902 COTIDIANO DA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA Polyana Aparecida Roberta da Silva Universidade Federal de Uberlândia RESUMO O presente trabalho faz parte da pesquisa em desenvolvimento, vinculada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia, na Linha de Pesquisa em História e Historiografia. Teve sua gênese durante a graduação do curso de pedagogia, onde como bolsista de iniciação científica pelo CNPQ, participamos de uma pesquisa desenvolvida no Núcleo de História e Historiografia da mesma instituição, com a temática sobre a história das instituições escolares. Após o término dessa investigação, resolvemos não só dar continuidade aos trabalhos já iniciados, mas responder às indagações que foram se formando ao longo dessa trajetória, agora tendo como preocupação uma instituição de educação infantil, denominado: Jardim de Infância Suzana de Paula Dias.A escolha pela instituição deu-se pelo fato que nos registros da Superintendência Regional de Ensino de Uberlândia, o primeiro registro de uma instituição voltada para a criança de idade pré-escolar e com um significativo material para nossas análises. (PERIODIZAÇÃO) A periodização abrange 1967 ano de sua criação e 1972 ano de encerramento de suas atividades com as crianças.(OBJETIVO) Nosso objetivo é reconstruir uma experiência de educação infantil em Uberlândia, o Jardim de Infância Suzana de Paula Dias, para investigar a gênese desta instituição, bem como seu ciclo de vida e a sua importância para a comunidade local, seu processo de formação e consolidação; revivendo através da memória o cotidiano da educação infantil da época. Pois acreditamos que o estudo da educação infantil permite perceber uma grande mudança provocada pelas transformações sócio-econômicas, tanto na forma de conceber a infância, considerando as suas necessidades.(METODOLOGIA) Para reavivar o cotidiano com essas lembranças fizemos uso dos procedimento metodológico no campo da pesquisa documental, da história oral temática e pesquisa bibliográfica, por acreditarmos que esses recursos conseguirão dar vozes as pessoas que fizeram parte do cotidiano dessa instituição e nos embasar teoricamente para as questões acerca do desenvolvimento infantil, suas pecularidades, especificidades e as questões educacionais. (FONTES) Para realização da referente pesquisa contamos com um expressivo acervo ainda inexplorado relativo a instituição denominada Jardim de Infância Suzana de Paula Dias. O material disponível consiste em : livros de ponto, atas de reuniões pedagógicas, boletins mensais de assuntos administrativos, métodos e processos de lição, avaliação de aprendizagem, assistência escolar (caixa escolar, cantina, assistência médica, assistência dentária, associação de pais e mestres, atividades de rotina, clube de leitura, hora da história, museu escolar), notas fiscais de compra de livros e discos, termos de posse dos professores e demais funcionários da escola, canhotos de cheques, fotocópias de certidão de nascimento de alunos, boletins, planos das disciplinas escolares.(RESULTADOS) Até o momento atual da investigação, fizemos uma ampla revisão bibliográfica contemplando as principais obras que tratam de concepções de infância a partir do século XVI, teóricos como Erasmo, Rousseau, Comenius, Pestalozzi, Froebel, Montessori, entre outros; contamos também com a pesquisa documental e a história oral temática, onde já realizamos entrevistas com ex-alunos, ex-professores e ex-diretora da instituição em apreço. Estruturamos o trabalho em três partes sendo a primeira dedicada as concepções de infância construídas ao longo da modernidade, o segundo a inserção de teorias que eram discutidas e estudas pelo grupo de professores da época e a terceira parte é exibida a reconstrução da instituição a partir dos documentos, entrevistas e as fontes iconográficas. Ressaltamos que a essa terceira parte encontra-se em fase de elaboração, sendo as duas primeiras já elaboradas, para o texto final da dissertação. Esperamos que esse trabalho desnude para nós educadores e interessados na área mais uma página da história da educação infantil, trazendo contribuições da