COTIDIANO DA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA RECONSTRUÇÃO

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COTIDIANO DA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA
Polyana Aparecida Roberta da Silva
Universidade Federal de Uberlândia
RESUMO
O presente trabalho faz parte da pesquisa em desenvolvimento, vinculada ao Curso de Mestrado do
Programa de Pós-Graduação em Educação, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de
Uberlândia, na Linha de Pesquisa em História e Historiografia. Teve sua gênese durante a graduação
do curso de pedagogia, onde como bolsista de iniciação científica pelo CNPQ, participamos de uma
pesquisa desenvolvida no Núcleo de História e Historiografia da mesma instituição, com a temática
sobre a história das instituições escolares. Após o término dessa investigação, resolvemos não só dar
continuidade aos trabalhos já iniciados, mas responder às indagações que foram se formando ao longo
dessa trajetória, agora tendo como preocupação uma instituição de educação infantil, denominado:
Jardim de Infância Suzana de Paula Dias.A escolha pela instituição deu-se pelo fato que nos registros
da Superintendência Regional de Ensino de Uberlândia, o primeiro registro de uma instituição voltada
para a criança de idade pré-escolar e com um significativo material para nossas análises.
(PERIODIZAÇÃO) A periodização abrange 1967 ano de sua criação e 1972 ano de encerramento de
suas atividades com as crianças.(OBJETIVO) Nosso objetivo é reconstruir uma experiência de
educação infantil em Uberlândia, o Jardim de Infância Suzana de Paula Dias, para investigar a gênese
desta instituição, bem como seu ciclo de vida e a sua importância para a comunidade local, seu
processo de formação e consolidação; revivendo através da memória o cotidiano da educação infantil
da época. Pois acreditamos que o estudo da educação infantil permite perceber uma grande mudança
provocada pelas transformações sócio-econômicas, tanto na forma de conceber a infância,
considerando as suas necessidades.(METODOLOGIA) Para reavivar o cotidiano com essas lembranças
fizemos uso dos procedimento metodológico no campo da pesquisa documental, da história oral
temática e pesquisa bibliográfica, por acreditarmos que esses recursos conseguirão dar vozes as
pessoas que fizeram parte do cotidiano dessa instituição e nos embasar teoricamente para as questões
acerca do desenvolvimento infantil, suas pecularidades, especificidades e as questões educacionais.
(FONTES) Para realização da referente pesquisa contamos com um expressivo acervo ainda
inexplorado relativo a instituição denominada Jardim de Infância Suzana de Paula Dias. O material
disponível consiste em : livros de ponto, atas de reuniões pedagógicas, boletins mensais de assuntos
administrativos, métodos e processos de lição, avaliação de aprendizagem, assistência escolar (caixa
escolar, cantina, assistência médica, assistência dentária, associação de pais e mestres, atividades de
rotina, clube de leitura, hora da história, museu escolar), notas fiscais de compra de livros e discos,
termos de posse dos professores e demais funcionários da escola, canhotos de cheques, fotocópias de
certidão de nascimento de alunos, boletins, planos das disciplinas escolares.(RESULTADOS) Até o
momento atual da investigação, fizemos uma ampla revisão bibliográfica contemplando as principais
obras que tratam de concepções de infância a partir do século XVI, teóricos como Erasmo, Rousseau,
Comenius, Pestalozzi, Froebel, Montessori, entre outros; contamos também com a pesquisa
documental e a história oral temática, onde já realizamos entrevistas com ex-alunos, ex-professores e
ex-diretora da instituição em apreço. Estruturamos o trabalho em três partes sendo a primeira dedicada
as concepções de infância construídas ao longo da modernidade, o segundo a inserção de teorias que
eram discutidas e estudas pelo grupo de professores da época e a terceira parte é exibida a reconstrução
da instituição a partir dos documentos, entrevistas e as fontes iconográficas. Ressaltamos que a essa
terceira parte encontra-se em fase de elaboração, sendo as duas primeiras já elaboradas, para o texto
final da dissertação. Esperamos que esse trabalho desnude para nós educadores e interessados na área
mais uma página da história da educação infantil, trazendo contribuições da produção do conhecimento
e das práticas cotidianas da infância construídas ao longo da história; e para a cidade de Uberlândia-
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MG e região construir uma interpretação acerca do processo da memória histórica de uma experiência
em educação infantil; integrando-a no seu sentido mais amplo que é o sistema educativo.
