito baixos, falta de qualificação profissional, sofrem rejeição por terem passado pelo sistema prisional na tentativa de ingressarem no mercado de trabalho, e não conseguindo, optam como uma forma de sustento o ingresso no crime, porque esta lhes parece à forma mais acessível. As desigualdades sociais vivenciadas na sociedade capitalista muito contribuem para a entrada destas mulheres no mundo do crime, onde: 16 As precárias condições socioculturais que induzem as mulheres a “arriscar” no mundo do crime o sustento próprio e de suas famílias, principalmente filhos, quando combinada com o tempo de pena, constitui um paradoxo. Com efeito, o maior grupo de mulheres presas cumprem pena de reclusão entre mais de 4 e até 8 anos e concentra-se no regime fechado do sistema penitenciário, quando, o que se espera, é que as políticas públicas adotem estratégias preventivas diferenciadas e adequadas às especificidades socioculturais das populações. (NEMESS, 2012, p. 33). Neste contexto, podemos relacionar as dificuldades encontradas pelas egressas do sistema prisional ao seu retorno e convivência na sociedade, pois a partir da não garantia destas políticas, as mesmas encontram dificuldades em garantir seu sustento, moradia, saúde, trabalho e educação enquanto cidadãs a procura de retorno de seu convivo social. “O capitalismo tardio, transitando para um regime de acumulação “flexível” reestrutura radicalmente o mercado de trabalho, seja alterando a relação entre excluídos/incluídos, seja introduzindo novas modalidades de contratação (mais “flexíveis”, do tipo “emprego precário”), seja criando novas estratificações e novas discriminações entre os que trabalham (cortes de sexo, idade, cor, etnia) (...), mas que agora se revelam ainda mais acentuados, incidindo fortemente seja sobre o elemento feminino que se tornou um componente essencial da força de trabalho, seja sobre os estratos mais jovens que a constituem, sem esquecer os emigrantes que, nos países desenvolvidos, fazem o “trabalho sujo” (NETTO, 1996, p. 92-93). 1.1 Mulher na Ditadura Militar De acordo com a história as mulheres vivem um processo de lutas e conquistas que já permanece há décadas em busca de autonomia e respeito pelas diferenças e superações das desigualdades entre homens e mulheres. A participação da mulher durante a Ditadura Militar brasileira (1964-1982), esta vinculada às relações de gênero, e uma de suas lutas para a constituição desta identidade enquanto sujeito de direitos iniciou-se a partir da sua entrada no campo político neste período. Quando a mulher se inseria no movimento de militância nos partidos da oposição, era entendido que cometia duas infrações graves para o regime atual: fazer oposição ao governo vigente e quebrar os padrões estabelecidos pela sociedade da época, que compreendia a mulher somente nas atividades 17 domésticas. Porém, muitas mulheres ousaram e adentraram no espaço político, através do movimento feminista. Pelas lutas em busca de igualdade de direitos sociais e políticos, muitas mulheres foram mortas e desaparecidas neste período, e até os dias de hoje muitos corpos ainda não foram encontrados. Isis Dias de Oliveira, nascida em 1941, teve seu desaparecimento em janeiro de 1972 aos 31 anos. Era militante da Ação Libertadora Nacional - ALN, organização guerrilheira e revolucionária que ia contra a Ditadura Militar. Isis foi acusada em seis processos, dentre um deles por assaltado ao Hospital da Ordem Terceira da Penitenciária no Rio de Janeiro. Dos processos, foi absolvida em três. Como outro exemplo de luta, podemos citar Ana Maria Nacinovic Corrêa morta em 14 de Junho de 1972 após ter sobrevivido a emboscada realizada no Restaurante Varella na cidade de São Paulo em 1971, organizada pelos agentes de repressão política contra os militantes da Ação Nacional Libertadora 1. 1.2 A história do sistema prisional feminino Ao analisar a história do sistema prisional feminino na década de 70 os crimes mais praticados pelas mulheres eram os passionais, porém a partir da década de 70 até o ano 2010 de acordo com fonte de Informações Penitenciárias – InfoPen, de São Paulo - Relatórios Estatísticos 12/2010, o crime mais praticado é o tráfico de entorpecentes. Assim, como qualquer outra forma de atividade que gere lucro, a questão do tráfico de drogas é tão significativa e rentável, que está superando e atingindo diversos ramos da sociedade. Segundo o grupo de pesquisadores - em “Determinantes do comportamento Criminoso: um estudo econométrico nas penitenciárias central, estadual e feminina de Piraquara – Paraná”, Brasil dentre as correntes de pensamento econômico que discutem a economia do crime podem ser destacadas conforme os autores acima três. A primeira, uma corrente de origem marxista, que acredita que o aumento da criminalidade, principalmente aquela ligada à prática de crimes lucrativos, está relacionada às características do processo capitalista e é resultado direto das 1 Disponível em Dossiê Ditadura: Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil (1964- 1985); Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos IEVE – Instituto de Estudos sobre a Violência do Estado, 2 Edição, Imprensa Oficial, 2009. 18 alterações do comportamento empresarial no período pós-industrial (FUKUYAMA apud SHIKIDA et al. 2006, p. 130). Afirmam os autores que os cientistas enquadrados nessa corrente de pensamento acreditam que devido o processo empresarial centralizador de capital e os avanços tecnológicos resultantes, os ambientes sociais tornaram-se mais propensos às atividades criminosas. Para essa linha de pensamento, baseada em Fernandez e Pereira (2001), a convivência social do capitalismo pós-industrial incentivou a criação da chamada degeneração moral, que permitiu assim, o crescimento da atividade criminosa. A segunda corrente, mais ampla, associa o aumento da criminalidade a problemas estruturais e conjunturais, tais como índices de desemprego, analfabetismo, e baixos níveis de renda bem como a desigualdade social. Pode-se ainda relacionar a esta corrente as ineficiências policiais e judiciais, que contribuem para a manutenção e crescimento das organizações criminosas. Fernandez e Maldonado (1999), em seus trabalhos, apontaram para razões dessa natureza. E uma terceira e importante corrente de pensamento da economia do crime analisa a prática de crimes lucrativos como atividade ou setor da economia como qualquer outra atividade econômica tradicional (BECKER, 1968). O criminoso é então o empresário na atividade - é ele que mobiliza recursos, assume riscos e objetivando lucros nesse setor ilegal da economia. Sendo assim, a decisão de quanto “investir” na atividade ilícita dependerá diretamente da probabilidade de sucesso na atividade, ou risco inerente a ela, que dependerá principalmente da eficiência da polícia e da efetividade da justiça (FERNANDEZ e PEREIRA, 2000, p. 131). Com base na segunda corrente de pensamento dos autores citados, entendemos que, a atividade econômica do crime favorece para a conquista de bens materiais postos hoje na sociedade do consumo, do qual coloca como valor do ser humano “o que se tem e não o que se é”. Neste caso, atingindo a camada mais empobrecida da população, em que algumas delas acabavam vendo na criminalidade a forma mais acessível de atingirem estas conquistas. Por isso, se faz necessário conhecer as estruturas econômicas, sociais e das classes valorizadas hoje na sociedade para compreendermos a situação das mulheres egressas do sistema prisional. O histórico da prisão é bem antigo, traz em sua gênese formas de punição para aqueles que estivessem em desacordo com o poder maior determinado por 19 cada tempo histórico, que em sua maioria era comandado por sujeitos que possuíam grandes influências políticas e econômicas na sociedade. Michael Focault (1977) em sua obra “Vigiar e Punir” discute a forma política do poder de punir que acontece desde o tempo medieval. Torturas mentais e físicas eram aplicadas a todas as pessoas que desafiavam o poder como forma de punição, muitas vezes, perdendo a própria vida. Depois, aquele que foi punido, ou mesmo o corpo deste, era exposto a toda sociedade para servir de exemplo e medo para que ninguém mais ousasse desafiar o poder. Segundo Focault, o corpo deixou de ser o alvo principal para as punições, e o direito a vida é que começou a ser colocado em discussão como forma de punição, período este em que houve muitas mortes. Ao notar que tal forma de punição passa a ser vista como escândalo na sociedade, não surtindo mais efeito enquanto repressão penal. Ao final deste mesmo século começa-se elaborar novos métodos e artigos de punição para aqueles que cometessem um crime. Tomavam como ação punitiva o seu afastamento e convívio em sociedade, resultando na sua privação de liberdade. A partir daí surge o sistema penitenciário e as prisões, que de certa forma estava ligada ao funcionamento da sociedade. A partir do assim, a prisão surgiu intimamente ligada ao próprio funcionamento da sociedade. A partir do momento em que o capitalismo colocou nas mãos da classe popular uma riqueza investida em matérias primas, foi absolutamente necessário proteger melhor esta riqueza e se encontrou na privação de liberdade o castigo ideal para proteger os bens de uma sociedade capitalista. (OLIVEIRA, 2008, p.23). Segundo Vera apud Luis (2002, p.80) “consta que a primeira “cadeia” em nosso país data de 1551, em Salvador, Bahia, onde se instalou a sede do governo geral do Brasil”. A chamada “cadeia” era utilizada para conter os desordeiros, escravos fugitivos e criminosos que aguardavam por julgamento. Não se tinham dados se entre eles também estavam mulheres presas. Somente a partir da criação do Relatório do Conselho Penitenciário do Distrito Federal (criado em 1870) que se pode relatar a presença de mulheres neste ambiente. A partir deste relatório que surgiu a primeira penitenciária feminina do antigo Distrito Federal, em Bangu inaugurada em 9 de novembro de 1942 com a finalidade de transformar as mulheres 20 “meretrizes, vagabundas e pecadoras” em “mulheres a serviço dos trabalhos domésticos e para satisfação dos maridos”. Após a publicação pelo Diário Oficial em 7 de dezembro de 1940 sobre Decreto-Lei n° 2.848, que dispunha de novas determinações sobre o Código Penal, entre elas, a criação de local próprio para as mulheres já condenadas cumprirem suas penas, foi criado em São Paulo a primeira Penitenciária Feminina sob a administração do Estado, criando o chamado “ Presídio de Mulheres”. Foi a partir deste Decreto que a Lei de Execução Penal passou a valer também para as mulheres presas. A Lei de Execução Penal - LEP2, da mesma forma, dispõe sobre as penitenciárias femininas, estabelece que estas instituições devam possuir seções especiais para a gestante, e condições dignas para estas mulheres. Certamente há um grande espaço vazio entre o que está no papel e o que acontece na realidade, pois se assim o fosse, cumprindo o que está na lei, não existiria superlotação carcerária nos presídios brasileiros em respeito aos princípios da Lei de Execução Penal. As mulheres encarceradas apenas deveriam sofrer restrições ao seu direito de ir e vir, porém a negligência e o descaso do Estado no cumprimento de seus deveres alastram violações e não garantem os demais direitos das presas que não deveriam ser privados. O Estado, que deveria nesse contexto específico construir espaços produtivos, saudáveis, de resgate da autoestima e cidadania para as mulheres, só esta reproduzindo a discriminação e a violência de gênero presentes na sociedade dentro do sistema prisional feminino. Um dos maiores fatores que contribuem para entrada destas mulheres no sistema prisional são as drogas, seja ela através do consumo ou do tráfico. De acordo com Cerneka (2008), atualmente mais de 50% das mulheres presas no país estão detidas por crimes relacionados ao mundo das drogas. Infelizmente, não há estudos aprofundados sobre os crimes relacionados ao tráfico de drogas, pois, dentro deste percentual de mulheres presas por tráfico, há mulheres usuárias de drogas, mulheres já dependentes químicas, mulheres que caem no tráfico para sustentar sua família, mulheres que entram no tráfico puxadas por maridos e namorados, e finalmente, de vez em quando, 2 Lei n.