produção do conhecimento e das práticas cotidianas da infância construídas ao longo da história; e para a cidade de Uberlândia- 902 903 MG e região construir uma interpretação acerca do processo da memória histórica de uma experiência em educação infantil; integrando-a no seu sentido mais amplo que é o sistema educativo. TRABALHO COMPLETO Ao iniciarmos uma pesquisa, existe sempre a subjetividade do autor algo implícito na sua história de vida, sua trajetória suas escolhas, fatos e acontecimentos que marcaram sua vida. E assim, o presente trabalho “ A educação infantil em Uberlândia: O Jardim de Infância Suzana de Paula Dias”, traz nas suas entrelinhas vidas, histórias, fatos que ao longo do tempo tornou-se inquietações, dúvidas que queremos compartilhar através desse trabalho, pois acreditamos que ao abordar um tema trazemos um convite aos leitores para viajarmos, a fim de descortinarmos mais uma página da história da educação brasileira. Nesse sentido, acreditamos que o tempo de infância, onde a brincadeira traz vida a todos os seres e objetos envolvendo a criança num jogo de sonho, e fantasia, não deve dissociar esse período tão rico para o ser humano em simplesmente término do mundo infantil para o mundo adulto, como se esse último não pudesse brincar e sonhar com a realidade que o circunda. Para tanto, tal estudo passou por uma revisão por uma revisão bibliográfica sobre as principais obras que tratam de concepções de infância a partir do século XVI, teóricos como Erasmo de Rotterdam, Comenius, Rousseuau, Pestalozzi, Rousseau, Froebel Montessori,entre outros; contamos também com a pesquisa documental complementada pela história oral temática, onde pudemos contar com depoimento de várias educadoras, alunos, pais que se ocuparam com tal instituição em apreço. Abordamos as concepções de infância, construídas e veiculadas já no início da Modernidade por acreditarmos que essas contribuições teóricas dos principais autores que retratam a infância nesse período século XVI e nos séculos posteriores irão nos possibilitar um maior entendimento da história da educação infantil e conseqüentemente da gênese das instituições destinadas as crianças menores de sete anos oferecendo-nos subsídios necessários para o objeto de estudo em questão. E resgatando o nosso objeto no que se refere a infância, um importante teórico é Áries (1978), por mostrá-la como mais um “produto” da modernidade, uma construção recente, e o fato do ser aluno não é um passo posterior ao ser criança mas pelo menos parte de sua origem, e dessa forma para esse autor até meados do século XII, a arte medieval não representava a criança, era como se não existisse lugar para a ela no mundo. Somente por volta do século XIII, surgiram alguns tipos de crianças mais próximos do que chamaríamos de infância: a figura de anjo, menino Jesus, Nossa Senhora menina, pois a infância estava ligada à maternidade de Maria e seu culto, permanecendo assim até por volta do século XIV. Por volta do século XVI, Áries 1978, p.23, comenta: “Aparece o retrato de criança morta marcando portanto um momento muito importante na história dos sentimentos. Esse retrato seria inicialmente uma éfíge funerária. A criança no início não seria representada sozinha, e sim sobre o túmulo de seus pais” 903 904 Percebemos como vão surgindo as imagens de criança na Europa, e o autor vai abordando as possíveis variações de como a infância era vista. Já no século XVII, os retratos de crianças sozinhas tornam comuns e vamos percebendo que a criança vai conquistando um espaço, com cenas tipo: a lição de leitura, desenhando, brincando entre outros. Assim para Ariés a descoberta da infância começa no século XIII e evolui no XIV e XV, tornando-se significativa no fim do XVI e durante o XVII. Na modernidade a infância deixa de ocupar seu lugar como resíduo da vida comunitária, ela começa a ser percebida como ser inacabado, carente e portanto individualizado, sendo o primeiro movimento para restituir à infância à sociedade, trazendo também o sintoma de uma transformação na cultura ocidental, nas crenças e práticas nas quais a produção do discurso pedagógico vai ocupar. Percebemos assim