Departamento de Serviço Social TRANSPORTE FERROVIÁRIO URBANO EM QUESTÃO: ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EM PAUTA E AS CONSEQUÊNCIAS PARA OS TRABALHADORES DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO Aluna: Maria Angélica Menezes Ramos Orientadora: Inez Terezinha Stampa Introdução Este estudo, que teve início em julho de 2009, visa conhecer e problematizar as conseqüências da privatização dos serviços de transporte ferroviário urbano para os usuários dos trens da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, bem como analisar as políticas públicas de transporte de massa adotadas pelo governo do Estado do Rio de Janeiro. A partir da aproximação com o campo empírico da pesquisa, foi possível constatar que os trabalhadores da Região Metropolitana do Rio de Janeiro vêm sofrendo diretamente as conseqüências de uma política de transportes pautada na concessão de serviços públicos à iniciativa privada. Metodologia e atividades realizadas Para a compreensão dos processos econômicos e políticos que têm marcado o processo de privatização de serviços sociais antes prestados pelo Estado e as novas formas de gestão adotadas, a partir de meados da década de 1990, no Brasil, o processo de investigação não se pautou em etapas estanques face ao constante processo de aproximação com a realidade estudada. Assim, foi realizada uma revisão da literatura sobre o tema, com o objetivo de conhecer o processo de recomposição capitalista no Brasil. Nesse sentido, buscou-se aproximações com as categorias de análise, como a de hegemonia, de estado ampliado, de sociedade civil, de sociedade política e de classes sociais, além da de cidadania. Essa atividade compreendeu a leitura de trabalhos recentes sobre o assunto, além de títulos da obra de Antonio Gramsci. Contudo, outras noções e conceitos, tais como ação coletiva, democracia, movimentos sociais, espaço público, solidariedade, políticas públicas, participação, entre outros, foram aprofundadas. Procedeu-se, também, ao levantamento de material empírico, que compreendeu a consulta e reunião de documentos necessários ao esclarecimento do processo de concessão dos serviços de transporte ferroviário de passageiros na Região Metropolitana do Rio de 1 Departamento de Serviço Social Janeiro - RMRJ, antes prestados pela Cia Fluminense de Trens Urbanos-Flumitrens à iniciativa privada. Em novembro de 1998, após conturbado processo de “desestatização”, os serviços foram concedidos à Supervia Concessionária de Transportes Ferroviários S.A.Supervia, uma corporação espanhola que até hoje detém a concessão. Foram examinados relatórios da Secretaria de Transportes do Rio de Janeiro, além de jornais, revistas, volantes e imagens em movimento que ajudaram a elucidar o problema. De acordo com os objetivos da pesquisa, circunscritos no conhecimento de um fenômeno que vem passando por rápidas e profundas transformações, adotou-se um enfoque qualitativo de investigação. Para tanto, foi utilizada uma combinação de técnicas como a observação participante (a aluna passou a utilizar com mais freqüência o transporte ferroviário), anotações em diário de campo e entrevistas semi-estruturadas com usuários dos trens. Os dois primeiros procedimentos propiciaram o conhecimento e a sistematização de dados sobre a realidade do transporte ferroviário urbano de passageiros e sobre os usuários de trens da RMRJ, frente aos problemas que vêm enfrentando, após a privatização deste serviço. Já as entrevistas semi-estruturadas, em número de 35 (trinta e cinco), buscaram conhecer os problemas e as impressões que os usuários de trens possuem sobre o assunto. As entrevistas foram realizadas junto aos usuários dos trens e a moradores de bairros e comunidades do entorno da ferrovia. A entrevista semi-estruturada foi utilizada por consistir numa conversação informal, alimentada por perguntas abertas e fechadas, proporcionando uma maior liberdade ao informante. Em relação à observação participante, é importante salientar, existe certa polêmica em torno de sua definição. Nesse caso, optou-se pelo estabelecimento de uma relação de proximidade comedida com os informantes, nas dependências de algumas estações, como Saracuruna, Gramacho, Duque de Caxias, Parada de Lucas e São Cristóvão, por sua localização estratégica para o acesso de grande contingente da população aos trens, tomando o