º 7.210, de 11.07.1984, destaca em seu Art.1, que: “A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentenças ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado”. 21 encontram-se mulheres que traficam porque “ gostam de comer em restaurantes bons e usar tênis de marca” ( CERNEKA, 2008, p.6 ). Sabemos que historicamente são postos pela sociedade estigmas e rótulos às mulheres, tratando-as como seres inferiores e tentando convencê-las de que esta é sua posição na sociedade. No caso do sistema penitenciário, estas afirmações aumentam ainda mais, pois além do estigma que já carregam sofrem discriminações, preconceitos, abusos, violência e desrespeito por estarem nesta situação. São tratadas, muitas vezes, desumanamente, como se não merecessem a preservação de uma vida digna e a garantia de seus direitos enquanto cidadãs. Estas mulheres sofrem desde estruturas inadequadas para uma prisão feminina até condições mínimas para o aleitamento materno, o qual é um direito garantido no Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n° 8.069 de 13 de julho de 1990: “O Poder Público, as instituições e os empregadores propiciarão condições adequadas ao aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães submetidas à medida privativa de liberdade” (ECA, 2008, p. 37). Pouco é garantido no direito à assistência para elas, dormem amontoadas entre as celas, não têm acesso à saúde, sofrem abusos de poder por parte dos funcionários que trabalham nas penitenciárias e, por muitas vezes, não conseguem ter convívio com suas famílias, por serem levadas para locais distantes de seus endereços. Os maiores relatos que temos disponibilizado através de pesquisas são de violência e abuso de poder. Na realidade, a despeito da qualidade da comida e da majestade do conjunto arquitetônico (construído como se fosse um internato), incluindo sua capela e a creche, os recintos dessa prisão têm sido cenários de atos violentos, torturas e abusos de poder, de acordo com as narrativas feitas por internas e agentes que se depuseram a falar sem medo (SOARES e ILGENFRITZ, 2002, p. 23). As condições vividas dentro das prisões por estas mulheres podem trazer grandes impactos no momento de seu retorno e convivência com o mundo fora da prisão, por isso, as questões levantadas servirão para embasar o foco central de nossa pesquisa: as mulheres egressas, a fim de saber se estas condições contribuem no processo de retorno e convívio em sociedade após saírem do sistema penitenciário. 22 Torres (2001)3 esclarece que no Brasil, a política neoliberal dos governos tem comprometido o processo de consolidação da democracia, cujo princípio fundamental é a garantia e o respeito aos direitos dos cidadãos, que passam permanentemente a ter que “lutar pelo direito a ter direitos”. Nesse contexto é relevante tratarmos da questão penitenciária na sociedade brasileira. A realidade dos presídios em todo país é o retrato fiel de uma sociedade desigual e da ausência de uma política setorial séria e estruturada que enfrente a ineficiência do sistema penitenciário. O quadro caótico em que se encontra hoje o sistema carcerário brasileiro revela uma “desassistência” generalizada nos presídios, reflexo da ausência de uma política que venha, minimamente, romper com o estado de degradação em que se encontram milhares de homens e mulheres presos. A partir do estudo levantado sobre a questão de exclusão no âmbito do sistema prisional, se faz necessário o conhecimento de como se dá o funcionamento desta área, bem como a compreensão de suas políticas publicas. Segundo os autores Siqueira (2001) e Torres (2001), a questão social no sistema prisional ocorre através da relação do capital e trabalho. Basearam- se nos conceitos de Marx, para afirmarem que o capital é também uma relação de produção, da qual é apropriada pela burguesia de forma dominante e que pouco do trabalho produzido é passado a todos. Para Dornelles, contudo, Os comportamentos humanos não são valorados igualmente em todas as sociedades e em todos os tempos. A valoração será determinada por todo um complexo processo de formação da sociedade, em que as relações de poder desempenham um papel muito importante (DORNELLES, 1992, p.15). A privatização é o poder de controle do Estado favorecendo minimamente a classe penitenciária, tornando-se cada vez mais difícil o acesso aos direitos humanos quanto a esta população. A exclusão social e a criminalidade não são construídas somente na relação de trabalho, mas também é devido à forma como o modelo econômico social vai se desenvolvendo e como se dá a eliminação destas classes menos favorecidas neste processo (SIQUEIRA, 2001). Segundo Torres (2001) o sistema prisional, em sua estrutura desumana, expressa também, a falta de vontade política e a incapacidade dos atuais governos de encaminhar soluções para os problemas brasileiros. 3 Artigo apresentado no Painel: Serviço Social e o Sistema Sócio-Jurídico no X Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais – 2001. 23 O Serviço Social tem grande participação no processo de retorno à sociedade destas pessoas através dos campos de trabalho, no entanto, sua ação passa constantemente por conflitos, através das violações de direitos destes e de suas limitações institucionais para atuação. Tendo como base a sua fundamentação na questão social, podendo ser expressas nas desigualdades sociais postas na sociedade. Faz-se necessário o aprofundamento e reflexão sobre este sistema e suas conjunturas, a fim de entender como o mesmo se organiza e como o Assistente Social pode trabalhar para o favorecimento do retorno destes indivíduos à sociedade sem que haja a violação de seus direitos durante e após o cumprimento de sua pena. Segundo Siqueira (2001), a assistência social, assim, se constitui um elemento – chave para a construção da cidadania, sempre negado aos encarcerados e a uma parcela significativa da nossa sociedade. A assistência social passou a ser um direito somente a partir da criação da Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS, a qual defende como alguns de seus princípios, no artigo 4°, o seguinte: I - supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica; II - universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; III - respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade. A partir desta nova realidade é que os usuários do serviço penitenciário passaram a serem olhados pelo Estado como cidadãos de direitos. Dever do Estado e direito dos usuários do sistema. Este estudo tem o interesse especifico de compreender as dificuldades sofridas pelas mulheres do sistema prisional feminino, assim é necessário abordamos a questão de gênero. A construção do gênero se dá historicamente, socialmente e culturalmente na sociedade, através de padrões e concepções do que “é ser homem e o que é ser mulher”, o que se deve ou não fazer em ambos os sexos. Conceitos impostos, que são apresentados através dos hábitos, comportamentos, formas de pensar. Padrões definidos socialmente de acordo com o tempo histórico em que se vive e que perduram ao longo dos anos sem que sejam questionados. 24 Tal discriminação e construção social faz com que as mulheres estejam historicamente inseridas no processo de exclusão, o que contribui para a sua entrada no sistema carcerário, bem como nas consequências das desigualdades sociais dentro deste contexto, tendo assim maior dificuldade para regressarem novamente à sociedade e às relações familiares após o cumprimento da pena pelo delito cometido. Ainda que definidas pelo sexo, as mulheres são algo mais do que uma categoria biológica; elas existem socialmente e compreendem pessoas do sexo feminino de diferentes idades, de diferentes situações familiares, pertencentes a diferentes classes sociais, nações e comunidades; suas vidas são modeladas por diferentes regras sociais e costumes, em um meio no qual se configuram crenças e opiniões decorrentes de estruturas de poder (LOUISE, 1994, p. 31). Mediante a todo o processo discriminatório que as mulheres em geral sofrem há tempos na sociedade, principalmente as egressas do sistema prisional, podemos entender a questão do gênero também como uma categoria de análise, para compreender como se dão estas expressões sociais na sociedade e propor formas de enfrentamento para a sua superação. Em outras palavras quer dizer que gênero se constrói socialmente de acordo com cada tempo histórico vivido em cada sociedade, enquanto a expressão “sexo” teria uma caracterização biológica com destaque para os aspectos físicos do ser feminino ou do ser masculino [...]. (TELES, 2007, p.39) Para compreender melhor o funcionamento desta conjuntura, se faz necessário conhecer a fundamentação teórica e histórica da construção do sistema penitenciário. Utilizaremos as legislações LEI Nº 7.210, DE 11 DE JULHO DE 1984, em especifico, a seção VI da Assistência Social para embasamento teórico e compreensão de como são aplicadas na sociedade, também, para orientações que norteiam a prática profissional dentro do “campo sócio – jurídico”. Campo (ou sistema) sócio-jurídico diz respeito ao conjunto de áreas em que a ação do Serviço Social articula-se a ações de natureza jurídica, como o sistema judiciário, o sistema penitenciário, o sistema de segurança, os sistemas de proteção e acolhimento como abrigos, internatos, conselhos de direitos, dentre outros. O tema sócio jurídico, enquanto síntese destas áreas tem sido disseminado no 25 meio profissional do Serviço Social, em especial com a sua escolha como tema central da Revista Serviço Social e Sociedade n. 67 (Cortez Editora), pelo comitê que a organizou, tendo sido incorporado, a seguir, como uma das sessões temáticas do X CBAS – Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais/2001 (FÁVERO, 2003, p. 10). A legislação vigente da Assistência Social no sistema penitenciário está prevista na LEI Nº 7.210, DE 11 DE JULHO DE 1984, o Capitulo II, possui suas disposições gerais, e na seção VI em especifico da Assistência Social. O que legitima as ações da profissão dentro deste contexto são os aparatos de leis e resoluções, documentos e publicações que embasam a profissão, seja nas leis que legitimam suas funções, seja nas leis que viabilizam o acesso aos direitos, que são compreensões determinadas pelo Código de Ética do Assistente Social em seus princípios fundamentais: I Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais; II “Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo”. Ao que parece, a sociedade neoliberal além de estigmatizar a mulher egressa, não possibilita condições para que as mesmas se reconheçam como participantes nessa conjuntura capitalista. O atual cenário socialmente globalizado, no qual que estão inseridas estas mulheres torna mais difícil o processo de retorno à convivência social. 