SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 10 2 OBJETIVOS............................................................................................................ 11 3 REVISÃO DE LITERATURA............................................................................... 12 3.1 ANATOMIA E FISIOLOGIA DO CORAÇÃO....................................................... 12 3.2 CARDIOPATIA VALVULAR CRÔNICA.............................................................. 13 3.2.1 Insuficiência cardíaca congestiva.......................................................................... 15 3.2.2 Mecanismos compensatórios.................................................................................. 16 3.2.2.1 Sistema renina-angiotensina-aldosterona.................................................................. 16 3.3 VASODILATADORES............................................................................................ 17 3.3.1 Vasodilatadores de ação direta.............................................................................. 18 3.3.1.1 Hidralazina................................................................................................................ 18 3.3.1.2 Nitratos..................................................................................................................... 19 3.3.2 Bloqueadores alfa- adrenérgicos (Prazosina)....................................................... 19 3.3.3 Vasodilatadores inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA)....... 20 3.3.3.4 Benazepril................................................................................................................. 21 3.3.5 Pimobendan............................................................................................................. 22 4 CONCLUSÕES...................................................................................................... 23 REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 24 10 1 INTRODUÇÃO A endocardiose, também conhecida como cardiopatia valvular mixomatosa crônica ou fibrose valvular mitral ou tricúspide crônica, é um distúrbio degenerativo de causa desconhecida, que atinge porções subendocárdicas das foliculas valvulares ( Bonagura, 2003). A insuficiência cardíaca é uma síndrome clinica que pode ocorrer como conseqüência à endocardiose, e apresenta diminuição do debito cardíaco (DC), levando a diminuição da pressão arterial, ativando mecanismos compensatórios como o sistema renina-angiotensinaaldosterona (SRAA), o que contribui para evolução dos sinais clínicos, por aumentar a retenção de sódio e água, na tentativa de restabelecer a pressão. Os vasodilatadores são os medicamentos utilizados para diminuir a ação dos mecanismos compensatórios, prolongando a sobrevida de pacientes com ICC. 11 2 OBJETIVO O objetivo deste trabalho é avaliar o uso dos medicamentos vasodilatadores em cães com ICC, adquirida secundariamente a endocardiose, através de uma revisão bibliográfica. 12 3.1 ANATOMIA E FISIOLOGIA DO CORAÇÃO O coração é dividido em dois lados, o esquerdo e o direito. Cada lado por sua vez, consiste em um átrio, que recebe sangue por meio das grandes veias, e um ventrículo, que bombeia o sangue do coração através da aorta e do tronco pulmonar (Figura 1) (BELERENIAN et al., 2003). O óstio atrioventricular direito é guardado pela valva atrioventricular direita (tricúspide). No ventrículo esquerdo, o sangue passa do átrio para o ventrículo através de um oval e relativamente pequeno óstio atrioventricular esquerdo, que é guardado pela valva atrioventricular esquerda (bicúspide ou mitral) (GHOSHAL, 1986). O ventrículo esquerdo bombeia o sangue das veias pulmonares (mantendo a pressão venosa pulmonar baixa) para o interior das artérias sistêmicas (mantendo a pressão arterial sistêmica alta, enquanto o ventrículo direito bombeia sangue das veias sistêmicas (mantendo aquela pressão baixa) para o interior das artérias pulmonares (mantendo aquela pressão alta). Estes gradientes de pressão (altos nas artérias e baixos nas veias) impulsionam o sangue através das circulações capilares (sistêmicas e pulmonares), onde as substâncias são trocadas entre o sangue e as células. As válvulas presentes no coração e nas veias asseguram um fluxo unidirecional(FAZER, 1996). Figura 1 – Coração de um cão. Fonte: Anatomia dos Animais Domésticos, Sisson, 1986. 