cuidado de não perder de vista as intenções iniciais e mantendo um registro de anotações, no qual constou o motivo da aproximação, a “disposição de ânimos”, o posicionamento dos participantes, conflitos presenciados etc. O material pesquisado foi analisado tendo em vista os problemas enfrentados pelos trabalhadores usuários de trens, tomando como perspectiva as políticas de transporte urbano adotadas após a concessão dos serviços de transporte ferroviário de passageiros no Rio de Janeiro para a iniciativa privada e as conseqüências da privatização desse serviço para os trabalhadores da RMRJ. 2 Departamento de Serviço Social Principais achados da pesquisa de campo A pesquisa identificou que a política de transportes coletivos da Região Metropolitana do Rio de Janeiro está pautada numa uma política de concessões, onde o interesse privado suplanta o interesse público. O transporte coletivo de massa, no caso o transporte ferroviário, não é considerado pelos governantes como um serviço de interesse público e social. As políticas públicas relativas aos transportes da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, pela sua natureza, são insuficientes para atender a demanda dos usuários, não havendo uma fiscalização efetiva, por parte do poder público, dos serviços prestados pela concessionária. Ademais, a interligação entre os modais de transporte (trens, metrô, barcas, ônibus) é quase inexistente. O valor das tarifas é muito alto e não condiz com a qualidade dos serviços prestados. Por sua vez, o transporte ferroviário é o único meio de transporte acessível para grande parte da população que utiliza transportes de massa. Quando não é o único, ainda é o mais econômico, devido as grandes distâncias a serem percorridas, que em alguns itinerários poderiam levar cerca de quatro horas num único sentido, caso os trabalhadores optassem pelo transporte rodoviário. Não obstante, o valor do bilhete para acesso aos trens é muito alto e alguns ramais operados pela concessionária estão em condições precárias, como é o caso de Saracuruna, Vila Inhomirim e Guapimirim. Destaca-se que estes trechos não haviam sido incorporados no “pacote” da concessão, inicialmente, por serem considerados ramais não lucrativos. Após grande pressão da população local, do sindicato dos ferroviários e de movimentos sociais, a Supervia foi levada a assumir estes trechos. Mas ainda estão em estado precário de funcionamento. Esses fatores penalizam a população usuária dos trens, formada por trabalhadores e estudantes, em sua grande maioria. Acrescente-se à importância do transporte ferroviário para a RMRJ, que o desenvolvimento da mesma foi, fortemente, influenciado pelas facilidades resultantes da existência da malha ferroviária. Em decorrência disso, grande parte dos principais núcleos habitacionais da região desenvolveu-se no entorno das estações ferroviárias. Percebe-se que não foi aleatório o traçado da ferrovia. Ela teve um papel muito importante na formação do espaço geográfico da RMRJ. Todos os grandes centros populacionais e econômicos do Rio de Janeiro, com exceção dos bairros da Zona Sul e do eixo Barra-Jacarepaguá, cresceram ao longo da estrada de ferro. É o que demonstra a ilustração a seguir, o mapa do esquema das linhas compreendidas pelo sistema ferroviário de passageiros da RMRJ, à época da administração da Flumitrens: 3 Departamento de Serviço Social Figura nº 1 Mapa da malha ferroviária da Região Metropolitana do Rio de Janeiro Fonte: CBTU Não obstante, a Supervia transporta 450 mil passageiros por dia A Rede ferroviária Federal S.A.-RFFSA, extinta em 2007, embora contasse com menos tecnologia, chegou a transportar, no auge de sua administração (década de 1980), cerca de 1.100.000 passageiros por dia, ou seja, mais do que o dobro. O gráfico a seguir, com dados referentes ao Transporte coletivo na RMRJ do Rio de Janeiro em 2009, demonstra bem a realidade da falta de integração entre os modais e como o transporte rodoviário, mais caro e mais poluente, embora seja o mais oferecido, ainda é o mais utilizado, como mostram os dados da SMT/RJ: 4 Departamento de Serviço Social Gráfico 1 Modais - Número de passageiros por dia Além disso, os investimentos feitos pela Supervia, que anuncia grandes somas e aquisição de composições modernas, rápidas e confortáveis, é bastante restrito, só atendendo alguns ramais. Fato que tem sido