1.3 Questão Social na realidade das egressas Para discorrermos sobre Questão Social na realidade das mulheres que passaram por situação de encarceramento, se faz necessário contextualizar o significado do conceito “Questão Social”. Baseado no conceito Marxista a concepção da Questão Social está enraizada na contradição capital x trabalho, em outros termos, é uma categoria que tem sua especificidade definida no âmbito do modo capitalista de produção. O conceito de Questão Social mais notório no Serviço Social é: “A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como 26 classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão” (CARVALHO e IAMAMOTO, 2009, p.77). Vivemos em uma sociedade capitalista, as desigualdades sociais se tornam cada vez mais presentes, o que não permite que a riqueza social que é produzida por todos seja apropriada de forma igualitária. Somente uma camada desta população (no caso, aqueles que detêm maior poder econômico e recursos para a produção, pois estes acumulam suas riquezas com base na fragilidade daqueles que tem somente a sua força de trabalho para oferecer à sociedade). Interligada a esta realidade estão novas formas de expressões da Questão Social presente na sociedade, que é nitidamente percebida por grande parte da população, que não conseguiu de alguma maneira ser encaixado no modelo estruturalista, que a sociedade julga ser o normal, e que sentem no seu cotidiano as consequências, sintetizadas na precariedade das condições e relações de trabalho, na ausência de seus direitos como cidadãos, entre outras. No caso das mulheres que vivenciaram um período de suas vidas no sistema penitenciário, este cenário, torna-se ainda mais precarizado, pois na visão da sociedade capitalista, além de terem cometido um delito, “ir contra os princípios da lei”, não lhe é permitida sua retomada à sociedade como uma cidadã de direitos. Sofrem preconceitos, discriminações, e tem seus direitos, enquanto seres humanos, violados, causando assim grande fragilidade psicológica e social, tornando- as vítimas da violência social, parte dessa conjuntura é causado pela representação social. Segundo Moscovic (2009) representação social é um conjunto de conceito, proposições e explicação originada na vida cotidiana no curso de comunicações interpessoais. Equivalentes, em nossa sociedade, aos mitos e sistema de crenças da nossa sociedade tradicional, pode também ser vista como a versão contemporânea do senso comum. Para as mulheres que estiveram neste sistema, a representação social está atribuída de modo negativo pelo fato do delito cometido. Verificando nesta situação a existência de mais um fator contribuinte para a crescente da Questão Social em torno destas mulheres, o estigma que de acordo com Goffman (1988) é, a sociedade estabelecendo os meios de categorizar as 27 pessoas conforme os atributos considerados como comuns e naturais para todos os membros de determinada categoria. Cada ambiente social determina categorias de pessoas que serão encontradas. Estabelece também as categorias a que as pessoas devem pertencer, bem como os seus atributos, o que significa que a sociedade tem um padrão externo para o indivíduo que permite a ele se inserir na categoria e aos atributos, a identidade social e as relações com o meio. A repercussão desta distribuição em categorias faz como que estas mulheres sejam vistas como “mulher que foi presa”. Desta maneira, se a sociedade, sempre as estigmatizarem e não as auxiliarem na construção de uma nova realidade social, apenas julgando os atos anteriormente cometidos por elas, dificultará o retorno das mesmas à sociedade e a busca pela constituição de si como ser social. É preciso obter um olhar diferenciado a esses casos, levando em consideração o contexto histórico no qual estão inseridas. 28 2 APROXIMAÇÃO COM PROFISSIONAIS QUE ATENDEM MULHERES QUE PASSARAM PELO SISTEMA PRISIONAL FEMININO DA CIDADE DE SÃO PAULO Essa pesquisa pretende compreender o processo de retorno à sociedade das mulheres que cumpriram pena no sistema prisional feminino sobre a perspectiva do profissional do Serviço Social. Esse processo acontecerá através de visitas em Centros de Referências, Casas de Acolhidas e Organizações Sociais que realizam atendimento a estas mulheres no município de São Paulo, utilizando, quando possível, os documentos e prontuários das instituições: Centro de Acolhida Nossa Senhora Aparecida, Centro de Referência de Assistência Social - CRAS bairro da Casa Verde, Pastoral Carcerária da Arquidiocese de São Paulo, Secretaria Municipal do Trabalho e do Empreendedorismo – Centro de Apoio ao Trabalho CAT Santana e Centro de Políticas Específicas – Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania. Ao ter acesso a estes centros, foi realizado inicialmente visitas com os profissionais para verificar a possibilidade de contato direto com as mulheres, a fim de nos aproximarmos para conhecer suas experiências, pois, a partir do dialogo com elas, acreditávamos poder entender as políticas disponíveis para este sistema e coletar dados para verificar sua efetivação; bem como observar como acontecem as relações sociais destas mulheres dentro e fora do sistema prisional, para realizarmos uma análise critica e aprofundamento no tema. Além, de contribuir para a produção de conhecimento na área do Serviço Social, na descrição da prática profissional dos assistentes sociais dentro da área sócio jurídica. Recorreu-se ao método quantitativo no que diz respeito à coleta de dados sociais sobre a população pesquisada, a fim de levantar dados estatísticos dos anos anteriores (2000 – 2012) para realizarmos uma reflexão crítica sobre esta realidade. No entanto, em função dos objetivos definidos neste projeto, o método qualitativo é o mais adequado, pois se pretendeu dar centralidade ao sujeito histórico, na experiência e trajetória de vida destas mulheres. Desejou-se conhecê-las para além dos números e dos índices levantados. A experiência das mulheres egressas do sistema prisional enquanto expressão da “Questão Social” e a relação com a subjetividade das pessoas permite ao assistente social considerar suas histórias, valores, modo de pensar e sentir 29 sobre dada realidade, ocupando assim um papel importante para compreensão do processo de retorno destas mulheres à sociedade sobre o olhar dos profissionais que atuam no Serviço Social. A pesquisa qualitativa responde as questões muito particulares. Ela se ocupa nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Este conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes (MINAYO, 2011, p.21). O método qualitativo permitirá observar e compreender as experiências dos profissionais que atuam diretamente com essas mulheres e a atuação do Serviço Social enquanto equipe multidisciplinar. As informações e elementos trazidos através dos depoimentos destes profissionais e os dados coletados contribuíram para entendermos as atuais políticas e programas sociais que atendem esta população. Verificar se de fato são efetivos e se contribuem para o retorno e convívio em sociedade; bem como auxiliar na construção de novas redes de atendimento, na elaboração de programas, na melhoria dos atendimentos, na implantação e execução efetiva do atendimento as demandas e problemas enfrentados por estas mulheres. Utilizaremos como instrumentos: a análise de documentos, entrevista semiestruturada e gravador. As entrevistas serão realizadas mediante autorização e agendamento prévio junto ao Assistente Social, para não interferir na realização de suas atividades. Será solicitado uso de local privado para a realização da entrevista, a fim de garantir o sigilo das informações. Utilizaremos o gravador para registro e, posteriormente, as transcrições dos dados fornecidos. Foram realizadas entrevistas a três profissionais, destas, uma já atuou, e outras duas atuam e acompanham mulheres que passaram pelo sistema prisional. Serão fonte de informações, depoimentos e experiências de como é desenvolvida a intervenção do profissional de Serviço Social a estas mulheres. São elas: Gizelda Morato Costa – Formou-se em Serviço Social na cidade de Lins- SP em 1986 está aposentada deste de 05/01/2013, atuou 17 anos junto ao sistema penitenciário masculino, e 9 anos junto ao sistema penitenciário feminino. Trabalhou 30 2 anos no regime fechado na penitenciária feminina do Butantã e 7 anos no regime semi aberto. Camila Felice Jorge - Formou-se na Pontifica Universidade Católica de São Paulo (PCUSP-2006). Mestre em Serviço Social pela PCUSP- 2009. Teve experiência profissional no centro de acolhimento para criança e adolescente. Trabalha na prefeitura de São Paulo e atuou 2 anos na área da saúde. Hoje atua como Coordenadora do CRAS Casa Verde. Mirela - Formou-se na Pontifica Universidade Católica do Paraná (PUCPR – 2004). Atuou na Secretaria de Estado do Paraná na área da Assistencial Social, Projetos e Organizações não governamentais do terceiro setor na área da assistência em atendimento a jovens. Concursada desde 2008 na Prefeitura de São Paulo, inicialmente na área da Saúde e posteriormente na área de Política de Assistência Social, atualmente atua no Centro de Referência da Assistência SocialCRAS Casa Verde. Docente em Serviço Social. 2.1 Situação atual no sistema penitenciário feminino Nos últimos anos tem crescido muito o índice de mulheres inseridas no sistema penitenciário. Segundo o GRUPO DE TRABALHO INTERMINISTERIAL Reorganização e Reformulação do Sistema Prisional Feminino em “Relatório Final” a população feminina encarcerada de 2000 a 2006 passou de 5.601 para 14.058, um aumento de 4,55% neste período. Em paralelo, tem crescido também o número de mulheres estrangeiras participantes nesse sistema no Brasil. Para uma melhor compreensão do perfil destas mulheres, recorremos a alguns dados disponíveis no Ministério da Justiça, conforme gráficos abaixo: População Carcerária Feminina no Brasil – Ano 2011/2012 Brasil Presas Presas Estrangeiras Faixa etária Cor/ etnia Escolaridade 2011 34.058 832 18 a 24 anos Parda Ensino Fundamental Incompleto 2012 35.039 774 18 a 24 anos Parda Ensino Fundamental Incompleto Fonte: MJ – DEPEN – Infopen – População Carcerária. 31 População Carcerária Feminina do estado de São Paulo – Ano 2011/2012 Brasil 2011 Presas Presas Estrangeiras Faixa etária Cor/ etnia Escolaridade 2012 11.853 553 18 a 24 anos Branca Ensino Fundamental Incompleto 12.674 557 18 a 24 anos Branca Ensino Fundamental Incompleto Fonte: MJ – DEPEN – Infopen – População Carcerária. De acordo com os dados recentes das Informações Penitenciárias - InfoPen nos Relatórios Estatísticos 12/2012, atualmente no Brasil 548.003 pessoas encontram-se no sistema prisional, sendo que 35.039 são mulheres, um percentual de aproximadamente 6,39% da população carcerária nacional. Já no estado de São Paulo, esta população é de 195.695 e 6,49% são mulheres, equivalente a 12.674. Deste total, 4,64% que representam aproximadamente 557 mulheres, são estrangeiras e encontram-se inseridas no sistema penitenciário, representando a maior parte pelos países: África do Sul, Angola e Bolívia. Com base nas tabelas acima e no gráfico abaixo apresentado, observamos o aumento das mulheres presas no Brasil, particularmente na cidade de São Paulo. Houve uma pequena diminuição no número de mulheres estrangeiras presas no Brasil, no entanto, no estado de São Paulo esta consideravelmente, de 533 presas em 2011, para 589 em 2012. população cresceu 32 40.000 35.000 30.000 25.000 20.000 Presas Presas estrangeiras 15.000 10.000 5.000 0 Brasil Brasil 2011 São São Paulo Brasil 2012 São Brasil SãoPaulo Paulo 2011 2012 2011 2011 2012 2012 Fonte: MJ – DEPEN – Infopen – População Carcerária 2.2 Primeiros contatos com os profissionais que atuam com a população egressa Abaixo são mencionados os primeiros locais que abriram as portas para a aproximação e possibilidade de realização de estudo sobre estas mulheres. Ressaltamos aqui a dificuldade de acesso a estas instituições e as mulheres, por questões éticas e burocráticas relacionadas à Administração Pública. Em seguida, realizamos um breve relato sobre as passagens nas instituições visitadas para desenvolvimento da pesquisa: Pastoral Carcerária do Estado de São Paulo Por meio de busca na internet localizamos contato da Sra. Heidi Ann Cernecka, Coordenadora da Pastoral Carcerária do Estado de São Paulo. A mesma desenvolve trabalhos voluntários no sistema penitenciário junto à entidade Católica e 33 a Defensoria Pública, auxiliando no desenvolvimento jurídico, social e econômico desta população. Na segunda quinzena de setembro de 2012 realizamos uma primeira entrevista, quando nos foi relatado sobre a fundação e os objetivos da instituição em auxiliar a população encarcerada. A Sra. Heidi nos indicou também alguns profissionais para contato sobre o assunto específico das mulheres egressas, bem