nas teorizações de diferentes autores concepções de crianças que formaram todo o ideário moderno desde o século XVI, com maior ênfase nos séculos XVII, XVIII e XIX. Para tanto, Erasmo (1469-1536), comenta que a criança pequena deve ser iniciada a educação das letras assim que seu corpo ganhar um certo porte físico; mas salienta que a educação inicia-se na fase do aleitamento. Desse modo adverte: “ Faze-o aprender as primeiras noções antes que a idade fique menos dúctil e o ânimo mais propenso aos defeitos ou até mesmo infestado com as raízes de vícios tenacíssimos.” (Revista intermeio 3 p.9) Percebemos o quanto a infância para esse autor é formadora das características individuais, do caráter, da predisposição para o trabalho e os estudos. E em relação aos estudos defende que o mestre deverá respeitar a individualidade do aluno, não ensina-los a apenas repetir fórmulas e sim compreender para que a memória desempenhe um papel sem dificuldade quando estimulado pelo entendimento. E é nessa perspectiva que propõe seu método pois era contrario a castigos a que na época recorriam para educar as crianças, para ele o educador deve ir ao encontro da potencialidade nativa do educando e o ajudá-lo a explicitar a riqueza interior, fazendo emergir tudo que foi dotado pela natureza; pois educar é também incentivar o educando não fazendo deste um adulto em miniatura. Realmente o ser infante passa a ser levado não apenas em consideração, mas Erasmo a coloca como um ser que precisa de tratamento diferenciado pois é a infância o primeiro passo para a consolidação de uma vida adulta e depende de como será conduzida para ter um boa formação, quer seja no trabalho, nos estudos e na vida familiar. Notem que a criança de adulto em miniatura passa a ter um lugar próprio na sociedade, e para sua formação nada melhor que educá-la de maneira correta, respeitando suas especificidades, que lhe são características da tênue idade. Notamos o quanto o autor atribui um papel essencial a educação pois só ela arrancaria de dentro do homem pelo tratamento toda sua natureza não social que faz-se necessário para que o homem possa apreender as regras do convívio social através do respeito a liberdade e individualidade da criança, não a repetição as fórmulas ou receitas; ênfase a compreensão para que a memória desempenhe seu papel sem dificuldade quando estimulado pelo entendimento. 904 905 E dessa forma não poderíamos deixar de comentarmos também a respeito de Comenius, (1592-1670), pois preconizou a criação de escolas maternais por toda parte afirmando a infância ser o período próprio para aprender, pois nada ainda se aprendeu, sendo os primeiros anos determinantes para a aprendizagem posterior, ou seja a infância o ponto de chegada para a graduação do desenvolvimento humano, elemento inicial da ordem estabelecida não dependendo segundo Norodowski, 2001, do agir do adulto,não atribuindo-lhe os valores próprios do discurso educacional e portanto a criança precisa simplesmente conduzida gradativamente até os pontos mais altos do conhecimento.Salienta também o referido autor: O nascimento de uma infância moderna tem de seu o necessário afastamento da criança em relação a vida cotidiana dos adultos; afastamento que é determinante pois implica um passo constitutivo na confirmação da infância como novo corpo.(Norodowski, 2001, p.50). Ora, compreende-se assim que Comenius, já possui um olhar diferenciado para o ser infantil pois não educa-las seria ir contra os desígnos de Deus, pois era preciso as instruí-las em todos os aspectos: físico, mental, expressional, manual, moral, social e religioso e sendo o lar a primeira escola.E a instituição escolar em si deveria fornecer trabalho coletivo, espontaneidade, movimento, exercícios agradáveis de aprendizagem, bons livros, bons professores e bons métodos, assemelhando ás atividades de parque. Comenius acreditava que a escola seria como um jardim no qual as crianças crescem como plantas, e o trabalho pedagógico organizado com quatro horas de duração para crianças menores, com um professor para várias crianças, com um trabalho baseado em contos de fada, histórias da carochinha, narrativas, jogos, atividades