13 3.2 CARDIOPATIA VALVULAR CRÔNICA( ENDOCARDIOSE) Uma cardiopatia valvular crônica é um distúrbio degenerativo de causa desconhecida, que afeta as porções subendocárdicas das folículas valvulares, primariamente em cães de meia idade e idosos( SISSON; BONAGURA, 2003). A proliferação e a deposição de mucopolissacarídeos dentro da camada esponjosa subendotelial leva ao espessamento (Figura 2), à distorção ao enrijecimento das válvulas atrioventriculares (AV); a princípio, as tumefações apresentam-se nodulares, mas ocorre uma coalescência até envolver toda a válvula e muitas vezes as cordas tendíneas unidas a ela. A incompetência da válvula AV causa uma regurgitação, pressão atrial alta, débito cardíaco reduzido, ativação de mecanismos compensatórios (sistema nervoso simpático, sistema renina-angiotensina-aldosterona e fator natriurético atrial) e insuficiência cardíaca congestiva(BEARDOW, 2008) Envolvem-se primariamente, as válvulas átrio-ventriculares, com a válvula mitral sendo afetada em quase 100% dos casos, a tricúspide em 34% e a aórtica em 3% dos casos. A endocardiose representa um processo progressivo e não causa sinais detectáveis durante o período de alterações estruturais iniciais. A distorção valvular progressiva leva a uma insuficiência valvular detectável; no entanto não se desenvolve uma insuficiência cardíaca em todos os animais. Uma regurgitação valvular mitral (RVM) causa sobrecarga de volume ventricular esquerda e insuficiência cardíaca esquerda e predispõe a arritmias cardíacas. (SISSON;BONAGURA, 2003). Os achados radiográficos incluem o tamanho do coração que pode variar de normal à cardiomegalia esquerda ou generalizada. Achados eletrocardiográficos: em animais com ICC é comum a constatação de taquicardia sinusal (BEARDOW, 2008). 14 Figura 2 – Coração de um cão com endocardiose-Achados de necropsia. Fonte: Karol Freada. Disponível em: www. webpiscasa.google.com A ICC é um estado no qual o débito cardíaco fica inadequado para cumprir as exigências de perfusão dos tecidos metabolizantes e limita-se a capacidade de exercícios. Em uma insuficiência cardíaca, as pressões de preenchimento venoso ficam normais a aumentadas; a redução no débito cardíaco é atribuível à disfunção cardíaca sistólica e, freqüentemente até diastólica (RUSH; BONAGURA, 2003). Sucintamente, tem-se que na ICC ocorre a diminuição do débito cardíaco, com aumento da freqüência cardíaca e da resistência vascular por mecanismos compensatórios do sistema nervoso autônomo simpático que é ativado através dos quimiorreceptores e barorreceptores aórticos e carotídeos. A vasoconstrição periférica auxilia a manutenção da pressão arterial, visando perfusão miocárdica e cerebral adequadas. Contudo, estando a vasoconstrição aumentada, ocorre simultaneamente enfraquecimento da musculatura cardíaca e esquelética, hemoconcentração e conseqüente retenção de sódio e água. Em síntese, o coração insuficiente, na tentativa de manter seu trabalho adequado, altera a pré-carga e a póscarga, o débito cardíaco, o inotropismo e seu desempenho (TÁRRAGA, 2004). 15 3.2.1 Insuficiência cardíaca congestiva O sistema cardiovascular é o sistema de transporte que leva oxigênio, substratos, hormônios e reguladores químicos para todas as células. Para que o sistema cardiovascular funcione adequadamente, o volume e a pressão sanguíneos devem ser estritamente controlados. Detectores que monitoram a pressão e o fluxo são distribuídos pelo corpo e mantêm os limites normais através de reflexos neuro-hormonais (FAZER, 1996). Um enfraquecimento da força sistólica, obstrução dos tratos de saída de fluxo, um afrouxamento das válvulas, arritmia ou um aumento da rigidez diastólica dos ventrículos, o coração pode falhar, levando a circuitos venosos vazios, a circuitos arteriais cheios ou ambos. Sinais deste funcionamento inadequado constituem a existência clínica de insuficiência cardíaca e ICC (FAZER, 1996). Na ICC direita, a pressão hidrostática elevada leva ao extravasamento de líquido da circulação venosa para os espaços