como nos concedeu alguns materiais para pesquisa. Após isso, mantivemos contato com ela através de novos encontros, que nos permitiu conhecer melhor a realidade destas mulheres e como aprofundarmos nossa pesquisa. Casa de acolhida Nossa Senhora Aparecida Por indicação da aluna Maria Paula do curso de Serviço Social, obtivemos contato com a diretora da instituição, Marisa Andrade. O local faz atendimento de acolhida exclusivamente para mulheres egressas estrangeiras. Via contato telefônico, agendamos uma primeira visita para apresentação do projeto e entendimento do funcionamento da instituição, afim de futuramente entrevistarmos aquelas mulheres. No dia 09.10.2012 comparecemos à instituição para obtermos informações sobre o seu funcionamento. O local abrigava cerca de 40 mulheres e 6 crianças, em sua maioria vindas dos países Africano e Latino Americano. Algumas possuem trabalho fora da casa e segundo a diretora, contribuem com uma determinada quantia financeira para “o bem estar coletivo” e as demais contribuem com trabalhos realizados na própria instituição. A Casa possuía também parceria com a unidade de saúde da região, proporcionava as mulheres atendimento médico e orientações/palestras sobre a saúde da mulher. Falamos então nossa proposta e nos foi sugerido pela profissional que apresentássemos previamente um questionário para aprovação da diretoria e uma proposta de atividade para desenvolvermos juntas às egressas. O objetivo era aproximarmos das egressas antes da aplicação do questionário. Mediante solicitações, documentos foram apresentados para aprovação da atividade. Tivemos grandes dificuldades em contato com a diretora, pois o retorno era demorado e a comunicação difícil. Após um mês, em novembro de 2012, 34 tivemos a aprovação para executarmos as atividades. Foram marcadas datas para a realização de acordo com agenda da Casa de Acolhida e, por vezes, houve o cancelamento da atividade por parte da instituição. Mediante ao exposto, foi sugerido novas datas para o início de dezembro de 2012, porém a mesma informou que sairia de férias e somente retornaria em meados de janeiro de 2013. Enviamos então, e-mail informando que retomaríamos a proposta a partir de seu retorno, entretanto, não obtivemos resposta. Retomamos então as formalizações por meio eletrônico no dia 11/2/2013, para solicitação de andamento das atividades programadas anteriormente e informando os contatos realizados, sem sucesso, após seu retorno de férias até a presente data. Após dois dias, 13/2/2013 recebemos retorno da diretora, relatando, segundo ela, lembrar-se da proposta e que devido à ausência de contato das pesquisadoras com a instituição durante muitos dias, seria inviável a sequência nas atividades, pois outras estudantes já estavam desenvolvendo pesquisa na instituição. De contra partida, argumentamos contatos feitos via fone e email sem retorno e que entendíamos a situação, porém gostaríamos de verificar a possibilidade de reavaliação do posicionamento, tendo em vista o longo período de abordagem que vínhamos realizando a fim de aplicar a pesquisa na Casa de Acolhida, local muito importante para a construção de nosso processo de formação profissional, acadêmico e pessoal. Infelizmente, a resposta foi negativa e por tal motivo encerramos atividades de pesquisa com as egressas deste local. Centro de Políticas Específicas – Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania. Por indicação da Sr. Heidi obtivemos o contato do profissional André Luzzi, responsável pelas ações voltadas aos egressos/as do sistema prisional feminino e suas famílias. Em encontro no dia 07/2/2013 nos foram apresentados alguns programas realizados atualmente pela Reintegração Social: Pró Egresso4 e as 4 Programa criado pelo Estado de São Paulo em parceria com a Secretaria de Administração Penitenciaria - SAP e a Secretaria do Emprego e Relações de Trabalho - SERT com a finalidade de promover capacitação e gerar empregos aos egressos/as com intuito de contribuir para sua reintegração na sociedade, dar condições para o acesso à cidadania, diminuição na reincidência criminal e diminuição na vulnerabilidade social. Tendo em vista que o acesso ao emprego e recolocação no mercado de trabalho é uma das maiores dificuldades enfrentadas por esta população após o seu retorno à sociedade. 35 Centrais de Atenção aos Egressos e Família - CAEF5, e concedido materiais sobre o trabalho realizado pela Coordenadoria de Reintegração Social para este segmento. Ao verificar possibilidade de entrevista com o profissional sobre suas experiências e vivencias neste contexto, para inclusão no trabalho, fomos informadas que a liberação é concedida somente mediante aprovação do Comitê de Ética da Secretaria de Administração Penitenciária - SAP, sendo este muito burocrático e moroso para concessão de autorização, o que inviabilizaria a entrevista para anexo ao projeto devido ao prazo para conclusão. Todas as informações acima passadas foram baseadas em visitas e contatos, realizados via emails e telefones, ao longo da elaboração de pesquisa, no qual estão como anexo ao fim deste trabalho. Secretaria Municipal do Trabalho e do Empreendedorismo – Centro de Apoio ao Trabalho - CAT Santana – São Paulo Em contato com assistente social do Centro de Apoio ao Trabalho – CAT Santana apresentamos roteiro para levantamento de características das mulheres que passaram pelo sistema penitenciário atendidas na instituição. Estes roteiros foram respondidos no período de novembro de 2012 a janeiro de 2013, através das respostas concedidas por elas, via roteiro estruturado, foi construída a tabela: 5 Centrais de Atenção ao Egresso e Família que atuam na Assistência aos vínculos familiares, na construção e ampliação a rede de apoio para garantia ao emprego e renda a fim de possibilitar ao sujeito a retomada de sua autonomia enquanto cidadão e seu retorno ao convívio social. Os profissionais que atuam nesta área são assistentes sociais, psicólogo, técnicos e/ou estagiários. 36 37 De acordo com os dados, quatro das cinco usuárias, possuem ensino fundamental incompleto como grau de instrução, o que interfere diretamente na sua recolocação ao mercado de trabalho. As cinco mulheres estudadas, estavam desempregadas, foram à instituição em busca de vaga de emprego. Duas são ajudantes gerais e duas têm profissão de secretaria e advogada, uma não respondeu, três das cinco contribuem na renda familiar; quatro das cinco mulheres são naturais do estado de São Paulo. Elas têm entre 25 a 61 anos; quatro tem entre 02 a 04 filhos, quatro são solteiras e uma é divorciada. Destas cinco mulheres três cumprem pena em liberdade condicional e duas em regime semiaberto. Um dado relevante é que duas mulheres tiveram familiares no sistema penitenciário. As mulheres estudadas saíram do sistema penitenciário entre abril de 2011 a janeiro de 2013. De acordo com os dados, três delas cumpriram pena referente ao art. 157 ”Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência” (LEI Nº 2848 de 7 de dezembro de 1940). E duas mulheres cumpriram pena referente ao artigo. 33 do Código Penal: Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. (LEI Nº 11.343, de 23 de agosto de 2006). As mulheres deixam claro que quando saem do cárcere, na maioria das vezes, quem as acolhem são os familiares quando os vínculos ainda permanecem mantidos ao longo do cumprimento da pena. Apenas uma necessitou da rede de apoio da Assistência Social. Esta recorreu ao Centro de Acolhida. Observamos que não possui filho e não demonstrou perspectivas para o seu futuro. Ademais, as outras pesquisadas trazem como expectativas para futuro: “Recuperar a dignidade perdida com o delito, se reintegrar à sociedade e criar meus filhos com liberdade” (E.S.R). “Reabilitar-me socialmente, conseguir um trabalho e criar meus filhos” (R.A.S). “Poder provar que sou vítima de uma ação de má fé, e se 38 reintegrar à sociedade como cidadã de direitos” (A.L.F). “Não precisar voltar nunca mais para o sistema prisional” (R.V). As mulheres, quando responderam sobre seu futuro, evidenciaram o desejo de “reintegração” à sociedade. Isso nos traz inquietações, pois partimos do pressuposto que, se as mesmas já cumpriram sua pena com a justiça, não tem por que excluí-las da sociedade. Ou seja, paralela ou antecipadamente à preocupação com o retorno das mulheres à sociedade, nos leva a crer que os esforços devem ser também direcionados para o enfrentamento como problemas sociais, abordando necessidades reais e concretas de suas vidas, como habitação, saúde, educação, assistência, trabalho, entre outros. São necessárias Políticas Públicas que assegurem de maneira efetiva o retorno destas mulheres para a sociedade, ou seja, proporcionando condições concretas para que consigam viver dignamente, não sendo necessário recorrer ao mundo do crime novamente. Centro de Referência de Assistência Social – CRAS O acesso a esta instituição surgiu a partir do contato com a assistente social e ex-professora do curso de Serviço Social da Faculdade Metropolitanas Unidas FMU, Mirela Ferraz. Desde o 5° semestre do curso, nos acompanhava e contribuía no processo de formação do projeto de pesquisa sobre o tema, que, ao mencionar como objeto de pesquisa as egressas do sistema prisional demonstrou grande interesse em nos auxiliar no desenvolvimento da pesquisa. Passado um tempo, nos relatou sobre um atendimento e acompanhamento realizado a uma egressa do sistema prisional no Centro de Referência de Assistência Social – CRAS Casa Verde- São Paulo e nos questionou sobre o interesse em entrevistar a mulher. O convite foi aceito, realizamos visita ao CRAS no dia 22/10/2012. A assistente social Mirela nos apresentou o prontuário da usuária do serviço para conhecermos melhor a história desta mulher egressa. Em nossa presença contatou a usuária para verificar a possibilidade de ida ao CRAS para apresentação de proposta da pesquisa. Na mesma semana, a profissional conversou com egressa, que segundo relatos da mesma, demonstrou - se muito feliz com o convite, aceitando prontamente ser entrevista por nós pesquisadoras. Após o convite aceito, realizamos entrevistas com as assistentes sociais Camila Felice Jorge, Mirela Ferraz e uma usuária egressa do CRAS, que nos relatou sua experiência. 39 2.3 Relato da mulher que passou pelo sistema prisional A usuária do Centro de Referência de Assistência Social - CRAS terá seu nome preservado e será denominada “S.S.S”, tem 43 anos, é cozinheira, solteira, reside na zona norte da cidade de São Paulo, tem 6 filhos, 02 meninos e 04 meninas, destes 6 filhos quatro moram com S.S.S. Relata que foi presa em 1992, foi condenada no artigo 1556, porém alega ser inocente. Estava no barzinho com o companheiro quando chegou uma conhecida e sentou-se a mesa para beber com ambos, foi quando a polícia chegou, informou que todos estavam presos por furto, porém a mesma tentou defender-se da acusação, não foi ouvida e todos foram presos. Ela foi condenada há cinco anos, quatro meses e treze dias, desta pena, cumpriu quatro anos e dois meses em regime fechado. A pena fora reduzida por bom comportamento. “S.S.S” descreve que neste período ainda era nova e inocente, diz que não tinha acesso e nem meios para avisar seus familiares sobre o que aconteceu, foi quando ocorreu uma rebelião no presídio e estava sendo transmitida por uma emissora de televisão, neste dia seus familiares viram-na na TV. Descreve, com lágrimas nos olhos, os horrores que viveu na penitenciária, desde conflitos com outras usuárias até violência dos profissionais. Foi perguntado a “S.S.S” se teve apoio dos familiares quando saiu da prisão, a mesma disse que sim, do pai e irmão. Quando questionada sobre a rede de apoio que teve quando saiu do sistema prisional, alega ter recebido ajuda do repórter Paulo Salgado, que fazia visitas voluntárias a mulheres enquanto estavam presas, as visitas tinham cunho religioso. Quando saiu da penitenciária foi à procura de Paulo Salgado, que comprou um isopor, refrigerante e águas para que ela pudesse vender e ter meios para se sustentar. S.S.S informou já ter se envolvido com tráfico de drogas para obter o sustento dela e dos filhos. Ao longo de sua trajetória relata ter procurado trabalho formal, porém sem sucesso devido seu histórico do passado. Relata sobre o período que participou de uma ocupação a um prédio no centro da cidade de São Paulo, meses depois desta ocupação, decidira tentar a vida no Estado de Minas Gerais, os planos de construir uma nova vida junto dos filhos e companheiro não deram certo, retornou 6 Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940 do qual se refere aos crimes relacionados ao de roubo. 