comentado pelos usuários ao referirem-se à “elitização” de tais ramais, denominado-os de “linha 1”, em analogia aos ramais do metrô. Os trens coreanos circulam apenas nos ramais mais lucrativos e as estações são “excelentes espaços de mídia”: Figura 2 Página da Supervia anunciando espaços publicitários nas estações Fonte: http://www.supervia.com.br/site/apresentacao.php 5 Departamento de Serviço Social O trem e as tarifas Nos cinco primeiros anos de concessão (novembro de 1998 a novembro de 2003) a tarifa dos trens operados pela Supervia sofreu um reajuste acumulado de 180%, embora o IGP-M acumulado no período fosse de cerca de 93%. No final de 2006, as tarifas foram novamente reajustadas de forma favorável à Supervia, tanto que equivaliam ao preço da passagem de um ônibus municipal à época, ou seja, R$ 2,00, contrariando a orientação histórica de que os trens de subúrbio são mais baratos que os ônibus. A tarifa atual saltou para R$ 2,45. A tarifa do Metrô Rio foi a 2,80. Um bilhete de integração Trem-Metrô custa hoje R$ 3,80. A tarifa de ônibus custa, em média, R$ 2,20. Para o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), o problema do alto preço dos transportes é que “não há uma política tarifária clara no Rio”, sendo necessária a adoção do chamado “bilhete único”, que assume ares de solução milagrosa. O trem e a segurança Um problema grave apontado pelos usuários e facilmente observável nas viagens de trens é a questão da segurança. Das oito áreas apontadas como críticas pelas autoridades, cinco estão localizadas no interior das favelas de Vigário Geral, Manguinhos, Parada de Lucas, Senador Camará e Jacarezinho. As demais são Magalhães Bastos, Costa Barros e Barros Filho. Jacarezinho é considerada a mais perigosa. Lá, os traficantes armados são os únicos que “fazem a segurança do local”. A “boca-de-fumo”, muitas vezes, fica localizada ao lado da estação. Há risco para os passageiros, também, em virtude dos freqüentes tiroteios. O Governo do Estado do Rio de Janeiro, informou, ainda em 2007, que o tráfico nos trens seria reprimido pelo Batalhão de Polícia Ferroviária e por outros batalhões localizados nas regiões críticas. Uma das propostas feitas para enfrentar o problema foi o “caveirão sobre trilhos”, cujo projeto chegou a ser aprovado pelo Comando-Geral da Polícia Militar, tendo sido proposto que fosse financiado pela Supervia. Atualmente, a Supervia desenvolve na área da estação do Jacarezinho um programa denominado “Resgate da Dignidade”, como parte de sua agenda de “Responsabilidade Social” e contribuição à redução da violência. Segundo a empresa, os programas de responsabilidade social que vem desenvolvendo constitui-se de “outras ações promovendo lazer, entretenimento, conhecimento e levando serviços para as estações e comunidades...” (http://www.supervia.com.br/projetovida/). 6 Departamento de Serviço Social Figura 3 Os “projetos sociais” desenvolvidos pela Supervia: O trem e o chicote 15 de abril de 2009: agentes da Supervia agridem a socos, pontapés e chicotadas os trabalhadores que tentavam desembarcar na estação de Madureira. Em 2007, a empresa foi condenada por violação semelhante. Diante da repercussão negativa, a empresa demitiu “os seguranças envolvidos” e lançou a culpa sobre a MS Agenciamento de Serviços Ltda. Reprodução da TV Globo 7 Departamento de Serviço Social Importante destacar que o setor de transporte brasileiro é responsável por 2,5 milhões de empregos, que geram uma renda correspondente a 6,5% do PIB nacional (CNT, 2008). Para as regiões periféricas das grandes regiões metropolitanas, o trem é a única ou, no mínimo, a melhor opção de transporte. Diante dos dados apresentados, observa-se que o trem transporta valores econômicos, mas também sociais, como a educação, saúde e lazer, numa clara referência à deficiência das políticas públicas no Brasil. Participação em eventos: Participação no Encontro Regional de Preservação e Revitalização Ferroviária nos dias 17 e 18 de julho de 2009 no Museu André Gustavo Paulo de Frontin ,na Estação Ferroviária Engenheiro Paulo de Frontin – RJ. Além de recomendações relativas ao patrimônio documental da extinta RFFSA, foram tiradas no evento as seguintes proposições: - que a ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres, ao promover a reformulação dos contratos de concessão do transporte ferroviário celebrados com as