TRABALHO COMPLETO
Ao iniciarmos uma pesquisa, existe sempre a subjetividade do autor algo implícito na sua
história de vida, sua trajetória suas escolhas, fatos e acontecimentos que marcaram sua vida. E assim,
o presente trabalho “ A educação infantil em Uberlândia: O Jardim de Infância Suzana de Paula
Dias”, traz nas suas entrelinhas vidas, histórias, fatos que ao longo do tempo tornou-se inquietações,
dúvidas que queremos compartilhar através desse trabalho, pois acreditamos que ao abordar um tema
trazemos um convite aos leitores para viajarmos, a fim de descortinarmos mais uma página da história
da educação brasileira.
Nesse sentido, acreditamos que o tempo de infância, onde a brincadeira traz vida a todos os
seres e objetos envolvendo a criança num jogo de sonho, e fantasia, não deve dissociar esse período
tão rico para o ser humano em simplesmente término do mundo infantil para o mundo adulto, como
se esse último não pudesse brincar e sonhar com a realidade que o circunda.
Para tanto, tal estudo passou por uma revisão por uma revisão bibliográfica sobre as
principais obras que tratam de concepções de infância a partir do século XVI, teóricos como Erasmo
de Rotterdam, Comenius, Rousseuau, Pestalozzi, Rousseau, Froebel Montessori,entre outros;
contamos também com a pesquisa documental complementada pela história oral temática, onde
pudemos contar com depoimento de várias educadoras, alunos, pais que se ocuparam com tal
instituição em apreço.
Abordamos as concepções de infância, construídas e veiculadas já no início da Modernidade
por acreditarmos que essas contribuições teóricas dos principais autores que retratam a infância
nesse período século XVI e nos séculos posteriores irão nos possibilitar um maior entendimento da
história da educação infantil e conseqüentemente da gênese das instituições destinadas as crianças
menores de sete anos oferecendo-nos subsídios necessários para o objeto de estudo em questão.
E resgatando o nosso objeto no que se refere a infância, um importante teórico é Áries
(1978), por mostrá-la como mais um “produto” da modernidade, uma construção recente, e o fato do
ser aluno não é um passo posterior ao ser criança mas pelo menos parte de sua origem, e dessa forma
para esse autor até meados do século XII, a arte medieval não representava a criança, era como se não
existisse lugar para a ela no mundo. Somente por volta do século XIII, surgiram alguns tipos de
crianças mais próximos do que chamaríamos de infância: a figura de anjo, menino Jesus, Nossa
Senhora menina, pois a infância estava ligada à maternidade de Maria e seu culto, permanecendo
assim até por volta do século XIV. Por volta do século XVI, Áries 1978, p.23, comenta:
“Aparece o retrato de criança morta marcando portanto um momento
muito importante na história dos sentimentos. Esse retrato seria
inicialmente uma éfíge funerária. A criança no início não seria
representada sozinha, e sim sobre o túmulo de seus pais”
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Percebemos como vão surgindo as imagens de criança na Europa, e o autor vai abordando as
possíveis variações de como a infância era vista. Já no século XVII, os retratos de crianças sozinhas
tornam comuns e vamos percebendo que a criança vai conquistando um espaço, com cenas tipo: a
lição de leitura, desenhando, brincando entre outros. Assim para Ariés a descoberta da infância
começa no século XIII e evolui no XIV e XV, tornando-se significativa no fim do XVI e durante o
XVII.
Na modernidade a infância deixa de ocupar seu lugar como resíduo da vida comunitária, ela
começa a ser percebida como ser inacabado, carente e portanto individualizado, sendo o primeiro
movimento para restituir à infância à sociedade, trazendo também o sintoma de uma transformação na
cultura ocidental, nas crenças e práticas nas quais a produção do discurso pedagógico vai ocupar.