40 para a cidade de São Paulo onde reside até hoje e busca nas Políticas Sociais através do Centro de Referência de Assistência Social - CRAS alguns benefícios, tais como: transferência de renda e benefícios eventuais (pagamentos de contas auxílio aluguel entre outros), orientações e encaminhamentos para ter acesso às demais Políticas Públicas, como saúde, educação, habitação, entre outras. De maneira marcante diz com lágrimas nos olhos “Eu não volto, prefiro a morte”. S.S.S fala sobre sua dinâmica familiar hoje, seu atual companheiro saiu da penitenciária em torno de um mês, entristecida fala sobre o filho de 17 anos que está fascinado pelo mundo do crime, diz que fará de tudo para tentar tirá-lo, pois sabe que se o mesmo ingressar nesta vida, não terá futuro. Descreve um pouco sobre a filha de sete anos muito estudiosa e pontua que consegue força para prosseguir através de seus filhos, pois não quer que eles tenham sua mesma história. Ao questionarmos sobre o que ela esperava de seu futuro, com emoção respondeu: Assim, meus filhos criados, eu numa casa, minha panela de pressão chiando sabe, meus cachorros no quintal, meus filhos indo e voltando pra escola. Eu não quero furtuna, não peço riqueza peço [...] só queria ter um cantinho pra minha cabeça e dos meus meninos, só isso mais nada, não peço riqueza [...] só ter um espaço pra mim e pro meus filhos sabe. (S.S.S). 2.4 O retorno da mulher egressa à sociedade sobre o olhar do assistente social. O ponto de partida desta pesquisa são as experiências expressadas no atendimento às mulheres egressas e como acontecem as relações ao retorno delas a sociedade pelo olhar do profissional do Serviço Social. Tendo como pressuposto O Código de Ética Profissional do Serviço Social, no qual dispõe como um dos seus princípios fundamentais “não discriminar e não ser discriminado, por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, orientação sexual, idade e condição física”, ou seja, entende-se que o assistente social tem que ter uma atitude crítica e iniciar um processo de construção junto a estas mulheres para mostrar-lhes o quanto elas são importantes, que têm 41 direitos e devem lutar para garanti-los, fundamentando-se na defesa dos Direitos Humanos e no repúdio aos preconceitos existentes na sociedade. [...] enquanto assistente social eu sempre defendi que nós tínhamos que trabalhar os sujeitos que se encontram privados de liberdade, no sentido de elevar ele enquanto cidadão. Em que sentido, é desenvolvendo ações projetos e programas sociais que pudessem promovê-los enquanto cidadãos que são. No sentido de através dessa promoção social ele poder vir a ser, ou reorganizar sua historia de vida e elaborar novos projetos, de modo que ele inserir-se na sociedade, não vou dizer de uma forma positiva, mas de modo que ele pudesse se inserir ou ela se inserir na sociedade, de um modo que ao travar as novas relações ou buscar os vínculos das relações que tinha para que a pessoa conseguisse viver em sociedade [...]. (Gizelda Morato). Tudo isso vai de encontro ao trabalho do assistente social, que tem como um dos seus objetivos possibilitar o retorno destas mulheres de maneira digna. [...] a questão do próprio preconceito que a sociedade emprega a essa pessoa, uma pessoa que como se tivesse passado pelo sistema prisional ela é taxada pelo resto da vida como alguém criminoso. A nossa sociedade de alguma forma ela é sensacionalista, ela vive a partir destes fatos que envolvem pré- julgamentos, que envolve culpabilização, o nosso próprio sistema judiciário ele caminha para a penalização dos indivíduos [...]. (Mirela Feraz). Mas, devemos entender que para o retorno de maneira digna à sociedade, é necessário um atendimento efetivo das demandas apresentadas, ou seja, uma efetiva articulação entre as políticas. [...] pessoas que passaram por alguma situação de privação, e ela tá trazendo a questão filho, habitação, isso é muito claro na vida dela, [...] ela participa de outros programas sociais, que é o aluguel social, ela teve o acesso do beneficio de transferência de renda, cortado até por conta de não conseguir colocar as crianças na escola, [...]. (Camila F. Jorge). Quando o profissional depara-se com as demandas apresentadas por estas mulheres, cabe a ele fazer mediações entre o que o Estado deveria garantir como direito, e verificar o que estas egressas têm como prioridades assistenciais a serem atendidas. 42 Uma mulher que tá tentando se reinserir no mercado de trabalho de forma inclusive a ter um registro na carteira de trabalho, na forma de conseguir retomar ai a sua própria autonomia financeira, a gente já sabe que ela não vai conseguir de forma tão acessível, tanto numa questão de que ela vai carregar essa vivência, essa característica negativa como o preconceito, a sociedade ela é muito preconceituosa nesse sentido, então alguém que está fazendo uma seleção, não vai querer dar preferência pra uma pessoa que tem no seu histórico essa realidade. (Mirela Feraz). Ou, seja, a própria Sociedade e o Estado dificultam este retorno: E ai atrelado a isso, tem as questões objetivas, as próprias instituições acabam exigindo documentos como: Antecedente Criminal, o CPF, Título de Eleitor que essas pessoas que teve a experiência no sistema prisional não têm [...]. Elas falam que depois que se passa por essa experiência pela essa questão de sistema prisional, alguns documentos: CPF, Título de Eleitor são bloqueados e isso acaba dificultando qualquer inserção [...], acaba tendo até a questão do [...] antecedentes criminais que não deve ser exigido. (Mirela Feraz). Uma forma de criar oportunidade para a entrada destes sujeitos no mercado de trabalho é quando o Estado faz parcerias com o setor privado para propiciar este retorno dos egressos à sociedade, porém por falta de ações efetivas e pela falta de monitoramento com as parceiras acordadas, perpassas de maneira utópica no cotidiano da população egressa do sistema prisional. Então a questão da política, as políticas públicas que estão sendo desenvolvida atualmente para o egresso seja homem ou mulher, é uma política seria, uma política que tem tudo para dar certo, a questão é que é assim [...], por exemplo, esse projeto do Pró Egresso foi divulgado gastou-se milhões em propagandas há dois, três anos passados e até hoje, por exemplo, a FIESP é que se propôs a abrir as portas da construção civil pra que pudesse empregar mais de 5 mil egressos de imediato, isso não aconteceu, então [...] porque a falta de esclarecimento da sociedade como um todo no sentido de dar oportunidade pra essa pessoa, que quando sai duma prisão é muito grande ainda, então é necessário ainda muito esclarecimento pra isso.(Gizelda Morato). A ausência e a não efetivação das Políticas Públicas existentes dificulta a intervenção profissional. [...] as políticas publicas não respondem a isso, fica mais fácil o crime. Até a gente fala, é um concorrente desleal pro assistente 43 social, com que argumentos tenho para falar pra essa mulher pra essa família [...] não vai, por favor, ela com seis mil reais de aluguel atrasado, com comida escassa na família e enfim [...] ausência de tudo, [...] o crime batendo na porta dela, oferecendo vai lá faz uma corridinha enfim outras coisas que você vai ter o seu dinheiro, como é que fica isso, eu aqui, [...] representante de um poder publico, não tenho instrumentos, ferramentas pra poder trabalhar [...].(Camila F. Jorge). Nesta conjuntura estas mulheres passam por dificuldades financeiras, falta de oportunidade, dentre tantos outros problemas que impedem seu retorno à sociedade. Acabava sendo novamente mais acolhedor o retorno pro mundo do crime, pro mundo seja do tráfico, porque lá não tem essa questão, não existem critérios de exclusão, têm critérios óbvios né, estou aqui fazendo uma analogia no sentido de sua inserção, mas essa pessoa passa a ser muito mais acolhida pelo crime do que na verdade pela Politica Pública, ai entra a gente na assistência de fato tentando lidar com todas essas dificuldades e recai pra nós também essa ausência de comunicação entre as outras políticas, tendo em vista também que outra politica essencial seria a Politica do Trabalho e essa politica também passa a ter essa dificuldade que eu já relatei, então assim é um trabalho que a gente tem histórias de vida extremamente ricas a gente passa a ver aquele sujeito para além do estigma que a sociedade cria com quem viveu essa circunstância [...]. (Mirela Feraz). Após sair do sistema prisional, esta mulher não consegue retornar à sua antiga rotina na sociedade, pois perde sua identidade enquanto cidadã. A S.S.S, ela já veio logo de inicio mostrando quem era, a S.S.S e colocou na identidade dela, eu sou ex-presidiária. Então foi uma identidade [...]. (Camila F. Jorge). Desta forma, ao retornarem para a vida em sociedade, estas mulheres se encontram fragilizadas para retomarem as suas relações tanto dentro do convívio familiar quanto social. Que eu posso sai na rua, que eu posso passar por perto de um carro de policia de cabeça erguida, que eu posso ir numa delegacia se precisar de um documento que eu perdi, de uma coisa assim, que eu sou livre, que eu tenho minha casinha, meu cantinho. É o meu sonho ter um espaço pra mim e pro meus filhos, vê meus filhos bem na escola, a minha filha formada de Assistente Social ou qualquer outra coisa que ela quiser ser, meu filho, a Vitória minha bailarina que eu tenho em casa. (S.S.S). 44 3 HISTÓRIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A POPULAÇÃO EGRESSA Este é um desafio bem grande, um desafio que a gente acaba vendo uma sociedade sendo criada dentro de outra sociedade, que é o próprio mundo do crime, que passa a ser todo muito mais acolhedor do que a nossa esfera pública, onde a gente se insere como profissionais (Mirela Ferraz). Por meio dos dados coletados e apresentados podemos constatar a importância da participação e efetivação das Políticas Públicas como instrumento fundamental para a contribuição no processo de retorno à sociedade desta população. Para melhor entendimento de como surgiu as políticas específicas para as mulheres egressas do sistema prisional feminino no Brasil, faremos aqui um breve relato da contextualização histórica da construção das Políticas Públicas no Sistema Prisional Brasileiro. Durante a maior parte do século XX a concessão de direitos era voltada somente ao homem, sem reconhecer a mulher como ser pertencente de uma mesma sociedade igualitária em direitos e deveres enquanto ser humano. A partir da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, aprovada na IX Conferência Internacional Americana, em Bogotá no mês de abril de 1948, é que se passou a reconhecer os Direitos Humanos inerentes à pessoa humana, seja ele homem ou mulher, qual dispõe no Capítulo I - dos Direitos em seu artigo 1° a igualdade do ser humano em relação à liberdade, à segurança e direito à vida. Foi a partir desta declaração que tivemos a Universalização da Declaração Universal dos Direitos Humanos, criada pela Organização das Nações Unidas - ONU em 10 de Dezembro de 1948, documento este como base fundamental para garantia dos direitos de todos os cidadãos, que garante não somente o direito a vida, segurança pessoal e liberdade bem como dispõe em seu artigo 2° o seguinte: 1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. 