atuais operadoras, explicite com mais clareza os parâmetros para definir suas obrigações de disponibilização de faixas em suas grades de programação para os trens de passageiros; - que na reformulação dos contratos, seja incluída a obrigatoriedade das concessionárias de disponibilizar faixas para a operação de trens turísticos e culturais aos finais de semana e feriados, autorizados previamente pela ANTT; - que os municípios se articulem em redes ou circuitos regionais, em projetos que tenham como âncora a preservação e a revitalização ferroviária; - que a Estação Barão de Mauá, sede da extinta E. F. Leopoldina, no Rio de Janeiro – RJ, tombada pelo INEPAC – Instituto Estadual do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro, seja protegida, impedindo-se a sua ocupação por entidades e / ou órgãos estranhos ao universo metroferroviário; - que a Estação Barão de Mauá seja recuperada e transformada no Centro Cultural Barão de Mauá, sem prejuízo do seu possível aproveitamento como terminal do futuro TAV – Trem de Alta Velocidade ligando o Rio de Janeiro / São Paulo / Campinas e do Expresso Imperial, projeto em desenvolvimento visando à reativação da ligação ferroviária entre Rio de Janeiro e Petrópolis; - que o projeto de reativação da Estrada de Ferro Mauá, primeira ferrovia brasileira, em desenvolvimento no âmbito do IPHAN – Superintendência Regional do Rio de Janeiro – SR.6, seja incluído pelo Governo Federal no PAC – Programa de Aceleração do Crescimento; 8 Departamento de Serviço Social - que, de semelhante modo, o projeto de reativação da ligação ferroviária entre o Rio de Janeiro e Petrópolis, o chamado “Expresso Imperial”, seja também incluído pelo Governo Federal no PAC; - que o Ministério dos Transportes, o Ministério do Turismo, o Ministério da Cultura, a ANTT. o DNIT, a SPU, o IPHAN, as Secretarias Estaduais de Cultura e do Turismo e as Prefeituras Municipais apóiem e facilitem a implantação e a operação de projetos de novos trens turísticos e culturais, por sua expressiva contribuição para a preservação da memória ferroviária, para a revitalização do transporte de pessoas sobre trilhos, para o desenvolvimento - que os estudos, pesquisas e experiências com a utilização de tecnologia de levitação magnética, em desenvolvimento na UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro / COPPE - Coordenação de Programas de Pesquisa e Pós-Graduação em Engenharia, recebam das autoridades governamentais o apoio necessário e que sejam analisados como possível alternativa em novos projetos ferroviários, como é o caso do TAV – Trem de Alta Velocidade Rio / São Paulo / Campinas e de projetos de utilização de VLTs – Veículos Leves sobre Trilhos como soluções para sistemas de transporte urbano de pessoas; - que o resgate, a preservação, a valorização e a revitalização do transporte sobre trilhos no Brasil sejam considerados como estratégias e ações prioritárias pelos Poderes Executivo e Legislativo, em seus três níveis – federal, estadual e municipal. Participação no Seminário sobre a Precarização do Trabalho, na PUC – Rio, no Edifício Frings, na sala 406, em 11 de novembro de 2009. O tema abordado foi: “A perenidade e a superfluidade do trabalho” na visão de Ricardo Antunes. Visita ao Museu do Trem. Localizado no bairro do Engenho de Dentro, na cidade do Rio de Janeiro, o Museu do Trem é um museu histórico temático, que é destinado à preservação da memória ferroviária brasileira. Este Museu foi inaugurado em fevereiro de 1984 e está instalado nas dependências do galpão de pintura de carros da antiga Estrada de Ferro Pedro II (que após a Proclamação da República passou a se chamar Estrada de Ferro Central do Brasil). Tais dependências foram reformadas e adaptadas como espaço museológico. A visita ocorreu no dia 14/10/09. Foi muito interessante descobrir o valioso acervo, que compreende desde peças de mobiliário até locomotivas, me dando a idéia de uma realidade que não conheci, de uma época em que o transporte ferroviário era valorizado no país. 9 Departamento de Serviço Social A participação nos dois eventos foram momentos muito construtivos, pois ocorreram no início das minhas atividades como bolsista de iniciação científica e me deram a oportunidade de me aproximar mais de perto do tema da pesquisa. Conclusões O estudo permitiu uma maior compreensão sobre o processo de reestruturação produtiva