Percebemos assim nas teorizações de diferentes autores concepções de crianças que formaram todo o
ideário moderno desde o século XVI, com maior ênfase nos séculos XVII, XVIII e XIX.
Para tanto, Erasmo (1469-1536), comenta que a criança pequena deve ser iniciada a educação
das letras assim que seu corpo ganhar um certo porte físico; mas salienta que a educação inicia-se na
fase do aleitamento. Desse modo adverte:
“ Faze-o aprender as primeiras noções antes que a idade fique menos dúctil
e o ânimo mais propenso aos defeitos ou até mesmo infestado com as raízes
de vícios tenacíssimos.” (Revista intermeio 3 p.9)
Percebemos o quanto a infância para esse autor é formadora das características individuais,
do caráter, da predisposição para o trabalho e os estudos. E em relação aos estudos defende que o
mestre deverá respeitar a individualidade do aluno, não ensina-los a apenas repetir fórmulas e sim
compreender para que a memória desempenhe um papel sem dificuldade quando estimulado pelo
entendimento. E é nessa perspectiva que propõe seu método pois era contrario a castigos a que na
época recorriam para educar as crianças, para ele o educador deve ir ao encontro da potencialidade
nativa do educando e o ajudá-lo a explicitar a riqueza interior, fazendo emergir tudo que foi dotado
pela natureza; pois educar é também incentivar o educando não fazendo deste um adulto em
miniatura.
Realmente o ser infante passa a ser levado não apenas em consideração, mas Erasmo a coloca
como um ser que precisa de tratamento diferenciado pois é a infância o primeiro passo para a
consolidação de uma vida adulta e depende de como será conduzida para ter um boa formação, quer
seja no trabalho, nos estudos e na vida familiar. Notem que a criança de adulto em miniatura passa a
ter um lugar próprio na sociedade, e para sua formação nada melhor que educá-la de maneira correta,
respeitando suas especificidades, que lhe são características da tênue idade.
Notamos o quanto o autor atribui um papel essencial a educação pois só ela arrancaria de
dentro do homem pelo tratamento toda sua natureza não social que faz-se necessário para que o
homem possa apreender as regras do convívio social através do respeito a liberdade e individualidade
da criança, não a repetição as fórmulas ou receitas; ênfase a compreensão para que a memória
desempenhe seu papel sem dificuldade quando estimulado pelo entendimento.
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E dessa forma não poderíamos deixar de comentarmos também a respeito de Comenius,
(1592-1670), pois preconizou a criação de escolas maternais por toda parte afirmando a infância ser o
período próprio para aprender, pois nada ainda se aprendeu, sendo os primeiros anos determinantes
para a aprendizagem posterior, ou seja a infância o ponto de chegada para a graduação do
desenvolvimento humano, elemento inicial da ordem estabelecida não dependendo segundo
Norodowski, 2001, do agir do adulto,não atribuindo-lhe os valores próprios do discurso educacional e
portanto a criança precisa simplesmente conduzida gradativamente até os pontos mais altos do
conhecimento.Salienta também o referido autor:
O nascimento de uma infância moderna tem de seu o necessário
afastamento da criança em relação a vida cotidiana dos adultos;
afastamento que é determinante pois implica um passo constitutivo na
confirmação da infância como novo corpo.(Norodowski, 2001, p.50).
Ora, compreende-se assim que Comenius, já possui um olhar diferenciado para o ser infantil
pois não educa-las seria ir contra os desígnos de Deus, pois era preciso as instruí-las em todos os
aspectos: físico, mental, expressional, manual, moral, social e religioso e sendo o lar a primeira
escola.E a instituição escolar em si deveria fornecer trabalho coletivo, espontaneidade, movimento,
exercícios agradáveis de aprendizagem, bons livros, bons professores e bons métodos, assemelhando
ás atividades de parque.