pleural e peritoneal, bem como para o interstício dos tecidos periféricos. Quando o extravasamento de líquidos excede a capacidade dos vasos linfáticos na drenagem das áreas acometidas, desenvolvem-se efusão pleural, ascite e edema periférico (SMITH JR; KEENE, 2008). Já na ICC esquerda, o débito cardíaco baixo leva a letargia, intolerância ao exercício, síncope e azotemia pré-renal. A pressão hidrostática elevada leva ao extravasamento de líquidos da circulação venosa pulmonar para o interstício pulmonar e alvéolos. Quando o extravasamento de líquidos excede a capacidade dos vasos linfáticos na drenagem das áreas acometidas, desenvolve-se o edema pulmonar ( SMITH JR; KEENE, 2008). As metas da terapia são regular o ritmo e freqüências cardíacos, restaurar o volume sanguíneo, reforçar o poder da sístole, mobilizar ou remover edemas fluidos, reduzir a fração regurgitante e balancear a demanda e oferta de oxigênio do miocárdio (FAZER, 1996). 16 3.2.1– Mecanismos compensatórios A ICC se caracteriza pelo aumento na atividade dos sistemas vasoconstritores e inibição de vasodilatadores. A inibição dos sistemas vasoconstritores em uma ICC pode beneficiar o animal em termos de sinais clínicos e sobrevivência a longo prazo.(RUSH; BONAGURA,2003). 3.2.1.1 Sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) Quando instalado o quadro da ICC, a renina renal é liberada pela estimulação simpática e pela redução da perfusão renal (figura 3). Esta irá atuar sobre o angiotensinogênio, produzindo angiotensina I, que é inativa. A enzima conversora de angiotensina (ECA), transforma a angiotensina I em angiotensina II nos pulmões e células endoteliais, que é a forma ativa, produzindo vasoconstrição e estimulando a liberação da aldosterona do córtex adrenal, que, por sua vez, induz resposta inotrópica positiva do miocárdio e hipertrofia dos miócitos cardíacos, influencia a proliferação hormonalmente mediada dos fibroblastos cardíacos e aumenta a produção de colágeno. Ocorrendo ativação excessiva do SRAA, os inibidores de ECA impedem os efeitos vasoconstritores diretos da agiotensina II e diminuem a retenção de sódio e água, por diminuírem a liberação da aldosterona. Tais efeitos permitem que os inibidores da ECA diminuam a pré-carga em pacientes com ICC, conseguindo manter o coração insuficiente no tamanho menor possível, melhorando a eficácia hemodinâmica. (TARRAGA, 2004). Figura 3 – Esquema do sistema renina-angiotensina-aldosterona. Fonte: http://www.lookfordiagnosis.com 17 3.3 VASODILATADORES As drogas vasodilatadoras prejudicam um ou mais dos mecanismos vasoconstritores ou ativam um sistema vasodilatador. Esses mecanismos vasodilatadores incluem endotélio e musculatura lisa vascular (geração de óxido nitroso – nitroglicerina); canais que controlam o influxo de cálcio no interior da musculatura lisa vascular (amodipina e diltiazen); musculatura lisa vascular, usando mecanismos indefinidos; receptores adrenérgicos e sistema de mensagem intracelular (bloqueadores alfa-adrenérgicos, prazosina); receptores de angiotensina II, os inibidores de eca impedem a conversão da angiotensina I em angiotensina II (enalapril e benazepril); mensageiros intracelulares (por exemplo, adenosina monofosfato cíclico - AMPc) que modula a sinalização e o fluxo de cálcio. Inodilatadores e os inibidores da fosfodiesterases (amrionona e pimobendona) (MUIR; BONAGURA, 2003) Uma vez instalado o quadro de icc, sabe-se que ocorre a redução do débito cardíaco, o que vai gerar uma seqüência de fatores compensatórios como a ativação do SRAA, o aumento do volume líquido intravascular e do tono do sistema nervoso autônomo simpático. Fundamentalmente, pode-se considerar que os medicamentos vasodilatadores “previnem” o comprometimento progressivo da função miocárdica quando há insuficiência cardíaca. (TÁRRAGA, 2004). Os efeitos hemodinâmicos da vasodilatação arterial em uma ICC incluem redução de pressões sangüíneas arteriais sistólica e diastólica e do pós-carregamento ventricular esquerdo; aumento do volume de ataque; redução da tensão miocárdica e do consumo de oxigênio do miocárdio; diminuição da fração regurgitante valvular mitral. Desenvolvem-se aumentos na perfusão tecidual em resposta