no Brasil, o que envolve a questão da precarização do trabalho no Brasil, bem como as discussões sobre políticas públicas, com ênfase para as mais recentes e, em particular, para as que tenham como objeto de estudo o problema da mobilidade nos grandes centros urbanos. O contato diário com os usuários aproximou a aluna da realidade dos transportes de massa no Rio de Janeiro, além de ter proporcionado conhecimento mais aprofundado a respeito do universo dos trabalhadores brasileiros, transcrevendo em seu diário de campo observações e questionamentos que iam surgindo no processo de pesquisa. A partir das entrevistas, a aluna pôde observar mais de perto a realidade perversa em que vivem os trabalhadores da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, em particular no que se refere ao aspecto de mobilidade e acesso a equipamentos públicos, o que levou à reflexão sobre a elaboração e gestão de políticas públicas. No caso em questão, a implementação de projetos de transportes que produzam reais benefícios para toda a população, de forma a deslocar seres humanos de forma econômica, rápida, confortável e saudável. Referências 1 - ALVES, Giovanni. O novo (e precário) mundo do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2000. 2 – ALVAREZ, S. E., DAGNINO, Evelina. e ESCOBAR Arthuro. (Orgs.). Cultura e Política nos movimentos sociais latino-americanos: novas leituras. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 2000. 3 – ANTUNES, Ricardo. O novo sindicalismo no Brasil. São Paulo: Pontes, 1995. 4 – ANTUNES, Ricardo. A lógica destrutiva – crise do trabalho coloca como desafio resgatar sentido de classe. Folha de São Paulo. 09/11/99. (1999b). 5 – ANTUNES, Ricardo. O desenho multifacetado do trabalho hoje e sua nova morfologia. Revista Serviço Social e Sociedade, nº 69. São Paulo: Cortez, 2002. 6 – ARQUIVO DE MEMÓRIA OPERÁRIA. Batistinha, o combatente dos trilhos. Rio de Janeiro: Sindicato dos Trabalhadores Ferroviários da Zona da Central do Brasil, 1993. 10 Departamento de Serviço Social 7 – BIONDI, Aloisio. O Brasil privatizado. Balanço do desmonte do Estado. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 1999. 8 – GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984. 9 – GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991. 10 – GRAMSCI, Antonio. Maquiavel, a política e o Estado moderno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991. 11 – GRUPPI, Luciano. O conceito de hegemonia em Gramsci. Rio de Janeiro: Graal, 1980. 12 – IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. São Paulo: Cortez, 1998. 13 – JORNAL O DIA. Rio de Janeiro, de 2009 a 2010. 14 – JORNAL O GLOBO. Rio de Janeiro, de 2009 a 2010. 15 – JORNAL EXTRA. Rio de Janeiro, de 2009 a 2010. 16 – STAMPA, Inez. T. Questão social e sindicato nos trilhos da privatização. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: PUC-Rio/Departamento de Serviço Social, 2000. 17 - STAMPA, Inez. T. E agora companheiros? Os ferroviários do Rio de Janeiro e a reinvenção da política. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: PUC-Rio/Departamento de Serviço Social, 2007. 11 Departamento de Serviço Social Anexo 1 Dados coletados nas entrevistas com 35 usuários de trens da Supervia Faixa etária Nº de idade em entrevistados anos) 10-20 6 Utilização do trem todos os dias (maioria) variável Opção pelo trem como meio de transporte Motivo da utilização do Qualidade dos serviços O trem é seguro mais rápido estudo boa sim 20-30 9 não mais rápido estudo ruim não sim (ônibus e/ou metrô) fácil acesso e rapidez 30-40 12 não mais rápido trabalho razoável sim sim (ônibus e/ou metrô) rapidez 40-50 4 sim única alternativa trabalho boa sim sim (ônibus e/ou metrô) fácil acesso e rapidez 50-60 2 às vezes mais rápido trabalho/médico ruim não sim (ônibus) rapidez, quando funciona acima de 60 2 variável única alternativa razoável sim sim (ônibus) facilita locomoção grandes distâncias médico Utilização de Importância outro meio de do trem no transporte cotidiano complementar ao trem sim (ônibus) fácil acesso e rapidez 12 Departamento de Serviço Social Anexo 2 Roteiro de entrevistas Anexo 3 13 Departamento de Serviço Social Anexo 3 Perfil do “cliente” Supervia Fonte: http://www.supervia.com.br/site/imagens/midia/perfil/pesquisa2.pdf 14 Departamento de Serviço Social Anexo IV Excertos do Diário de Campo 10 de janeiro de 2009 