Comenius acreditava que a escola seria como um jardim no qual as crianças crescem como
plantas, e o trabalho pedagógico organizado com quatro horas de duração para crianças menores, com
um professor para várias crianças, com um trabalho baseado em contos de fada, histórias da
carochinha, narrativas, jogos, atividades manuais e músicas. Notemos o quanto esse teórico, foi além
de seu tempo; pois ainda hoje em nossas pré-escolas estamos em busca de atividades que caracterize e
respeite a idade da criança, suas diferenças e individualidades.
Em relação ao conhecimento afirmava que os cinco sentidos são os portões de entrada para a
alma humana, pois nada há no intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos e sua grande
teoria estava baseado no aprender fazendo. Seus ideais era de uma escola democrática isto seria uma
escola para todos, ao contrário de Erasmo que como vimos preocupava-se em um mestre para cada
criança sem preocupar-se com essa escola democrática.
Nesse sentido, diferenciando de Comenius por colocar a infância como ponto de partida e no
centro de suas teorizações, opondo as idéias correntes de seu tempo em relação a matéria educativa
beneficiamos das colocações de Rousseau (1712-1778), pois para ele a criança não é um adulto em
miniatura, tem sua própria história, é um ser concreto e real, que desde cedo constrói suas próprias
experiências sendo a educação um meio para encaminha-la para a liberdade natural; pois esta é
constituída em três instâncias: a natureza, os homens e as coisas. O ponto de partida será sempre o
indivíduo e com suas características e necessidade, e o de chegada, um ser livre, que compreende o
que conhece.
Rousseau, pensou numa educação para o ser infantil desde seu nascimento, onde para ele:
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“ A criança recém nascida precisa esticar-se e mover os membros para
tirá-los do entorpecimento em que, unidos como num novelo,
permaneceram por longo tempo.É verdade que os esticamos, mas os
impedimos de se moverem; chegamos até a prender-lhe a cabeça a
testeiras: até parece que temos medo de que ela pareça estar viva”.(
Rousseau 1995, p.16)
Estamos diante de uma nova concepção de infância, percorremos os séculos XII, XIII, XIV, onde a
criança não era percebida entre os adultos para adentrar na importância dessa fase para toda uma vida
futura.Assim em seu tratado de educação o autor busca um aluno imaginário para dele fazer-se um
verdadeiro homem e para que isso se concretize é preciso buscar na natureza os segredos para essa
educação. Dessa forma o tema fundamental em Emílio consiste na teorização de uma educação do
homem enquanto tal através de seu retorno a natureza isto é, à centralidade das necessidades mais
profundas e essenciais da criança, ao respeito pelos seus ritmos de crescimento e a valorização das
características específicas da idade infantil.E a educação deve assim ocorrer de modo natural longe
das influências corruptoras do ambiente social e sob o direcionamento de um mestre que oriente esse
processo formativo.
Podemos considerar que Rousseau, descobre a infância como idade autônoma e dotada de
características e finalidades específicas, bem diferentes da idade adulta e portanto necessita de
cuidados especiais, reprovando assim a educação autoritária, intelectualista, pedante, mera cópia dos
adultos.Nesse sentido divide em etapas a formação do homem: 1º a idade infantil, período da
lactância, crescimento do corpo, atividades motoras, percepção sensorial e sentimento cabendo as
mães seus deveres naturais, e sobre esse aspecto comenta, 1995, p.21:
“ ... Se as mães se dignarem a amamentar seus filhos, os costumes
reformar-se-ão por si mesmos, e os sentimentos da natureza despertarão
em todos os corações. O Estado irá repovoar-se(...) a agitação das
crianças, que acreditamos importuna, torna-se-a agradável; ela torna o
pai e a mãe mais necessários, mais queridos um pelo outro e reata entre
eles os laços conjugais.”