manuais e músicas. Notemos o quanto esse teórico, foi além de seu tempo; pois ainda hoje em nossas pré-escolas estamos em busca de atividades que caracterize e respeite a idade da criança, suas diferenças e individualidades. Em relação ao conhecimento afirmava que os cinco sentidos são os portões de entrada para a alma humana, pois nada há no intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos e sua grande teoria estava baseado no aprender fazendo. Seus ideais era de uma escola democrática isto seria uma escola para todos, ao contrário de Erasmo que como vimos preocupava-se em um mestre para cada criança sem preocupar-se com essa escola democrática. Nesse sentido, diferenciando de Comenius por colocar a infância como ponto de partida e no centro de suas teorizações, opondo as idéias correntes de seu tempo em relação a matéria educativa beneficiamos das colocações de Rousseau (1712-1778), pois para ele a criança não é um adulto em miniatura, tem sua própria história, é um ser concreto e real, que desde cedo constrói suas próprias experiências sendo a educação um meio para encaminha-la para a liberdade natural; pois esta é constituída em três instâncias: a natureza, os homens e as coisas. O ponto de partida será sempre o indivíduo e com suas características e necessidade, e o de chegada, um ser livre, que compreende o que conhece. Rousseau, pensou numa educação para o ser infantil desde seu nascimento, onde para ele: 905 906 “ A criança recém nascida precisa esticar-se e mover os membros para tirá-los do entorpecimento em que, unidos como num novelo, permaneceram por longo tempo.É verdade que os esticamos, mas os impedimos de se moverem; chegamos até a prender-lhe a cabeça a testeiras: até parece que temos medo de que ela pareça estar viva”.( Rousseau 1995, p.16) Estamos diante de uma nova concepção de infância, percorremos os séculos XII, XIII, XIV, onde a criança não era percebida entre os adultos para adentrar na importância dessa fase para toda uma vida futura.Assim em seu tratado de educação o autor busca um aluno imaginário para dele fazer-se um verdadeiro homem e para que isso se concretize é preciso buscar na natureza os segredos para essa educação. Dessa forma o tema fundamental em Emílio consiste na teorização de uma educação do homem enquanto tal através de seu retorno a natureza isto é, à centralidade das necessidades mais profundas e essenciais da criança, ao respeito pelos seus ritmos de crescimento e a valorização das características específicas da idade infantil.E a educação deve assim ocorrer de modo natural longe das influências corruptoras do ambiente social e sob o direcionamento de um mestre que oriente esse processo formativo. Podemos considerar que Rousseau, descobre a infância como idade autônoma e dotada de características e finalidades específicas, bem diferentes da idade adulta e portanto necessita de cuidados especiais, reprovando assim a educação autoritária, intelectualista, pedante, mera cópia dos adultos.Nesse sentido divide em etapas a formação do homem: 1º a idade infantil, período da lactância, crescimento do corpo, atividades motoras, percepção sensorial e sentimento cabendo as mães seus deveres naturais, e sobre esse aspecto comenta, 1995, p.21: “ ... Se as mães se dignarem a amamentar seus filhos, os costumes reformar-se-ão por si mesmos, e os sentimentos da natureza despertarão em todos os corações. O Estado irá repovoar-se(...) a agitação das crianças, que acreditamos importuna, torna-se-a agradável; ela torna o pai e a mãe mais necessários, mais queridos um pelo outro e reata entre eles os laços conjugais.” Para Rousseau, a amamentação é muito importante para o desenvolvimento da criança, mas adverte na importância desse ato ser com carinho, e não repassado para as amas de leite, pois as mulheres devem exercerem seu papel de mãe e os homens serem pais e maridos. E a educação da idade infantil, que seria do nascimento aos 2 anos é a expressão livre e desembaraçada das atividades naturais da criança em relação ao meio físico, onde ela possa obedecer ao impulso interior de agir e que experimente diretamente os resultados do seu comportamento. Salienta também a importância do vestuário das crianças , o cuidado com o ambiente,a alimentação, a higiene que e algumas moléstias que serão necessárias para o fortalecimento humano. 