A minha atividade de hoje foi tentar agendar uma entrevista com a Assessoria de Comunicação da Secretaria Estadual de Transportes. Tentei falar com alguém da coordenadoria de comunicação, mas não obtive sucesso. Vou tentar na próxima semana ir lá pessoalmente com a carta do Departamento de Serviço Social que a Professora Inez Stampa preparou. Pretendo também enviar um e-mail. 25 de agosto de 2009 Hoje fui ao médico em Gramacho e aproveitei para ir de trem. Tanto no trajeto de ida quanto no trajeto de volta fiquei esperando um bom tempo na plataforma. Observei as pessoas que pegavam o trem, observei o tipo de trem que veio. A passagem está custando agora R$ 2,50 (dois reais e cinqüenta centavos). A morosidade da chegada do meio de transporte causa nas pessoas uma certa ansiedade e um desgaste emocional. Por um determinado momento tive vontade de desistir de ir de trem e pegar o ônibus para Gramacho, tamanho foi o tempo de espera. Imagina um trabalhador com horário específico que precisa chegar no serviço na hora certa e fica dependendo desse meio de transporte que acaba por deixá-lo muitas vezes na “mão”. 28 de agosto de 2009 (Texto escrito logo após uma viagem de trem: Central – Saracuruna) Em meio ao balanço da viagem de trem, ouço a voz estridente que teima em ecoar e despertar os ouvidos dos passageiros sonolentos e cansados, sedentos por chegar em casa após uma jornada longa de trabalho. “- Olha aí, é o amendoim, torradinho... Vendo três por um real... É torradinho... Quem vai querer?!” Sentada ao lado de um senhor calvo e de óculos, ouço atenta e observo com curiosidade todo esse cenário vivo do trem, que é um universo inesgotável de questionamentos a respeito das atuais artimanhas que nos propõe o capital. Não devemos fingir indiferença, pois o cenário atual é perverso, de desvalorização da mão de obra, de luta pela sobrevivência e descaracterização do universo do trabalho. O cenário analisado sob a ótica dos trilhos do trem é o resultado, é a colheita do que estudiosos vão chamar acumulação flexível... precarização do mundo do trabalho. 15 Departamento de Serviço Social O trabalhador é destituído de seu trabalho e responsabilizado por sua empregabilidade. Não tendo outra alternativa, se torna muitas vezes polivalente, terceirizado e multifacetado. O desemprego se constitui como a face mais séria e desumana desse padrão de acumulação chamado flexível. Escuto, então a voz do maquinista: “Próxima Estação Para de Lucas!” Em meio a tantas idéias que norteiam meu pensamento, desperto também para uma questão fundamental: como a classe trabalhadora está se mobilizando enquanto classe?! Sem o trabalho o ser humano perde a dignidade e a identidade. Cada vez mais, com a precarização do trabalho, a classe trabalhadora vai se tornando também desarticulada. Isto é mais uma estratégia do capital que em pequenas doses vai mutilando a classe que levou anos para conquistar seus direitos. E, por falar em conquista de direitos, a questão é que os sujeitos estão cada vez mais reduzidos à condição do objeto, perdem a possibilidade de desejar e escolher o rumo de seu futuro, vivendo uma cidadania apenas de discurso. Olho novamente pela janela do trem para verificar se já estou chegando ao meu destino... Observo algumas moradias bem irregulares que se aglomeram margeando a linha do trem... A pobreza finca raízes profundas e não há mais formas para camuflar ou negar sua existência. Ela se mostra nas ruas, nas praças, invade o espaço público e ganha nova visibilidade, expressando-se tanto no não acesso a bens materiais, quanto na ausência de cidadania, na expulsão da parcela majoritária da população brasileira do acesso aos direitos civis, políticos e sociais. “Próxima Estação Duque de Caxias”! A viagem não vai terminar aqui, pois muito precisa ainda ser refletido e analisado. Para uns poucos, o jogo não deve ser mudado. São aqueles que gozam de “respeito” e privilégios na sociedade de consumo. Mas, para outros, o que existe é um cotidiano de trabalhadores sem trabalho, de estudantes fora da escola, de moradores sem casa, de passageiros sem transporte digno, de indivíduos ainda candidatos a cidadãos... 16 Departamento de Serviço Social Anexo 5 Fotos registradas durante uma viagem no trem coreano 17 Departamento de Serviço Social Anexo 6 Reprodução da reportagem do Jornal O Globo do dia 13/07/2010 Por: Gustavo Paul 18