Para Rousseau, a amamentação é muito importante para o desenvolvimento da criança, mas
adverte na importância desse ato ser com carinho, e não repassado para as amas de leite, pois as
mulheres devem exercerem seu papel de mãe e os homens serem pais e maridos. E a educação da
idade infantil, que seria do nascimento aos 2 anos é a expressão livre e desembaraçada das atividades
naturais da criança em relação ao meio físico, onde ela possa obedecer ao impulso interior de agir e
que experimente diretamente os resultados do seu comportamento. Salienta também a importância do
vestuário das crianças , o cuidado com o ambiente,a alimentação, a higiene que e algumas moléstias
que serão necessárias para o fortalecimento humano.
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“Quase toda a primeira infância é doença e perigo; a metade das crianças
que nascem morre antes dos oito anos. Passadas as provas, a criança que
ganhou forças, e, assim quem pode servi-se da vida, seu princípio torna-se
mais garantido.”(Rousseau, 1995, p. 22.)
Em relação a puerícia, ou seja dos dois aos doze anos, fase muito importante para o estudo em
questão, por se tratar do início da escolarização, o autor critica os métodos que utilizados por não
propiciar prazer nas crianças, muito pelo contrário era um período triste dado que a instrução era
muito severa e a idade da alegria passava-se em meio a prantos, a castigos, a ameaças, à escravidão.
Assim afirma, Rousseau, 1995, p.68:
“Amai a infância; favorecei suas brincadeiras, seus prazeres, seu amável
instinto. Quem de vós não teve alguma vez saudade dessa época onde o
riso está sempre nos lábios, e a alma está sempre em paz? Por que quereis
retirar desses pequenos inocentes o gozo de um tempo tão curto que não
poderiam abusar?Por que quereis encher de amargura e de dores esses
primeiros anos tão velozes, que não mais voltarão para eles, assim como
não voltarão para vós? Não fabriqueis remorsos para vós mesmos
retirando os poucos instantes que a natureza lhes dá. Assim que eles
puderem sentir o prazer de existir, fazei com que gozem; fazei com que, a
qualquer hora Deus os chamar, não morram sem ter saboreado a vida.”
Quantos de nós ao ler essa citação, não estaríamos olhando para nossa sociedade de hoje e
assim concluiríamos que Rousseau, fala a nós educadores a nossa sociedade, não passaria em nossas
mentes como temos tratado o ser infantil? Será que a história de trezentos, duzentos anos é tão antiga
assim, ou olhamos para ela e temos o reflexo da atualidade. O que poderia chamar nossa atenção
nesse que muitos dizem ser um romance educacional seria perceber como a concepção de Rousseau
sobre a criança consegue romper com um velho paradgma de sociedade, e adentra para anos afora,
fazendo-se perceber que a infância requer cuidados, precisa ser respeitada, a sua natureza grita por
uma educação própria. E assim Emílio representa rupturas com o que se falava de educação, pois a
crianças segundo ele é capaz de aprender com suas próprias necessidades, criticando os currículos que
traziam conteúdos distante da realidade das crianças. apresentado as atividades práticas da meninice:
Consideramos portanto que o ideal de educação para Rousseau, era que ao final da infância a
aparência, o porte físico, a fisionomia revelassem confiança em si , que seus movimentos fossem
ágeis e seguros, fosse independente em várias atividades, fossem francas, livres mas não atrevidas, e
que sua face por não ter grudado nos livros, não inclinasse sobre seu estômago, e dessa forma não ser
preciso dizer para inclinarem a cabeça.
Influenciado pela pedagogia rousseauniana, Pestalozzi (1746-1827), propôs modificações
nos métodos de ensino, particularmente os usados na escola elementar e a formalização de
procedimentos para treinamento de professores. Ele começou trabalhando com órfãos no ensino
industrial e depois criou um orfanato defendendo que a educação deveria ocorrer no ambiente mais
natural possível, sob um clima de disciplina estrita mais amorosa, contribuindo para o
desenvolvimento do caráter infantil.Para ele, o lar é a instituição educacional ideal, o meio mais
eficaz para a experiência social, o alicerce de toda a vida. Suas reformas educacionais baseavam-se de
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que toda reforma deve começar com o indivíduo e não com a sociedade, e para isso faz-se necessário
que o indivíduo torne auto-suficiente, e as sementes de ação estão plantadas nas crianças esperando
uma oportunidade para se desenvolver, pois o objetivo da educação é assegurar ao homem uma vida
mais feliz e virtuosa.