906 907 “Quase toda a primeira infância é doença e perigo; a metade das crianças que nascem morre antes dos oito anos. Passadas as provas, a criança que ganhou forças, e, assim quem pode servi-se da vida, seu princípio torna-se mais garantido.”(Rousseau, 1995, p. 22.) Em relação a puerícia, ou seja dos dois aos doze anos, fase muito importante para o estudo em questão, por se tratar do início da escolarização, o autor critica os métodos que utilizados por não propiciar prazer nas crianças, muito pelo contrário era um período triste dado que a instrução era muito severa e a idade da alegria passava-se em meio a prantos, a castigos, a ameaças, à escravidão. Assim afirma, Rousseau, 1995, p.68: “Amai a infância; favorecei suas brincadeiras, seus prazeres, seu amável instinto. Quem de vós não teve alguma vez saudade dessa época onde o riso está sempre nos lábios, e a alma está sempre em paz? Por que quereis retirar desses pequenos inocentes o gozo de um tempo tão curto que não poderiam abusar?Por que quereis encher de amargura e de dores esses primeiros anos tão velozes, que não mais voltarão para eles, assim como não voltarão para vós? Não fabriqueis remorsos para vós mesmos retirando os poucos instantes que a natureza lhes dá. Assim que eles puderem sentir o prazer de existir, fazei com que gozem; fazei com que, a qualquer hora Deus os chamar, não morram sem ter saboreado a vida.” Quantos de nós ao ler essa citação, não estaríamos olhando para nossa sociedade de hoje e assim concluiríamos que Rousseau, fala a nós educadores a nossa sociedade, não passaria em nossas mentes como temos tratado o ser infantil? Será que a história de trezentos, duzentos anos é tão antiga assim, ou olhamos para ela e temos o reflexo da atualidade. O que poderia chamar nossa atenção nesse que muitos dizem ser um romance educacional seria perceber como a concepção de Rousseau sobre a criança consegue romper com um velho paradgma de sociedade, e adentra para anos afora, fazendo-se perceber que a infância requer cuidados, precisa ser respeitada, a sua natureza grita por uma educação própria. E assim Emílio representa rupturas com o que se falava de educação, pois a crianças segundo ele é capaz de aprender com suas próprias necessidades, criticando os currículos que traziam conteúdos distante da realidade das crianças. apresentado as atividades práticas da meninice: Consideramos portanto que o ideal de educação para Rousseau, era que ao final da infância a aparência, o porte físico, a fisionomia revelassem confiança em si , que seus movimentos fossem ágeis e seguros, fosse independente em várias atividades, fossem francas, livres mas não atrevidas, e que sua face por não ter grudado nos livros, não inclinasse sobre seu estômago, e dessa forma não ser preciso dizer para inclinarem a cabeça. Influenciado pela pedagogia rousseauniana, Pestalozzi (1746-1827), propôs modificações nos métodos de ensino, particularmente os usados na escola elementar e a formalização de procedimentos para treinamento de professores. Ele começou trabalhando com órfãos no ensino industrial e depois criou um orfanato defendendo que a educação deveria ocorrer no ambiente mais natural possível, sob um clima de disciplina estrita mais amorosa, contribuindo para o desenvolvimento do caráter infantil.Para ele, o lar é a instituição educacional ideal, o meio mais eficaz para a experiência social, o alicerce de toda a vida. Suas reformas educacionais baseavam-se de 907 908 que toda reforma deve começar com o indivíduo e não com a sociedade, e para isso faz-se necessário que o indivíduo torne auto-suficiente, e as sementes de ação estão plantadas nas crianças esperando uma oportunidade para se desenvolver, pois o objetivo da educação é assegurar ao homem uma vida mais feliz e virtuosa. Para ele, a criança é um organismo que se desenvolve conforme leis definidas, ordenadas, e esse organismo apresentava três aspectos básicos: o intelectual, que seria a relação