2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania. 45 Importante ressaltar que a Declaração Universal dos Direitos Humanos não foi adotada por todos os países, mas boa parte do mundo fez adesão à carta. Baseados nos artigos de tal declaração houve a criação da Convenção sobre a Eliminação de Todas as formas de Discriminação contra a Mulher, criada em 18 de Dezembro de 1979, que estabelece aos Estados participantes do acordo: Para os fins da presente Convenção, a expressão "discriminação contra a mulher" significará toda a distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher, independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo. O Brasil passou a incorporar a Convenção sobre a Eliminação de Todas as formas de Discriminação contra a Mulher a partir de 1985, antes mesmo de incorporar ao Estado a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que só veio a ocorrer a partir da reforma constitucional ocorrida em 1988, a partir da Constituição Federal da República Federativa do Brasil, do qual determina como princípios fundamentais: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Após a inclusão da Declaração Universal dos Direitos Humanos na Constituição Federal de 1988, o Brasil adere também em 1992 através do Decreto N° 678 a carta Convenção Americana sobre os Direitos Humanos elaborada em 22 de novembro de 1969, entrando passou a ter vigor internacional a partir de 18 de julho de 1978, que tem em sua base a reafirmação ao reconhecimento dos direitos essenciais da pessoa humana. Foi criada a LEI N° 7.353 de 29 de agosto de 1985, que determinava a criação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, do qual objetivo é promover 46 políticas que visem eliminar as descriminações sofridas pelas mulheres e assegurar condições de igualdade e liberdade em direitos, participação na política, economia e cultura do País, conselho este criado com base nas diretrizes da Convenção. No mesmo ano, foi implantado o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher - CNDM, vinculado ao Ministério da Justiça. Entre 1985 a 2010 o órgão teve suas atribuições muito alteradas, dentre elas a agregação de estrutura à Secretaria Especial de Políticas Públicas para as Mulheres, criada em 2003 a partir da LEI N° 10.683 do qual tem por objetivo formular, articular e coordenar as políticas elaboradas para as mulheres, bem como criar campanhas que visem a eliminar as descriminações contra a mulher. Conta também com a participação de representantes do poder Público e da Sociedade Civil para a garantia e controle da efetivação das políticas. Em 19 de agosto de 2010 a Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres passa a compor a Presidência da República juntamente com as Secretaria de Direitos Humanos, Secretaria de Políticas de Promoção de Igualdade Racial e Secretarias de Ponto através da LEI N° 12.314 sancionada. Conforme visto acima, muitas ações para a garantia dos direitos das mulheres foram iniciadas a partir da criação do Conselho Nacional dos Direitos das mulheres, no entanto, a população que se encontravam dentro do sistema prisional no estado de São Paulo, tanto homens como mulheres, neste período ainda não eram vistos como cidadãos de direitos, pois não existiam políticas específicas para esta população que pudessem reafirmar a sua existência enquanto seres humanos e cidadãos de direito, pois neste período em que se encerrava a Ditadura Militar (1964 – 1985) esta população era vista pela sociedade como pessoas que ocasionavam desordem pública e dano moral e social a sociedade. É criado em janeiro de 1993 a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária do estado de São Paulo, que foi a primeira no Brasil voltada para a população inseridas ou egressas do sistema prisional, do qual tem por finalidade: Fica criada a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária, destinada a promover a execução penal no âmbito administrativo e a proporcionar condições para a reinserção social do condenado e do internado (LEI N° 8.209, de janeiro de 1993, art.1). Secretaria de Administração Penitenciária - SAP foi criada com propósito de proporcionar melhores condições de retorno a sociedade aos presos e presas do Estado de São Paulo, através de políticas que viabilizem ações para a promoção e 47 assistência para os usuários deste sistema, a fim de promover humanização aos presos para auxiliar na sua “reinserção à sociedade”. Fica responsável também em formular e executar programas que viabilizem assistência às famílias dos presos e egressos/egressas do sistema prisional, do qual inicialmente foi criado o Departamento de Reintegração Social Penitenciário no ano de 2003 do qual seria o responsável em desenvolver estas ações, que mais tarde foi substituído Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania. Para o desenvolvimento no atendimento especifico em relação às pessoas que já passaram pelo sistema prisional ou encontram-se em cumprimento de alternativas penais, é criado a Coordenadorias de Reintegração Social e Cidadania CRSC 7 têm como finalidade prestar atendimento aos sentenciados e egressos através das Centrais de Penas e Medidas Alternativas e as Centrais de Atenção ao Egresso e Família - CAEF, através do Decreto N° 54.025 de 16 de Fevereiro de 2009, do qual dispõe no Capítulo V, Seção I das Disposições Gerais: II - promover: a) a articulação sistemática das unidades da Secretaria para elaboração, implantação, avaliação, revisão e reajustes dos planos, programas, projetos e atividades de reintegração social dos sentenciados e dos egressos. VI - elaborar e propor normas que visem à reintegração social dos sentenciados e dos egressos. VIII - fomentar a aplicação: a) das políticas de atenção ao egresso e aos familiares de presos. IX - articular ações de intercâmbio, cooperação técnica e integração de trabalho com unidades do sistema penitenciário, órgãos e entidades públicas e particulares e organizações não governamentais, com vista à inserção social dos presos, seus familiares, egressos e beneficiários de concessões legais. As Centrais de Atenção ao Egresso e Família fazem parte do “Programa de Atenção ao Egresso e Família” criado pela Secretaria de Administração Penitenciária juntamente com a Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania, que visa prestar assistência na área da saúde, emprego, jurídica, psicossocial e cultural levando em consideração seu contexto familiar a fim de proporcionar a estes indivíduos o exercício da cidadania e promover a sua autonomia, procurando auxiliar no resgate de sua dignidade ao retorno e convívio social, bem como resgate de sua 7 Departamento compõe a estrutura básica e subordinado a Secretaria de Administração Penitenciária, oficialmente publicado no Diário Oficial Poder Executivo do Estado de São Paulo através do Decreto mencionado acima. 48 identidade enquanto usuário, do qual é perdida após ter passado pelo sistema prisional8. Em 2009 é criado o Programa de Inserção de Egressos do Sistema Penitenciário no Mercado de Trabalho - PRÓ-EGRESSO que surge como Política Pública complementar para auxiliar no retorno à sociedade destas pessoas9. Tem como proposta a criação instrumentos de intervenção através do auxilio na concessão de emprego e renda como meio de combater o retorno destas pessoas ao mundo do crime, uma vez que o preconceito, a falta de oportunidade na busca por emprego para recolocação no mercado de trabalho são um dos grandes fatores que colaboram para a reincidência criminal destas pessoas. Possui parceria com a Secretaria do Emprego e Relações de Trabalho SERT e Programa Estadual de Qualificação e de Requalificação Profissional - PEQ, trabalho este desenvolvido em conjunto com os órgãos de competência do sistema prisional como a Secretaria de Administração Penitenciária e a Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania. Atualmente, existe um projeto de Lei em andamento para a criação do Programa Nacional de incentivo ao Emprego de Egressos do Sistema Penitenciário – PROESP, elaborado pelo Deputado Sandro Mabel em 2006. O projeto de lei visa à qualificação profissional para o mercado de trabalho, geração de postos de trabalhos e criar oportunidade para geração de renda aos presos e egressos, a fim de assegurar-lhes a “Ressocialização” a sociedade por meio do trabalho. Alega como justificativa para criação de lei a atual situação caótica do sistema penitenciário, ao exemplo da superpolução nas penitenciárias bem como o descumprimento na efetivação dos direitos garantidos através da Lei de execução Penal. Até a apresentação deste trabalho, projeto de lei ainda não havia sido aprovado e encontra-se em tramitação junto a Câmara dos Deputados aguardando definição de recurso apresentado para o não arquivamento de projeto. Tivemos, ao longo dos anos, avanços significativos sobre políticas voltadas ao sistema prisional, no entanto, ainda não suficientes para que possam ser efetivadas de fato como já acontecem em outros países. 8 As Centrais tem como prioridade em seu atendimento o acolhimento, encaminhamento e atendimento as diversas demandas apresentadas por esta população, inseri-los em programas de capacitação que proporcione a geração de emprego e renda, inclusão e auxilio no recebimento de programas sociais, trabalhistas e de saúde, auxilio jurídico e orientação para retirada de documentos pessoais, encaminhamento as redes de saúde e orientação no auxilio a retomada de estudos e cursos profissionalizantes. Desde sua criação, atualmente no estado de São Paulo possuem 25 CAEF´S. 9 Instituído o programa através do Decreto N° 55.216, de 7 de Dezembro de 2009. 49 [...] falta muito esclarecimento e falta mais ações, ações em que sentido, por exemplo, nos EUA o programa de livramento condicional quando o sujeito vai sair da prisão, ele já passa pelo Serviço Social dentro da prisão, o Serviço Social já tem parcerias com as organizações sociais, que já encaminha o sujeito pra frentes de trabalho, já encaminha o sujeito para o trabalho ele é acompanhado de fato, durante um ano, enquanto egresso ele é acompanhado. No Brasil embora a lei determine isso, isso não acontece, a mulher egressa ou o homem egresso não é acompanhado [...]. (Gizelda Morato). Em entrevista realizada junto à assistente social que atuou por muitos anos na penitenciária de regime semiaberto no Butantã, nos relatou o quanto ainda falta acompanhamento assistencial por parte do Estado em relação às pessoas que saem do sistema prisional. [...] existe um acompanhamento do judiciário para o egresso, mas é um acompanhamento do que, ir lá, bater um carimbo na carteirinha que, você sabe disso, é pontual, não é algo que você vai investigar, vê de fato o que esta acontecendo com a pessoa. Quais são suas demandas, o que essa pessoa tá trazendo, para que o Estado possa continuar auxiliando, porque é responsabilidade do Estado, a pessoa que sai duma prisão enquanto egressa for, ela é responsabilidade do Estado. Então, o Estado já falha imagina a sociedade. (Gizelda Morato). 