Para ele, a criança é um organismo que se desenvolve conforme leis definidas, ordenadas, e
esse organismo apresentava três aspectos básicos: o intelectual, que seria a relação do homem com o
ambiente,o físico expresso pelas atividades motoras, e aparte moral e religiosa que seria a relação
como os outros seres humanos e com Deus denominados popularmente como a cabeça, a mão e o
coração, cada qual desenvolvendo segundo sua maneira; sendo assim considerado uma concepção de
desenvolvimento orgânico onde deveria haver harmonia entre cabeça, mão e coração.
Em relação a infância, acreditava assim como Rousseau que o ensino tradicional tinha um
efeito nocivo sobre a criança, pois dava a aparência de cultura e conhecimento sem a realidade e seus
verdadeiros poderes ficavam sem ser desenvolvidos, porque jamais haviam sido solicitados. Para ele,
os poderes infantis, brotam de dentro, devido ao despertar de impulsos inatos, desenvolvendo como
sementes, até a maturidade. E assim a criança deveria desenvolver-se livremente e toda instrução
educativa deveria brotar de dentro dela,pois a natureza desenvolve lentamente e toas as tentativas para
forçar a criança antes que seus poderes estejam prontos serão prejudiciais; portanto devemos seguir a
natureza.Dessa forma queria que a educação das crianças fossem confiada as mães, pois o amor da
mãe evoca as emoções da criança e as desenvolve na proporção adequada.
Para tanto, percebemos em Pestalozzi, uma aproximação da obra de Rousseau, consideramos
que sua teoria foi muito relevante para a sociedade da época e até mesmo nos dias atuais, onde
precisamos recuperar a importância da família pra o desenvolvimento humano ou melhor a presença
dessa na vida da criança.
Para Froebel (1782-1852) a educação do homem consiste em promover as suas energias de
forma que ele possa consciente, pensante e inteligente, ajudando a manifestar sua divindade com
pureza, perfeição e espontaneidade; assim a ciência da vida é conhecer a lei de Deus, refletindo-a e
abraçando-a em sua totalidade pois o fim da educação é o desenvolvimento de uma vida santa. E
assim como a natureza o homem procede de Deus, e Nele dependemo-nos, encontramos apoio e
descanso.
Sobre o destino do homem Froebel comenta:
Exteriorizar o interior, interiorizar o exterior, unificá-los, ambos, é
essa fórmula geral do destino do homem.Por isso, os objetos exteriores
excitam o homem para que os conheça em sua essência e em suas
relações: para os objetos, o homem está dotado de sentidos, isto é, de
instrumentos com os quais pode interiorizar as coisas que o rodeiam.
(FROEBEL, 2001, p.43).
Dessa forma, nesse processo de interiorização e exteriorização podemos entender que a
educação seria a busca da essência das coisas, na dupla relação do externo com o interno, e do interno
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com o externo, seguindo a espontaneidade e adaptando a natureza em mútua compreensão e
intimidade com Deus, imitando os exemplos de Jesus.
Nesse sentido o princípio para o ensino seria apresentar o individual e o particular como
geral, e o geral como particular e individual, exteriorizando o interior e interiorizando o exterior
mostrando a necessária unidade do dois. Para Froebel Deus criou o homem à sua imagem e
semelhança, por isso, o homem deve trabalhar, porque o trabalho é uma atividade criadora
desenvolvendo de maneira viva tudo o que o homem é e possui, isto é, a força física e o pensamento
são atividades de Deus.
E é nesse sentido que daremos continuidade ao nosso trabalho refletindo sobre a pedagogia
froebeliana totalmente pensada para a criança pequena, fruto de uma reflexão de pensadores
modernos mais especificamente do século XIX, que intensificaram a suas discussões e teorizações
entorno das questões da infância e logo da educação infantil.