do homem com o ambiente,o físico expresso pelas atividades motoras, e aparte moral e religiosa que seria a relação como os outros seres humanos e com Deus denominados popularmente como a cabeça, a mão e o coração, cada qual desenvolvendo segundo sua maneira; sendo assim considerado uma concepção de desenvolvimento orgânico onde deveria haver harmonia entre cabeça, mão e coração. Em relação a infância, acreditava assim como Rousseau que o ensino tradicional tinha um efeito nocivo sobre a criança, pois dava a aparência de cultura e conhecimento sem a realidade e seus verdadeiros poderes ficavam sem ser desenvolvidos, porque jamais haviam sido solicitados. Para ele, os poderes infantis, brotam de dentro, devido ao despertar de impulsos inatos, desenvolvendo como sementes, até a maturidade. E assim a criança deveria desenvolver-se livremente e toda instrução educativa deveria brotar de dentro dela,pois a natureza desenvolve lentamente e toas as tentativas para forçar a criança antes que seus poderes estejam prontos serão prejudiciais; portanto devemos seguir a natureza.Dessa forma queria que a educação das crianças fossem confiada as mães, pois o amor da mãe evoca as emoções da criança e as desenvolve na proporção adequada. Para tanto, percebemos em Pestalozzi, uma aproximação da obra de Rousseau, consideramos que sua teoria foi muito relevante para a sociedade da época e até mesmo nos dias atuais, onde precisamos recuperar a importância da família pra o desenvolvimento humano ou melhor a presença dessa na vida da criança. Para Froebel (1782-1852) a educação do homem consiste em promover as suas energias de forma que ele possa consciente, pensante e inteligente, ajudando a manifestar sua divindade com pureza, perfeição e espontaneidade; assim a ciência da vida é conhecer a lei de Deus, refletindo-a e abraçando-a em sua totalidade pois o fim da educação é o desenvolvimento de uma vida santa. E assim como a natureza o homem procede de Deus, e Nele dependemo-nos, encontramos apoio e descanso. Sobre o destino do homem Froebel comenta: Exteriorizar o interior, interiorizar o exterior, unificá-los, ambos, é essa fórmula geral do destino do homem.Por isso, os objetos exteriores excitam o homem para que os conheça em sua essência e em suas relações: para os objetos, o homem está dotado de sentidos, isto é, de instrumentos com os quais pode interiorizar as coisas que o rodeiam. (FROEBEL, 2001, p.43). Dessa forma, nesse processo de interiorização e exteriorização podemos entender que a educação seria a busca da essência das coisas, na dupla relação do externo com o interno, e do interno 908 909 com o externo, seguindo a espontaneidade e adaptando a natureza em mútua compreensão e intimidade com Deus, imitando os exemplos de Jesus. Nesse sentido o princípio para o ensino seria apresentar o individual e o particular como geral, e o geral como particular e individual, exteriorizando o interior e interiorizando o exterior mostrando a necessária unidade do dois. Para Froebel Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, por isso, o homem deve trabalhar, porque o trabalho é uma atividade criadora desenvolvendo de maneira viva tudo o que o homem é e possui, isto é, a força física e o pensamento são atividades de Deus. E é nesse sentido que daremos continuidade ao nosso trabalho refletindo sobre a pedagogia froebeliana totalmente pensada para a criança pequena, fruto de uma reflexão de pensadores modernos mais especificamente do século XIX, que intensificaram a suas discussões e teorizações entorno das questões da infância e logo da educação infantil. Como Rousseau consegue avançar em seu tempo; pois hoje em nossa sociedade atual ainda lutamos para que as crianças recém-nascidas possam ter o direito de serem amamentadas por suas mães e essas oferecerem os primeiros cuidados, a primeira formação. As contribuições trazidas pela afaz-nos perceber que até o momento o mundo infantil era totalmente ignorado, pois nada lhe pertencia e até mesmo o processo de escolarização era por muitas vezes uma tarefa árdua para criança onde era castigada e vítima de maus tratos pelos adultos. Ora, contrariando a sociedade