a uma terapia vasodilatadora. Um tratamento crônico com algumas drogas vasodilatadoras (por exemplo, inibidores da ECA) se associa com melhora na tolerância a exercícios (MUIR; BONAGURA, 2003). A terapia com vasodilatadores está contra-indicada nos casos de hipotensão sistêmica, hipotensão diastólica isolada, choque, hipercalemia, como indicado por Muir; Bonagura, (2003). De acordo com Tárraga (2004), os vasodilatadores são classificados como de ação direta venosa ou arteriolar, como os nitratos e hidralazina; bloqueadores alfa-adrenérgicos, como prazosin, que bloqueiam os receptores ao nível arteriolar e venoso, reduzindo tanto tono e resistência vascular, como pressão arterial e aumentando o desempenho cardíaco; inibidores da ECA. 18 3.3.1 Vasodilatadores de ação direta Os venodilatadores são bem absorvidos por via oral, sublingual e transcutânea e são biotransformandos no fígado. Em medicina veterinária existem relatos da utilização de retalhos transdérmicos que liberam 0,1mg/hora (para cães pequenos e gatos) e 0,2mg/hora (para cães de maior porte). 3.3.1.1 Hidralazina A hidralazina, que tem ação arteriolar direta, é bem absorvida por via oral, sendo biotransformada por acetilação hepática; não é excretada por via renal, mas a uremia altera a biotransformação (TÁRRAGA, 2004). As ações diretas da hidralazina estão limitadas ao músculo liso arteriolar, havendo pouco efeito sobre as veias. É indicada para redução da pré-carga no tratamento adjuvante da ICC em pequenos animais, particularmente se há insuficiência valvular mitral como causa primária (MUZZI, 2000). Estudos clínicos em cães com insuficiência da mitral e tosse demonstraram a melhora do quadro por diminuição da pressão sanguínea e da resistência vascular e aumento do débito cardíaco. Os efeitos colaterais mais importantes são a hipotensão e taquicardia.(TÁRRAGA, 2004). Segundo Muzzi (2000), quando ocorrer a hipotensão a droga deve ser interrompida por 24 horas e recomeçada com 50% da dose inicial; uma hipotensão persistente pode necessitar interrupção da terapia. Na ICC leve a moderada, a dose é de 50 -75mg a cada 6-8 horas. Os venodilatadores atuam reduzindo a pressão venosa, sem comprometer o débito cardíaco, quando em doses adequadas. Além disso, diminuem o tamanho ventricular e a tensão da parede, reduzindo também a pós-carga. Utilizado principalmente no edema cardiogênico agudo. Hipotensão, depressão, letargia, náusea e azotemia pré-renal são os efeitos colaterais mais comumente relatados (TÁRRAGA, 2004). 19 3.3.1.2 – Nitratos O nitroprussiato de sódio, a nitroglicerina (pomada transdérmica ou emplasto, spray transmucosa e injeção intravenosa) e o dinitrato de isossorbina são vasodilatadores que, quando metabolizados na parede dos vasos sangüíneos, geram óxido nítrico (um vasodilatador potente). Os nitratos tópicos e as medicações orais (tais como dinitrato de isossorbida) possuem efeitos maiores na musculatura lisa venosa sistêmica e são considerados venodilatadores. Essas drogas são metabolizadas pelo fígado (MUIR; BONAGURA, 2003). A droga tem início de ação extremamente rápido e extremamente fugaz, devendo ser administrado por infusão intravenosa constante. A dosagem inicial de infusão é de 10 µg/ min, aumentando em 10 µg/min, a cada dez minutos, até 40 – 75 µg/min, numa dose máxima de 300 µg/min. (MUZZI, 2000). O uso mais comum dos nitratos é para tratamento de edema pulmonar agudo (para baixar a pressão venosa e o pré-carregamento). Em um edema pulmonar de risco de vida, a adição de um dilatador arteriolar potente pode ser benéfica e pode-se preferir o nitroprussiato de sódio. Alguns veterinários prescrevem nitratos orais e tópicos para tratamento de ICC de longa duração (MUIR; BONAGURA, 2003). O nitroprussiato é um anti-hipertensivo potente de valor no tratamento de uma hipertensão sistêmica complicada severa. Os efeitos adversos principais são uma redução excessiva no pré-carregamento e uma diminuição na pressão sanguínea arterial sistêmica. O metabolismo do nitruprussiato de sódio gera cianeto, mas isso provavelmente não será importante quando a infusão for limitada à 48 horas ou menos (MUIR ; BONAGURA, 2003). 