3.1 Políticas Públicas específicas para mulheres presas e egressas do sistema prisional feminino Como pudemos notar até aqui, algumas ações e políticas foram implantadas em favor das pessoas que passaram por este sistema, no entanto, mesmo com a criação das Políticas Públicas para as Mulheres iniciadas a partir de 1985, ainda nada de concreto no que diz respeito à legislação ou projetos em defesa da mulher presa ou egressa havia-se desenvolvido. Em 7 de dezembro de 2007 o Grupo de Trabalho Interministerial em conjunto com a Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres, o Ministério da Justiça e Departamento Penitenciário Nacional realizam o Relatório Final que visa implementar políticas efetivas para atender as necessidades das mulheres que saem do sistema prisional e não conseguem acesso a rede de serviços enquanto cidadã de direitos, considerando que as mulheres vivem um 50 contexto histórico de descriminação e preconceito muito grande, conforme já citado no capítulo anterior. Levando em consideração este cenário e as violências sofridas pelas mulheres na prisão, a I e II Conferência Nacional de Políticas Públicas para as Mulheres aprovam diretrizes que viabilize a criação de políticas especificas para este segmento. A partir dessas pontuações este relatório coloca como prioridade: É, portanto, com base no arcabouço legal existente e diante das inegáveis violações de direitos pelos quais passam as mulheres que se encontram em situação de prisão que apresentamos este relatório, esperando que o mesmo possa contribuir com a elaboração de políticas transversais que venham a propiciar às mulheres em situação de prisão a recuperação de sua autoestima, sua formação educacional e sua qualificação profissional de forma a reintegrá-las na sociedade de maneira que a reincidência em atos de infração seja totalmente descartada; possibilitando assim, o acesso pleno aos direitos fundamentais e à justiça (BRASIL, 2007, p.11). Para atingir ao objetivo proposto, o Grupo de Trabalho Interministerial - GTI propõe que é necessário que as mulheres presas e egressas, mas também suas famílias sejam incluídas no Programa Bolsa Família através do Centro de Referência de Assistência Social – CRAS, pois na sua maioria atinge os requisitos para participar do programa e dessa forma além de garantirmos o direito enquanto cidadã destas mulheres estará de fato efetivando e garantido a sua integridade. É neste contexto que apresentamos propostas de ação que envolve Poder Executivo, Judiciário e Legislativo, nas esferas Federal, Estadual e Municipal, cabendo ao Executivo Federal à articulação destes entes, a construção de políticas públicas nacionais e o incentivo às políticas regionais, observando-se a imprescindibilidade do monitoramento das ações que se iniciarem. (BRASIL, 2007, p.85). A partir deste relatório começam a surgir novas portarias promulgadas pelo Departamento Penitenciário Nacional - DEPEN para auxiliar na construção de novas políticas. A seguir faremos uma breve contextualização das mais recentes portarias estabelecidas pelo departamento. Em 08 de Janeiro de 2010 é promulgada a Portaria N° 04 que estabelece em seu artigo 1°: Estabelecer procedimentos, critérios e prioridades para a concessão de financiamento de projetos, ações ou atividades com recursos do Fundo Penitenciário Nacional - FUNPEN, no exercício de 2010, 51 visando à modernização Penitenciário Nacional. e ao aprimoramento do Sistema Tal Portaria tem o interesse em disponibilizar recursos financeiros para elaboração e efetivação de novos projetos que visam à criação de Políticas Públicas para as mulheres egressas, desde que atendam aos critérios estabelecidos nesta portaria para a sua concessão. O Fundo Penitenciário Nacional é quem será responsável pelos repasses de verba após aprovação dos projetos apresentados. A Portaria N° 154 de 13 de Abril de 2012 estabelece a criação da Comissão Especial, comissão esta vinculada ao Departamento Penitenciário Nacional e responsável pela Coordenação do Projeto Mulheres e por elaborar propostas de ações para o Projeto “Efetivação dos Direitos das Mulheres no Sistema Penal” lançado em 2011 pela Diretoria de Políticas Penitenciárias. Este Projeto busca trabalhar entre diversos temas, melhoria nas ações voltadas à pesquisa de dados da população feminina carcerária e egressa do Sistema Penal Brasileiro, do qual atualmente se utiliza dos dados disponíveis em Informações Penitenciarias INFOPEN para levantamento. Para auxiliar no processo de elaboração para efetivação dessas políticas, o Ministério da Justiça instituiu o Grupo de Trabalho como intuito elaborar políticas integradas e intersetoriais que são destinadas as mulheres que se encontram em situação de privativa de liberdade, restrição de direitos e às egressas através da Portaria N° 885, de 22 de Maio de 2012 que define em seu Artigo 2°, Inciso I: I - avaliar e propor atualizações, ações integradas, estratégias de implementação e de monitoramento das políticas públicas destinadas às mulheres em situação de privação de liberdade, restrição de direitos e às egressas, tomando por base o relatório intitulado "Reorganização e Reformulação do Sistema Prisional Feminino", elaborado pelo Grupo de Trabalho Interministerial instituído pelo Decreto de 25 de maio de 2007. A partir das portarias apresentadas, o Ministério da Justiça juntamente com a participação do Departamento Penitenciário, Diretoria de Políticas Penitenciárias e a Comissão Especial elaboraram o I Relatório Final do I Encontro de Planejamento do “Projeto Efetivação dos Direitos das Mulheres no Sistema Penal”. Este relatório faz um resgate das principais discussões ocorridas neste I Encontro que ocorreu no período de 31 de maio e 01 de junho de 2012. Contaram com a participação da 52 União, Unidades Federativas (somente o estado do Rio de Janeiro esteve ausente), áreas técnicas do Departamento Penitenciário e do Grupo de Trabalho Interministerial, contando também com a participação do Ministério da Saúde, Ministério da Educação, Ministério do Trabalho e Emprego, Secretária de Políticas para as Mulheres e Secretaria dos Direitos Humanos. Nesse encontro foram apresentados os índices de perfil e a quantidade das mulheres presas atualmente no Brasil, assim como as dificuldades enfrentadas por elas dentro deste sistema, por exemplo: violação de direitos, condições precárias de encarceramento, a forma como o judiciário conduz mediante ao enfrentamento da criminalidade feminina entre outras. Posteriormente, apresentados os estados do Espírito Santo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul que dispõem de Políticas de Atenção Integral as Mulheres Presas e Egressas do Sistema Penal, em que realizam atendimento na área da saúde, educação, trabalho e cultura para estas mulheres. Tendo em vista o exposto, este encontro propõe implementação e mudanças estruturais e institucionais no Sistema Penitenciário a nível nacional e estadual através dos dados apresentados, reforçando a necessidade da estruturação da Política Nacional de Atenção Integral às Mulheres Presas e Egressas do Sistema Penal, para que assim possa atingir de forma nacional todas as mulheres que se encontram inseridas neste sistema e não somente em alguns estados como é proposto hoje. Por isso, a participação da União neste encontro foi de extrema importância para a colocação de proposta no âmbito Federal. As maiores pautas discutidas sobre os temas foram a efetivação de condições concretas na área da saúde, educação, trabalho, assistência material e social, parcerias, recursos humanos do pessoal que trabalham nas penitenciarias. Para cada campo, foram apresentados proposta de melhorias para concretizar ações através de condições dignas e essenciais para sua efetivação. Dentre algumas propostas, alguns itens pontuados chamaram mais atenção para a discussão como: a criação de parceria com instituições de ensino superior, conscientização dos agentes profissionais sobre a importância de capacitação e humanização nos atendimentos a estas mulheres para que os seus direitos enquanto cidadãs e ser humano sejam preservados e respeitados, ampliar o repasse de recursos financeiros pelo Fundo Penitenciário, trabalhar a questão do recorte de gênero, propor ao Conselho Nacional de Justiça que o Poder Judiciário adote o encarceramento como ultima medida penal, sendo formalizadas mais propostas de alternativas penais, 53 propor ao judiciário procedimento de remição de pena e garantir e garantir benefício acumulativo por meio do trabalho e educação e alterar a legislação de Execução Penal nos casos de delito em que há a devolução do bem, deixando assim de existir a punibilidade. Portanto, neste encontro pretendeu-se: As propostas elaboradas de forma participativa retratam ações macro e micro que precisam ser enfrentadas na conjuntura atual da política penitenciária e das políticas sociais, como forma de garantir os direitos das mulheres em situação de privação de liberdade, egressas e seus núcleos familiares, rechaçando, assim, práticas institucionais violadoras dos direitos humanos (BRASIL, 2012, p.15). Mesmo com todo o histórico que temos de ações e decretos para que possa ser viabilizada uma política especifica para a Mulher presa ou egressa, a cidade de São Paulo ainda não criou nenhum programa, projeto de lei ou ação que venha pautar esta questão e ir buscar a sua efetivação de forma especificas para as mulheres do sistema prisional. O que temos hoje na cidade são diversos programas que abordam a situação da mulher que sofre violência, programas de auxilio ao egresso e à família de uma forma em geral como o PRÓ - EGRESSO e as Centrais de Atenção ao Egresso a Família, mas nada em especifico para a população feminina egressa. Pouco é apresentado pelo município e estado em relação dessa atual demanda que representa uma das expressões da questão social. [...] a S é pra mim ela tem sido realmente uma família que precisa de muito acompanhamento ela é reflexo desse não atendimento das políticas públicas é em relação quando ela saiu no momento em que ela saiu e ela tá é vamos dizer sofrendo toda essa consequência por ter passado pela penitenciaria em algum momento na vida dela [...] ai ela vem com isso pra gente, mostrando que de fato ela não consegue não que ela tenha que se diferenciar em atendimentos por conta dela ter passado pelo um sistema prisional, mas que ela tivesse oportunidades diferenciadas que outras pessoas talvez não necessitem. (Camila F. Jorge). Por isso é necessário que haja um acompanhamento e atuação efetiva das Políticas Públicas para as mulheres inseridas no sistema prisional, a fim de que seus direitos enquanto cidadãs sejam garantidas tanto dentro como fora do sistema prisional, diminuindo assim as desigualdades sociais existentes na sociedade. 54 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ressaltamos aqui o quão enriquecedora foi esta pesquisa, apesar de apresentar, no decorrer do percurso, muitos imprevistos, que somente agregaram maior riqueza e qualidade ao estudo. Ao iniciarmos a pesquisa, o foco seria conhecer como se desenvolvem as relações do processo de retorno à sociedade das mulheres que passaram pelo sistema prisional, através de suas vivências nas prisões. No entanto, no avançar da pesquisa de campo, identificamos que esta não seria uma tarefa tão fácil. A dificuldade em localizar e se aproximar destas mulheres é extremamente grande, pois, na maioria dos casos, elas não se sentem a vontade para falar. Em casos específicos, as próprias instituições que prestam serviço a esta população, dificultam o acesso às mesmas, colocando-as como vítimas e como pessoas fragilizadas. Sendo assim, não lhes mostram a possibilidade de que seu depoimento pode servir como incentivo para a criação de novos projetos, de intervenção profissional e de reconhecimento enquanto cidadã na sociedade. No entanto, novas portas de análise para compreensão do presente estudo foram surgindo ao longo da pesquisa. Para compreendermos o processo de análise de campo, realizamos um resgate histórico do contexto das prisões e de como elas foram surgindo ao longo dos anos no Brasil e no mundo, bem como, resgates das bases conceituais que abordam a Questão Social e o capitalismo neoliberal, o qual hoje está posto na sociedade. Para tal compreensão, nos utilizamos de autores como: Andrea Almeida Torres e Jailson Rocha Siqueira, que discutem a questão do sistema prisional como o reflexo das desigualdades sociais na sociedade e as relações de poder por ela imposta. Foi necessário também nos apropriarmos sobre as Políticas Públicas direcionadas para a defesa e garantia dos direitos das pessoas que se encontram em situação de prisão ou egressa deste sistema. Houve duas instituições que foram de extrema importância para análise de metodologia, sendo elas: Centro de Apoio ao Trabalho – CAT Santana, na