Como Rousseau consegue avançar em seu tempo; pois hoje em nossa sociedade atual ainda
lutamos para que as crianças recém-nascidas possam ter o direito de serem amamentadas por suas
mães e essas oferecerem os primeiros cuidados, a primeira formação.
As contribuições trazidas pela afaz-nos perceber que até o momento o mundo infantil era
totalmente ignorado, pois nada lhe pertencia e até mesmo o processo de escolarização era por muitas
vezes uma tarefa árdua para criança onde era castigada e vítima de maus tratos pelos adultos. Ora,
contrariando a sociedade da época Montessori (1870-1952), questiona as questões relacionadas com
a infância, pois seu modo de a concebe-la fez com que em seis de janeiro de 1906, inaugurasse a
primeira escola para crianças pequenas com idade entre três e seis anos, filhas de analfabetos com a
finalidade de ajudar as mentes infantis a crescerem fortes e saudáveis. Desse modo, seu método
educacional enfatizava a importância central no ambiente, devendo o professor fazer um auto-exame,
renunciar a tirania, expelir do coração a ira , o orgulho sabendo humilhar-se e revestindo-se de
caridade, sendo passivo, para que a criança se liberte do obstáculo de sua própria atividade, de sua
autoridade, a fim de que ela torna ativa, autônoma e satisfeita.
Para tanto,
nesse ambiente tudo deveria ser medido, além de colocado em ordem para que as crianças pudessem
se concentrar; o material adaptado as proporções, salas claras, com janelas baixas, cheia de flores,
móveis pequenos de todos os tipos, cortinas graciosas, armários baixos, para que as crianças
pudessem alcançar e assim retirar e colocar como desejassem.Comenta ainda , 1987, p.131:
... “o professor sem cátedra, sem autoridade e quase sem ensinar, e a
criança transformada em centro da atividade, aprendendo sozinha, livre na
escolha de suas ocupações e dos seus movimentos...”
Nota-se o respeito à criança, de um ser que espera tudo no adulto e a ele deve toda a sua
aprendizagem, uma criança que aprende também com esse ambiente preparado para recebe-la. E se
pensarmos hoje em nossas escolas para crianças pequenas, será que estamos preparando realmente
um ambiente adequado para seu desenvolvimento, ou vivemos na falácia de uma educação infantil
que ainda não existe e que supomos, nós os adultos ser a mais adequada para criança?
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Nota-se até o momento o quanto a modernidade traz consigo um novo sentimento de infância.
A criança que era um ser quase não notável na idade média, passa a ser teorizada por diversos
pensadores que acredita a infância ser a mais importante fase da vida, por encontrar nela a formação
da personalidades, dos hábitos, das atitudes enquanto vir a ser adulto.
No Brasil a descoberta da infância está associada a revolução industrial conseqüentemente ao
trabalho feminino. Assim argumenta Leite, 2001, p.20:
“A infância passa ser visível quando o trabalho feminino deixa de ser
domiciliar e as famílias ao se deslocarem e dispersarem, não conseguem
mais administrar o desenvolvimento dos filhos pequenos”.
Notamos que a infância também esteve subordinada aos interesses políticos, sociais e
econômicos. Pois só em 1977 houve o primeiro programa brasileiro de educação infantil de massa:
Projeto Casulo, implantado pela Legião Brasileira de Assistência, visando proporcionar complemento
alimentar, evitando os danos da desnutrição e oferecendo estímulos psicossociais fundamentais para
um bom desenvolvimento da criança. Notemos que até o momento a creche estava voltada para filhos
da massa popular mais associadas a assistência a saúde sem um programa coeso de educação e
escolarização; já a pré- escola era destinada a elite com vistas a educação das crianças menores de
seis anos.
O cotidiano da educação infantil apresenta-se historicamente como qualquer outra faixa
etária, onde percebemos lutas para consolidação do respeito a vida, as diferenças quer sejam sociais,
raciais ou até mesmo individuais. a modernidade trouxe consigo o nascimento da infância e com ela
todos os desafios para a educação da criança.
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