3.3.2 Bloqueadores alfa-adrenérgicos (Prazosina) A prazosina é indicada como adjuvante no tratamento da ICC, principalmente secundária à insuficiência valvular aórtica e mitral, quando o uso da hidralazina não se mostrar efetivo. Também é indicada no tratamento da hipertensão sistêmica ou pulmonar no cão. A dosagem administrada deve ser dada à noite e em doses baixas. A prazosina é um bloqueador seletivo de receptores α-1 (pós-simpáticos), que produz dilatação de artérias e veias, reduzindo a pressão sangüínea, a resistência vascular periférica e aumentando o débito cardíaco. 20 A hipotensão é o mais freqüente efeito colateral da prazosina, podendo resultar em síncope, letargia. A droga deve ser utilizada com cautela em pacientes com insuficiência renal crônica e hipotensão pré-existente (MUZZI, 2000). 3.3.3 Vasodilatadores inibidores de ECA Os inibidores de ECA incluem o captopril, o enalapril, benazepril e o lisinopril, bem como outras drogas com o sufixo “pril”. Esses vasodilatadores são usados para tratameno a longo prazo (doméstico) de ICC canina e felina (MUIR; BONAGURA). Os inibidores de ECA atuam bloqueando a angiotensina I em angiotensina II. Desempenham, portanto, duas funções potencialmente úteis no tratamento da ICC, impedindo a ação dos vasoconstritores diretos da angiotensina II em veias e artérias e reduzindo a retenção de sódio e água, ao inibir secundariamente a liberação da aldosterona (MUZZI, 2000). Devem ser administrados oralmente. A dose e a freqüência de administração exigidas para inibir 90% ou mais da atividade da ECA variam entre as drogas e dependem em parte do metabolismo dos metabólitos oriundos das pró-drogas (MUIR; BONAGURA, 2003). A absorção oral é boa, mas a biodisponibilidade é reduzida em 30 – 40% se o estômago está cheio. A meia vida plasmática é variável de acordo com a droga utilizada. Ocorre metabolismo hepático parcial e eliminação renal (MUZZI, 2000). Dentre os vasodilatadores usados comumente, somente os inibidores de ECA têm demonstrado reduzir as lesões nas células do miocárdio; outras drogas vasodilatadoras não o fazem. Isso pode ser uma face importante na sobrevivência a longo prazo de pacientes com ICC (MUIR; BONAGURA, 2003). Entre os efeitos adversos potenciais principais dos inibidores de ECA estão hipotensão e insuficiência renal aguda (a combinação de hipotensão e vasodilatação da arteríola eferente renal pode diminuir acentuadamente a pressão de filtração intraglomerular). Outras preocupações incluem a possibilidade de neutropenia (decorrente da diminuição de aldosterona) e uma anorexia prolongada que pode exigir interrupção da droga (MUIR ; BONAGURA, 2003). Os inibidores da ECA devem ser usados com cautela em pacientes com hiponatremia, insuficiência cerebrovascular ou coronária e anormalidades hematológicas. 21 3.3.3.1– Benazepril De acordo com Muzzi (2000), o benazepril é dez vezes mais potente na redução da pressão arterial quando comparado ao enalapril e ao captopril, sem ocorrência de taquicardia, sendo os efeitos colaterais menos comuns, aparecendo apenas em dosagens mais altas. O enalapril e o benazepril são inibidores da ECA registrados em alguns países para o uso veterinário. O metabólito ativo enalaprilato é predominantemente eliminado pelo rim (95%), e portanto pode vir a ser difícil excreção se o cão tem comprometimento renal. Neste caso, o uso do enalapril para o tratamento de ICC requer acompanhamento cuidadoso, através de análises químicas do sangue e urina ( IEFEBVRE et al, 1997). Entretanto, o metabólito ativo do benazepril, o benazeprilato, é eliminado tanto pelo rim (50%), quanto pelo fígado (50%): se a excreção pelo rim está reduzida, o fígado faz a compensação, de forma que a eliminação da droga é feita dentro dos parâmetros normais. Recentes estudos confirmam tais observações (IFEBVRE et al, 1997). Segundo Pereira et al(2005), em estudo prospectivo realizado, utilizando 20 cães com cardiopatias naturalmente adquiridas, verificou-se que houve melhora no quadro clínico dos animais, logo após o início do tratamento com benazepril, demonstrando sua eficácia. Os critérios para a determinação da eficácia terapêutica do tratamento foram a diminuição da freqüência e a intensidade da dispnéia e da tosse, a melhora