qual aplicamos um questionário para cinco mulheres que são atendidas no local, para traçarmos, ainda que de forma superficial, mas de grande conteúdo qualitativo, características do seu perfil. Ao aplicarmos questionários, nos causou grande 55 surpresa ao perceber que, somente uma das cinco mulheres teve apoio da rede sócio assistencial ao sair do sistema prisional e que a sua entrada no mundo do crime justificou-se com a garantia de seu sustento familiar, por conta do rompimento com seus companheiros ou pelo fato do mesmo estar preso. Outra fonte de estudo foi o Centro de Referência de Assistência Social – CRAS Casa Verde, que nos possibilitou a conquista do depoimento de uma usuária do serviço da rede que já teve experiência no sistema prisional. Estas experiências foram muito importantes para a concretização dos objetivos propostos na pesquisa e para maior compreensão desta realidade. Confessamos que, ao buscarmos estes locais surgiram novas inquietações, como o de observar o olhar dos profissionais da área do Serviço Social, sobre como ocorrem às relações no processo de retorno à sociedade destas mulheres. Para isso, realizamos entrevistas com três assistentes sociais, com o intuito de analisarmos como a intervenção profissional está inserida na perspectiva desta temática. Com base em todos os dados pesquisados e entrevistas realizadas, concluímos, portanto, nesta pesquisa, que há uma grande deficiência do Estado em relação às Políticas Públicas aplicadas para os/as egressos/as do sistema prisional e principalmente, às mulheres. Entendemos que as desigualdades vivenciadas na sociedade por conta deste “bum” do capitalismo neoliberal e a exigência de uma sociedade de consumo, proporcionam para estas mulheres o seu ingresso ao mundo do crime, tendo em vista que sofrem constantemente discriminações, preconceitos, estigmas e violação de seus direitos, uma vez que, após a sua saída do sistema prisional não lhe é oferecida oportunidade de emprego, moradia, saúde, educação, entre outros. As condições vividas dentro de um sistema prisional são desumanas, o que agravam ainda mais as condições de retorno à sociedade desta população. Estas mulheres além de não terem acesso a estas oportunidades, que sabemos ser de responsabilidade do Estado, sofrem ainda mais discriminação por conta da identidade de gênero, então, é “aí que se torna mais fácil à retomada ao mundo do crime, porque lá elas terão oportunidade de retomar a sua vida cotidiana e garantir o seu sustento” conforme nos disse a assistente social Mirela Ferraz. 56 A realidade que elas vivem evidencia a precariedade das Políticas Públicas existentes e a urgência da criação de políticas específicas para esta segmentação da população. Esta é mais uma das expressões da Questão Social colocada frente ao capitalismo, que nos conduz a uma realidade onde a desigualdade social se torna cada vez mais presente, mencionando o sujeito como responsável por todas as situações, eximindo a sociedade e o Estado de qualquer culpa, colocando assim, o sujeito como principal causador da realidade vivida. Por isso, se faz tão importante ao Serviço Social o aprofundamento nesta temática, pois atualmente poucos estudos e pesquisas são realizados pelos profissionais da área para o atendimento desta demanda, bem como, para o seu fortalecimento enquanto categoria profissional, que tem como um dos eixos centrais de sua atuação a defesa aos Direitos Humanos e a garantia na efetivação dos direitos. Ao iniciarmos a pesquisa, não esperávamos que a mesma tivesse uma dimensão tão enriquecedora e ampla, que nos apresentasse resultados tão fantásticos, deixando claro que o entendimento do trabalho não acontece somente através da metodologia escolhida, vai além, perpassa o que foi pretendido através dos novos conflitos que surgem no decorrer do processo, da busca por estratégias, das formas de atuação e construção de vínculos para a realização do trabalho. Servir-nos além de grande conhecimento profissional e pessoal, será a porta inicial para a nossa inserção na profissão, bem como o inicio da nossa vivência no exercício profissional. Cabe a nós, profissionais, contribuirmos no processo de elaboração para novas políticas que visem contemplar a garantia efetiva dos direitos da mulher egressa do sistema prisional e, proporcionar a mesma um retorno digno à sociedade, trabalhando-a enquanto cidadã em todas as suas demandas: físicas, sociais, psíquicas, econômicas e culturais. Entendê-la em sua totalidade, considerando o seu contexto histórico. Para além da mudança política e social desta população, se faz necessário também iniciarmos um processo de conscientização da sociedade de que esta mulher, assim como qualquer outra pessoa, é detentora de direitos garantidos na Constituição Federal de 1988, e que independente do delito que tenha cometido em um determinado momento de sua vida, não pode ser marcada pelo resto de sua existência como uma pessoa marginalizada, e que, de maneira alguma, podemos 57 excluí-la da sociedade, pelo contrário, temos que buscar recursos e subsídios que contribuam no seu processo de “ressocialização ao meio e convívio social”. Registramos aqui a importância da pesquisa, para que possamos conhecer uma realidade, encontrar novos rumos e fazeres profissionais para a intervenção profissional, e o convite à busca de novos caminhos. Quem sabe, a busca também por uma nova sociedade, a fim de garantirmos a proposta do exercício profissional colocada no projeto ético político lutando por uma sociedade mais igualitária. 58 REFERÊNCIAS BIANCHINI, Alice. O crescente aumento do papel da mulher no universo criminal, 2011. Disponível em: <http://atualidadesdodireito.com.br/alicebianchini/2011/11/08/o-crescenteaumento-do-papel-da-mulher-no-universo-criminal/> Acesso em: 15 set. 2012. BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil, Constituição do Estado de São Paulo, Declaração Universal dos Direitos Humanos, São Paulo: Imprensa Oficial, ago. 2010. ______. Câmara dos Deputados. Recurso nº 74, de 2011. Recorre contra parecer terminativo da Comissão de Finanças e Tributação ao PL 7.530, de 2006, que "cria o Programa Nacional de Incentivo ao Emprego de Egressos do Sistema Penitenciário PROESP e dá outras providências". Disponível em: <http://www.camara.gov.br/sileg/integras/916619.pdf> Acesso em: 11 abr. 2013. ______. 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Ai foi muito ruim muito ruim mesmo foi sem palavras (...) a minha vida eu perdi de viver, eu deixei de viver, não vivi a vida que eu vivo aqui fora. Você acorda de manhã não vê a rua, não vê as pessoas, não come uma comida que pode comer, num andar sabe (...) muito ruim mesmo, não sei nem como te explicar. (1) Só volta lá pra dentro quem for trouxa, inteligente que não volta. É que nem eu te falei eu prefiro a morte, mas não volto para a cadeia. A o que eu espero do meu futuro, posso falar? Ai, que cê quer falar tipo um sonho? Assim, meus filhos criado, eu numa casa, minha panela de pressão chiando sabe, meus cachorro no quintal, meus filhos inos e voltando pra escola. Eu não quero furtuna, não peço riqueza peço (...) só queria ter um cantinho pra minha cabeça e dos meus meninos, só isso mais nada, não peço riqueza (...) só ter um espaço pra mim e pro meus filhos sabe. Que eu posso sai na rua, que eu posso passar por perto de um carro de policia de cabeça erguida, que eu posso ir numa delegacia se precisar de um documento que eu perdi, de uma coisa assim, que eu sou livre, que eu tenho minha casinha, meu cantinho. É o meu sonho ter um espaço pra mim e pro meus filhos, vê meus filhos bem na escola, a minha filha formada de Assistente Social ou qualquer outra coisa que ela quiser meu filho, a Vitória minha bailarina que eu tenho em casa. Nossa não peço mais nada pra Deus, saúde só isso (...) e nada mais. Não quero riqueza, quero só (...) que eu possa viver bem com (...) que é a minha família. (...) Que eu enfrentei ou ainda enfrente? Tive muito (...). A lembrança eu acho né, porque querendo ou não passam na minha cabeça as recordações de muitas coisas que eu vivi lá dentro, às vezes eu vejo mulheres sendo presas, eu passo na porta (...). De eu não ter vivido o que eu podia ter vivido aquela época. Às vezes eu me culpo por (...) ter acontecido isso comigo, e eu tenho vergonha dos meus filhos, de tocar nesse assunto, deles saberem. Tenho vergonha de tocar assim no assunto e saber que eu sou uma ex-presidiária, (...). Num gosto de num ter feito o que eu poderia ter feito muitas coisas naquela época, poderia ter ficado de bem, hoje em dia eu poderia ser uma outra pessoa né. Os anos que eu perdi os tempos que eu perdi ali dentro, quem sabe eu teria me ajudado, hoje em dia num teria o sofrimento que eu tenho agora. Não sei se isso prestou pra você né. 63 (...) Só vou te falar uma coisa, meus filhos são tudo que eu tenho na vida (...).Tudo o que eu faço é por eles, cada dia que passa eu peço a Deus só uma coisa: saúde, forças pra mim não ter que vir a fazer mais nada de errado nessa vida, pra poder dá o melhor pra eles, porque o melhor que eu acho que posso dar pra eles é educação.Também pra eles, pra minha Vitoria, pro meu Vitor, pra minha Aninha, pro meu Israel, resgatar o meu filho e principalmente meu filho Israel. Resgatar ele, mostrar pra ele que essa vida que ele tenta entrar não é a vida não é futuro. Ele não vê que não tem futuro, é ilusão, tipo assim: ele dá um tapete vermelho de ouros e prata e quando ele puxa, puxa de uma vez e te joga lá dentro daquele buraco, perde tudo, (...) perde dignidade, perde filho, perde mãe, perde pai, amigos. Amigos eu digo irmão, amigo pra mim é irmão, é contato nos dedos as pessoas que a gente fala a palavra amigos. Fora isso meus filhos é tudo que eu tenho na vida e eu sei que eu vou vencer pelos meus filhos, porque eu só forte tenho muita força de vontade, muita e ninguém vai tirar isso de mim. Mais voltar eu não volto, eu pela minha força não volto. Nossa essa é meu anjo da guarda o. 64 ROTEIRO DE ENTREVISTA 1. Nome:_____________________________________________________ 2. Profissão:__________________________________________________ 3. Escolaridade:_______________________________________________ 4. Endereço:__________________________________________________ 5. Telefone para contato:________________________________________ 6. Data de nascimento: _____/_____/_____. Idade:__________________ 7. Naturalidade:_______________________________________________ 8. Estado civil:________________________________________________ 9. Têm filhos, quantos? _________________________________________________________ 10. O que levou a entrar para o sistema prisional? _______________________________________________________________ 11. Quando saiu do sistema prisional? _______________________________________________________________ 12. Teve acesso a alguma rede de apoio, como Centro de Referência de Assistência Social, Centro de Acolhidas, ONGs entre outras? _______________________________________________________________ 13. Teve apoio familiar ao sair do sistema carcerário? _______________________________________________________________ 14.Teve apoio de amigos? _______________________________________________________________ 65 15. Está trabalhando atualmente? Se sim, onde? _______________________________________________________________ 16. Contribui para a renda da família? ___________________________________________________________________ 17. Alguém da família já esteve no sistema penitenciário anteriormente? ___________________________________________________________________ 18. Como foi a experiência em passar pelo sistema prisional? ___________________________________________________________________ 19. O que espera do seu Futuro? ___________________________________________________________________ 20. Quais as dificuldades que tem enfrentado/enfrentou após ter saído do sistema prisional? ___________________________________________________________________