da época Montessori (1870-1952), questiona as questões relacionadas com a infância, pois seu modo de a concebe-la fez com que em seis de janeiro de 1906, inaugurasse a primeira escola para crianças pequenas com idade entre três e seis anos, filhas de analfabetos com a finalidade de ajudar as mentes infantis a crescerem fortes e saudáveis. Desse modo, seu método educacional enfatizava a importância central no ambiente, devendo o professor fazer um auto-exame, renunciar a tirania, expelir do coração a ira , o orgulho sabendo humilhar-se e revestindo-se de caridade, sendo passivo, para que a criança se liberte do obstáculo de sua própria atividade, de sua autoridade, a fim de que ela torna ativa, autônoma e satisfeita. Para tanto, nesse ambiente tudo deveria ser medido, além de colocado em ordem para que as crianças pudessem se concentrar; o material adaptado as proporções, salas claras, com janelas baixas, cheia de flores, móveis pequenos de todos os tipos, cortinas graciosas, armários baixos, para que as crianças pudessem alcançar e assim retirar e colocar como desejassem.Comenta ainda , 1987, p.131: ... “o professor sem cátedra, sem autoridade e quase sem ensinar, e a criança transformada em centro da atividade, aprendendo sozinha, livre na escolha de suas ocupações e dos seus movimentos...” Nota-se o respeito à criança, de um ser que espera tudo no adulto e a ele deve toda a sua aprendizagem, uma criança que aprende também com esse ambiente preparado para recebe-la. E se pensarmos hoje em nossas escolas para crianças pequenas, será que estamos preparando realmente um ambiente adequado para seu desenvolvimento, ou vivemos na falácia de uma educação infantil que ainda não existe e que supomos, nós os adultos ser a mais adequada para criança? 909 910 Nota-se até o momento o quanto a modernidade traz consigo um novo sentimento de infância. A criança que era um ser quase não notável na idade média, passa a ser teorizada por diversos pensadores que acredita a infância ser a mais importante fase da vida, por encontrar nela a formação da personalidades, dos hábitos, das atitudes enquanto vir a ser adulto. No Brasil a descoberta da infância está associada a revolução industrial conseqüentemente ao trabalho feminino. Assim argumenta Leite, 2001, p.20: “A infância passa ser visível quando o trabalho feminino deixa de ser domiciliar e as famílias ao se deslocarem e dispersarem, não conseguem mais administrar o desenvolvimento dos filhos pequenos”. Notamos que a infância também esteve subordinada aos interesses políticos, sociais e econômicos. Pois só em 1977 houve o primeiro programa brasileiro de educação infantil de massa: Projeto Casulo, implantado pela Legião Brasileira de Assistência, visando proporcionar complemento alimentar, evitando os danos da desnutrição e oferecendo estímulos psicossociais fundamentais para um bom desenvolvimento da criança. Notemos que até o momento a creche estava voltada para filhos da massa popular mais associadas a assistência a saúde sem um programa coeso de educação e escolarização; já a pré- escola era destinada a elite com vistas a educação das crianças menores de seis anos. O cotidiano da educação infantil apresenta-se historicamente como qualquer outra faixa etária, onde percebemos lutas para consolidação do respeito a vida, as diferenças quer sejam sociais, raciais ou até mesmo individuais. a modernidade trouxe consigo o nascimento da infância e com ela todos os desafios para a educação da criança. Referência Bibliográfica: ALMEIDA, Paulo de.Conceito de Infância em Rousseau (Baseado no livro: Emílio ou da Educação). Monografia, Uberlândia, 1999. ARIÉS, Philippe. História social da Criança e da Família. Tradução de Dora Flaksman. 2ed: rio de Janeiro, Zahar, 1981. CAMBI, Franco. História da Pedagogia. Tradução de Álvaro Lorencini. São Paulo: Unesp, 1999. EBY, Frederick, 1874-1968. História da educação Moderna: teoria, organização e práticas educacionais. Tradução de Maria Ângela Vinagre de Almeida, Nelly Aleotti Maria, Malvina Cohen Zaide. 2 ed. Porto Alegre, globo, Brasília, 1976. ELIAS, Marisa Del Cioppo. 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