do quadro clínico inicial, a melhora radiográfica da congestão e do edema pulmonar e ausência dos efeitos adversos como emese, diarréia, hipotensão, depressão, anorexia e azotemia. Nenhum efeito colateral foi observado. Em outro estudo realizado por Pouchelon et al (2007), em cães com insuficiência da válvula mitral, porém assintomáticos, chegou-se a conclusão que benazepril tem efeitos benéficos mesmo em animais assintomáticos, nas duas raças avaliadas ( Cavalier e King Charles Spaniel), com moderada a severa regurgitação. Nenhum efeito colateral foi observado. A dosagem recomendada é de 0,25 – 0,5 mg/kg a cada 24 horas. (BEARDOW, 2008). 22 3.3.5 - Pimobendan Pimobendan (Vetmedim Boehringer-Ingelhein), uma droga benzimidazol – piridazinona é classificado como inodilatador, devido a sua ação simpaticomimética do glicosídeo inotrópico positivo (através da sensibilização do miocárdio com cálcio) e propriedades vasodilatadoras. Como tal, pimobendan aumenta a contratilidade ventricular e reduz pré e pós carga em pacientes com insuficiência cardíaca avançada. Pimobendan é aprovado para uso em cães para tratar insuficiência cardíaca congestiva originada de uma insuficiência valvular ou cardiomiopatia dilatada, em muitos países da Europa, Canadá, México e Austrália. Pimobendan tem atividade inibidora da fosfodiasterase III, similar a amrinona e milrinona, que reduzem a quebra da célula. O aumento da concentração da célula resulta numa exagerada fosforilação da proteína quinase, o que ativa o canal de cálcio tipo I e estimula o retículo sarcoplasmático a fazer uma grande concentração de íons cálcio no citosol. O resultado do aumento do cálcio vinculado a troponina permite a interação actina- miosina e resulta num efeito inotrópico positivo. Embora esse mecanismo possa explicar os efeitos inotrópicos do pimobendan o aumento da concentração do cálcio sistólico é modesto em relação ao aumento da contratilidade, o que sugere outro mecanismo para contração. O principal mecanismo inotrópico positivo do pimobendan é sensibilização do miocárdio com cálcio, que aparentemente está relacionado ao aumento da afinidade da troponina C por íons cálcio. Pimobendan também causa vasodilatação por inibição da fosfodiasterase III e V no músculo liso vascular (THOMASON et al, 2006). Em estudo realizado por Chetboul et al (2007), onde comparou os efeitos do Pimobendan e do Benazepril em cães com doença da válvula mitral, foi demonstrado, através de necropsia, que o grupo que recebeu pimobendan como medicação durante o estudo, apresentou efeitos adversos tanto na função como na morfologia cardíaca, tais como hemorragias focais, hiperplasia endotelial, o que não ocorreu no grupo que recebeu benazepril como medicação, sugerindo que mais investigação sobre o pimobendan se faz necessário. 23 4 CONCLUSÕES O uso dos vasodilatadores é de fundamental importância para diminuição dos sinais clínicos observados em animais portadores de ICC, secundária a endocardiose. O principal medicamento utilizado hoje em dia, para este fim, em Medicina Veterinária é o benazepril e, de acordo com está revisão, ainda é o que apresenta melhor desempenho dentre os vasodilatadores, por apresentar maior eficácia e menos efeitos colaterais. Drogas como o pimobendan necessitam de mais estudos para que seu uso possa ser feito com mais tranqüilidade, sem medo de suas reações adversas. A continuação dos estudos e pesquisas sobre a endocardiose, a insuficiência cardíaca e sobre esses medicamentos se faz necessária para aumentar a sobrevida dos pacientes acometidos por tais enfermidades, visto que os cuidados com os animais de estimação aumentaram muito nos últimos anos. 24 REFERÊNCIAS BEARDOW, A.; Endocardiose das válvulas atrioventriculares. In: TILLEY, L.P.; SMITH JR, F.Consulta Veterinária em 5 Minutos: espécies canina e felina, 3 ed. Barueri, SP: Manole, 2008, p. 504-507. BELERENIAN,G.C., MUCHA, C.J., CAMACHO, A. A. Afecções Cardiovasculares em Pequenos Animais. 1. ed. São Paulo: Interbook, 2003. p. 146 – 151. CHETBOUL, V.; LEFEBVRE, H.P.; SAMPEDRANO, C.C.; GOUNI, V.; SAPORANO, V.; SERRES, F.; CONCORDET, D.; NICOLLE, A.P.; POUCHELON, J.L. 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